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LEI NATURAL NO ESTOICISMO

CÍCERO, SÉNECA, MARCO AURÉLIO

O ESTOICISMO
As escolas filosóficas da Antiguidade não se limitavam a uma atividade teórica, conceptual
e intelectual. Não obstante as suas diferenças, as várias escolas (a Academia, o Liceu, os
Cínicos, o Jardim ou a escola do Pórtico) tinham como objetivo ajudar os respetivos
membros a alcançar a felicidade mediante uma transformação conjunta do pensamento e
da forma de viver. Esta transformação exigia um treino diário, a que se dava o nome de
ascese.

O estoicismo foi fundado por Zenão de Cítio em Atenas, no início do séc. III a.C. O estoicismo
foi evoluindo ao longo dos séculos no contexto helénico e teve grande impacto na cultura
latina, com autores como Cícero (106-43 a.C.), Séneca (04-65 a.C.), Epicteto (50-135 a.C.), e
Marco Aurélio (121-180 a.C.).

A filosofia dos primeiros estoicos dividia-se em três partes: lógica, física e ética. A lógica
permite examinar as nossas representações mentais e as suas relações com a linguagem e a
razão. A física permite-nos compreender como é que o organismo e a vida humana se
integram no todo constituído pela natureza. A ética expõe as regras de ação e os
comportamentos e virtudes exigidos ao ser humano que este possa alcançar a felicidade.

O grande objetivo da sabedoria de vida dos estoicos era alcançar a ataraxia.

«Creonte: E ousaste, então, tripudiar sobre essas leis?


Antígona: É que essas leis não foi Zeus que as promulgou, nem a Justiça, que coabita com os
deuses infernais, estabeleceu tais leis para os homens. E eu entendi que os teus éditos não
tinham tal poder, que um mortal pudesse sobrelevar os preceitos, não escritos, mas
imutáveis dos deuses. Porque esses não são de agora, nem de ontem, mas vigoram sempre,
e ninguém sabe de onde surgiram».
Sófocles, Antígona, §450-455.

PLATÃO
Nos seus diálogos, Platão, cuja opinião coincide com a do personagem Sócrates, rejeita duas
teses defendidas pelos sofistas:
(i) A tese relativista, defendida por Protágoras, por exemplo, segundo a qual o homem
é a medida de todas as coisas (cf. Teeteto172 a-b);
(ii) A tese segundo a qual as leis instituídas pelas cidades humanas se opõem às leis
válidas por natureza, razão pela qual seria legítimo contestar a legitimidade das
primeiras. Às leis que têm origem na convenção, Cácicles opõe as leis da natureza,
segundo as quais o mais forte deve prevalecer sobre o mais fraco (cf. Górgias (483 c
– 484 b), discurso de Cálicles).

Bruno Nobre, set. 2019


Para Platão, o direito natural é um direito ideal, uma norma para os legisladores e cidadãos,
uma regra que permite basear e avaliar as leis positivas.

ARISTÓTELES
Dois tipos de leis em relação à sua origem
(i) Lei particular: a que foi definida por cada povo em relação a si mesmo, quer seja
escrita ou não escrita (Retórica I, 13).
(ii) Lei comum: a que é segundo a natureza. «Pois há na natureza um princípio comum
do que é justo e injusto, que todos de algum modo adivinham mesmo que não haja
entre si comunicação ou acordo» (Retórica I, 13).
Dois tipos de leis em relação às pessoas: «Em relação às pessoas, a justiça é definida de
duas maneiras; pois o que se se deve fazer e não deve fazer é definido, quer em relação à
comunidade quer em relação a um dos seus membros» (Retórica, 13).
Para Aristóteles, o direito natural não está em contraposição com o direito positivo. Pelo
contrário, o direito positivo, como aplicação da ideia geral de justiça à vida social nos seus
vários âmbitos, deve ser uma realização do direito natural. Para Aristóteles, o fundamento
da moral e também da justiça é a própria natureza humana. É moral o que é natural.

Bruno Nobre, set. 2019

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