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Controladoria
Prof. Ademar Lucas
Prof.
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1ª edição
E-book (2020)
CDD: 658.151
Sumário
Apresentação .................................................................................................................... 3
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MÓDULO 1
Controladoria: definição e responsabilidades
Apresentação
1. O que é controladoria?
Para Mosimann & Fisch (2002, p.99), a controladoria sob o enfoque de ramo do conhecimento pode
ser conceituada como: “o conjunto de princípios, procedimentos e métodos oriundos das ciências da
Administração, Economia, Psicologia, Estatística e, principalmente, da Contabilidade, que se ocupa da
gestão econômica das empresas, com a finalidade de orientá-las para a eficácia”. Busca reunir
conhecimentos para compreender o processo de gestão, utilizando a função de responsável por todo
arcabouço informacional da empresa e visando atender aos interesses dos gestores e daqueles que
influenciam ou podem influenciar no aspecto estratégico de curto, médio e longo prazo.
Padoveze (2003, p.3) nos ensina que: “a Controladoria é uma ciência autônoma e não se confunde
com a Contabilidade, apesar de utilizar pesadamente o instrumental contábil. Consideramos
questionável este aspecto da definição. Em nossa opinião, a Controladoria pode ser entendida como a
ciência contábil evoluída. Como em todas as ciências; há o alargamento do campo de abrangência da
Contabilidade conduziu a que ela seja mais bem representada semanticamente pela denominação de
Controladoria”.
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E, continua: “A Controladoria pode ser definida, então, como a unidade administrativa responsável
pela utilização de todo o conjunto da Ciência Contábil dentro da empresa. Como a Ciência Contábil é
a ciência do controle em todos os aspectos temporais – passado, presente e futuro –, e como a Ciência
Social exige a comunicação de informação, no caso a econômica, à Controladoria cabe a
responsabilidade de implantar, desenvolver, aplicar e coordenar todo o ferramental da Ciência
Contábil dentro da empresa, nas suas mais diversas necessidades”.
Logo, segundo o mesmo: “A Controladoria é a utilização da Ciência Contábil em toda a sua plenitude”.
Já como define Frezatti (2009): “é o órgão da empresa cuja missão consiste em zelar pela eficácia do
processo de gestão, tanto para finalidades internas como externas”.
É um órgão, porque pode ser uma área ou função, em virtude do tamanho da empresa,
complexidade dos negócios, disponibilidade de recursos e dos aspectos relativos à cultura e
relacionamento com todos os stakeholders;
Missão consiste na incumbência, função que exercerá dentro do ambiente organizacional e
perante os órgãos externos à empresa;
Zelar é cuidar, proteger a empresa, prevenir-se, garantir o cumprimento das normas, regras e
procedimentos (função de compliance), para que a empresa evite ou mitigue a ocorrência dos
riscos relacionados à atividade e sua gestão;
Eficácia é atingir o objetivo planejado, para que a organização garanta sua sustentabilidade e
longevidade, com resultados interessantes aos empreendedores e/ou investidores que nela
depositam sua confiança;
Processo de gestão, que compreende o processo de todas as fases do planejamento, execução
e controle organizacional. Aqui, a Controladoria deve fazer o papel de agregador e de instrutor
de todos os níveis responsáveis pela gestão, nos aspectos relativos à Contabilidade, Finanças
e demais informações que possam vir a afetar o atingimento da missão e da visão empresarial.
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A definição de controladoria não deixa dúvidas quanto a sua importância dentro das organizações.
Ademais, é importante perceber que a finalidade da controladoria é atender aos interesses internos e
externos dos usuários.
Os estudos desenvolvidos no âmbito desse ramo do conhecimento ou, até mesmo internamente, ou
seja, nos órgãos da empresa, objetivam desenvolver experiências, técnicas e aplicações que possam
auxiliar e tornar as decisões dos gestores das empresas, no sentido de tornar o processo de gestão
mais eficaz.
Assim, temos que a Controladoria deve estruturar-se de maneira a se basear nos aspectos relativos às
demonstrações financeiras (visando destinatários externos – isto é, sob os prismas fiscal e contábil) e
também relativamente ao planejamento e controle (estratégia e gestão – onde se visa principalmente
os destinatários internos).
Desta forma, à controladoria não compete definir a estratégia da empresa, isso compete à direção
e/ou presidência. Desta forma, é responsabilidade da controladoria:
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Estabelecer procedimentos de controles de forma a garantir informação fidedigna, necessárias
para acompanhamento das atividades e avaliação dos resultados;
Apoiar as áreas e funções da empresa com informações que auxiliam na tomada de decisão.
Segundo Frezatti pg. 33 “uma das principais responsabilidades diz respeito ao
acompanhamento do desempenho de diversas áreas da empresa, verificando-se o que estão
realizando está de acordo com o planejamento global.
Embora pareça simples definir as responsabilidades de uma área ou função, não é isso o que
encontramos na leitura dos livros, revistas e artigos científicos quando o assunto é Controladoria.
O tema é muito abrangente e ainda hoje bastante discutido. Algumas vezes, até mesmo na prática
existe uma ligeira confusão de como esse cargo ou função pode ajudar a empresa a atingir seus
objetivos. Segundo pesquisa apresentada no artigo Schnorrenberger, Gasparetto e Lunkes de
2010, com 2ª. Revisão em 25.01.2011, denominado “Um Estudo sobre as Funções da
Controladoria”, sobre as abordagens das obras dos autores, veja a percepção na tabela 1, a seguir:
FUNÇÃO Nº Nº Nº Nº Nº Nº Nº Nº
Planejamento 8 80 8 80 10 100 26 87
Controle 7 70 10 100 8 80 25 83
Sistema de Informações 0 0 5 50 8 80 13 43
Contábil 5 50 6 60 0 0 11 37
Auditoria 3 30 1 10 0 0 4 13
Administração de Impostos 4 40 0 0 0 0 4 13
Controles Internos 1 10 0 0 0 0 1 3
Avaliação e Deliberação 1 10 2 20 1 10 4 13
Avaliação e Consultoria 1 10 1 10 2 20 4 13
Relatórios Governamentais 2 20 0 0 0 0 2 7
Proteção de Ativos 5 50 1 10 2 20 8 27
Processamento de Dados 1 10 1 10 0 0 2 7
Mensuração de Risco 1 10 1 10 0 0 2 7
Organização 1 10 0 0 2 20 3 10
Direção 1 10 1 10 2 20 4 13
Desenvolver Pessoal 1 10 0 0 1 10 2 7
Coordenação 0 0 0 0 4 40 4 13
Conforme o estudo, as 5 atividades mais destacadas para essa área ou função são:
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1. Planejamento;
2. Controle;
3. Sistema de informações;
4. Elaboração de Relatórios;
5. Contabilidade.
Controle: são atividades, procedimentos, políticas que visam reduzir a exposição de riscos nas
empresas e são desenvolvidos e implementados para oferecer garantia razoável que os objetivos
propostos serão atendidos.
Elaboração de relatórios e análises de resultados: são produtos finais dos processos e seu objetivo
é permitir o controle das decisões e o monitoramento dos mais diversos itens que devem ser
avaliados pelas áreas e pela empresa como um todo.
Contabilidade: seu principal objetivo é registrar, mensurar e evidenciar fatos que ocorreram na
empresa que modificaram sua situação patrimonial e financeira. É uma prestação de contas com
informações úteis e corretas que deverá ser disponibilizada para atender um grande número de
usuários em suas avaliações e tomadas de decisão.
Vamos construir a interligação e interação destas funções, e demonstrar como uma depende da
outra para existir.
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Primeiro ponto, para direcionarmos nossa vida pessoal, uma empresa ou um negócio, sempre
devemos ter em mente um plano, os objetivos, as metas, um planejamento. Para sua elaboração,
precisamos de informações externas e internas, contábeis, financeiras, quantitativas e
qualitativas, entre outras, julgadas úteis para a tomada de decisão. Isso poderá ser obtido no
sistema de informações, na contabilidade, pela análise dos relatórios e resultados, e todos estes
fazem parte do processo de controle, responsável por avaliar se as decisões tomadas e se o
processo de execução está em conformidade com o plano, facilitando o alinhamento das
atividades e a revisão do planejamento.
Não existe o que controlar se não conhecemos os objetivos. Por isso, a primeira função da
controladoria é dar subsídios às diversas áreas para a elaboração do planejamento com
metodologias adequadas, e garantir o alinhamento destes planos setoriais em relação à orientação
definida pelos diretores da Empresa. Portanto, podemos visualizar estas funções e seus
relacionamentos da seguinte forma:
Sistema de Relatórios e
Planejamento
Informações Análises
Contabilidade
Controle
Para Padoveze apud Francia (2003, p. 34), “...o controller é uma posição de apoio na alta administração
da empresa. O controller é o responsável por todo o processamento da informação contábil na
organização”.
Segundo ele, ainda segundo Francia (p. 9), “...o controller deve responder ao diretor ou vice-presidente
administrativo e financeiro, e tem suas funções diferenciadas do responsável pela aplicação e captação
de recursos, que denomina de tesoureiro. ” Os dois executivos devam trabalhar em conjunto, visando
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evitar surpresas quanto à realização do objetivo final da empresa, que é o lucro econômico e a
consequente disponibilização, como mostra a figura a seguir.
Presidente
Diretor
Diretor de Diretor
Administrativo
Produção Comercial
Financeiro (CFO)
Controladoria
Tesouraria
Existem, ainda, estruturas organizacionais nas quais a controladoria figura como staff do Presidente,
ou ainda em estruturas descentralizadas, como mostram as figuras a seguir.
Presidente
Controladoria
Diretor
Diretor de
Administrativo Diretor Comercial
Produção
Financeiro (CFO)
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Presidente
Controladoria
P&D corporativa
Corporativa
Planejamento Marketing
Estratégico Corporativo
Controller da
Divisão Divisão
Divisão
De acordo com Oliveira et al (2015, p. 10) “...o título de controller pode ser aplicado a diversos cargos
nas áreas administrativas, contábeis e financeiras, com níveis de responsabilidade e remuneração que
dependem do setor e do porte das organizações”.
Já Tung (Edusp s.d.) nos ensina que: “Em essência no exercício de sua função, o moderno controller
deve ter uma visão proativa, permanentemente dirigida para o futuro”, devendo, segundo ele, entre
outras responsabilidades, ser capaz de:
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Elaborar relatórios da forma mais rápida possível, gerando informações atualizadas e
confiáveis;
Insistir na análise e estudo de determinados problemas, mesmo que os executivos das áreas
envolvidas não estejam dando a devida atenção para os fatos reportados pela Controladoria;
Assumir a posição de conselheiro ou exercer o papel de consultor na busca de solução para os
problemas, nunca a de crítico;
Ser imparcial e justo em suas críticas e comentários;
Ter a capacidade de “vender” suas ideias;
Ter a capacidade de compreender que, no desempenho de suas funções, suas contribuições
para outras áreas sofrem limitações.
Contabilidade e finanças;
Sistemas de informações gerenciais;
Tecnologia da informação;
Aspectos legais de negócios e visão empresarial;
Métodos quantitativos;
Processos informatizados da produção de bens e serviços.
E, arremata: “para enfrentar esses novos desafios o controller precisa possuir, além de todos os
requisitos anteriormente exigidos, novas habilidades, tais como: práticas internacionais de negócios,
controles orçamentários, planejamento estratégico, além de tornar-se um profissional de fácil
relacionamento e extremamente hábil para vender suas ideias”.
Garcia (2010, p. 3) ao afirmar que “o Controller é chamado para participar conjuntamente em decisões
financeiras e no planejamento estratégico das companhias”, exemplifica alguns requisitos exigidos do
controller no atual mercado de trabalho, quais sejam:
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Controle, análise e consolidação dos relatórios financeiros mensais;
Coordenação do planeamento estratégico, construção de cenários
econômicos e análise competitiva;
Análise de viabilidade econômica de projetos e investimentos.
Isso significa que, para se transformar em um profissional de sucesso, o controller deve se transformar
em uma espécie de “generalista-especialista”, ou seja, ser, acima de tudo, dotado de visão holística
acerca da empresa, do setor e do segmento em que venha a atuar. Além disso, deve liderar todo o
processo de planejamento de curto, médio e de longo prazo da entidade em que colabora.
Conforme amplamente debatido no seminário do IBEF (Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças),
denominado “O Controller em 2020”, a visão deve ser integrada em três pilares que sustentam a sua
posição, quais sejam:
Pessoas;
Processos;
Sistemas e tecnologia.
Desta maneira, segundo Auster e Reginato (2013, p. 5), a visão integrada a que nos referimos, em
termos de controle organizacional, pode ser traduzida na figura a seguir:
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5. A prestação de contas - accountability
Segundo o IBGC em seu Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa (5ª. Edição, 2015):
“Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso,
compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e
atuando com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis. ” Portanto, o controller deve
ser visto e tratado como um dos agentes de governança corporativa, como responsável por gerir todo
o sistema informacional da empresa.
Assim, podemos citar Oliveira et al (2015, p. 15), ao registrar o conceito de accountability (prestação
de contas), “a utilização dos procedimentos contábeis como instrumentos de “prestação de contas”,
e complementa: “daí surgiram os fundamentos para a Contabilidade Social e Ambiental, divulgação
dos atos de corrupção, fraudes, sonegação etc.”
Considerações finais
Neste módulo de estudo vimos que a controladoria é um órgão da empresa e, como uma ciência, utiliza
a contabilidade em sua plenitude, mormente quando realiza estudos que podem viabilizar ou
inviabilizar determinado negócio, mercado, produto ou serviços.
Finalmente, introduzimos estudos sobre perfis atual e futuro do controller, enquanto profissional
responsável inclusive pela prestação de contas, tanto no âmbito interno quanto externo às
organizações.
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Referências bibliográficas
FREZATTI, Fábio; ROCHA, Welington. Controle Gerencial: uma abordagem da contabilidade gerencial
no contexto econômico, comportamental e sociólogo. São Paulo: Atlas Editora, 2009 – 288 páginas.
GARCIA, Alexandre Sanches. Introdução à Controladoria. São Paulo: Atlas Editora, 2010 – 136 páginas.
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa. 5. ed.: 2015. http://www.ibgc.org.br/userfiles/files/2014/files/CMPGPT.pdf - Acesso em
18.10.2017.
MOSIMANN, Clara P.; FISCH, Sílvio. Controladoria: seu papel na administração de empresas. 2. ed.
São Paulo: Atlas Editora, 2002 – 138 páginas.
OLIVEIRA, Luís Martins; PEREZ JR, José Hernandez; SILVA, Carlos Alberto dos Santos. Controladoria
Estratégica. 11. ed. São Paulo: Atlas Books, 2015.
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