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Farmácia Hospitalar

Fonte: http://www.ashp.org/membercenter/. Acesso em 16/07/10.

Gestão de Pessoas na Farmácia


Hospitalar e Serviços de Saúde

Helena Márcia de Oliveira Moraes Bernardino (1)


Ilenir Leão Tuma (2)
Eugenie Desirré Rabelo Néri (3)

(1) Farmacêutica, Mestranda em Bioética (UMSA), Especialista em Farmácia Hospitalar (SBRAFH) Especialista


em Saúde Publica (UFMG), Diretora financeira da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar
(2) Farmacêutica, Especialista em Farmacia Hospitalar (UFRN), Especialista em Farmácia Hospitalar (SBRAFH),
membro da Comissão de Farmácia Hospitalar do CFF e Auditora do DICQ
(3) Farmacêutica, Especialista em Gestão Hospitalar (NESC/ FIOCRUZ), Mestre em Ciências Farmacêuticas
(UFC), Membro da Comissão de Farmácia Hospitalar do CFF, Presidente da Sociedade Brasileira de
Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde
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1. Introdução
As pessoas são os talar deve definir o perfil dos profissionais que
principais recursos das atuarão no apoio operacional, bem como os
organizações. A gestão critérios de seleção e avaliação de desempe-
de pessoas é uma área nho, respeitando as diretrizes da política de
contingencial e situa- recursos humanos da organização.
cional, que depende, dentre outras variáveis, Para a excelência dos serviços prestados
da cultura de cada organização. e o cumprimento da sua missão, a farmácia
Muitos foram os momentos pelos quais hospitalar precisa contar com profissionais em
a gestão de pessoas passou no mundo, desde número suficiente e perfil adequado ao de-
o mecanicismo, passando pela reengenharia, sempenho de suas funções.
chegando atualmente na era da globalização
dos negócios e crescente concorrência mun-
dial. O cenário atual tem como palavras de
ordem: produtividade, qualidade e competiti-
vidade e, nesse contexto, as pessoas são consi-
deradas como vantagens competitivas dentro
das organizações, aí inseridos os hospitais e
como subsistema a farmácia hospitalar. As pes-
soas deixam de ser o recurso organizacional
mais importante para se tornarem os parceiros
principais do negócio, conferindo-lhe dinâmi-
ca, vigor e inteligência1. O grau de instrução dos colaboradores
O desenvolvimento de uma cultura hu- que comporão o quadro de pessoal da farmá-
manística e o posicionamento interdisciplinar cia hospitalar deve ser compatível com a com-
do farmacêutico hospitalar se faz necessário plexidade das funções, que lhes são delegadas
para o bom desempenho profissional, face à e estes devem ser capacitados e treinados de
articulação e integração da farmácia hospitalar acordo com programas previamente elabo-
com os demais serviços e unidades clínicas. De- rados. Treinamentos periódicos, por meio de
senvolver habilidades e usar da empatia para ser programa de educação continuada, são neces-
capaz de entender e motivar pessoas e grupos é sários para a otimização de processos.
fundamental nas relações interpessoais e para a Estabelecer parcerias com o setor de Re-
eficácia dos resultados na gestão de pessoas. cursos Humanos do hospital contribui para a
Na função de gerente de recursos huma- melhoria da qualidade e eficácia dos progra-
nos, o farmacêutico chefe da farmácia hospi- mas de treinamento e educação continuada.

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O número de auxiliares que, sob a super- A Norma Regulamentadora – NR-09 es-


visão do farmacêutico, executarão o trabalho tabelece a obrigatoriedade da elaboração e im-
operacional, dependerá da disponibilidade de plementação, por parte de todos os emprega-
recursos financeiros, do grau de automatização dores e instituições, do Programa de Prevenção
dos serviços e da informatização da unidade. de Riscos Ambientais – PPRA que, para os ser-
viços de saúde, deve conter a identificação dos
A Sociedade Brasileira de Farmácia riscos biológicos mais prováveis, em função da
Hospitalar (Sbrafh) recomenda localização geográfica e da característica do
serviço de saúde e seus setores.
Para as atividades básicas de dispensação
para pacientes internados e logística de As ações do PPRA devem ser desenvol-
suprimentos, como parâmetros mínimos para vidas no âmbito de cada unidade da empresa,
recursos humanos: 01 farmacêutico para cada sob a responsabilidade do empregador com
50 leitos, 01 auxiliar de farmácia para cada 10 a participação dos trabalhadores, sendo sua
leitos e 01 almoxarife para cada 50 leitos2.
abrangência e profundidade, dependentes das
características dos riscos e das necessidades de
Buscar o desenvolvimento e o envolvi- controle4.
mento dos colaboradores, no aspecto indivi- O conhecimento e a percepção que os
dual e de equipe, é primordial para o sucesso trabalhadores têm do processo de trabalho e
da farmácia hospitalar, expresso pela melhoria dos riscos ambientais presentes, incluindo os
de resultados revertidos ao paciente e à insti- dados consignados no Mapa de Riscos, pre-
tuição e na satisfação dos clientes internos e visto na NR-5, deverão ser considerados para
externos. fins de planejamento e execução do PPRA em
O gestor do serviço de farmácia hospita- todas as suas fases5.
lar precisa estar preparado para novos e cons- A elaboração, implementação, acompa-
tantes desafios. Persistência e perseverança são nhamento e avaliação do PPRA poderão ser
atitudes necessárias para promover mudanças feitas pelo Serviço Especializado em Engenha-
de paradigmas e atitudes. ria de Segurança e em Medicina do Trabalho
ou por pessoa ou equipe de pessoas que, a
critério do empregador, sejam capazes de de-
1.2 Aspectos da legislação senvolver o disposto desta NR.
Na organização que possui terapia anti-
A organização é responsável por imple- neoplásica deve constar no PPRA a descrição
mentar medidas de proteção e segurança à dos riscos inerentes às atividades de recebi-
saúde do trabalhador. As diretrizes estão esta- mento, armazenamento, preparo, distribuição,
belecidas em Norma Regulatória NR 32 aplica- administração dos medicamentos e das drogas
da a todos os serviços de saúde3. de risco. Para efeito da NR 32 consideram-se

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medicamentos e drogas de risco aquelas que tão ou poderão estar expostos, o empregador
possam causar genotoxicidade, carcinogeni- deve fornecê-las gratuitamente. O empregador
cidade, teratogenicidade e toxicidade séria deve fazer o controle da eficácia da vacinação
e seletiva sobre órgãos e sistemas. O PPRA é sempre que for recomendado pelo Ministé-
parte integrante do conjunto mais amplo das rio da Saúde e seus órgãos e providenciar, se
iniciativas da empresa no campo da preserva- necessário, seu reforço. A vacinação deve ser
ção da saúde e da integridade dos trabalhado- registrada no prontuário clínico individual do
res, devendo estar articulado com o disposto trabalhador, previsto na NR-07. Deve ser forne-
nas demais NR, em especial com o Programa cido ao trabalhador comprovante das vacinas
de Controle Médico de Saúde Ocupacional – recebidas.
PCMSO previsto na NR- 07 e as Comissões In-
ternas de Prevenção de Acidentes de Trabalho
(CIPA), prevista na NR 05. 1.3 Sistemas de trabalho
A Norma Regulamentadora – NR 07
estabelece a obrigatoriedade de elaboração 1.3.1 Organização da força de trabalho e
e implementação, por parte de todos os em- estrutura de cargos
pregadores e instituições que admitam tra-
balhadores como empregados, do Programa A estrutura de cargos é um recurso im-
de Controle Médico de Saúde Ocupacional portante para melhorar o desempenho dos
– PCMSO, com o objetivo de promoção e colaboradores. As organizações criam em seu
preservação da saúde do conjunto dos seus organograma uma estrutura de cargos, que os
trabalhadores. Esta NR estabelece os parâme- define e hierarquiza.
tros mínimos e as diretrizes gerais a serem ob- Para a compreensão da estrutura de
servados na execução do PCMSO, podendo cargos, faz-se necessário conhecer conceito
os mesmos ser ampliados mediante negocia- de cargo, tarefas e funções. Segundo Cunha
ção coletiva de trabalho. O PCMSO deve in- (2004) a tarefa existe como um conjunto de
cluir, entre outros, a realização obrigatória dos elementos que requer o esforço humano para
exames médicos: admissional, periódico, de determinado fim. Quando tarefas suficientes
retorno ao trabalho, de mudança de função e se acumulam para justificar o emprego de um
demissional6. trabalhador, surge a função. Assim a função é
A todo trabalhador dos serviços de saúde um agregado de deveres, tarefas e responsabili-
deve ser fornecido, gratuitamente, programa dades que requerem o serviço de um indivíduo.
de imunização ativa contra tétano, difteria, he- Deste modo, as funções que são semelhantes
patite B e os estabelecidos no PCMSO. Sem- em sua natureza e requisitos são chamadas de
pre que houver vacinas eficazes contra outros cargo. Portanto, cargo pode ser definido como
agentes biológicos a que os trabalhadores es- um grupo de funções idênticas na sua maioria

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ou em todos os aspectos mais importantes das 1.3.2 Recrutamento, seleção e contratação


tarefas que as compõe7.
Descrever um cargo significa relacionar
o que o ocupante faz, como ele faz, sob quais
condições e porque ele faz. A descrição do car-
go é um retrato simplificado do conteúdo e
das principais responsabilidades do cargo.
A estrutura de cargos pode influenciar
positivamente a motivação, o desempenho e a
satisfação com o trabalho dos que os ocupam8. Todas as empresas, independente de
A busca por um modelo de cargo que suas características, necessitam, em algum
produza no ocupante do mesmo motivação, momento, realizar recrutamento, seleção e
elevado desempenho, alta satisfação com o contratação.
trabalho, poucas faltas, e baixa rotatividade, é Recrutamento pode ser entendido como
objetivo incessante da área de gestão de pes- o convite, por meio de diversos veículos de
soas. Diversos modelos foram testados, desde mídia, para que as pessoas participem de um
o da especialização do trabalho (Taylor), em processo seletivo. A seleção constitui-se na es-
que as atividades foram bastante segmentadas, colha, dentre aqueles que atenderam ao convi-
passando pelo modelo de enriquecimento do te, aquele com maior chance de se ajustar ao
cargo, em que foi ampliado o escopo da tarefa cargo e desempenhá-lo adequadamente. É em
(horizontal e verticalmente), até o modelo de essência um processo de comparação entre os
valorização das características do trabalho, na requisitos do cargo a ser preenchido e o perfil
busca por melhores resultados para a empresa dos candidatos recrutados9.
e para o trabalhador7. Por meio de recrutamento e seleção,
Analisar um cargo significa detalhar quando bem conduzido, as empresas conse-
quais conhecimentos, habilidades e atitudes guem agregar pessoas competentes aos seus
são exigidas dos seus ocupantes, de forma a quadros e, como conseqüência direta, me-
poder desempenhá-lo adequadamente. A lhoram a qualidade dos serviços prestados e a
descrição do cargo focaliza o conteúdo dele imagem da empresa perante a sociedade10.
– o que o ocupante faz, quando, como e por- A atividade de recrutamento e seleção
que faz – e a análise do cargo procura deter- deve, preferencialmente, ser realizada por um
minar quais os requisitos físicos e mentais que psicólogo organizacional, juntamente com o
o ocupante deve possuir, as responsabilidades farmacêutico responsável pela área para a qual
e as condições nas quais o trabalho deve ser está sendo realizada a seleção. Quando realiza-
feito. Geralmente a análise e descrição do car- da de forma eficiente, agrega qualidade, porém
go são as bases do sistema de administração se deficiente, pode gerar alta rotatividade de
de salários8. funcionários, aumento desnecessário dos cus-

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tos de recrutamento e seleção e comprometi- comparação ao candidato selecionado, como


mento do ambiente de trabalho10. forma de contribuição.
Como técnicas de seleção cita-se: entre- A utilização da descrição de cargos no
vistas; prova ou teste de conhecimento ou ca- processo de recrutamento e seleção é uma fer-
pacidade na área; testes psicométricos; testes ramenta importante.
de personalidade; técnicas de simulação.
Para aumentar o su- Descrição de Cargos – Deve conter:
cesso de um processo sele-
• Nome do cargo;
tivo, um candidato deverá • Superior imediato;
ser avaliado com base em • Atribuições;
competências técnicas e • Requisitos mínimos;
aspectos comportamentais, tais como: postura • Escolaridade;
• Qualificações;
ética, criatividade em lidar com as situações do • Requisitos desejáveis.
dia-a-dia e iniciativa10.
A cada dia, os aspectos comportamentais As responsabilidades e competências dos
estão se tornando mais relevantes no processo profissionais e do pessoal de apoio (farmacêu-
seletivo das empresas. ticos, auxiliares de farmácia, almoxarifes, secre-
No processo de recrutamento e seleção tária, estagiários) devem estar claramente defi-
devem ser assegurados os aspectos éticos e nidas, de forma a serem compreendidas pelas
que permitam condições de igualdade de ava- pessoas no seu ambiente de trabalho.
liação entre os candidatos. As qualificações e experiências anteriores
Classifica-se o recrutamento em interno e dos candidatos, suas habilidades, competên-
externo, e é função e responsabilidade da ges- cias e disposição em contribuir para o cumpri-
tão estratégica de pessoas. mento da missão da farmácia, devem também
O recrutamento interno considera em- ser consideradas no processo de seleção.
pregados atuais para promoções ou transfe- Para a contratação do funcionário apre-
rências. Representa uma oportunidade de as- sentam-se dois aspectos fundamentais: o con-
censão funcional, com repercussão na motiva- trato formal que é assinado com relação ao
cargo a ser ocupado e o contrato psicológico
ção e redução da evasão de pessoal e deve ser
que estabelece o que a organização e o indi-
realizado antes de se optar pelo recrutamento
viduo esperam realizar e ganhar com o novo
externo. O recrutamento externo consiste na
relacionamento11.
busca de profissional disponível no mercado.
Amplia as possibilidades de escolha e pode 1.3.3 Integração dos novos membros
agregar novos talentos à equipe. Ao final do
processo seletivo a empresa deve informar aos Após recrutar, selecionar e admitir o fun-
candidatos não selecionados sua situação em cionário, o mesmo deve ser integrado à em-

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presa, preferencialmente passando por um


treinamento introdutório, momento em que
recebe orientações a respeito de sua função e
toma ciência das normas e procedimentos do
serviço.
Devem ser apresentados ao mesmo a Dutra define desempenho como o con-
missão, visão e valores da farmácia hospitalar, junto de entrega e de resultados de uma de-
metas para o período, programas desenvolvi- terminada pessoa para a empresa ou negócio.
dos (qualidade e segurança, dentre outros), sis- Ao avaliarmos o desempenho de um indivíduo
tema informatizado (caso o mesmo necessite nos tornamos aptos a verificar que ele se divide
utilizá-lo) e proceder a apresentação formal ao em três dimensões que interagem entre si: de-
responsável pela área que o está recebendo e senvolvimento (definido como a capacidade
às pessoas que compõe a equipe. do indivíduo em lidar com situações cada vez
mais complexas), esforço (ligado à motivação e
1.3.4 Gerenciamento e avaliação do desem- às condições favoráveis oferecidas pela empre-
penho sa ou pelo mercado) e o comportamento (que
pode ser medido pela avaliação 360°)13.
O indivíduo é avaliado e analisado para A avaliação de desempenho é uma ferra-
efeitos de admissão, demissão, promoção, menta que permite medir a maneira pela qual
aumento salarial, dentre outros. Constituem cada funcionário está desempenhando seu pa-
objetivos para sustentação da implantação pel dentro da organização e o quanto está ou
de um sistema de avaliação: manter a mo- não cumprindo as funções do cargo que ocu-
tivação e o comprometimento, estimular a pa. A avaliação levanta dados, traça um ma-
eficácia na comunicação interna, ajustar os peamento dos resultados apresentados pelos
objetivos com as metas da organização e funcionários, tendo como foco o levantamento
identificar as necessidades de treinamento e dos pontos fortes e pontos a serem melhora-
desenvolvimento12. Ao olharmos as pessoas dos, estabelecendo um plano de ação que fa-
por sua capacidade de entrega, temos uma voreça a qualidade dos serviços prestados.
perspectiva mais adequada para avaliá-las, O gerenciamento do desempenho das
para orientar o desenvolvimento delas e para pessoas na organização e consequentemente
estabelecer recompensas. O termo “entrega” da farmácia hospitalar deve ser realizado por
se remete ao conceito de competência esta- meio de instrumentos estruturados, que per-
belecido por Fleury, e refere-se ao indivíduo mitam autoavaliação e avaliação pela equipe.
que sabe agir de maneira responsável e ser As formas de avaliação do desempenho,
reconhecido por isso12. instrumentos e programas de desenvolvimen-
Uma das questões mais difíceis na gestão to, remuneração e incentivos serão abordados
de pessoas é definir e avaliar o desempenho. na 2ª parte deste encarte.

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2. Qualidade de vida

2.1 Saúde ocupacional, tomada de decisão, desempenho especializa-


segurança e ergonomia do, interação homem computador, stress e
treinamento conforme esses se relacionem a
A saúde ocupa- projetos envolvendo seres humanos e sistemas.
cional está relaciona- • Ergonomia organizacional – concernen-
da com as condições te à otimização dos sistemas sóciotécnicos,
ambientais de traba- incluindo suas estruturas organizacionais, po-
lho que assegurem a líticas e de processos.
saúde física e mental e com as condições de Os tópicos relevantes incluem comuni-
saúde e bem-estar das pessoas. A ergonomia cações, projeto de trabalho, organização tem-
no trabalho é definida pela Associação Inter- poral do trabalho, trabalho em grupo, projeto
nacional de Ergonomia como uma disciplina participativo, novos paradigmas do trabalho,
científica relacionada ao entendimento das in- trabalho cooperativo, cultura organizacional,
terações entre os seres humanos e outros ele- organizações em rede, tele-trabalho e gestão
mentos ou sistemas, e à aplicação de teorias, da qualidade.
princípios, dados e métodos a projetos, a fim Trata-se de uma disciplina orientada para
de otimizar o bem estar humano e o desempe- uma abordagem sistêmica de todos os aspec-
nho global do sistema17. tos da atividade humana. Para dar conta da
De maneira geral, seus domínios são: amplitude dessa dimensão e poder intervir nas
• Ergonomia física – está relacionada com atividades do trabalho, é preciso contar com
as características da anatomia humana, antro- os ergonomistas, (profissionais capacitados)
pometria, fisiologia e biomecânica em sua re- que têm uma abordagem holística de todo o
lação à atividade física. Os tópicos relevantes campo de ação da disciplina, tanto em seus
incluem o estudo da postura no trabalho, ma- aspectos físicos e cognitivos, como sociais, or-
nuseio de materiais, movimentos repetitivos, ganizacionais e ambientais17.
distúrbios músculo-esqueléticos relacionados
ao trabalho, projeto de posto de trabalho, se-
gurança e saúde.
• Ergonomia cognitiva – refere-se aos pro- 2.2 B
 em estar, satisfação e
cessos mentais tais como percepção, memória, motivação
raciocínio e resposta motora conforme afetem
as interações entre seres humanos e outros ele- Uma grande preocupação das organiza-
mentos de um sistema. Os tópicos relevantes ções é a questão da motivação no trabalho.
incluem o estudo da carga mental de trabalho, Desta forma, a busca de explicações para a

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motivação do trabalhador em relação ao seu este motivo que as organizações devem estar
trabalho tem sido tema constante em várias em constante avaliação do grau de motiva-
pesquisas efetuadas por cientistas do compor- ção dos seus colaboradores, pois o foco de
tamento humano. O fenômeno motivacional satisfação das necessidades muda continua-
pode ser entendido, genericamente, como sen- mente, assim como o objeto de motivação.
do uma fonte de energia interna que direciona A motivação é o fator chave para o alcance
ou canaliza o comportamento do indivíduo na dos objetivos propostos pela organização.
busca de determinados objetivos e ainda como Nenhum indivíduo desmotivado envolve-se
um conjunto de forças que leva as pessoas a se plenamente em direção ao abarcamento des-
engajar numa atividade em vez de outra. tes objetivos.
Este estado interno que energiza o com- A teoria da equidade parte do pressupos-
portamento está diretamente relacionado to de que as pessoas querem ser tratadas de
com as necessidades de cada pessoa, neces- maneira justa em relação às demais; e se acre-
sidades estas que variam de indivíduo para ditam que seu tratamento é desigual, adotam
indivíduo, em razão das diferenças individuais ações para reduzir essa disparidade8.
inerentes ao próprio ser humano. Daí a dificul- A teoria da expectativa sustenta que as
dade de se estudar e compreender o homem e pessoas se motivam a trabalhar para alcançar
sua interação com o seu trabalho. As organiza- um objetivo que desejam e que acreditam ter
ções no âmbito geral são sustentadas por uma uma possibilidade razoável de alcançar. Os
gama de recursos, dentre os quais é convenien- componentes gerais do modelo são esforço e
te destacar a importância dos recursos huma- resultados, descritos sob a ótica da combina-
nos. Afinal, é o único recurso insubstituível. No ção entre os elementos: expectativa de esforço
entanto, para que as pessoas possam exercer o e desempenho e expectativa de desempenho
máximo da sua eficiência nas organizações, é e resultado.
necessário que estejam bem motivadas18 “Para gerar motivação, o gestor terá de
descobrir quais recompensas cada funcionário
quer, quão valiosas essas recompensas são para
cada um, medir as várias expectativas e, final-
mente, ajustar as relações entre esses fatores8”.
Ainda sobre a teoria da expectativa, esta
oferece linhas mestras à atuação cotidiana dos
gestores, tais como:
1. Determine que resultados primordiais
cada funcionário almeja;
A motivação não é estática. As pessoas 2. Decida que níveis de desempenho são
não costumam ficar motivadas por muito necessários para alcançar as metas organiza-
tempo pelo mesmo fator motivacional. É por cionais;

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3. Assegure-se de que os níveis desejados Daí conclui-se que o tema Motivação no


de desempenho são possíveis; Trabalho não se trata apenas de aglomerações
4. Relacione os resultados desejados com teóricas; trata-se da real necessidade de manter
o desempenho almejado; as pessoas em contínuo estado de contenta-
5. Analise a situação para determinar ex- mento, para expandir suas habilidades e com-
pectativas conflitantes; petências de forma que o seu ambiente laboral
6. Assegure-se de que as recompensas se- não se torne um local de sofrimento psíquico.
jam boas; É importante para todos os gestores com-
7. Assegure-se de que, no geral, o sistema preender o indivíduo nas organizações.
seja equânime para todos. A motivação pelo Um recurso básico para facilitar essa com-
aprendizado, outro componente chave da mo- preensão é o contrato psicológico, conjunto de
tivação dos funcionários, responsável por um expectativas que as pessoas têm em relação à
ritmo permanente de mudanças no compor- sua contribuição com a empresa e ao retorno
tamento ou no potencial de comportamento, que terão8.
resulta da experiência direta ou indireta8. O contrato psicológico é originado a
Para transformar o potencial de motiva- partir de uma série de expectativas subjetivas,
ção em melhora de desempenho, os gestores as quais estão ligadas intrinsecamente às ne-
precisam entender vários procedimentos ope- cessidades do indivíduo e às necessidades da
racionais, sistemas e métodos, para aplicarem organização. Governam a relação básica entre
as teorias da motivação como ferramenta. Ao funcionários e organizações. Quando o contra-
se tentar empreender pesquisa no campo da to é violado, os empregados podem apresentar
motivação no trabalho é que se constata, na queda em seu comprometimento para com a
prática, a vastidão e a complexidade que o as- organização e consequente aumento nas in-
sunto encerra. tenções de abandono/demissão e outras for-
Na verdade, quaisquer comentários con- mas de desafeto.
clusivos simplistas, decorrentes de generaliza- Cada pessoa numa organização é essen-
ções fáceis, podem não passar de meras espe- cialmente diferente de todas as outras. Para
culações, não resistindo de modo algum a uma serem bem-sucedidos, os gestores precisam
crítica mais rigorosa. No entanto, as pessoas no reconhecer a existência dessas diferenças e
ambiente de trabalho não agem somente por tentar entender como elas interferem no com-
causa dos seus impulsos interiores, das neces- portamento.8
sidades não atendidas ou devido a aplicações É importante entender e administrar a
de recompensas e punições. Em lugar disso, adequação cargo/pessoa para que os contra-
as pessoas devem ser vistas como indivíduos tos psicológicos sejam eficazes. Esta é uma ta-
pensantes cujas crenças, percepções e estima- refa difícil, em razão das diferenças individuais.
tivas de probabilidade influenciam fortemente A adequação cargo/pessoa existe quan-
seus comportamentos. do as contribuições que o funcionário dá à

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empresa correspondem aos incentivos ofere- aspectos psicológicos do local de trabalho. A


cidos por ela8. QVT representa o grau em que os membros da
A satisfação ou insatisfação no trabalho organização são capazes de satisfazer suas ne-
reflete a medida da gratificação e da plenitude cessidades pessoais por meio do seu trabalho.
de alguém no mesmo. Pesquisas revelam que
fatores pessoais, como necessidades e aspira-
ções, junto com fatores de grupo e organiza-
cionais, como relacionamento com colegas e
supervisores, condições de trabalho, políticas
de trabalho e remuneração determinam a sa-
tisfação no trabalho.
“Sempre que uma organização avalia ou
julga o comportamento de seus funcionários
Chiavenato (2004), apresenta 3 modelos
deve certificar-se de levar em conta também
de QVT, o modelo de Nadler e Lawlerm e o
as circunstâncias em que o comportamento
modelo de Hackman e Oldhan e de Walton.
se manifesta. Levar em consideração as dife-
No modelo de Walton existem oito fatores
renças individuais e as contribuições dos fun-
que afetam a QVT, a saber: compensação justa
cionários, relacionando-as aos incentivos e aos
e adequada, condições de saúde e segurança
contextos, é um grande desafio para as orga-
no trabalho, utilização e desenvolvimento de
nizações que procuram estabelecer contratos
psicológicos eficazes e adequar, da melhor ma- capacidades, oportunidade de crescimento e
neira possível, pessoas a cargos8”. segurança, integração social na organização, ga-
rantias constitucionais, trabalho e espaço total
de vida e relevância social da vida no trabalho14.
2.3 Melhoria da qualidade
de vida
2.4 Clima organizacional
A construção da qualidade de vida no tra-
balho é um exercício de mudança permanente Nos conceitos de vários autores sobre
de hábitos, exige paciência e persistência. clima organizacional, podem ser encontradas
A qualidade de vida no trabalho (QVT) três palavras-chave: satisfação, percepção e
refere-se à preocupação com o bem-estar geral cultura.
e a saúde dos trabalhadores no desempenho “O clima é o indicador do grau de satisfa-
de suas tarefas, conceito desenvolvido por ção dos membros de uma empresa em relação
Louis Davis na década de 1970. a diferentes aspectos da cultura ou realidade
Atualmente o conceito de QVT envolve aparente da organização, tais como políticas
tanto os aspectos físicos e ambientais, como os de RH, modelo de gestão, missão da empresa,

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processo de comunicação, valorização profis- ta de desligamento, ombudsman, programas


sional e identificação da empresa”, segundo de sugestão, “café da manhã com o presidente”
Roberto Coda citado por Ricardo Luz19. e pesquisa de clima.
O clima organizacional tem impacto so- A estratégia de avaliação de clima por
bre a qualidade dos serviços prestados. Para meio de pesquisa permite à empresa conhecer
um funcionário prestar um bom serviço é pre- de forma concreta o seu clima organizacional,
ciso que ele saiba, que possa e queira fazê-lo. O identificando tanto os problemas reais no cam-
“saber fazer” é uma questão de conhecimento, po das relações de trabalho, como os potenciais.
habilidades e atitudes; logo, uma questão de ca- A pesquisa de clima revela o grau de satis-
pacitação e desenvolvimento para o trabalho. fação dos funcionários, aponta tendências de
O “poder fazer” é uma questão de ter e poder comportamento e predisposição para apoiar
usar os recursos necessários. O “querer fazer” é ou rejeitar projetos a serem desenvolvidos; per-
uma questão volitiva que depende da satisfa- mitindo intervenções, por meio de adoção de
ção, da percepção que o funcionário tem sobre políticas na gestão de pessoas ou seu aprimo-
a empresa e da cultura organizacional; logo o ramento. Já a utilização de indicadores de aler-
“querer fazer” está associado ao clima organiza- ta sobre a qualidade do clima organizacional
cional, que muitas vezes é onde encontramos aponta a rotatividade de pessoal, absenteísmo,
as causas da má qualidade dos serviços19. conflitos interpessoais e interdepartamentais,
O clima organizacional, embora abstrato, desperdícios de materiais e queixas no serviço
pode ser avaliado por meio do contato direto de saúde, apenas presumem sobre o clima or-
dos gestores com seus subordinados, entrevis- ganizacional19.

Referências
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humano das organizações. 8ª edição. São de 1978.
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União de 16 de novembro de 2005. Programa de Controle Médico de Saúde
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Programa de Prevenção de riscos ambien- União de 08 de junho de 1978.

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Marco Aurélio Ilenir Leão Tuma Eugenie Desireé José Ferreira Marcos George Washington
Schramm Ribeiro Rabelo Neri Bezerra da Cunha

Este encarte foi idealizado e organizado pela Comissão de Farmácia Hospitalar do Conselho Federal de Far-
mácia (Comfarhosp), composta pelos farmacêuticos hospitalares Marco Aurélio Schramm Ribeiro, Presidente
(CE), Ilenir Leão Tuma (GO), Eugenie Desireé Rabelo Nery (CE), José Ferreira Marcos (SP) e George Washing-
ton Bezerra da Cunha (SP). O e-mail da Comissão é comfarhosp@cff.org.br

14 Pharmacia Brasileira - Julho/Agosto 2010

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