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LITERATURA
A chegada do illustrissimo senhor D. João Franco de Oliveyra tendo sido ja bispo em Angolla.
Ao vigario da villa de S. Francisco por huma pendencia, que teve com hum ourives a respeyto de huma mulata, que se dizia
correr por sua conta.
A outro vigario de certa freguezia, contra quem se amotinávam os freguezes por ser muyto ambicioso.
A certo frade na villa de Sam Francisco, a quem hua moça fingindose agradecida à seus repetidos galanteyos, lhe mandou em
simulações de doce huma panella de merda.
Santigua-se o poeta contra outros pataratas avarentos, injustos, hypocritas, murmuradores, e por varias maneiras viciosos, o
que tudo julga em sua pátria.
Descreve a deplorável peste, que padeceo a Bahia no a. 1686, a quem discretamente chamáram bicha, porque variando nos
sintomas, para que a medicina não soubesse atalhar os effeytos, mordia por differentes boccas, como a bicha de hercoles.
Tambem louva o cartitativo zelo de algumas pessoas com os enfermos.
Louva o poeta obsequiozamente o grande zelo, e caridade, com que Antonio de Andrade, juiz que era dos orphãos desta
cidade da Bahia sendo dispenseyro da Santa Casa de Misericordia tratava aos pobres doentes do hospital.
Erguiam-se trez mulheres a hum mesmo tempo para chegar ao confissionario em noyte de natal e a mais corpulenta dellas
soltou hum traque com a fadiga de chegar primeyro.
DIPLOMACIA 360
♦ TRECHOS DE SERMÕES DE Pe. ANTÔNIO VIEIRA
Será porventura o não fazer fruto hoje a palavra de Deus, pela circunstância da pessoa? Será porque antigamente os
pregadores eram santos eram varões apostólicos e exemplares, e hoje os pregadores são eu e outros como eu? — Boa razão
é esta. A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que
semeia. Reparai. Não diz Cristo: saiu a semear o semeador, senão, saiu a semear o que semeia: Ecce exiit, qui seminat,
seminare. Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é
o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador e outra o que semeia; uma coisa é o pregador
e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser
ao pregador. Ter o nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são
as que convertem o Mundo. O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? — o conceito que de sua vida
têm os ouvintes.
(Sermão da Sexagésima, 1655.)
Que coisa há na confusão deste mundo mais semelhante ao inferno, que qualquer destes vossos engenhos, e tanto
mais, quanto de maior fábrica? Por isso foi tão bem recebida aquela breve e discreta definição de quem chamou a um engenho
de açúcar doce inferno. E verdadeiramente quem vir na escuridade da noite aquelas fornalhas tremendas perpetuamente
ardentes: as labaredas que estão saindo a borbotões de cada uma pelas duas bocas ou ventas, por onde respiram o incêndio;
os etíopes, ou ciclopes, banhados em suor, tão negros como robustos, que subministram a grossa e dura matéria ao fogo, e os
forcados com que o revolvem e atiçam; as caldeiras ou lagos ferventes com os cachões sempre batidos e rebatidos, já vomitando
espumas, exalando nuvens de vapores, mais de calor que de fumo, e tornando-os a chover para outra vez os exalar; o ruído das
rodas, das cadeias, da gente toda da cor da mesma noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao mesmo tempo, sem
momento de tréguas, nem de descanso; quem vir enfim toda a máquina e aparato confuso daquela Babilônia, não poderá duvidar,
ainda que tenha visto Etnas e Vesúvios, que é uma semelhança do inferno. Mas, se entre todo esse ruído, as vozes que se
ouvirem forem as do Rosário, orando e meditando os mistérios Dolorosos, todo esse inferno se converterá em Paraíso; o ruído
em harmonia celestial; e os homens, posto que pretos, em Anjos.
(Sermão de Nossa Senhora do Rosário, 1633.)
Minha Marília, Em toda a parte Quem tem teu rosto Ao rosto feio
Tu enfadada? Cega namora Ah! não receia A perfeição.
Que mão ousada Ao teu Pastor. Que terno amante
Perturbar pode Há sempre fumo Solte a cadeia, Quando apareces
A paz sagrada Aonde há fogo: Quebre os grilhões. Na madrugada,
Do peito teu? Assim, Marília, Mal embrulhada
Porém que muito Há zelos, logo Não anda Laura Na larga roupa,
Que irado esteja Que existe amor. Nestas campinas E desgrenhada
O teu semblante! Sem as boninas Sem fita, ou flor;
Também troveja Olha, Marília No seu cabelo, Ah! que então brilha
O claro Céu. Na fonte pura Sem peles finas A natureza!
A tua alvura, No seu jubão. Então se mostra
Eu sei, Marília, A tua boca, Porém que importa? Tua beleza
Que outra Pastora E a compostura O rico asseio Inda maior.
A toda hora, Das mais feições. Não dá, Marília,
DIPLOMACIA 360
♦ POEMAS DE CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
LXXII LXII
Carta 4