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NOÇÕES DE DIREITO

PENAL

PROF. SAMER AGI


Noções gerais de direito penal.

I. Conceito de Direito Penal


Rogério Sanches: o direito penal possui três aspectos:

Aspecto formal (estático): conjunto de normas que


qualificam comportamentos humanos como infrações penais.
São normas que definem os agentes e fixam as sanções.
Aspecto material: o direito penal se refere a comportamentos
considerados danosos ao organismo social, que violam bens
jurídicos indispensáveis ao organismo social.

Aspecto sociológico (ou dinâmico): direito penal é


instrumento de controle social.
Teoria geral da norma penal

É preciso tratar dos princípios gerais do direito penal.

I. Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos

A criação de tipos penais deve ser pautada pela proibição de


comportamentos que exponham a risco ou lesionem bens
jurídicos, valores essenciais para o ser humano. E isto vai pautar
a atuação do legislador.
II. Princípio da intervenção mínima

A atuação do direito penal fica condicionada à insuficiência das


demais esferas do controle social.

O direito penal atua nos casos em que houver uma relevante


lesão ou perigo de lesão relevante a um bem juridicamente
tutelado: caráter fragmentário do direito penal.
III. Princípio da insignificância

Há subsunção do fato à norma, mas não há tipicidade


material.
IV. Princípio da legalidade
Art. 1º do CP: não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal ( = art. 5º, XXXIX, CF).

A partir daí, é possível perceber a ótica do D. Penal sob três


fundamentos:
• Fundamento político: vincula o P. Executivo e P. Judiciário,
proibindo arbitrariedade no exercício do poder punitivo.
• Fundamento democrático: é o povo que elege o
representante que vai definir o que é crime.
• Fundamento jurídico: a lei deve existir antes de se punir
alguém, pois a lei cria um efeito intimidativo.
V. Princípio da presunção de inocência
CF, art. 5º, LVII: ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória.

É possível extrair três ideias do Estatuto de Roma:


• A pena privativa de liberdade só é admissível após a
condenação em caráter definitivo;
• Quem deve comprovar a responsabilidade penal do réu é o
órgão acusatório;
• In dubio pro reo.
VI. Princípio da pessoalidade

Art. 5º, XLV, CF: Nenhuma pena passará da pessoa do


condenado
Eficácia da lei penal no tempo

I. Introdução
É possível que a lei penal se movimente no tempo: extra-
atividade.

• Se a lei penal é aplicada a fatos que ocorreram antes da sua


entrada em vigor  retroatividade da lei penal.

• Se aplicada a fatos posteriores a sua revogação 


ultratividade da lei penal.
II.Tempo do crime

Considera-se praticado o crime no momento da ação ou


omissão, ainda que outro seja o momento do resultado (teoria
da atividade - art. 4º, CP).
III. Sucessão de leis penais
Art. 5º, XL: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.

a) Novatio legis incriminadora


A lei penal, neste caso, não retroagirá.

b) Novatio legis in pejus


A lei nova que, de qualquer modo, prejudique o réu, também
será irretroativa.
c) Abolitio criminis
Art. 2º do CP: ninguém pode ser punido por fato que lei
posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.

Obs.: poderá a vítima cobrar indenização do réu. Os


efeitos extrapenais não são alcançados.
Flávio Monteiro de Barros: a natureza jurídica da abolitio
criminis é causa extintiva da tipicidade. Código Penal: a
abolitio criminis é causa extintiva da punibilidade.

d) Novatio legis in mellius


Lex mitior.
Art. 2º, parágrafo único, do CP: a lei posterior, que de qualquer
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda
que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
f) Combinação de leis penais (lex tertia)

STF não admite - seria criação de uma terceira lei

A benignidade da lei posterior ou da anterior deve ser


feita considerando-as separadamente.

Doutrina: é possível que a escolha caiba ao réu.


h) Leis temporárias e excepcionais

São leis que já nascem com previsão de revogação.

Serão aplicadas aos fatos praticados durante a sua vigência,


mesmo após sua revogação (ultratividade).
Lei temporária: tem um prazo determinado, certo.

Ex.: Lei 12.663/12, que busca proteger o patrimônio material e


imaterial da FIFA, tendo vigência até 31/12/2014.

Lei excepcional: editada em função de algum acontecimento


excepcional.

Exemplo: uma calamidade.


Tais leis possuem duas características essenciais:

• Autorrevogabilidade.
• Ultratividade.

Como regra, não há abolitio criminis e nem mesmo lex


mitior para os fatos delitivos praticados durante a vigência
das leis temporárias e excepcionais, salvo se houver
determinação expressa em lei nesse sentido.
Lei penal no espaço
I. Introdução e princípios
Quando falamos em lei penal no espaço, há a possibilidade de
conflito de jurisdição internacional.

Princípios que levam à solução de um conflito aparente:

• Princípio da territorialidade: a lei penal do local do


crime é a que será aplicada, não importando a
nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico.
• Princípio de nacionalidade ativa (personalidade ativa):
aplica-se a lei do país do agente do crime, sem importar a
nacionalidade da vítima, o local do crime ou o bem jurídico
violado.
• Princípio da nacionalidade passiva (personalidade
passiva): aplica-se a lei do país pertencente à vítima do crime,
sem importar a nacionalidade do agente, local do crime ou
bem jurídico violado.
• Princípio da defesa real: é a aplicação da lei penal da
nacionalidade da coisa, do bem jurídico lesado.
• Princípio da justiça penal universal (justiça penal
cosmopolita): é o princípio que exige que se faça justiça, sem
importar onde. O agente fica sujeito às leis do país em que for
encontrado.

• Princípio do pavilhão (substituição ou bandeira): aplica-


se a lei nacional aos crimes cometidos em aeronaves ou
embarcações privadas, quando praticados no estrangeiro, mas
lá não sejam julgados.
II.Teorias da lei penal no espaço
Art. 5º: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no
território nacional.

Teoria da territorialidade mitigada


Permite-se, eventualmente, a aplicação da lei estrangeira a fato
praticado no território brasileiro (intraterritorialidade).
Exemplo: casos de imunidade diplomática.
Também é possível aplicar a lei penal brasileira a fato praticado no
estrangeiro  extraterritorialidade.
III.Território nacional
§1º do art. 5º
Consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza
pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer
que se encontrem.

Também são extensão do território nacional as aeronaves e


as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no
espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§2ºdo artigo 5º

É também aplicável a lei brasileira aos crimes


praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
estrangeiras de propriedade privada, achando-se as
aeronaves em pouso no território nacional ou em voo
no espaço aéreo correspondente, ou então as
embarcações em porto ou mar territorial do Brasil.
IV. Embaixadas

Apesar de as Embaixadas serem invioláveis, não


constituem extensão do território dos países que
representam.

A depender de quem pratique o crime dentro de uma


embaixada, haverá incidência da lei penal brasileira, salvo se
houver convenções, tratados e regras de direito
internacional em sentido contrário.
V. Passagem inocente

É a não incidência da lei penal brasileira no caso em que


ocorra crime dentro de navio ou aeronave que se encontra de
passagem pelo território nacional.

Não haverá aplicação da lei penal brasileira, pois não há intenção


de atracar-se no território nacional.
VI. Lugar do crime

Art. 6º: considera-se praticado o crime no lugar em que


ocorreu a ação ou omissão (teoria da atividade), no todo ou
em parte, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado (teoria do resultado).  teoria
mista ou ubiquidade.
CONTAGEM DE PRAZO EM MATÉRIA PENAL

Inclui-se o dia do início.

Não há prorrogação em caso de o último dia ser dia não útil.

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