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Electric Piano Wurlitzer

Wurlitzer – o som do Supertramp

O mais famoso som de Wurlitzer de todos os tempos pertence ao


Supertramp, e sua sonoridade é muitas vezes confundida com a da própria
banda, como se pode ouvir em clássicos como “The Logical Song”,
“Dreamer” e “Breakfast in America”

O piano Wurlitzer – chamado carinhosamente por tecladistas de “Wurly” – é um


instrumento eletromecânico, geralmente de 64 teclas, que se imortalizou em
diversos clássicos ao longo dos últimos 60 anos. O Wurlitzer faz parte de
um conjunto de pianos eletromecânicos sem cordas fabricado e comercializado
pela empresa Rudolph Wurlitzer, nos Estados Unidos. Antes de se tornar famosa
pelos pianos elétricos, a Wurlitzer já era bem conhecida e respeitada como
fabricante de órgãos de tubos. Embora a empresa sempre tenha utilizado o
termo “piano eletrônico” para se referir aos seus modelos, atualmente é mais
correto dizer que os velhos pianos Wurlitzer, assim como os Rhodes, pertencem
à família dos eletromecânicos, pois “piano eletrônico” é um termo mais utilizado
para tipos de pianos similares aos sintetizadores, em que o som é
produzido puramente por meios eletrônicos, como, por exemplo, os modernos
workstations.
O primeiro piano elétrico Wurlitzer apareceu na segunda metade do
século passado nos Estados Unidos. A ideia veio de uma invenção precoce de
Benjamin Meissner que, na década de 1930, utilizou um captador eletrostático
para amplificar o som de um piano tradicional. Mais tarde, nos anos 50, a
Wurlitzer Company comprou a patente da invenção de Meissner e substituiu as
cordas do piano por palhetas de metal. Em 1955, para diferenciar o nome da
invenção original, o primeiro Wurlitzer, o EP-110, foi colocado no mercado
como um piano eletrônico, seguido pelos modelos EP-111 e EP-112. Há
evidências de um piano designado como modelo 100, em 1954, mas não há
consenso se houve mesmo o protótipo, se foi um projeto ou se tudo é lenda. O
modelo 200 surgiu em 1968 e o 200A – mais leve e portátil que os
anteriores, sem pernas, sem case, amplificador e altofalantes – em 1972. A
fabricação do 200A – o mais pop de todos os pianos elétricos feitos pela
Wurlitzer – durou até 1982 e o modelo foi comercializado nas cores preto e
verde, embora existam alguns 200A em branco, usados por Supertramp, Beach
Boys e Carpenters, fabricados sob encomenda. Em 1978, surgiu o modelo 200B,
que era visualmente idêntico ao 200A, mas podia ser alimentado com
uma bateria recarregável de 85V.

A mecânica

A produção do tom em todos os pianos elétricos Wurlitzer é feita a partir de


um sistema simples e idêntico em todos os modelos: uma tecla ativa um
martelo – praticamente igual aos martelos de um piano tradicional, mas menor
– que atinge uma palheta de metal, que vibra e produz um tom captado por um
enorme captador eletrostático. O tremolo, presente em todos os modelos
portáteis de Wurlitzer, é um elemento essencial de sua sonoridade. Muitos
tecladistas gostam de fazer variações em tempo real, aumentando e diminuindo
o depht manualmente, pois o instrumento vinha equipado com o efeito com
“depht” ajustável. Dependendo do estilo da música e do tecladista, é
comum também processar o sinal com pedais e amplificadores de guitarra,
como chorus, phaser, flanger e distortion, e os resultados dessas combinações
são praticamente infinitos.
O piano também tem um pedal de sustain que funciona por meio de
uma alavanca que, ao ser pressionada pelo pé, cria tensão em um cabo que
desencadeia um mecanismo semelhante ao de um piano tradicional.

É muito difícil descrever um som com palavras. O do Wurly é único e


impossível de comparar com qualquer outro modelo. Mas, para facilitar a
descrição e apenas como base, pode-se utilizar um rival da mesma idade, peso
e importância: o piano elétrico Fender Rhodes. Obviamente cada tecladista tem
as suas próprias expectativas sobre o timbre de um piano elétrico, mas assumo
o risco em afirmar que nenhum tecladista em sã consciência
ficaria decepcionado com o som genuíno de um Rhodes ou de um Wurlitzer. É
importante lembrar que pianos elétricos não são máquinas digitais mas
instrumentos mecânicos com grande quantidade de componentes físicos que
podem variar muito entre os modelos e com o desgaste do tempo. Por isso,
quando encontramos um instrumento como esse, certamente ele possuirá um
tom único e exclusivo, e mesmo modelos iguais irão soar um pouco diferente
um do outro.

A principal diferença entre o Rhodes e o Wurlitzer é o tom. Quando se


compara um Rhodes a um Wurlitzer, no entanto, é importante considerar antes
de tudo, que são instrumentos diferentes, com fontes tonais diferentes.
Enquanto um piano elétrico Rhodes usa bastões de metal (tines) como fonte de
tom, um Wurlitzer utiliza palhetas (lâminas) de metal.

Para entender o funcionamento dos tines, pense em um diapasão de metal


tradicional. Ele possui a forma de um “garfo”, com dois dentes, que vibram em
certa frequência ao serem percutidos.
Cada tecla de um Rhodes possui um mecanismo parecido com um diapasão
tradicional de metal, com um “dente” superior mais grosso, chamado “tom-bar”,
e um dente inferior menor e ajustável, denominado “tine”, que absorve o
impacto de um martelo de piano e vibra em uma determinada frequência. Em
um Rhodes, cada tine/tom-bar tem um captador que converte as
vibrações acústicas em sinal elétrico, enviado para a saída de áudio e
amplificador. A maioria dos pianos Rhodes usa martelos de piano com ponta de
borracha para atingir o tine. Quando pensamos em palhetas, logo vem a ideia
de instrumentos de sopro como clarinetes e saxofones. A diferença é que,
enquanto os instrumentos de sopro utilizam palhetas de madeira que
vibram com o ar, as palhetas do Wurlitzer são de metal e vibram ao serem
atingidas por um martelo de piano, de feltro, em miniatura.

De acordo com o comprimento da lâmina, produzem vibração correspondente


a cada tom. Ao contrário do tine/tom-bar, as palhetas são montadas em uma
única e longa barra compartilhada, em vez de barras de tons individuais, e estão
dentro de uma bandeja com um único captador, que converte o sinal e o envia
para um préamplificador on-board. Por causa dessa diferença
fundamental (palhetas/tines), o Wurlitzer tem um som um pouco mais duro e
definido, enquanto o Rhodes ressoa mais como um sino, mais suave e morno. O
tom do Wurly é mais enérgico, afiado, seco e agudo. A dinâmica é bem
acentuada, com attack extremamente percussivo quando tocado forte,
causando algumas vezes uma leve e charmosa distorção. O Rhodes é
mais “soft”. O attack característico do Wurlitzer pode ser percebido mesmo
quando tocado suavemente. Embora Rhodes e Wurlitzer sejam teclados com
timbres únicos e diferentes, tecladistas são capazes de conseguir um som
relativamente semelhante em ambos os instrumentos por meio de ajustes no
amplificador, na distorção e na EQ.

Outro exemplo é a possibilidade de ajustar os tines de um teclado Rhodes


em relação aos captadores, para mais perto ou mais longe das pickups, o que
altera o tom geral e permite a personalização de acordo com a preferência de
cada tecladista. O Wurlitzer oferece um pouco menos de personalização nesse
sentido, já que as palhetas não são ajustáveis como os tines. Um problema com
a manutenção do Wurly é o desgaste das palhetas, que pode causar distorção,
desafinação e até a quebra com o passar do tempo. Assim como outros
instrumentos vintages clássicos, se por um lado é difícil, mas não raro, ver um
modelo original em atuação, o timbre do Wurlitzer é emulado atualmente por
uma grande variedade de teclados, workstations e softwares, e
continua totalmente ativo nas produções musicais contemporâneas.
É importante ressaltar que, geralmente, o som final de um Wurlitzer em
uma produção está sempre processado com a combinação de efeitos como
chorus, phaser, flanger, delay, reverb, distortion, compressor etc. Por isso, alguns
emuladores mais profissionais, além do timbre puro, sampleado, traz também a
emulação de pedais de efeito e amplificadores de guitarra, possibilitando um
controle em tempo real e individual dessas unidades, permitindo aos tecladistas
timbrar seus sons com muita personalidade, com total liberdade e pensamento
mais analógico.

Segundo os registros, o primeiro a gravar com um Wurlitzer foi o excêntrico


músico de jazz Sun Ra, em 1956. O primeiro artista de fama internacional
a gravar com um deles foi nada menos que Ray Charles, em sua canção “What
I’d say”, em 1959. Depois disso, artistas e bandas utilizaram – e ainda usam – um
piano Wurlitzer, como John Lennon (em “How Do You Sleep”, entre outras), Paul
McCartney (“Ram On”), George Harrison (“All Those Years Ago”), Ringo Starr
(tocado por Jim Cox em “I Wanna Be Santa Claus”,), Queen (“You Are My Best
Friend”), The Rolling Stones (“Miss You”), Pink Floyd (“Money”, “Breathe,” “Time”
e “Have A Cigar”), The Archies (na famosa “Sugar Sugar”), Joni Mitchell
(“Woodstock”), Bob Dylan (“Till I Fell In Love With You”), Carpenters (“Top Of
The World”), The Doors (“Queen Of The Highway”), Elton John (“Lady
Samantha” e “Heart In The Right Place”), e Stevie Wonder (“Love Having You
Around”, “Sweet Little Girl” e “Tuesday Heartbreak”), entre muitos outros. O
Supertramp foi, sem dúvida, o principal disseminador dos pianos Wurlitzer na
música pop. (Jobert Gaigher)

https://youtu.be/3Tt5M1dDC8A

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