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A EVOLUÇAO DA ANALISE
ORGANIZACIONAL NO BRASIL
(1961-93)

* Carlos Osmar Bertero


** Tania Margarete Mezzomo Keinert

A evolução da produção brasileira em Análise Organizacional a partir dos


artigos publicados pela RAE no período de 1961-93.

The eooluiion of Brazilian Organizational Analysis from articles contents published by


RAE between 1961-93.

PALAVRAS·CHAVE:
Análise Organizacional, teoria
organizacional, variáveis orçe-
nizacionais, análise de conteú-
do, administração brasileira.

KEYWOROS:
Organizalional Analysis, orga·
tiuetionel theory and bens-
viour, Brazilian administrat/on
and management, organizatio-
nal variables, content analysis.

, Professor e Chefe do Depar-


tamento de Administração Ge-
ral e Recursos Humanos da
EAESP/FGV

'* Professora do Departamento


de Administração Geral e Re-
cursos Humanos e Pesquisado-
ra do Centro de Estudos de Ad-
ministração Pública e Governo,
ambos da EAESP/FGV.

Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 34, n. 3, p. 81-90 Mai./Jun. 1994 81


ARTIGO

o termo Análise Organizacional foi versalmente, é claramente uma criação


adotado recentemente em diversos círcu- norte-americana. A contribuição euro-
los para englobar o estudo de organiza- péia, especialmente a francesa e a inglesa
ções independentemente das variáveis (e, nos últimos quinze anos, também de
utilizadas e da ênfase que se coloque. outros países como Canadá, Holanda,
Desta forma, os artigos que foram consi- Suécia, Itália e Alemanha), deve ser vista
derados como objeto empírico deste tra- como bastante influenciada pela produ-
balho 1 tratam de tópicos que, ao longo de ção e pela perspectiva norte-americana,
aproximadamente quarenta anos, podem desenvolvendo-se, muitas vezes, com
também ser classificados como referentes uma postura crítica.
à Teoria Organizacional, à Teoria Geral A Análise Organizacional, entre nós,
da Administração e ao Comportamento carrega igualmente todas essas marcas.
Organizacional. Portanto, a expressão Surgiu a partir de uma influência exclu-
Análise Organizacional foi adotada por- sivamente norte-americana no delinea-
que, no mo- mento e estabelecimento dos currículos
mento, é a que dos cursos de Administração, havendo,
A produção brasileira em Análise nos parece de- só posteriormente, treinamento de pro-
signar mais fessores em universidades européias.
Organizacional é divulgadora no
adequadamen- Ainda hoje, a grande maioria dos docen-
sentido de repetir didaticamente o que te a área em tes em Administração treinados no exte-
foi produzido lá forai é também questão. rior obteve graus acadêmicos em univer-
aplicada, à medida que usa conceitos A Análise sidades americanas. Por isso, a Análise
Organizacional Organizacional é contemporânea do lon-
modernos e retoma experiências
chega ao Brasil go período de hegemonia dos Estados
estrangeiras procurando utilizá-las Unidos em Administração.
juntamente
para analisar, explicar e solucionar com a Admi- A produção brasileira em Análise Or-
questões administrativas brasileirasi é nistração en- ganizacional é divulgadora no sentido
ainda crítica e reflexiva à medida que quanto ativida- de repetir didaticamente o que foi pro-
de profissional duzido lá fora; é também aplicada, à me-
questiona e procura invalidar total ou
e preocupação dida que usa conceitos modernos e reto-
parcialmente perspectivas e soluções acadêmica. A ma experiências estrangeiras procurando
que são produzidas noutros países. profissionaliza - utilizá-las para analisar, explicar e solu-
ção implica em cionar questões administrativas brasilei-
escolarização, ras; é ainda crítica e reflexiva à medida
assim, os anos 50 e 60 assistem à abertu- que questiona e procura invalidar total
ra de nossos primeiros cursos de Admi- ou parcialmente perspectivas e soluções
nistração voltados à área pública e em- que são produzidas noutros países.
presarial. Embora seja possível detectar O uso de conceitos, teorias e variáveis
vertentes não-administrativistas em das Ciências Sociais pela Análise Organi-
Análise Organizacional, especialmente o zacional vem sendo importante para a
significativo conjunto de conhecimentos produção brasileira, à medida que o país
designados como Sociologia Organiza- tem uma tradição de Ciências Sociais
cional, Sociologia Industrial ou Estudos que não é norte-americana e, especial-
sobre Burocracia, estas só se fizeram pre- mente, não é funcionalista. Embora seja
sentes entre nós em função da Adminis- possível encontrar funcionalismo entre
tração enquanto atividade profissionali- nós, ele não surge como o paradigma
zada e escolarizada. teórico predominante. O período com
Enquanto campo de conhecimento e que trabalhamos foi significativo para as
de reflexão, a administração originou-se, Ciências Sociais como descoberta e am-
como se sabe, em outras sociedades e pla adoção do marxismo para interpreta-
culturas. O predomínio foi e continua ção da realidade social. Por isso, o víncu-
sendo dos Estados Unidos, especialmen- lo tão importante entre Análise Organi-
1. Os autores agradecem a Fer- te, senão quase que exclusivamente, no zacional e funcionalismo, característico
nando Nino Pinheiro Andrade e que tange à administração empresarial. de grande parte da produção norte-ame-
Luciana Massaad a importante
colaboração na coleta e proces- A palavra managemeni, um termo prati- ricana e também inglesa, inexistiu no
samento dos dados. camente técnico, adotado quase que uni- Brasil.

82 © 1994, Revista de Administração de Empresas I EAESPI FGV, São Paulo, Brasil.


A DA ANÁLISE ORGANIZACIONAL NO BRASIL...

Se uma primeira divisão pode ser in- poderia ser enriquece dor, especialmente
troduzida na reação dos que se ocupam a partir dos anos 30, quando a emergên-
da área, ela vai gerar entusiamo entre al- cia do intervencionismo estatal passa a
guns que acreditam ter encontrado um demandar administradores profissionais.
novo instrumento a ser aplicado para ex- Nesse período a Revista do Serviço Público
plicar a realidade administrativa brasilei- (RSP) constituiu-se no único periódico
ra e também para aprimorá-la, aproxi- do gênero existente no Brasil. Embora
mando-a dos níveis de desempenho dos com interrupções no período 1974-1981,
países de onde as idéias são provenien- a RSP - que existe desde 1937 - foi edita-
tes. Outra reação é a de receber a Análise da até 1989, estando em vias de ter sua
Organizacional, especialmente a produ- publicação reiniciada neste ano, por ini-
zida nos Estados Unidos, com grande ciativa da Escola Nacional de Adminis-
cautela, seja pelo enorme distanciamento tração Pública (ENAP).
cultural, econômico e administrativo que Um estudo baseado na produção
nos separa daquele país, seja pela possí- em Análise Organiza-
vel "ideologização" das teorias que se cional constante na
acredita não separáveis da posição in- Revista de Adminis-
questionável de potência hegemônica tração (RA) da USP,
dos Estados Unidos ao longo da maior e na Revista de Ad-
parte do século XX. ministração PÚ-
blica (RAP),
da FGV, pode
também am-
Os artigos constantes da RAE - Revista pliar o espec-
de Administração de Empresas - no período tro de análise -
que vai de sua fundação, em 1961, até o que será
1993, constituíram-se no objeto empírico realizado em
do presente estudo. etapa poste-
Nosso objetivo foi realizar uma análi- rior.
se histórica, que permitisse identificar - Do total de
ainda que preliminarmente - as origens artigos publicados
e a evolução da Análise Organizacional pela RAE no perío-
no Brasil. Trata-se de uma análise de ten- do em questão, seleciona-
dências, obviamente, não-exaustiva. mos aqueles referentes à Análise Organi-
A RAE foi considerada representativa zacional, no sentido anteriormente expli-
da produção em Análise Organizacional, citado. Foram classificados, assim, 184
não somente pelo importante papel de- artigos.
sempenhado pelo órgão que a publica - Nosso objetivo constituiu-se em efe-
a EAESP /FGV - na consolidação do es- tuar uma análise de conteúdo destes arti-
tudo sistemático da Administração, gos. Para tanto optamos por classificá-los
como pela sua longevidade - a maior em função de três indicadores:
sem interrupções, no gênero, no Brasil.
Cabe mencionar que o corte histórico a escola ou perspectiva teórica utiliza-
efetuado (pós-60) deve influenciar os re- da pelo autor do texto ao escrevê-lo. O
sultados obtidos, uma vez que, nesse pe- autor adquire, implícita ou explicita-
ríodo, o núcleo analítico básico dos estu- mente, uma posição? Utiliza instru-
dos organizacionais já estava consolida- mental de análise facilmente atribuível
do (até mesmo desenvolvimentos recen- a esta ou àquela escola? Neste item, fo-
tes, como a Teoria de Sistemas e o Con- ram consideradas ainda, além das es-
tingencialismo) havendo, inclusive, colas tradicionalmente conhecidas na
grande volume de análises críticas às Teoria Geral da Administração, pers-
teorias pioneiras (especialmente à cha- pectivas teóricas recentes, não-consoli-
mada Teoria Clássica ou Administração dadas ou emergentes, tais como o Ho-
Científica). lismo, Teoria Z, Teoria do Caos, Reen-
Neste sentido, o estudo dos primór- genharia, Qualidade Total etc. Nosso
dios da Análise Organizacional no Brasi I objetivo foi o de apreender as escolas

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ARTIGO

ou perspecti- veis organizacionais e autores tratados e


Figura vas teóricas utilizados - efetuaremos a análise do
Escolas ou Perspectivas Teóricas
1 mais significa- conteúdo da produção constante da
4% tivas para a l?AE.
produção bra-
sileira expres- Escolas ou perspectivas teóricas
sa nos artigos Na figura 1, pode-se observar as esco-
11% publicados las mais significativas identificadas ao
pela RAE; longo do período. Praticamente nenhu-
ma "escola" ou perspectiva teórica dei-
as variáveis or- xou de encontrar representação, indo
ganizacionais desde a Administração Científica ou
analisadas nos Teoria Clássica até os atuais modismos
5% artigos publi- como TQM e Teoria Z. Todavia, a figura
cados pela 2 indica que sete escolas ou perspectivas
Teoria Clássica/Administração Científica
RAE. Que as-
U respondem pela parte maior da produ-
Escola de Relações Humanas
suntos" são ção e foram predominantes.

--
Behaviorismo
Estrutu rali sm o/B urocracia abordados? O período analisado (1961-93) é indi-
~ Teoria de Sistemas Qual a base cativo das principais preocupações da
Contingencialismo empírica dos época, especialmente as décadas de 60 e
Desenvolvimento Organizacional
textos produ- 70 quando a análise estrutural de organi-

-
Administração por Objetivos
Cultura Organizacional zidos? Tratam- zações, sempre fazendo uso de variáveis
Oualidade Total (TOM) se de variáveis derivadas do modelo americano, in-
Administração Participativa comportamen- fluenciaram a literatura.
Teoria Z tais ou estru- A aplicabilidade acabou em boa parte
Mudança Organizacional
turais? Rela- ficando com as escolas designadas por
Estratégia Empresarial
Análises Epistemológicas cionadas às Behaviorismo e Estratégia Empresarial.
abordagens A razão não surpreende, pois embora se-
sociológicas, veramente criticada em diversos círcu-
psicológicas ou políticas? Estas variá- los, especialmente pelos gestaltistas e
veis foram estabelecidas, inicialmente, psicólogos que se distribuem ao redor de
a partir daquelas estudadas pelas es- um paradigma freudiano, o behavioris-
colas ou perspectivas teóricas consoli- mo ainda oferece ao administrador e ao
dadas, reservando-se um espaço para consultor que pratica a intervenção orga-
aquelas que iriam emergindo da pró- nizacional, um instrumento simples e se-
pria investigação. Esta classificação foi guro. Alterar comportamento é algo inte-
efetuada com o objetivo de verificar ligível, concreto e especialmente percep-
em que situações, "partes" da empre- tível no mundo de organizações e admi-
sa ou objeto empírico a Análise Orga- nistradores. Mecanismos de racionaliza-
nizacional recai; ção, pulsões e motivações enfrentam
maiores dificuldades num mundo sem-
os autores referidos com maior fre- pre dominado pela mística de resulta-
qüência pelos que escreveram na dos, de preferência, rápidos.
RAE. Que referências bibliográficas A aplicabilidade também se manifes-
são comumente utilizadas nos arti- ta na perspectiva da Estratégia Organi-
gos? A que autores os escritos da RAE zacional. A medida que esta é domina-
remetem com maior freqüência? da por resultados, o administrador tem
Quais os mais utilizados no Brasil? na estratégia um grande elemento inte-
Em que períodos? Com este último grador que abraça diversas variáveis ou
item objetivou-se "fechar o cerco" e aspectos da organização. Coisas aparen-
permitir que a análise de conteúdo temente tão específicas e até distantes
fosse realizada. como objetivos, estrutura organizacio-
nal, diferenciação vertical, complexida-
Análise de conteúdo de estrutural e processos organizacio-
A partir das três categorias classifica- nais diversos encontram na estratégia
das - escolas ou posições teóricas, variá- importante elo interligador. Isto sem

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A EVOLUÇÃO DA ANÁLISE ORGANIZACIONAL NO BRASIL...

mencionar o ambiente organizacional ção analisada. O interessante é que estas


relevante das organizações, dimensão diversas abordagens são predominante-
fundamental da estratégia. mente aplicadas e voltadas à solução de
No período, deve-se ainda destacar o problemas organizacionais, mostrando a 2. SELZNICK, Philip. Leadership
local consignado a temas que giram em preferência dos autores pelo teórico ao in administration. New York:
torno da burocracia, o que não poderia aplicado. Resta ainda considerar que Harper and Row, 1957; MER-
TON, Robert T. K. Social theory
ser diferente. O tema é internacional- muitas destas variáveis (agrupadas na fi- and social structure. New York:
mente marcado pela retomada funciona- gura 1) são mais recentes, ou seja, fazem- Free Press, 1968; GOULDNER,
lista do modelo weberiano, dos quais são se presentes a partir da década de 80 e Alvin. Patterns of industrial bu-
reaucracy. New York: Free
exemplos trabalhos de Philip Selznick, por isso não poderiam ainda ter acumu- Press, 1956.
Robert Merton e Alvin Gouldner. 2 Ainda lado o mesmo volume de artigos de Bu-
temos o desenvolvimento da análise rocracia, Estruturalismo, Behaviorismo e 3. BLAU, Peter, SCHOENHERR ,
R. The structure of organiza-
comparativa de organizações, a partir de Estratégia. tions. New York: Free Press,
Peter Blau nos Estados Un id os ' e do Mas a perspectiva que aparece em 1971; BLAU, Peter. The organi-
Grupo de Aston na Inglaterra." Foi um primeiro lugar, representando 17°;;, da zation of academic work. New
momento em que se adotou uma pers- York: Wileyl Som, 1973.
produção analisada, é a epistemológica.
pectiva claramente positivista e um mo- Entendemos por epistemologia artigos 4. Refere-se ao grupo que atua-
delo de ciência do tipo quantitativo que se ocupam da Análise Organizacio- va junto à Unidade de Pesquisa
como a única maneira válida de cons- em Administração Industrial da
nal a partir da Teoria do Conhecimento
Universidade de Aston, em Bir-
truir uma ciência das organizações. Mes- e da Teoria da Ciência. Esta predileção é minghan, Grã-Bretanha, à qual
mo criticando o modelo de ciência e da indicativa da preferência dos próprios estavam relacionados D. S.
epistemologia positivista, não se pode autores e da maneira como percebem o PUGH, D. J. HICKSON, C. R.
HININGS, K. N. McDONALD, C.
deixar de registrar o que foi a derradeira campo. A perspectiva epistemológica é TURNER e T. LUPTON. Dos au-
tentativa de produção de uma ciência aquela que permeia os artigos chama- tores, ver A conceptual scheme
positiva das organizações. dos críticos ou reflexivos e, entre nós, for organization analysis, Admi-
nistrative science quarterly,
Estas abordagens não esgotam ainda a freqüentemente se considera uma pos- (ASQ), Ithaca, v. 8, n. 3, Dec.
perspectiva burocrática. O weberianismo tura acadêmica como sendo necessaria- 1963 e An empirical taxomomy
pode ser "funcionalizado", como o foi mente reflexiva ou crítica. Pelo mesmo of structure of work organiza-
tions, Administrative science
nos trabalhos aqui referidos, e também tipo de raciocínio, não seria considerada quarterly, Ithaca, v. 14, n. 1,
pode ser utilizado numa perspectiva acadêmica uma postura aplicada ou 1969.
marxista ou esquerdizante. A análise or- prática perante
ganizacional que apresenta organizações a Análise Orga-
enquanto reprodutoras de uma socieda- nizacional. Ora, Figura Evolução das Escolas
de de classes, detendo-se em relações de o objeto de nos- 2 ou Perspectivas Teóricas
poder enquanto dominação; ou a que en- sa análise, a
fatiza formações burocráticas enquanto RAE, foi até o
14
geradoras de estamentos privilegiados, momento uma
são claros exemplos da aplicação do revista de Ad- 12
marxismo ao modelo burocrático webe- ministração que
riano. Resta ainda uma fecunda e mar- sempre se defi- 10
cante produção brasileira, que se origi- niu como acadê-
8
nou possivelmente com o trabalho de mica, chegando
Mauricio Tragtenberg, baseada no aspec- até mesmo a 6
to "ideológico" da administração clássica abrigar, durante
e burocrática. a década de 70, 4
Outras perspectivas como a Teoria produção oriun-
2
Sistêmica, e um conjunto grande de pers- da de diversas
pectivas e nomes, alguns mais efêmeros, período
áreas de Ciên- o
outros mais permanentes como APO - cias Sociais, à 61-70 71-80 81-93
Administração por Objetivos -, Admi- época mais ex- _ Teoria Clássica/Administração Cientifica
nistração Participativa, TQM - Total Qua- postas à repres- _ Behaviorismo
lity Management -, Mudança Organiza- são da censura. _ Estruturalismo/Burocracia
cional e as diversas vertentes amalgamá- É apenas no Teoria de Sistemas
lfi,'#jjií!Jl Administração por Objetivos
veis sob o manto do Contingencialismo, atual momento
Estratégia Empresarial
também se fazem presentes. Não repre- que a direção da _ Epistemologia
sentam, todavia, o ponto forte da produ- revista procura

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ARTIGO

torná-Ia mais le- Variáveis organizacionais


Evolução das Variáveis gível ao público A escolha de variáveis organizacio-
Organizacionais que está fora da nais, tratadas pelos autores ao longo dos
academia e que 32 anos de análise da RAE, manifesta o
nutre pela área cuidado em escolher variáveis que efeti-
16 nº de artigos
organizaciona I vamente foram consideradas importan-
uma expectativa tes para o conhecimento das organiza-
14
puramente a d- ções pelas diversas escolas ou perspecti-
12 ministrativista, o vas teóricas. É portanto inevitável que
que equivale di- uma abordagem organizacional usando
10 a Sociologia acabasse por privilegiar va-
zer, aplicada e
prática. riáveis tipicamente funcionalistas, já que
8
A perspectiva este foi o paradigma sociológico predo-
6 epistemológica minante. Portanto, diferenciação hori-
está longe de ser zontal, diferenciação vertical e complexi-
criação original dade são necessariamente escolhidas e
dos autores bra- não luta de classes, hegemonia e domi-

-
sileiros. Ela exis- nação. Igualmente quando se trata de
o~~--------~--------~~ te na produção processos e comportamento humano em
61-70 71-80 81-93 de outros países, contextos organizacionais, as variáveis
Estrutura Organizacional mas não ocupa vem preferencialmente do Behaviorismo
ll)g Processo Decisório um percentual e de setores da Psicologia - como social e
Missão/Metas/Objetivos Organizacionais
tão grande da clínica - e apenas secundariamente de
Recursos Humanos
produção acadê- outras escolas psicológicas, da Psicologia
Motivação
Ambiente Organizacional mica. Um livro experimental ou diferencial.
Tecnologia marcante da As sete variáveis mais tratadas são en-
abordagem epis- contradas separadas das demais de me-
temológica como nor freqüência de tratamento na figura 3.
o de Gibson Burrell e Gareth Morgan. São elas, em ordem decrescente: estrutu-
Sociological paradigms and organizational ra organizacional, processo decisório,
analusis, foi publicado em 1979, fez gran- objetivos/metas/missão, recursos huma-
de sucesso e não teve, até o momento, nos, motivação, ambiente organizacional
uma segunda edição, permanecendo es- e tecnologia.
gotado . .'i O conjunto de variáveis mais aborda-
. É também indicativo da maneira como das é indicativo de que a Análise Orga-
autores brasileiros "epistemologizam" a nizacional utilizou variáveis de duas dis-
questão, a forma como enfocam aborda- ciplinas, a Sociologia e a Psicologia, e
gens recentes no mundo organizacional, também da "perspectiva" estratégica das
como Análise Cultural de Organizações organizações. Estrutura organizaciona I é
ou Simbolismo Organizacional, não se uma dimensão típica e fundamental de
atendo necessariamente ao conteúdo es- uma perspectiva que utiliza tanto variá-
pecífico destas abordagens, mas subme- veis weberianas como do funcionalismo.
tendo-as a um crivo epistemológico. Tecnologia é também uma variável que
Exemplos seriam ocupar-se em indagar pode ser vista como tendo sido incorpo-
se o simbolismo organizacional amplia rada em explicações de estrutura organi-
efetivamente o conhecimento que pode- zacional, embora em si mesma possa in-
mos ter das organizações ou se a análise dicar presença do Contingencialismo.
cultural é ou não uma forma de manipu- Motivação e recursos humanos consti-
lação de símbolos com o objetivo de sub- tuem a presença de variáveis e tópicos
meter agentes e membros da organiza- que têm origem na Psicologia. A desig-
ção. Não podemos deixar de registrar a nação RII inclui também artigos que li-
impressão de que a ênfase em epistemo- dam com questões de liderança, pequeno
5. BURREL, G., MORGAN, G. logia denota um certo "aristocracismo" grupo e dinâmica grupal, tópicos típicos
Sociological paradigms and ot- da Psicologia Social.
cientifico que é exatamente o oposto do
ganizational analisys. Londres:
Heinemann Educational Books, pragmatismo da "mão na massa" ou Missão, metas e objetivos organizacio-
1979. hands OI!. nais são considerados típicos da perspcc-

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A DA ANÁLISE ORGANIZACIONAL NO BRASIL...

tiva estratégica e o mesmo também pode se Organizacional ao longo do período


ser dito da variável ambiente organiza- estudado.
cional. Embora esta variável também
possa ser indicativa de uma abordagem Autores referidos
de sistemas abertos, a perspectiva estra- Os autores mais freqüentemente refe-
tégica tem na interação entre a organiza- ridos e utilizados pelos que redigiram os
ção e o seu meio ambiente o seu ponto artigos utilizados neste trabalho são os
principal, à medida que a estratégia or- que efetivamente tiveram presença mar-
ganizacional pode ser entendida como a cante na Análise Organizacional durante
viabilização de uma determinada organi- os anos 60 e 70. A figura 5 contém uma
zação em seu meio ambiente, pela esco- listagem e representação gráfica mais
lha de objetivos ou metas. ampla, enquanto a figura 6 contém os
E temos a variável processo decisório sete autores mais freqüentes. É fácil hoje
que engloba diversas variáveis e discipli- identificar as razões de algumas presen-
nas. O processo decisório pode ser trata- ças. A da dupla Katz e Kahn é devida ex-
do com ênfase em variáveis de Sociolo- clusivamente ao seu texto The Social 6. SIMON, Herbert. Administra-
gia Política ou de Ciência Política, como Psychology of Organízations, publicado em tive behavior. New York: Mac
Millan, 1947; __ The new
o poder e seu exercício. Pode ser visto 1965 e traduzido para o português no
o

science management decision.


como processo interativo que envolve início dos anos 70.7 Tal foi a popularida- New York: Harper, 1960.
conflito, cooperação e negociação. Pode de do livro entre nós que chegou a ser
7. KATZ, O., KAHN, P. L. The
ser visto ainda de uma perspectiva quan- editado pelo MEC - Ministério da Edu-
social psycology of organiza-
tificada e matematizada (é o caso das de- cação e Cultura - através de um progra- tions. New York: John W. Cey,
cision sciences), onde o que serve de fun- ma então existente de livros didáticos 1965.
damento é o conceito econômico de oti- para o terceiro grau. O livro chegou a ser
8. BLAU, P.. SCOTT, W. R. For-
mização ou maximização. Embora todas considerado o texto fundamental sobre a mai organizations, San Francis-
essas considerações sejam cabíveis, abordagem sistêmica de organizações e co: Chaudler, 1962.
quando se trata de processo decisório em sua rápida difu-
Análise Organizacional para uma boa são o tornou lei-
parte do período estudado, o que se tura e referência
obrigatórias a to-
Variáveis Organizacionais
deve considerar é a presença da chama-
da "escola do processo decisório", que dos que atuavam
teve sua base no Carnegie Mellon Insti- na área.
tute e que corporifica a contribuição de A presença de
Herbert Simon à Análise das Organiza- Peter Blau não se
6%
ções. A abordagem que Simon faz do deu pelas suas
processo decisório é interdisciplinar à melhores obras,
7%
medida que lida com variáveis psicológi- o que é lastimá-
cas, econômicas e matemáticas. Mas o vel. Não foram
que deu originalidade e identidade à teo- os trabalhos de
ria do processo decisório em Simon foi o Blau sobre Análi-
seu conceito de "racionalidade limitada" se Organizacio- 9%
(bounded rationality), pelo qual se afastam nal Comparada
Autoridade/Chefia
as possibilidades de otimização, que se- (The structure of _ Conflito/Cooperação
ria o domínio da racionalidade ilimitada organizations, The Liderança
e se adota o modelo satisficing, ou seja, organization of Treinamento
da melhor decisão possível, dadas todas academic work) _ Comunicação/Sistema de Informações
as limitações cognitivas que atingem as que marcaram Controle
_ Planelamento.Planejamento Estratégico
decisões ." sua presença en-
Mudança Organizacional
O fato de comentarmos mais detida- tre os autores re- Poder/Dominação
mente as sete variáveis principais não feridos, mas um Processo Decisório
significa que tenham sido as únicas abor- texto introdutó- _ Motivação

dadas ou utilizadas pelos autores. A fi- rio, realizado em ~!'.~~Tecnologia


II1II Ambiente Organizacional
gura 4 contém uma lista bem mais exten- parceria com W.
Missão/Metas e Objetivos Organizacionais
sa das variáveis e indica que os autores Richard Scott e _ Recursos Humanos
se inteiraram de praticamente todos os intitulado Formal _ Estrutura Organizacional
caminhos e desenvolvimentos da Análi- organizaiions." O

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ARTIGO

livro foi publicado no início dos anos 60 1n1c1O,um autor interessante e estimu-
e traduzido para o português pouco de- lante que motivou tanto autores voltados
pois, tendo se tornado muito difundido a conflitos entre dimensões individuais e
como uma introdução à Análise Organi- organizacionais, como profissionais de
zacional numa perspectiva funcionalista recursos humanos .10
e comparativa. O Argyris das décadas de 80 e 90, sem
A lista inclui dois "sobreviventes": perder a coerência com o que fez ante-
Chris Argyris e Peter Drucker, que já es- riormente, passa a tratar de mudança or-
tavam presentes nos anos 60 e 70, conti- ganizacional e individual. São estas duas
9. DRUCKER,P. The practice of nuam escrevendo e influenciando a Aná- preocupações que continuam responden-
management. New York: Harper
lise Organizacional nos anos 90. Ambos do pela atualidade de Argyris no mo-
and Row, 1954, traduzido para
o português como Prática da são exemplos de longevidade aliada à mento, e que o tornam interessante, não
administração de empresas. capacidade de se manterem atuantes só no mundo da mudança organizacio-
São Paulo: Pioneira, 1981; _ nal, do treinamento e desenvolvimento
An introductory view of mana-
num campo tão sujeito a modismos,
gement, 1973, traduzido para o onde autores e idéias são freqüentemen- de recursos humanos, como igualmente
português como Introdução à te entronizados para rapidamente serem atuante na área educacional.
Administração. São Paulo: Pio- Retomando os autores contidos na fi-
esquecidos. Para que pudessem ser so-
neira, 1984; __ Innovation
and entrepreneurship, 1985, breviventes, Argyris e Drucker se ocupa- gura 5, podemos agrupar alguns como
traduzido para o português ram de coisas diferentes em períodos di- Paul Lawrence e Jay Lorsch, Joan Wood-
como Inovação e espírito em- ward, Tom Burns e G. M. Stalker, à conta
versos. O Peter Drucker dos anos 60 e 70
preendedor. São Paulo: Pionei-
ra, 1987: __ Managing for the se popularizou e adquiriu influência da abordagem contingencial. Os primei-
tuture. New York: Truman Talley através de seu famoso e muito difundido ros foram Tom Bums e G. M. Stalker,
Books-Duttom, 1992; __ The
The practice of management, publicado no com o seu The managemeni of innooation,
post capitalist society, Oxford:
Buterworth-Heinemann, 1993. final da década de 50 e o seu famoso An entre nós mais citado que lido, mas que
introduciorv view of managemeni, publica- foi a largada para a "perspectiva" con-
10. ARGYRIS, Chris. Persona- do em meados dos anos 70. Estes dois tingencial.H O trabalho de P. Lawrence e
lity and organization. New York:
Harper and Row, 1957; Integra- textos eram do tipo abrangente e genera- J. Lorsch, Organizational cnuironmeni - ihe
ting the individual and the orga- lista, () que fez de Drucker quase o protó- managemeni of integraiion and dijferentia-
nization, New York: John Willey, tipo do guru da Teoria Geral da Admi- iion.í? e a monografia de J. Woodward,
1964; _ ....Organizational lear-
ning: a theory of action pets- nistração. Os seus textos dos anos 80 e os Industrial organization, tiveram impacto
pective, Reading: MA:Addison- dois últimos, nesta década, já se dirigem decisivo nos anos 70.13
Wesley, 1978; __ Overco- a tópicos diferentes, mantendo um estilo A presença de Douglas McGregor é
ming organizational defenses,
Allyn and Bacon, 1990; traduzi- ensaístico ou de coletânea de pequenos devida exclusivamente às suas famosas
do para o português como En- artigos. Entre eles estão lnnouation and Teoria X e Teoria Y, apresentadas no The
frentando defesas empresariais: entrepreneurship, Managing for lhe [uture e human side (~f enierprise, uma colocação
facilitando a aprendizagem or-
ganizacional, Rio de Janeiro: The post capitatist society. 9 que é um pouco tardia da Escola das Re-
Campus. 1992. Chris Argyris iniciou sua carreira ocu- lações Humanas, porém precursora dos
pando-se de uma interface nevrálgica e estilos participativos de gestão .14
11. BURNS, T., STALKER, G. M.
The management of tnnovstion. sempre fecunda, tanto para o pesquisa- Os nomes de A. Etzioni e J. D. Thornp-
Londres: Tavistock, 1961. dor como para o executivo e consultor. son podem ser remetidos ao estruturalis-
Trata-se das relações entre indivíduo e mo, através de dois textos: A compara tive
12. LAWRENCE.P, LORSCH,J
Organizational environment.
organização. A exploração deste tópico analysis af complex organizations e Organi-
Boston: Harvard Business norteou a produção intelectual do autor zations in aciion, respectivamente. 15 Am-
School Press, 1967. durante os anos 60 e parte dos anos 70. bos tiveram seu momento e seu espaço
Foi () período em que se fez mais presen- de influência, particularmente nos anos
13. WOODWARD, Joan. Indus-
trial organization: theory and te também no material publicado na 70. Foram presenças e perspectivas que
practice. London: Oxford Uni- RAE. Argyris é utilizado especialmente praticamente desapareceram ao longo
versity Press, 1965.
para realçar uma organização virtual- dos anos 80.
14. McGREGOR, D. The human mente opressiva, castradora e asfixiante,
side of enterprise. New York: e indivíduos em graus diversos de des-
Me Graw Hill. 1966.
valimento e indefensabilidade. As for-
15. ETZIONI, A. A comparative mas individuais de reação à ameaça or- A grande evidência presente na produ-
analysis of comp/ex organizatio- ganizacional, que podem ir da indiferen- ção brasileira, acumulada ao longo de
na/, New York: Free Press, mais de trinta anos, é que continua-
ça à adesão compulsiva, abrem caminho
1961; THOMPSON, J. D. O(ga-
nizations in action, New York: para a motivação, o envolvimento e no- mos consumidores, repetidores e di-
McGraw Hill, 1967. vos estilos de gestão. Argyris foi, desde o vulgadores de idéias produzidas alhu-

88 RAE • v. 34 • n. 3 • Mai./Jun. 1994


A EVOLUÇÃO DA ANÁLISE ORGANIZACIONAL NO BRASIL..

res; no caso, com predominância da cional, pois o


produção norte-americana. Acredita- mesmo pode- Figura
Autores mais citados
mos que não se trata de característica ria ser dito de 5
exclusiva da produção brasileira. praticamente 6%
Pode-se sugerir que, se investigação todas as áreas
semelhante fosse conduzida sobre a de conheci-
produção de países europeus como mento. Nas 5%
França, Itália, Alemanha e Áustria, Ciências So-
8%
provavelmente se encontraria o mes- ciais e também 8%
mo forte impacto da produção norte- nas geociên-
americana. Os assuntos tratados tam- cias, exatas e
bém indicam que os estudos brasilei- biológicas, a

-- ---
ros seguem a tendência do momento mesma ten-
nos países onde as idéias se originam, dência é en- 5% 7%
o que acarreta também a presença dos contrada. Tal
ARGYRIS LORSH
diversos modismos que se sucedem na se deve à pró- BLAU McGREGOR
produção da área. pria maneira BURNS scorr

-
como a ciência DRUCKER SIMON
A produção é predominantemente aca- é produzida e ETZIONI TAYLOR
KAHN THOMPSON
dêmica, tanto na temática, como no es- à enorme con-

••
KATZ WEBER
tilo e na abordagem. Não poderia ser centração da LAWRENCE WOODWARD
diferente, já que a RAE é um periódico capacidade
acadêmico. Se olharmos para periódi- científica em
cos claramente profissionais e dirigi- número reduzido de países. Atual-
dos a um público de Administração mente o eixo Estados Unidos, Europa
que não é acadêmico, como é o caso da Ocidental e Japão respondem por cer-
revista quinzenal Exame, constatare- ca de 90% da produção científica
mos que matérias de Análise Organi- mundial. Neste modo de organização
zacional são muito raras e, quando in- do mundo e da produção científica os
seridas, o são de forma light e sempre países que constituem o eixo referido
vinculada a problemas da prática ad- são estabelecedores de paradigmas
ministrativa. O fato de a Análise Orga- que os demais centros e autores, loca-
nizacional ter chegado ao país junta- lizados fora do eixo, tendem a adotar
mente com o ensino escolarizado de e seguir. A questão é que sendo o co-
Administração e o seu caráter de bus- nhecimento científico, em princípio e
ca de um espaço científico para a refle- sem aprofundar aqui discussão de
xão, sobre a prática administrativa, ex- problema tão complexo, dotado de
plicam a predominância de um tom universalidade, a sua validade permi-
acadêmico. A decorrência é que a par- tiria sua utilização para conhecer, ana-
te da produção brasileira voltada e en- lisar e gerar aplicações em todas as la-
volvida com aplicabilidade é reduzida. titudes e não apenas no eixo em que
Pode-se mesmo afirmar que a maioria são produzidas. A afirmação da uni-
dos autores têm por Administração versalidade é aceita em geociências,
um interesse que exclui a gestão, cen- exatas e biológicas. Mas quando che-
trando-se em reflexão, crítica e elabo- gamos às ciências humanas e sociais
ração teórica. levanta-se a questão do relativismo
cultural e temporal. E a área de Análi-
A produção nacional é de reduzida se Organizacional recebe também este
originalidade, o que é perceptível pe- tipo de advertência por parte de al-
los autores mais freqüentemente refe- guns autores. São as sempre ouvidas
ridos, quase todos norte-americanos e cautelas contra o que vem da Europa e
pelas variáveis versadas no material da América do Norte em nome da es-
produzido, também integrantes de es- pecificidade brasileira e de que, por-
colas ou conjuntos teóricos desenvol- tanto, é necessária uma Teoria Admi-
vidos fora do país. Esta não é caracte- nistrativa Brasileira. Esta posição foi
rística exclusiva da Análise Organiza- entre nós primeira e claramente de-

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ARTIGO

fendida por voltada, metodológica e empiricamen-


Figura Evolução das Referências Guerreiro Ra- te, às organizações brasileiras. 16
6 Bibliográficas mos, mas nun-
ca deixou de Considerando-se o impacto que o mar-
10 nº de citações encontrar sim- xismo teve sobre as ciências sociais bra-
patizantes que sileiras durante os anos 60 e 70, chegan-
9 continuam in- do a ser quase que exclusivo, especial-
sistindo na mente na versão paramarxista latino-
8
proposta. Pa- americana da Teoria da Dependência, é
7 rece-nos que digna de menção a ausência de artigos
pouco se avan- em Análise Organizacional que adotas-
6 çou além da- sem uma posição marxista ou "radical"
quilo que o ve- no sentido ang lo-saxônico do termo.
5
lho mestre Embora a Administração seja classifica-
4 propôs e, por- da como ciência social aplicada, os ad-
tanto, não po- ministradores não parecem ter sido tão
3 demos dizer sensíveis ao paradigma marxista pre-
que logramos dominante. Também não se encontra
2
produzir uma produção que seja do paradigma inter-
Análise Orga- pretacionista durante os anos 60 e 70 e
período nizacional Al- mesmo durante quase toda a década de
o ternativa à que 80; começando a surgir apenas recente-
61-70 71-80 81-93 nos veio da mente. É inegavelmente mais uma
_ ARGYRIS KATZ América do comprovação do predomínio do fun-
•• BLAU McGREGOR Norte e da Eu- cionalismo e também de alguma defa-
'{;,,~ DRUCKER _ SIMON
ropa, mas con- sagem entre o surgimento da literatura
KAHN TAYLOR
tinuamos a cri- interpretacionista, especialmente na
ticar a adequa- Europa, e sua divulgação entre nós.
ção das teorias produzidas no eixo
central à nossa realidade. A maioria A última observação diz respeito aos
dos autores, que certamente não ad- termos que emergiram ao longo dos
vogam a produção de uma Análise anos 80 e que incluem tópicos predo-
Organizacional especificamente brasi- minantemente acadêmicos como gêne-
leira, usando tranqüilamente idéias e ro, simbolismo e cultura organizacio-
variáveis produzidas alhures, também nal, e outros mais voltados à aplicabili-
não tem utilizado estas mesmas variá- dade como Reengenharia, Qualidade
veis para aprofundar o conhecimento de Vida no Trabalho, Downsizing e Or-
organizacional, fazendo uso de orga- ganizaiional Flatiening. Eles já vão sen-
nizações brasileiras. É uma literatura do encontrados na produção do final
raramente apoiada em pesquisa empí- da década passada e nos três últimos
rica, que divulga, elabora e critica em anos analisados. A manutenção das
torno dos paradigmas gerados no ex- tendências anteriores de pouca origina-
terior. O quadro talvez se altere se lidade e de retomada de variáveis que
considerarmos a produção que vem se são originárias dos Estados Unidos e
acumulando em alguns fóruns, como da Europa levariam a que se previsse
nos Encontros Anuais da ANPAD uma ênfase maior na aplicabilidade e
(Associação Nacional de Programas no declínio de artigos puramente refle-
de Pós-Graduação em Administra- xivos, particularmente dos que foram
ção), tIue nos parece representativa e colocados sob a variável epistemológi-
expressiva de um universo mais am- ca. Se não houver redução destes, pelo
plo de estudiosos de Análise Organi- menos se pode esperar um aumento de
16. MACHADO. C., CARNEIRO zacional. Clóvis Machado da Silva e temas vinculados à aplicabilidade, à
DA CUNHA. V., AMBONI, M. o- outros, por exemplo, procuram anali- medida que a Análise Organizacional,
ganizaçàes: O Estado da Arte da
sar a Teoria Organizacional de uma a partir da década passada, passou a
Produção Acadêmica no Brasil.
Anais da ANPAD. Belo Horizon- perspectiva crítica, desafiando o de- conferir maior espaço a uma perspecti-
te, 1990. senvolvimento de uma análise mais va gerencia lista.

90 Artigo recebido pela Redação da RAE em abril/94, avaliado e aprovado para publicação em maio/94.

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