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Tema de aula

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eni roans : i n fa n t i l

Um ponto
de encontro
das crianças
Cultura global, tevê e internet influenciam
o ato de brincar nas cidades, onde
atividades costumam acontecer em
recreios e ambientes internos
Por Adriana Friedmann, educadora, doutora em
Antropologia, coordenadora do curso de Pós-Graduação em
Educação Lúdica em Contextos Escolares, não formais e
corporativos, e cofundadora da Aliança pela Infância

E
pisódios lúdicos, obras de arte, Saiba Mais no desenvolvimento psíquico, mental e fí-
brincadeiras e vivências ajudam, Livros sico. Ao longo do século XX, brincadeiras
pela sensibilidade que desper- Friedmann, Adriana. populares em vários contextos culturais fo-
tam, a traçar alguns questiona- O Brincar no Cotidiano ram recolhidas a partir de reflexões sobre
da Criança. São Paulo:
mentos a respeito do fenômeno Moderna, 2006.
tempos, espaços, conteúdos e mudanças nas
que constitui o brincar. Já na Antiguida- O Desenvolvimento
formas de brincar através da história e, so-
de existem registros arqueológicos e artísti- da Criança Através bretudo, nos diversos grupos e culturas in-
cos da existência do lúdico nas diversas cul- do Brincar. São Paulo: fantis nas cidades, áreas rurais, regiões ri-
turas. Filósofos, escritores, pesquisadores, Moderna, 2006. beirinhas, indígenas, dentro das casas, nas
compositores, poetas e pintores refletem, Sites escolas, nas ruas, nas praias etc.
Núcleo de Estudos
devaneiam e retratam em suas obras a brin- Em 2009, um mapeamento promovido
e Pesquisas em
cadeira espontânea, livre, popular nascida Simbolismo, Infância pelo jornal Folha de S.Paulo incentivou mais
nos grupos de qualquer bairro do mundo. e Desenvolvimento de 10 mil crianças de várias regiões do País
São palavras e imagens que transmitem www.nepsid.com a ensinarem suas brincadeiras. Esse “Mapa
uma “linguagem” que pode ser lida e com- Mapa do Brincar do Brincar” oferece um panorama de como o
preendida por qualquer pessoa em qual- www1.folha.uol.com.br fenômeno é vivo e pulsante no cotidiano, do
quer lugar, sobretudo, porque, independen- /folha/treinamento/ quanto mudou em relação à ideia que nós,
temente da condição socioeconômica ou da mapadobrincar adultos, carregamos, e do que precisamos
idade, todo ser humano brinca ou já brin- Brincadeiras Regionais aprender e observar para conhecer melhor
cou em algum momento de sua vida. www.escolaoficinaludica. a cultura atual do brincar no Brasil.
com.br
Muitos têm pesquisado a importância que Além de reiterar o papel dos tradicio-
tem o brincar na socialização das crianças, nais e universais jogos como bolinha de gu-
na possibilidade de aprendizagens diversas, de, peteca e amarelinha, as ­participantes
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atividade s

As cores
do brincar
Práticas tradicionais ganham tons,
sotaques e características únicas
em cada região do País

Região Norte:
Rio Branco (AC)
Pira
Um dos participantes é escolhido pelos colegas
para ser a pira (o pegador). Ele terá de persegui-
las enquanto cantam:

“Pira, pirenta, macaca fedorenta”.


pau lo f e h l au e r / fo l h a p r e s s

A música é repetida até que alguma crian-


ça seja capturada e se transforme na nova
pira. Aí tudo começa novamente. Esta é uma
brincadeira de pegar com o potencial de desen-
volver a socialização, as habilidades físico-mo-
toras, as estratégias de “fuga”, a competição, a
cooperação, a frustração ou o contentamento.
s­ urpreenderam ao ampliar os repertórios GLOBAL Possui um vocabulário próprio da região.
E LOCAL
de brincadeiras. Incorporando elementos Pular corda é uma
de outras culturas, de outras línguas, da das atividades Região Nordeste:
tecnologia moderna, elementos de misté- tradicionais em todo
Teresina (PI)
rio, objetos e personagens do seu cotidia- o mundo que se
no, animais, comidas etc., as crianças têm
tornam únicas
conforme a região
Macaco foi à feira
se apropriado de uma liberdade para criar Duas pessoas batem a corda e a terceira fica
seu próprio repertório, vocabulário e brin- no meio, pulando e cantando os versos a se-
guir. Quem segura a corda vai aumentando e di-
cadeiras. Novidades para nós.
minuindo a velocidade. Ganha quem demorar
Nas cidades, as brincadeiras têm algu- mais para errar (ou tropeçar).
mas particularidades: são limitadas aos
espaços internos das casas, ao recreio das “O macaco foi à feira, não teve o que comprar
escolas, às brinquedotecas ou aos condo- Comprou uma cadeira pra comadre se sentar
mínios e clubes. Raramente acontecem na A cadeira esborrachou
rua, seja pela falta de espaço, seja pela fal- Coitada da comadre, foi parar no corredor.”
ta de segurança. Elas são influenciadas por
conteúdos “multiculturais”, incluindo toda Esta é uma brincadeira de pular corda, tra-
dicional no mundo inteiro, mas que vira única
a cultura local e global a que têm acesso por
conforme a região – aqui, pelo conteúdo da mú-
meio de mídia, tevê, rádio, arte, publicida- sica de acompanhamento. Ela tem o potencial
de, revistas, mercado e internet. São brin- de trabalhar ritmo, socialização, emoções, co-
cadeiras urbanas com gramática e vocabu- operação e competição, vocabulário e conteú-
lário próprios. Conheça algumas delas nas dos da vida local etc.
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j o g o s e b r i n c a d e i r a s : i n fa n t i l

Ano do ciclo:
Região Sul: Quando tentar correr novamente, todos pergun-
tarão: “Gasta a vida ou não gasta?”. Se responder
Educação Infantil Porto Alegre (RS) que sim, ele continua no pique e tenta passar de
Área envolvida:
Jogos e brincadeiras
Espirrobol novo. Se conseguir, ganha mais uma vida, e pode
­acumular até cinco delas.
Cada time é composto de duas duplas. Primeiro, os
possibilidade O mais interessante nessa brincadeira de pique-
participantes colocam uma bola de vôlei dentro de
interdisciplinar: esconde é o seu conteúdo: desde o nome, que
um saco de rede, que deve ser amarrado na ponta
Linguagem, Artes evoca um cachorro bravo, agressivo, como é de
de uma corda grande. A outra ponta da corda tem
Duração: Atividade certa forma a postura do cidadão urbano, até a
de ser presa na parte de cima de um poste.
permanente ideia de formar e pertencer a uma “família”, que es-
Para jogar, cada time deve se posicionar de um la-
Expectativas de pelha a busca de identidade, valores, identificação
do e bater na bola com uma das mãos para que a
aprendizagem: com os pares.
corda vá se enrolando no poste. Os participantes de-
Participar de brinca- Há, além dos potenciais de desenvolvimento de
vem se defender e fazer com que a corda enrole para
deiras cantadas, es- vários aspectos emocionais, físicos, sociais e cogni-
o outro lado. Ganha a equipe que conseguir enrolar
conde-esconde, bola, tivos, a ideia do risco permanente, da possibilidade
toda a corda no poste, até a bola não se mexer mais.
pique etc.; aperfeiçoar de ter mais de uma vida, mais uma oportunidade,
Criativa brincadeira com recursos mínimos para
a maneira de interagir comum em sociedades urbanas competitivas.
quem tem um pequeno espaço na rua, ela tem o po-
com parceiros nas
tencial de trabalhar coordenação, habilidades físico-
brincadeiras
motoras, competição e cooperação, entre outros. Região Centro-Oeste:
Cuiabá (MT)
Região Sudeste: Andoleta borboleta
São Paulo (SP) Pode ser jogado em duplas ou grupo, mas é preciso­
ter sempre um número par de participantes. Em
Buldogue ­roda, as crianças intercalam as mãos: um partici-
A turma define quem será o pegador e os locais que
pante coloca a mão direita sobre a esquerda do
serão os piques onde os participantes devem ficar.
­colega do lado. Cada um bate na mão do outro, que
O pegador fica no meio do grupo e grita: “Buldo-
“passa a palma” para o próximo, enquanto cantam
gue!” Esse é o sinal para que todos saiam de um pi-
a ­música abaixo.
que e tentem alcançar outro. A primeira pessoa que
Cada palavra vale uma palma e a cantiga segue
for pega vira o próximo pegador.
assim até atingir a palavra “burra”. Aquele que con-
A partir daí, todos que forem pegos formam uma
pega Além das seguir bater na mão do colega ao dizê-la o desclas-
família (reúnem-se em grupo) que ajuda a pegar os
habilidades físico- sifica. Caso contrário, ele mesmo deve sair do jogo.
motoras , o estilo de outros fugitivos. Quando sobrarem apenas três par-
Vence quem ficar por último na brincadeira.
brincadeira também ticipantes, quem não for pego e chegar ao pique ga-
estimula a sociabilização nha uma vida.
“Andoletá
Le peti peti colá
Nescafé com chocolá
Andoletá
Puxa o rabo do tatu
Quem saiu foi tu
Puxa o cabo da panela
Quem saiu foi ela
Barra, berra, birra, borra, burra.”

O que torna particular essa brincadeira de pal-


mas e em roda, tradicional no mundo todo, são seu
conteúdo e a letra da música, que mistura línguas
(francês e português) e palavras inventadas. Há va-
riações conforme o grupo e a geração. É notável,
ainda, a incorporação de uma marca, característica
de mercado presente em muitas brincadeiras. Tem
i s to c k p h oto

o potencial de trabalhar com ritmo, ­musicalidade,


­vocabulário, conteúdos culturais e socialização,
­entre outros.

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