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A Vila autódromo foi oficialmente fundada no ano de 1987 através de uma

organização interna entre os seus membros que culminou na criação de uma associação
de moradores (AMPAVA – Associação de Moradores e Pescadores da Vila
Autódromo), ela está localiza entre a Avenida Salvador Aliende ( uma importante via
que liga o bairro da Barra da Tijuca à região Norte de cidade), a lagoa de Jacarepaguá,
e o antigo autódromo Nelson Piquet – atual Parque Olímpico. Constituída por pessoas
vindas de diferentes lugares da cidade e do país, com maior ênfase da região nordeste, a
vila cresceu em um processo lento, desde os anos 70, e veio se configurando aos poucos
como um “bairro” – com padaria, mercado, açougue, praça, uma igreja católica – apesar
de que o lugar nunca foi conhecido como “bairro” pelos órgãos governamentares. A
construção da Vila é mérito dos seus próprios moradores, de acordo com as necessidade
internas fruto do convívio em comunidade.
A tônica do processo de constituição da Vila, da busca pela legitimação de seu
território, foram as ameaças constantes da sua própria aniquilação. O governo estadual
municipal e federal, em diferentes momentos da história, sempre declarou a
necessidade de remoção da comunidade – seja através de ameaças diretas ou de
discursos idelógicos, difundidos tanto pelos governantes locais quanto pela mídia,
incapazes de acolher as idiossincrasias do lugar. Um pequeno histórico sobre as
investidas contra a Vila Autódromo se faz necessário na busca de analisar e contrastar
dois modelos de projetos de cidade distintos e incompatíveis: de uma lado, o projeto do
governo apoiado pelos mais altos setores econômicos do mercado imobiliário dentro do
contexto dos megaeventos realizados na cidade, do outro, o plano popular da Vila
Autódromo. (falar sobre isso na introdução)
Em 1993, o então subprefeito da região da barra da tijuca Eduardo Paes, abriu
uma ação pública oferecida pelo município no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro,
sob a alegação que a Vila Autódromo causaria “ danos estéticos e ambientais” ao seu
entorno. Para além da esdrúxula alegação de um maleficio estético atribuída a uma
comunidade, ressalta-se que o processo demorou vinte e quatro anos em jurisdição, só
sendo arquivado no ano passado – quando a comunidade já havia sido quase
completamente aniquilada pelo próprio proponente do processo, Eduardo Paes , agora
então na condição de prefeito da cidade ( sobre a atual situação da Vila Autódromo,
abordarei no final do artigo.)
http://www4.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/consultaMov.do?v=2&numProcesso=1
993.001.078414-7&acessoIP=internet&tipoUsuario.
No ano seguinte , em 1994, em Genebra, uma liderança da Vila Autódromo
participou da 50ª reunião da Comissão de Direitos Humanos da ONU. O esforço era em
dar repercussão internacional a essas denúncias teve como estopim o assassinato de José
Alves de Souza, 38 conhecido como Tenório, presidente da Associação de Moradores
da Vila Autódromo. Tenório foi executado por quatro homens com dois tiros no rosto, e
era uma das principais lideranças contra a remoção na região (COSENTINO, 2015).
Segundo o “Relatório de situações de violação do Direito à Moradia Digna no Estado
do Rio de Janeiro” de Maio de 2006, realizado por uma associação de várias
copeerativas comunitárias da cidade, o assassinato foi realizado por Marco Aurélio,
coordenador na capatazia da região de Jacarepaguá, na busca de impedir Tenório de
ocupar a região. http://www.cis.puc-rio.br/cis/cedes/PDF/06agosto/anexos/relatorio-
direito-a-moradia.pdf
Em 2002, ouve a confirmação do primeiro mega-evento na cidade do Rio, o
Pan-ameericano de 2007. O então prefeito da época César Maia afirma a respeito da
região da Vila autódromo: “Há um benefício que não se mede em obras: a imagem da
cidade. Outro benefício será a recuperação de centralidades esportivas que o Rio de
Janeiro havia perdido. Esses dois aspectos têm significado econômico, por exemplo, em
relação ao turismo. (...) o Complexo Esportivo do Autódromo vai gerar a construção de
hotéis e de centros comerciais, além de funcionar como um novo pólo de lazer e
entretenimento". Nota-se desde já um forte interesse econômico pela região da Vila
Autódromo, porém, a centralidade do discurso está vinculada a uma construção da
“imagem da cidade” que serve, não aos moradores locais, mais sim, aos grandes
investidores e aos turistas. (Fonte : http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/132/o-
pan-americano-de-2007-ira-trazer-beneficios-ao-rio-de-22692-1.aspx)
O discurso do então prefeito Cesar Maia replica aquilo que sempre se planejou
para a região da Barra da Tijuca/Jacarepagua desde o princípio do seu crescimento
urbanístico, no anos 70, quando outro evento de peso internacional – a Expo 72 -
estava sendo debatida no intuito de ser sediada na mesma região da barra da tijuca. A
tônica é o desejo de construção urbanista planejada e a formação de um lugar em que
possa servir de epicentro aos empreendimentos da cidade:
Através do histórico de ocupação da Barra da tijuca é possível entender a
estrutura da região, que até hoje concentra grandes glebas em domínio de
poucos proprietários. A urbanização planejada pelo Estado, que se dá a partir
de 1970 através do Plano Lucio Costa, e o investimento em infra estrutura de
acesso da inicio ao desenvolvimento da região com os primeiros grande
condomínios fechados. Neste período, aventou-se a realização da exposição
internacional de 1972 que pretendia acelerar a expansão do bairro, mas que
acabou não acontecendo. Os argumentos do beneficio de se realizar grandes
eventos da cidade seriam resgatados mais tarde no Pan-americano de 2007 e
nas Olimpíadas de 2016.

Em 2009, a eleição do prefeito Eduardo Paes – amplamente sustentada pelo


setor imobiliário - aliada ao anuncio de que a sede da Copa do Mundo seria no Brasil
e que as olímpiadas de 2016 seria na cidade do Rio de Janeiro, configura-se o cenário
ideal para recomeçar as investidas do projeto do estado em tornar a região da barra um
novo polo econômico da cidade.
“Em 2 de outubro daquele mesmo ano (2009) o prefeito anunciou a meta de reduzir em
3,5% ( 1,6 milhão de metros quadrados, o equivalente a duas rocinhas) as áreas
ocupadas por favela no Rio.” Https://extra.globo.com/noticias/rio/plano-estrategico-
paes-quer-reduzir-em-35-total-da-area-de-favelas-ate-2012-
207796.html#ixzz3kWxd9aCS
Importante ressaltar que entre as empresas que financiaram a campanha do
Eduardo Paes para prefeitura de 2008 e 2012 destacam-se as construtoras Cyrella e
Carvalho Hosken, ambas, predominaram no setor de construção das obras das
Olimpíadas – sendo a Carvalho Hosken um das responsáveis pelo Paque Olimpico.
Nota-se também que os seus donos destas empresas ,Carlos Carvalho e Pasquale Mauro
“faziam parte de uma lista de quatro grandes proprietários que despontavam como os
donos da Barra na década de 1980 e, quase 40 anos depois, ainda mantêm latifúndios
urbanos em atividade especulativa na região”. Além disso, esses mesmos empreiteiros
mantinham relação com Eduardo Paes no período em que ele era subprefeito da barra na
década de 90, período que paes “conduziu uma violenta política de remoção de favelas
em benefício dos grandes proprietários locais”.
https://br.boell.org/sites/default/files/boll_olimpiada_01_09_17.pdf
Tais fatos históricos servem aqui como instrumentos de análise que revelam uma
tônica, uma mesma melodia da qual a associação espúria entre Governo e empresas
privadas mobilizam, ao longo da história, incessantes investidas que impõem um
projeto de cidade incompatível com as necessidades singulares de sua população. A
Vila Autódromo, desde a sua existência, está fadada ao seu desaparecimento por ser
uma obstáculo as intenções do empresariado, por produzir resistência ao fluxo de um
“desenvolvimento urbano” autoritário e elitista. A partir da analise específica do
projeto do Parque Olimpico e da transolímpica, buscarei delinear com mais clareza qual
é o viés ideológico que propulsiona as investidas contra a comunidade e contrapô-lo ao
projeto da própria Associação dos Moradores da Vila Autódromo.

O Projetos da transolimpica e do Parque Olimpico e a relação com a Vila


Autódromo

Em 2011, a prefeitura lança um edital de licitação, na modalidade de Parceria


Público Privada (contrato firmado entre o poder público e a empresa privada que
assume administração de determinado local com repasses financeiros público ao setor
privado) que para a construção e manutenção do Parque Olímpico:
O edital previa como forma de remuneração do parceiro privado uma
contraprestação mensal de 265 Milhoes, mais o valos de 250 milhoes pela
conclusão de etapas, e a transferência de 75% da área pública(...) após os
jogos. Tal área está destinada a empreendimentos habitacionais de alto
padrão a ser comercializado pela concessionária (MARCELA,P44)

Os ganhadores desta licitação foi o consócio “Rio Mais”, composto pela


Odebret, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken ( apoiadores da eleição de Eduardo
Paes). O Parque Olímpico seria a cede de 16 modalidades além de abrigar o Centro
Internacional de Transmissão das Olimpíadas (IBC). A Vila Autódromo, nas margens
da lagoa de Jacarepaguá, ocupava uma parte do perímetro destinado para as obras. O
Planejamento do Parque, feito no ano de 2014, excluía definitivamente a comunidade
do mapa, como se pode ver na imagem abaixo – o circulo em vermelho foi colocado
por mim para evidencia o local onde ficava a Vila Auródtomo :

Com a mesma violência, o projeto da ampliação da transolimpica do consocio


composto pelas empresas OAS Ltda., Odebrecht e Andrade Gutierrez - a mesma
empresa do parque Olímpico -
https://viario.com.br/doc/demonstracoes_financeiras_2012.pdf - fez um vídeo
propaganda no qual previa a ampliação da via através da seguinte forma :

A violência consiste, principalmente, na indiferença que esses projetos –


exibidos publicamente- tem para com os próprios moradores da Vila. Como pode uma
via atravessar uma comunidade? Como pode o concreto cinza do estacionamento de
uma construção, destinado em lei para ser “de alto padrão” – diga-se de outro modo,
“exclusivo para as elites” - ser os escombros de uma comunidade inteira?
Esses projetos escancaram um modo de gestão de cidade claramente vinculado
aos interesses de um determinado setor, a dita parceria “publico-privada” , tão exaltada
pelos lideres de governo, se revela , nos altos jurídicos e nas enxurradas de manchetes
de jornais do período pós-olimpíadas, como um “conluio publico-privado”(colocar
algumas reportagens).
O poder do Estado deixa de agir em beneficio do “comum” , da população, e
estimula um projeto exclusivo de cidade, preservando na superfície dos seus atos
modos pseudodemocráticos de governabilidade. Trata-se do diálogo entre os órgãos de
governo e a população, tão fundamental na construção de uma política sadia, mas que
no caso das olimpíadas, se verifica então como sofismo, uma falácia que esconde as
reais intenções, já previamente decididas as “portas fechadas”, dos governante .É essa
falaciosa escuta do Estado para com a comunidade da Vila Autodromo que revela a
supressão da própria politica, daquilo que impulsiona os modos horizontais de
construção de comum. Jacques Rancière nos apresenta a racionalidade política :
(...)o próprio da racionalidade política é que as deduções jamais se dão em
linha reta, elas são sempre tortuosas. A política, em ultima instancia, repousa
sobre um único princípio, a igualdade. Só que este princípio só tem efeito por
um desvio ou uma torção específica: O dissenso, ou seja, a ruptura nas
normas sensíveis da comunidade.
A politica seria então uma construção entre os seus participante, ela é
horizontal na medida em que acolhe as “ rupturas nas normas sensíveis de comunidade”
e se faz durante a ação. O agir é romper com aquilo que está preestabelecido, aquilo
que é naturalizado, debater horizontalmente as idiossincrasias entre os comuns - um
processo mutuo de escuta e acolhimento dos dissensos- para produzir acordos
provisórios. Tais acordos estão sempre em possibilidade de serem rompidos, para que o
processo politico nunca cesse, para que esteja sempre em movimento, sempre
reconfigurando a sua forma , nunca cristalizando-se em consensos : “O consenso não é
nada mais do que a supressão da política”.
Neste sentido o governo não pode ser separado dos seus governados, ele não
pode ser propriedade de ninguém : “ a autoridade politica não possui, em ultima
instância, outro fundamento senão a pura contingência.” E a contingência está
implicada no aqui e agora do fazer politico, no processos dinâmicos da construção e
desconstrução dos sensíveis. O escapismo das convicções, das certezas pré-
estabelecidas, é o combustível para estar sempre tecendo, em comunidade, novos
horizontes possíveis – mas sempre inacabados, sempre em via de ser “outros” .
Os projetos das olimpíadas, que reiteram a tônica da busca histórica de aniquilar
a vila autódromo, impõem um modelo ideológico que é a contramão desta
racionalidade politica colocada por Rancière. É um projeto que visa reduzir o campo de
diálogo com as pluralidades e impor a força um sensível único já previamente
determinado pelo poder e seus associados – um governo próprio, pertencente a um setor
específico; trata-se da urgência de produzir um consenso e , neste urgir, a violência é
exercida em seus diferentes modos .
Em um dos discursos do prefeito Eduardo Paes para os moradores da Vila
Autódromo, a legitimação de uma lógica autoritária travestida de dialogo político fica
evidente : “ A única desapropriação que tem totalmente relacionada as Olimpiedas é de
fato a vila autódromo (...) Deixar muito claro oh, a gente precisa fazer vias de acesso,
né. Ao parque olímpico. Retirar aquilo que tá em faixa marginal de proteção e é isso que
a gente quer que saia. No lugar deve ter umas, 800, 700.. é no total umas 700 casas. Ai a
gente fez o plano, a gente precisa no lugar dessas 700 casas tirar umas 250, 300, eu não
sei o numero exato...” https://www.youtube.com/watch?v=nYtpw5pskCY
“A gente precisa fazer vias de acesso” a gente, quem? Seria essa “gente” os seus
associados - Odebret, Andrade Gutierrez , Carvalho Hosken e OAS Ltda? Nota-se
também o modo corriqueiro na qual o ex-prefeito se coloca: ele não desenvolve os
motivos da necessidade de construir as vias de acesso, muito menos coloca em
discussão se de fato isso é necessário. Paes, no avesso da política, utiliza da retorica
para impor as decisões já definidas por uma espécie de “ Deus supremo”
inquestionável. Fora isso, as casas são números que se confunde na sua cabeça do
prefeito, tão banais quanto as do projeto do Parque Olimpico ( foto 1), que exclui uma
comunidade inteira de acordo com a sua conveniência.
O estreito campo de dialogo entre o governo e o povo , que reduz os modos de
disputa do sensível, é evidenciado nas criticas dos moradores da Vila Autódromo que
tentavam, sem sucesso, dialogar com o prefeito: “ A gente faz uma pergunta sobre
alguma coisa que a gente quer saber e ele dá sempre a mesma resposta, ele não muda a
resposta. você pode ir ali e ele vai dar a mesma resposta. Se você perguntar se eu vou
receber a indenização de uma kitnet, ele dá a mesma resposta... ” https://www.youtu
be.com/watch?v=h5OVxTIwMak . Evidencia-se portanto os modos dos quais o
governo opera para suprimir a estrutura política –no sentido do pensamento de rancíere-
mas sem perder os moldes, a forma, política. É uma política marqueteira, de fachada,
pautada apenas no discurso argiloso. É um estado que se revela totalitário.
De acordo com Hanna Arendt elucida como se dá o desenvolvimento do
totalitarismo:
A História é compreendida, no sentido mais textual, como um fluxo da
história. A diferença entre esse difundido pensamento ideológico e as formas
totalitárias de Estado é que estas descobriram os meios políticos para encaixar
os homens no fluxo da História de tal maneira a ele ser compreendido, em
relação à ‘liberdade’, ao fluxo livre‘ dela, exclusivamente como não podendo
obstruir esse fluxo, ao contrário, tornando-se um momento de sua aceleração.
Os meios pelos quais isso acontece são um processo externo de coação do
terror e a pressão exercida por dentro do pensamento ideológico, ou seja, um
pensamento que, bem no sentido do fluxo da História, também vem junto no
íntimo, por assim dizer. Esse desenvolvimento totalitário é, sem dúvida, o
passo decisivo no caminho da abolição da liberdade.

Para o Estado totalitário , a Vila Autódromo não pode obstruir este “fluxo da
história”, o papel do Prefeito é então, deslocar quaisquer tipos de resistência exercida a
este galopante fluxo utilizando-as à favor nas suas projeções. Trata-se de abolir a
liberdade de existir da comunidade em prol de um projeto dito “ maior”, uma ideologia
que se vende, seja pela propaganda ou pela força de um trator de demolição, como
sendo fundamental e necessária. Em última instancia, o falaciosos diálogo proposto pelo
governo é o seu esforço para legitimar uma lógica de dominação, uma lógica totalitária,
naturalizando-as.
Imporante Falar do CNH? Escritos nas portas das casas.
É importante enfatizar que esse marketing característico da falaciosa política do
Governo compreende a Cidade do Rio de Janeiro não como uma como uma questão de
gestão publica, mas sim, como uma mercadoria, um empreendimento que deve ser
gerido de acordo com as regras específicas do mercado. Sobre isso, Cosentino nos
esclarece:
“ A cidade administrada como empresa tem como principal característica a
mudança em sua forma de gestão. O poder Público passa de regulador a
parceiro e promotor da iniciativa privada, internalizando uma lógica
empresarial que se expressa através das parcerias públicos privadas – No
parque Olimpico e no Porto Maravilha os serviços públicos foram
diretamente privatizados, além de leis urbanísticas flexibilixadas.” FALATA
UMA CITAÇÃO SOBRE O MARKETIN

O Estado opera com “mão firme” no intuito de modificar a estrutura urbana da


cidade em prol da lógica de um mercado exigente , é a necessidade de produzir um
cenário fértil para atrair novos investidores. Neste sentido, a cidade perde a sua
característica “pública”, de espaço comum da sociedade, e se tornar uma marca - “Rio
cidade Olimpica” - da qual se é necessário agregar valor de mercado, tornar o produto-
cidade atraente. A “imagem” da cidade se torna o ponto central a ser zelado por esse
modelo de gestão, uma “boa imagem” é fundamental para fomentar o otimismo no
futuro investidor, abrindo também caminhos “seguros” para a especulação financeira
com a promessa de que aquelas terras serão supervalorizadas no futuro. Esse discurso
se verifica como uma tônica na história, vide o discurso do Cesar Maia colocado aqui
no inicio no artigo – por exemplo.
A construção do Parque Olimpico ,da Transolimpica e, consequentemente, a
remoção da Vila autódromo está dentro dos planos desta “marca-cidade”, em sintonia
com uma perversa lógica da qual , a valorização de uma determinada área urbana
implica, necessariamente, na exclusão da suas zonas de pobreza. Ao criar um centro
mercadologicamente valorizado , ou seja, uma área exclusiva de uma elite econômica
“de alto padrão”, cria-se também uma periferia destinada para ser a zona de pobreza, o
lugar de acumulação dos “restos” dos “destritos”. São áreas afastadas do centro, com
infraestrutura deficitária, longe dos lugares “vitrine” da cidade. Michel de Certeau , fala
sobre esse modo de organização funcional do espaço urbano:
“ ‘A cidade’, à maneira de um nome próprio, oferece assim a
capacidade de conceber e construir o espaço a partir de um número finito de
propriedades estáveis e articulas uma sobre as outras. Neste lugar organizado
por operações “especulativas” e classificatórias, combinam-se gestão e
eliminação. De um lado, existem uma diferenciação e uma redistribuição das
partes em função da cidade, graças a inversões, descolamentos e acúmulos,
etc; de outro lado, rejeita-se tudo aquilo que não é tratável e constitui
portanto os “detritos de uma administração funcionalista ( anormalidade,
desvio, doença, morte etc.)”

Compreende-se portanto um modo de gestão que contempla em seu


planejamento, a própria exclusão do indesejado, do “não tratável”. É o aprofundamento
da cisão entre o rico e o pobre que afirma a impossibilidade da coexistência de ambos
dentro de um mesmo território ou, de outro modo, só tolera a presença do pobre como
sujeito subalterno – varrendo o chão, servindo cafezinho, limpando banheiro e etc.
É na ação do Estado em criar um “bolha” de alto padrão no intuito de
intensificar os lucros que , inevitavelmente, a miséria das bordas é aprofundada: “O
sistema de lucro gera uma perda que, sobre as múltiplas formas de miséria fora dele e
do desperdício dentro dele, inverte constantemente a produção em gasto ou despesa”.

Projeto da vila autódromo

O plano Popular da Vila Autódromo – Plano de desenvolvimento urbano,


econômico , social e cultural, foi elaborado no ano de 2012 em uma inciativa da própria
associação de moradores e pescadores da Vila Autódromo (AMPVA). Assessorando o
plano estava o Núcleo experimental de planejamento Conflitual do Laboratório ,
trabalho e natureza do ensino e pesquisa e planejamento Urbano e Regional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro; e o Núcleo de Estudos e Projetos
Habitacionais e Urbanos da Universidade Federal Fluminense.
É em meio a um cenário de massivas intervenções do Estado na busca de
desapropriar a comunidade, em meio a uma Vila Autodrómo bastante descaracterizada
pela demolição de muitas de suas casa, que este projeto nasce com intuito de legitimar
o direito fundamental de Existir : “ O plano afirma a existência da comunidade, e o
DIREITO DE CONTINUAR EXISTINDO, com condições adequadas de urbanização e
serviços públicos...” Direito de existir, direito de escolher o local para existir, direito
de exercer a sua liberdade política dentro da cidade – isso é – desenvolver um terreno
fértil para o debate no intuito de equalizar as heterogenias para dentro de um sensível
comum , um projeto: uma comunidade “vila autódromo” possível para todos os seus
moradores. Importante: equalização pela via do debate horizontal, contrapondo com o
malabarismo retórico realizado pela prefeitura.
A via desta construção de comum está claramente exposta no projeto, é a
criação de um dispositivo, com uma metodologia clara e metas a se cumprir :
Inicialmente ocorreu uma “oficina de diagnóstico “, na qual os moradores
“divididos em grupos, discutiram os principais problemas do bairro, necessidades,
desejos, e possíveis soluções em reunoião”. A partir de uma foto aérea da comunidade
intitulada “Cartografia Popular da Vila Autódormo”, eles começaram a identificar os
principais desafios para a concretização das demandas presentadas. Além disso,
desenvolveram questionários para ser respondidos nos domicílios e assim, ampliaram a
escuta para além das pessoas que estavam ali presentes nas reuniões. A partir do
levantamento dos problemas ocorreu a “Oficina de propostas”, na qual grupos de
trabalho divididos por eixo temático debateram as alternativas para solucionar as
questões.
A assessoria universitária sistematizou o levantamento feito com as oficinas,
elaborando em conjunto o Plano Popular da Vila Autódromo ( ainda em versão
preliminar). Após reuniões para aprofundar o debate e definir, por meio de votação em
assembleia, o que seria melhor para o coletivo, o projeto foi finalizado - dez meses
depois do seu inicio.
O projeto prevê modificações na organização do espaço urbano da comunidade,
em conciliação com as normas legais de urbanização - trata-se , por exemplo, da área
de proteção ambiental nas margens da lagoa da Jacaré Pagua, onde algumas casas estão
estabelecidas. A proposta do projeto é "Reassentamentos na própria comunidade dos
moradores das casas em faixa de proteção”. Além disso, o projeto abre um campo de
disputa, oferecendo de forma embasada uma contra-proposta ao projeto do Parque
Olímpico: o planejamento popular da Vila Autódromo “ prevê pequena alteração do
projeto do Parque Olímpico com a revisão dos seus acessos, de modo a não cortar a
comunidade, nem isolar as casas da beira da lagoa”.
O projeto se destaca também com um contundente programa habitaiconal, que
prevê a melhorias dos domicílios já existentes da comunidade, além da construção de
novas unidades habitacionais, estas, separadas em três diferentes categorias de acordo
com as necessidades específicas : “Cada família a ser reassentada poderá escolher o
tipo de moradia e a localização desejada. Os critérios para organizar o processo de
escolha serão discutidos e decididos pela comunidade”
Em contraposição ao projeto do governo, a liberdade do indivíduo, o direito de
escolha e o diálogo são preservados afim de efetuar uma conversa conciliatória que
equilibre os interesses individuais que , por ventura, possam se atritar , e o bem estar
comunitário; o que se é valorizado é a necessidade da Vila Autódromo em se constituir
enquanto grupo sólido e influente dentro da própria cidade. Avalio que a construção
indenitária de uma comunidade é fundamental para que ela seja legitimada, criar
alicerces para se fazer reconhecida enquanto grupo e, mediante isso, ter maior
influencia nas disputas políticas, disputar os sensíveis dentro de um espaço mais amplo.
Essa construção de Identidade, de comum, se da pelo diálogo, desenvolvimento de uma
racionalidade política, no sentido de ranciere ( já apresentado aqui no subcapítulo
anterior).
De fato, o plano Popular da Vila Autódromo teve o seu notório reconhecimento
– não por parte do governo brasileiro mas, por entidades internacionais. Em 2013 a
comunidade recebeu o prêmio, Urban Age , uma iniciativa do Deustsche Bank , pela
criação do Plano Popular. Foi concedido a comunidade um valos de oitenta mil dólares
pelo reconhecimento da sua luta frente as incontáveis investidas de desapropriação
vindas dos órgãos governamentais Brasileiro. Mesmo com todo o prestigio que a
empresa Alemã creditou no projeto da Vila Autódromo, o prefeito Eduardo Paes não
quis agir no mesmo intuito de reconhecer os esforços da comunidade:
Circularam rumores que o finalista Plano Popular da Vila Autódromo havia
vencido e que o prefeito, que iria apresentar o projeto vencedor, tinha
cancelado a cerimônia em vez de apresentar o prêmio à comunidade, um
gesto que teria efetivamente legitimado a luta da Vila Autódromo para
permanecer. “Entendemos que o prefeito cancelou a entrega por que nós
eramos os vencedores”, Inalva Mendes Brito, outra moradora e ativista de
longa data da Vila Autódromo explica: “Se tivesse sido outra comunidade a
cerimônia não teria sido adiada.” http://rioonwatch.org.br/?p=9595

O Plano Popular da Vila Autódromo teve o seu orçamento total estipulado em


13,5 milhões para executar a construção de todos as casas necessárias e a reforma das
já existente, além de fazer a recuperação da infraestrutura urbana da comunidade. A
prefeitura do Rio de Janeiro , insistindo no não reconhecimento da comunidade,
gastaria um valor aproximado de 38 Milhões ( previsto no ano de 2012) – valor esse
que em 2015 havia superado os 200 milhões de reais – com a desapropriação da
comunidade e o reassentamento de seus moradores. (CONSTATINOP?)
O plano popular deflagrou , de uma vez por todas, o caráter totalitário do
Estado e o desejo de aniquilação da comunidade – custe o que custar. Está claro o
contraditório da gestão publica que, obedecendo á logica da “marca- cidade”,
desperdiça dinheiro publico no intuito de exterminar uma comunidade e, para além
disso, aniquilar um projeto de política, um modo reconhecidamente inovador de
construção comunitária.
Quando o plano de desenvolvimento de uma comunidade é premiado
internacionalmente, esta comunidade passa a ser não somente um problema físico ao
Estado Totalitário, mas sim, uma ameaça dentro do seu projeto de poder . Cria-se
dentro dele uma fissura que é a possibilidade de ser fazer diferente, se a resistência ao
projeto é reconhecida, logo, a imagem contundente do Estado é questionada e o seu
paradoxo é exaltado. O projeto da Vila autódromo desarticula o campo hegemônico,
inviabiliza a possibilidade do Estado em naturalizar e impor unilateralmente o seu
modelo. A vila estaria dentro daquilo que Arennt chamaria de “ poder das relação
humanas” que surgem a partir da coisa politica – onde a construção “entre” indivíduos é
maior do que as próprias individualidades ; esse poder, segundo a autora:
(...) pode ser enfraquecido por meio de todos os fatores possíveis, assim como
pode ser renovado de novo por meio de todos os fatores possíveis, só a força
pode liquida-lo em definitivo, quando esta se torna total e não deixa,
textualmente, pedra sobre pedra, homem ao lado de homem. Ambas as coisas
estão na essência da dominação total que, em termos de policia interna, não se
contenta em restringir o individuo, porém aniquila todas as relações inter-
humanas por meio do terror sistemático

Quando a vila ganha potência, o estado totalitário a aniquila definitivamente,


pois, não pode deixar “pedra sobre pedra” não pode haver resistências atravessando o
seu caminho.
No ano de 2016, com exceção de uma casa na qual os seus moradores
conseguiram a sua permanência, todas as construções da Vila foram destruídas. Cerca
de vinte famílias, que se recusaram até o fim se retirar do local, tiveram novas casas
reconstruídas pela prefeitura – contudo - dentro de um perímetro restrito, afastadas da
beira da lagoa e sendo entregues com alguns problemas estruturais.

Estar na Vila Autódromo e a emergência de uma politica criativa

Em uma visita realizada a Vila Autódromo em Abril de 2018, no lugar aonde


eram casas, ruas e vielas com crianças jogando futebol da rua, senhores sentados nas
praças, pescadores ancorando seus barcos na margens da Lagoa, hoje em dia é um
gigantesco e vazio estacionamento à céu aberto - no dia da visita, não havia um único
carro estacionado no local. Seu Armando, um dos poucos moradores que resistiu à Vila
Autódromo, estava me contando sobre o que era a Vila; ele me leva no meio do
estacionamento vazio e de asfalto cinza, olha minuciosamente ao redor – parecia estar
calculando algo na cabeça - e fala : “ Minha casa era aqui. Tá vendo? Eu sei, porque
tem aquele pé de amendoeira lá que não foi demolido, e eu via ele da mesma forma
como eu tô vendo agora quando eu estava na varanda de casa.”
A meu ver essa cena faz surgir, de forma violenta e concreta, as reverberações
do projeto “rio-cidade-olimpica” – no caso - a vitória do empreendimento “vila
olímpica” e a derrocada de toda uma comunidade de xx.mil habitantes. O espaço
publico foi esvaziado, tornou-se concreto, agredindo assim a experiência do corpo na
cidade; o “estar” - condição física e afetiva-imaterial – dentro de uma teia de relações
que é cultivada a partir da vivencia de um corpo entre seus comuns foi, violentamente,
cindido.
Enquanto caminhávamos pela Vila, Armando se esforçava ao tentar reavivar
pela narrativa os espaços aniquilados traçando assim um mapa mnemônico afetivo na
sua cabeça : ele falava da antiga padaria ,na qual, ia todas as manhãs comprar o pão;
lembrava do campo onde as crianças jogavam futebol, da casa aonde vivia a anciã da
comunidade e etc... Os espaços vazios ativavam inúmeras narrativas.
Caminhar é ter falta de lugar. É o processo indefinido de estar
ausente a procura de um próprio. A errância, multiplicada e
reunida pela cidade faz dela uma imensa experiência social de
privação de lugar – (...) posta sob o signo que deveria ser, enfim ,
o lugar, mas é apenas um nome , a Cidade.

O projeto da prefeitura e a euforia megalomaníaca das elites – afastada da Vila


Autódromo, descompromissada com sua vivencia- gerou ali um lugar de ausência. Os
nossos corpos em transito naquele local vazio e silencioso, buscavam uma Vila
desaparecida no asfalto; a sua identidade foi usurpada por um conceito de “cidade-
modelo”. Como uma palavra que se esvazia de sentido e fica deslocada dentro de uma
frase, o espaço ali está esvaziado de “cidade” ou de “politica” , ele deixa de sustentar
vivências comunitárias – proliferação das singularidades – e se torna uma espécie de
monolito, um único bloco de pedra, um concreto armado. Neste mesmo sentido, Paola
Berischein Fala de um “espaço desencarnado” :
A redução da ação urbana, ou seja, o empobrecimento da experiência urbana
pelo espetáculo leva a uma perda da corporeidade, os espaços urbanos se
tornam simples cenários, sem corpo, espaços desencarnados . Os novos
espaços públicos contemporâneos, cada vez mais privatizados ou não
apropriados, nos levam a repensar as relações entre urbanismo e corpo, entre o
corpo urbano e o corpo do cidadão.

Vila Autódromo perde “corpo”, perde as suas referencias, a suas raízes , a sua
arquitetura e consequentemente, parte de sua história que só poderia ser encontrada nas
imperfeições de seus muros, na vivência de suas destruídas edificações. Partido deste
pensamento de Paola, o projeto “Rio cidade Olímpica” seria então o espetáculo, o marketing
que deseja atrair o mercado especulativo para aquele lugar, a privatização do publico – como já
dito anteriormente.
É frente deste processo de “Desencarnação” do espaço, que iniciativas como a produção
do plano Popular da Vila Autódromo devem estar na ponta da lança pois ele é um
proposta contundente que gera contrafluxos diante das investidas ideológicas do
Estado. Para além do projeto em si, o seu conteúdo, é importante ressaltar os
dispositivos utilizados para o seu desenvolvimento; as chamadas “oficinas”, são
propostas de ações participativas que propõem outros modos de relacionamento entre o
corpo e seu espaço, de vivencia, intensificam as trocas dentro de um “corpo-
comunitário” – é o preenchimento do corpo na contra-mão do seu esvaziamento.
Além disso, verifico uma profunda relação da construção do Plano Popular
com os modos de produção coletivas dentro do campo das artes cênicas*, em ambos os
casos, a horizontalidade no debate e o desejo de construção “outros” possíveis - outras
comunidades, outras convivências, outras narrativas, outras dramaturgias - é o que
propulsiona o encontro dos indivíduos. Trata-se também de um agir na materialidade
das coisas que se apresentam, operar a partir das adversidades concretas em um
trabalho ruminante, é uma interminável ação de experimentar: os encaixes, os
desencaixes, as fusões, as alquimias, os atritos, as diluições, as quebras.... é necessário
produzir “outros” possíveis mas são temporariamente viáveis, mas que, a qualquer
momento, possam ser colocados em cheque, pois estamos falando aqui de processos
políticos entre comuns, que não podem ser enrijecidos, ideologizáveis. É sempre um
recomeço, o trabalho de agir sobre a matéria não para, não cessa, não se interrompe; a
arte, assim como a política, nunca podem perder velocidade, nunca deve cessar o jorro
criativo. O horizonte sempre deve ser reconstruído e a esperança aqui, é que a vila
autódromo se expanda pelo mundo, se refaça e se multiplique.
Que a arte inspire a politica cada vez mais e trabalhem juntas.
Que venham milhares de Vilas Autodromos.
Governos fascistas, totalitarista - não passarão.
ensaio aberto sobre linhas

Mesmo com essa “presentificação da ausência”, experenciada por mim na visita a vila e tão
presente no discurso dos moradores, se faz necessário apontar estratégias de disputa politicas
em prol da continuidade da comunidade, compreender que as batalhas encampadas até o
presente momento devem aprofundar o enamento do coletivo – indo aí na contracorrente do
interesse do Estado em liquidar a rede de relações que foram lá estabelecidas. No bojo de
possibilidades que deve ser reafirmadas, destaco o projeto da Vila Autódromo como uma
referencia transformadora e identifico no processso de sua construção, no agir politico que
mobilizou os membros da comunidade na construção de um projeto em comum, fortes
correlações com os processos coletivos de produção artística dentro das artes cênicas.
As chamadas “oficinas” agem como um dispositivo de construção de universos
possíveis, é o exercício em dialogo daquilo que poderia ser,

A cidade é lida pelo corpo como conjunto de condições interativas e o


corpo expressa a síntese dessa interação descrevendo em sua corporalidade, o
que passamos a chamar de corpografia urbana. A corpografia é uma cartografia
corporal (ou corpo-cartografia, daí corpografia), ou seja, parte da hipótese
de que a experiência urbana fica inscrita, em diversas escalas de
temporalidade, no próprio corpo daquele que a experimenta, e dessa forma
também o define, mesmo que involuntariamente – o que pode ser determinante nas
cartografias de coreografias ou carto-coreografias (7). Faz-se importante
então diferenciar cartografia, coreografia e corpografia.
Neste sentido, a compreensão de corpografias pode servir para a reflexão
sobre o urbanismo, através do desenvolvimento de outras formas, corporais ou
incorporadas, de se apreender o espaço urbano para, posteriormente, se propor
outras formas de intervenção nas cidades.
são essas experiências do espaço pelos habitantes, passantes ou errantes
que reinventam esses espaços no seu cotidiano.

ESPAÇO DESENCARNADOS

Ocorre que o concreto armado do estacionamento é ilegível ao corpo de um morador da Vila


Autodromo,
Ora, um monólito é interessante à quem? de uma elite que não reconheceu a
teia das relações cotidianas que existiam naquele lugar, uma elite afastada,
descompromissada com a vivencia daquele lugar.

Ora, “Rio Cidade Olímpica” é um monólito? um projeto de cidade vazio pois não é
de ninguém, fruto da ambição .

As caminhadas pelo espaço


Apesar desta ausência, é necessário ressaltar a potencia transformadora que o projeto da xxx da
vila autódromo adquiriu. Identifico neste processo de agir politico em sociedade correlações
com modos de produção artísticas dentro de um mecanismos produção coletivas. As “oficinas”
criadas para o desenvolvimentos de projetos é um dispositivo claro na co - diálogos,
dissensos e consensos em prol de elaborar um sensível possível para comunidade, ou no
outro caso, uma cena possível em comum acordo com o elenco. Os reconhecimentos de
território podem ser relacionado a produção de deriva
Falar do museu das remoções como resistencia e possíveis caminhos pra dialogar
politicas e pensamentos futuros de ocupar o estacionamento vazio.

É necessário agora investigar os possíveis mecanismos* abri aqui a chave para um outro
artigo
A cena - Asfalto de concreto, seu armando raviviando lembranças, o deslocamento na busca de
reavivar as referencias destruídas – atesta a consequência da imposição ideológica sob um
projeto de politica entre a comunidade, o vazio – falar da ação de produzir teias daquele espaço
remodelando a planta baixa de uma casa

Trata-se da contraposição entre ideologia e racionalidade politica, entre e vivencia Uma vila
autódromo destruída apenas para que os carros das elites possam estacionar seus caro.

E, enquanto nomeiam, isso é, impõem uma injunção vinda do outro ( um história) e


alteram a identidade funcionalista afastando-se dela, criam no próprio lugar essa erosão
ou não-lugarr aí cavado pela lei do outro,.
Utopia. Projeto. Esvaziamento. Vira um nome, sem identificação
Saida,
Que a cominidade vai voltar, aquele asfato vai voltar a ter nomes de outros moradores.
Mesma coisa apagar as pichações da avenida paulista.

Lugar da utopia de um grupo.

buscav

O relato de Armando é também a sua busca em ter que reconhecer aquele novo espaço,
E no ato de caminhar na Vila na presença de Armando, é que liamos aquele espaço
através do trajeto.
Leitura da cidade e o corpo
O projeto olímpico impôs uma outra leitura de cidade ao corpo,
Dentro de uma cidade shopping-center. Onde tudo é setorizado de acordo com o
planejamento. “citação do mapa do rio olímpico”
Modos de se fazer politica em profunda sintonia com o fazer artístico..
O corpo de armando Lê o que não pode ver. Modo nostralgico de transitar,
evidenciações do vazio e a esperança de um futuro que surge quando plantamos uma
arvore na comunidade.

e sua relação com a cidade,

de estar na cidade, “estar” na rua, de transitar, de criar raiz. O concreto, sendo ele
pedrinhas homogeneizadas

a violência agindo no corpo, na sua vivencia. o concreto foi oque restou, como
afetivas, subjetivas e concretas com o meio com que habita.
]
pela cidade foi transformada – falar mais disso e chegar a deriva
O corpo que lê.

O estacionamento vazio e o esforço do morador que fala, de uma maneira sóbria, do


paradeiro de sua residência

O concreto, rolo compressor nas pedrinhas – busca de tornar liso,


Projeto da vida. – arte de criar um mundo possível. Politica e engajamento artístico –
indissios de dervas como modos de produção comunitária . ver “Paola!”

Modos de estar na cidade

onde antes eram casa


Certau, ao falar de práticas ambulatórias na cidade – a urbe como uma escrita, o corpo
andarilho que escreve o seu percurso no espaço - fala do sistema urbano que impõe
uma literalidade

Mesmo tendo uma casa de volta, perde-se o espaço de memória, de vivencia,


perde a raiz e ganha uma espaço liso – na medida em que é forma, é marca.
Certau pensa a cidade como escrita, o corpo em transito na cidade como produção de
discursos. Qual a proposta de discursos produzidos nesta relação simbiótica entre corpo
e cidade produzido neste dois pojetos diferentes?

Operando na via destes dois projetos, compreendendo a cidade como escrita, é possível
pensar em dois modos incompatíveis de estar na cidade, de produção subjetiva, de se
deslocar pela cidade . a cidade como um discurso a ser lido pelo corpo que vive nela,
que transita que acolhe. Qual o discurso no concreto que a cidade promve?

Uma cidade que não aceita o corpo, uma cidade shoppig-center. Néo-neo neo liberal, o
corpo que existe no astral/
Dou outro lado, uma cidade que cria, o modo de criação está na mesma medida a
produção de um metodologia artística de sala de ensaio – o que me faz pensar em
aproximações. Falar sobre o “Império?” . necessidade da praça pública.

Per

A questão é que apesar da entrega dessas novas casas, a memória daquele lugar
impregnada
Esvaziamento do espaço, o estar da cidade, esrtar na urbe, modo de relação entre corpo
e a cidade. De um lado, o esvaziemento, construção do corpo mercadoria. Do outro a
horizontalidade

na sua antiga constituição física


a sua vivencia, foi totalmente aniquilada.

, de acordo com moradores, a família tinha influencia d, toda a comunidade havia sido
destruída.

Em 2016 todas as casas da vila – com excessão de uma dentre as xxx existentes –
foram destruídas, alguns moradores ( poucos), que se recusaram definitivamente em sair
daquele lugar, tiveram novas casas construídas dentro de um perímetro restrito

e dentro de um padrão arquitetônico que se aproxima ao modelo de conjuntos


habitacionais.

Vila autódromo portanto, não é apenas um obstáculo físico no meio do caminho


da “Rio Cidade Olimpica”, ela é a possibilidade de constituição de um modo operandi
inovador de organização em sociedade que pode desarticular as formas hegemônicas.
Quando um projeto de comunidade é premiado internacionalmente, é reconhecido pelo
pe

Quando uma entidade internacional premeia uma comunidade pelo seu modo arrojado
de organização e combate politico, o estado totalitário ou se apropria deste fato
agregando a si o mérito e transformando- o em publicidade, auto-promoção; ou, ele
aniquila definitivamente a inovação para que o exemplo não possa se difundir , para
que as contradição de seu projeto autoritário não sejam questionadas, em suma, para que
as resistências dentro do seu projeto de poder não se potencializem.
A vila não representa apenas um obstáculo físico para

A urgência portanto é impedir que Vila Autódromo se torne um exemplo de sucesso,


posto que,

necessidade da prefeitura em “abrir caminho” para o “novo” é também a urgência de


inviabilizar

. O que estava no meio do caminho do “Rio Cidade Olimpica”? Não apenas c


Para além da destruição da propriedade física da Vila Autódromo, existe a
urgência de desarticular justamente esse singular modo operandi de construção politica
da comunidade reconhecidamente inovador.

zz

Hanna Arent, fala de um mundo de relações humanas Ela afirma que este
mundo:
surgiu através da força ou do vigor individual dos indivíduos, mas sim através do estar junto de muitos
indivíduos fazendo com que surgisse o poder e , na verdade, um poder diante do qual a maior força do
individuo se tornar impotência.
que , já não conseguindo sustentar as suas contradições, faz minguar a potencia política
inovadora de uma comunidade pois esta é uma ameaça aos seus modos conservadores
de gerir a maquina publica.


é formado a partir da “coisa-politica”, da construção entre os indivíduos que é maior
do que a individualidadades, mas que, a força, pode liquida-lo em definitivo “.”
O que Arrente fala das relações internacionais, do surgimento da Bomba Atômica e a
possibilidade concreta de aniquilação total de um povo, pode-se aplicar a relação entre
a vila autódromo e o governo.

, guerra ao outro ( onde não importa se gasta-se dinheiro, o que importa é aniquilar o
outro)

A ação politica realizado no processo de contrução do Plano Popular da Vila


Autodromo

Seguir o pulular desses procedimentos que, muito longe de ser controlados ou


eliminados pela administração panóptica, se reforçaram em uma proliferação
ilegitimada, desenvolvidos e insinuados nas redes de vigilância, combinados segundo
táticas ilegíveis mas estáveis a tal pponto que constituem regulaç~eos cotidianas e
criatividades sub-reptícias que se ocultam somente Graças aos dispositivos e aos
discursos, hoje atravancados, da organização da cidade.
Vidas negociadas- exiencia fadadas.
Intimidade com espaço - Vivência

https://www.youtube.com/watch?time_continue=190&v=_kFUV50q1ek

Mesmo sendo a mercadoria


um objeto material, seu poder se constitui
por impedir que coisas sejam deixadas em paz.
Ou seja: que coisas possam existir fora de
regimes de instrumentalidade, de uso, e de
mercantilização total do mundo (incluindo
afetos). De fato, a transformação incorporal
de uma coisa em mercadoria corresponde
ao seu aprisionamento em um único (e
frenético) destino: tornar-se um objeto utilitário
anexado a toda uma economia de
excesso, regida por um modo espetacular
de aparição e demandando firmemente sempre o “uso correto” de
objetos.

devir-coisa não seja um destino tão


ruim assim para a subjetividade. Quando
olhamos ao redor, certamente parece ser
uma opção melhor do que continuar a viver
e a ser sob o nome de “humano”. A
“coisa” nos lembra que organismos vivos,
o inorgânico, e aquele terceiro produzido
pelo seu confronto chamado “subjetividade”,
todos necessitam ser libertados da
força subjugadora chamada dispositivomercadoria
-- força que esmaga a todos
num modo da vida empobrecido, ou triste,
ou dócil, ou limitado, ou utilitário. E
uma coisa (ou seja, a “coisidade” em qualquer
objeto e sujeito) pode realmente nos
oferecer vetores e linhas de fuga longe da
soberania imperialista de dispositivos colonizadores.
Para tal, as coisas teriam que
ser deixadas em paz, permitindo-lhes assim
afirmarem-se coisa, mais uma vez - de
forma a combater ativamente a sua sujeição
a um regime particularmente detestável
do objeto (o regime do dispositivomercadoria)
e um regime particularmente
detestável do sujeito (o regime da pessoalidade-
espetáculo) que aprisionam ambos,
objetos e sujeitos, em uma prisão mútua.
Talvez alguma dança recente tenha se
preocupado justamente com esta tarefa de
libertação mútua: das

através, de uma mesma linguagem, um projeto outro, para além

específico e a promoção de assembleias para definir em comum acordo alguns


pontos, o projetos

rabalho de campo,

e um “sensível” possível ,

e construído a

Construida na ineficácia do publico

A produção de um espaço própria: ma aorganização racional deve portanto recalcar


todas as poluições físicas, mentais ou politicas que a comprometeriam; 2. Estabelecer
um não-tempo ou um sistema sincrônico para substituir as resistências inapreensíveis e
teimosas das tradilços: estratégias cientificas unívocas, possibilitadas pela redução
niveladora de todos os dados, devem substituir as táticas dos usuários que
eastuciosamente jogam com as “ocasiões” e q uqe, por esse acontecimentos-armadilha,
lapsos da visibilidade, reintroduzem por toda parte dades da história.

“A cidadae”m a mandeira de um nome próprio, oferece assim a capacidade de conceber


e construir o espaço a partir de um úmero finito de propriedades estáveis, isoláveis e
articuladas uma sobra a outra. Nesse lugar organizado por operações “especulativas” e
classificatória, combinam-se gestão e eliminação. Além disso, a racionalização da
cidade acarreta a sua mitificação nos discursos estratédicos, cálculos baseados na
hipótese ou na necessidade de sua destruição por uma decisão final. Enfim

Vila autódromo está no mais novo lugar aonde o mercado escolheu para ser
valorizado e o Governo está totalmente atrelado a este mercado

a produção
.
para
O Estado age
Os governantes não proveem acesso a terra urbanizada a população de baixa resnda e,
pelo contrario, atual no sentido de garantir a concentação fundiária. Isso faz com que os
pobres sejam empurrados par os espaços não desejados pelo mercado ou que não
deveriam se ocupados,

O rio como uma Marca “O que desejamos é que as pessoas aproveitem a marca da
cidade, que tem um potencial enorme. A gente sabe que o carioca tem muito orgulho de
ser do Rio, de usar a marca da cidade”.
Afirmar o rio como uma marca produz consensos.
como as áreas sujeitas a inundações, encostas ou de prteção ambiental.

Evidencia-se , portanto, que o Rio de Janeiro passa por um ajuste de princípios


neoliberais, legitimado pela retorica dos grandes eventos esportivos, e que tem o Estado
– e nçao a ausência dele – um de seus principais agentes.

o cidadão é deslocado, através da coerção e da pressão, do seu agir político


para dentro do fluxo da história, este, carregado por um pensamento ideológico
heterodoxo. É a normatização da produção de “sensível”, é o slogan de uma cidade
“idalizada”

O estado totalitário destrói a política e, consequentemente, o direito de escolha, de luta


e de disputa do cidadão. Se um projeto olímpico,

esse ímpeto se faz com que o governo adquira contornos

o histórico das violações do governo em relação à vila autódromo , desde da sua


fundação, e a violência

Os projetos do Parque O GOVERNO É POVO, NÃO HÁ PODER. (FALAR


SOBRE ISSO) No projeto da Comunidade da Vila Autódromo, que será analisado
mais adiante, esse fazer político se torna evidente.
Por outro lado, os modos de ação do governo em relação a comunidade da Vila
Autódromo,se revelam unilaterais, esvaziados de politica , evidenciando o totalitarismo
do Estado:
.

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