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UFMG – MAT033: T ÓPICOS EM M AT.

I NTRODUÇ ÃO À C OMBINAT ÓRIA A SSINT ÓTICA


Notas de aula, 2016 Professor: Remy de Paiva Sanchis
Tópico: Teoria dos Números Escriba: Gustavo Loures, Eduardo Pimenta

Teremos como objetivo a contagem dos números primos utilizando de metódos assintóticos para
P 1
obter alguns resultados como, estimação de Chebyshev, que = ∞, o Teorema de Mertens e
p≤n p
P 1
mostraremos também que = log log x + c + O(1/ log x).
p≤x p

1 Primeiros resultados assintóticos

Começaremos nosso trabalho com uma prova assintótica do famoso teorema de Euclides que diz:

Teorema 1. Os números primos são infinitos

Demonstração. Suponha, por absurdo, que os números primos sejam finitos A={p1 , . . . , pk }. Pelo
Teorema Fundamental da Álgebra, todo número natural n ≥2 é decomposto em fatoração única n =
pα1 1 . . . pαnn . Então ∃ξ : N ,→ (α1 , ..., αk ) injetiva com αi ≥ 0, ∀i. Mas pαi i ≤ pα1 1 . . . pαk k = n. Portanto
αi ≤ logpi n ≤ log2 n.
Como αi ≤ log2 n, temos que αi ∈ (0, 1, 2, ..., blog2 nc), logo a quantidade de possı́veis valores para αi
é ≤ 1 + log2 n. Podemos, então, formar quantos códigos a partir dessa cota para αi ? Ora, #códigos
≤ (1 + log2 n)k e, portanto, n ≤ (1 + log2 n)k . O que é um absurdo para n grande.

Agora iremos provar que a série dos inversos dos primos é divergente, para isso utilizaremos o
seguinte conceito:

Definição 1. Supondo que todo primo ≤ pk seja chamado de um primo pequeno, dizemos que um
número n∈ N é simples se só tem primos pequenos como divisor. Ou seja, n = pα1 1 . . . pαk k

Teorema 2. Sendo p um número primo, temos que

X1
=∞
p
p

P1 P 1 1
Demonstração. Suponha < ∞. Então ∃pk primo tal que < .
p p p≥pk p 2
Seja A={p1 , ..., pk } o conjunto que consideraremos
  como os de primos pequenos, e seja [n]={1, ..., n}.
n
Então, para cada primo p≥ pk , existem múltiplos menores ou iguais a n. então #{não simples
  p
P n P n n
em [n]} ≤ ≤ ≤ .
p>pk p p>pk p 2
Portanto, como podemos calcular uma cota superior para #{simples em [n]} de maneira análoga a

1
n n
feita no Teorema anterior, temos n ≤ (1 + log2 n)k + . Então ≤ (1 + log2 n)k . Absurdo para n
2 2
P1
grande. Logo, =∞
p p

Vamos provar agora, um outro resultado importante

Lema 3. Dado n ∈ N, então

p ≤ 4n
Q
p≤n

Demonstração. Vemos que para n = 2 e 3 essa desigualdade é claramente verdadeira. Vamos mostrar
por indução em n.
Para n = 2k,

p ≤ 4n−1 < 4n
Q Q
p=
p≤n p≤n−1

Seja agora n = 2k + 1. Note que


22k+1
 
2k + 1
= 4k
Q
p| ≤
k+1≤p≤2k+1 k 2
Então

p ≤ 4k+1 · 4k
Q Q Q
p= p·
p≤2k+1 p≤k+1 k+1≤p≤2k+1

Definição 2. Seja n ∈ N, definimos π(n) = #{Número de primos} ≤ n


 
n log 4
Exemplo 1. Vamos mostrar que + O(1) é uma cota superior para π(n)
log n nα
Seja t≤ n, então

tπ(n)−π(t) ≤ p ≤ 4n
Q
t≤p≤n

n log 4
. Tome 0≤ α ≤ 1 e t=nα então, temos que π(n) − π(nα ) ≤ . Logo
α log n

n log 4 n log 4
π(n) ≤ + π(nα ) ≤ + nα .
α log n log n α

E, portanto    
n log(4) log n n log 4
π(n) ≤ + 1−α = + O(1)
log n nα n log n nα

θp θp +1 . Então o expoente de
Lema 4. Sejam n∈ N e p um primo. seja também θp o inteiro tal que p ≤ 2n ≤ p
2n √
p que divide é menor ou igual a θp . Em particular, se p > 2 2n, então o expoente desta máxima potência
n  
2 2n
de p é menor do que ou igual a 1. Além disso, se n ≤ p ≤ n, então p não divide
3 n
Antes de provar esse lema, primeiro vamos provar que

2
Proposição 5. Seja p um primo. Então a maior potência de p que divide n! é pα onde
     
n n n
α= + 2 + 3 + ...
p p p
 
n
observe que a soma acima é finita pois os termos i são eventualmente zero
p
 
n
Demonstração. No produto n!, apenas os multiplos de p contribuem com um fator p. Há tais
p 
n
multiplos entre 1 e n. Destes, os que são multiplos de p2 contribuem com um fator p extra e há 2
p
tais fatores. Dentre estes ultimos, os que são multiplos de p3 contribuem com um fator p e assim por
diante, resultando na soma acima

Tendo esse corolário em vista, podemos provar o lema

Demonstração. Sejam α e β os expoentes das maiores potências de p que dividem 2n! e n! respectiva-
mente. Sabemos pela proposição anterior que

           
2n 2n 2n n n n
α= + 2 + 3 + ... e β=
+ 2 + 3 + ...
p p p p p p
 
2n (2n)!
Portanto, o expoente da máxima potência de p que divide = é
n n!n!

θp    
X 2n n
α − 2β = −2 i
pi p
i=1

mas como    
2n 2n 2n n n n
i
≥ i
> i −1 e − 2( i − 1) > −2 i ≥ −2 i
p p p p p p

somando, teremos    
2n n
2> i
− 2 i > −1.
p p

Portanto esta última expressão só pode tomar os valores 1 e 0. Concluı́mos que

θp
X
α − 2β ≤ 1 = θp .
i=1

2n
Além disso, se < p < n então α = 2 e β = 1, logo α − 2β = 0.
3
m
Exemplo 2. Vamos mostrar agora, que log 2 − 2 é uma cota inferior para π(m)
log m
Note que, utilizando o lema anterior, temos que:
 
2n Y
≤ 2n = (2n)π(2n)
n
p≤2n

3
Então,

2n 2n n−1 22n
 
2n (2n)(2n − 1) . . . 2.1 n 1.3.5 · ... · (2n − 1)
= = 2 n! ≥ 2.4 · ... · (2n − 2) = 2 (n − 1)! =
n n!2 n!n! n! n! 2n

ou seja,
22n
(2n)π(2n) ≥ .
2n

Tomando o logarı́tmo nessa igualdade, temos

2n log 2 − log 2n 2n
π(2n) ≥ = log 2 − 1.
log 2n log 2n

Note que:

2n 2n + 1 log 2 (2n + 1)
π(2n + 1) ≥ π(2n) ≥ log 2 − 1 ≥ log 2 − − 1 ≥ log 2 −2
log 2n log(2n + 1) log(2n + 1) log(2n + 1)

m
E, portanto, ∀m ∈ N temos que π(m) ≥ log 2 − 2. 4
log m

2 Somas de Abel e o primeiro teorema de Mertens

Sejam {an }n , {bn }n sequências. Defina An = a1 + · · · + an e A0 =0. Note que an = An − An−1 .


Então, temos que :

N
X N
X N
X N
X N
X
an bn = (An − An−1 )bn = An bn − An−1 bn = An (bn − bn−1 ) + AN bN − A0 b0
n=1 n=1 n=1 n=0 n=1

Definição 3. Uma função é dita CAD-LAG se é contı́nua à direita e tem um limite à esquerda.
P
Defina A(t):= an . É fácil ver que A(t) é CAD-LAG.
n≤t

Notação

• g(a− ) = lim g(x)


x→a−

Zx Zx
• y(t)dF (t) = lim g(x).
y→2−
2− y

Agora, seja b(t) diferenciável em [1,x] monótona. Então :

X Zx
An b(n) = A(x)b(x) − A(t)b0 (t)dt.
n≤x 1

Onde A(t) é uma função do tipo salto.

4
Logo
Zx X
b(t)dA(t) = b(n)an
n≤x
1−

e, portanto, temos que

X Zx Zx Zx
0 − −
b(n)an = b(t)dA(t) = b(t)A(t)|x1− − A(t)b (t)dt = A(x)b(x) − A(1 )b(1 ) − A(t)b0 (t)dt
n≤x
1− 1− 1−

Agora, afirmamos que dada f : [a, b] → R monótona e a, b ∈ R, ∃θ = θ(a, b) com 0 ≤ θ ≤ 1 tal


que:
b
X Zb
f (n) = f (t)dt + θ[f (b) − f (a)].
n=a+1 a

Lembrando que, o chão de um número, é o próprio menos sua parte fracionária x = x − bxc

b
X Zb Zb Zb Zb Zb
f (n) − f (t)dt = f (t)dbtc − f (t)dt = − f (t)d{t} = −f (t){t}|ba + {t}df (t)
n=a+1 a a a a a

e segue que
Zb Zb
0≤ {t}df (t) ≤ df (t) = f (b) − f (a)
a a

Exemplo 3. Mostre que log n! = n log n − n + 1 + θn log n


Sabemos que

n
X Zn
log(n!) = log k = log tdt + θn log(n) onde 0 ≤ θn ≤ 1
k=2 1

então, integrando
log(n!) = n log n − n + 1 + θn log n.

pvp (n) , dizemos que vp (n) é valoração p-ádica de n.


Q
Definição 4. Dado n ∈ N, n =
p

Já vimos que :

X n 
vp (n!) = , com x − 1 ≤ bxc ≤ x
pk
k≥1

5
logo,

n n X n n n 1
− 1 ≤ vp (n!) ≤ + = + 2
p p pk p p 1
k≥2 1−
p
1 n
=n + .
p(p − 1) p

Agora, vamos provar o 1o Teorema de Mertens:


P log p
Teorema 6. 1o Teorema de Mertens: Dado x ∈ R, = log x + O(1)
p≤x p

Demonstração. Sabemos que

Y X
n! = pvp (n!) ⇒ log n! = vp (n!) log p.
p p≤n

Logo, temos que, usando cotas inferiores e superiores para a valoração p-ádica,
 
Xn X Xn X n X1
log p − log p ≤ log n! ≤ log p + log pn  log p − log 4
p p p(p − 1) p
p≤n p≤n p≤n p≤n p≤n
Xn X
≤ log p − log p
p
p≤n p≤n
Xn X n
≤ log n! ≤ log p + log p
p p(p − 1)
p≤n p≤n
X1
≤n log p + nC
p
p≤n

onde
X X n
log p ≤ n log 4, e ≤C
p(p − 1)
p≤n

logo 
P log p
n log n − n + 1 ≤ log n! ≤ n + nC



p≤n p
(1)
P log p
n log n − n + 1 + log n ≥ log n! ≥ n − n log 4



p≤n p

e portanto:

1 X log p
log n − 1 + +C ≤
n p
p≤n
1 log n
≤ log n − 1 + + + log 4
n n

X log p
⇒ − log n = O(1)
p
p≤n

6
3 Cotas assintóticas para séries dos inversos dos primos

Agora iremos provar o seguinte teorema:


 
P 1 1 θ
Teorema 7. = log  Q  − c0 +
 
p≤x p (1 − 1/p) 2(x − 1)
p≤x

com
X 
1

1

0≤θ≤1 e co = log −
p
1 − 1/p p

e c0 é bem definido , pois:

X  1 1
 X 1 1 1

log − = + O( 2 ) − < ∞.
p
1 − 1/p p p
p p p

Demonstração. Temos que:


 
X  1
 
1 
θ(x) = 2(x − 1) c0 − log −
1 − 1/p p
p≤x
XX 1 
= 2(x − 1)
p>x
kpk
k≥2
X 2(x − 1)

p>x
2p(p − 1)
X x−1

n(n − 1)
n>k
x−1
= ≤1 onde , N = dxe .
N −1

E por fim provaremos o seguinte teorema:


P 1
Teorema 8. = log log x + c + O(1/ log x)
p≤x p

Demonstração. Utilizando da integral de Stieltjes (um texto introdutório ao assunto se encontra no


Appendix apropriado) podemos escrever,
 
X1 Z x
1  X log p 
= d
p 2− log t p
p≤x p≤t

Podemos definir também R(t), tal que,

X log p
R(t) = − log t ≡ O(1),
p
p≤t

pelo Teorema de Mertens. Defina R ≡ supt≥2 R(t), temos então:

7
X1 Z x Z x Z x
1 dt d (R(t))
= d(R(t) + log t) = +
p 2− log t 2− t log t 2− log t
p≤x
R(t) x
Z x Z x
R(t) R(x) R(2) R(t)
= log log x − log log 2 + + 2 − + 2 dt
log t 2− 2− t log t log x log 2 2− t log t
Z x
1 R(t)
≤ R − 2
log x 2− t log t
x  
1 1 2R 1
= R + ≤ ≡O
log x log t 2− log x log x

considerando então c = log log 2 segue o resultado.

4 Exercı́cios

1. Exercı́cio 1

n
O Teorema dos Números Primos diz que π(n) ∼ . A partir desse Teorema,
log n
deduza que pn ∼ n log n.

Demonstração. Do Teorema dos Números Primos temos que,

π(n) log n
lim = 1, (2)
n→∞ n

tomando o logarı́tmo dos dois lados teremos

lim (log π(n) + log log n − log n) = 0


n→∞
  
log π(n) log log n
lim log n + −1 =0
n→∞ log n log n

E como log n → ∞, temos que o termo multiplicando log n tem que ir para 0, então,
 
log π(n) log log n
lim + − 1 = 0,
n→∞ log n log n

log log n
como vai para 0 quando n → ∞, temos que,
log n

log π(n)
lim =1
n→∞ log n

8
Multiplicamos então, pela Eq.(2) e obteremos:

log(π(n))π(n)
lim =1
n→∞ n

considerando então n = px , o que implica π(n) = x e substituindo na última expressão, temos

x log x
lim =1
x→∞ px

O que implica px ∼ x log x, que é a expressão desejada.

2. Exercı́cio 2
P∞ 1
A função ζ(s) = s
é conhecida como a Função Zeta de Riemann. Prove uma
n=1 n
  −1
Q 1
identidade de Euler que diz ζ(s) = 1− .
p ps

Demonstração. Expandindo o somatório na função ζ(s), temos:

1 1 1 1
ζ(s) = 1 + s
+ s + s + s + ...
2 3 4 5
1 1 1 1 1
ζ(s) = + s + s + s + s + ...
2s 2 4 6 8

Subtraindo as duas últimas linhas temos:


 
1 1 1 1 1
1 − s ζ(s) = 1 + s + s + s + s + ...
2 3 5 7 9
 
1 1 1 1 1 1
1 − s ζ(s) = s + s + s + s + ...
3s 2 3 9 15 21

Subtraindo novamente, temos:


  
1 1 1 1 1 1
1− s 1 − s ζ(s) = 1 + s + s + s + s + ...
3 2 5 7 11 13

1
Repetindo esse processo de multiplicar por e subtrair da linha anterior, observamos que
ps
a cada passo nós eliminamos todos os termos da parte direita da equação que possuem um
fator de p no seu denominador. Repetindo esse processo para todos os primos, fica claro que
obtermos a seguinte expressão:

Y  
1
1− ζ(s) = 1
p
ps
Y  −1
1
ζ(s) = 1−
p
ps

9
10

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