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NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE COMENTADA - LEI 13.

869/2019

AUTORA: ALYNNE PATRICIO DE ALMEIDA SANTOS

Possui graduação em Bacharelado em Direito pela Universidade Federal do Ceará-UFC


(2003). Especialista em Ciências Penais pela Universidade do Sul de Santa Catarina-
UNISUL. Desde 2004 é Defensora Pública do Estado do Piauí atualmente titular da 8a
Defensoria de Familia. Vice-Presidente da OAB PI Gestão triênio 2019/2021. Professora
da Pós Graduação em Ciências Criminais da Escola do Legislativo do Piauí. Professora
de Direito Penal e De Direito Processual Penal do Instituto INAPI. Coach de Carreiras
Jurídicas formada pelo Instituto Brasileiro de Coaching. Já foi Professora da Faculdade
Tecnológica do Piauí-FATEPI, da Faculdade Maurício de Nassau-FAP Teresina e do
CERS Cursos Online. Membro da Comissão Nacional de Acesso à Justiça do Conselho
Federal da OAB.

“É uma verdade eterna:


Qualquer pessoa que tenha o poder tende a
abusar dele.
Para que não haja abuso, é preciso organizar as
coisas de maneira que o poder seja contido pelo
poder”.

Barão de Montesquieu

LEI Nº 13.869, DE 5 DE SETEMBRO DE 2019


VIGÊNCIA A PARTIR DE 03/01/2020

Dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade; altera a Lei nº 7.960, de 21 de


dezembro de 1989, a Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, a Lei nº 8.069, de 13 de julho
de 1990, e a Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994; e revoga a Lei nº 4.898, de 9 de
dezembro de 1965, e dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal).

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente
público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las,
abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.

§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade


quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.

1
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não
configura abuso de autoridade.

CAPÍTULO II

DOS SUJEITOS DO CRIME

Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público,


servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território,
compreendendo, mas não se limitando a:

I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;

II - membros do Poder Legislativo;

III - membros do Poder Executivo;

IV - membros do Poder Judiciário;

V - membros do Ministério Público;

VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.

Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato,
cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo.

CAPÍTULO III

DA AÇÃO PENAL

Art. 3º (VETADO).

Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública


incondicionada. (Promulgação partes vetadas)

§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no
prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer
denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de
prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar
a ação como parte principal.

§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado


da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia.

CAPÍTULO IV

DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS

Seção I

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Dos Efeitos da Condenação

Art. 4º São efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o


juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos
danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos;

II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo


período de 1 (um) a 5 (cinco) anos;

III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.

Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são
condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são
automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença.

Seção II

Das Penas Restritivas de Direitos

Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade


previstas nesta Lei são:

I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;

II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1


(um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens;

III - (VETADO).

Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma


ou cumulativamente.

CAPÍTULO V

DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA

Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das


sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis.

Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta
funcional serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração.

Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal,


não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas
questões tenham sido decididas no juízo criminal.

Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-


disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de
necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito.

3
CAPÍTULO VI

DOS CRIMES E DAS PENAS

Art. 9º (VETADO).

Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade


com as hipóteses legais: (Promulgação partes vetadas)

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de


prazo razoável, deixar de:

I - relaxar a prisão manifestamente ilegal;

II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder


liberdade provisória, quando manifestamente cabível;

III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.’

Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado


manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Art. 11. (VETADO).

Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade


judiciária no prazo legal:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou


preventiva à autoridade judiciária que a decretou;

II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde


se encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada;

III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de


culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das
testemunhas;

IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de


prisão preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo
justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido
ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal.

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou


redução de sua capacidade de resistência, a:

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I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;

II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;

III - (VETADO).

III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: (Promulgação partes


vetadas)

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena


cominada à violência.

Art. 14. (VETADO).

Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. (VETADO).

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o


interrogatório: (Promulgação partes vetadas)

I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou

II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor
público, sem a presença de seu patrono.

Art. 16. (VETADO).

Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião


de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou
prisão: (Promulgação partes vetadas)

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por


interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração penal, deixa de
identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função.

Art. 17. (VETADO).

Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso


noturno, salvo se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido,
consentir em prestar declarações:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à


autoridade judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das
circunstâncias de sua custódia:

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Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento


ou da demora, deixa de tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo
competente para decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária
que o seja.

Art. 20. (VETADO).

Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com
seu advogado: (Promulgação partes vetadas)

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o
investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou
defensor, por prazo razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e
com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso
de audiência realizada por videoconferência.

Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de


confinamento:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança
ou adolescente na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado,
observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente).

Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da


vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas
mesmas condições, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em
lei:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:

I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso


a imóvel ou suas dependências;

II - (VETADO);

III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma
horas) ou antes das 5h (cinco horas).

§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver
fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de
flagrante delito ou de desastre.

Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de


processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de

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responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a
responsabilidade:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:

I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no


curso de diligência;

II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos


para desviar o curso da investigação, da diligência ou do processo.

Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado


de instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito
já tenha ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua
apuração:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena


correspondente à violência.

Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou


fiscalização, por meio manifestamente ilícito:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do
investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude.

Art. 26. (VETADO).

Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de


infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da
prática de crime, de ilícito funcional ou de infração administrativa:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação


preliminar sumária, devidamente justificada.

Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que
se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a
imagem do investigado ou acusado:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou
administrativo com o fim de prejudicar interesse de investigado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. (VETADO).

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Art. 30. (VETADO).

Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem
justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente: (Promulgação partes
vetadas)

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo


do investigado ou fiscalizado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução
ou conclusão de procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em
prejuízo do investigado ou do fiscalizado.

Art. 32. (VETADO).

Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de
investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro
procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como
impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em
curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo seja
imprescindível: (Promulgação partes vetadas)

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de fazer


ou de não fazer, sem expresso amparo legal:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função


pública ou invoca a condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou
para obter vantagem ou privilégio indevido.

Art. 34. (VETADO).

Art. 35. (VETADO).

Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros


em quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida
da parte e, ante a demonstração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de
corrigi-la:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que


tenha requerido vista em órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu andamento
ou retardar o julgamento:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

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Art. 38. (VETADO).

Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação,


inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e
formalizada a acusação: (Promulgação partes vetadas)

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

CAPÍTULO VII

DO PROCEDIMENTO

Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos previstos nesta Lei,
no que couber, as disposições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
1941 (Código de Processo Penal), e da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

CAPÍTULO VIII

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 40. O art. 2º da Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, passa a vigorar


com a seguinte redação:

“Art.2º .......................................................................................................

........................................................................................................................

§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração da prisão


temporária estabelecido no caput deste artigo, bem como o dia em que o preso deverá
ser libertado.

.........................................................................................................................

§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável pela


custódia deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr
imediatamente o preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação
da prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva.

§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo do prazo de


prisão temporária.” (NR)

Art. 41. O art. 10 da Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, passa a vigorar com a
seguinte redação:

“Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de


informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça,
sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a


execução de conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado em
lei.” (NR)

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Art. 42. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 227-A:

“Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do


Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para os crimes
previstos nesta Lei, praticados por servidores públicos com abuso de autoridade, são
condicionados à ocorrência de reincidência.

Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso, independerá


da pena aplicada na reincidência.”

Art. 43. (VETADO).

Art. 43. A Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, passa a vigorar acrescida do


seguinte art. 7º-B: (Promulgação partes vetadas)

‘Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado previstos nos
incisos II, III, IV e V do caput do art. 7º desta Lei:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.’”

Art. 44. Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, e o § 2º do art.


150 e o art. 350, ambos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal).

Art. 45. Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de sua
publicação oficial.

Brasília, 5 de setembro de 2019; 198o da Independência e 131o da República.

NOÇÕES GERAIS

A NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE

Lei nº 4.898/65
O abuso de autoridade já era punido criminalmente pela Lei nº 4.898/65.
A Lei nº 4.898/65 é revogada pela Lei nº 13.869/2019, que passa a regular inteiramente
o tema.

Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por


agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto
de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.

Lei nº 13.869/2019

A Lei nº 13.869/2019 define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por...


- agente público,
- seja ele servidor ou não,

10
- que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las,
- abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.

Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente


público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios
e de Território, compreendendo, mas não se limitando a:

I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;

II - membros do Poder Legislativo;

III - membros do Poder Executivo;

IV - membros do Poder Judiciário;

V - membros do Ministério Público;

VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.

Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos
pelo caput deste artigo.

SUJEITOS DO CRIME

Crimes próprios
Os crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 são próprios, ou seja, só podem ser
praticados por “agentes públicos”, nos termos do art. 2º.

Sujeito ativo
É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade...
- qualquer agente público,
- seja servidor público ou não,
- da administração direta, indireta ou fundacional
- de qualquer dos Poderes
- da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território.

Conceito de agente público


Reputa-se agente público, para os efeitos da Lei de abuso de autoridade:
- todo aquele que exerce,
- ainda que transitoriamente ou sem remuneração,
- por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de
investidura ou vínculo,
- mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade da Administração Pública
direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes, em todas as esferas.

Rol exemplificativo de sujeitos ativos


A Lei traz um rol exemplificativo de sujeitos ativos.
Assim, podem ser sujeitos ativos dos crimes de abuso de autoridade, dentre outros:

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I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II - membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - membros do Poder Judiciário;
V - membros do Ministério Público;
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.

Concurso de pessoas
Embora sejam crimes próprios, os delitos previstos na Lei nº 13.869/2019 admitem a
coautoria e a participação. Isso porque a qualidade de “agente público”, por ser
elementar do tipo, comunica-se aos demais agentes, nos termos do art. 30 do Código
Penal, desde que eles tenham conhecimento dessa condição pessoal do autor:
Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo
quando elementares do crime.

ATENÇÃO!! Deve-se destacar que, por força da proibição de analogia in mala partem,
não se admite que os tutores, curadores, inventariantes judiciais, administradores
judiciais, depositários judiciários, diretores de sindicatos ou quaisquer outros que
exerçam os chamados múnus públicos não podem ser sujeitos ativos isolados dos
crimes de abuso de autoridade, salvo a hipótese acima aventada de concurso de
agentes.

Sujeito passivo
Os crimes de abuso de autoridade previstos na Lei nº 13.869/2019 são delitos de “dupla
subjetividade passiva”. Isso porque são condutas que atingem dois sujeitos passivos.
O sujeito passivo principal ou imediato é a pessoa física ou jurídica diretamente atingida
ou prejudicada pela conduta abusiva. Ex: o preso, no caso do art. 13.
O sujeito passivo secundário ou mediato é o Estado (Poder Público) que tem a sua
imagem, credibilidade e até patrimônio ofendidos quando um agente seu pratica ato
abusivo.

ELEMENTO SUBJETIVO

Elemento subjetivo especial


Todos os delitos previstos na Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/2019) são
dolosos.
Além disso, exige-se um elemento subjetivo especial (especial fim de agir, “dolo
específico”).

Elemento subjetivo especial dos crimes de abuso de autoridade


O agente só 1) ao praticar a conduta tinha a finalidade específica de:
comete crime de • prejudicar alguém; ou
abuso de • beneficiar a si mesmo ou a terceiro; OU
autoridade se: 2) tiver praticado a conduta por mero capricho ou satisfação
pessoal.

É o que prevê o § 1º do art. 1º da Lei:


§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade
quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem
ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação
pessoal.

Divergência de interpretação ou de avaliação dos fatos

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A atuação dos operadores do Direito envolve constantemente a interpretação de leis e
atos normativos e a apreciação de fatos e provas.
Ocorre que, por mais que sejam utilizados critérios e métodos teóricos para o exercício
de tais atividades, o certo é que elas possuem boa dose de subjetividade. Essa
subjetividade faz com que surjam divergências na interpretação da lei ou na avaliação
dos fatos e provas.
Tais divergências, por si só, não poderiam ser punidas como abuso de autoridade.
Pensando nisso, o § 2º do art. 1º da Lei prevê tais situações como causa de exclusão
da tipicidade nos seguintes termos:

§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não


configura abuso de autoridade.

Ex: o membro do Ministério Público denuncia o acusado afirmando que sua conduta
configura o crime “X”. Ocorre que existe uma segunda corrente – diversa daquela
sustentada pelo MP – que defende que essa conduta é atípica. O juiz adota essa
segunda posição e rejeita a denúncia por entender que não a situação não se amolda
àquele tipo penal. O simples fato de haver essa divergência de interpretação não gera
a conclusão de que o integrante do Parquet tenha agido com abuso de autoridade.

Ex2: o Promotor de Justiça denuncia o acusado por furto por entender que ele é o único
que estava no local quando o bem foi subtraído, tendo ele sido visto pelas testemunhas
com um objeto escondido debaixo da camisa. Durante a instrução ficou demonstrado
que o acusado não estava com a res furtiva e que, portanto, ele era inocente. A simples
divergência na avaliação dos fatos e das provas não gera a conclusão de que o membro
do MP tenha agido com abuso de autoridade.

O objetivo deste dispositivo foi o de evitar aquilo que Rui Barbosa chamou de “crime de
hermenêutica”, que ocorre quando o operador do Direito (em especial o magistrado) é
responsabilizado criminalmente pelo simples fato de sua intepretação ter sido
considerada errada pelo Tribunal revisor.
O tema não é novo e, como dito, Rui Barbosa, há muitos anos, já condenava as
tentativas de se criar o “crime de hermenêutica”:
“Para fazer do magistrado uma impotência equivalente, criaram a novidade da doutrina,
que inventou para o Juiz os crimes de hermenêutica, responsabilizando-o penalmente
pelas rebeldias da sua consciência ao padrão oficial no entendimento dos textos.
Esta hipérbole do absurdo não tem linhagem conhecida: nasceu entre nós por geração
espontânea. E, se passar, fará da toga a mais humilde das profissões servis,
estabelecendo, para o aplicador judicial das leis, uma subalternidade constantemente
ameaçada pelos oráculos da ortodoxia cortesã. Se o julgador, cuja opinião não condiga
com a dos seus julgadores na análise do Direito escrito, incorrer, por essa dissidência,
em sanção criminal, a hierarquia judiciária, em vez de ser a garantia da justiça contra
os erros individuais dos juízes, pelo sistema dos recursos, ter-se-á convertido, a
benefício dos interesses poderosos, em mecanismo de pressão, para substituir a
consciência pessoal do magistrado, base de toda a confiança na judicatura, pela ação
cominatória do terror, que dissolve o homem em escravo. (...)” (Obras Completas de Rui
Barbosa, Vol. XXIII, Tomo III, p. 228).

Na vigência da antiga Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 4.898/65), a jurisprudência já


rechaçava a possibilidade de se responsabilizar criminalmente o magistrado pela mera
divergência de interpretação:
(...) 1. Faz parte da atividade jurisdicional proferir decisões com o vício in judicando e in
procedendo, razão por que, para a configuração do delito de abuso de autoridade há
necessidade da demonstração de um mínimo de "má-fé" e de "maldade" por parte do
julgador, que proferiu a decisão com a evidente intenção de causar dano à pessoa.

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2. Por essa razão, não se pode acolher denúncia oferecida contra a atuação do
magistrado sem a configuração mínima do dolo exigido pelo tipo do injusto, que, no caso
presente, não restou demonstrado na própria descrição da peça inicial de acusação
para se caracterizar o abuso de autoridade. (...)
STJ. Corte Especial. APn 858/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
24/10/2018.

AÇÃO PENAL

Ação pública incondicionada


Todos os crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 são de ação penal pública
incondicionada:

Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.

Mesmo que o caput do art. 3º da Lei não previsse isso, a ação penal seria pública
incondicionada por força do art. 100 do Código Penal.

Ação penal privada subsidiária da pública

O § 1º do art. 3º da Lei nº 13.869/2019 prevê o seguinte:

§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer
denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal.

Trata-se da chamada ação penal privada subsidiária da pública.


O Ministério Público tem um prazo previsto na lei para o ajuizamento da ação penal
pública. Se o membro do Parquet não oferece a denúncia neste prazo, o ordenamento
jurídico permite que o ofendido (a vítima) tome a providência que o MP deveria ter feito
e ofereça a ação penal em nome próprio. Neste caso, o ofendido apresenta uma queixa-
crime substitutiva (supletiva) da denúncia.
Ex: imagine que João foi vítima de abuso de autoridade praticado pelo Delegado; o MP
não oferece a denúncia no prazo legal; João (ofendido) poderá suprir essa inércia do
MP propondo uma queixa que substituindo a denúncia que deveria ter sido oferecida
pelo Parquet. Isso é chamado de ação privada subsidiária da pública.

O prazo para o oferecimento da denúncia está previsto no art. 46 do CPP:


• estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério
Público receber os autos do inquérito policial;
• se o réu estiver solto ou afiançado, o prazo é de 15 dias.

Ação privada subsidiária é instrumento para suprir eventual inércia do MP, não
para se contrapor à providência adotada pelo órgão ministerial
Ao final do prazo legal previsto no art. 46 do CPP, o membro do Ministério Público tem,
basicamente, quatro possibilidades:
a) oferecer denúncia;
b) requisitar a realização de novas diligências;
c) pedir o arquivamento;
d) requerer a declinação de competência.

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Para que o ofendido possa ajuizar a ação privada subsidiária, é necessário que o
membro do MP fique completamente inerte no prazo legal do art. 46 do CPP, ou seja,
que não adote nenhuma dessas quatro providências.
Assim, se o Promotor de Justiça/Procurador da República pedir o arquivamento do
inquérito policial, o ofendido, mesmo que discorde disso, não poderá ajuizar a ação
privada subsidiária considerando que não houve inércia do MP. Se o ofendido oferecer
ação privada subsidiária neste caso, o juiz deverá rejeitar a queixa substitutiva por
ilegitimidade de parte.
Reiterando: a ação privada subsidiária só pode ser ajuizada em caso de inércia do MP,
não servindo como instrumento para que o ofendido discorde da providência tomada
pelo Parquet.

Alguns julgados sobre o tema:


Somente é possível a ação penal subsidiária da pública quando restar configurada
inércia do Ministério Público, não sendo cabível nas hipóteses de arquivamento de
inquérito policial promovido pelo membro do Parquet e acolhido pelo juiz.
No caso concreto, não houve desídia do órgão acusador que, conforme reconhecido
pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, propôs o arquivamento do inquérito
policial, entendendo não haver condições de procedibilidade para o oferecimento da
denúncia em razão da inexistência de relevância jurídica na conduta investigada.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1508560/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
06/11/2018.

A ação privada subsidiária da pública só é possível quando o Órgão Ministerial se


mostrar desidioso e não se manifestar no prazo previsto em lei. Se o Ministério Público
promove o arquivamento do inquérito ou requer o seu retorno ao delegado de polícia
para novas diligências, não cabe queixa subsidiária; se oferecida, a rejeição se impõe
por ilegitimidade de parte, falta de pressuposto processual da ação.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1049105/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 18/10/2018.

É incabível a impetração de mandado de segurança por parte da vítima contra decisão


que determina o arquivamento de inquérito policial, seja por considerá-la desprovida de
conteúdo jurisdicional, seja devido ao fato de que o titular da ação penal pública
incondicionada é o Ministério Público, não sendo cabível o eventual oferecimento de
ação penal privada subsidiária sem a prova de sua inércia.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RMS 51.404/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/05/2019.

O tema foi objeto de recurso extraordinário submetido à sistemática da repercussão


geral, tendo sido fixadas as seguintes teses:
(...) Questão constitucional resolvida no sentido de que: (i) o ajuizamento da ação penal
privada pode ocorrer após o decurso do prazo legal, sem que seja oferecida denúncia,
ou promovido o arquivamento, ou requisitadas diligências externas ao Ministério
Público. Diligências internas à instituição são irrelevantes; (ii) a conduta do Ministério
Público posterior ao surgimento do direito de queixa não prejudica sua propositura.
Assim, o oferecimento de denúncia, a promoção do arquivamento ou a requisição de
diligências externas ao Ministério Público, posterior ao decurso do prazo legal para a
propositura da ação penal, não afastam o direito de queixa. Nem mesmo a ciência da
vítima ou da família quanto a tais diligências afasta esse direito, por não representar
concordância com a falta de iniciativa da ação penal pública. (...)
STF. Plenário virtual. ARE 859251 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
16/04/2015.

Legitimidade

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A legitimidade para a ação privada subsidiária é do ofendido (vítima) ou de seu
representante legal (art. 31 do CPP).

Prazo para oferecimento da ação privada subsidiária


Segundo o § 2º do art. 3º, o ofendido tem o prazo de 6 meses para oferecer a queixa
substitutiva:

§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado


da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia.

Importante esclarecer que se trata de um prazo decadencial impróprio considerando


que, mesmo após ele se esgotar, o Ministério Público pode ajuizar a denúncia ou tomar
outras providências. O simples decurso do prazo de 6 meses não gera a extinção da
punibilidade. A única consequência que acarreta é o fato de o ofendido não poder mais
ajuizar a ação privada subsidiária não influenciando nos poderes do MP.
Conforme explicam Klaus Negri Costa e Fábio Roque Araújo:
“O prazo para oferecimento da queixa-substitutiva é de 6 meses, de natureza
decadencial. É interessante notar que, mesmo tendo natureza decadencial, o
escoamento desse prazo in albis não acarretará a extinção da punibilidade. O único
efeito da perda do prazo decadencial será, tão somente, a impossibilidade de
ajuizamento da queixa-substitutiva pelo ofendido - mas o Ministério Público continuará,
respeitado o prazo prescricional, legitimado a oferecer denúncia.” (COSTA, Klaus Negri;
ARAÚJO, Fábio Roque. Processo Penal didático. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 199)

Esse art. 3º da Lei nº 13.869/2019 era juridicamente necessário?


Não. Isso porque a ação penal privada subsidiária da pública já é prevista
expressamente no art. 5º, LIX, da CF/88, sendo considerada, inclusive, uma cláusula
pétrea:
Art. 5º (...)
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada
no prazo legal;

Além disso, em nível infraconstitucional, o tema já era disciplinado da mesma forma pelo
CPP:
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada
no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer
denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de
prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar
a ação como parte principal.

COMPETÊNCIA

Foro por prerrogativa de função


O primeiro passo para se definir a competência no caso de crimes da Lei do Abuso de
Autoridade é verificar se a Constituição Federal prevê foro por prerrogativa de função
para o agente público que praticou o delito.
Se a autoridade que praticou o delito no exercício das suas funções goza de foro por
prerrogativa de função, deverá ser julgada pelo respectivo Tribunal. Ex: Juiz Federal
que pratique abuso de autoridade será julgado pelo Tribunal Regional Federal, nos
termos do art. 108, I, a, da CF/88:

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:


I - processar e julgar, originariamente:

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a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça
do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério
Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

Vale lembrar que, segundo a interpretação restritiva do STF:


O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o
exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
STF. Plenário AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info
900).

Justiça Federal ou Estadual


Sendo a competência do juízo de 1ª instância, será necessário analisar se a
competência é da Justiça Estadual ou Federal.
A competência para julgar o delito será, em regra, determinada pela esfera ao qual
estiver vinculado o agente público que praticou o crime.
Assim, em regra:
• Se o delito foi praticado por autoridade (agente público) federal no exercício dessa
função: o crime será de competência da Justiça Federal, considerando que, neste caso,
o delito terá sido praticado em detrimento de um serviço público federal, nos termos do
art. 109, IV, da CF/88:
Art. 109 (...)
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,
excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça
Eleitoral;

Obviamente, para a competência ser da Justiça Federal, o crime deve estar relacionado
com as funções federais exercidas pelo agente público, conforme se aprende pela
súmula 147 do STJ:
Súmula 147-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar os crimes praticados
contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.

• Se o delito foi praticado por autoridade (agente público) estadual ou municipal no


exercício dessa função: o crime será, em regra, de competência da Justiça Estadual,
que é residual.

Justiça Militar pode julgar crime de abuso de autoridade?


SIM.
Em 1996, o STJ editou um enunciado dizendo o seguinte:
Súmula 172-STJ: Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de
abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.

Ocorre que o entendimento contido nesta súmula está superado pela Lei nº
13.491/2017, que alterou o art. 9º, II, do CPM.
Antes da alteração, se o militar, em serviço, cometesse abuso de autoridade ele seria
julgado pela Justiça Comum porque o art. 9º, II, do CPM afirmava que somente poderia
ser considerado como crime militar as condutas que estivessem tipificadas no CPM.
Assim, como o abuso de autoridade não está previsto no CPM, mas sim na Lei nº
4.898/65, este delito não podia ser considerado crime militar nem podia ser julgado pela
Justiça Militar. Isso, contudo, mudou com a nova redação dada pela Lei nº 13.491/2017
ao art. 9º, II, do CPM.
Com a mudança, a conduta praticada pelo agente, para ser crime militar com base no
inciso II do art. 9º, pode estar prevista no Código Penal Militar ou na legislação penal
“comum”. Dessa forma, o abuso de autoridade, mesmo não estando previsto no CPM

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pode agora ser considerado crime militar (julgado pela Justiça Militar) com base no art.
9º, II, do CPM.
Logo, a Justiça Militar pode sim julgar crime de abuso de autoridade.

É possível a Justiça Eleitoral julgar crime de Abuso de Autoridade?

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 109, IV73, deixou bem claro o caráter
absoluto da jurisdição eleitoral sobre a jurisdição comum, motivo pelo qual a
competência para o julgamento dos crimes comuns conexos aos eleitorais é da justiça
especializada, sem maiores questionamento por parte da doutrina ou da jurisprudência
de todos os Tribunais Eleitorais74, inclusive do Supremo Tribunal Federal75. A força
atrativa da Justiça Eleitoral (fixada também por força do artigo 35, II, do Código Eleitoral)
é tão forte que, descumprida essa regra, a nulidade dos atos posteriores à denúncia é
medida de rigor.

Além disso, se no julgamento das infrações eleitorais e conexas, houver absolvição


quanto aos crimes especializados, tal não modificará a competência da Justiça Eleitoral
para os demais que lhe forem conexos, como já decidiu a Corte Eleitoral (TSE). Pois
bem, dito isso, é possível que, em tese, a Justiça Eleitoral julgue crime de abuso de
autoridade conexo com crime eleitoral. Tal hipótese fica bem clara, por exemplo, no
possível concurso de crimes tipificados no artigo 9°, da Lei n°13.869/2019 e no artigo
298, do Código Eleitoral, haja vista a objetividade jurídica diversa entre eles.

Dos Efeitos da Condenação

Art. 4º São efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo


o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele
sofridos;

II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo


período de 1 (um) a 5 (cinco) anos;

III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.

Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo
são condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade
e não são automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença.

Seção II

Das Penas Restritivas de Direitos

Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de


liberdade previstas nesta Lei são:

I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;

II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo


de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens;

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III - (VETADO).

Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas


autônoma ou cumulativamente.

EFEITOS DA CONDENAÇÃO E PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS

Efeitos da condenação
São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a
requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos;
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de
1 (um) a 5 (cinco) anos;
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.

Os efeitos previstos nos incisos II e III:


• são condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e
• devem ser declarados motivadamente na sentença (não são automáticos).

ATENÇÃO!! A condenação por crime de abuso de autoridade não acarreta


automaticamente a perda do cargo. Na nova Lei, somente ocorrerá a perda do cargo
como decorrência da condenação se o criminoso for reincidente em crime específico de
abuso de autoridade.

Penas restritivas de direitos

A nova Lei de Abuso de Autoridade prevê penas alternativas em favor do autor do delito.
Em seu art. 5.º, estabelece que as penas privativas de liberdade podem ser substituídas
pelas seguintes penas restritivas de direito:
a) prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
b) suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a
6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens.

OBS: as penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou


cumulativamente.

As penas alternativas são sanções de natureza penal diversa das penas restritivas de
liberdade. O objetivo do legislador é impedir que o autor de um crime de abuso de
autoridade tenha contra si aplicada uma pena de constrição da sua liberdade,
justamente porque a lesividade deste delito não necessitaria da medida mais drástica
(aprisionamento) como resposta estatal. Nada impede que as penas restritivas de direito
mencionadas sejam aplicadas autônoma ou cumulativamente. São autônomas, porque
não dependem de uma pena principal, isto é, não são aplicadas como penas acessórias.
São ainda substitutivas, porque o juiz primeiro estabelece a pena privativa de liberdade
para, na sequência, verificando o preenchimento dos requisitos legais, substituí-la por
uma ou mais pena restritiva de direito (penas alternativas). Em outros termos, não
podem ser aplicadas diretamente, nem cumuladas com as penas privativas de
liberdade. Em essência, são autônomas e substitutivas. A sua aplicação depende
exclusivamente do preenchimento dos requisitos legais, daí porque não se trata de uma
faculdade do juiz aplicá-las ou não. É um direito subjetivo do condenado por crime de
abuso de autoridade receber o benefício das penas alternativas e não uma mera
faculdade.

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Como a Nova Lei de abuso de Autoridade traz tipos penais que cominam penas de 1
(um) a 4 (quatro) anos, antes mesmo da aplicação de penas alternativas, deve ser
verificada a possibilidade de suspensão condicional do processo (sursis processual),
prevista no art. 89 da Lei n.º 9.099/95: “Nos crimes em que a pena mínima cominada for
igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao
oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por
outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional
da pena.” Por fim, algumas condutas de abuso de autoridade constituem infração penal
de menor potencial ofensivo, com pena de detenção cominada de 6 (seis) meses a 2
(dois) anos, diferentemente das condutas mais graves com pena de detenção de 1 (um)
a 4 (quatro) anos. Nessas infrações de abuso de autoridade de menor potencial
ofensivo, será possível a aplicação do instituto da transação penal, previsto no art. 76
da Lei n.º 9.099/95: “Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal
pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
proporá aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada
na proposta.”. Nessas infrações de abuso de autoridade de menor potencial ofensivo, a
transação penal somente não será aplicada se restar comprovado (§2.º, art. 76): “I – ter
sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade,
por sentença definitiva; II – ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de
cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa; III – não indicarem os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e
as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.”

DICA DA MEGA!!

Na nova Lei, todos os crimes serão responsabilizados com pena de detenção e


multa. Não foi prevista pena de reclusão. A medida é correta. Os crimes de abuso
de autoridade não possuem gravidade suficiente para se cominar pena de
reclusão.

Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das


sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis.

Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem


falta funcional serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração.

Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da


criminal, não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato
quando essas questões tenham sido decididas no juízo criminal.

Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-


disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado
de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no
exercício regular de direito.

SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA

Princípio da independência de instâncias


Em regra, as penas (sanções criminais) previstas na Lei nº 13.869/2019 devem
aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis.

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Assim, em regra, as responsabilidades civil e administrativa são independentes da
criminal.

Exceções
1) Se o juízo criminal decidir sobre a existência ou a autoria do fato, essas questões não
poderão mais ser questionadas nas esferas civil e administrativa.
2) Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a
sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em
legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Em caso de falta funcional, o órgão correicional deverá ser informado


As notícias de crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 que descreverem falta funcional
deverão ser informadas à autoridade competente com vistas à apuração.

OS TIPOS PENAIS PREVISTOS

OS CINCO DOLOS

Os elementos subjetivos especiais ou dolos específicos ou elementos subjetivos do


injusto trarão a gravidade necessária para justificar a tipificação das condutas mas, ao
mesmo tempo, dificultarão, e muito, a comprovação da parte subjetiva da conduta.

São finalidades específicas previstas na lei, alternativas, as seguintes:

– prejudicar outrem

– beneficiar a si mesmo

– beneficiar terceiro

– por mero capricho

– por satisfação pessoal

DECRETAÇÃO DE MEDIDA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM DESCONFORMIDADE


COM A LEI

Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade


com as hipóteses legais:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de
prazo razoável, deixar de:
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal;
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder
liberdade provisória, quando manifestamente cabível;
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.

CRIME DO CAPUT

Em que consiste o delito:

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A autoridade judicial decreta medida privativa de liberdade em desacordo com as
hipóteses autorizadas pela lei.

Medidas de privação de liberdade


Medidas de privação de liberdade previstas no ordenamento jurídico e que podem ser
objeto deste crime:
• Prisão cautelar (prisão temporária, prisão preventiva);
• Prisão para cumprimento da execução provisória da pena;
• Prisão para cumprimento da execução definitiva da pena;
• Medida de segurança detentiva (internação) (art. 96, I, do CP);
• Semiliberdade (art. 120 do ECA);
• Internação (art. 121 do ECA);
• Internação psiquiátrica (art. 6º da Lei nº 10.216/2001).

Sujeito ativo
A autoridade judicial (Juiz, Desembargador, Ministro).

Sujeito passivo
É o Estado e também a pessoa que teve privada a sua liberdade.

Elemento subjetivo
Dolo acrescido do elemento subjetivo especial (finalidade específica de prejudicar
outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou
satisfação pessoal).
Não se pune a conduta culposa.

Consumação
O crime se consuma com a decretação, ou seja, com a prolação da decisão
determinando a medida de privação da liberdade, ainda que ela não se consuma.
Trata-se, portanto, de crime formal, que não depende da produção de resultado
naturalístico.
Desse modo, imagine que o juiz decreta a prisão mesmo sendo manifestamente
descabida. Antes que a providência seja cumprida, o indivíduo consegue do Tribunal
uma ordem em habeas corpus cassando a decisão de 1ª instância. Em tese, o crime
estará consumado mesmo não tendo havido a efetiva condução coercitiva.

Suspensão condicional do processo


Como a pena mínima é igual a 1 ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89
da Lei nº 9.099/95).

CRIME DO PARÁGRAFO ÚNICO

Providências que o juiz deverá adotar diante de uma prisão em flagrante

Segundo o art. 310 do CPP, o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá,
fundamentadamente:
I - relaxar a prisão ilegal; ou
II - converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, quando:
• estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP e
• se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão;
ou
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

Os incisos I e II do parágrafo único do art. 9º têm por objetivo principal punir o magistrado
que, dentro de prazo razoável, deixa de dar cumprimento adequado ao art. 310 do CPP.

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Inciso I

A prisão ilegal deve ser relaxada pela autoridade judiciária competente.


É o caso, por exemplo, em que o juiz recebe o auto de prisão em flagrante e constata
que o indivíduo foi preso por conta de um fato atípico ou percebe que não havia situação
de flagrância. Nestas hipóteses, exemplificativas, cabe ao juiz relaxar a prisão do
indivíduo, colocando-o em liberdade, salvo se houver algum outro motivo para o cárcere.

Inciso II

O estudo do inciso II deve ser dividido em duas partes:


1) deixar de “substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa”.
Prisão preventiva é uma espécie de prisão de natureza cautelar, decretada na fase das
investigações ou durante a ação penal, desde que presentes os pressupostos e
requisitos previstos nos arts. 312 e 313 do CPP.
Ocorre que a prisão preventiva é uma medida extrema e somente deve ser decretada
(ou mantida) se não couber nenhuma outra medida cautelar. A prisão é a última das
medidas cautelares que deverá ser adotada. Assim, somente será determinada a prisão
quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 282, § 6º do
CPP).

O art. 319 do CPP prevê a lista de medidas cautelares diversas da prisão:


Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para
informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante
desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado
ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica
ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações
penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência
ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art.
26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada
à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.

2) deixar “de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível”


Liberdade provisória é uma medida de contracautela concedida pela autoridade judicial
que, ao receber o auto de prisão em flagrante, constata que a prisão efetuada foi legal,
mas que não há motivos para se decretar a prisão preventiva, razão pela qual o
flagranteado deverá ser solto, com ou sem a imposição de medidas cautelares diversas.
A liberdade provisória é relacionada, portanto, com a prisão em flagrante, não sendo a
medida adequada para o caso de já ter sido decretada a prisão preventiva. Vamos
comparar e entender os institutos:

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Revogação
Relaxamento da prisão da prisão Liberdade provisória
preventiva
É a decisão do magistrado É a decisão do magistrado É a decisão do magistrado
reconhecendo que a reconhecendo que não há reconhecendo que a
prisão é ilegal, ou seja, que motivos para a prisão prisão em flagrante foi
não atende os requisitos preventiva, devendo, legal, mas que não há
formais. portanto, esta medida ser motivos para convertê-la
revogada. em prisão preventiva,
motivo pelo qual o
flagranteado deve ser
solto, com ou sem a
imposição de medidas
cautelares.

Inciso III
Deixar de “deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível”.
Este inciso III é extremamente amplo. Isso porque ele não se limita aos casos de prisão
em flagrante. Na verdade, não se restringe nem mesmo aos casos de prisão.
Explico. No Brasil, o habeas corpus apresenta uma feição bem ampla, sendo cabível
mesmo quando o paciente não está preso e mesmo quando ato impugnado não implicar
risco imediato de prisão.
Nesse sentido, o STF recentemente decidiu que:
Cabe habeas corpus mesmo nas hipóteses que não envolvem risco imediato de prisão,
como na análise da licitude de determinada prova ou no pedido para que a defesa
apresente por último as alegações finais, se houver a possibilidade de condenação do
paciente. Isso porque neste caso a discussão envolve liberdade de ir e vir.
STF. 2ª Turma. HC 157627 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 27/8/2019 (Info 949).

Assim, o inciso III do parágrafo único do art. 9º pune, em suma, a demora no julgamento
do habeas corpus.

Liminar em habeas corpus: é a decisão concedendo o pedido formulado pelo impetrante


antes que o processo de habeas corpus chegue ao fim.
Ordem de habeas corpus: é a decisão concedendo o pedido formulado pelo impetrante,
mas já ao final do processo de habeas corpus.
Vale relembrar que, apesar de ser mais comum a impetração de habeas corpus nos
Tribunais, existe também a possibilidade de o juízo de 1ª instância julgar habeas corpus.
É o caso, por exemplo, em que o impetrante questiona um ato do Delegado de Polícia.

Dentro de prazo razoável


A grande dúvida e polêmica envolvendo este tipo penal diz respeito ao conceito de
“prazo razoável”. Trata-se de conceito aberto que deverá ser analisado com base nas
peculiaridades do caso concreto.

DECRETAR CONDUÇÃO COERCITIVA DESCABIDA OU SEM PRÉVIA INTIMAÇÃO


DE COMPARECIMENTO

Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado


manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

24
NOÇÕES GERAIS SOBRE A CONDUÇÃO COERCITIVA

Condução coercitiva

Condução coercitiva consiste em capturar a testemunha, o perito, o ofendido, o


investigado ou o réu e levá-lo, ainda que contra a sua vontade, à presença de uma
determinada autoridade para que seja ouvido, identificado ou pratique outros atos de
interesse da investigação ou da ação penal.

Natureza jurídica
A condução coercitiva, embora não listada no rol das medidas cautelares diversas da
prisão dos arts. 319 e 320 do CPP, também funciona como medida cautelar de coação
pessoal (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm,
2019, p. 694).

Espécies

A legislação prevê a possibilidade, em tese, da condução coercitiva de:


a) testemunha:
Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo
justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou
determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força
pública.

b) perito:
Art. 278. No caso de não-comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade
poderá determinar a sua condução.

c) ofendido (vítima):
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as
circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa
indicar, tomando-se por termo as suas declarações.
§ 1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido
poderá ser conduzido à presença da autoridade.

d) investigado (fase pré-processual) ou réu (fase processual):


Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento
ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá
mandar conduzi-lo à sua presença.
Parágrafo único. O mandado conterá, além da ordem de condução, os requisitos
mencionados no art. 352, no que lhe for aplicável.

A condução coercitiva é sempre determinada pelo magistrado?


Não. A legislação prevê a possibilidade de que outras autoridades também determinem
a condução coercitiva. Veja alguns exemplos:
• autoridade policial;
• membros do Ministério Público;
• Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI).

Condução coercitiva do investigado na deflagração de operações policiais


Nos últimos anos temos visto diversas “operações” da Polícia Federal nas quais há
ordens judiciais de condução coercitiva de investigados para que sejam interrogados.
Vamos entender como isso funcionava.
A condução coercitiva para interrogatório nas operações policiais é a ordem judicial,
materializada em um mandado, por meio do qual a polícia fica autorizada a levar o

25
investigado, compulsoriamente, para a Delegacia (ou outro lugar escolhido) a fim de que
ali ele seja interrogado, no dia e horário escolhidos pela autoridade policial.
Em geral, o objetivo idealizado para a condução coercitiva é que o órgão de investigação
criminal atue com o “fator surpresa”, fazendo com que o investigado preste suas
declarações no interrogatório sem ter tido muito tempo para refletir naquilo que irá
responder e sem ter tido a oportunidade de conversar com os outros investigados ou
ainda de conhecer quais os outros elementos informativos que a polícia já dispõe contra
ele.
Por isso, normalmente, o mandado de condução coercitiva é cumprido logo no início do
dia, por volta das 6h, ao mesmo tempo em relação a todos os investigados naquela
operação. A polícia chega à residência do investigado, explica o mandado, pede que
ele se vista e já segue com ele imediatamente para a Delegacia, onde já há um
Delegado esperando para conduzir o interrogatório.
Vale ressaltar que, na condução coercitiva, o investigado é obrigado a comparecer à
Delegacia, mas lá poderá permanecer em silêncio e não responder a qualquer das
perguntas formuladas.
Importante destacar também que o investigado, durante o interrogatório, poderá se fazer
acompanhar por advogado ou Defensor Público.
O caso mais famoso de condução coercitiva ocorreu com o ex-Presidente Lula. O Juiz
Federal Sérgio Moro, a requerimento da Polícia Federal, deferiu a condução coercitiva
de Lula, que foi efetivada em 04/03/2016, tendo o ex-Presidente sido levado para prestar
interrogatório em uma sala no aeroporto de Congonhas.
Confira a explicação de Vladimir Aras para a condução coercitiva:
“A condução coercitiva autônoma – que não depende de prévia intimação da pessoa
conduzida – pode ser decretada pelo juiz criminal competente, quando não cabível a
prisão preventiva (arts. 312 e 313 do CPP), ou quando desnecessária ou excessiva a
prisão temporária, sempre que for indispensável reter por algumas horas o suspeito, a
vítima ou uma testemunha, para obter elementos probatórios fundamentais para a
elucidação da autoria e/ou da materialidade do fato tido como ilícito.
Assim, quando inadequadas ou desproporcionais a prisão preventiva ou a temporária,
nada obsta que a autoridade judiciária mande expedir mandados de condução
coercitiva, que devem ser cumpridos por agentes policiais sem qualquer exposição
pública do conduzido, para que prestem declarações à Polícia ou ao Ministério Público,
imediatamente após a condução do declarante ao local do depoimento. Tal medida deve
ser executada no mesmo dia da deflagração de operações policiais complexas, as
chamadas megaoperações.
Em regra, para viabilizar a condução coercitiva será necessário demonstrar que estão
presentes os requisitos para a decretação da prisão temporária, mas sem a limitação
do rol fechado (numerus clausus) do art. 1º da Lei 7.960/89. A medida de condução
debaixo de vara justifica-se em virtude da necessidade de acautelar a coleta probatória
durante a deflagração de uma determinada operação policial ou permitir a conclusão de
uma certa investigação criminal urgente.
Diante das circunstâncias do caso concreto, a prisão temporária pode ser substituída
por outra medida menos gravosa, a partir do poder geral de cautela do Poder Judiciário,
previsto no art. 798 do CPC e aplicável ao processo penal com base no art. 3º do CPP.
Tal medida cautelar extranumerária ao rol do art. 319 do CPP reduz a coerção do Estado
sobre o indivíduo, limitando-a ao tempo estritamente necessário para a preservação
probatória, durante a fase executiva da persecução policial.
De fato, a condução coercitiva dos suspeitos sempre será mais branda que a prisão
temporária; a medida restringe de modo mais suave a liberdade pessoal, somente
enquanto as providências urgentes de produção de provas (cumprimento de mandados
de buscas, por exemplo) estiverem em curso.
Se o legislador permite a prisão temporária por (até) 5 dias, prorrogáveis por mais 5 dias
nos crimes comuns, a condução coercitiva resolve-se em um dia ou menos que isto, em
algumas horas, mediante a retenção do suspeito e sua apresentação à autoridade

26
policial para interrogatório sob custódia, enquanto as buscas têm lugar. Ou seja, a
condução sob vara deve durar apenas o tempo necessário à instrução preliminar de
urgência, não devendo persistir por prazo igual superior a 24 horas, caso em que se
trasveste em temporária.
Sendo menos prolongada que as prisões cautelares, a condução coercitiva guarda
ainda as mesmas vantagens que a custódia temporária, pois permite que a Polícia
interrogue todos os envolvidos no mesmo momento, visando a evitar, pela surpresa, as
versões “combinadas” ou que um suspeito oriente as declarações de uma testemunha
ou a pressione, na fase da apuração preliminar, ou que documentos ou ativos sejam
suprimidos, destruídos ou desviados.” (ARAS, Vladimir. Debaixo de vara: a condução
coercitiva como cautelar pessoal autônoma. Disponível em:
https://vladimiraras.blog/2013/07/16/a-conducao-coercitiva-como-cautelar-pessoal-
autonoma/>; acesso em 27 ago. 2018.

Inconstitucionalidade da condução coercitiva para interrogatório

O STF, recentemente, decidiu que não é válida a condução coercitiva do investigado ou


do réu para interrogatório no âmbito da investigação ou da ação penal.
O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte:
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento
ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá
mandar conduzi-lo à sua presença.
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não
foi recepcionada pela Constituição Federal.
Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para
interrogatório, tal conduta poderá ensejar:
• a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade
• a ilicitude das provas obtidas
• a responsabilidade civil do Estado.
STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em
13 e 14/6/2018 (Info 906).

ANÁLISE DO TIPO PENAL DO ART. 10

Em que consiste o delito:


CONDUÇÃO COERCITIVA E ABUSO DE AUTORIDADE (ART. 10 DA LEI)
Decretar 1) de forma manifestamente descabida; ou
condução • testemunha ou 2) sem que a testemunha ou investigado tenham
coercitiva • investigado sido previamente intimados para comparecerem
de... espontaneamente ao juízo.

Perceba, portanto, que existem duas hipóteses em que haverá abuso de autoridade na
condução coercitiva:
1) quando ela for manifestamente descabida; ou
2) quando a autoridade judicial não der oportunidade para que a testemunha ou o
investigado compareçam espontaneamente ao juízo.

A primeira hipótese abrange a segunda. Isso porque se a testemunha ou o investigado


não foram previamente intimados para comparecerem espontaneamente, essa
condução coercitiva é abusiva, desproporcional, ou seja, é manifestamente descabida
já que não houve recusa.

27
Sujeito ativo
Se o intérprete fizer uma leitura apressada do art. 10 poderá defender a ideia de que
apenas o magistrado é sujeito ativo deste delito. Isso porque a parte final do tipo penal
fala em “comparecimento ao juízo”.
Essa, contudo, não é a melhor intepretação.
Conforme explicado acima, existem duas hipóteses em que a decretação da condução
coercitiva poderá ensejar a responsabilização criminal pelo art. 10:
1) quando a condução coercitiva for manifestamente descabida ou
2) quando a condução coercitiva for decretada sem prévia intimação de
comparecimento ao juízo.

A segunda hipótese é, de fato, restrita às autoridades judiciais, ou seja, apenas o


magistrado poderá praticar considerando que somente ele pode determinar o
comparecimento da testemunha ou investigado ao juízo.
Contudo, a primeira hipótese pode ser praticada por outras autoridades, como é o caso
do Delegado de Polícia, do membro do Ministério Público e do presidente de CPI.
Assim, se o Delegado de Polícia decretar condução coercitiva manifestamente
descabida, poderá ser responsabilizado pelo crime do art. 10 da Lei.

Juiz que decreta condução coercitiva do investigado na deflagração de operações


policiais
Se o juiz decretar condução coercitiva do investigado para interrogatório em desacordo
com o que decidiu o STF nas ADPF 395 e 444: comete o crime do art. 10. Isso porque
o STF já afirmou que não cabe condução coercitiva nesses casos.

Sujeito passivo
É possível identificar duas vítimas:
• a Administração da Justiça;
• a testemunha ou o investigado que submetido ao constrangimento de ser objeto de
condução coercitiva indevida.

Prévia intimação de comparecimento


A intimação prévia da testemunha ou do investigado deve ser pessoal.

Elemento subjetivo
Dolo acrescido do elemento subjetivo especial (finalidade específica de prejudicar
outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou
satisfação pessoal).
Não se pune a conduta culposa. Ex: juiz expediu o mandado de intimação prévia;
testemunha não compareceu; magistrado determinou a condução coercitiva e depois se
atestou que a testemunha não havia recebido a intimação anterior; mesmo que fique
demonstrado que o juiz foi negligente por não ter conferido o efetivo cumprimento do
mandado, não haverá crime.

Só haverá crime em caso de testemunha ou investigado


Se o juiz determinou a condução coercitiva do perito ou do ofendido, não haverá o crime
do art. 10 mesmo que essa condução tenha sido manifestamente descabida ou sem
prévia intimação dos destinatários. Isso porque o tipo penal fala apenas em testemunha
ou investigado.

“Investigado” abrange também o réu?


Penso que o STJ responderá que sim. Isso porque existem precedentes daquele
Tribunal analisando o crime do art. 2º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 e dizendo que a
palavra “investigação” não se limita à fase do inquérito policial. A “investigação” da
infração penal se prolonga durante toda a persecução criminal, que abarca tanto o

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inquérito policial quanto a ação penal iniciada com o recebimento da denúncia. Nesse
sentido, confira trecho da ementa do julgado mencionado do STJ:
(...) 3. A tese de que a investigação criminal descrita no art. 2º, § 1º, da Lei n. 12.850/13
cinge-se à fase do inquérito, não deve prosperar, eis que as investigações se prolongam
durante toda a persecução criminal, que abarca tanto o inquérito policial quanto a ação
penal deflagrada pelo recebimento da denúncia. Com efeito, não havendo o legislador
inserido no tipo a expressão estrita "inquérito policial", compreende-se ter conferido à
investigação de infração penal o sentido de persecução penal, até porque carece de
razoabilidade punir mais severamente a obstrução das investigações do inquérito do
que a obstrução da ação penal. Ademais, sabe-se que muitas diligências realizadas no
âmbito policial possuem o contraditório diferido, de tal sorte que não é possível tratar
inquérito e ação penal como dois momentos absolutamente independentes da
persecução penal. (...)
STJ. 5ª Turma. HC 487.962/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 28/05/2019.

Não apenas processos criminais


Vale ressaltar que a condução coercitiva pode ser decretada não apenas em
investigações ou processos criminais. É possível que isso ocorra em outros casos,
como, por exemplo:
• em inquérito civil;
• em procedimentos do ECA;
• em processos cíveis;
• em processos trabalhistas.

Consumação
O crime se consuma com a decretação, ou seja, com a prolação da decisão
determinando a condução coercitiva, ainda que ela não se consuma.
Trata-se, portanto, de crime formal, que não depende da produção de resultado
naturalístico.
Desse modo, imagine que o juiz decreta a condução coercitiva do investigado mesmo
sendo manifestamente descabida. Antes que a providência seja cumprida, o investigado
consegue do Tribunal uma ordem em habeas corpus cassando a decisão de 1ª
instância. Em tese, o crime estará consumado mesmo não tendo havido a efetiva
condução coercitiva.

Suspensão condicional do processo


Como a pena mínima é igual a 1 ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89
da Lei nº 9.099/95).

Competência
A competência para julgamento deste crime dependerá das funções desempenhadas
pela autoridade que determinou a condução coercitiva.
Ex: se a condução coercitiva for decretada pelo magistrado que estiver atuando em
função judicante de natureza federal, a competência será da Justiça Federal. É o caso,
por exemplo, de um Juiz Federal, de um Juiz do Trabalho, de um Juiz Militar ou mesmo
de um Juiz de Direito atuando em processo de competência delega (ex: causas
previdenciárias – art. 109, § 3º, da CF/88).
Em caso contrário, a competência será da Justiça Estadual.

Art. 11. (VETADO).

Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade


judiciária no prazo legal:

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Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

I – deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou


preventiva à autoridade judiciária que a decretou;

II – deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local


onde se encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada;

III – deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de


culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor
e das testemunhas;

IV – prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de


prisão preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem
motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente
após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo
judicial ou legal.

O sujeito ativo é o agente público nos termos definidos no art. 2.º da nova Lei de Abuso
de Autoridade, especialmente aquele responsável por realizar as comunicações da
prisão em flagrante, no caso, o delegado de polícia, autoridade policial competente.

Classifica-se, portanto, como crime próprio, porque somente pode ser cometido por
agente público. O sujeito passivo imediato é a pessoa presa, cuja garantia individual
fundamental de comunicação da sua prisão foi violada pelo agente público. O sujeito
passivo mediato é o Estado, porque há o interesse público de controle de legalidade
das prisões em flagrante, preventiva e temporária. Desta forma, por ter sujeito passivo
imediato e mediato, classifica-se doutrinariamente como delito de dupla subjetividade
passiva.

O bem jurídico tutelado é a garantia individual fundamental de toda pessoa de ter sua
prisão comunicada imediatamente ao juiz e à sua família ou pessoa indicada. Em outros
termos, tutela-se a garantia constitucional inserta no inc. LXII do art. 5.º da CF/88.

O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de deixar injustificadamente de


comunicar imediatamente prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal, ou
ainda deixar de comunicar imediatamente a execução de prisão temporária preventiva
à autoridade judiciária que a decretou. Acrescente-se ao dolo do agente público o
elemento subjetivo do injusto “com a finalidade específica de prejudicar outrem ou
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.”
Este fim especial é necessário, caso contrário, não haverá dolo.

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou


redução de sua capacidade de resistência, a:

I – exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;

II – submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;

III – (VETADO).

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Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena
cominada à violência.

O sujeito ativo é o agente público nos termos definidos no art. 2.º da Nova Lei de Abuso
de Autoridade, especificamente o responsável pelo constrangimento ilegal de presos e
detentos, submetidos a condições vexatórias e degradantes da sua honra, da sua
imagem e da sua dignidade, como se fossem objetos (e não sujeitos de direitos!) de
espetáculos populistas irracionais. Classifica-se, portanto, como crime próprio, porque
somente pode ser cometido por agente público, normalmente agentes responsáveis
pela custódia de presos ou de outra forma responsáveis por estes.

O sujeito passivo imediato é a pessoa presa, cuja dignidade honra imagem e dignidade
humana são violadas pelo agente público responsável pelo constrangimento. O sujeito
passivo mediato é o Estado, porque há o interesse público no controle da legalidade
das prisões e detenções, impedindo eventuais excessos de seus agentes. O bem
jurídico tutelado é a honra e a imagem do preso ou do detento e, em última medida, da
dignidade humana. Em outros termos, tutela-se a garantia constitucional inserta no inc.
XLIX do art. 5.º da CF/88, com o propósito de proteger o respeito à integridade física e
moral asseguradas aos presos.

O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de constranger


o preso ou o detendo, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade
de resistência, a exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
ou submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei; ou
ainda a produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro. Acrescente-se ao dolo do
agente público o elemento subjetivo do injusto “com a finalidade específica de prejudicar
outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou
satisfação pessoal.” Este fim especial é necessário, caso contrário, não haverá dolo.
Consiste num elemento especial do tipo fixado pelo legislador no §1.º do art. 1.º da Nova
Lei para todos os delitos de abuso de autoridade.

Por expressa disposição do legislador no preceito secundário (pena) do art. 13 da


referida Lei, haverá concurso entre os crimes de abuso de autoridade o delito resultante
da violência emprega, podendo, por exemplo, ocorrer o concurso de crimes entre abuso
de autoridade e lesão corporal, ou mesmo abuso de autoridade e homicídio.

Art. 14. Fotografar ou filmar, permitir que fotografem ou filmem, divulgar ou


publicar fotografia ou filmagem de preso, internado, investigado, indiciado ou
vítima, sem seu consentimento ou com autorização obtida mediante
constrangimento ilegal, com o intuito de expor a pessoa a vexame ou execração
pública:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Não haverá crime se o intuito da fotografia ou filmagem for o de


produzir prova em investigação criminal ou processo penal ou o de documentar
as condições de estabelecimento penal.

Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar
sigilo:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

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Parágrafo único. (VETADO).

O sujeito ativo é o agente público que irá constranger pessoas impedidas a depor,
ameaçando-as de constrição da liberdade. Classifica-se como crime comissivo,
porque é cometido mediante ação do agente público.

O sujeito passivo imediato é a pessoa impedida de depor e ameaçada, com a sua


liberdade de locomoção colocada em xeque. O sujeito passivo mediato é o
Estado, porque há o interesse público no controle dos atos de seus agentes com
o propósito de evitar excessos de poder.

O bem jurídico tutelado é a liberdade individual da pessoa ameaçada e a garantia


de vedação de provas ilícitas. A própria administração da justiça também é
ofendida, porque a prova ilícita e todas as outras provas desta derivadas devem
ser anuladas, inaceitáveis no processo penal.

O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de


constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo
Acrescente-se ao dolo do agente público o elemento subjetivo do injusto “com a
finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro,
ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.”

Quanto ao momento consumativo, o crime é formal, aperfeiçoando-se no exato


instante em que o agente público constrange a pessoa proibida de depor a fazê-
lo contra sua vontade, ameaçando-a de prisão, independentemente de o
depoimento vir ou não a ser realizado.

Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião


de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por


interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração penal, deixa de
identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função.

A conduta descrita no caput pode ser praticada por qualquer agente público, pois o art.
301, CPP, estabelece que “qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus
agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito”, embora
em regra as prisões em flagrante sejam efetuadas por agentes de forças policiais.

Nos casos diversos do flagrante, a prisão deverá ser efetuada por integrante das
instituições de segurança previstas no art. 144 da Constituição da República ou de
polícia judiciária militar. Já a conduta descrita no parágrafo único só pode ser praticada
por agentes públicos responsáveis por interrogatórios em investigações criminais. O
crime pode ser cometido por delegados de polícia, membros do Ministério Público e
oficiais encarregados de inquéritos policiais militares.

O elemento subjetivo sempre será o dolo, exigindo-se a comprovação de uma das


finalidades específicas previstas no art. 1º, §1º122. Não se pune a conduta culposa. É
preciso que exista omissão intencional do agente público em se identificar ao preso,
seja por ocasião da prisão, seja durante o interrogatório em investigação criminal. O
fornecimento de dados identificadores falsos será, em regra, uma conduta dolosa,

32
sendo difícil imaginar que um agente público possa se apresentar como terceiro ou
como ocupante de cargo distinto do real de forma não intencional, mas por negligência,
imprudência ou imperícia. Qualquer que seja a modalidade do delito, será sempre
necessário checar se a recusa do agente público em se identificar ou a apresentação
de dados identificadores falsos teve por objetivo prejudicar alguém, beneficiar a si
próprio ou a outrem, ou por capricho ou satisfação pessoal. Sem essa especial
finalidade, o abuso de autoridade não se consuma.

Art. 17. (VETADO).

Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso


noturno, salvo se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido,
consentir em prestar declarações:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

O crime só pode ser cometido pela autoridade policial que realiza o interrogatório na
fase de investigação, incluindo aí o encarregado de inquérito policial militar. Os
interrogatórios realizados pelo Ministério Público em suas investigações criminais
diretas não estão incluídos no tipo penal, por não se tratar de “interrogatório policial”.

Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à


autoridade judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão
ou das circunstâncias de sua custódia:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do


impedimento ou da demora, deixa de tomar as providências tendentes a saná-lo
ou, não sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à
autoridade judiciária que o seja.

A conduta comissiva prevista no caput pode ser praticada por qualquer agente público
que tenha o dever de ofício de enviar a comunicação do preso ao magistrado
competente, como agentes penitenciários, delegados de polícia e militares responsáveis
pela custódia de colegas de farda.

O dispositivo não se aplica aos agentes do sistema socioeducativo, pois adolescentes


internados não se enquadram no conceito técnico de “preso”, como exige o tipo penal.
Trata-se de evidente falha legislativa, pois a proteção legal conferida a adolescentes
não deve ser inferior à conferida a adultos. Porém, mesmo em casos assim, não se
admite interpretação extensiva contra o réu. A modalidade omissiva prevista no
parágrafo único só pode ser praticada por autoridade judiciária, civil ou militar.

Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com
seu advogado:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o
investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou
defensor, por prazo razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu
lado e com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório
ou no caso de audiência realizada por videoconferência.

33
O sujeito ativo é o agente público que obstaculiza a garantia individual de entrevista
pessoal e reservada da pessoa presa com o seu advogado ou Defensor Público. O
sujeito passivo imediato ou principal é a pessoa presa.

O sujeito passivo mediato é o Estado, em razão do seu interesse no regular


funcionamento da administração da justiça e na proteção aos direitos e às garantias
individuais fundamentais da pessoa humana.

O bem jurídico tutelado é o direito do preso à entrevista com o seu defensor como
medida necessária para a efetivação da ampla defesa e do contraditório.

O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de obstaculizar, sem justa causa,


a entrevista pessoal e reservada do preso com o seu advogado. Não possui modalidade
culposa.

Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de


confinamento:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança
ou adolescente na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado,
observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança
e do Adolescente).

As condutas tipificadas podem ser praticadas por qualquer agente público responsável
por espaço de confinamento de presos, como agentes penitenciários, policiais civis,
policiais federais ou militares responsáveis pela custódia de colegas de farda. Agentes
do sistema socioeducativo somente podem praticar o delito na modalidade prevista no
parágrafo único, na medida que os adolescentes não podem ser tecnicamente “presos”,
como exige o caput.

Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da


vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer
nas mesmas condições, sem determinação judicial ou fora das condições
estabelecidas em lei:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:

I – coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso


a imóvel ou suas dependências;

II – (VETADO);

III – cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma
horas) ou antes das 5h (cinco horas).

§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver
fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação
de flagrante delito ou de desastre.

34
Qualquer agente público que viole o domicílio alheio em razão da função ou a pretexto
de exercê-la (art. 1º, caput). Se o agente público ingressa em imóvel alheio sem
nenhuma relação com a função, o crime será o de violação de domicílio, previsto no art.
150 do Código Penal.

Importante salientar que a lei de abuso de autoridade veda peremptoriamente o


cumprimento de busca e apreensão domiciliar antes das 5hs da manhã e após as 21hs,
ainda que haja consentimento do morador ou que, circunstancialmente, ainda não tenha
ocorrido o pôr do sol.

Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de


processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de
responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a
responsabilidade:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito
de:

I – eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no


curso de diligência;

II – omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos


para desviar o curso da investigação, da diligência ou do processo.

O tipo deixa bem claro que a conduta proibida (inovar artificiosamente) deve ser
praticada no bojo de atos típicos de autoridades públicas, cujo rol está delimitado no
artigo 2°, da lei em comento. Trata-se, portanto, de crime próprio, mas que pode ser
estendido aos particulares (advogados, investigados ou terceiros) que, de qualquer
forma, colaborem com a prática proibida, tendo em vista o disposto no artigo 30, do
Código Penal.

Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado


de instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo
óbito já tenha ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime,
prejudicando sua apuração:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena


correspondente à violência.

Qualquer agente público. Não é necessário que o agente tenha estado no local em que
ocorreu o óbito, mas é preciso que sua conduta tenha o objetivo de dificultar a
identificação do local ou momento da conduta que levou ao óbito, gerando prejuízo à
investigação do fato. O crime pode ser cometido por profissional da rede pública de
saúde, caso constranja colega de instituição hospitalar a admitir pessoa já falecida, a
fim de ocultar grave erro médico ou outra conduta que tenha causado a morte de
paciente.

O elemento subjetivo é o dolo. O crime se consuma com a admissão de pessoa em


óbito em unidade hospitalar, para tratamento. Haverá tentativa caso o agente público
empregue violência ou grave ameaça, mas não haja a admissão para tratamento, em
razão da recusa dos profissionais do hospital ou por outras circunstâncias alheias à
vontade do autor.

35
Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou
fiscalização, por meio manifestamente ilícito:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do
investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude.

Qualquer agente público que atue em procedimento de investigação ou fiscalização.


Não é preciso que se trate de investigação criminal, pois não há essa limitação no tipo
penal. O crime admite coautoria e participação. Para tanto, é preciso que se demonstre
o liame subjetivo entre agentes públicos com um dos fins específicos previstos no art.
1º, §1º.

Art. 26. (VETADO).

Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de


infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer
indício da prática de crime, de ilícito funcional ou de infração administrativa:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação


preliminar sumária, devidamente justificada.

Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que
se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra
ou a imagem do investigado ou acusado:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou
administrativo com o fim de prejudicar interesse de investigado:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. (VETADO).

Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem
justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo


do investigado ou fiscalizado:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução
ou conclusão de procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o
em prejuízo do investigado ou do fiscalizado.

36
Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de
investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer
outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim
como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a
diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo
sigilo seja imprescindível:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

O tipo deixa bem claro que a conduta proibida só pode ser praticada por quem conduz
o procedimento de investigação, não estando os servidores conceder vista dos autos
sem autorização do mesmo, sob pena de praticarem uma ilegalidade, pois eles não têm
conhecimento do inteiro teor e do que é ou não sigiloso. Portanto, o correto é o
interessado, o advogado, seu defensor ou advogado formular o requerimento e
aguardar o que a autoridade (Promotor de Justiça, Procurador da República, Delegado
de Polícia etc) profira despacho autorizando o acesso. Havendo a recusa, ocorre o
crime. Trata-se, portanto, de crime próprio, mas que pode ser estendido aos particulares
que, de qualquer forma, colaborem com a prática proibida, tendo em vista o disposto no
artigo 30, do Código Penal.

Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de


fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função


pública ou invoca a condição de agente público para se eximir de obrigação legal
ou para obter vantagem ou privilégio indevido.

O sujeito ativo é qualquer agente público. Não é preciso que se trate de investigação
criminal, nem mesmo de algum procedimento formal. O crime admite coautoria e
participação. Para tanto, é preciso que se demonstre o liame subjetivo entre agentes
públicos com um dos fins específicos previstos no art. 1º, §1º.

Art. 34. (VETADO).

Art. 35. (VETADO).

Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros


em quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da
dívida da parte e, ante a demonstração, pela parte, da excessividade da medida,
deixar de corrigi-la:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Trata-se de delito que só pode ser cometido por membros do Poder Judiciário, pois são
os únicos agentes públicos que podem decretar a indisponibilidade de ativos financeiros
em um processo judicial. O tipo penal não faz restrição quanto ao tipo de processo
judicial ou à instância em que atua o magistrado. Assim, abrange decisões proferidas
em processos judiciais cíveis, criminais, trabalhistas, eleitorais, militares, que tramitem
em qualquer instância do Poder Judiciário. Admite-se coautoria no caso de decisões
colegiadas, incluindo colegiados de juízes em primeiro grau em casos criminais de
organizações criminosas, como permite a Lei nº 12.694/2012166.

37
Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que
tenha requerido vista em órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu
andamento ou retardar o julgamento:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

O sujeito ativo é qualquer agente público que integre órgão colegiado responsável pelo
exame de processos. O tipo penal não exige que se trate de processos judiciais. Admite
coautoria, desde que se demonstre o liame subjetivo entre agentes públicos com um
dos fins específicos previstos no art. 1º, §1º.

Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação,


inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e
formalizada a acusação:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

A conduta proibida deve ser praticada especificamente pelo “responsável pelas


investigações”, de modo que qualquer pessoa que atribua culpa a outrem no contexto
do tipo, mas sem participação da dita autoridade irá praticar crime contra a honra
(artigos 138, 139 e 140, do Código Penal).

PROCEDIMENTO

Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos previstos nesta


Lei, no que couber, as disposições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
1941 (Código de Processo Penal), e da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

ALTERAÇÕES NA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

* Prisão Temporária – Lei 7.960/89

Art. 40. O art. 2º da Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, passa a vigorar


com a seguinte redação:

“Art.2º .......................................................................................................

........................................................................................................................

§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração da


prisão temporária estabelecido no caput deste artigo, bem como o dia em que o
preso deverá ser libertado.

.........................................................................................................................

§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável


pela custódia deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial,
pôr imediatamente o preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da
prorrogação da prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva.

§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo do prazo


de prisão temporária.” (NR)

38
O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração da prisão
temporária estabelecido no caput deste artigo, bem como o dia em que o preso deverá
ser libertado.

Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável pela


custódia deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr
imediatamente o preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação
da prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva.

Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo do prazo de prisão


temporária.

* Interceptação das comunicações telefônicas – Lei 9.296/96

Art. 41. O art. 10 da Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, passa a vigorar com
a seguinte redação:

“Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de


informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da
Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a


execução de conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado
em lei.” (NR)

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de


informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça,
sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a


execução de conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado em lei.

* Estatuto da Criança e do Adolescente – 8.069/90

Art. 42. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do


Adolescente), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 227-A:

“Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do


Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para os crimes
previstos nesta Lei, praticados por servidores públicos com abuso de autoridade,
são condicionados à ocorrência de reincidência.

39
Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso,
independerá da pena aplicada na reincidência.”

Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do Decreto-


Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para os crimes previstos nesta
Lei, praticados por servidores públicos com abuso de autoridade, são condicionados à
ocorrência de reincidência.

Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso, independerá


da pena aplicada na reincidência.

* Retificação de publicação

Edição extra-A e retificado em 18.9.2019

O art. 13 ficou sem o preceito secundário, por isso essa retificação foi necessária.

ARTIGO 43: VIOLAÇÃO DE DIREITO OU PRERROGATIVA DE ADVOGADO

Art. 43. A Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, passa a vigorar acrescida do


seguinte art. 7º-B: (Promulgação partes vetadas)

‘Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado


previstos nos incisos II, III, IV e V do caput do art. 7º desta Lei:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.’”

O tipo penal busca resguardar o exercício da advocacia enquanto atividade


indispensável à administração da justiça. É importante destacar que o tipo penal
abrange somente parte dos vários direitos e prerrogativas previstos no Estatuto da
Advocacia. O desrespeito aos demais somente produzirá efeitos na seara extrapenal.
Assim, percebe-se que o legislador considerou alguns direitos e prerrogativas mais
essenciais para o adequado exercício da advocacia e optou por criminalizar sua
violação, como meio de cAumprir o mandamento constitucional previsto no art. 133 da
Constituição da República.

Já faço uma crítica à redação do artigo que deveria ter colocado no texto do tipo penal
que é crime violar direito ou prerrogativa da Advocacia e não de Advogado no gênero
masculino.

Antes de comentar o dispositivo importante destacar a redação do artigo 7º do Estatuto


da Advocacia a fim de identificar quais direitos e prerrogativas estão protegidos pelo
novo diploma legal. Vejamos in verbis:

Art. 7º São direitos do advogado:

40
II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus
instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e
telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia; (Redação dada pela Lei
nº 11.767, de 2008)

III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem


procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em
estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;

IV - ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por


motivo ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob
pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da
OAB;

V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão


em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim
reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar; (Vide ADIN 1.127-8)

SUJEITOS DO CRIME:

As condutas podem ser praticadas por qualquer agente público, no caso dos incisos II,
III e IV. No caso do inciso V, o delito pode ser cometido tanto por magistrado que
determine o recolhimento em local indevido quanto por agente público que o faça por
conta própria, sem determinação judicial. O crime admite coautoria em todas as
hipóteses previstas. Mesmo na situação prevista no inciso V a coautoria será possível,
quando se tratar de decisões colegiadas, inclusive em colegiados de juízes em primeiro
grau em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por
organizações criminosas, como permite a Lei nº 12.694/2012.

CONDUTAS CRIMINALIZADAS:

O Estatuto da Advocacia prevê dezenas de direitos e prerrogativas de advogados. A lei


nº 13.869/2019 passou a tipificar a violação a quatro desses como crime de abuso de
autoridade.
A primeira delas é violar escritório ou local de trabalho do advogado, incluindo seus
instrumentos de trabalho e sua comunicação relativa ao exercício da advocacia:

“Art. 7º São direitos do advogado:


(…) II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus
instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e
telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia;”.

O próprio Estatuto da Advocacia deixa claro que não há violação quando houver indícios
da prática de crime pelo próprio advogado, sendo plenamente possível que, nessa
situação peculiar, o escritório do advogado seja alvo de medida de busca e apreensão.

“Art. 7º. (…) § 6º Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por
parte de advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da
inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada,
expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser cumprido
na presença de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese, vedada a
utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a clientes do

41
advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que contenham
informações sobre clientes.

§ 7º A ressalva constante do § 6º deste artigo não se estende a clientes do advogado


averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partícipes ou co-
autores pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra da inviolabilidade”.

A medida de busca e apreensão deve se limitar à apreensão de documentos que digam


respeito à atuação do advogado junto aos clientes contra quem existam prévios indícios
de coautoria ou participação delitiva, pelo mesmo fato que motivou a expedição do
mandado de busca e apreensão.
Qualquer que seja a motivação da medida, a busca e apreensão deverá ser realizada
inteiramente na presença de representante da OAB, até sua conclusão. Os agentes
públicos devem preservar a integridade do local e só iniciar o cumprimento da busca
com a chegada de representante da OAB.

A segunda hipótese de abuso de autoridade é a violação ao direito de comunicação do


advogado com seu cliente preso, de forma pessoal e reservada, ainda que sem
procuração.

“Art. 7º São direitos do advogado:


(…) (…) III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem
procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em
estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;

A terceira hipótese de abuso de autoridade se dá com o desrespeito a prerrogativa de


advogado em caso de sua prisão.

“Art. 7º São direitos do advogado:


(…) (…) IV - ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por
motivo ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de
nulidade e, nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB;

O Estatuto da Advocacia faz distinção quanto ao motivo da prisão. Se houver ligação


com o exercício da advocacia, a prisão só poderá ser efetuada na presença de
representante da OAB. Se for por outro motivo, tal formalidade não será necessária,
bastando que se comunique o ocorrido à respectiva unidade seccional da Ordem dos
Advogados do Brasil. Assim, se a prisão for motivada por uma discussão de trânsito,
violência doméstica ou outra situação que não guarde relação com a prática da
advocacia, o advogado poderá ser preso em flagrante normalmente, bastando que se
comunique posteriormente o fato à OAB.

Contudo, caso o mesmo advogado seja preso temporariamente por fundada suspeita
de integrar organização criminosa e operar lavagem de capitais em benefício de clientes
que integram o grupo delitivo, valendo-se da condição de advogado, a prisão precisará
ser efetuada na presença de representante da OAB.

A quarta hipótese trata da violação ao direito a ser preso em estabelecimento adequado,


segundo os parâmetros fixados pelo Estatuto da Advocacia.

“Art. 7º São direitos do advogado:


(…) (…) V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão
em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim
reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar; (Vide ADIN 1.127-8)”.

42
ATENÇÃO!! DICA DA MEGA!

Existe ainda outra hipótese de abuso de autoridade prevista no Estatuto da Advocacia


que não foi expressamente revogada pela nova lei de abuso de autoridade nem com
ela é incompatível, pelo que se entende que continua em vigor. Trata-se do art. 7º, §12,
assim redigido:

“Art. 7º São direitos do advogado: (…)


§ 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento
incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças
já incluídas no caderno investigativo investigativo implicará responsabilização
criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso
do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do
direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz competente”
(Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016).

O dispositivo consagra o direito do advogado de ter acesso a investigações de qualquer


natureza, podendo extrair deles cópias físicas ou digitais, no todo ou em parte. Não se
trata de direito absoluto, tendo o próprio Estatuto da Advocacia estabelecido que:

“Art. 7º São direitos do advogado: (…)


§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o
exercício dos direitos de que trata o inciso XIV. (Incluído pela Lei nº 13.245, de
2016)

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o


acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em
andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências”.

O objetivo da medida é permitir o adequado exercício do direito de defesa, evitando


que seja obstaculizado por empecilhos burocráticos de ordem administrativa. Assim,
eventuais portarias ou ordens verbais que impeçam a consulta a autos processuais por
advogado são ilegais. Trata-se de expressão do direito de defesa e do livre exercício da
profissão de advogado, que devem ser preservados.

TIPICIDADE SUBJETIVA:

Dolo com finalidades específicas do art. 1º, §1º. Não se pune a conduta culposa,
motivada por caso fortuito, força maior, imprudência, negligência ou imperícia. É preciso
que seja uma ilegalidade manifesta, produzida de forma intencional com um ou mais
dos fins previstos no art. 1º, §1º.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA:

O crime se consuma com a violação a um dos direitos de advogados, especificados nos


incisos II, III, IV e V do art. 7º do Estatuto da OAB. A violação dolosa a outros direitos e
prerrogativas se encontra fora da esfera penal, exceto no caso do art. 7º, §12, já
comentado neste capítulo.
Não se admite a forma tentada, por inviabilidade de fracionamento dos atos executórios.

ASPECTOS PROCESSUAIS:

Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, que admite transação penal, já que a
pena máxima não é superior a dois anos. Vale recordar que a transação penal não

43
produz efeitos civis, cabendo ao interessado ajuizar a ação cabível no juízo cível, como
estabelece o art. 76 da Lei nº 9.099/95. Caso não seja cabível a transação penal, pela
incidência de alguma das vedações previstas no art. 76, § 2º da Lei nº 9.099/95, será
possível a celebração de acordo de não persecução penal, por se tratar de delito com
pena mínima inferior a quatro anos, cometido sem violência ou grave ameaça a pessoa.
Vale destacar que o ANPP não se aplica a “delitos cometidos por militares que afetem
a hierarquia e a disciplina” (§ 12). Se, por qualquer motivo, não for celebrado o acordo
de não persecução penal, será possível a suspensão condicional do processo, nos
termos do art. 89 da Lei nº 9.099, por se tratar de crime punido com pena mínima igual
ou inferior a um ano.

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