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EDIÇÃO:
Artur Gomes
MAQUETIZAÇÃO E ILUSTRAÇÕES:
C APÍTU LO I
Conceitos gerais ............................................................................. 4
1. Sistemas de comando e controlo .................................................... 4
2. Princípios fundamentais de comando e controlo ............................ 8
2.1. Graus de comando .......................................................................... 8
2.2. Princípios fundamentais .................................................................. 8
3. O processo de comando e controlo ................................................ 10
4. Tomada de decisão ......................................................................... 11
4.1. Incerteza e tempo ............................................................................ 11
C AP ÍTU LO II
Procedimentos de decisão operacional ................................... 13
1. Recolha de informação ................................................................... 14
2. Identificação de objetivos ................................................................ 15
3. Definição do plano de ação ............................................................. 16
4. Comunicação com os intervenientes .............................................. 16
5. Controle das atividades ................................................................... 17
6. Avaliação dos resultados do plano de ação .................................... 18
7. Considerações finais ...................................................................... 19
Bibliografia ........................................................................................ 20
1.
Sistemas de comando Todas as organizações, como empresas, clubes desportivos, forças de socorro
e controlo e outras, são constituídas por diferentes elementos que interagem entre si. Para
que essa interação se faça da forma mais apropriada, de modo a alcançarem
os objetivos que têm em vista, torna-se necessário que adotem um sistema de
comando e controlo.
Os sistemas de comando e controlo são o meio pelo qual os responsáveis das
organizações identificam as atividades que aquelas devem executar e verificam
se essas atividades foram as mais apropriadas.
Naturalmente, por si só, um sistema de comando e controlo não chega para que
as organizações atinjam qualquer resultado expetável. Porém, sem um sistema
de comando e controlo eficaz, nenhuma organização será capaz de atingir
o sucesso. Se for aplicado eficazmente, um sistema de comando e controlo
potencia a capacidade da organização. Quando utilizado de forma deficiente,
pode conduzir ao insucesso. Os sistemas de comando e controlo são, deste
modo, um importante fator crítico de sucesso em qualquer organização.
Um dos aspetos fundamentais dos sistemas de comando e controlo é a
manifestação clara da INTENÇÃO do responsável (administrador, diretor,
comandante…), que tem de ser conhecida antes da execução das atividades.
Ou seja:
• Qual a finalidade das atividades que vão ser executadas?
• Que atividades são essas?
• Quais são os resultados esperados, isto é, como é que se conclui que a
missão foi um sucesso?
FIG. 1.
Elementos de comando.
FIG. 2.
Elementos de controlo.
FIG. 3.
Processos interativos.
FIG. 4.
Elementos base dos sistemas.
FIG. 5.
Hierarquia da informação.
2.
Princípios fundamentais 2.1. Graus de comando
de comando e controlo No Manual de Comando Operacional, publicado pela Escola Nacional de
Bombeiros, em 2002, indicava-se como princípios fundamentais do sistema
de comando operacional, a obrigatoriedade da função de comandante das
operações de socorro (COS), a unidade de comando e a manutenção da
capacidade de controlo.
No desenvolvimento destes conceitos, vale a pena adotar o conjunto de
princípios fundamentais de comando e controlo subjacentes à doutrina das
Forças Armadas. Porém, antes de se analisarem cada um desses princípios, e
para facilitar a sua compreensão, é importante acolher o que a doutrina militar
refere como graus de comando:
• Comando completo;
• Comando operacional;
• Comando tático.
(1)
Decreto-lei n.º 247/2007, de 27 de junho, republicado pelo Decreto-lei n.º 248/2012, de 21 de novembro, artigo 12.º, n.º 3.
(2)
Sistema de Gestão de Operações, Despacho n.º 3317-A/2018, de 3 de abril, da ANPC, artigo 3.º, n.º 1, alínea b).
(3)
Sistema de Gestão de Operações, Despacho n.º 3317-A/2018, de 3 de abril, da ANPC, artigo 16.º, n.º 1.
a) Unidade de comando
Define-se como a subordinação de todos os meios a um único comandante.
E, ainda, a regra de que cada indivíduo só recebe ordens de um único indivíduo
– o seu chefe direto. Este princípio está em consonância com comando único
exposto na legislação operacional da proteção e socorro(4). Todos os meios
existentes em qualquer teatro de operações de proteção e socorro ficam sob
as ordens do COS. Por outro lado, qualquer unidade operacional tem um chefe
a quem cabe, em exclusivo, orientar o pessoal que faz parte dessa unidade.
b) Continuidade de comando
Refere-se à obrigatoriedade do exercício da função de COS. Entre a chegada
de uma primeira equipa ao teatro de operações e a desmobilização total
dos meios, o comando da operação pode ser exercido por mais do que um
indivíduo, cumpridas as formalidades da passagem de comando. Porém, em
momento algum, a operação pode estar sem COS ou existirem dois indivíduos,
em simultâneo, a exercerem essa função.
d) Integração de comando
Pressupõe que todas as forças que intervêm na operação de proteção e
socorro devem convergir para atingir os objetivos fixados, da forma mais eficaz
e decisiva possível. A extinção de incêndios rurais é uma operação de proteção
e socorro na qual a aplicação deste princípio é de extrema importância, tendo
em conta a diversidade de agentes possível no teatro de operações – corpos
de bombeiros de diversos distritos, Força Especial de Proteção Civil, sapadores
florestais, companhias de intervenção de proteção e socorro/GNR, meios
aéreos nacionais e estrangeiros, etc.
(4)
Decreto-lei n.º 134/2006, de 25 de julho, republicado pelo Decreto-lei n.º 72/2013, de 31 de maio.
f) Confiança
A descentralização depende da confiança. Esta contribui para alargar as opções
do COS, promovendo a flexibilidade, a agilidade e a capacidade de utilizar a
iniciativa, que resultam da confiança mútua entre superior e subordinado. Essa
confiança mútua pode ter diversas origens. Mas, essencialmente resulta da
competência demonstrada no processo de planeamento, no trabalho comum e
no treino e instrução em conjunto.
3.
O processo de comando A frase «comando e controlo» descreve um processo, isto é, um conjunto de
e controlo atividades relacionadas entre si. Não é um procedimento consubstanciado
numa sequência de passos com o objetivo de realizar uma atividade específica,
embora deva incluir procedimentos para a realização de determinadas tarefas.
As atividades de comando e controlo podem ser resumidas da seguinte forma:
• Recolha e análise da informação;
• Tomada de decisão;
• Planeamento;
• Organização dos meios e recursos;
• Comunicação de instruções e outras informações;
• Coordenação dos meios e recursos;
• Supervisão da execução das atividades táticas;
• Avaliação dos resultados das atividades.
4.
4.1. Incerteza e tempo Tomada de decisão
A tomada de decisão é uma questão chave em qualquer liderança. O COS tem
de desenvolver competências que lhe permitam, com a maior rapidez possível,
tomar as melhores decisões.
A tomada de decisão é o resultado de uma série de atividades cognitivas
relacionadas com a recolha e o uso da informação. A decisão é o momento em
que é feita uma opção entre propostas alternativas. Isto é, decisão e processo
que leva à tomada de decisão são diferentes. A decisão é o resultado final
do processo de tomada de decisão. O processo de tomada de decisão
envolve um conjunto de passos que conduzem ao momento da escolha
da proposta.
Existem vários modelos de tomada de decisão. Todos procuram descrever o
modo como o responsável deve tomar a decisão. Os modelos mais clássicos
partem do princípio que o decisor é um indivíduo racional e lógico, e que
consegue obter toda a informação pertinente, de modo a anular qualquer
dúvida na decisão.
Porém, tal como em todo o tipo de atividades, nas operações de proteção e
socorro o COS tem de ter em conta dois fatores fundamentais: a INCERTEZA
e o TEMPO.
A incerteza representa tudo o que não se sabe sobre uma dada situação.
Pode existir uma grande convicção sobre os factos que se observam numa dada
situação. Apesar disso, algumas dúvidas podem persistir em relação ao que
concluir sobre esses mesmos factos. Como não é possível eliminar totalmente
a incerteza, esta deve ser enfrentada e reduzida a um nível aceitável.
FIG. 6.
Equilibrar a incerteza e o tempo.
FIG. 7.
Modelo dos procedimentos
de decisão operacional.
(5)
Fire Service Manual, Volume 2, Fire Service Operations, 3rd edition, 2008, TSO.
(6)
Structural Fire Fighting: Initial Response Strategy and Tactics, IFSTA, first edition, 2010.
FIG. 8.
Recolher a informação.
2.
Logo que a informação disponível tenha sido recolhida e tratada, o COS fica em Identificação de objetivos
condições de identificar e fixar um determinado número de objetivos a alcançar
(resultados esperados). Os objetivos devem ser claros e bem definidos, para que
a supressão da ocorrência decorra de forma eficaz. O detalhe dos objetivos deve
ser o suficiente para que o risco seja o mais reduzido possível.
Objetivos que resolvam uma situação mas, simultaneamente exponham as
equipas a riscos desnecessários, não são aceitáveis.
Tendo em conta a situação, os objetivos e o consequente plano de ação, devem
conduzir a resultados que possam ser alcançados com um nível de risco aceitável.
FIG. 9.
Identificar os objetivos adequados.
FIG. 10.
Definir o plano de ação.
4.
Comunicação Na implementação do plano de ação é essencial assegurar uma COMUNICAÇÃO
com os intervenientes eficaz do COS para as estruturas subordinadas e destas para o COS. Esta questão
é particularmente relevante em situações dinâmicas, nas quais as alterações que
ocorrem podem não ser prontamente compreendidas pelas equipas envolvidas.
A comunicação deve ser BIUNÍVOCA, de modo a que todas as partes fiquem
devidamente informadas. Para que a comunicação seja eficaz, é necessário
que a informação seja relevante, pertinente e oportuna. É necessário, ainda,
selecionar um meio adequado de transmissão.
A comunicação deve permitir, por um lado, que as estruturas subordinadas
executem as atividades táticas de acordo com o plano de ação. Por outro, que
FIG. 11.
Comunicar o plano de ação
às estruturas subordinadas.
5.
Comunicado o plano de ação às estruturas subordinadas, é necessário Controle das atividades
assegurar que os meios estão devidamente colocados, que as atividades estão
a ser executadas de acordo com o plano e que as equipas estão a trabalhar
em segurança. Podem ser criados setores de intervenção, de modo a assegurar
que a capacidade de controlo é mantida em todo o teatro de operações e que
os responsáveis das estruturas subordinadas são capazes de levar a cabo as
atividades com o máximo de eficácia.
© ESCOLA NACIONAL DE BOMBEIROS – 2020 17
A setorização, que vai depender da complexidade da operação e variar em função
da situação operacional, faz com que o nível de controlo do COS aumente.
Na verdade, ao segmentar o teatro de operações e atribuir a gestão de cada
um desses setores a um indivíduo, o comandante passa a relacionar-se
diretamente com os responsáveis das novas estruturas subordinadas, em vez
de o fazer com os chefes das diferentes unidades operacionais.
FIG. 12.
Controlar as atividades.
6.
Avaliação dos resultados Durante toda a operação, o COS recebe informações sobre a situação opera-
do plano de ação cional a partir de várias fontes. Podem ser pontos de situação (POSIT) das es-
truturas subordinadas ou informação recolhida por equipas de reconhecimento e
avaliação (ERAS). A informação é usada pelo COS para avaliar o plano de ação.
Os pontos de situação devem ser feitos numa base regular pelas estruturas
subordinadas em relação às estruturas de nível superior. As informações devem
fluir do chefe de equipa para o chefe de grupo (se existir), do chefe de grupo
para o comandante de setor e do comandante de setor para o COS (ou para o
oficial de operações). Ou seja, nos teatros de operações, o ponto de situação
não é algo que comece no comandante de setor e termine no COS.
Por outro lado, cabe ao COS assegurar que todos os envolvidos na cadeia de
comando são informados com regularidade das alterações do plano de ação,
do desenvolvimento da situação e dos progressos que vão sendo alcançados.
A atualização das informações interessa tanto ao pessoal que tem tarefas
específicas no teatro de operações, como aos responsáveis das estruturas
subordinadas.
A avaliação inclui, também, a segurança do pessoal e a eficácia das medidas
de controlo dos riscos. Se os riscos não forem proporcionais aos benefícios
operacionais, a execução das atividades não deve prosseguir até serem
estabelecidas medidas de segurança adicionais ou se optar por atividades
táticas mais seguras.
Como atrás referido, os pontos de situação são da maior importância, pois
permitem a comparação entre a situação operacional no momento e os
objetivos fixados.
FIG. 13.
Avaliar os resultados
do plano de ação.
7.
Os procedimentos de decisão operacional (PDO) agora apresentados, foram Considerações finais
criados pela London Fire Brigade (corpo de bombeiros da cidade de Londres)
e adotados pela maioria dos corpos de bombeiros do Reino Unido da Grã-
-Bretanha e Irlanda do Norte. A razão é simples: são fáceis de aprender e
de aplicar. Na falta de “doutrina oficial” sobre este importante instrumento de
gestão de operações, a Escola Nacional de Bombeiros decidiu utilizá-los na
formação de graduados, esperando que possam ser uma mais-valia importante
na gestão de operações de proteção e socorro, por parte daqueles a quem,
prioritariamente se destina a formação ministrada na ENB: os Bombeiros
Portugueses.
Bibliografia