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caminho do cristianismo
Em Agostinho, particularmente, há muito que aprender – como fizeram também
nossos pais reformadores e toda tradição cristã nesses últimos dezessete
séculos
No artigo abaixo é possível entender que foi Agostinho e como ele colaborou
na propagação do cristianismo.
Isso não quer dizer, todavia, que a teologia não deva buscar profundidade e
desenvolvimento. Em grande medida, o produto teológico que temos hoje à
nossa disposição, é fruto do labor criativo, zeloso e meticuloso empreendido
por estudiosos da Palavra de Deus, ao longo da história. Então, se por um
lado, no núcleo do que a fé cristã afirma hoje, do que a igreja cristã crê, estão
aquelas doutrinas que foram cridas e ensinadas desde os apóstolos, por outro,
os séculos de história cristã serviram para o desenvolvimento, aprofundamento,
refinamento e apuração dessas doutrinas. Não há grandes novidades, mas
houveram grandes progressões.
As Confissões
Buscava um meio que me desse força necessária para gozar de ti, e não a
encontrei enquanto não me abracei ao Mediador entre Deus e os homens, o
homem Cristo Jesus, que está sobre todas as coisas, Deus bendito por todos
os séculos, que chama e diz: Eu sou o caminho, a verdade e a vida.12
Também vemos a luta da carne, a qual ele chama de luta com a luxúria:
“Admirava-me de já vos ter amor e de não amar um fantasma em vez de Vós.
Era arrebatado para vós pela vossa beleza, e logo arrancado de vós pelo meu
peso. Este peso eram os hábitos da luxúria”.13 Sua luta contra as tentações
sexuais ainda é exemplificada pela famosa oração: “Senhor, dá-me a castidade
e a continência, mas ainda não”.14 Todavia, é preciso registrar, muitas vezes a
culpa de Agostinho por conta de sua concupiscência tem levado muitos a
acusarem-no de ter sido promíscuo. Mas talvez essa conclusão seja injusta,
pois ele mesmo registra somente um caso amoroso, com uma concubina, mãe
de seu filho Adeodato, mulher a quem muito amou, embora nunca tenha se
casado com ela.
Ele ainda conta como Deus o alcançou e salvou e como ele passou a perceber
a mão providente de Deus nas diversas fases de sua vida, além de ter uma
noção mais plena e gozosa da beleza de Deus, depois de sua conversão. As
Confissões também são uma expressão de adoração e uma declaração de
amor e devoção a Deus e nela ele exalta a Deus louvando-o pela criação. Num
certo ponto, ele confessa:
Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas
dentro de mim, e eu lá fora, a te procurar! Eu, disforme, me atirava à beleza
das formas que criaste. Estavas comigo, e eu não estava em ti. Retinham-me
longe de ti aquilo que nem existiria se não existisse em ti. Tu me chamaste,
gritaste por mim, e venceste minha surdez. Brilhaste, e teu esplendor
afugentou minha cegueira. Exalaste teu perfume, respirei-o, e suspiro por ti. Eu
te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e o desejo de tua
paz me inflama.15
E há muito o que ler de Agostinho. Dentre os Pais da Igreja, seus escritos são
os mais abundantes. A história de sua vida e sua obra foram catalogados pelo
cuidadoso trabalho de seu biografo e contemporâneo Possídio, que escreveu a
Vita Augustini e indexou nela o Indiculos, que elencava e reproduzia suas
principais obras. São centenas de homilias e cartas ainda preservadas e várias
obras filosóficas e teológicas que, conforme coloca Ratzinger, “são de
importância fundamental, não só para o cristianismo, mas para a formação de
toda cultura ocidental”.17
Em seus escritos, temos um tesouro de sabedoria que pode fazer muito bem
ao povo de Deus, se lido com discernimento. É claro que Agostinho teve os
seus limites e cometeu seus equívocos. Mas encontramos nele uma mente
brilhante e um coração radiante, que ardia por amor a Deus, como pouco se vê
em nossos tempos. Temos nele um esforço diligente para submeter todas as
coisas à revelação. Suas Confissões, aliás, são a grande prova disso. Foi
somente quando a Escritura falou que sua obstinada busca pela verdade
cessou. A partir desse ponto, ele passa a ser um estudioso da verdade contida
nas Escrituras. Conforme colocou Solano Portela, em uma conversa que
tivemos sobre o bispo de Hipona, “Agostinho cavou nas Escrituras em busca
da verdade; a Reforma fez o mesmo; Calvino continuou cavando e olhando
com mais clareza as Escrituras; nós temos de fazer o mesmo. Igreja
Reformada sempre se reformando é isso”.