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14/02/2020 Inteligência artificial, medicina e médicos - 31/01/2020 - Opinião - Folha

OPINIÃO RAUL CUTAIT

Inteligência artificial, medicina e médicos


Tecnologia e contato humano aliados no tratamento

31.jan.2020 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2020/01/31/)

Raul Cutait (https://www1.folha.uol.com.br/autores/raul-cutait.shtml)

O mundo está passando por uma nova e emocionante revolução tecnológica, às


custas da expansão da denominada inteligência artificial (IA). Através de
algoritmos cada vez mais complexos, vão sendo criadas informações de forma
contínua, que alimentam grandes bancos de dados (big data), os quais são
empregados para melhores decisões nas mais distintas atividades.

Na medicina (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/medicina/), a IA não é novidade, mas sua


utilização se expande rapidamente, em especial para interpretação de exames de
imagens nas áreas de radiologia, patologia, dermatologia, oftalmologia e de
métodos gráficos em cardiologia, comparando interpretações de máquinas que
analisam dados de dezenas de milhares de exames em cada uma dessas áreas com
as de grandes especialistas. Em certas situações, as interpretações de exames
utilizando IA mostram-se equivalentes ou mesmo superiores, o que gera uma nova
forma de se praticar a medicina.

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14/02/2020 Inteligência artificial, medicina e médicos - 31/01/2020 - Opinião - Folha

O professor e cirurgião Raul Cutait - Zanone Fraissat - 4.dez.19/Folhapress

É fácil antever que outras áreas da medicina estarão em breve recebendo apoio da
IA. Assim, em relação a condutas terapêuticas, a análise de informações
acumuladas sobre a doença e os pacientes seguramente irá auxiliar os médicos, em
algumas especialidades mais do que em outras, a conduzir o processo decisório
quanto ao tratamento (ou tratamentos), de forma individualizada. Na prevenção de
doenças, tais como diabetes, hipertensão arterial e câncer, é possível antecipar
avanços excepcionais, baseados em informações pessoais e familiares, com grande
suporte de exames genéticos. 

Uma outra área de atuação impactante é a das atenções básicas de saúde, base de
qualquer sistema público de saúde. Os médicos que nela atuam são generalistas,
que nem sempre têm os conhecimentos especializados para resolver os casos que
atendem no seu dia a dia. Com o emprego de IA, poderá ser facilitado o
atendimento de cada paciente, em especial com a telemedicina
(https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/03/telemedicina-a-favor-do-paciente.shtml), cada vez mais empregada

no contato médico-médico e médico-paciente (https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/01/o-abismo-


entre-medico-e-paciente.shtml). Finalmente, não é necessário nenhum exercício de futurologia

para se antever que a IA será importante ferramenta para a definição de políticas


públicas de saúde, levando a melhores modelos de gestão e ao emprego mais
racional dos sempre insuficientes recursos financeiros.

A importância da incorporação da IA na prática médica é incontestável, mas com


uma fundamental limitação, que transcende a barreira do conhecimento, que é a de
não conseguir substituir o contato humano que aproxima médicos de seus

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pacientes. O médico, para o exercício de sua missão, tem que se mostrar um


verdadeiro parceiro de seu paciente. Cumplicidade, solidariedade, compaixão,
“colo” e sigilo são alguns dos predicados que fazem a diferença!

Contudo, não se pode esperar que todos os médicos ajam apropriadamente nas
suas relações profissionais tendo como base sua intuição e experiências de vida. É
necessário que estes aprendam e desenvolvam habilidades de relacionamento
durante seus cursos de graduação e programas de residência médica, o que só é
possível com a orientação de professores competentes e o contato com os
pacientes durante o período de formação. 

Para tanto, angustia o fato de termos hoje cerca de 350 escolas de medicina em
funcionamento ou aprovadas (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/06/mec-estuda-rever-suspensao-para-
criacao-de-novos-cursos-de-medicina-no-pais.shtml),
formando mais de 30 mil médicos por ano, com
dois tremendos problemas: 1 - não há no país docentes em número suficiente para
todas essas escolas; 2 - grande parte das novas faculdades de medicina não terá à
disposição os fundamentais centros de treinamento, em especial hospitais. A
questão não é apenas de currículo, mas dos graduandos e residentes terem a
oportunidade de aprender como lidar com seus semelhantes adoentados.

Em suma, a IA se fará cada vez mais presente nas atenções de saúde, mas o médico
deverá ser sempre o ator principal, a não ser que no futuro sejam desenvolvidos
robôs que, além do conhecimento, saibam também lidar com as emoções das
pessoas.

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