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Castelo sem castelo


Reino de Morada Nova
O amigo Banabuiú
Conhecendo o reino
Reencontro de chocolate
Caverna do tempo
Voltando à Morada Nova
Construindo um novo reino
De volta da aventura

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Dedicatória
..............................................................................................
Dedico a todos os morada-novenses que descobriram a
“fórmula da juventude” e ultrapassaram os 100 anos de
idade.
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Agradecimento
..............................................................................................
Agradeço aos amigos radialistas Renato Guimarães,
Rosimar Feitosa, Marcos Freitas e Suely Saraiva por
incentivarem os ouvintes a adquirirem meus contos.

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CASTELO SEM CASTELO

Era final de ano e toda minha família estava reunida


em Morada Nova, cidade que fica no interior do Ceará,
para comemorar mais um ano de vida da minha bisavó,
uma senhora que tinha mais de cem anos.
Eu era apenas uma das centenas de pessoas, como
filhos, netos, bisnetos, entre outras, que consequentemente
entraram para a família, como as noras e genros que
estiveram naquela data tão especial.
Eu tinha 10 anos e era um dos bisnetos que morava
no Norte do país e tinha ido conhecer minha bisavó
pessoalmente.
Horas depois eu e outros primos, que conheci no
mesmo dia, brincávamos na areia molhada em frente a
casa onde todos estavam colocando suas conversas em dia
quando minha bisavó escapou das perguntas dos familiares
sobre como ela estava etc; e passou a nos observar na
nossa brincadeira de fazer um castelo de areia. Ela se
aproximou, pediu nossa atenção e falou:
— Sabiam que quando vocês usam suas
imaginações as coisas podem acontecer?! Isso mesmo!
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Vou lhes contar uma história que aconteceu há muitos
anos com um garotinho chamado Etelví. Ele cursava o
3°ano do Fundamental.
Certo dia, a professora havia falado que iriam para
um passeio. Nele, os alunos visitariam uma comunidade
próxima ao rio Banabuiú, um importante rio que corta a
cidade de Morada Nova.
A turma do garoto era composta por 30 alunos.
Saíram em um ônibus em direção a comunidade que se
chamava Castelo. Logo a imaginação das crianças
começava a fervilhar, imaginado centenas de coisas, por
exemplo: como seria o castelo, se haveria dragões,
princesas, carruagens, cavaleiros armados etc.
Para diminuir a euforia, a professora falou que
apenas o lugar levava aquele nome.
Mesmo assim os estudantes estavam contentes, pois,
qualquer lugar seria muito melhor que aquele ambiente
fechado de sala de aula.
Não demorou meia hora andando de ônibus quando
foram anunciados que haviam chegado ao local.
— Nossa como é perto! Não deu nem tempo esquentar o
banco do ônibus! — falou uma das garotas da turma.

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Desceram do ônibus e não viram nada de diferente,
apenas algumas casinhas e uma maior que se destacava
das demais. Tudo muito tranquilo.
Os garotos foram recebidos por um casal de idosos.
Eram os pais da professora, que anualmente recebiam os
alunos da filha com o maior carinho e atenção.
A casa era enorme, com vários quartos, paredes
grossas e telhas que pareciam ser bastante pesadas. Na
parede da sala existiam vários quadros com imagens de
santos. Eles eram uma família muito religiosa. A jovem
professora se chamava Luzia. Ela havia nascido no dia de
algum daqueles santos na parede que se chamava Luzia,
Santa Luzia.
O grupo ficou dividido. As meninas ficaram
deitadas em colchões e os meninos foram convidados a
jogar bola no imenso terreiro em frente à casa de alpendre.
O dia estava nublado e o vento gostoso daquela manhã
estimulava parte da turma a passar horas jogando.
— Etelví, você quer ficar no gol? — gritou um de
seus colegas tentando envolvê-lo na brincadeira. Mas,
como eles sabiam que Etelví nunca gostou de jogar, o
máximo que ele poderia fazer seria ficar pegando as bolas

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que caíssem para longe. Assim ficou. Ficou por horas
pegando as bolas que caíam perto de uma mata cheia de
plantas espinhentas ao lado do casarão.
Entre uma partida e outra, despertava no garoto o
desejo de entrar na mata. E não demorou para que a bola
caísse mais longe, entre as plantas que despertavam sua
curiosidade.
A bola caiu entre as moitas de forma que para achá-
la somente entrando no matagal. Etelví entrou no mato
enquanto os meninos providenciavam outra bola, pois ele
iria demorar achar aquela entre as plantas.
Com muita dificuldade adentrou a mata. Tudo
estava muito silencioso. Foi aí que avistou o que parecia
ser a entrada de uma caverna, cheia teias de aranhas e
troncos secos que dificultavam a passagem. Criou
coragem e entrou na gruta.
Mesmo sendo pequeno teve dificuldades para entrar
no local. À medida que ia entrando na gruta sentia um
forte cheiro de chocolate e começou a imaginar que ali
havia uma fábrica do produto.

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Para sua surpresa, avistou no meio da caverna,
deitada sobre uma pedra, uma garotinha vestida como uma
princesa, dormindo um sono profundo.
Era uma garotinha que parecia uma princesinha da
cor de chocolate.

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REINO DE MORADA NOVA

Aquele ambiente estava deixando o garoto com


muito calor. Era escuro e abafado. Tinha duas armaduras
como se fossem de soldados gigantes e dois sapos que
pareciam vigiar aquele lugar. Ele já estava suando muito!
Ao se aproximar da garotinha, uma gota do seu suor caiu
na mão da princesinha. Foi o bastante para que ela
acordasse do sono profundo que estava.
— Onde estou? — falou a menininha assustada.
— Numa caverna! — respondeu o menino.
— E quem é você?
— Me chamo Etelví. Estou com meus amigos da
escola visitando esta comunidade chamada Castelo.
— Castelo? Meu Deus, precisamos sair daqui antes
que os outros venham nos pegar! — falou a princesinha
puxando o braço do menino.
— Outros? Quem? — perguntou o garoto à
princesa, que não se preocupou em responder, entrando
num dos túneis que davam saída àquela caverna. Ela
parecia conhecer bem aquele lugar. Após andar num dos
túneis, saíram numa parte completamente diferente de
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onde estavam seus amigos da escola. Tinha um castelo e
no portão havia soldados gigantes, com lanças e escudos
nas mãos.
— Tenho que tomar meu reino de volta! — falou a
princesinha expressando raiva em seu semblante.
— Tudo bem, mas antes, me explique o que está
acontecendo aqui? Uma hora eu estava à procura de uma
bola, agora estou num lugar completamente diferente de
onde estava, que não sei onde é, e ainda por cima bem em
frente a um castelo de verdade. — questionou Etelví.
— Bom, onde você mora, menino? eu não sei, pois
estava dormindo até agora. Mas este lugar onde estamos é
meu mundo real, o Reino da Morada Nova.
— Como assim, Morada Nova? — perguntou o
menino. Ele estava achando tudo muito confuso.
Aquele lugar com castelo de verdade, princesa,
fonte que escorria chocolate e as coisas que aquela menina
estava dizendo, parecia confundir o juízo do menino.
— Cadê todo mundo? As ruas, o centro da cidade, minha
escola, meus amigos?
Parecia que ele tinha voltado ao passado. Pediu que
a garotinha continuasse com sua história.

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— Então sente-se aí. É uma longa história. Bem, me
chamo Júlia, tenho 10 anos, quer dizer, era a idade que
tinha até quando fui enfeitiçada e guardada naquela
caverna. Sou filha de escravos que vieram de muito
distante para a construção deste reino. Meus pais eram um
casal de escravos que faziam seus trabalhos com muita
dedicação ao ponto de chamar a atenção do rei, que
gostava muito dos dois.
Como o rei era muito bom e não tinha familiares,
pois quando sua amada esposa faleceu não quis casar-se
com mais ninguém, resolveu que deixaria o castelo nas
mãos de meus pais, que se sentiram muito felizes com a
proposta.
Porém, existia uma jovem que achava que seria a
pessoa ideal para receber a herança do rei em vez dos
meus pais. Ela procurou o rei e disse que merecia ganhar
suas heranças, pois desempenhava, assim como meus pais,
suas atividades com muita perfeição no castelo. A
majestade reconheceu que de fato ela era uma boa
ajudante.
Então o rei lançou um desafio: quem engravidasse
primeiro e que ao nascer a criança fosse do sexo feminino,

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receberia o Reinado da Morada Nova para governá-lo
quando o mesmo viesse a falecer.

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O AMIGO BANABUIÚ

Meses se passaram e as duas jovens senhoritas


ficaram grávidas na mesma época. Porém, 9 meses depois
veio a surpresa de que somente minha mãe tinha tido uma
menina como o rei havia desafiado.
Todos os dias a realeza passava em minha casa para
me ver, pois gostava de ficar admirando minha cor de bebê
negra.
A outra mulher, movida pela inveja, não se
contentou e me raptou antes mesmo que minha mãe
recebesse o trono. A mulher tentou se livrar de mim
jogando-me num panelão de chocolate derretido.
Para minha sorte, o chocolate não estava tão quente
como ela imaginava. Quando fui encontrada, meu corpo
estava totalmente coberto de chocolate.
Minha mãe ainda não havia recebido o reino. O
imperador estava preparando um decreto para que um dia,
quando ele morresse, minha família pudesse receber o
trono.

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Desde o dia que fui encontrada, nunca mais o cheiro
de chocolate saiu do meu corpo e as pessoas achavam que
eu havia virado uma criança de chocolate.
Aproveitaram para espalhar a mentira de que tudo
que eu viesse a tocar viraria chocolate, e o povo
acreditava. A fonte e o lago bem no centro da cidade
viraram chocolate líquido. Desde aquele dia fiquei longe
da fonte a frente do castelo e tudo que contivesse água.
Sempre fiquei longe de tudo e de todos.
Meses depois o rei faleceu e meus pais assumiram o
trono. Enquanto isso, eu era proibida de tocar em qualquer
coisa. Inclusive, fiquei com muito medo de água.
Minha mãe acreditava que eu poderia desmanchar
caso eu fosse molhada ou pegasse chuva, por exemplo.
Tempos depois a água do reino estava acabando e eu
fui a culpada, pois toda água estava virando chocolate e
não havia água para evaporar e chover no reino da Morada
Nova.
Foi aí que a malvada mulher, que queria tomar o
trono a qualquer preço, reuniu o povo, que já estava
frustrado com a seca terrível, para expulsar minha família
daquele lugar.

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Meus pais foram expulsos e voltaram a ser escravos
bem longe dali, e eu, que já tinha 10 anos, aproveitei para
fugir. Andei por vários dias sem saber o que fazer até que
ouvi uma voz que me chamava. Ao olhar para trás pude
perceber que quem estava tentando se comunicar comigo
era um rio.
— Ei, qual seu nome?
— Minha nossa, um rio que fala? — me indaguei no
pensamento.
— Meu nome é Júlia. — falei ao rio, que logo
tomou forma de uma criatura com olhos e boca.
— Meu nome é Banabuiú! Por que está triste,
menina?
— É que fui expulsa com minha família do Reino de
Morada Nova que meus pais ganharam.
— Humm, já ouvi falar!
— Fomos expulsos porque tudo que toco vira
chocolate.
— Pois me toque! — falou o rio Banabuiú sem
temer o que pudesse lhe acontecer.
A princípio fiquei apreensiva, mas depois pus meu
dedo do pé no rio, que não virou chocolate.

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— Nossa!
— Viu só como não virei um rio achocolatado?!
Naquele instante, o rio Banabuiú abriu meus olhos
para o que tinha acontecido. Ele me contou que a malvada
mulher, se aproveitando da ocasião em que todos achavam
que eu tinha poderes para transformar tudo em chocolate,
jogava produtos para a fabricação de chocolate nas águas,
de forma que culpassem a mim. — finalizou a garotinha
com sua história.

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CONHECENDO O REINO

Minha bisavó me pediu um copo com água e quando


retornei ela continuou:
— Júlia tinha muita vontade de entrar na cidade próxima
ao castelo, que era cercada por um grande muro, e
reencontrar seus amigo de infância; José de Fontes e
Dionísio de Fontes. — acrescentou minha bisavó,
prendendo minha atenção e dos meus primos, que
tínhamos parado de brincar para ouvir aquela interessante
história.
Etelví se propôs a disfarçar-se de escravo e andar
pelo reino colhendo alguma informação sobre os pais de
Júlia e seus amigos.
Júlia ficou aguardando. Não poderia acompanhá-lo
devido ao seu forte cheiro de chocolate. Seriam facilmente
identificados.
O menino vestiu umas roupas velhas que estavam
jogadas em um estábulo e saiu andando por vários lugares
fazendo um reconhecimento do local. Concluiu que ali era
realmente a cidade de Morada Nova quando viu um
pequeno morro bem no centro da cidade.
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— O Cristo Rei! — gritou o garoto, que não conteve
a alegria e quase foi identificado.
Andou mais um pouco e viu uma bonita lagoa que a
princesinha havia falado. Pelo formato, pôde perceber que
se tratava da Salina, lagoa que fica no centro de Morada
Nova, só que de chocolate líquido. Para ele estava sendo
muito legal andar num lugar onde seria a Morada Nova
que ele tinha nascido, porém sem as casas, as ruas e as
pessoas que ele conhecia.
Entrou no castelo, que mais parecia uma mansão de
terror onde as pessoas daquele lugar estavam sendo
escravizadas.
Em um determinado momento, pôde ver uma
estranha criatura vestida de preto aproximar-se. Era a
rainha, a mulher que havia tomado o reino das mãos dos
pais de Júlia.
Andou mais um pouco e viu uma espécie de barraca
de ferragens com uma placa onde estava escrito: irmãos
Fontes. Logo concluiu que se tratava dos garotos que Júlia
havia encarregado-o de procurá-los.
Para sua surpresa não eram dois garotos
adolescentes que estavam ali, e sim, dois homens adultos

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de cabelos brancos. O menino se aproximou e falou: —
Olá, meu nome é Etelví, trouxe um recado de uma amiga
de vocês.
Eles passaram alguns minutos conversando sobre
quando eram crianças. E de fato eram eles mesmos, os
irmãos Fontes. Ficaram admirados com o fato de Júlia
estar viva durante todos aqueles anos.
— Nossa amiga foi raptada quando andava sozinha
e nunca ficamos sabendo onde ela estava. Já
acreditávamos que estivesse morta. — falou um deles.
— Eu a encontrei em uma caverna a alguns
quilômetros daqui. Eu sou de uma cidade que também se
chama Morada Nova. — acrescentou Etelví aos homens.
Eles ficaram admirados com sua história e por ele ser de
um lugar que mais parecia ser delírio do jovem garoto.
Os dois irmãos guardaram suas ferramentas e saíram
em direção aonde Júlia os aguardavam.

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REENCONTRO DE CHOCOLATE

Os três amigos se abraçaram forte. Júlia e os dois


irmãos que não tinham as mesmas feições de adolescentes
como quando se conheceram.
— Nossa! Você não envelheceu, Júlia.
— Acredito que tenha sido o chocolate que
conservou minha pele, minha aparência de criança. —
disse Júlia.
Júlia aproveitou para contar-lhes que descobriu, com
ajuda do rio falante, que não era a responsável por
transformar o lago em chocolate, como acreditavam as
pessoas da época. E que foi encontrada por soldados da
rainha má, quando estava às margens do rio e os mesmos
obrigaram-na a tomar um líquido que a fez dormir
profundamente por vários anos.
— Precisamos encontrar uma forma de devolver o
Reino da Morada Nova que lhe pertence. — disseram os
irmãos.
— Mas de qualquer forma o importante é o nosso
reencontro depois desses anos todos. — falou Júlia.

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— Bem, Júlia, os seus pais não estão mais entre nós
como você já deve ter concluído ao olhar para nós e vê que
já estamos bem envelhecidos. Muitas coisas mudaram
depois que aquela mulher má, ou melhor, a bruxa, assumiu
o trono do reino da Morada Nova. — acrescentou um dos
Fontes.
— Bruxa? — indagou o menino aos irmãos Fontes.
— Isso mesmo, meu caro Etelví. Aquela mulher não
se contentou apenas com o trono que tomou e então fez
um feitiço para que nunca morresse. Feitiço daqui, feitiço
dali, logo acabou virando uma bruxa para impor medo ao
povo escravizado.
Etelví, Júlia e os Fontes saíram à procurar o rio
Banabuiú, pois creditavam que ele pudesse orientá-los
sobre alguma forma de tomarem o reino que pertencia a
Júlia por direito.
Assim fizeram. Foram à procura do rio, que estava
bem cansado. Suas águas estavam poucas, escorrendo
como um pequeno riacho. Parecia que ele não estava bem.
— Olá amiguinha, Júlia. Há quanto tempo! — falou
o Banabuiú com um sorriso de causar admiração aos
irmãos e a Etelví, que nunca tinha visto um rio falar.

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— Viemos aqui para que você pudesse nos orientar
sobre como enfrentar a bruxa. — falou Júlia.
Eles ficaram reunidos na beira do rio, conversando
na tentativa de encontrar uma forma de ajudar sua amiga
Júlia.
O rio chamou a atenção para o fato de eles serem
num pequeno número e precisariam de mais reforços, pois
os soldados da bruxa eram fortes, gigantes e bem
treinados.
Não havia a mínima possibilidade de Júlia, uma
garotinha, os irmãos Fontes, e Etelví, um garoto de apenas
9 anos, enfrentar uma legião de soldados.

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CAVERNA DO TEMPO

Os amigos da garotinha Júlia precisavam contar com


a ajuda de mais alguém para entrarem no castelo e
tomarem o reino de volta.
Etelví voltou para a caverna e procurou a saída onde
estavam seus amigos da escola.
Após sair da gruta notou que as horas não haviam
passado, pois já deveria estar escuro. Quando se
aproximou de onde estavam jogando, perguntaram:
— Não vai pegar a bola, Etelví?
— Não notaram que já fui e demorei bastante!
Parece até que passei um dia longe daqui?
Todos riram.
— Você saiu à procura da bola e voltou! — falou
um dos colegas.
Naquele instante Etelví concluiu que aquela caverna
funcionava como um túnel do tempo e que congelava as
horas. Aquilo tava deixando-o fascinado! Bem pouco
tempo atrás ele estava numa época onde tudo era muito
rude e noutro minuto ele já estava num mundo moderno
com seus amigos da escola.

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— Tenho que voltar lá e trazer uma prova de que
aquele mundo existe. — pensou o menino. Sem uma prova
ia ser difícil contar com a ajuda dos seus amigos.
Etelví se preocupava sobre como ele poderia provar
que o reino existia e conquistar o apoio de seus amigos
para salvar o reino da princesinha de chocolate. Sem uma
evidência não iria adiantar. Eles não iriam acreditar que
aquele ambiente existia, pois nem parecia que Etelví havia
saído do lugar para procurar a bola entre as moitas.
Disse aos seus amigos que ia procurar a bola
novamente e voltou a entrar na gruta, saindo logo mais
onde a princesinha estava.
Ao chegar do outro lado da caverna, Júlia
questionou sobre o mundo fora da gruta, ou seja, o mundo
de Etelví. Ficou curiosa para conhecer. O garoto se propôs
a trazê-la para que conhecesse seus amigos.

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VOLTANDO À MORADA NOVA

Júlia foi para a comunidade onde os amigos de


Etelví estavam. Quando chegaram, todos ficaram
admirados com a princesinha com forte cheiro de
chocolate.
Etelví perguntou pela professora e foi informado
que ela não estava, pois tinha ido com sua mãe ao centro
da cidade resolver, rapidinho, um problema no banco.
Enquanto isso, ficaram sob os cuidados de seu pai. O
homem limpava um cercado a alguns metros dali. Ela
tinha que retornar logo, pois a hora de voltarem para o
colégio já estava se aproximando.
As meninas aproveitaram para tocar a pele da
garotinha cor de chocolate.
Etelví levou seus amigos para a caverna e lhes
contou o problema que estava acontecendo no reino da
Morada Nova. Todos estavam eufóricos para conhecerem
o outro lado da gruta.
Ao chegar ao reino, ficaram fascinados com a visão
que tiveram e logo concordaram que realmente estavam
em Morada Nova, só que no passado.
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Foram até o rio Banabuiú, que falou que não seria
uma luta fácil e eles teriam que treinar um pouco para
enfrentar os guardas. Na turma tinha alguns garotos que
lutavam capoeira e se propuseram a ensinar aos demais.
Em poucas horas a garotada já se achavam preparados.
Eles se armaram de arcos, flechas e lanças
confeccionados e trazidos pelos irmãos Fontes.
Alguns segundos depois, partiram para a guerra.
Porém, ao encararem os soldados, puderam perceber que
eles eram em um número muito superior aos que apenas
apareciam na entrada do castelo.
Foi então que pensaram em correr para se salvarem
na caverna. Ao entrarem, não se deram conta que um dos
soldados os seguiam. Para a surpresa dos garotos, o
soldado virou um sapo quando entrou em um dos túneis.
Neste instante Etelví concluiu que na caverna, os soldados
virariam sapos.
Tiveram a ideia de atrair mais dos soldados para a
caverna, entretanto, precisavam alargar a entrada para que
uma grande quantidade de soldados entrassem. Assim
fizeram.

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Abriram a entrada da caverna retirando algumas das
pedras que conseguiam pegar. Retornaram para próximo
do castelo de forma que os soldados pudessem cair na
armadilha.
Como haviam premeditado, os soldados seguiram os
garotos e, ao entrarem na caverna, viraram centenas de
sapos que se espalharam nos túneis, assustando as colegas
de Etelví.
A partir daí parecia ser fácil tomar o reino das mãos
da bruxa.
Procuraram o rio Banabuiú para terem uma sugestão
de como tomariam o castelo, pois a bruxa havia fechado
todas as portas.
— Bem, o que eu poderia fazer seria juntar uma
grande quantidade de água e jogar sobre o castelo na
tentativa de tirar a bruxa de lá. — falou o Banabuiú.
— Mas isso poderia acabar derrubando o castelo. —
disse um dos irmãos Fontes.
Ainda que apreensivos, todos concordaram em
correr o risco! O Banabuiú jogou uma enorme quantidade
de água no castelo ao ponto de derrubá-lo. A bruxa ficou
soterrada entre os escombros.

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Todos que estavam naquele lugar se propuseram a
construir um novo castelo. Os irmãos Fontes fizeram uma
pesquisa popular para saber onde construiriam a nova
obra. O povo concordou que seria construído ao lado de
um grande lago, que ainda estava cheio de chocolate. Tudo
seria diferente. Um novo reinado.

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CONSTRUINDO UM NOVO REINO

Etelví explicou para sua turma que não se


preocupassem com os dias, pois o tempo que passariam no
reino da princesinha de chocolate seria diferente de suas
realidades, e que quando voltassem tudo estaria do mesmo
jeito.
Iniciaram a construção do castelo e em poucos dias
estava tudo pronto. Fizeram um caminho para que a água
do lago fosse trocada por águas limpas. Começou a chover
e todo o reino, que passou a chamar-se Vila do Espírito
Santo, uma homenagem ao primeiro nome de Morada
Nova, estava com muitas plantas, tudo bem verdinho e
florido.
As amigas de Etelví estavam empenhadas no
concurso de carruagens idealizado por elas próprias para a
inauguração do novo reinado. Estavam tão empolgadas
que sequer lembravam-se de suas casas. Elas eram muito
criativas e enfeitavam as carruagens com a maior
praticidade.
Quando o dia do desfile chegou a multidão pôde ver
as mais belas carruagens passar por um grupo de jurados,
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que selecionava a carruagem mais bonita de acordo com o
tema que as meninas sugeriam.
Em poucos instantes a alegria de todos que estavam
ali era surpreendida pela presença de um dragão com
enormes labaredas. A princesinha falou que tinha sido a
primeira vez que tinha visto um dragão de verdade.
Porém, aquele animal não parecia ser tão assustador
para os moradores do reino como foi para a turma do 3º
ano. A presença da estranha criatura havia estragado o
clima de diversão e deixado uma sensação ruim.
Instantes depois, viram que ele era dócil,
domesticável, se alimentava de uma espécie de planta que
levava o nome de ouro-verde e que ficava às margens do
rio Banabuiú.
Foram até o local onde o dragão se alimentava e
puderam concluir que o ouro-verde estava contaminado.
Por curiosidade, os alunos perceberam que onde haviam as
plantas era na verdade o exato local onde existia o
Perímetro Irrigado na Morada Nova real.
“Haveria a possibilidade de o mundo real atingir
aquele lugar de fantasias?” - questionavam-se entre eles.
Então concluíram que deveriam preservar a Morada Nova

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real para que não acontecesse nada de ruim à cidade
encantada que eles estavam tendo o prazer de conhecer e
tudo parecia estar interligado.
Naquele instante, um dos garotos havia falado que
apenas tinha pensado no trabalho da escola onde falaria
sobre o uso de agrotóxicos em plantas no Perímetro
Irrigado.
— Então é isso! — tudo que nós pensamos ou
imaginamos acaba acontecendo no reino que estamos. —
disse Etelví aos demais amigos.
O garoto acrescentou que os gigantes, o dragão, a
bruxa, entre outras coisas, se tornaram reais quando eles
imaginaram tais criaturas!
— Fui eu quem pensou no desfile de carruagens! —
falou uma das colegas do garoto.
Ao mesmo tempo que perceberam ser interessante
imaginar aquelas coisas, concluíram que poderia ser
perigoso usar a mente para pensar coisas ruins.

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DE VOLTA DA AVENTURA

Aquele lugar estava sendo divertido, apesar da


batalha que tiveram para tomar o reio das mãos da bruxa.
Tornou-se, também, mais interessante quando concluíram
que podiam usar a imaginação para criar situações e coisas
que só um mundo de fantasias como aquele poderia
proporcionar.
Passaram horas imaginando coisas, como quem fica
olhando para as nuvens “vendo” figuras, que logo
passavam a existir como num passe de mágicas.
Horas depois, Etelví e seus amigos retornaram para
a casa dos pais de sua professora, pois tinham que voltar à
escola.
O momento que saíram da gruta coincidiu com o
que a professora retornava do centro da cidade.
Os alunos estavam todos eufóricos ao entrarem no
ônibus e não paravam de falar sobre a aventura que
fizeram.
A professora não fazia ideia do que eles haviam
passado quando comentou ao motorista:

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— Tá vendo aí como é importante sair um pouco da sala
de aula? Um simples passeio como este já serviu para
renovar toda a turma. Estão falando até em princesas e
dragões!
O que eles não imaginavam era que a princesinha
cor de chocolate também havia entrado no ônibus e se
escondido atrás das caixas de ferramentas do motorista.
O cheiro de chocolate que circulava no interior do
veículo não levantava a desconfiança de que a garota
estivesse ali, pois achavam que fosse devido a restos de
lanches em vasilhas abertas.
Minha bisavó concluiu a história dizendo:
— Nunca desconfiaram que a princesinha ficou no ônibus
até todos saírem. E que passou a morar em Morada Nova,
tendo construído uma linda família.
A história contada por minha bisavó foi muito
interessante e despertou em mim a curiosidade de um dia
me encontrar com a tal princesinha que havia deixado o
seu reino para morar no nosso mundo real.
Quando nos despedíamos para retornar ao Estado
onde eu morava com meus pais, minha bisavó me chamou
e abraçou-me forte por alguns segundos. De repente o

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vento sacudiu os seus cabelos e saiu um agradável cheiro
de chocolate, no mesmo momento falei com um tom de
espanto:
— É a senhora! A princesinha de chocolate?!
Ela fez um sorriso leve e pediu baixinho no meu
ouvido que eu guardasse com muito carinho o segredo da
princesinha cor de chocolate.

FIM

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Olegário Gomes é chargista do jornal Folha do Vale;
trabalha na empresa Studio Edbenes; artista
plástico; professor de desenho e nas horas vagas se
dedica a escrever livros.

CONTATO COM O AUTOR


Rua Largo Corcovado, 154, Centro
Morada Nova – Ceará
CEP: 62.940 – 000

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88 9.9900 3955

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pois gostaria de ter sua opinião.

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