Você está na página 1de 22

RAIMUNDO SIMÃO DE MELO

CLÁUDIO JANNOTTI DA ROCHA


COORDENADORES

CONSTITUCIONALlSMO, TRABALHO,
SEGURIDADE SOCIAL E AS REFORMAS
TRABALHISTA E PREVIDENCIÃRIA

I Congresso Internacional
de Direito do Trabalho e Direito da
Seguridade Social
Programa de Mestrado em Direito do UDF

~~~~nt:SitáriO
a nos IV
~e~~ O~~~ L1li
Pesquisa do Distrito Federal Clenlfflco ,. Tecnol6glco

ILffi
EDITORA LTDA.

© Todos os direitos reservados


Rua Jaguaribe, 571
CEP 01224-003
São Paulo, SP - Brasil
Fone ell) 2167 -ll01
www.ltr.com.br
Outubro, 2017

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: PIETRA DIAGRAMAÇÃO


Projeto de capa: FABIO GIGLIO
Impressão: PAYM GRÁFICA

Versão impressa - LTr 5898.0 - ISBN 978-85-361-9443-1


Versão digital - LTr 9252.8 - ISBN 978-85-361-9449-3

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Rocha, Cláudio Jannotti da


Constitucionalismo, trabalho, seguridade social e as reformas trabalhista e previdenciária / Raimundo
Simão de Meio, Cláudio Jannotti da Rocha. - São Paulo: LTr, 2017.

1. Constituição - 1988 - Brasil 2. Constitucionalismo - Brasil 3. Direito do trabalho 4. Direitos


fundamentais 5. Processo do trabalho - Brasil 6. Reforma constitucional - Brasil 7. Reforma
previdenciária - Brasil 8. Seguridade social - Brasil L Melo, Raimundo Simão de. n. Título.

17-09691 CDU-34:331 -

Índice para catálogo sistemático:

1. Brasil: Direito do trabalho 34:331 (81)


18 Constitucionalismo, Trabalho, Seguridade Social e as Reformas Trabalhista e Previdenciária .•

Capítulo VIII 273


Um olhar no caleidoscópio das igualdades e das diferenças nas relações de emprego
Prafa. Ora. Gilsilene Passon Picoretti Francischetto (FDV)

Capítulo IX 280
A Reforma Trabalhista e a corrida ao fundo do poço: o uso das normas internacionais do trabalho como alternativa
para a garantia dos direitos humanos
Profa. Ora. Raquel de Castro Betty Pimenta (PUC Minas)

PARTE IV: DIREITO DO TRABALHO


Capítulo I 295
Livrem-nos da livre negociação: aspectos subjetivos da reforma trabalhista
Prof. Dr. Márcio Túlio Viana (PU C Minas)

Capítuloll. 302
Impactos do golpe trabalhista (a Lei n. 13.467/17)
Jorge Luiz Souto Maior (USP)

Capítulo 11I 311


O trabalho autônomo da Reforma Trabalhista e a violação às normas internacionais de proteção ao trabalho
Prof. Ora. Lorena Vasconcelos Porto (UDF)

Capítulo IV 325
A dispensa coletiva da Reforma Trabalhista analisada à luz do direito constitucional e da teoria dos precedentes
Prof. Dr. Cláudio Jannotti da Rocha (UDF)

Capítulo V 334
A dimensão patrimonial do dano moral na Reforma Trabalhista: análise e questionamentos acerca dos novos art.
223-A e 223-G da CLT
Prafa. Ora. Rosemary de Oliveira Pires (Faculdade de Direito Milton Campos) e Prof. Dr. Arnaldo Afonso Barbosa
(UFMG)

Capítulo VI. 349


Do arbitramento do dano extrapatrimonial: inconstitucionalidade do § 1.° do artigo 223-G da CLT, introduzido pela Lei
n. 13.467/17
Prof. Dr. Hugo Cavalcanti Meio Filho (UFPE) e Profa. Renata Alves Calábria

Capítulo VII 357


O Direito do Trabalho e as Plataformas Eletrônicas
Prof. Dr. José Eduardo Resende Chaves Júnior (PUC Minas)
O Direito do Trabalho e as Plataforma Eletrônicas

José Eduardo de Resende Chaves Júnior1

1 – Introdução

Ingressamos na era da chamada gig economy, de micro-tarefas repetitivas, na qual o


trabalho se torna temporário, precário, um bico. É a intensificação da redução da
porosidade do trabalho, pelo aproveitamento de suas sobras, do tempo 'morto' do
trabalhador, que normalmente estaria destinado ao lazer, repouso, à reflexão ou mesmo
a sua qualificação.

O que se já percebe é a progressiva substituição das empresas de intermediação de mão


de obra por plataformas virtuais, que conectam diretamente o tomador final com o
prestador pessoal do serviço, que passa também a ser o detentor das ferramentas de
trabalho - mas não propriamente dos meios de produção.

Este texto transita na esfera do chamado «biopoder»2 ou da «biopolítica»3 e, dessa


perspectiva, opera a partir da ideia de «trabalho biopolítico».

1
Doutor em Direitos Fundamentais. Professor Adjunto dos cursos de pós-graduação do IEC-
PUCMINAS. Desembargador Presidente da 1ª Turma do TRT-MG.
2
Segundo Paolo Virno “Foucault introduced the term «bio-polictics» in some courses he taught in the
Seventies at the Collége de France. The term was applied to the changes which took place in the concept
of “population” between the end of the eighteenth and the beginning of the nineteenth century. In
Foucaul view, it is during this period that life, life as such, life as mere biological process, gegins to be
governed and administrered politically.” (“Foucault introduziu o termo «biopolítica» em alguns cursos
dos anos setenta, dedicados às mudanças do conceito de “população” entre fins do século XVIII e
princípios do XIX. Para Foucault é naquela época quando a vida, a vida como tal, a vida como mero
processo biológico, começa a ser governada e administrada politicamente”; tradução livre ) Cfr. VIRNO,
2004, p.81.
3
Segundo Giorgio Agamben, Foucault definia o termo «biopolítica» como a crescente implicação da vida
natural do homem nos mecanismos e nos cálculos do poder. Explica que Foucault fala que para
Aristóteles o homem era um animal vivente e, além disso, capaz de existência política; já para o homem
moderno está em questão política o fato de ser vivente. (AGAMBEN, 2002, p. 125). Para Agamben,
Karl Löwith (LÖWITH, k. Der okkasionelle Dezisionismus von R. Schmitt. In: Sämtliche Schriben:
Stuttgart, 1984, V. VIII) foi o primeiro a definir como “politização da vida” o caráter fundamental da
política dos Estados totalitários, ressaltando também a contigüidade entre democracia de massa e
totalitarismo, seguindo a passagem de Carl Schmitt.(AGMBEN, 2002, p. 126-127).
A ideia de «trabalho biopolítico»4 ou ‘pós-material’5 parte da constatação de que o
capitalismo pós-industrial não tem sua fonte hegemônica de excedente expropriado no
trabalho tradicional, manufatureiro, como ocorria no início do Século XX. A produção
econômica na modernidade industrial se destinava à confecção de ‘mercadorias', isto é,
visava puramente a transformar, linear e diretamente, o trabalho, material e
subordinado, em mercadoria palpável e concreta.

Já a produção pós-moderna não se preocupa tanto com a confecção da mercadoria


material, isso porque a automação e as tecnologias informáticas possibilitaram
aumentar, e de forma exponencial, a capacidade de reprodução de bens, o que,
logicamente, fez diminuir o valor desses bens, materiais e reproduzíveis, no mercado –
evidentemente, essa diminuição diz respeito aos bens considerados isoladamente, isto é,
considerados somente a partir do ponto de vista de suas qualidades materiais, fora das
relações sociais e culturais.

Nesse sentido, na contemporaneidade, o trabalho mais estratégico para o capitalismo –


isto é, aquele que acrescenta maior valor à mercadoria ou ao serviço – passa a ser o
trabalho que se destina a produzir, não bens, mas relações, nomeadamente, relações de
conhecimento tecnocientífico, relações de ideias, relações de informação e comunicação
e até relações afetivas, entre mercadoria/serviço e o consumidor.

O objetivo deste trabalho é apresentar, de maneira concisa, cinco novos conceitos


operacionais para o Direito do Trabalho, sob o impacto das novas tecnologias, a saber:
(i) a dicotomia entre economia de compartilhamento e consumo colaborativo, (ii) a
liberdade constitucional de trabalho, (iii) a transição da sociedade da disciplina para a
sociedade do controle (iv) a multidão como imanência dos coletivos tradicionais e (v)
e o contrato realidade-virtual.

2 - Economia do Compartilhamento e «Consumo Colaborativo»

Estamos em trânsito para um novo sistema de produção, que mescla e potencializa


formas anteriores de produção, criando uma espécie de kanban eletrônico, com just in

4
Optamos pela locução ‘trabalho biopolítico', que nos parece mais precisa que ‘trabalho imaterial'. Como
observam Negri e Hardt o que é imaterial, nas formas contemporâneas de produção pós-industrial, como
se verá, não é o trabalho, mas “su producto. Admitimos que, en este aspecto, la expresión ‘trabajo
inmaterial’ es muy ambigua. Quizá sería preferible interpretar la nueva forma hegemónica como
‘trabajo biopolítico’, es decir, un trabajo que no sólo crea bienes materiales, sino también relaciones y,
en última instancia, la propia vida social. Con el término ‘biopolítico’ indicamos que las distinciones
tradicionales entre lo económico, lo político, lo social, lo cultural se confunden cada vez más”. [Cfr.
NEGRI y HARDT, 2004 (d), pp. 137-138].
A opção por 'trabalho imaterial', escolhida por Negri, Hardt y Lazzarato, é mais estratégica: “Pero, por
otra parte, el adjetivo ‘biopolítico’ presenta muchas complejidades conceptuales añadidas: por eso nos
parece que la noción de inmaterialidad, aunque ambigua, facilita la comprensión inicial y además indica
mejor la tendencia general que revisten las transformaciones económicas.” (Cfr. Ibid., p. 138). Neste
trabalho acadêmico não nos parece que seja necessário adotar tal cuidado estratégico; ao contrário, a
opção pela expressão mais precisa é inclusive preferível.
5
Já o uso da locução 'trabalho pós-material', por outro lado, pretende pontuar a diferenciação com a
locução 'trabalho imaterial', sem perder de vista a ênfase nos aspectos relacionais, cognitivos, culturais e
afetivos da produção contemporânea.
time e responsabilidade coletiva e estatística da produção, reduzindo de forma colossal a
porosidade do trabalho.

Economia do compartilhamento (Sharing economy) é um conceito que vem se


disseminando de uma forma indiscriminada, muitas vezes sem o devido cuidado mais
acadêmico. Para esse novo mundo da produção existem várias designações, tais como,
On-demand economy, Circular economy, Collaborative economy, Peer-to-Peer
(P2P) economy, Net economy, Reputation economy, Trust economy, Hypster economy.

Essa ideia da economia do compartilhamento vem se expandindo e se beneficia de uma


aura humanista e até civilizatória de solidariedade, de generosidade, de gentilezas,
enfim de colaboração6. Mas a dura realidade dos efeitos das novas tecnologias no
mundo do trabalho revelam uma outra faceta, opaca e com exponencialização das
formas de exploração do ser humano que labuta, na retaguarda das tecnologias
disruptivas.

Há de fato uma perspectiva de emancipação no uso das ferramentas tecnológicas de


comunicação e informação, pois elas facilitam o acesso às informações e aceleram de
forma exponencial a interação entre as pessoas e grupos de interesses.

Do ponto de vista do consumo, essas ferramentas permitem o compartilhamento social


das sobras e excessos, otimizando o gasto e calibrando o uso dos produtos. Viabilizam
um consumo mais consciente e uma economia responsável e sustentável dos recursos
naturais.

Nesse sentido, o conceito de «consumo colaborativo» - CC - apresenta um potencial


imenso, como crítica e alternativa concreta, perfeitamente viável, à sociedade de
consumo do capitalismo tradicional. Os movimentos de software livre da informática
precederam essa perspectiva. O sistema operacional Ubuntu, de código-fonte aberto,
projetado a partir do núcleo open source Linux escolheu o nome do conceito de mesmo
nome da filosofia africana, que consagra a ideia de compartilhamento e de
solidariedade7.

A realidade de produção pós-industrial, contudo, é bem outra. Energias de dominação


têm prevalecido em relação às de emancipação. Sistemas de trabalho em plataformas on
line, tais como, o Mechanical Turk da Amazon têm levado a escalas impressionantes de
exploração a legião de trabalhadores arregimentados à distância, para execução de
micro-tarefas repetitivas e mal remuneradas.

6
BOTSMAN & ROGERS (2011)
7
"Broodryk (2002, 22) define o ubuntuísmo como uma cosmovisão tradicional africana, baseada nos
valores do humanismo inteiro como carinho, partilha, respeito, compaixão, assim como os valores
associados que visam assegurar uma vida comum feliz. Ele distingue os valores fundamentais do
ubuntuísmo e outros valores associados. Os valores fundamentais são o humanismo (valores associados:
calor, tolerância, compreensão, paz, humanidade), carinho (valores associados: empatia, simpatia,
ajuda mútua, caridade, amizade), altruísmo (valores associados: oferta incondicional, redistribuição,
abertura), respeito (valores associados: dignidade, obediência, ordem, predisposição para cumprir
norma sociais), compaixão (valores associados: amor, coesão, informalidade, perdão e espontaneidade).
Nesta perspetiva ética, o ubuntuísmo põe ênfase na educação, insistindo que as crianças devem ser
educadas a dar o pouco que possuem aos outros, assegurando uma cultura da partilha e da compaixão".
BARBOSA (2012, p. 211)
Lucarelli & Fumagalli observam que no capitalismo cognitivo, a acumulação é cada vez
mais baseada na extorsão política do produto da cooperação social, como resultado do
incremento da socialização da produção, principalmente pela atividade produzida pelas
redes sociais. Nesse contexto, o capital apropria-se do "commons", do conhecimento
tácito e codificado da comunidade em rede e acaba por capturar as energias de
emancipação que eclodem desse novo meio colaboração produtiva8.

Uma alternativa vem sendo estudada pelo Professor Trebor Sholz da New School de
Nova York, que identificando os problemas da economia do compartilhamento9,
apresenta alguns princípios para o que ele denomina de cooperativismo de plataforma.

Dentre esses princípios, é relevante sublinhar alguns deles, a saber: (i) fair paid, a justa
remuneração dos trabalhadores, (ii) transparência e portabilidade dos dados dos
trabalhadores e também dos usuários dos serviços da plataforma de trabalho, (iii) co-
determinação das regras de uso, que devem ser definidas de forma participativa,
democrática, com os trabalhadores e usuários, (iv) moldura jurídica protetora, (v) algum
grau de proteção trabalhista para os que oferecem seus serviços na plataforma, (vi)
rejeição da vigilância excessiva e (vii) direito à desconexão do trabalho10.

O desafio do Direito do Trabalho da contemporaneidade tecnológica é justamente


distinguir o joio e economia do compartilhamento do trigo e da ideia emancipadora de
«consumo colaborativo». Imensas corporações planetárias dominam mercados e
trabalhadores, aprisionam a energia da cooperação social, transferem os custos e
internalizam de maneira assimétrica os ganhos, passando a atuar, em determinadas
hipóteses, como verdadeiro empregador-nuvem.

3 - Liberdade Constitucional de Trabalho.

O Direito do Trabalho no Brasil tem uma excessiva dependência do conceito de


subordinação jurídica. Como se sabe, esse conceito não tinha fundamento dogmático na
CLT, que optara pelo conceito de dependência em seu artigo 3°. A subordinação
jurídica só foi positivada na CLT a partir da nova redação de seu artigo 6°, que recebeu
o parágrafo único, com Lei 12.551 em 2011.

A doutrina tradicional sempre destinou à subordinação jurídica uma centralidade, que


acabou na prática conduzindo a uma concepção autoritária de relação de emprego, em
que a dependência social e econômica do trabalhador é adjudicada e legitimada
juridicamente como subordinação.

8 LUCARELLI & FUMAGALLI (2008) O estudo preliminar está disponível na internet em


https://mpra.ub.uni-muenchen.de/28012/1/MPRA_paper_28012.pdf acesso em 07 set 2017
9
"Entre todos os problemas do trabalho no século xxi – o inchaço do setor de serviços mal
remunerados, a desigualdade econômica, o desmanche dos direitos trabalhistas –, o maior deles é que há
tão poucas alternativas realistas. O que falta no debate sobre o futuro do trabalho é uma abordagem que
ofereça às pessoas algo que elas possam abraçar de corpo e alma." SCHOLZ (2017, p 17)
10
SCHOLZ (2017, pp. 78-85)
Daí a uma hermenêutica de desconexão entre a condição de empregado e à de cidadão
titular de direitos fundamentais foi um salto exegético simples, que começou na
doutrina e atingiu o seu ápice nos anos 80 e 90 na jurisprudência do Tribunal Superior
do Trabalho.

Esse estado de coisas somente começou a alterar-se partir da assimilação pela doutrina
trabalhista dos influxos da Constituição de 1988, sobretudo da percepção, tanto no
Direito Civil, como no Direito do Trabalho, de que a lei ordinária havia de ser lida a
partir da Carta Constitucional - e não o contrário.

Foi longo o percurso ao entendimento de que trabalhador não perde sua condição de
cidadão, ao ingressar na orla regulada pelo Direito do Trabalho. Ao contrário, em sua
condição de vulnerabilidade econômica, o cidadão-trabalhador desafia maior grau de
tutela de seus direitos fundamentais do que o cidadão comum.

Um dos resquícios que ainda subsistem dessa concepção autoritária, por exemplo, é a
jurisprudência de nossa mais alta corte trabalhista que sonega ao empregado o direito
constitucional ao sigilo das comunicações de dados das correspondência eletrônicas
enviadas ao e-mail corporativo do empregado, sigilo esse que somente é tangível com
autorização judicial e para fins de instrução penal, como está na literalidade do inciso
XII do artigo 5° da Constituição.

É nesse sentido que ficou obscurecido o direito constitucional de trabalho, a benefício


de uma concepção subordinante da relação de emprego, do ponto de vista da cidadania
do trabalhador, segundo a qual o obreiro, ao ingressar no ambiente físico ou virtual da
empresa, deixa de fazer jus à garantia de alguns de seus direitos fundamentais, como se
a condição de empregado e a tutela do Direito do Trabalho constituíssem contrapartida
legítima, para o reconhecimento de um status constitucional diferenciado e de segunda
classe.

Essa concepção autoritária da relação de emprego, que apaga qualquer traço de


liberdade e autonomia do empregado acaba, até mesmo, por construir uma doutrina
manca, em determinadas situações do trabalho tecnológico, nas quais o poder diretivo
do empreendedor parece dirigir o vazio, como se a todo poder não houvesse uma
contrapartida de sujeição e dependência concretas. Em outras palavras, desconhece-se o
fato evidente de que o poder de direção e gestão da produção pressupõe
necessariamente uma estrutura de meios e trabalho a ele subsumida, ainda que de
maneira latente, diferida ou encoberta pelas tecnologias de comunicação ou informação.

Na chamada industria 4.0, a internet das coisas, o algoritmo da inteligência artificial do


sistema, oriundo do poder de direção do empreendedor, subordina todos os fatores
relevantes para a produção contemporânea. Não se trata mais da disciplina foucaultiana,
mas do controle deleuzeano, como veremos no tópico a seguir.

Não bastasse o viés pouco democrático de uma concepção de relação de emprego


vazada na plena sujeição jurídica do empregado, é fundamental destacar que ao
capitalismo tecnológico não interessa tanto a disciplina do corpo, da jornada, senão e
sobretudo o controle da criatividade do trabalhador a benefício da produção.
Daí que cumpre mais do que nunca distinguir o conceito de autonomia trabalhista da
liberdade constitucional de trabalho, pressupondo essa última uma esfera de faculdades
fundamentais que transcendem em muito o trabalho forçado, ou seja, uma gama mais
ampla da liberdade de trabalho, que pressupõe tanto o direito de resistência, de
privacidade e até mesmo a livre deliberação sobre a gestão, por parte do empregado, de
seu tempo no trabalho.

As hipóteses previstas no artigo 62 da CLT são um claro indicador de que a autonomia


para a gestão do tempo de trabalho não é requisito inerente à configuração da relação de
emprego.

O trabalho a domicílio é, também, uma manifestação de que a própria liberdade para a


gestão da assiduidade, tampouco, pode ser corolário do vínculo empregatício, mesmo
porque a própria intangibilidade constitucional do lar, é um claro indicativo no sentido
de que não pode o empregador invadir essa esfera de liberdade doméstica do empregado
a domicílio.

Sem entrar no mérito da constitucionalidade do chamado contrato intermitente, criado


pela reforma trabalhista de 2017, é oportuno perceber que para a produção
contemporânea não é mais essencial a plena disciplina individual sobre a gestão do
tempo ou da assiduidade do empregado, tanto, que de maneira perturbadora para a
concepção autoritária de vínculo empregatício, a Lei 13.467/2017 institui a plena
compatibilidade de recusa do empregado ao trabalho com a subsistência jurídica da
relação de emprego - § 3o do artigo 452-A da CLT.

Nessa ordem de idéias, é importante não se confundir mais a autêntica autonomia para
exercer uma atividade, com a liberdade constitucional de trabalho. Muitas vezes, no
capitalismo tecnológico, esses conceitos se embaralham, mas na essência mantêm sua
característica determinante. Autônomo é aquele que não depende do negócio alheio,
nem se subordina às regras de negócio estabelecidas por outrem. No capitalismo
tecnológico o trabalhador embora tenha um grau maior de liberdade constitucional para
ir ou não trabalhar. para gerir seu tempo, ele continua totalmente dependente de
empreendimento alheio para conseguir trabalhar e sobreviver.

4 - Disciplina x Controle.

Na sociedade disciplinar (FOUCAULT), da fábrica, do capitalismo industrial, havia a


necessidade do disciplinamento individual (inclusive no que toca a horário ou
assiduidade) do trabalhador. Havia a 'linha' de produção. Na sociedade do controle
(DELEUZE), do empreendimento de 'produção em rede', é necessário apenas o controle
coletivo e estatístico dos trabalhadores, para ajustar o controle à demanda.

A sociedade disciplinar é bem captada por Foucault, que a identifica a partir do século
XVII, a disciplina dos corpos pelos poderes, por meio da vigilância, que é mais rentável
do que a punição. A vigilância acaba internalizando a auto-disciplina do cidadão e do
trabalhador. A potência da vigilância sempre é mais eficiente, abrangente e econômica
do que o ato de punição11.

A disciplina se espraia do poder político para os poderes econômicos e privados, do


cidadão, ou seja, ela se estende do Estado, da prisão para a família, para a escola, para a
fábrica, universidade e hospital.

A fábrica é a tradução para esfera da produção da sociedade disciplinar12. A disciplina é


desdobrada no plano da produção, por meio da organização taylorista, da linha de
produção, que estabelece um vínculo linear no trabalho, que se internaliza
subjetivamente no operário, como estratégia de disciplina ética, de vigilância. A
potencialidade de a interrupção individual do trabalho interditar a linha de produção
sobrecarrega, no indivíduo, a responsabilidade pela produção coletiva. Com isso
diminui-se sobremaneira a necessidade de aplicação do ato de punição.

Esse sistema é desdobrado juridicamente para modelo de vigilância jurídica, por meio
do contrato de trabalho subordinado, no inicio do século XX. A disciplina ganha, assim,
sua potência jurígena, de forma a diminuir a necessidade da aplicação do ato ineficiente
de punição.

Mas, por outro lado, com a evolução da sociedade industrial, sobretudo com a crise
estrutural deflagrada em 1973, em virtude da elevação do preço do petróleo, o padrão de
acumulação taylorista perde sua eficácia. Seja pela intensificação da concorrência, em
plano planetário, seja pelo aumento dos vínculos de solidariedade sindical,
solidariedade essa que se vê beneficiada tanto pelo modelo de indivíduo-protagonista na
produção linear - por fortalecer sua capacidade de prejudicar a produção - como pela
consolidação de uma outra ética social, de luta de classe dos não proprietários.

Para o capitalismo esse é o cenário ideal e necessário para a superação do padrão de


acumulação rígida, que, aliás, já havia se iniciado nos 50 no Japão. Do
taylorismo/fordismo a produção da grande indústria desloca-se para o modelo
ohnista/toyotista, em que a produção linear e vertical é substituída por uma concepção
mais reticular e horizontal, de forma de diminuir a capacidade relativa do trabalhador,
individualmente considerado, de paralisação do sistema produtivo.

11
"Esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição
constante de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos chamar
as “disciplinas”. Muitos processos disciplinares existiam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos,
nas oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer dos séculos XVII e XVIII fórmulas
gerais de dominação." FOUCAULT,1987, p. 164
12
"A fábrica parece claramente um convento, uma fortaleza, uma cidade fechada; o guardião “só abrirá
as portas à entrada dos operários, e depois que houver soado o sino que anuncia o reinicio do trabalho”;
quinze minutos depois, ninguém mais terá o direito de entrar; no fim do dia, os chefes de oficina devem
entregar as chaves ao guarda suíço da fábrica que então abre as portas. É porque, à medida que se
concentram as forças de produção, o importante é tirar delas o máximo de vantagens e neutralizar seus
inconvenientes (roubos, interrupção do trabalho, agitações e “cabalas”); de proteger os materiais e
ferramentas e de dominar as forças de trabalho: A ordem e a polícia que se deve manter exigem que
todos os operários sejam reunidos sob o mesmo teto, a fim de que aquele dos sócios que está
encarregado da direção da fábrica possa prevenir e remediar os abusos que poderiam se introduzir entre
os operários e impedir desde o início que progridam." FOUCAULT,1987 p. 169
É certo que outros fatores foram decisivos para o sucesso do sistema da acumulação
flexível, como exemplo, o sistema just in time, mas aqui a preocupação é focar mais na
questão da potência disciplinar do trabalho, justamente para realçar o trânsito da
disciplina ao controle no plano da relação jurídica de emprego.

Na «sociedade do controle, as tecnologias disruptivas, que emergem com força no


século XXI, potencializam a capacidade relativa de se flexibilizar a acumulação do
capital, seja na perspectiva da regulação territorial, seja no plano da produção ou até na
esfera do ordenamento jurídico trabalhista.

Estamos em transição para o capitalismo tecnológico, no qual a acumulação é baseada


na extorsão do produto da cooperação social, como resultado do incremento da
socialização da produção, principalmente pela atividade produzida pelas redes sociais e
plataformas econômicas13. Nesse contexto, o capital apropria-se do "commons", do
conhecimento tácito e codificado da comunidade em rede e acaba por capturar as
energias de emancipação que eclodem em meio à colaboração produtiva.

Deleuze14 de maneira bem perspicaz, quase premonitória, já em 1990, havia identificado


o início dessa viragem, dessa torção topológica e de certa maneira sutil, da «sociedade
da disciplina», para a «sociedade do controle». Para Deleuze, Napoleão marca o final da
transição da sociedade da soberania, que tinha por finalidade (i) açambarcar e (ii)
decidir sobre a morte, para a sociedade da disciplina, cujos objetivos passam a ser (i)
organizar a produção e (ii) gerir a vida15.

A despeito de a iconografia da sociedade do controle haver sido vislumbrada por


Deleuze, ele próprio defende que Foucault já descrevera a sociedade disciplinar como
aquilo que já não éramos, já estávamos deixando para trás16. E essa nova sociedade é
digital, antes que analógica e substitui a fábrica pela empresa, transformando a
solidariedade coletiva em concorrência, transposta da esfera do capital para o coração
do trabalho17.

Nesse novo mundo da economia, reconstroem-se as subjetividades dos trabalhadores,


até mesmo na esfera do poder diretivo; não se trata mais de identidades, assinaturas,
senão de senhas, cifras e códigos. São amostras e bancos de dados. Os indivíduos
tornam-se divisíveis, 'dividuais', passíveis de replicação virtual. Não são necessárias
palavras de ordem, seja na organização do trabalho, seja na organização da resistência
sindical18.

13
(LUCARELLI & FUMAGALLI) Fumagalli, Andrea, and Stefano Lucarelli. "A model of Cognitive
Capitalism: a preliminary analysis." (2007): 117-133.
14
A descrição da sociedade do controle aparece em dois textos publicados originalmente em francês, em
1990, o primeiro deles numa entrevista concedida ao filósofo e cientista político italiano Antonio Negri.
Esses dois textos são publicados em português em 1992: Conversações, 1972-1990 / Gilles Deleuze,
tradução de Peter Pál Pelbart, pela Editora 34. Controle e Devir (entrevista a Antonio Negri, 1990) pp.
209 - 218; Post-scriptum sobre as sociedades de controle, pp. 219 - 226.
15
DELEUZE, Gilles 1992, p. 219
16
DELEUZE, Gilles 1992, p. 215-216
17
DELEUZE, Gilles 1992, p. 221
18
DELEUZE, Gilles 1992, p. 222
Estatui-se o capitalismo da 'sobre-produção', com a produção deslocada para os países
periféricos; não se compram mais matérias primas e se vendem produtos acabados.
Inverte-se a lógica: compram-se produtos e vendem-se serviços. O poder empresarial se
expressa mais pela tomada do poder acionário, do que pela formação da disciplina do
trabalho; mais por fixação de cotações, do que por redução de custos da produção. O
poder empregatício descola-se da disciplina corporal e do tempo de trabalho, para o
controle da alma e do marketing19.

Ao controle já não interessa o confinamento dentro da fábrica, dentro de uma jornada


fixa, dentro de uma disciplina linear, de um vínculo jurídico estável, mas, sim, o vínculo
etéreo, pós-contratualista, pós-material, sonho de liberdade, mas que engendra
agenciamentos compromissários, dívidas continuamente diferidas, endividamento
recorrente, uma afetação apenas virtual.

A troika da União Europeia propõe a flexi-seguridade, mas não se trata mais disso,
senão de flexi-liberdade, a liberdade dúctil, a autonomia enredada, antes que reticular ou
compartilhada - parassubordinada.

No controle, o trabalho é compatível com vínculos precários, desde que intermitentes,


estendidos, plugados, on line, virtuais. São conexões heterogêneas, sem identidade,
similaridade ou homogeneidade, esvaziando o art. 511, § 4º da CLT. Singularidades
produtivas, que se opõem às individualidades e coletividades. Mais relevante que o
contexto social, é o hipertexto cultural.

A disciplina opera de forma individualizada sobre o trabalhador. O controle preocupa-se


mais com aspectos estatísticos, coletivos da subsunção do trabalho alheio. Reforça-se a
liberdade individual e limitada do trabalho, com flexibilização da disciplina, mas
incrementa-se o controle coletivo e dissolvem-se os laços de solidariedade da categoria.

As diferenças entre as sociedades da disciplina e do controle são muitas vezes de grau e


numérica, antes que qualitativa; mas distinções que envolvem também a noção da lei
hegeliana de passagem da quantidade à qualidade. Talvez essa noção possa ser
traduzida na ideia de mudança de estados quânticos.

Para uma melhor compreensão, parece útil construir um gráfico indicativo de tal
transição, tendo sempre presente que as duas formas de sociedade co-existem,
imbricam-se, comunicam-se e se ricocheteiam, não em circularidade, mas de uma forma
evolutiva, espiralada. Não se contrapõem necessariamente, justapõem-se e se sucedem
no tempo, em variações ora gradativas, ora emergentes:

19
DELEUZE, Gilles 1992, p. 224
Referências Características Ícones Finalidade

Sociedade da 1. Final Séc. XVII 1. Analógico 1. Fábrica 1. Produção


Disciplina
2. Durável 2. Assinatura
(FOUCAULT)
3. Estabilidade 3. Confinamento

2. Vigiar e Punir 4. Jornadas delimitadas 4. Fidúcia

5. Tempo Linear 5. A toupeira 2. Corpo

6. Máquinas Energéticas

7. Captura do tempo de trabalho e da


produtividade dos trabalhadores

8. Subsunção formal do trabalho

9. Subordinação Jurídica

Sociedade do 1. Final Séc. XX 1. Digital 1. Empresa 1. Consumo


Controle
2. Descartável 2. Cifra – senha
(DELEUZE)
2. Post-Scriputm sobre 3. Precariedade 3. Endividamento
a sociedade do
controle 4. Continuum intermitente 4. Inovação

5. Tempo real 5. A serpente 2. Alma

6. Máquinas Cibernéticas

7. Captura das externalidades positivas


da rede (da cooperação social e dos
conhecimentos tácitos e especializados
da comunidade)

8. Subsunção pós-real do trabalho

9. Alienidade Reticular

5 - Trabalho da Multidão.

Nas plataformas de trabalho não há mais categoria profissional homogênea organizada,


com similitude de condições de vida, identidade e conexidade, nos moldes do art. 511
da CLT, mas apenas o crowdwork, ou seja, a multidão (ESPINOSA-NEGRI)
heterodoxa. Os trabalhadores são motoristas profissionais, engenheiros aguardando um
emprego melhor, pai aposentado trabalhando algumas horas para pagar a faculdade da
filha etc

O teórico Jean-Louis Weissberg, da Paris VIII, fala de 'hipermediação' como


característica básica da nova produção cognitiva, fundada na associação de três níveis:
semiótico, pragmático e político. O produtor-autor coincide com o consumidor-
receptor-leitor. Nesse espaço de produção tecnocultural não se elimina a figura do autor
individual, mas o imbrica, sem dissipá-lo, ao coletivo.

Há um processo interativo entre a singularidade e um novo operador no mundo do


trabalho que poderíamos denominar de «multidão». A «multidão» é um conceito
ambicioso. É a tentativa de se chegar à democracia absoluta, inclusive de formulá-la
teoricamente.

O conceito contemporâneo de «multidão» parte das formulações do Maquiavel


democrático dos Discorsi e de Espinosa. É especialmente interessante para nossa
análise, pois está fundado em duas chaves: (i) nas novas formas de trabalho e (ii) na
ideia de rede.

Sylvère Lotringer, no prefacio da edição norte-americana de A grammar of the


multitude20 revela que a origem do conceito «multidão» foi fruto da ‘teoria
autonomista’, formulada em vários lugares, mas que foi efetivamente desenvolvida na
Itália dos anos 60 até os 70 21.

Negri e Hardt, mais contemporaneamente, apresentam a «multidão» como contrapoder22


ao «império», que, por sua vez, não se confunde, no contexto ferramental desses
autores, com o conceito de «imperialismo». A transição do «imperialismo» al «império»
corresponde, nesta perspectiva, à passagem da modernidade à pós-modernidade, ou do
capitalismo ao pós-capitalismo.

Para Paolo Virno a dicotomia decisiva para a compreensão das características da esfera
pública contemporânea é a operada entre os conceitos de «multidão» em contraposição
ao de «povo». Sustenta Virno que os pais putativos desses conceitos são,
respectivamente, Espinosa e Hobbes. Nesse sentido, «multidão», na noção espinosiana,
indica uma pluralidade que subsiste no espaço público, a partir da ação coletiva, mas
sem dissolver-se numa unidade monolítica. Hobbes, mira de forma negativa a
«multidão», como um estado natural, caótico, antes de sua organização como ‘corpo
político’ e anterior ao Estado, mas que pode ressurgir em momentos de tumulto social.
Segundo Hobbes, a «multidão» se opõe à obediência e a pactos duradouros, e que

20 Cfr. VIRNO, 2004


21 A "multidão", tal como a encaramos neste texto, começou a se esboçar teoricamente em Espinosa -
'multitudo', embora desde o ponto de vista político não tenha surgido propriamente de Espinosa, já que o
pensamento espinoseano coincide com o pensamento protestante do século XVII, que, por sua vez, é
tributário do pensamento renascentista, especialmente de Maquiavel. Sua formulação foi produto de
vários estudos anteriores, mas sistematizados e desenvolvidos em Multitude – war and democracy in the
age of empire -The Penguin Press, 2004. No contexto do presente estudo, nos baseamos na conceituação
de 'multidão' levada a cabo pelo filósofo italiano Antonio Negri e pelo professor de literatura comparada
na Duke University, Michael Hardt.
22
Negri concebe «contrapoder» em três ordens: como (i) resistencia contra o velho poder; como
(ii)insurreição de um novo poder e como (iii)potencia constituinte do novo poder. (NEGRI, 20004(B), p.
157). Negri insiste na não homologia entre contrapoder de massas y e o poder constituinte, ou seja,
sustenta que o objetivo do contrapoder não seja a substituição do poder existente. Ao contrário, Negri
propõe formas e expressões diversas de liberdade coletiva (Ibid., p. 160-161). Anota que concebe o
contrapoder como as resistências e os acontecimentos de insurreição, que representam poderes
constituintes latentes e vivos, na medida progressiva em que sejam controlados de maneira global (Ibid.,
p. 163).
quando os cidadãos se rebelam contra o Estado se trata da investida da «multidão»
contra o «povo» 23.

A ideia de «multidão» - em Espinosa rectius: multitudo24 - a partir da perspectiva da


ciência política, não surgiu propriamente com Espinosa, pois seu pensamento coincide
com o pensamento protestante do Século XVII, que, a seu turno, é tributário do
pensamento renascentista, especialmente de Maquiavel25. Em seu Discorsi - Discursos
sobre la primera década de Tito Livio - Maquiavel formula a democracia florentina26 a
partir dos movimentos que buscam organizar a liberdade na República e ordenar o
trabalho na cidade27. Para Negri (Il Potere Costituente) Maquiavel não é o teórico do
Estado absolutista moderno, senão o pensador da ausência de todas as condições para
uma democracia, ausência, vazio que faz surgir o desejo de um programa democrático,
de um poder constituinte aberto e não ávido para se encerrar numa Constituição28.

Retornando a Espinosa, para ele a multitudo é o sujeito político por excelencia. Partindo
da distinção entre poder (potestas), como capacidade (de ser afetado) de um governante
e potência (potentia), como força ativa e tornada ato, expressada como a vontade de
Deus, uma vontade que não se distingue e se confunde com o próprio Deus - pura
imanência da própria essência divina29 - Espinosa situa o império absoluto da
democracia como resultado da potentia imanente da multitudo. Uma potência imanente
que até mesmo define o direito: “Hoc jus, quod multitudinis potentia definitur”30; “Nam
civitatis ius potentia multitudinis, quae una veluti mente ducitur, determinatur”31.

A partir da configuração das características gerais da multitudo espinosena é importante


distingui-la, a despeito de várias interconexões conceituais, de várias outras espécies de
coletivos, tais como 'povo', 'vontade geral', 'opinião pública', 'posição originária', 'nação',
'proletariado', 'classe operária', 'massa', 'legião', 'bando', 'turba-turbo' e «general

23
Cfr. VIRNO, 2004, p. 21
24
mūltĭtūdo, -ĭnis – Cfr. SARAIVA, 1993, p. 758
25
Ansuátegui Roig, chamando à colação a opinião de Adolfo Ravá (La filosofia politica de Benedetto in
Studi su Spinoza e Fichte, a cura di El Opocher – Giuffrè Milano, 1958, pp.78-81) observa que é
necessário sublinhar que a aproximação entre Espinosa e Maquiavel, e no entre Espinosa e Hobbes. Cfr.
ANSUÁTEGUI ROIG, 1998(b), p. 127, nota 7.
26
Para Negri, Maquiavel foi, de forma perversa pelo pensamento francês, transformado num teórico da
modernização absolutista do Estado, propagando a frase ‘os fins justificam os meios’, que
descontextualiza o pensamento do florentino. Aponta que a recepção do pensamento de Maquiavel na
Inglaterra é diferente, pois lá é lido como uma introdução à crítica do poder constituído, à análise das
classes sociais, do conceito de prática de militia popular como poder constituinte. Cfr. NEGRI, Poder
Constituinte, 2002, pp. 149-158 . Segundo Negri, o Maquiavel democrático e republicano está todo
construído nos Discorsi. Ibid., pp.105-123
27
Cfr. NEGRI, 2004(b) p. 114. Nessa obra de Maquiavel existem vários estratos sobre a supremacia da
democracia da multidão, por exemplo: o povo visto como mais sábio que o príncipe(Livro I,58, pp. 179-
180); vendo com bons olhos a desordem da desunião entre o povo e o Senado(I, IV, pp.31-32) e incluso
optando pelo povo, considerando que aqueles que têm mais interesse em conservar o poder criam mais
dificuldade à expansão do império que aqueles que querem adquirir poder (I,V, pp. 33-35). Cfr.
MAQUIAVEL, 2000
28
Cr. NEGRI, 2002, P. 148
29
É esta a leitura de Deleuze, em Spinoza – Philosophie pratique(2002, p.103)
30
Tradução livre: “esse direito definido pela potencia da multidão”; Tratado Político, II,XVII). Cfr.
SPINOZA, 1913 (b), p. 11
31
Tradução: “ de fato o direito civil (ou o direito da cidadania) é determinado pela potência da multidão,
que é conduzida como se fora um pensamento uno”; Tratado Político, III,VII). Cfr. SPINOZA, 1913 (b),
p. 15
intellect». Como isso refoge ao objetivo desse texto, remetemos o leitor ao nosso
trabalho de doutoramento, especialmente aos capítulos 4.2.2 e 4.332

6 - Contrato Realidade-Virtual

Tanto o contrato-realidade, conceito construído por Mario de la Cueva, a partir de uma


decisão da Suprema Corte do México, como seu desdobramento principiológico por Plá
Rodriguez, da primazia da realidade, vêm sofrendo, de certa forma, uma distorção, na
medida em que se sustenta, de forma descontextualizada, sempre a prevalência da
realidade efetivada na relação de emprego, em detrimento de preceitos normativos ou
contratuais tuitivos.

De La Cueva enfatiza a ideia de contrato-realidade, para contrapor a realidade da


prestação do trabalho em detrimento de um acordo abstrato de vontades. Sua
perspectiva é superar o contratualismo estrito, fundado exclusivamente na vontade das
partes e num sentido emancipador da relação de emprego, ou seja, não como simples
disposição sobre a compra-e-venda da energia humana transformadora da natureza,
senão como uma instituição que procura elevar o homem a um patamar de existência
digna33.

Na mesma linha, Plá Rodriguez, anota o princípio da primazia da realidade como


desdobramento do princípio-mater da proteção, não como prevalência factual da
realidade, mesmo porque essa realidade, em essência, é a realidade da prevalência da
vontade do mais forte economicamente. A compreensão literal do princípio da primazia
da realidade sobre a forma poderia levar à prevalência de uma condição prejudicial ao
trabalhador, em detrimento de uma disposição contratual ou mesmo norma mais
favorável. O que conduziria até mesmo a uma colisão de princípios do Direito do
Trabalho.

Com esses cuidados é que se pretende sustentar, aqui, a prevalência da realidade-virtual


sobre a forma tradicional dos atos jurídicos, no mundo do capitalismo tecnológico, de
modo a configurar um novo contrato realidade-virtual. O decisivo, para se aferir o
estrato fático da relação de trabalho, quando dirigida pelas novas tecnologias de
comunicação e informação é a realidade que emerge da «internet das coisas», ou seja,
que aparece do conjunto de fatores que promove a integração de várias soluções de
comunicações, tecnologias de identificação e rastreamento, redes de sensores e
atuadores com e sem fio, protocolos de comunicação avançadas e inteligência
distribuída para objetos inteligentes34.

A primazia da realidade-virtual, portanto, se dá como um parâmetro jurídico para


dirimir controvérsias que decorram das novas relações de trabalho, com ênfase na

32
CHAVES JR, J. E. R. El Derecho Nómada: Un paso hacia el Derecho Colectivo del Trabajo, desde el
«Rizoma» y la «Multitud» Saarbruken: AES, (2006)2011
33
DE LA CUEVA (1970, p. 453)
34
ATZORI, IERA & MORABITO (2010)
prevalência do sistema, do software, do aplicativo e até mesmo do algoritmo oriundo do
poder diretivo da empresa sobre disposições abstratas.

Em outras palavras, na produção pós-industrial, prevalece a gestão oriunda da


inteligência artificial e não o acordo de vontade abstrato das partes. É o determinado
pelo programa ou aplicativo que vigora na prática e é o que decorre dessa realidade-
virtual, do código-fonte que deve ser considerado como substrato para a incidência do
ordenamento jurídico, não as disposições emanadas da vontade formal das partes.

Code is law é a frase que foi consagrada por Lawrence Lessig, em seu livro de mesmo
nome 35 . Em sua perspectiva o determinante, na sociedade tecnológica da informação
em rede, é o código-fonte dos programas e aplicativos, que prevalecem na prática sobre
a regulação normativa, sobretudo no cyberspace, que funciona segundo uma lógica
diferente do mundo real.

Falchetto Silva anota com propriedade que:

"cabe identificar qual é o elemento técnico estruturador das relações no


ciberespaço. A interação dos indivíduos com a rede se dá por meio do uso de
aplicativos, programas de computador, que possibilitam ao usuário acessar
informações, alimentar o sistema e tomar ações específicas.

Note-se que o usuário do sistema não tem, nesta condição, qualquer controle
sobre as regras de funcionamento do aplicativo. Ele somente pode agir nos
limites e formas preestabelecidos. Assim pergunta-se quem, de fato, detém o
poder de definir tais limites e formas de interação do usuário com o espaço
virtual?

Transportando-se tal questionamento para o mundo do trabalho: na hipótese


de oferta de serviços que envolvem trabalho humano, através de plataformas
virtuais, os aplicativos, possui o trabalhador condições de avaliar ou de se
insurgir contra alterações e punições do contrato de trabalho virtual? De
quem seria o ônus da prova de alterações prejudiciais quanto ao seu perfil de
usuário?"36

Prosseguindo em sua análise, Falchetto Silva registra que o código-fonte define "a
forma como o espaço virtual, o ciberespaço, é experimentado. É capaz de moldar
comportamentos e regular condutas, criando os instrumentos pelos quais novas
relações e dinâmicas de trabalho serão constituídas, mantidas e finalizadas"37.

Em síntese, será o algoritmo que ditará as regras do negócio e da prestação de trabalho,


não as estipulações contratuais. Essas servem, sim, como marco e limite para se aferir
eventual supressão de direitos - contratuais ou legais - daqueles sujeitados ao comando
da inteligência artificial, não como expressão da vontade soberana das partes.

35
LESSIG, Lawrence Code is Law: On liberty in cyberspace - version 2.0 - New York: Basic Books A
Member of the Perseus Books Group, 2006 Disponível em http://codev2.cc/download+remix/Lessig-
Codev2.pdf Acesso em 11 SET 2017
36
FALCHETO SIVLVA (2017, p. 323)
37
FALCHETTO SILVA (2017, p. 324)
7 - Considerações Finais

A transição de uma economia industrial, material, analógica, da escassez, para uma


economia digital, da abundância de bits, pós-industrial ainda não nos permite definir os
seus contornos finais, mas já possível vislumbrar suas tendências e perigos, sobretudo
no que toca ao âmbito da anomia regulatória e da concentração da riqueza.

Neste momento quer nos parecer que os cinco operadores conceituais, examinados neste
trabalho, passam a ser úteis para melhor compreender e operar o Direito do Trabalho
sob os influxos das tecnologias disruptivas:

1. É preciso distinguir, para eventual abrandamento da incidência dos preceitos de


proteção ao contrato de trabalho, entre a mera economia do compartilhamento
tecnológico e o autêntico consumo colaborativo. A economia do
compartilhamento, a despeito de comportar uma nova racionalidade econômica,
trata-se apenas de uma evolução e uma outra face do capitalismo, em que a
empresa busca apropriar-se, de forma assimétrica, da energia da cooperação
social. No uso solidário do consumo colaborativo, a potência da sinergia
cooperativa, a despeito de traduzir-se num sistema de ganha-ganha, distribui as
vantagens sociais e econômicas de maneira equitativa.

2. Cumpre à doutrina e jurisprudência, neste momento, valorizar a liberdade


constitucional de trabalho no âmbito do Direito do Trabalho, tanto como
decorrência de uma progressividade democrática da relação de emprego e até
como forma de compreender a organização contemporânea do trabalho a
benefício alheio. A autêntica autonomia trabalhista, em sede do trabalho nas
plataformas tecnológicas, não se afere na mera gestão do tempo de trabalho,
senão no grau de independência para estipular as regras do negócio ou de acesso
ao banco de dados de usuários do serviço.

3. O Direito do Trabalho ao impacto das novas tecnologias não pode se conter


apenas na disciplina, individualizada, foucaultiana; ele deve se dirigir também
ao controle deleuzeano, estatístico e coletivo. O mais estratégico, do ponto de
vista econômico, para o capitalismo tecnológico não emana da disciplina dos
corpos, mas, sobretudo, do controle da mente e da criatividade do trabalhador.

4. O conceito de categoria profissional homogênea, com similitude de condições de


vida, prevista pelo artigo 511 da CLT não é a classe sujeitada ao capital
tecnológico. É a multidão indivisa, codificada, controlada pelo big data
produtivo e pelas tecnologias do algoritmo. O Direito Coletivo do Trabalho
desafia uma profunda reformulação conceitual do sindicalismo, que enfatize a
solidariedade, com diversidade e liberdade total para organização.

5. Se o contrato-realidade foi um construto jurídico para ressaltar os limites do


contratualismo puro e duro na esfera tuitiva do Direito do Trabalho, a ideia de
contrato realidade-virtual pretende também desvelar a realidade potencializada
na direção algorítmica e atualizada no trabalho concreto, configurando, assim,
uma perspectiva, não propriamente anti-contratualista, senão pós-contratualista
da relação de emprego sob o impacto das novas tecnologias.

A tecnologia nos fascina e tem um potencial imenso de emancipação social. É preciso,


por isso mesmo, detectar em que medida e em quais modalidades, as energias
construtivas se convertem em fluxos de dominação e de precarização das condições de
trabalho. Só assim poderemos preservar o genuíno caráter emancipatório dos avanços
tecnológicos da humanidade, para efetivamente converterem-se e consagrarem-se como
conquistas sociais de e para todos.

8 - Bibliografia e Referências

1. ATZORI, Luigi; IERA, Antonio; MORABITO, Giacomo. The internet of things: A


survey. Computer networks, v. 54, n. 15, pp. 2787-2805, 2010

2. BARBOSA, Adérito Gomes Contributos para a Pedagogia Social: Neuroética. Educação


vagarosa e ubuntu (pp. 197 - 217) in Cadernos de Pedagogia Social do Centro Regional do
Porto da Universidade Católica Portuguesa, 2012 Disponível
http://www.fep.porto.ucp.pt/sites/default/files/files/FEP/CadernosPedagogiaSocial/CPSocial04.
pdf com acesso em 7 set 2017

3. BENKLER, Yochai The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets
and Freedom London: Yale University Press, 2006 (disponível para descarga na internet na
seguinte direção: http://www.benkler.org/Benkler_Wealth_Of_Networks.pdf)

4. BLONDEAU, Olivier; DYER, Nick Whiteford; VERCELLONE, Carlo; KYROU, Ariel;


CORSANI, Antonella; RULLANI, Enzo; MOULIER BOUTANG, Yann; LAZZARATO,
Maurizio Capitalismo cognitivo, propiedad intelectual y creación colectiva – trad. castel.
Emmanuel Rodríguez López, Beñat Baltza y Antonio Garcia Pérez-Cejuela – Madrid:
Traficantes de Sueños, 2004

5. BOTSMAN, Rachel; ROGERS, Roo. O que é meu é seu: como o consumo colaborativo vai
mudar o nosso mundo. Porto Alegre: Bookman Editora, 2011

6. CHAVES JR, J. E. R. El Derecho Nómada: Un paso hacia el Derecho Colectivo del


Trabajo, desde el «Rizoma» y la «Multitud» Saarbruken: AES, (2006)2011 A tese encontra-se
disponível na internet em http://hdl.handle.net/10016/3075 acesso em 13 nov 2016

7. CHAVES JR, J. E. R. & MENDES, M. M. B. Subordinação estrutural-reticular: uma


perspectiva sobre segurança jurídica Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.46, n.76,
p.197-218, jul./dez.2007 Disponível na Internet em
http://www.trt3.jus.br/escola/download/revista/rev_76/Expediente.pdf acesso em 13 nov 2016

8. CHAVES JR, J. E. R.; LEME, A. C. R. P.; RODRIGUES, B. A. Tecnologias Disruptivas e


a exploração do trabalho humano São Paulo: LTr, 2017

9. CHAVES JR, J. E. R. Direito do Trabalho pós-material - o trabalho da multidão


produtora (101-117) in CHAVES JR, J. E. R.; LEME, A. C. R. P.; RODRIGUES, B. A.
Tecnologias Disruptivas e a exploração do trabalho humano São Paulo: LTr, 2017

10. CHAVES JR, J. E. R.; MENDES, M. M. B.; OLIVEIRA, M. C. S. Subordinação,


dependência e alienidade no trânsito para o capitalismo tecnológico in CHAVES JR, J. E. R.;
LEME, A. C. R. P.; RODRIGUES, B. A. Tecnologias Disruptivas e a exploração do trabalho
humano São Paulo: LTr, 2017

11. CHRISTENSEN, Clayton M. & BOWER, Joseph L. Disruptive technologies: Catching the
wave Cambridge: Harvard business review 73.1 (1995): 43-53

12. CHRISTENSEN, Clayton M. The Innovator’s Dilemma Cambridge, Harvard Business


School Press Cambridge. MA, v. 143, n. 158, p. 131-132, 1997

13. COCCO, Giuseppe; SILVA, Gerado; GALVÃO, A. Patez (orgs.) Capitalismo cognitivo –
trabalho, redes e inovação – trad. português Eliana Aguiar - Rio de Janeiro: DP&A Editora,
2003

14. CORSANI, Antonella Elementos de uma ruputur: a hipótese do capitalismo cognitivo (pp.
15-32) in COCCO, Giuseppe; SILVA, Gerado; GALVÃO, A. Patez (orgs.) Capitalismo
cognitivo – trabalho, redes e inovação – trad. português Eliana Aguiar - Rio de Janeiro: DP&A
Editora, 2003

15. CUEVA, Mario de la Derecho Mexicano del Trabajo Derecho mexicano del trabajo - 2 ed
- México(cidade): Porruá, 1959

16. DELEUZE, Gilles Conversações, 1972-1990 – trad. Português Peter Pal Pelbart – São
Paulo: Editora 34, 1992

17. ____, Espinosa – filosofia prática – trad. português Daniel Lins e Fabien Pascal Lins – Rev.
tec. Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes - São Paulo: Editora Escuta, 2002

18. FALCHETTO SILVA, Tiago Elemento regulador do ciberespaço, o código-fonte, e-


discovery e o contrato-realidade virtual na sociedade da informação (323-329) in CHAVES
JR, J. E. R.; LEME, A. C. R. P.; RODRIGUES, B. A. Tecnologias Disruptivas e a exploração
do trabalho humano São Paulo: LTr, 2017

19. FUMAGALLI, Andrea; LUCARELLI, Stefan A model of Cognitive Capitalism: a


preliminary analysis in European Journal of Economic and Social Systems, Vol. 20, No. 1
(2007): pp. 117-133. Disponível em https://mpra.ub.uni-muenchen.de/28012 acesso em 4 ago
2016

20. GAUTHIER, Gustavo (Coord) Disrupción, economía compartida y Derecho Montevidéu:


Fundación de Cultura Universitária, 2016

21. LAZZARATO, Maurizio Trabalho e capital na produção dos conhecimentos: uma leitura
através da obra de Gabriel tarde (pp. 61-82) in COCCO, Giuseppe; SILVA, Gerado;
GALVÃO, A. Patez (orgs.) Capitalismo cognitivo – trabalho, redes e inovação – trad.
português Eliana Aguiar - Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2003

22. LESSA, Sérgio Mundo dos homens – trabalho e ser social São Paulo: Boitempo, 2002

23. ____, Para além de marx? : crítica da teoria do trabalho imaterial São Paulo: Xamã, 2005

24. LESSIG, Lawrence Code is Law: On liberty in cyberspace - version 2.0 - New York: Basic
Books A Member of the Perseus Books Group, 2006 Disponível em
http://codev2.cc/download+remix/Lessig-Codev2.pdf Acesso em 11 SET 2017
25. MELHADO, Reginaldo Poder e Sujeição – os fundamentos da relação de poder entre
capital e trabalho e o conceito de subordinação São Paulo: LTr, 2003

26. MERCADER, Jesús R. U. Derechos fundamentales de los trabajadores y nuevas


tecnologías: ¿hacia una empresa panóptica? Relaciones laborales: Revista crítica de teoría y
práctica , Nº 1, 2001, págs. 665-686

27. NEGRI, Antonio Arte y multitudo. Ocho cartas – trad. esp. Raúl Sánchez Cedillo – Madrid:
Editorial Trotta, 2000(a)

28. ____, Spinoza Subversivo – Variaciones (in)actuales – trad. esp. Raúl Sánchez Cedillo –
Madrid: Ediciones Akal, 2000(b)

29. ____, O poder constituinte – ensaio sobre as alternativas da modernidade – trad. português
Adriano Pilatti – Rio de Janeiro, DP&A, 2002

30. NEGRI, Antonio; GUATTARI, Felix Las verdades nómadas & ‘general intellect’, poder
constituyente, comunismo – trad. castel. Carlos Prieto del Campo y Mario Domínguez Sánchez
– Madrid: Ediciones Akal, (1989) 1999

31. NEGRI, Antonio; HARDT, Michael El trabajo de dionísos – Madrid: Ediciones Akal, 2003

32. ____, Império - trad. português Berilo Vargas – 6ª ed – Rio de Janeiro: Record, 2004(a)

33. ____ ,Guias – cinco lecciones en torno a imperio – trad. esp. Rosa Rius y Pere Salvat –
Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 2004(b)

34. ____, Multitude – war and democracy in the age of empire – New York: The Penguin
Press, 2004(c)

35. OLEA, Manuel Alonso Introdução ao Direito do Trabalho - trad. C. A. Barata Silva e
Darci Rodrigues de Oliveira Santana - 4a. ed. rev. - São Paulo: LTr, 1984

36. OLEA y CASAS, Manuel Alonso; Maria Emilia Baamonde Derecho del Trabajo - 19a. ed
- Madrid: Civitas, 2.000

37. PONTES DE MIRANDA, Tratado de Direito Privado - Direito das Obrigações - Vol. 47 -
Rio de Janeiro: Borsoi, 1964

38. PRADO, Eleutério Desemedida do valor: crítica da pós-grande indústria São Paulo: Xamâ,
2005

39. RODRÍGUEZ, Emmanuel El gobierno imposible – trabajo y fronteras en las metrópolis de


la abundancia Madrid: Traficantes de Sueños, 2003

40. SCHOLZ, Trebor Cooperativismo de Plataforma: os perigos da uberização - Trad: Rafael


A. F. Zanatta - São Paulo: Editora Elefante, Autonomia Literária & Fundação Rosa
Luxemburgo, 2017

41. SPINOZA, Benedicti de Opera quotquot reperta sunt: tractatus de intellectus emendatione,
Ethica Vol 1 – 3 ed. - [S.l.]: Martinum Nijhoff, 1913(a)

42. ____, Opera quotquot reperta sunt: tractatus politicus, Tractatus theologico-politicus – vol
2 - 3 ed - [S.l.]: Martinum Nijhoff, 1913(b)

43. ____, Tratado Político – trad. castel., introd., índice analítico y notas de Atilano Domínguez
- Madrid: Alianza Editorial, 1986, 2004

44. TARDE, Gabriel A opinião e as massas – trad. português Luís Eduado de Lima Brandão –
São Paulo: Martins Fontes, 1992

45. VIRNO, Paolo – A grammar of the multitude – for an analysis of contemporary formas of
life - trad. inglés Isabella Bertoletti, James Cascaito y Andrea Casson - New York – Los
Angeles: Semiotext(e), 2004 (em espanhol: Gramática de la multitud – trad. castel. Adriana
Gómez – Madrid: Traficante de sueños, 2003)

46. WEISSBERG, Jean-Louis Entre produção e recepção: hipermediação, uma mutação dos
saberes semióticos (pp. 109-131) in COCCO, Giuseppe; SILVA, Gerado; GALVÃO, A. Patez
(orgs.) Capitalismo cognitivo – trabalho, redes e inovação – trad. Português Eliana Aguiar -
Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2003

Você também pode gostar