Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Refletindo Sobre Ser Professor PDF
Refletindo Sobre Ser Professor PDF
Neoclesia Chenet
Pedagoga, Mestranda em Educação
neoclesia@yahoo.com.br
Universidade Federal de Santa Maria, RS
1
Refletindo sobre a constituição do ser professor
Silvana Regina Pellenz Irgang et al.
A pesquisa com professores da rede municipal de ensino de Santa Maria, busca através de
processos de formação e autoformação compreender como foram e são construídos os
saberes do ser professor e que articulações essas docentes, professoras de séries iniciais e
educação infantil, há mais de dez anos com prática escolar, (re)construíram em relação ao
cotidiano escolar e as aprendizagens ocorridas no curso de formação desenvolvido no espaço
da Universidade.
O estudo do ambiente escolar e do próprio trabalho dos professores permite conhecer além
da cultura, os conhecimentos que os docentes utilizam no desenvolvimento de seu fazer
pedagógico. Nesta perspectiva nos aproximamos dos saberes que estão relacionados ao ser
e ao fazer docentes. Para Queiroz esses saberes são “exibidos pelos professores em ação na
sala de aula, na escola ou na comunidade educacional mais ampla e estão reunidos em uma
espécie de “reservatório” no qual se abastecem para responder a exigências específicas das
situações concretas do seu cotidiano profissional. Esse reservatório é aberto e dinâmico,
passando por constantes mudanças em função de experiências novas”. (2001, p.2).
O debate sobre os saberes docentes que professores acionam no seu trabalho cotidiano
permite também que se fale na docência como uma profissão, como um trabalho que exige
um repertório de conhecimentos que precisam ser debatidos e trabalhados nos cursos de
formação de professores. O campo de estudos conhecido como epistemologia da prática
docente tem produzido uma série de reflexões significativas para que possamos pensar no
trabalho docente e suas exigências na sociedade atual.
As significações sobre a docência e sobre o professor são construídas desde o momento que
entramos numa sala de aula e mesmo antes de entrar nela. Temos uma representação do
que seja um professor, uma aula, uma avaliação, uma escola, enfim, essas imagens se
configuram em saberes construídos ao longo de nossas histórias de vida, trazendo
experiências que refletem comportamentos, valores, posturas profissionais e pessoais, que
são os nossos primeiros saberes construídos sobre a docência.
Esses saberes, de acordo com Pimenta, fazem parte de nossa trajetória, “Quando os alunos
chegam ao curso de formação inicial, já tem saberes sobre o que é ser professor. Os saberes
de sua experiência de alunos que foram de diferentes professores em toda sua vida escolar.
Experiência que lhes possibilita dizer quais foram os bons professores, quais eram bons em
conteúdos mas não em didática, isto é, não sabiam ensinar. Quais professores foram
significativos em suas vidas, isto é, contribuíram para sua formação humana. Também
sabem sobre o ser professor por meio da experiência socialmente acumulada, as mudanças
históricas da profissão, o exercício profissional em diferentes escolas, a não valorização
social e financeira dos professores, as dificuldades de estar diante de turmas de crianças e
jovens turbulentos, em escolas precárias; sabem um pouco sobre as representações e os
estereótipos que a sociedade tem dos professores, através dos meios de comunicação.
Outros alunos já tem atividade docente. Alguns, porque fizeram magistério no ensino médio;
outros, a maioria, porque são professores a título precário. (1999, p. 20)
2
UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)
Refletindo sobre a constituição do ser professor
Silvana Regina Pellenz Irgang et al.
Nesse sentido, Dominicé afirma que, “ O estudo biográfico, porque apela à reflexão e resulta
de uma tomada de consciência, dá origem a um material de investigação que é já o
resultado de uma análise. A diversidade dos dados deve assim ser recebida como uma
pluralidade de compreensão biográfica. O objetivo teórico da investigação ou a busca de uma
teoria da formação, torna-se então indissociável de um aprofundamento da análise que cada
um pode fazer sobre a sua formação”. (1988, p.55)
Conhecer o fazer pedagógico e a relação que o professor faz desse com a teoria, suas
concepções, crenças, valores e saberes sobre processo de ensino, evidencia o ser professor,
pois para Guarnieri “é no exercício da profissão que se consolida o processo de tornar-se
professor, ou seja, o aprendizado da profissão a partir de seu exercício possibilita configurar
como vai sendo constituído o processo de aprender a ensinar”. (2000, p.5)
O saber e o fazer pedagógico, as atitudes em sala de aula refletem a formação escolar a que
fomos submetidos e o processo histórico-cultural em que esta ocorreu, pois para Codo
(1999, p.49) o professor que “tiver em torno dos quarenta anos terá na memória a figura de
3
UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)
Refletindo sobre a constituição do ser professor
Silvana Regina Pellenz Irgang et al.
uma professora aplicando castigos físicos tal e qual aqueles que só a mãe tinha direito
perante as travessuras do/a garoto/a”.
De acordo com Freire “Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é
o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem
que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão
crítica, tem que ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. O seu
“distanciamento” epistemológico da prática enquanto objeto de sua análise, deve dela
“aproximá-lo” ao máximo. Quanto melhor faça esta operação tanto mais inteligência ganha
da prática em análise e maior comunicabilidade exerce em torno da superação da
ingenuidade pela rigorosidade. Por outro lado, quanto mais me assumo como estou sendo e
percebo a ou as razões de ser de porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar,
de promover-me, no caso, do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade
epistemológica. (1996, p. 39)
4
UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)
Refletindo sobre a constituição do ser professor
Silvana Regina Pellenz Irgang et al.
Dessa forma, o docente deixa de ser visto como um mero “distribuidor de conhecimentos”, e
passa a ser um construtor de saberes, habilidades, conhecimentos e competências que lhe
remetem o ofício de ser professor. De acordo com a concepção de Nóvoa (1995) o desafio
dos profissionais da educação é manter-se atualizado sobre as novas metodologias do ensino
e desenvolver práticas pedagógicas eficientes, já que apenas o profissional pode ser
responsável por sua formação.
Referências
DOMINICÉ, P. 1988. O processo de formação e alguns dos seus componentes relacionais. In:
A NÓVOA e M. FINGER (org.), O método (auto) biográfico e a formação. Lisboa,
Ministério da Saúde, Departamento de Recursos Humanos da Saúde/ Centro de
Formação e Aperfeiçoamento Profissional, p. 51-61.
IMBERNÓN, F. (org.), 2000. A Educação no Século XXI: os desafios do futuro imediato. Porto
Alegre, Artes Médicas, p. 205.
NÓVOA, A (org.), 1995. Os professores e a sua formação. 2. ed. Lisboa, Dom Quixote. 158
p.
5
UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)
Refletindo sobre a constituição do ser professor
Silvana Regina Pellenz Irgang et al.
PIMENTA, S. G.(org.), 1999. Saberes Pedagógicos e Atividade Docente. São Paulo, Cortez,
262 p.
6
UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)