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Escola Tomista
Professor Carlos Nougué
Aula 84
Pois bem. Tudo isto não passa de uma espécie de conto, de uma espécie
de fábula, de uma espécie de mito como outrora, antes de Aristóteles, faziam os
filósofos, até mesmo Platão. Dizia Platão que, se certa realidade vai além do que
nos é possível conhecer, criem-se mitos que os expliquem de alguma forma,
porque, como dizia Aristóteles, de certa forma, o mitólogo é um filósofo – mas de
certa forma, dizia Aristóteles.
Pois bem. Não é do ângulo da fé que vamos tratar aqui. Mesmo o caso da
impossibilidade, segundo a fé, de a alma humana, que é imaterial e espiritual,
ter brotado, por evolução, de um animal anterior, também pode provar-se
filosoficamente, cientificamente. De que maneira? Já o dizia Aristóteles – vejam
que já Platão e Sócrates falavam da alma humana! Sócrates tinha dúvidas
quanto à imortalidade da alma. Já não tinha tal dúvida Platão, mas ainda de
maneira semi científica, às vezes mitológica. Ao passo que Aristóteles já vai
dizer, com todas as letras, que o que é matéria, isto que nos rodeia no mundo
sensível, isto que é o sujeito da Física, o ente móvel, não tem potência, não tem
capacidade para desdobrar-se, evoluir, mudar para algo espiritual, para criar
algo espiritual, que está além do sensível. Grande afirmação, grande
descoberta, já, de nosso Aristóteles, embora ele se perguntasse: se assim é, de
onde vem a alma? Deve ter uma origem externa. Queria ele dizer com isto, uma
origem divina. Realista que era, não tinha dados para ir além e preferia, como
sempre, permanecer antes da fronteira do mitológico – ali se deteve. Igualmente,
se perguntava: o que faria a alma humana após a morte do corpo? Tampouco
sabia. Eram limites não tanto religiosos, como limites filosóficos de verdade. Será
Santo Tomás quem nos explicará filosoficamente, ainda que, naturalmente,
ajudado, auxiliado pelas luzes que lhe dava a fé.
Ora, o mineral não tem potência para este domínio. Como poderia,
portanto, evoluir ele, por si mesmo, para algo que tem tal domínio? Ah, explique-
se, então, por agentes externos! Concedo. Concedo, mas nos seguintes termos:
algo só passa da potência ao ato mediante, por meio de algo, que já esteja em
ato. A madeira só se torna cinza mediante o fogo que já está em ato de ser fogo.
fazer as coisas segundo uma ordem. Já não dissemos que o próprio do sábio é
ordenar? Ora, imagine se esse ente sumo, que cria tudo de nada, se não fosse
capaz, ele mesmo, de criar sua criação de maneira ordenada, não de maneira
desordenada. E outros aspectos que não cabem entrar aqui. Mas vejam. Vocês
hão de dizer, “mas isto é filosofia, e a ciência contraria a filosofia – a ciência
desde Darwin – contraria com dados empíricos e científicos, factuais, o que se
diz filosoficamente”. Repita-se o que se diz filosoficamente: o não-vivente não
tem potência para tornar-se vivente; e um ente em ato que o fizesse não o
poderia ser senão um, aquele que fosse ato puro, porque quem tem mescla de
potência não é capaz, não só de tirar tudo de nada, senão que não é capaz de
dar algo que não tem potência para outra coisa esta potência. Tampouco tem
potência o vegetal para tornar-se animal, nem muito menos tem o animal
potência para tornar-se espiritual, como o somos e como o provaremos.
partes de todo, lembram-se? Todo potencial, todo universal, etc. Pois bem, agora
é outro ângulo que tem relação com aquela divisão. Mas não poderemos insistir
nessa relação. Quanto ao que nos interessa: este todo, que é um exercito, uma
família, uma sociedade, é o chamado todo de ordem. Neste todo, conquanto às
vezes todas as partes funcionem juntas, por exemplo, quando um exército ataca
em massa um inimigo, em colunas cerradas, em formação, quando ele ataca o
inimigo (estou pensando nas guerras antigas, naturalmente), as partes atuam
junto com o todo. Mas não é verdade que, numa guerra, um soldado pode sair
deste todo de ordem para matar um inimigo que está ao longe? Pode. Isto é
típico do todo de ordem, aquele em que suas partes podem atuar isoladamente.
Peguemos, agora, uma casa. Ele é todo não só de ordem, mas de composição,
porque, com efeito, a casa tem solidez maior que um exército. Ela é mais unida,
ela tem unidade, ela tem composição: as paredes, os alicerces, o teto, se
compõem para constituir um todo e ficam ali. Mas, pense-se num tigre. Agora,
não. Nenhuma das partes do tigre pode agir se não for em razão, em função e
decorrentemente do conjunto, do todo. Na verdade, o tigre é sempre o todo que
age. Uma criança diz assim, “não fui eu que fiz isso, não fui eu que peguei o
doce, foi minha mão”, mas ela mesma sabe que está tentando enganar os pais,
sobretudo se já chegou à idade da razão. Ela sabe que o que foi pegar o doce
foi o conjunto dela, não foi a mão por si mesma. Um coração só funciona
funcionando em função do todo, é na verdade o todo do tigre, seu coração, suas
vísceras, suas patas, sua língua, seus olhos que funcionam, é o todo, é a
operação de conjunto do composto que constitui o tigre. E isto é que se chama
todo substancial, com unidade substancial, em que as partes não agem senão
em função e em decorrência do todo.
Eu vou dar, para começar, e ao modo tomista, vou dar voz longa ao
próprio evolucionismo. Porque, até hoje, o que se propala é que o russo
Aleksandr Oparin, um biólogo químico russo, que começou sua atividade sob o
regime cruel que de Stalin, não sei de Lenin, e viveu até 1980. Ele, porém,
conquanto tenha avançado na hipótese do surgimento da vida e de sua
progressão, ele não teria podido dar provas laboratoriais de então. Então, três
americanos o teriam feito. Pois bem, vou dar voz ao Oparin e a estes três
americanos: Miller, Urey e Fox. Os dois primeiros em conjunto, e Fox
complementando as provas da teoria de Oparin que, por sua vez, seria a prova
do surgimento da vida segundo Darwin. É a chamada Hipótese Heterotrófica de
Oparin. Eu vou fazer um documento, que estará à disposição de vocês no nosso
site. Vou permitir-me ler porque fiz essa pesquisa há poucos dias para poder ser
didático aqui. Então eu lerei a sequência da Teoria de Oparin e de suas provas
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Nada diz Oparin. Nada, zero. Ele diz apenas que tais heterótrofos ainda eram
unicelulares. Grande descoberta!
Vejam, esses muitos milhões e milhões de anos são uma das “armas”, um
dos argumentos do evolucionismo darwinista. É como se se esticasse o tempo,
o impossível se tornasse possível pelo esticamento do tempo. Ora, com
esticamento do tempo e tudo, nem estatisticamente – já não falamos nem
teologicamente, nem filosoficamente, nem cientificamente – pelo simples esticar
do tempo, ainda assim é impossível que tais transformações se dessem. Por
quê? Porque são estatisticamente impossíveis. São desprezáveis as estatísticas
que o permitiriam. Recomendo que se leia As Descontinuidades da Criação,
de Gustavo Corção. Não concordo com tudo o que está no livro. Corção era
caudatário ainda de um tomismo cheio de defeitos. Mas como Corção era um
cientista, e um cientista agudíssimo, sobretudo em algumas partes entre as quais
esta, em que prova impossibilidade estatística da evolução, de que desse
unicelular, ou melhor, desde aquelas descargas elétricas, se chegasse até o
homem, ele prova a impossibilidade estatística. Já que se trata de esticar o
tempo, trata-se de estatística. E estatisticamente é impossível.
Bom, mas não é sobre isto que nos vamos deter. Continuemos, agora,
dando as provas fornecidas pelos três americanos. Permitam-me seguir nelas.
Pois bem. Eu não posso falar aqui das fraudes que implicam os fósseis
que provam ter-se encontrado, hominídeos. Se eu pudesse, eu falaria que esses
fósseis ou eram verdadeiros macacos ou eram verdadeiros homens, por
exemplo, com certas deformações ósseas. Mas tudo isso se terá de deixar para
outro lado, porque é preciso concluir.
sangue, por exemplo, é de uma complexidade irredutível: não pode ser nem
mais, nem menos sangue. O olho e qualquer coisa que se veja molecularmente,
lançam em rosto de Behe que isto de ser mais ou menos olho...mas veja, isto é
uma forma de ele vulgarizar sua teoria. Mergulhem em suas provas
biomoleculares, e verão o grau de complexidade de tudo, de cada parte de um
corpo e do corpo inteiro. Complexidade tal que, se se tira dela uma parte, ela já
não funcionará. Em certo sentido, é como as máquinas e o computador: tire-se
uma parte e ela já não funcionará – em certo sentido, estou usando
analogicamente, apenas. Tire-se uma parte do olho, uma ínfima parte que
compõe o olho e já não se terá um olho. É neste sentido que diz Michael Behe.
Ora, a complexidade irredutível de cada parte dos corpos e de cada substância
corpórea revela, portanto, assim como revela uma máquina, um desenho
inteligente. Uma máquina tem um desenho inteligente. Ora, os corpos têm
desenhos inteligentes. E falar de desenho inteligente pressupõe um planejador
inteligente. Vejam que toca ele os umbrais da Metafísica, já que, como vimos, a
Metafísica, que estuda o ente enquanto ente, tem de estudar ao Ente máximo
enquanto causa do ente, a Deus. Isso que chamamos Deus. É perfeita a sua
conclusão. Eu recomendo efusivamente que se leia o livro dele, embora,
sobretudo no capítulo final, ele não me convença. Mas o passo que ele deu foi
gigantesco. O que é que ele está descobrindo? A noção de todo substancial. O
que o darwinismo não sabe é que, num todo substancial, como é o ser vivo,
como é o ente vivente, a parte não funciona sem o todo, e em ordem ao todo e
segundo certa potência porque, com efeito, algo não se torna outro algo em ato
se não tiver potência para este ato. É impossível, como veremos nos Princípios
da Natureza. Foi isso que ele descobriu. Ele chegou a isso sem ser um filósofo.
Embora goste de Aristóteles, e tal, mas não tem perfeito domínio do que diz
Aristóteles. Chega a isso cientificamente. Chegou aos umbrais da Física Geral e
da Metafísica. É ali que ele chegou.
Ou bem não existem essas subespécies, são raças. Ou bem isso que eles
chamam subespécie é a espécie, e o que está acima dele é um gênero próximo.
É só relembrar tudo o que dissemos no núcleo duro de nosso curso.
Estudemos, no tempo que nos resta hoje, talvez tenha que ultrapassar um
pouquinho a medida hoje, os Princípios da Natureza. Vejam que este é o nome
de um Opúsculo de Santo Tomás, Os Princípios da Natureza. Já vimos, na aula
passada, as relações entre princípio, causa e elemento. Isto se verá ao longo
deste Opúsculo também, esta distinção. Vimos que toda causa pode dizer-se
princípio, mas que nem todo princípio é causa. Veremos uma aplicação, aqui,
disto. E veremos que todo elemento pode dizer-se causa, mas nem toda causa
é elemento. Isso já vimos.
Santo Tomás, que provavelmente ele fez isto como anotações para algum
colega, para ilustrar, para ajudar algum colega e, com efeito, a primeira palavra
do texto latino é “nota”, “tenha em conta”, “tenha em consideração”. É o que
primeiro se lê aí. Ele está ofertando esta obra a alguém. Ele vai comentar aqui,
não ao modo como ele fará nos Comentários, que já são obras da maturidade,
os Livros I e II da Física, de Aristóteles. Ele o fará segundo sua leitura dos árabes
(Averróis e Avicena), sobretudo da Metafísica de Averróis, mas também,
sobretudo segundo o que ele aprendeu com Boécio – ele era um jovenzinho, um
estudante – ele aprendeu com Boécio e seu professor, Santo Alberto Magno.
Uma das provas de que é bem inicial este Opúsculo é que se nota claramente
que ele usa a tradução da Física feita de segunda mão, ou seja, do grego para
o árabe e do árabe para o latim, ao passo que a obra, uma das obras seguintes,
ainda de juventude, o imenso Comentário às Sentenças de Pedro Lombardo, ele
já usa a tradição latina, direto do grego. Essa é uma das provas de quão inicial
é este Opúsculo na vida e na carreira de Santo Tomás. Tampouco vai ele discutir
o sujeito da Física, como nós fizemos nas últimas três aulas. Ele não vai discutir
isto. Ele vai centrar-se sobre o que se pode chamar de princípios intrínsecos e
extrínsecos, e mais profundamente, das causas. Das causas é que não
poderemos tratar aqui mais profundamente. Ele vai centrar-se nisso e, embora
seja produto de todas estas leituras, vai ele negar, já, a tese de Avicena, com
respeito à Física. Que dizia Avicena? Lembrem-se da nossa discussão do sujeito
da Física, dizia ele: a Física não tem sujeito próprio. Quem tem sujeito próprio é
a Metafísica. A Física serve, segundo a linguagem que usamos nas últimas
aulas, de base indutiva de fenômenos, de explicações de fenômenos, para a
verdadeira ciência, que seria a Metafísica. Nega-o rotundamente Averrois, e
segue nisso Santo Tomás a Averrois, a este mesmo que ele chamava, no início
de sua carreira, com grande admiração, O Comentador (de Aristóteles), para
depois, ao enfrentar-se os averroístas em torno da unidade do intelecto, dizê-lo
O Corruptor (da Doutrina de Aristóteles). Mas, então, receba ele essas fontes,
haure ele dessas diversas fontes, e, no entanto, já está ali, não Aristóteles, já
está ali Santo Tomás, já está ali a síntese tomista, é impressionante. Já
apontaram no Opúsculo certas... não imperfeições... certa desordem na
exposição. Não importa, era um jovem. E ele vai aprimorá-lo até o fim da vida,
até a sua obra-prima de ordem, que é a Suma Teológica. Ele vai aprimorando-o
pouco a pouco, isto é muito natural. Mas o que está dito na Suma Teológica está,
em 98% dito, já, e já como síntese, neste seu primeiríssimo Opúsculo, um dos
seus primeiríssimos opúsculos, que são os Princípios da Natureza. Tentemos
resumi-lo, sobretudo em sua primeira parte, porque penso em dar, ao final do
curso, uma orientação bibliográfica com muitas informações e estará aí este
Opúsculo como um elo de ligação entre os estudos iniciais seus, Lógicos, e a
Física. A Física de Aristóteles segundo o Comentário de Santo Tomás. Ou seja,
tudo muito introdutório ainda, mas segundo aquilo que eu considero justo no
estudo de Santo Tomás, helicoidalmente. Primeiras leituras lógicas, primeiras
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De maneira geral e prévia, tudo quanto tem potência para ser algo em ato,
todo ser em potência, para nos ser em ato, pode chamar-se matéria. Isto, em
primeira instância; numa primeira aproximação, tudo é matéria. E tudo quanto dá
o ato, o que faz ser esta matéria algo em ato é forma, pode dizer-se forma.
Temos aí o primeiro par ontológico. Matéria e forma. Neste sentido, tanto o
esperma e o óvulo feminino, em combinação, são matéria para o homem, que
tem forma substancial. Mas também o homem é matéria para ser branco, está
em potência (matéria é tudo quanto está em potência) para ser branco, e a
brancura é uma forma. É uma atualidade daquela potência, daquele ser em
potência que estava no homem: o homem tem potência para ser branco, e a
brancura é uma forma acidental. A primeira forma, aquilo que faz o homem ser
homem em ato se chama forma substancial. E a brancura, uma forma acidental.
com o óvulo humano, são matéria propriamente dita, ex qua, da qual se parte
para chegar à atualidade, ao ente ato que dá a forma substancial humana, dado
pela forma substancial humana, ex qua, de que, de que se parte. Mas aquilo que
também chamamos matéria, ou seja, o homem, que tem potência para a forma
da brancura para ser branco em ato, já não se trata de uma matéria ex qua, mas
sim de uma matéria in qua, na qual, se lembram disso? O acidente é aquilo que
se dá no sujeito, por isso, na substância. Por isso, propriamente, isto que, num
primeiro momento chamamos matéria, agora havemos de chamar sujeito. Está
entendido? Propriamente falando, matéria é aquilo de que se parte, ex qua, para
haver um ser em ato dado pela forma substancial, ou seja, é a própria
constituição da substância (homem, tigre, laranjeira, pedra, madeira, um pedaço
de madeira, árvore), ao passo que os acidentes são in qua, ou seja, as formas
acidentais (tomemos o homem ainda, o branco, o preto, o amarelo, o vermelho)
são in qua e, neste sentido, é preferível chamar, então, no nosso exemplo, o
esperma e o óvulo humano matéria propriamente dita, e chamar o homem, com
respeito à brancura, à negrura ou amarelo, sujeito. Temos, assim, matéria e
sujeito. Mas, de maneira geral, tudo aquilo que está em potência para o ser pode
dizer-se matéria, e tudo aquilo de que se recebe o ser, pode dizer-se ato. A
fórmula aristotélica, repetida sempre por Santo Tomás, Forma dat esse, a forma
é que dá o ser. E a forma, como já vimos, pode dá-lo duplamente: ou dar o ser
substancial – a alma, no homem, por exemplo – ou dar o ser acidental – a
brancura no homem. O esperma e o óvulo humanos estão em potência para
receber da alma humana sua forma substancial. A alma humana é a forma
humana e dá ao ser humano aquilo que estava em potência para ser humano, o
esperma e o óvulo. Mas a brancura dá uma forma acidental ao homem.
em razão do qual tem o ser bronze. É a matéria e a forma. Elas estão presentes
no bronze. E isto é a forma substancial. A forma estátua é acidental a isto que já
é um todo substancial, um composto substancial.
ser, já o vimos, forma dat esse, maxime, maximamente, o que dá o ser e o fazer-
se aos entes, são estas duas causas, a causa eficiente e a causa final, que são
causas o que? Extrínsecas. Aquelas duas primeiras, a causa material e a causa
formal são causas intrínsecas. Estas duas, a eficiente e a final, são causas
extrínsecas. Lembremo-nos sempre que as demais causas que vocês lerem em
Santo Tomás, causa ocasional, causa instrumental, causa meritória, se
reduzem, de alguma maneira a esta ou àquela das quatro causas aristotélicas.
Entendido tudo isso passa nosso Santo Tomás, em seu belíssimo e jovem
opúsculo, a tratar das causas, cada uma de per si, e em sua múltipla relação em
ordem aos entes da natureza, em ordem à natureza. Isto já não podemos tratar
aqui, já não temos tempo. É preciso passar para a Introdução à Metafísica,
capítulo importantíssimo de nosso curso, como que seu ápice, e ápice tão belo
que emociona, mas o que se deu aqui já parece suficiente, assim como o que se
deu de Lógica já me parece suficiente para ler alguns livros lógicos, o que já se
deu aqui me parece suficiente para que leiam este mesmo opúsculo Os
Princípios da Natureza. Recomendo que não se leia agora, ok? Deixem para o
final do curso. Segundo uma bibliografia orientada, explicada, comentada, em
que se apontará – cada dia mais amadureço a ideia – em que se apontarão os
erros de tradução comuns, porque nem todos de vocês podem ler em latim ainda,
ou nunca o lerão. Como já disse, é importantíssimo saber latim, mas não é
essencial. Era importantíssimo saber o grego na época de Santo Tomás e na
época de Santo Agostinho, mas nenhum dos dois sabia o grego. Conheceu
Santo Tomás a Aristóteles por traduções, primeiras, ao latim, de segunda mão,
vindas do árabe, e depois em tradução direta pelo seu irmão de religião, Frei
Murbeck, conheceu sempre por traduções ao principal filósofo, ao que mais
contribui para constituir o arcabouço, o edifício de sua síntese. Embora
fundamental, tomara todos pudessem saber latim, mas ainda que não o possam
por dificuldades da vida, por falta de tempo, por qualquer razão que seja, é
possível ler as traduções, as melhores traduções que indicarei das obras de
Santo Tomás, mas com as observações respeitantes a estas traduções que farei.
Então, sugiro, é uma sugestão, não posso mais que isso, que não se leiam
agora, mas ao final, dando-me tempo para que amadureça o conjunto dessa
bibliografia, dessa leitura orientada.