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Universidade Estadual de Maringá

Centro de Tecnologia
Departamento de Engenharia Civil
Disciplina: Estruturas de Concreto II
Professor: Rafael Alves de Souza

a
lad
tro
on
oC

“Torção em Peças de Concreto Armado”


er
eV
sd
ide
Sl

Maringá, Maio de 2011.


1 - Introdução
As condições fixadas pela NBR 6118 (2003), item 17.5, para o dimensionamento a
torção de estruturas de concreto armado pressupõem um modelo resistente constituído
por treliça espacial, conforme ilustra a Figura 1.

a
lad
tro
on
T oC
Figura 1 - Modelo de treliça espacial para cálculo de vigas de concreto armado à torção

De acordo com a NBR6118 (2003), as diagonais de compressão de uma treliça espacial,


formada por elementos de concreto, têm inclinação que pode ser arbitrada pelo projeto

no intervalo de 30º ≤ θ ≤ 45º. Deve-se observar que na combinação de torção com força
cortante, o projeto deve prever ângulos de inclinação das escoras de concreto θ
coincidentes para os dois esforços.
er

Sempre que a torção for necessária ao equilíbrio do elemento estrutural, deve existir
armadura destinada a resistir aos esforços de tração oriundos da torção. A Figura 2
eV

abaixo ilustram casos de ocorrência da torção de equilíbrio.


sd

P
ide
Sl

Figura 2 - Exemplos práticos de torção de equilíbrio


A armadura de torção deve ser constituída por estribos verticais normais ao eixo do
elemento estrutural e barras longitudinais distribuídas ao longo do perímetro de seção
resistente, calculado de acordo com a NBR 6118 (2003) e com taxa geométrica de no
mínimo:

Asw f
ρ sl = ρ sw = ≥ 0,2 ctm
bw ⋅ s f ywk

a
lad
Quando a torção não for necessária ao equilíbrio, caso da torção de compatibilidade, é
possível desprezá-la, desde que o elemento estrutural tenha a adequada capacidade de
adaptação plástica e que todos os outros esforços sejam calculados sem considerar os
efeitos por ela provocados. A Figura 3 procura ilustrar alguns casos de torção de

tro
compatibilidade.

on
P
P
oC
Figura 3 - Exemplos práticos de torção de compatibilidade

er
eV
sd
ide
Sl
2 - Resistência à Torção Pura
2.1) Critérios de Cálculo

Admite-se satisfeita a resistência do elemento estrutural, numa da seção, quando se


verificam simultaneamente as seguintes condições.

Tsd ≤ Trd 2

a

Tsd ≤ Trd3

lad

Tsd ≤ Trd 4

tro
Trd2 representa o limite dado pela resistência das diagonais de concreto comprimidas,
sendo calculado pela NBR 6118 (2003) através da seguinte expressão:

Trd2 = 0,50 ⋅ α v 2 ⋅ f cd ⋅ Ae ⋅ he ⋅ sen 2θ

on
Onde: oC
α v 2 = (1- fck)/250, com fck em MPa;
θ = Ângulo de inclinação das diagonais de concreto, arbitrado no intervalo 30º≤ θ ≤45º;
Ae = Área limitada pela linha média da parede de seção vazada, real ou equivalente,
incluindo a parte vazada;

he = Espessura equivalente da parede de seção vazada, real ou equivalente no ponto


considerado.
er

Trd3 representa o limite definido pela parcela resistida pelos estribos normais ao eixo do
elemento estrutural. Essa parcela é calculada pela seguinte expressão:
eV

A 
Trd3 =  90  ⋅ f ywd ⋅ 2 Ae ⋅ cot θ
 s 
sd

Onde:

f ywd é a resistência de cálculo do aço da armadura passiva, limitada a 435 MPa.


ide

Trd 4 representa o limite definido pela parcela resistida pelas barras longitudinais,
paralelas ao eixo do elemento estrutural. Essa parcela é definida pela seguinte
expressão:
Sl

A 
Trd 4 =  s  ⋅ f ywd ⋅ 2 Ae ⋅ tg θ
 u 
Onde:

As= Soma das áreas das seções das barras longitudinais;


u = Perímetro de Ae .
A armadura de torção longitudinal, calculada pela expressão anterior, pode ter arranjo
distribuído ou concentrado, mantendo-se obrigatoriamente constante a relação ∆A s / ∆u ,
onde ∆u é o trecho de perímetro, da seção efetiva, correspondente a cada barra ou feixe
de barras de área ∆As . Nas seções poligonais, em cada vértice dos estribos de torção,
deve ser colocada pelo menos uma barra longitudinal.

2.2) Seções poligonais convexas cheias e vazadas

a
A Figura 4 ilustra, qualitativamente, as respostas de duas vigas de seção retangular

lad
sujeitas à torção. A primeira de seção maciça e a outra de seção vazada com o mesmo
contorno da primeira, ambas com a mesma armadura de torção. As duas seções
apresentam momentos torçores últimos praticamente iguais e os ensaios mostram que a
resistência à torção é mobilizada, quase que integralmente, junto a capa externa da

tro
seção transversal.

on
T oC

er
eV

l
Figura 4 - Ensaio experimental de peças submetidas à torção

De acordo com a NBR6118 (2003), para seções cheias, a seção vazada equivalente se
sd

define a partir da seção cheia com espessura de parede equivalente he dada por:

 A
 he ≤
ide

 u
he ≥ 2 ⋅ c1

Onde:
Sl

A = Área da seção cheia;


u = Perímetro da seção cheia;
c1= Distância entre o eixo da barra longitudinal do canto e a face lateral do elemento
estrutural.
De acordo com a NBR 6118 (2003), para seções vazadas, deve ser considerada a menor
espessura da parede entre a espessura real da parede e a espessura equivalente calculada
supondo a seção cheia de mesmo contorno externo da seção vazada.

2.3) Seção Composta de Retângulos

O momento de torção total deve ser distribuído entre os retângulos conforme sua rigidez

a
elástica linear. Cada retângulo deve ser verificado isoladamente com a seção vazada
equivalente discutida anteriormente, no caso de seções poligonais convexas cheias.

lad
Assim, o momento de torção que cabe ao retângulo; (Tsdi ) é dado por:

a i ⋅ bi
3
Tsdi = Tsd

tro
 ai 3 ⋅ bi
Onde:

on
a = menor lado do retângulo;
b = maior lado do retângulo.

2.4) Armadura para Torção


oC
As armaduras de torção devem ser constituídas por estribos normais ao eixo da viga e
barras longitudinais paralelas ao mesmo eixo. Consideram-se efetivos apenas os ramos
dos estribos e as armaduras longitudinais contidos no interior da parede fictícia da seção

vazada equivalente.

Os estribos para torção devem ser fechados em todo o seu contorno, envolvendo as
er

barras das armaduras longitudinais de tração e com extremidades adequadamente


ancoradas por meio de ganchos em ângulo de 45º. O diâmetro da barra que constitui o
eV

estribo deve ser maior ou igual a 5,0 mm, sem exceder 1/10 da largura da alma da viga.
Maiores detalhe sobre os ganchos dos estribos podem ser encontrados no item 9.4.5.4
da NBR6118 (2003).
sd

Vsd ≤ 0,67 ⋅ Vrd 2 → s máx = 0,6 ⋅ d ≤ 30 cm


Espaçamento longitudinal dos estribos 
Vsd ≥ 0,67 ⋅ Vrd 2 → s máx = 0,3 ⋅ d ≤ 20 cm
ide

Vsd ≤ 0,20 ⋅ Vrd 2 → st ,máx = d ≤ 80 cm


Espaçamento transversal dos estribos 
Vsd ≥ 0,20 ⋅ Vrd 2 → st ,máx = 0,6 ⋅ d ≤ 35 cm
Sl

As armaduras longitudinais devem atender a quantidade mínima indicada nos itens


17.3.5 e 17.5.1.2. No caso de barras longitudinais de torção, o arranjo pode ser
distribuído ou concentrado ao longo do perímetro interno dos estribos, com
espaçamento máximo de 350 mm. As seções poligonais devem conter, em cada vértice
dos estribos de torção, pelo menos uma barra.
No caso das armaduras longitudinais de flexão e torção devem ser respeitados os
seguintes espaçamentos:

2 cm 2 cm
ah ≥  av ≥ 
φ barra φ barra
1,2 φ 0,5φ
 agregado  agregado

a
lad
tro
on
oC

er
eV
sd
ide
Sl
3 - Solicitações Combinadas
3.1) Flexão e Torção

Nos elementos submetidos à torção e flexão simples ou composta, as verificações


podem ser efetuadas separadamente. Na zona de tracionada pela flexão, a armadura de
torção deve ser acrescentada à armadura necessária para solicitações normais,
considerando-se em cada seção os esforços que agem concomitantemente.

a
lad
No banzo comprimido pela flexão, a armadura longitudinal de torção pode ser reduzida
em função dos esforços de compressão que atuam na espessura efetiva he e no trecho
comprimido Au correspondente à barra ou feixe de barras consideradas. As tensões
principais de compressão na região comprimida à flexão devem ser limitadas a 0,85 fcd,

tro
sendo a tensão principal calculada em estado plano de tensões por:

on
σ fd  σ fd
2

σ II = +   + τ td 2
oC 2  2 

Sendo σ fd a tensão média que age no banzo comprimido de flexão e τ td a tensão


tangencial de torção, calculada por:

Tsd
τ td =
2 ⋅ Ae ⋅ he
er

3.2) Torção e força cortante


eV

Conforme já comentado, deve-se adotar o mesmo ângulo θ no projeto à torção e esforço


cortante. A armadura transversal será igual a soma das armaduras relativas a Vsd e Tsd ,
enquanto a resistência a compressão diagonal do concreto será garantida atendendo-se a
sd

seguinte expressão:

Vsd Tsd
+ ≤ 1,0
Vrd 2 Trd 2
ide

Onde:
Vsd e Tsd são os esforços de cálculo que agem concomitantemente na seção.
Sl
4 - Exemplo Prático
Para a viga em concreto armado apresentada abaixo, pde-se dimensionar e detalhar as
armaduras longitudinais e transversais necessárias para absorver os esforços de
momento fletor, força cortante e momento torçor. Utilizar aço CA50, concreto C25 e
cobrimento de armaduras de 2,0 cm.

a
5 kN m/m

lad
50 cm
30 kN/m

tro
6,0m

30 cm

on
oC
90KN +
DEC
- 90KN

15KN m +

- DET
15KN m
er

90KN m -
eV

-
+ + DMF
45KN m
sd

a) Dimensionamento à Força Cortante

Adotando-se Modelo de Cálculo I tem-se que θ=45º, logo:


ide

Vrd 2 = 0,27 ⋅ α v 2 ⋅ f cd ⋅ bw ⋅ d
 f ck 
α v = 1 −  = 0,90
 250 
Sl

1,6
d = h − c − φt − φ l = 50 − 2 − 1 − = 46,20cm
2 2
2,5
Vrd 2 = 0,27 ⋅ 0,90 ⋅⋅ 30 ⋅ 46,20 = 601,425 kN
1,4
Como Vrd 2 > Vsd = 1,4 ⋅ 90 = 126 kN tem-se grande possibilidade de não ocorrer a ruptura
da diagonal do concreto comprimido.
Vsd ≤ Vrd 3 = Vc + Vsw

Assumindo-se Vc = 0 kN, a favor da segurança, tem-se que Vsw = 126 kN , logo:

Asw Vsw
=
s 0,9 ⋅ d ⋅ f ywd ⋅ (senα + cos α )
Asw 126
= = 6,96 cm ² / m

a
s 0,9 ⋅ 0,462 ⋅ 43,48

lad
Vsd < 0,67 ⋅Vrd 2 → s max = 0,6 ⋅ d = 27,72 cm < 30 cm

Asw,min f ctm

tro
ρ sw, min = ≥ 0,2
bw ⋅ s ⋅ senα f ywk
2 2
f ctm = 0,3 ⋅ f ck = 0,3 ⋅ 25 = 2,56 MPa
3

on
3

Asw, min f ctm 2,56


= 0,2 .bw .senα = 0,2 ⋅ .30.sen90.100 = 3,07 cm 2 / m
oC
S f ywk 500

b) Dimensionamento à Flexão

Para Mk = 90 KN.m
er

x 23 = 0,259 ⋅ d = 11,96cm
x34 = 0,628 ⋅ d = 29,01cm
eV

xlim ite = 0,5 ⋅ d = 23,10cm

 Md 
x = 1,25 ⋅ d 1 − 1 − 
0,425 ⋅ bw ⋅ d ⋅ f cd 
2
sd


 1,4.90.100 
x = 1,25 ⋅ 46,20 1 − 1 −   x = 8,04cm → Domínio 2
 0,425 ⋅ 30 ⋅ 46,20 ⋅ (2,5 / 1,4) 
2
ide

Para Domínio 2 sabe-se que σsd = fyd = 43,48 kN/cm2

Md 1,4.90.100
As = = = 6,74cm² → 3φ 20mm
Sl

σ sd .(d − 0,4.x) 43,48.(46,20 − 0,4.8,04)

Para Mk = 45 KN.m → x = 3,87cm → D 2 → As = 3,24cm ² → 2φ16mm

0,15
As ,min = ⋅ bw ⋅ h = 2,25cm ²
100
c) Dimensionamento à Torção

C1

a
Cálculo da parede e da área equivalente:

lad
A 0,30 ⋅ 0,50
he ≤ = = 0,093 m = 9,375 cm
u 2 ⋅ (0,3 + 0,5)
 2
he ≥ 2 ⋅ c1 = 2 ⋅  2 + 1 +  = 8 cm

tro
 2
Será adotado he = 8cm
Ae=(30-8) (50-8)

on
Ae=924cm²

oC
2,5

Trd 2 = 0,50 ⋅ α v 2 ⋅ f cd ⋅ Ae ⋅ he ⋅ sen 2θ = 0,50 ⋅ 0,90 ⋅ ⋅ 924 ⋅ 8 ⋅ sen 2 ⋅ 45º


1,4
Trd 2 = 59,40 kN .m
er

Trd 2 > Tsd = 1,4 ⋅ 15 = 21 kN ⋅ m  OK!


eV

A90 Tsd 21
= = = 2,61cm ² / m (As por face).
s f ywd ⋅ 2 ⋅ Ae ⋅ cot θ 43,48 ⋅ 2 ⋅ 924 ⋅ 10 −4 ⋅ cot g 45º
sd

Asl Tsd 21
= = = 2,61cm ² / m
u 2 ⋅ Ae ⋅ fywd ⋅ tgθ 2 ⋅ 924 ⋅ 10 ⋅ 43,48 ⋅ tg 45º
−4
ide

Asw f
ρ sl = ρ sw = ≥ 0,2 ⋅ ctm
bw ⋅ s f ywk
Sl

2
A 25 3
ρ sl = ρ sw = sw ≥ 0,2 ⋅ 0,3
bw ⋅ s 500
Asw
= 0,102% ⋅ b = 3,07cm ² / m
s
A A
Logo 90 = sl = 3,07cm ² / m
s u
d) Solicitações Combinadas
d.1) Flexão + Torção

σ fd  σ fd
2

σ II = +   + τ td 2 ≤ 0,85 ⋅ fcd = σ c
2  2 

a
Rsd

lad
z
d

Rcd x

tro
0,8x

s fd

on
z = d − 0,4 ⋅ X
oC
Rcd = σ fd ⋅ Ac → Rcd = σ fd ⋅ Ac
M ud
M ud = Rcd ⋅ z → Rcd =
z

Igualando Rcd nas duas expressões anteriores, pode-se obter a seguinte expressão:
er

M ud
σ fd =
Ac ⋅ z
eV

2
Para Mk = 90 (Situação mais crítica), tem-se d = 50 − 2 − 1 − = 46cm
1
sd

1,4 ⋅ 90 ⋅ 100
σ fd = = 1,51kN / cm²
30 ⋅ 0,8 ⋅ 8,08 ⋅ (46 − 0,4 ⋅ 8,08)

TSd 1,4 ⋅ 15
ide

τ td = = = 0,14kN / cm ²
2 ⋅ Ae ⋅ he 2 ⋅ 924 ⋅ 0,08

2
 1,51 
Sl

1,51
σ II = +   + 0,14 2
= 1,52kN / cm²
2  2 
σ c = 0,85 fcd ≅ 1,52kN / cm²
σ II ≅ σ c  OK !
d.2) Cortante e Torção

Vsd Tsd
+ ≤ 1,0
Vrd 2 Trd 2
126 21
+ = 0,56 ≤ 1,0  OK !
601,425 59,4

a
e) Resumo das Armaduras Calculadas

lad
e.1) Armaduras Transversais

Asw
= 6,96cm ² / m (Cortante)

tro
s
A90
= 3,07cm ² / m (Torção)
s

on
Estribos por face (Torção + Cortante):
6,96
3,07 + = 6,55 cm² / m  φ10c / 10cm
oC
2

e.2) Armaduras Longitudinais

Asl + = 3,24cm ² / m  2φ16mm (Flexão positiva)


Asl − = 6,74cm ² / m  3φ 20mm (Flexão negativa)


Asl
= 3,07cm ² / m (Torção), sendo recomendado usar φlt ≥ 10mm
er

u
eV

O espaçamento entre barras de torção deve ser aproximadamente constante ao longo do


perímetro interno.

= 2(30 − 2c − 2φt ) + 2(50 − 2c − 2φt )


Perímetro interno = 2(30 − 2 ⋅ 2 − 2 ⋅ 1) + 2(50 − 2 ⋅ 2 − 2 ⋅ 1 )
sd

= 136cm
ide

Asl = 3,07 ⋅1,36 = 4,17cm²  4φ12,5mm distribuídos ao longo do perímetro interno,


com espaçamento constante igual a:
Sl

136
= 34 cm < 35cm → Ok!
4
5 - Referências Bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. “NBR 6118 – Projeto de


Estruturas de Concreto - Procedimento”, Rio de Janeiro, 2003.

a
lad
tro
on
oC

er
eV
sd
ide
Sl

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