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Neurologia
SIC CLÍNICA
MÉDICA
Autoria e colaboração
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A dor é definida como “uma experiência emocional e
sensorial desagradável associada a uma lesão tecidual
real ou potencial, ou descrita em termos de tal lesão”.
Em sua caracterização semiológica, devem ser descritos
localização, irradiação, qualidade/caráter, intensidade,
início e duração, relação com funções orgânicas (dor
torácica – relação com respiração), evolução, fatores
desencadeantes ou agravantes, fatores atenuantes e
manifestações concomitantes. A dor pode ser dividida
em nociceptiva (estimulação persistente de nocicepto-
res térmicos, químicos ou mecânicos; subdivide-se em
somática superficial e profunda e visceral), neuropática
Dor
(lesão primária ou disfunção do sistema nervoso), psico-
gênica (fatores psicológicos) e mista. Em determinadas
situações, os sinais de dor dos receptores dos órgãos
internos são incorretamente interpretados como pro-
venientes de áreas distantes dos reais estímulos, sendo
a dor referida. A dor irradiada é sentida à distância de
sua origem, mas obrigatoriamente em estruturas iner-
vadas pela raiz nervosa ou pelo nervo cuja estimulação
é responsável pela dor. Já a dor fantasma compreende o
fenômeno pelo qual um indivíduo que sofreu uma ampu-
tação continua a sentir dor nesse local, o que se deve
à projeção imprecisa da dor pelo encéfalo. A dor mus-
culoesquelética caracteriza-se como crônica quando
persiste por mais de 3 meses, sendo as doenças mais
comuns desse grupo as cervicalgias, lombalgias, sín-
drome da dor miofascial e fibromialgia. Dentro dela, 2
afecções se sobressaem: a síndrome da dor miofascial
(presença de trigger points) e a fibromialgia (presença
de tender points). O tratamento da dor, em geral, deve
basear-se na etiologia, fisiopatologia e repercussões,
envolvendo a eliminação do fator causal com medica-
mentos analgésicos e adjuvantes. Substâncias capazes
de diminuir a condição inflamatória também podem ser
empregadas.
78 sic neurologia
1. Definição
Dica A dor é definida, pela International Association for the Study of Pain, como
“uma experiência emocional e sensorial desagradável associada a uma le-
são tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tal lesão”. A sen-
Convém lembrar-se do
sação dolorosa tem papel fisiológico e funciona como sinal de alerta para a
método mnemônico da percepção de algo que está ameaçando a integridade física do organismo.
dor – “ILICIDAS”: Início,
Localização, Intensidade, Em sua caracterização semiológica, os seguintes aspectos devem ser
Caráter, Irradiação, descritos: localização, irradiação, qualidade ou caráter, intensidade, iní-
cio e duração, relação com funções orgânicas (dor torácica – relação
Duração, Alívio/piora e
com respiração), evolução, fatores desencadeantes ou agravantes, fa-
Sintomas associados. tores atenuantes e manifestações concomitantes.
2. Classificação
A dor aguda caracteriza-se por resposta orgânica protetora, pois alerta
o indivíduo para uma lesão iminente ou real dos tecidos, induzindo res-
postas reflexas e comportamentais coordenadas com o intuito de man-
ter o dano tecidual o mais controlado possível. Quando a dor passa a se
repetir ou sustentar-se por um período prolongado, deixa de apresen-
tar vantagens biológicas e passa a causar sofrimento, classificando-se
como crônica, gerada por impulsos de pequena magnitude produzidos
por atividade neural anormal. Essa dor geralmente não é bem locali-
zada e tende a ser maciça, contínua ou recorrente. A Figura 1 apresenta
uma das possíveis formas de classificação da dor.
Provocada por distensão de víscera oca, mal localizada, profunda, opressiva e constritiva, comu-
mente se associa a náuseas, vômitos e sudorese. Muitas vezes há dores locais referidas, como no
Visceral
ombro ou na mandíbula, relacionada ao coração, na escápula, referente à vesícula biliar, e no dorso,
referente ao pâncreas (Figura 2).
A dor visceral, das vísceras maciças e dos processos não obstrutivos das
vísceras ocas, é descrita como surda ou dolorida; a dor dos processos obs-
trutivos das vísceras ocas é do tipo cólica; a dor por comprometimento pa-
rietal é “em pontada”; a dor por isquemia miocárdica é constritiva ou “em
aperto”; a dor da úlcera duodenal é do tipo queimação ou ardor.
A - Dor referida
Em determinadas situações, os sinais de dor dos receptores dos ór-
gãos internos são incorretamente interpretados como provenientes de
áreas distantes dos reais estímulos, particularmente como se viessem
da superfície corpórea. Assim, a dor visceral pode ser confundida com
a dor somática – e é a dor referida.
A explicação mais aceita para esse fenômeno é a convergência de im-
pulsos dolorosos somáticos e viscerais para neurônios nociceptivos
comuns localizados no corno dorsal da medula espinal. Tendo a pele
suprimento nociceptivo muito mais exuberante do que as estruturas Figura 3 - Mecanismo da dor referida
somáticas profundas e viscerais, a representação talâmica e cortical no infarto agudo do miocárdio: a dor é
destas últimas é muito menor. Com isso, os impulsos dolorosos prove- sentida na superfície do ombro e na face
interna do braço esquerdo, obedecendo
nientes das estruturas profundas seriam interpretados pelo cérebro à distribuição metamérica
como oriundos do tegumento.
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Maria Aparecida Ferraz Jamile Cavalcanti Seixas
Cristina Gonçalves Massant Victor Celso Cenciper Fiorini
Mauro Augusto de Oliveira Marcelo Schmid
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O estado de consciência refere-se à capacidade de inte-
ração que o indivíduo tem com o meio e a percepção de si.
O nível de consciência indica o quão acordado ou alerta
o paciente está, depende da integridade da substância
reticular ativadora ascendente e pode variar em vigilân-
cia, sonolência, torpor e coma. A avaliação mais objetiva
da consciência é feita por meio da aplicação da escala de
coma de Glasgow, que avalia 3 parâmetros de resposta:
abertura ocular, melhor resposta verbal e melhor res-
Coma e altera-
posta motora. Com relação a alterações da atenção, o
déficit global da atenção denomina-se delirium (estado
confusional agudo). Nesse caso, normalmente, não há
ção do estado
sinais neurológicos focais, com a possível presença de
movimentos involuntários, como tremores, mioclonias
ou asterix (flapping). Entre pacientes conscientes, a
de consciência
avaliação da resposta motora pode ser realizada com a
solicitação de comandos; entre inconscientes, ela deve
ser realizada por meio das respostas motoras reflexas,
avaliadas por meio de estímulos dolorosos aplicados na
face, no tronco e nos membros. Respostas importantes
possíveis são decorticação (adução e flexão dos bra-
ços), descerebração (extensão e pronação dos braços)
ou a ausência de estímulos. Padrão respiratório é outro
ponto a ser avaliado, podendo haver padrões como de
Cheyne-Stokes, hiperventilação neurogênica central,
respiração apnêustica, respiração atáxica etc. As anor-
malidades dos movimentos oculares entre indivíduos
comatosos podem indicar lesão estrutural. Os centros
do desvio conjugado horizontal dos olhos estão locali-
zados no lobo frontal (área 8 de Brodmann – síndrome
de Foville superior) e na ponte (formação reticular para-
mediana pontina – síndrome de Foville inferior). Pupilas
e reflexo fotomotor direto e consensual também fazem
parte da avaliação. Entre os diagnósticos diferenciais
do estado de coma, estão inclusas doenças psiquiátri-
cas, neuromusculares, síndrome de Wernicke-Korsakoff
e encefalopatia hepática. A evolução de pacientes com
alteração do nível de consciência pode deteriorar-se
para uma situação de irreversibilidade e ausência de
funções encefálicas, o que caracteriza a morte ence-
fálica, cujo diagnóstico deve preencher critérios como
diagnóstico da doença ou situação que precipitou a
condição clínica, afastamento de situações que simu-
lem morte encefálica, ao exame neurológico Glasgow 3,
pupilas médias ou midriáticas, motricidade ocular nega-
tiva, resposta motora inexistente, apneia oxigenada até
paCO2 entre 55 e 60 e observação clínica mínima de 6
horas. Exames confirmatórios da ausência de atividade
cerebral e do fluxo cerebral são obrigatórios.
144 sic neurologia
1. Introdução
O estado de consciência refere-se à capacidade de interação que o indi-
víduo tem com o meio e a percepção de si. As alterações do estado de
consciência podem ser uma manifestação secundária a patologias neu-
rológicas (encefalites, hemorragias intracranianas) ou sistêmicas (deli-
rium, sepse grave), classificadas conforme as alterações do nível e do
conteúdo de consciência.
A - Nível de consciência
O nível de consciência indica o quão acordado ou alerta o paciente está,
é dependente da integridade da substância reticular ativadora ascen-
dente (Figura 1) e pode variar desde a vigilância, que é o estado máximo
de nível de consciência, até o coma. Para que lesões afetem o nível de
consciência, é necessário que afetem o tronco encefálico, o diencéfalo
ou os hemisférios cerebrais bilaterais. É importante lembrar que as le-
sões restritas aos hemisférios cerebrais precisam ser extensas para
causarem coma, ao contrário daquelas restritas à formação reticular,
que podem ser pequenas.
É preciso lembrar que o metabolismo cerebral é elevado, com neces-
sidade alta de glicose e oxigênio. Assim, doenças que levam ao coma
precisam ser rapidamente resolvidas para evitar lesões extensas e de-
finitivas. A história clínica e o exame físico geral são de extrema impor-
tância e devem ser dirigidos para as alterações que possam fornecer
pistas quanto à causa da alteração do nível de consciência.
B - Conteúdo de consciência
Consiste no somatório das funções nervosas superiores cognitivas do
indivíduo (atenção, memória e linguagem) e das emoções, tendo como
substrato anatômico o córtex cerebral. É importante ressaltar que a
avaliação do conteúdo da consciência é mais bem realizada quando o
nível de consciência se apresenta preservado.
coma e alteração do estado de consciência 145
Tabela 1 - Classificação
Torporoso
sonoro ou tátil vigoroso.
QUESTÕES E COMENTÁRIOS
Neurologia
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Questões
Neurologia - R3 Questões
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Neuroanatomia
Neurologia - R3 Comentários
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