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CAPÍTULO

A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA


4 SIMÉTRICA

4.1 INTRODUÇÃO

A transformação de PARK tem uma importância muito grande no estudo das


máquinas elétricas. Consiste de uma transformação linear que simplifica as equações
das máquinas, introduzindo um conjunto de variáveis hipotéticas.

Fisicamente, transforma a máquina bifásica com enrolamentos estatóricos fixos


e enrolamentos rotóricos girantes, em enrolamentos estatóricos fixos e rotóricos
pseudo-estacionários.

4.2 OBTENÇÃO DA TRANSFORMAÇÃO DE PARK

Foi demonstrado no capítulo 3, que sob a transformação αβ0 , os fluxos e as


correntes ficam relacionados pelas equações (4.1).

 φS0  i 
   L S0 0 0 0 0 0   S0 
 Sα  
φ 0 LS 0 0 m SR cos θ − m SR sen θ   iSα 
    
φ
 Sβ   0 0 LS 0 m SR sen θ m SR cos θ   iSβ 
φ  =  0 0 0 LR0 0 0
   (4.1)
 R0    iR0 
φR   0 m SR cos θ m SR sen θ 0 LR 0  
 α   i R α 
0 − m SR sen θ m SR cos θ 0 0 LR
 φ R β     i R 
 β

Os fluxos estatóricos podem ser reescritos segundo a expressão (4.2).

 φS   L 0 0   iS0   0 0 0  iR0 
 0   S0     0 m cos θ − m senθ  i 
 φSα  =  0 LS 0 
 α i S  +  SR SR   Rα  (4.2)
   0 
 i   
 φSβ  
0 LS   Sβ   0 mSR senθ mSR cos θ   i Rβ 
TEORIA FUNDAMENTAL DO MOTOR DE INDUÇÃO 65

Vamos definir um novo conjunto de correntes rotóricas, segundo a expressão


(4.3):

φ R   1 0 0   φR 0 
 0   
φ R d  =  0 cos θ − senθ φR α  (4.3)
φ   0 senθ cos θ   φR β 
 Rq  

Assim:

i R dq 0 = B −1 i R αβ 0 (4.4)

onde:

 1 0 0 
B −1
=  0 cos θ − sen θ (4.5)
 0 sen θ cos θ 

A matriz B-1 define a transformação de PARK.

4.3 PROPRIEDADES DA TRANSFORMAÇÃO DE PARK

Vamos representar a expressão (4.1) na forma compacta, segundo as


expressões (4.6) e (4.7), ignorando as componentes homopolares, que não serão
alteradas pela transformação de PARK.

φS αβ = LS I i S αβ + mSR B −1 i R αβ (4.6)

φR αβ = L R I i R αβ + mSR B i S αβ (4.7)

onde:

 cos θ sen θ 
B= (4.8)
− sen θ cos θ 

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66 CAPÍTULO 4. A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA SIMÉTRICA

1 0 
I =  (4.9)
0 1 

Aplicando-se a transformação B-1 na equação (4.7), obtém-se:

B −1φR αβ = mSR B −1B i S αβ + L R B −1B i R dq (4.10)

Assim:

φR dq = mSR I i S αβ + L R I i R dq (4.11)

A partir da expressão (4.6) obtém-se:

φS αβ = mSR I i R dq + LS I i S αβ (4.12)

Reunindo-se as equações (4.11) e (4.12) e representando-se na forma


matricial, encontra-se a expressão (4.13).

 φS0   iS0 
   LS0 0 0 0 0 0   
 φSα   0 LS 0 0 mSR 0   iSα 
    
 φSβ   0 0 LS 0 0 mSR   iSβ 
φ  =  0 0 0 LR0 0 0 
 i  (4.13)
 R0    R0 
 φR   0 mSR 0 0 LR 0  i R 
 d  0 0 mSR 0 0

L R   d
 φR q   i R q 
   

A expressão (4.13) mostra que as submatrizes indutâncias são diagonalizadas


pela transformação de PARK.

Convém chamar atenção para o fato de que as variáveis estatóricas não foram
transformadas; somente as variáveis rotóricas sofreram a ação da transformação de
PARK.

Fazendo-se o produto B −1 B obtém-se:

 cos θ − sen θ  cos θ sen θ  1 0


 sen θ = (4.14)
 cos θ  − sen θ cos θ  0 1

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TEORIA FUNDAMENTAL DO MOTOR DE INDUÇÃO 67

Portanto a transformação de PARK, como foi definida é ortogonal. Por isto, sob
esta transformação, a potência é invariante.

4.4 INTERPRETAÇÃO FÍSICA DA TRANSFORMAÇÃO DE PARK

Para interpretarmos fisicamente a transformação de PARK, vamos considerar


os sistemas de eixos representados na Fig. 4.1.

Rq


iR
iR
β
q θ Rα
iR
α

iR
d
θ Rd

Fig. 4.1 – Sistemas de eixo representando a transformada de Park.


Os eixos R α R β giram no sentido anti-horário com velocidade θ . Os eixos

R d R q estão em repouso. Tem-se assim dois enrolamentos girando, com correntes i R α

e i R β e dois estacionários com correntes i Rd e i R q . Todos os enrolamentos são

considerados idênticos.

Decompondo-se as forças magnetomotrizes dos enrolamentos girantes


segundo os eixos fixos e dividindo-se pelo número de espiras, encontra-se as relações
(4.15) e (4.16).

i R d = i R α cos θ − i R β senθ (4.15)

i R q = i R α senθ + i R β cos θ (4.16)

Na forma matricial obtém-se a expressão (4.17), que é a própria transformação


de PARK:

i R d   cos θ − senθ i R α 
i  =    (4.17)
 R q   senθ cos θ  i R β 

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68 CAPÍTULO 4. A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA SIMÉTRICA

Pode-se estabelecer assim que a transformação de PARK permite converter


um conjunto de enrolamentos girantes num conjunto de enrolamentos fixos, produzindo
os mesmos efeitos. As correntes dos enrolamentos fixos terão freqüência diferente das
correntes dos enrolamentos girantes.

A transformação de enrolamentos fixos em girantes coloca em evidência a


seguinte questão: os enrolamentos do rotor são fixos, mas o rotor encontra-se em
movimento. Isto só é possível numa máquina a comutador. Assim, a transformação de
PARK transforma enrolamentos comuns, alimentado através de anéis, em
enrolamentos alimentados através de escovas e comutador, que são também
conhecidos com o nome de enrolamentos pseudo-estacionários. Desse modo a
transformação de PARK pode ser realizada fisicamente. Na Fig. 4.2 está representada
a transformação física.

VRα
Rβ Rq

Rα VR q
Rd
VRβ

VR d

Fig. 4.2 – Representação física da transformada de Park.

Simbolicamente, a máquina antes e depois da transformação está


representada na Fig. 4.3 e Fig. 4.4.



Sq = S β

Rq
θ Sα
Rd Sd = S α
d
Fig. 4.3 – Máquina original.
Fig. 4.4 – Máquina transformada.

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4.5 TENSÕES DA MÁQUINA SOB A FORMA DE VARIÁVEIS DE PARK

O modelo elétrico em variáveis αβ é representado pelas equações (4.18) e


(4.19).

d
v S αβ = R S i S αβ + φS (4.18)
dt αβ

d
v R αβ = R R i R αβ + φR (4.19)
dt αβ

Aplicando-se a matriz B-1 na expressão (4.19) obtém-se a expressão (4.20).

B −1 v R αβ = B −1 R R B i R dq + B −1
(
d B φR
dq
) (4.20)
dt

dφR ∂B dθ
v R dq = R R i R dq + B −1B dq
+ B −1 φR (4.21)
dt ∂θ dq dt

∂B  cos θ − sen θ  − sen θ cos θ 


B −1 = (4.22)
∂θ  sen θ cos θ   − cos θ − sen θ 

Assim:

∂B  0 −1
B −1 = (4.23)
∂θ  1 0 

dφ R dθ  0 −1
v R dq = R R i R dq + dq
+ φR (4.24)
dt dt  1 0  dq

dφS
v S dq = R S i S dq + dq
(4.25)
dt

As expressões (4.25) e (4.24) podem ser reescritas segundo as expressões


(4.26) e (4.27) respectivamente.

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70 CAPÍTULO 4. A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA SIMÉTRICA

 vSd   R S 0  iSd   pLS 0  iSd   pmSR 0  i R d 


 =  +  +   (4.26)
 vSq   0 R S  iSq   0 pLS  iSq   0 pmSR  i R q 

 iSd   iSd 
   
 v R d   R R 0  i R d   mSR 0 L R 0   iSq  •  0 −1  mSR 0 L R 0   iSq 
 =   + p   + θ    (4.27)

 v R q   0 R R  i R q   0 mSR 0 L R  i R d  
 1 0   0 mSR 0 L R  i R d 
i  i 
 R q   R q 

Resumindo-se as expressões (4.26) e (4.27), encontra-se as equações (4.28).

 
 vSd   R S + pLS 0 pmSR 0   iSd 
    
 vSq   0 R S + pLS 0 pmSR   iSq 
 = • •  i  (4.28)
 v R d   pmSR mSR θ R R + pL R LR θ   Rd 
v    i R q 
 R q   − m θ• pmSR −LR θ

R R + pL R   
 SR

As expressões (4.28) representam as equações elétricas da máquina simétrica


trifásica (ou polifásica), com o referencial colocado no estator. Está sendo considerada
uma máquina de dois pólos. A generalização para um número genérico de pares de
pólos será apresentada mais adiante. As componentes homopolares quando existirem,
poderão ser adicionadas nas equações (4.28).

Estas equações são muito importantes e são capazes de representar a


máquina sob não importa qual condição de operação.

4.6 EXPRESSÃO DO TORQUE

Foi estabelecida a expressão do torque, com a seguinte forma:

t ∂LSR ( θ )
T = i S αβ i R αβ (4.29)
∂θ

mas,

L SR (θ ) = m SR B −1 (4.30)
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Portanto:

t ∂B −1
T = mSR i S αβ iR (4.31)
∂θ αβ

t ∂B −1
T = mSR i S dq Bi R dq (4.32)
∂θ

∂B −1  − sen θ − cos θ 
=  (4.33)
∂θ  cos θ − sen θ 

∂B −1  − sen θ − cos θ   cos θ sen θ 


B=   (4.34)
∂θ  cos θ − sen θ   − sen θ cos θ 

∂B −1  0 −1
B=  (4.35)
∂θ 1 0

Assim:

t  0 − 1
T = mSR i S dq  iR (4.36)
1 0  dq

0 −1 i R d 
T = mSR iSd iSq     (4.37)
1 0  i R q 

(
T = mSR iSq i R d − iSd i R q ) (4.38)

4.7 EQUAÇÕES COMPLETAS DA MÁQUINA

O modelo completo para a máquina de indução, com n pares de pólos é


representado pelas equações (4.39) e (4.40). Será considerada uma máquina em que
v R d = v R q = 0 (rotor em curto-circuito).

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72 CAPÍTULO 4. A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA SIMÉTRICA

 
 vSd   R S + pLS 0 pmSR 0   iSd 
    
 vSq   0 R S + pLS 0 pmSR   iSq 
 = • •  i  (4.39)
 0   pmSR n θ mSR R R + pL R n θ LR   Rd 
 0    i R q 
   −n θ• m pmSR

−n θ L R R R + pL R   
 SR

(
T = nmSR iSq i R d - iSd i R q ) (4.40)

ω
n= (4.41)
ωS

onde:

ω ⇒ Pulsação das tensões de alimentação.

ωS ⇒ Velocidade síncrona do motor.

4.8 GENERALIZAÇÃO DA TRANSFORMAÇÃO DE PARK

Neste item será estabelecido o modelo de PARK da máquina simétrica, para


um sistema de eixos de referência girando com velocidade qualquer, representado na
Fig. 4.5.

Os enrolamentos do estator, S α e Sβ estão em repouso. Os enrolamentos do


• •
rotor, R α e R β giram com velocidade θ . Os eixos d q giram com velocidade Ψ . Todos

os enrolamentos possuem o mesmo número de espiras.

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d

iR is
β β

is
d ωm
is Rα
q
q iR
iR d
q iR
α

θ
Ψ

is
α

Fig. 4.5 – Sistema de eixos de referência girando com velocidade qualquer.

Fazendo as projeções das forças magnetomotrizes do rotor e do estator sobre


os eixos de referência d q , obtém-se as expressões a seguir:

a)

iSd = i Sα cos Ψ + i Sβ senΨ (4.42)

iSq = −iSα senΨ + iSβ cos Ψ (4.43)

Representando-se na forma matricial obtém-se as expressões (4.44).

iSd   cos Ψ senΨ  iSα 


 =   (4.44)
 iSq   −senΨ cos Ψ  iSβ 

b)

i R d = i Rα cos ( Ψ − θ ) + i R β sen ( Ψ − θ ) (4.45)

i R q = -i Rα sen ( Ψ − θ ) + i R β cos ( Ψ − θ ) (4.46)

i R d   cos ( Ψ − θ ) sen ( Ψ − θ )   i Rα 
 =   (4.47)
 i R q   −sen ( Ψ − θ ) cos ( Ψ − θ )  i R β 

Os casos particulares, mais comumente empregados são os seguintes:

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74 CAPÍTULO 4. A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA SIMÉTRICA

I ) Referencial no estator ( Ψ = 0 )

iSd  1 0 iSα 
i  =    (4.48)
 Sq  0 1 iSβ 

i R d   cos θ − senθ i R α 
i  =    (4.49)
 R q   senθ cos θ  i R β 

II ) Referencial no rotor ( Ψ = θ )

iSd   cos θ senθ  iSα 


i  =    (4.50)
 Sq  − senθ cos θ  iSβ 

i R d  1 0 i R α 
i  =    (4.51)
 R q  0 1 i R β 

III ) Referencial no campo girante

Ψ = ωS t (4.52)

θ = ωm t (4.53)

iSd   cos ωS t senωS t  iSα 


i  =   i  (4.54)
 Sq  − senωS t cos ωS t   Sβ 

i R d   cos ( ωS - ωm ) t sen ( ωS - ωm ) t  i R α 
 =    (4.55)
i R q  -sen ( ωS - ωm ) t cos ( ωS - ωm ) t  i R β 
 

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TEORIA FUNDAMENTAL DO MOTOR DE INDUÇÃO 75

4.9 EQUAÇÕES DA MÁQUINA SIMÉTRICA NUM SISTEMA DE EIXOS


GENÉRICOS

Sejam as transformações definidas pelas expressões (4.56) e (4.57).

−1  cos Ψ sen Ψ 
BS =   (4.56)
 − sen Ψ cos Ψ 

−1  cos ( Ψ − θ ) sen ( Ψ − θ ) 
BR =   (4.57)
 − sen ( Ψ − θ ) cos ( Ψ − θ ) 

Sejam as equações elétricas da máquina, sob a forma de variáveis αβ ,


representadas pelas expressões (4.58) e (4.59).

dφS
v S αβ = R S i S αβ + αβ
(4.58)
dt

dφR
v R αβ = R R i R αβ + αβ
(4.59)
dt

Vamos aplicar a transformação BS-1 na equação (4.58).

dφS
−1 −1 −1
BS v S αβ = BS R S i S αβ + BS αβ
(4.60)
dt

−1
v S dq = BS R S BS i S dq + BS
−1
(
d BS φS
dq
) (4.61)
dt

−1
BS R S BS = R S (4.62)

dBS φS dq dφS dq ∂BS •


BS −1 = BS −1BS + BS −1 φS dq Ψ (4.63)
dt dt ∂Ψ

dBS  0 −1
BS −1 = (4.64)
dΨ  1 0 

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76 CAPÍTULO 4. A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA SIMÉTRICA

Levando-se (4.62), (4.63) e (4.64) em (4.61) obtém-se:

dφS 0 −1 •
v S dq = R S i S dq + dq
+ Ψ φS (4.65)
dt 1 0  dq

Adotando-se procedimento análogo para a equação elétrica do rotor, obtém-se:

dφR 0 −1  • • 
v R dq = R R i R dq + + dq
 Ψ− θ  φR dq (4.66)
dt 1 0   

Em seguida será deduzida a expressão do torque:

t ∂LSR ( θ )
T = i S αβ i R αβ (4.67)
∂θ

i S αβ = BS i S dq (4.68)

Assim:

t t t
i S αβ = i S dq B S (4.69)

i R αβ = B R i R dq (4.70)

Assim:

t t ∂LSR ( θ )
T = i S dq BS B R i R dq (4.71)
∂θ

mas,

LSR ( θ ) = mSR B −1 (4.72)

Assim:

t t ∂B −1
T = mSR i S dq BS B R i R dq (4.73)
∂θ

Assim:

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TEORIA FUNDAMENTAL DO MOTOR DE INDUÇÃO 77

(
T = mSR i R d iSd - i R q iSd ) (4.74)

Reunindo-se as equações (4.65), (4.66) e (4.74), desenvolvendo-se e


generalizando-se para n pares de pólos, obtém-se o modelo representado pelas
equações (4.75) e (4.76). Para o rotor em curto, basta fazer v R d = v R q = 0 .

 • •

 RS + pLS −LS Ψ n pmSR −mSR Ψ n 
 vSd     iS 
    d 
• •

 L Ψ n RS + pLS mSR Ψ n pmSR   iSq 


 vSq  S

 =  
(4.75)
 vR d   pmSR
 • •
−mSR  Ψ− θ  n R R + pLR
 • •
−LR n  Ψ− θ 
 iRd 
v        
 Rq    iRq 
  • •  • • 
 mSR  Ψ− θ  n pmSR LR n  Ψ− θ  R R + pLR 
   

(
T = n mSR iSq i R d − iSd i R q ) (4.76)

Quando a velocidade do motor varia com o tempo, as equações elétricas da


máquina são não-lineares. Para velocidade constante, o modelo torna-se linear.

Em qualquer das situações, a equação mecânica é não-linear, pois aparece o


produto de duas correntes.

O modelo obtido representa a máquina para qualquer situação e para qualquer


referencial.

4.10 MODELO DQ REFERIDO AO PRIMÁRIO

Ao se estabelecer as equações da máquina simétrica representadas pelas


equações (4.75) e (4.76), não se fez referências à relação de transformação entre os
enrolamentos estatóricos e rotóricos. Assim, ao se empregar as referidas equações,
deve-se empregar os parâmetros do estator medidos no estator e os do rotor medidos
no lado do rotor.

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78 CAPÍTULO 4. A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA SIMÉTRICA

Porém, quando se trata de uma máquina com rotor em gaiola, não se tem
acesso ao rotor. Todos os parâmetros são referidos ao estator. Por isto as equações da
máquina devem ser desenvolvidas para permitir o emprego desses parâmetros
medidos em relação a um só lado.

Para realizar tal modificação, será aplicada a transformação primária-


secundária, que será apresentada com detalhes no capítulo 7, e que aqui está
representada pela expressão (4.77):

 vSd  0 0 0   Sd 
v
  1  
 vSq   0 1 0 0   vSq 
 ' =   (4.77)
 vRd  0 0 a 0  vRd 
 '   0 
0 0 a  v 
 v R q   R q 

Assim:

 vSR '  = P S −1 [ vSR ] (4.78)


 

Onde a é a relação entre o número de espiras do estator e o número de espiras


do rotor.

A matriz PS-1 refere todas as tensões ao estator.

Para as correntes, a transformação é dada pela expressão (4.79).

 íS d   1 0 0 0   iS d 
    
 iS q  =  0 1 0 0   iSq 
i 'R   (4.79)
0 0 1 a 0  i R d 
 ' d   
i R q   0 0 0 1 a  i R q 

'
i SR = P S i SR (4.80)

Em seguida a transformação será aplicada nas equações da máquina.

'
v SR = Z i SR (4.81)

' '
P S v SR = Z P S −1 i SR (4.82)

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TEORIA FUNDAMENTAL DO MOTOR DE INDUÇÃO 79

' '
v SR = P S −1Z P S −1 i SR (4.83)

onde Z é dada pela expressão (4.84).

 • •

 R S + pLS − LS Ψ n pmSR −mSR Ψ n 
 
 • •

 L S Ψ n R S + pLS mSR Ψ n pmSR 
Z=  (4.84)
  • •  • • 
 pmSR − mSR  Ψ− θ  n R R + pL R −L R n  Ψ− θ  
   
 
  • •  • • 
 m SR  Ψ− θ  n pmSR L R n  Ψ− θ  R R + pL R 
    

Realizando o produto matricial determinado pela expressão (4.83),


encontramos as equações representadas pela expressão (4.85).

Quando os parâmetros são obtidos por ensaio, a relação de transformação é


desconhecida. Isto não apresenta dificuldade na análise, uma vez que eles serão
determinados em relação ao estator. Desse modo todas as grandezas rotóricas, como
tensão e corrente, ficam determinadas também referidas ao estator.

 • •

 RS + pLS −LS Ψ n p ( a mSR ) − ( a mSR ) Ψ n 
 vSd    i 
    Sd
• •
L Ψ n RS + pLS ( a mSR ) Ψ n p ( a mSR )   i 
 vSq   S
S 
 ' =    q'  (4.85)
vRd   p ( a m )  • •
−a mSR  Ψ− θ  n a ( RR + pLR )
2  • •  i
−n  Ψ− θ  a2 LR   Rd 
 '  SR
     '
v
 q 
R   iRq 
  • •  • •  
 a mSR  Ψ− θ  n p ( a mSR ) n  Ψ− θ  a 2 LR a 2 ( RR + pLR ) 
     

Através de ensaios clássicos, a vazio e em curto-circuito, pode-se determinar


os parâmetros elétricos.

1) a m SR = m1 ⇒ indutância magnetizante medida em relação

ao estator.

2) LS = A1 + m1 ⇒ sendo A1 a indutância de dispersão do

estator.

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80 CAPÍTULO 4. A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA SIMÉTRICA

'
3) a 2 L R = A 2 + m1 = L R ⇒ sendo A 1 a indutância de dispersão do rotor
referida ao estator.

4) R S ⇒ resistência do estator.

'
5) a 2 R R = R R ⇒ resistência do rotor referida ao estator.

Desse modo as equações elétricas passam a ser representadas pela


expressão (4.86):

 •
 •

 RS + pLS −LS Ψ n pm1 −m1 Ψ n



 vS     iSd 
 d  • •
 
 vS   LS Ψ n RS + pLS m1 Ψ n pm1   iSq 
 =
q
  (4.86)
vR '    • • ' '  • •  '  iRd ' 
 d   pm1 −m1  Ψ−θ n RR + pLR −n  Ψ−θ LR   
vR '      
 iR ' 
 q    • •  • •
 ' ' ' 
 q
m1  Ψ−θ n pm1 n  Ψ−θ LR RR + pLR 
  

( '
T = nm1 iSq i R d - iSd i R d
'
) (4.87)

O torque fica representado pela expressão (4.87).

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TEORIA FUNDAMENTAL DO MOTOR DE INDUÇÃO 81

4.11 EXERCÍCIOS PROPOSTOS

1) Seja:

vS1 = 2 Vsen ( ωS t + θ )

vS2 = 2 Vsen ( ωS t − 120° + θ )

vS3 = 2 Vsen ( ωS t + 120° + θ )

Determinar vS0 , vSd e vSq para o referencial colocado no estator e colocado no

campo girante.

2) Um motor de indução é alimentado por um inversor do tipo 180° . As formas de onda


impostas em cada fase estão representadas abaixo. Obter e representar graficamente
as tensões vS0 , vSd e vSq .

(2E/3)
vS (E/3)
1
O O O O
0 60 120 180

(2E/3)
vS (E/3)
2

vS (2E/3)
3
(E/3)

Fig. 4.6 – Formas de onda impostas as fases de um motor trifásico.

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82 CAPÍTULO 4. A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA SIMÉTRICA

3) Obter o modelo de estado do motor de indução, para um referencial genérico, em


termos de variáveis dq.

4) Considere o modelo do motor de indução com referencial no campo girante. Seja:

vS1 = 2VsenωS t

vS2 = 2Vsen ( ωS t + 120° )

vS3 = 2Vsen ( ωS t − 120° )

Consideremos o motor em regime permanente.

(a) As tensões vSd e vSq são funções do tempo? Por que?

(b) As correntes iSd , iS q , i R d e i R q são funções do tempo? Por que?

5) Seja o enrolamento trifásico rotórico de uma máquina de indução, girando no sentido


anti- horário em relação ao estator. Seja:

v R1 = 2VR sen ( ωR t + ∆ )

v R 2 = 2VR sen ( ωR t − 120° + ∆ )

v R 3 = 2VR sen ( ωR t + 120° + ∆ )

Seja ωR + ωm = ωS onde:

ωm ⇒ velocidade do rotor

ωS ⇒ pulsação das correntes do estator

ωR ⇒ pulsação das correntes do rotor

a) Determinar as tensões v R 0 , v R α e v Rβ . Qual a freqüência dessas tensões?

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TEORIA FUNDAMENTAL DO MOTOR DE INDUÇÃO 83

b) Determinar as tensões v R 0 , v R d e v R q para um referencial colocado no estator. Qual a

freqüência dessas tensões?

Supor em seguida que:

v R1 = 2VR sen ( ωR t + ∆ )

v R 2 = 2VR sen ( ωR t + 120° + ∆ )

v R 3 = 2VR sen ( ωR t − 120° + ∆ )

Repetir as questões a) e b). A freqüência das tensões mudou? Por que?

6) Seja uma máquina de indução trifásica onde:

θ = ωm t + θ0

ωS = ωm + ωR

iS1 = ISsen ( ωS t + φ )

iS2 = ISsen ( ωS t − 120° + φ )

iS3 = ISsen ( ωS t + 120° + φ )

i R1 = I R sen ( ωR t + ∆ )

i R 2 = I R sen ( ωR t − 120° + ∆ )

i R 3 = I R sen ( ωR t + 120° + ∆ )

Determinar a expressão do torque desenvolvido pela máquina, partindo da


expressão:

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84 CAPÍTULO 4. A TRANSFORMAÇÃO DE PARK E A MÁQUINA SIMÉTRICA

T = mSR ( iSq i Rd − iSd i Rq )

7) Um motor de indução pode ser empregado como freio, impondo-se a seguinte


alimentação:

(a) a fase α do estator é alimentada por uma corrente contínua ICC.

(b) a fase β do estator é mantida aberta.

Nessas condições, empregando o modelo de PARK com referencial no estator,


determinar:

(a) a expressão do torque desenvolvido pelo motor em função da velocidade.

(b) a velocidade, em função dos parâmetros da máquina, para a qual o torque é


máximo.

(c) a expressão do torque máximo.

8) Considere o modelo de PARK motor de indução com o referencial no campo girante.


Seja uma fonte que imponha as correntes estatóricas do motor. Assim:

iSd = IS senωS t

iSq = IS cos ωS t

Determinar as expressões das correntes i R d e i R q e do torque desenvolvido

pelo motor.

9) Considere um motor de indução de rotor bobinado em repouso. No instante t = 0 as


três fases do estator são subitamente alimentadas com tensões senoidais
balanceadas. Determinar a evolução das tensões rotóricas em função do tempo.
Considerar os enrolamentos rotóricos abertos.

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TEORIA FUNDAMENTAL DO MOTOR DE INDUÇÃO 85

10) Considere uma máquina de indução bifásica com rotor em gaiola. A fase d é
alimentada por uma tensão do tipo:

vSd = 2V sen ωS t

A fase q é mantida aberta. A máquina é acionada por um motor auxiliar.

Demonstrar que a tensão vSq é função da


q velocidade do rotor. Que condições devem
ser satisfeitas para que a relação entre
vSq e ωm seja linear ?

Empregar as equações de PARK para o


ωm
referencial colocado no estator. Este
d
sistema é conhecido como tacogerador de
indução. A sua característica principal é o
vS
d
fato da tensão gerada vSq apresentar
Fig. 8.7 – Máquina de indução bifásica com rotor em
gaiola. freqüência constante, igual à freqüência
da tensão vSd de excitação.

11) Refazer o exercício número 10, supondo que o enrolamento d do estator é


alimentado por uma fonte que lhe impõe uma corrente senoidal.

12) Refazer o exercício número 10, supondo que o enrolamento d é alimentado por
uma corrente contínua.

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