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CAMPOS MÓRFICOS1

A Natureza como um sistema inanimado e mecânico


No séc. XVII a Natureza foi rebaixada ao estado de simples matéria inanimada em
movimento, mecanicamente obediente às leis imutáveis da criação divina. Assim a
Natureza deixou de ser viva e identificada com a Mãe, como aconteceu em todas as
civilizações anteriores. Passou a haver somente o Mundo Máquina e Deus, seu
mecânico todo poderoso.
Ironicamente, o conceito de que a Natureza funciona automática e mecanicamente
tornou Deus cada vez mais supérfluo, até que nos finais do séc. XVIII Deus
desapareceu progressivamente da concepção científica do Universo. O ateísmo que a
seguir se instalou considera a Natureza como a única origem de todas as coisas.
Seguindo a ideologia oficial corrente, que corresponde ao Humanismo laico,
consideramos que a Natureza é um sistema físico inanimado e desprovido de
qualquer intenção, o qual deve ser explorado, usufruído, de acordo com os interesses
do progresso humano.

A revolução científica do século XVII negou à Natureza os atributos tradicionais da


vida: as capacidades de se auto-organizar e de se mover espontaneamente. A
matéria era inanimada e passiva, submetida a forças exteriores conformes com as
leis matemáticas do movimento.
Para melhor compreensão desta mudança crucial de paradigma, convém
recordarmos a distinção medieval entre natura naturata (a Natureza actuada) e
natura naturans (a Natureza actuante). A primeira refere-se aos fenómenos que
acontecem e são percebidos pelos nossos sentidos, a segunda refere-se ao poder
produtor invisível que origina os fenómenos. Na física animista medieval eram as
almas da Natureza que agiam: organizavam o desenvolvimento e comportamento
autónomos dos organismos e os modelavam por atracção. Assim o rebento era
atraído pela forma da planta adulta; a alma vegetal, invisível mas actuante,
modelava a matéria da planta em crescimento e organizava-a segundo as suas

1 Extractos do livro "A Alma da Natureza " de Rupert Sheldrake

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próprias finalidades. Para Aristóteles e os seus discípulos medievais as almas não


eram exteriores à Natureza, faziam parte dela; eram physis (físicas).
Os fundadores da ciência mecanicista, quando expulsaram as almas da Natureza,
que passou a ser simples matéria passiva em movimento, atribuíram a Deus todos os
poderes actuantes. A Natureza era totalmente natura naturata e o poder produtor, a
natura naturans, era divino, não físico, mais sobrenatural que natural.

Newton e Einstein
Antes de Newton a interconexão entre todos os corpos do universo era mantida pela
alma do mundo, a anima mundi, ou pelos turbilhões duma substância subtil
denominada éter. Nenhuma destas causas era material, no sentido usual do termo,
tal como também não o eram as forças gravíticas que as substituíram. As equações
gravíticas permitem calcular a grandeza dessas forças, mas nada dizem sobre a sua
essência e Newton dizia:
" É inconcebível que uma porção, qualquer que ela seja, de matéria bruta,
inanimada, possa agir sem contacto mútuo sobre outra porção de matéria. Imaginar
que a gravidade é inata, inerente à matéria, e da mesma essência desta, de tal modo
que um corpo pode agir à distância sobre um outro, através do vazio e sem mediação
de algo que possa transmitir essa força de um corpo ao outro, é para mim um
absurdo tal que não creio que algum homem dotado de um mínimo de reflexão
filosófica possa esposar tamanha enormidade"
Finalmente a única explicação que Newton encontrou para explicar os fenómenos
gravíticos foi a vontade de Deus: " Existe um espírito infinito e omnipresente no seio
do qual a matéria se move segundo leis matemáticas".
Com o passar dos anos, as pessoas foram adaptando-se à ideia (absurda, no
entender de Newton) de que a matéria, embora bruta e inanimada, podia exercer à
distância poderes de atracção. Só no início do séc. XX, a teoria da gravitação de
Einstein deu a esta misteriosa força de atracção uma explicação física, mas não
material, sob a etiqueta: "campo gravítico".
Tal como a anima mundi, o campo gravítico de Einstein não se situa nem no espaço
nem no tempo; antes contem a totalidade do universo físico, incluindo o tempo e o
espaço. O campo gravítico é o espaço-tempo e são as suas propriedades geométricas
que provocam os fenómenos de gravitação; age como causa formadora e formal, tal
como as almas da filosofia medieval.

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Enquanto os discípulos de Newton suponham que as forças de atracção gravíticas


surgiam inexplicavelmente dos corpos materiais e se propagavam em todas as
direcções através do espaço, para a física moderna é o campo gravítico que inclui
tanto os corpos materiais como o espaço que os separa. Assim, a Lua não gira em
torno da Terra sustida por uma força, como na física de Newton, mas sim porque o
espaço-tempo no qual ela se move é curvo.
Com a sua famosa equação E = m c 2 Einstein estabeleceu a equivalência entre a
matéria e a energia e provou a sua convertibilidade recíproca. Assim, actualmente
considera-se que toda a Natureza é constituída por energia, que pode adoptar
diferentes formas, organizadas pelos campos energéticos.

A matéria negra
A Cosmologia moderna diz-nos que a matéria tal como a conhecemos (constituída
por átomos) é o constituinte mais raro do Universo em que vivemos: escassos 4,4%.
O resto é 23% de "matéria negra fria" - cuja natureza é desconhecida. Os restantes
73% são "energia negra", ainda mais misteriosa, a que se atribui a acção de repulsiva
de tudo o mais.
Assim, a grande maior parte do que constitui o nosso Universo é-nos desconhecida,
só a apercebemos pelos seus efeitos gravíticos. Tal como o nosso consciente flutua
na superfície do mar dos nossos processos mentais inconscientes, assim também o
mundo físico conhecido flutua no oceano cósmico da matéria e energia negras.

A causalidade formativa e a ressonância mórfica


No paradigma do humanismo laico, que considera a Natureza como inanimada e
desprovida de intenção, é difícil entender o crescimento e desenvolvimento dos
organismos vivos, i. e. a sua morfogénese (do grego morphe para forma e genesis
para nascer). As minúsculas bolotas dão carvalhos. As máquinas não crescem nem
se desenvolvem espontaneamente.
Também o ADN não chega para explicar a vida. Os genes definem a estrutura
primária das proteínas, não a forma do meu nariz, ou da flor da orquídea. O modo
segundo o qual as proteínas são organizadas nas células, e as células nos tecidos, e
os tecidos nos órgãos e os órgãos nos organismos não é definido pelo código
genético, o qual só programa as moléculas proteicas.

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E ao nível do simplesmente físico e químico também há fenómenos que


permanecem inexplicáveis na estreiteza do humanismo laico. Por exemplo: os
químicos sabem como é difícil sintetizar novos compostos: várias semanas, às vezes
meses, passam até que surgem os primeiros cristais na solução sobre saturada. Mas
daí em diante quanto maior é a produção do novo composto mais facilmente a
cristalização acontece, não só nesse laboratório como nos outros em todo o mundo.

Para explicar como as coisas se organizam no Universo, Sheldrake desenvolveu na


década de 1980 a hipótese da causalidade formativa, segundo a qual tudo são
sistemas auto-reguladores, evolutivos, organizados pelos chamados "campos
mórficos".
A propriedade formativa dos campos mórficos não é determinada por leis
matemáticas intemporais (tal como no paradigma do cientismo actual) mas pelas
formas actuais e passadas dos outros existentes da mesma espécie.
O modo segundo o qual as moléculas de hemoglobina, os cristais da penicilina ou as
girafas do passado influenciam os campos mórficos genéticos actuais depende dum
processo denominado de "ressonância mórfica" – o qual se baseia na similitude
reconhecida através do espaço e do tempo.
Segundo a hipótese da causalidade formativa, qualquer novo esquema de
organização – duma molécula, duma galáxia, dum cristal, duma planta, ou dum
instinto – implica o aparecimento de um novo campo mórfico. Pela repetição esses
novos esquemas organizacionais tornam-se cada vez mais habituais. É esta memória
da natureza que torna cumulativo o processo evolutivo.
A ressonância mórfica não implica qualquer transferência de energia, mas sim de
informação. Por isso não se dissipa com as distâncias de transmissão e explica as
regularidades da Natureza; que são regidas pelos hábitos herdados por ressonância
mórfica – não por leis eternas não materiais e não energéticas.
A causalidade formativa e a ressonância mórfica são facilmente assimiláveis a
conceitos fundamentais de antigas tradições como a Gnose, a Cabala e o Dharma
budista. Em relação a este último lembro os ensinamentos de consciência base (de
tudo) ou consciência fundamental (sk.alayavijnana) e de produção condicionada
(sk.pratityasamutpada).

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