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Aposentadoria:

Faça seu
próprio pé
de meia
desenvolvido por Valter Police Jr
Conteúdo
Sobre o autor ................................................................................. 03

Como será sua aposentadoria se não planejar ................... 05

Fazer meu pé de meia .................................................................. 13

Quando começar .......................................................................... 19

Rendimento das aplicações ...................................................... 25


Sobre o autor

Valter
Police Jr
Engenheiro com especializações
em administração, marketing,
finanças pessoais e consultoria
financeira

Police Jr. é consultor há mais de 20 anos e Planejador Financeiro


Pessoal certificado CFP® desde 2008. Já auxiliou centenas de
famílias na busca de soluções para questões financeiras. Em
empresas como o Itaú, o Santander e a Porto Seguro, faz
palestras, cursos, clínicas e treinamentos. Também é autor do livro
“Meu Planejamento Financeiro” e atualmente está escrevendo
um livro sobre aposentadoria.

A P O S E N TA D O R I A : F A Ç A S E U P R Ó P R I O P É D E M E I A 3
Sabe como
será sua
aposentadoria
se você não se
planejar?
Um desastre
T enho um amigo que é diretor de marketing de uma das
maiores seguradoras do Brasil. Ele costuma dizer que, para
vender seguro no país, é preciso haver um sinistro. Então sempre
que a companhia decide veicular um comercial de seguro de carro
na TV, com certeza haverá uma imagem de automóvel roubado
ou amassado – de preferência com uma dose de humor para
evitar baixo astral. “Só assim os brasileiros lembram que seguro é
importante”, diz ele.

Acredito que o mesmo vale para sua aposentadoria. Não que eu


ache necessário publicar junto a esse ebook imagens de idosos
morando debaixo da ponte ou trabalhando até os 80 anos de idade
na roça. Mas não posso negar os fatos. Se você não planejar sua
aposentadoria, de preferência o mais cedo possível, é quase certo
que sua vida financeira sera problemática quando você parar de
trabalhar.

Basta olhar os números para chegar a essa conclusão. O Brasil


tem pouco mais de 32 milhões de aposentados e pensionistas que
recebem benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
O valor médio das aposentadorias pagas aos trabalhadores da
iniciativa privada é de apenas R$ 1.123, segundo dados disponíveis
no site do antigo Ministério da Previdência. Agora pare e pense: você
conseguiria manter seu atual padrão de vida se ganhasse apenas
R$ R$ 1.123 por mês?

Mas pode ser ainda pior do que isso. De acordo com a Cobap
(Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas), mais de
70% dos aposentados e pensionistas da iniciativa privada ganham
apenas um salário mínimo por mês. Ou seja, hoje eles ganham

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R$ 880 por mês e, se não tiverem outros investimentos nem possam
contar com a ajuda dos filhos, ou vão ter que continuar trabalhando
após a aposentadoria ou vão ter que levar uma vida espartana.
Essa é uma das explicações para haver tantos idosos trabalhando
no Brasil. Segundo uma pesquisa feita pelo SPC Brasil, 42,3%
dos aposentados com 60 a 70 anos continuam a trabalhar para
complementar a renda da família.

A pesquisa não traz esse dado, mas eu aposto que a maioria desses
aposentados que continuam trabalhando gostariam de ter uma
vida mais tranquila nessa fase da vida, você não acha? É lógico
que alguns trabalham porque gostam, mas a maioria permanece
desempenhando funções remuneradas somente porque não tem
outra opção.

Talvez neste ponto você esteja pensando: como contribuo bastante


com o INSS, quando eu me aposentar vou ganhar muito mais que
um salário mínimo ou muito mais que a média. Eu diria que você está
certo se for funcionário público. Os servidores públicos federais do
Poder Legislativo possuem uma aposentadoria média de R$ 26.600,
segundo estudo de Nilson Teixeira, economista-chefe do banco
Credit Suisse no Brasil. Já os servidores inativos do Poder Judiciário
ganham em média R$ 24.700. Realmente esses 210.000 servidores
aposentados do Legislativo e do Judiciário não têm muito com o
que se preocupar. Um pouco menos privilegiados são os servidores
federais aposentados do Poder Executivo, que ganham em média
R$ 7.500.

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Aposentadoria média dos brasileiros
Aposentados e pensionistas do INSS R$ 1.123

Servidores públicos do Executivo federala R$ 7.500

Servidores públicos do Judiciário federal R$ 24.700

Servidores públicos do Legislativo federal R$ 26.600

Fonte: Credit Suisse e Ministério da Previdência

Agora esses são os números de hoje. Se você tem hoje 20, 30 ou


40 anos, pode ter certeza que esses benefícios dos servidores
públicos e dos trabalhadores da iniciativa privada vão ter que
encolher porque o país não terá recursos para sustentar essa conta.
O grande problema é que a população brasileira vai envelhecer. As
pessoas vão viver mais. Ao mesmo tempo, o número de nascimentos
vai continuar diminuindo. Se hoje 12% da população brasileira são
idosos, esse percentual deve crescer para 24% em 2040, segundo
o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Veja abaixo
como deve evoluir a pirâmide demográfica brasileira entre 2013 e
2060:

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Olhando essas imagens, fica claro que o brasileiro médio vai
envelhecer, não é mesmo? E você concorda que quem se aposentar
daqui a 20, 30 ou 40 anos obrigatoriamente terá muito menos
direitos do que os aposentados e pensionistas de hoje por absoluta
falta de dinheiro nos cofres públicos? Você entende que se o
governo não fizer ao menos uma reforma da previdência a cada 5
ou 10 anos as contas vão parar de fechar e o país inteiro vai se ver
à beira de um calote? Então pode apostar que antes de um jovem
se aposentar, várias reformas virão por aí – e cada uma delas vai
suprimir mais os nossos direitos.

O tema é importantissiomo e atual: o governo Temer está em meio a


uma discussão sobre a reforma da previdência. É impossível prever
o que será aprovado agora ou o que ficará para as futuras reformas.
Mas essas são algumas coisas que acho possível que aconteçam em
até 10 anos ou 15 anos:

• Serão rarissimos os brasileiros que irão conseguir se


aposentar com menos de 65 anos – por mais que soe
inacreditável, hoje muitos brasileiros se aposentam com 45 ou
50 anos, às vezes até antes disso;

• Para ter direito ao benefício integral na iniciativa privada,


provavelmente será necessário trabalhar até os 70 anos – ou
seja, muita gente vai morrer antes de ter direito ao benefício
integral;

• Os benefícios do INSS serão desvinculados do salário mínimo


– logo, haverá aposentados recebendo menos que o mínimo;

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• Será raríssimo ver alguém se aposentando na iniciativa
privada recebendo mais de 2 salários mínimos – é isso
mesmo, um benefício equivalente a R$ 2.000 por mês em
dinheiro de hoje será um privilégio daqui a duas décadas;

• O tempo mínimo de contribuição ao INSS para ter direito a


algum benefício será de 25 anos ou mais – contra 15 anos
hoje;

Daqui 10 ou 20 anos, acredito que os benefícios do INSS possam


ser tão irrisórios e o tempo a ser trabalhado para obtê-los possa ser
tão longo que talvez, financeiramente, fosse mais interessante não
contribuir - infelizmente não temos escolha.

Esse ponto é importantíssimo para quem não tem um emprego


formal. Hoje todos os trabalhadores com carteira assinada
contribuem compulsoriamente. Então todos os meses eles pagam
entre R$ 70,40 e R$ 570,88 por mês ao INSS – e vão continuar
pagando porque o desconto disso já é feito na folha de pagamento
pelas empresas.

Agora quem trabalha por conta própria – ou seja, é autônomo ou


profissional liberal – está obrigado a contribuir para o INSS, mas,
como é a própria pessoa a responsável por fazer os recolhimentos
mensais à previdência, a maioria simplesmente opta por descumprir
a lei e não fazê-lo.

No Brasil, quase 20% dos trabalhadores são autônomos, segundo


o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). Dentro desse
grupo, há mais pessoas que não contribuem com a previdência do
que pessoas que contribuem. De acordo com o Ipea, 62,6% dos
brasileiros que trabalham por conta própria não pagam o INSS todos

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os meses, descumprindo a lei.
É lógico que boa parte dessas pessoas não contribui simplesmente
porque acredita não ter renda para isso. A alíquota de contribuição
da maioria dos autônomos é de até 20% - contra até 11% para os
trabalhadores com carteira assinada. Na prática, as contribuições
vão de R$ 176 a R$ 1.037,96 – o número varia de acordo com a renda
mensal.

É possível afirmar que muitos autônomos não contribuem porque não


julgam ter dinheiro porque ao tomar essa decisão eles perdem direito
a uma série de benefícios do INSS, como auxílio-doença, auxílio-
reclusão, aposentadoria por invalidez e aposentadoria.

Agora também existem os autônomos que fazem as contas e


não contribuem com o INSS simplesmente porque acreditam
que não vale a pena. Se um autônomo contribuir pelo teto (R$
1.037,96 mensais), poderá conquistar um benefício próximo à maior
aposentadoria paga hoje pelo INSS aos trabalhadores da iniciativa
privada: R$ 5.189,82. Mas para alcançar isso provavelmente um
autônomo que tem hoje 20 ou 30 anos terá de contribuir por mais 35,
40 ou até 45 anos pelo teto.

Se o autônomo decidesse fazer o pé de meia por conta própria,


poupando o mesmo valor de sua contribuição, o que aconteceria? Se
ele aplicar os R$ 1.037,96 mensais a uma taxa líquida de juros reais
(acima da inflação e já descontado o IR) de 0,4% ao mês durante 45
anos, terá ao final do período R$ 1.980.910 em dinheiro com o poder
de compra de hoje (porque só foi considerada a taxa líquida de juros
reais, ou seja, acima da inflação e já descontada do IR).

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Se essa pessoa tiver R$ 1.980.910 e investir bem esse dinheiro, vai
obter um retorno mensal muito superior a R$ 5.189,82, não é mesmo?
Hoje é possível conseguir mais de R$ 20.000 por mês investindo
esses quase R$ 2 milhões.

É por isso que o INSS tem dificuldade em trazer mais autônomos


para a formalidade. E quanto mais direitos as futuras reformas da
previdência suprimirem, menor será o incentivo para que essas
pessoas regularizem sua situação.

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Como
começo a
fazer meu
pé de meia?
Ok, sou trabalhador da iniciativa privada – autônomo ou CLT – e
quero poupar para engordar minha aposentadoria. O que devo
fazer? O primeiro passo para um dia parar de trabalhar é começar a
se planejar o mais cedo possível. E a partir do planejamento que for
traçado, passar a poupar dinheiro com consistência todos os meses
de forma a engordar a aposentadoria do INSS.

Talvez você ache chato ter de poupar porque terá de abrir mão
de coisas que gosta agora. Eu costumo sugerir uma abordagem
diferente para esse dilema. A não ser que você faça parte do ranking
dos bilionários da Bloomberg, todos nós temos que fazer escolhas
e eventualmente abrir mão de algumas coisas que não desejamos
tanto para poder poupar, não é mesmo? A forma correta de encarar
essa decisão é que você estará transferindo parte de seu dinheiro no
tempo, ou seja, poupando um pouco hoje para ter mais no futuro.

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O importante é que os juros estarão a seu favor. Você pode ter uma
vida um pouco menos confortável agora para ter uma vida muito mais
confortável lá na frente. Isso faz sentido, não? Pensando na vantagem
de receber juros fica mais fácil criar o hábito de poupar, concorda?

Convencido da necessidade de poupança, chega a hora de definir


quanto será necessário poupar. Provavelmente aqui você já entendeu
que se sonha ter uma renda de R$ 5.000, R$ 10.000 ou R$ 20.000
por mês ao se aposentar, vai precisar guardar dinheiro.

Mas quanto é preciso juntar por mês antes de parar de trabalhar? Essa
pergunta é difícil de responder porque depende de diversas variáveis
e também das incertezas em relação ao ambiente macroeconômico,
que se aprofundam quando falamos do longo prazo.
Mesmo assim, podemos fazer uma boa aproximação, que poderá
nos levar a resultados bem similares aos que a futura realidade nos
mostrará. Os fatores a serem levados em conta são:

• Prazo do investimento (entre o momento atual e a data a partir


da qual se pretende aposentar);

• Prazo em que os recursos serão utilizados após você se


aposentar (a partir do momento da aposentadoria até uma
determinada data ou mesmo para sempre);

• Renda desejada à época da aposentadoria;

• Renda estimada vinda do INSS;

• Rendas advindas de outras fontes;

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• Rentabilidade líquida e real dos investimentos (rentabilidade
líquida significa a rentabilidade já descontado o Imposto de
Renda e a rentabilidade real significa já descontada a inflação.
Sempre faça suas contas com a rentabilidade líquida real
porque é esse dinheiro que estará disponível para você);

• Valor já disponível hoje para o objetivo da aposentadoria;

Com esses parâmetros fixados, é possível calcular quanto será


necessário guardar periodicamente. Nesse ponto, recomendo a
utilização da planilha de cálculo para aposentadoria, que você
recebeu junto com esse ebook. Nela você irá colocar os dados
mencionados acima: qual é o valor pretendido para a renda na
aposentadoria, qual é sua idade atual, com qual idade você pretende
se aposentar, qual valor já possui guardado para esse fim e a taxa de
juros líquida e real ao ano.
Eu costumo utilizar a taxa de 4% ao ano, já descontado o Imposto de
Renda e a inflação. Existem planejadores financeiros que são mais
conservadores e utilizam 3% enquanto outros são mais agressivos e
utilizam até 5%.

Você pode utilizar a taxa que quiser para as simulações. Quanto


mais baixa a taxa de juros escolhida, maior será o esforço necessário
para chegar lá, mas você poderá arriscar muito pouco em seus
investimentos.

Já quanto mais alta a taxa, menor será a necessidade de esforço de


poupança, mas mais competente você precisará ser na administração
de suas aplicações. Essa taxa de juros deverá ser a média obtida por
todos seus investimentos financeiros voltados para a aposentadoria.

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Além disso, você deve colocar na planilha outras rendas esperadas
como a aposentadoria oficial do INSS, alugueis de imóveis, etc. Esses
valores serão subtraídos do valor pretendido, já que virão de outras
fontes.

A partir daí a planilha irá fazer duas simulações:

Uma na qual os recursos serão utilizados a partir da idade colocada


como meta para a aposentadoria e acabarão quando você completar
100 anos. Nessa opção, mês a mês serão sacados recursos advindos
dos juros, da correção monetária e também uma parte do “principal”,
que são os recursos em si, até que se esgotem aos 100 anos. A
escolha de uma idade tão avançada quanto 100 anos se deu por dois
motivos:

1. O aumento da expectativa de vida, que vem crescendo em ritmo


acelerado no Brasil e já é muito maior em países desenvolvidos;

2. O necessário conservadorismo quando se trata deste assunto –


afinal, não haverá muito o que fazer se o dinheiro acabar quando
você tiver 88 ou 89 anos, não é mesmo?

16 A P O S E N TA D O R I A : F A Ç A S E U P R Ó P R I O P É D E M E I A
Jorginho Guinle: o
playboy foi dono do
Copacabana Palace,
acreditava que viveria até os 75 anos
de idade e foi gastando todos os
milhões que tinha. O problema é que ele
só morreu aos 88 anos de idade e, nos
últimos anos de vida, teve de aprender
a se virar com a aposentadoria de
R$ 1.588 por mês e chegou a morar de
favor num apartamento de uma de
suas ex-mulheres

A segunda opção, mais conservadora, calcula que só serão utilizados


os juros oriundos dos valores investidos, não mexendo na correção
monetária nem no principal. Isso significa que o dinheiro nunca
acabará, preservando ainda o poder de compra esperado.

Como é mais conservadora, essa opção exigirá valores maiores


de poupança, mas permitirá deixar um legado financeiro a seus
herdeiros ou alguns luxos na velhice. Na prática, além de se garantir,
você também vai garantir uma condição financeira confortável a seus
filhos e parentes ou terá uma gordura para queimar nos últimos anos
de vida.

Como a taxa de juros indicada já é considerada real, ou seja, já


desconta a inflação, os resultados indicarão os valores a serem
aportados todos os meses para que se atinja a renda desejada.

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Começar
antes é
bem melhor
Infelizmente definir qual deve ser o valor mensal poupado é apenas o
primeiro passo para garantir uma aposentadoria confortável. A planilha
pode e vai lhe ajudar muito neste momento. Mas admito que duro
mesmo é ter disciplina suficiente para cumprir o plano traçado à risca,
poupando o valor definido todos os meses, sem esmorecer nem deixar
para depois.

A verdade é que a maioria dos brasileiros só começa a pensar em


aposentadoria depois dos 40 anos de idade, quando já costuma ser
tarde demais. Em fases anteriores da vida, outros objetivos parecem
mais importantes, como adquirir um veículo ou mesmo a tão sonhada
casa própria. Viagens, estudos próprios e dos filhos e uma infinidade
de outras questões se colocam como prioritárias e a aposentadoria vai
sendo empurrada adiante.

Esse comportamento também guarda alguma relação com o histórico


econômico do país, sempre tão volátil. Vivemos épocas como a
hiperinflação, os infindáveis planos econômicos, confiscos, fraudes,
além do nosso crescimento econômico com perfil de voos de galinha.
Isso faz com que seja dificílimo planejar o longo prazo. Assim, muitos

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pensam que o planejamento não surtirá os efeitos desejados, de forma
que é melhor deixar para depois mesmo.

Essa atitude tão comum leva a situações muito preocupantes porque os


fatores que mais influenciam no acúmulo de recursos são o tempo e a
disciplina de guardar periodicamente.

Se você acredita que não vale a pena se preocupar por ora, eu gostaria
de propor um exercício de finanças para provar que você deveria agir
diferente. Esse exemplo vai mostrar como começar a se planejar agora
e que poupar o mais cedo possível vai fazer toda a diferença.

Imagine a situação em que você planeja se aposentar com uma renda


de R$ 10.000 por mês, sendo que R$ 1.000 virão do INSS e os outros
R$ 9.000, de suas reservas. As premissas usadas no cálculo abaixo
são que você vai obter uma taxa líquida de juros reais (ou seja, já
descontando a inflação e o Imposto de Renda) de 4% ao ano e que vai
querer ter reservas que durem até completar 100 anos de idade.

O gráfico abaixo mostra que se você quiser se aposentar aos 50 anos,


vai precisar ter acumulado R$ 2.360.000. Já se quiser parar aos 75
anos, precisará ter um valor muito menor: R$ 1.720.000.

Quanto preciso poupar para me aposentar?

2,5 2,36 2,28 2,18


Poupança acumulada

2,05
(em milhões de R$)

1,9
2 1,72

1,5

0,5

0
50 55 60 65 70 75

Idade da aposentadoria (em anos)

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A diferença entre os valores aos 75 anos e aos 50 anos é de quase
40%. Fica claro que quanto mais tempo você trabalhar, menos terá
de guardar. Na tabela abaixo eu gostaria de mostrar isso de outra
forma. A tabela cruza os dados de idade do início do período de
poupança e idade do início da aposentadoria, imaginando que você
está começando do zero:

Idade de início da
poupança / Idade
em que vou me
aposentar 50 anos 55 anos 60 anos 65 anos 70 anos 75 anos
20 anos R$ 3.400 R$ 2.500 R$ 1.900 R$ 1.400 R$ 1.000 R$ 700

25 anos R$ 4.600 R$ 3.300 R$ 2.400 R$ 1.800 R$ 1.300 R$ 900

30 anos R$ 6.500 R$ 4.500 R$ 3.200 R$ 2.300 R$ 1.600 R$ 1.200

35 anos R$ 9.700 R$ 6.300 R$ 4.300 R$ 3.000 R$ 2.100 R$ 1.500

40 anos R$ 16.100 R$ 9.300 R$ 6.000 R$ 4.000 R$ 2.800 R$ 1.900

45 anos R$ 35.700 R$ 15.500 R$ 8.900 R$ 5.600 R$ 3.700 R$ 2.500

50 anos - R$ 34.400 R$ 14.800 R$ 8.400 R$ 5.200 R$ 3.400

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Veja como essa tabela é interessante. Imagine que seu objetivo seja
se aposentar aos 65 anos. Você vai precisar poupar R$ 1.400 ao
mês se começar aos 20 anos, R$ 2.300 ao mês se começar aos 30
anos, R$ 4.000 ao mês se começar aos 40 anos e R$ 8.400 ao mês
se começar aos 50 anos. Note que os valores são muito menores
conforme antecipamos o início da implantação do plano, o que faz
com que precisemos de um esforço muito menor. Veja a seguir a
representação gráfica dos valores extraídos da tabela acima:

Quanto preciso poupar para me aposentar?

9000 8400
8000
Poupança acumulada

7000
(em R$ por mês)

5600
6000
5000 4000
4000 3000
3000 2300
1400 1800
2000
1000
0
20 25 30 35 40 45 50

Início do período de poupança (em anos)

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É muito difícil poupar R$ 8.400 por mês, não é mesmo? Dependendo
de nossas escolhas, podemos fazer um esforço para poupar R$ 1.400
desde os 20 anos de idade ou R$ 8.400 se iniciarmos somente aos
50. Na maioria dos casos, o esforço aos 50 será impossível de ser
realizado. Talvez aos 20, devido à renda mais baixa pelo início de
carreira, não seja possível iniciar com valores ainda altos para essa
fase da vida, mas pode-se começar com valores menores e depois
ajustar, conforme a renda for aumentando.

Uma boa estratégia é poupar 10% da renda ao começar a trabalhar


e, cada vez que houver aumento de renda, aumentar também o
percentual, até atingir um nível entre 15% e 20%, conforme suas
escolhas pessoais. A partir daí, basta manter. Assim, seu padrão
de vida não será prejudicado por esses investimentos e a sua
aposentadoria estará bem encaminhada.

Note que se escolhermos iniciar aos 30, teremos que poupar apenas
27% do que precisaríamos se iniciássemos aos 50. A diferença
é considerável. Qual é a idade ideal para começar e para parar
é uma escolha individual, mas agora você já sabe quais são as
consequências das decisões que tomar. Então, tome boas decisões.

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Rendimento
das
aplicações
T alvez você esteja achando que conquistar a aposentadoria dos
sonhos é muito difícil ou que poupar R$ 1.400 por mês dos 20
anos aos 65 anos, por exemplo, é missão praticamente impossível.
Existe uma forma de tentar reduzir drasticamente o esforço de
poupança para a aposentadoria: aprender a investir muito bem.

Sabemos que a renda fixa no Brasil é sempre um bom negócio porque


os juros são muito altos em relação aos patamares internacionais. Mas
a verdade é que em determinados momentos da economia, você terá
excelentes chances de acelerar o ritmo de multiplicação de capital,
batendo inclusive a renda fixa.

Vou dar dois exemplos. Quem comprou imóveis no início dos anos
2000 e vendeu em 2013 ficou rico. E quem comprou ações na
Bovespa em 2002 e vendeu em 2007 também ganhou muito dinheiro.
Admito que hoje não há nenhuma grande barbada no mercado: os
imóveis estão caros, as ações também estão com múltiplos esticados
e talvez a oportunidade mais óbvia esteja mesmo na renda fixa.

A P O S E N TA D O R I A : F A Ç A S E U P R Ó P R I O P É D E M E I A 25
Só que o plano de aposentadoria sempre deve ser encarado como
algo de longo prazo. Daqui a 5 anos, por exemplo, o Brasil pode viver
um novo boom das ações ou dos imóveis. Eu não estou dizendo que
isso vai acontecer daqui a 5 anos. Mas daqui até sua aposentadoria é
muito provável que aconteça em algum momento. Então é importante
que você aprenda a investir bem para estar preparado para pegar
esse bonde quando ele passar novamente.
Porém, não posso enganar ninguém. A verdade é que o brasileiro
médio investe muito mal. No Brasil há gente que poupa dinheiro
no cofrinho ou no colchão – ou seja, tem que poupar muito mais
que precisaria apenas por não saber que o investimento ajuda a
multiplicar a poupança.

Você até pode achar que ninguém mais usa aqueles cofres de
porquinho, mas há outras formas de poupar sem ganhar nada com
isso. Uma forma de investimento que não gera fruto são os consórcios
– e milhões de pessoas contratam esse produto. Quem entra num
consórcio fica na expectativa de logo ser sorteado para poder
comprar o bem desejado. Quando isso não acontece rapidamente,
a pessoa fica poupando sem colher os juros como aconteceria em
qualquer outra aplicação – ou seja, está fazendo muito mais esforço
de poupança do que precisaria.

Também há pessoas que poupam com a caderneta de poupança, que


muitas vezes paga um retorno inferior à inflação. Ou seja, seu retorno
real é negativo. Ou seja, a poupança pode fazer com que a pessoa
empobreça à medida que o tempo passa porque o dinheiro perde
poder de compra.

Existem ainda investimentos que são melhores que a caderneta de

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poupança, mas que ficam muito aquém dos produtos mais rentáveis
do mercado. Aqui estamos falando de CDB, LCI e LCA de banco
grande; da maioria dos fundos de investimento distribuídos pelos
maiores bancos; de quase todos os VGBL; de títulos de capitalização;
etc. Se você investe nesses produtos, está jogando um dinheirão fora
e colocando seus sonhos a perder.

Para que você tenha uma ideia de como é importante investir bem, a
tabela abaixo mostra quanto você teria de poupar para ter uma renda
de R$ 10.000 por mês após a aposentadoria aos 65 anos de idade,
começando aos 30. Vários cenários de rentabilidade real líquida ao
mês são considerados: 0 a 0,5%, tanto para o período de acúmulo
quanto para o período de uso.

Rentabilidade Valor mensal


Taxa 0 R$ 10.000

Taxa 0,1% R$ 6.572

Taxa 0,2% R$ 4.321

Taxa 0,3% R$ 2.842

Taxa 0,4% R$ 1.870

Taxa 0,5% R$ 1.231

A P O S E N TA D O R I A : F A Ç A S E U P R Ó P R I O P É D E M E I A 27
Quanto preciso
poupar para me
aposentar? R$10.000
R$10.000

R$9.000

R$8.000

R$7.000 R$6.572

R$6.000
Axis Title

R$5.000
R$4.321
R$4.000
R$2.842
R$3.000
R$1.870
R$2.000
R$1.231
R$1.000

R$0
Taxa 0 Taxa 0.1% Taxa 0,2% Taxa 0,3% Taxa 0,4% Taxa 0,5%

Rentabilidade Valor mensal

Percebeu que investindo bem você vai ir muito mais longe com bem
menos esforço?

Agora como faço para conseguir aumentar a rentabilidade de


meus investimentos e possivelmente chegar a uma taxa real líquida

28 A P O S E N TA D O R I A : F A Ç A S E U P R Ó P R I O P É D E M E I A
de 0,5% ao mês? O que escolho: renda fixa, Bolsa, produtos de
previdência, o fundo de pensão da empresa onde trabalho, imóveis,
fundos imobiliários ou outros fundos de investimento?
E depois que for feita a primeira alocação, como acompanho se a
carteira continua adequada? Faço rebalanceamentos periódicos?
É preciso mudar algo à medida que vou envelhecendo? E depois
que paro de trabalhar, que investimentos serão os mais adequados?
Como planejo a transmissão de bens para meus herdeiros depois
que eu morrer? Como fazer um bom planejamento sucessório?

Não vamos abordar investimentos e planejamento sucessório


nesse ebook. Mas em breve eu voltarei com uma novidade que vai
responder a essas dúvidas.

A P O S E N TA D O R I A : F A Ç A S E U P R Ó P R I O P É D E M E I A 29

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