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(séculos Xii-Xiii)
Organização
Porto alegre
2019
Copyright © Editora CirKula LTDA, 2019.
1° edição - 2019
Editora CirKula
Av. Osvaldo Aranha, 522 - Loja 1 - Bomfim
Porto Alegre - RS - CEP: 90035-190
e-mail: editora@cirkula.com.br
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11 ApresentAção
igor s. teiXeira, eliane veríssimo de santana,
carolina gual da silva
CONSELHO CIENTÍFICO
Alejandro Frigerio (Argentina)
André Luiz da Silva (Brasil)
Antonio David Cattani (Brasil)
Arnaud Sales (Canadá)
Cíntia Inês Boll (Brasil)
Daniel Gustavo Mocelin (Brasil)
Dominique Maingueneau (França)
Estela Maris Giordani (Brasil)
Hermógenes Saviani Filho (Brasil)
Hilario Wynarczyk (Argentina)
Jaqueline Moll (Brasil)
José Rogério Lopes (Brasil)
Ileizi Luciana Fiorelli Silva (Brasil)
Leandro Raizer (Brasil)
Luís Fernando Santos Corrêa da Silva (Brasil)
Lygia Costa (Brasil)
Maria Regina Momesso (Brasil)
Marie Jane Soares Carvalho (Brasil)
Mauro Meirelles (Brasil)
Simone L. Sperhacke (Brasil)
Silvio Roberto Taffarel (Brasil)
Stefania Capone (França)
Thiago Ingrassia Pereira (Brasil)
Wrana Panizzi (Brasil)
Zilá Bernd (Brasil)
ApresentAção
4 GAUVARD, C. et Al. La Norme. In: SCHMITT, J-C.; OEXLE, O. E. (Dir.). Les ten-
dances actuelles de l’histoire du Moyen Âge en France et en Allemagne: Actes
des colloques de Sèvres (1997) et Göttingen (1998). Paris: Publications de la Sor-
bonne, 2002, p. 472.
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das construções normativas. Logo, a concepção fundamental que orienta
nosso livro é a de multinormatividade, pensada como “A combinação de
abordagens analíticas centradas em diferentes esferas normativas, nas re-
gras que guia, práticas culturais subjacentes e na dinâmica da produção
cultural em espaços sociais caracterizados pela diversidade (…)”5. Parti-
mos do pressuposto que a concepção de direito na Idade Média funciona
dentro da lógica da multinormatividade e, portanto, só pode ser entendida
quando analisadas todas as diferentes produções de sentido normativo.
Dessa forma, a compreensão de um tempo histórico a partir da do-
cumentação jurídica implica na necessidade de reconstrução dos contex-
tos específicos de produção, utilização e adaptação das normatividades em
diálogo com as diferentes temporalidades e espacialidades. No caso me-
dieval, por exemplo, isso implica em compreender o contexto de estudo
e produção do direito enquanto disciplina (para o caso do direito romano
e canônico no espaço universitário, por exemplo), as especificidades ad-
ministrativas e políticas que produzem e usam outras formas normativas
(como os direitos consuetudinários, feudais, principescos), os atos da prá-
tica (tanto no âmbito eclesiástico quanto leigo), a produção da doutrina e
do discurso teológico, entre outros.
Outro pressuposto fundamental para os autores desse volume é a
importância da noção de jurisdição para a composição dos poderes na Ida-
de Média. O discurso legalístico e jurídico medieval baseava-se em noções
de jurisdição para pensar sobre os espaços de atuação de cada esfera da
organização eclesiástica. A teoria jurídica medieval, como um todo, tinha
no conceito iurisdictio um dos pilares que sustentavam a vida institucional
e política. As diferentes esferas de poder dentro da instituição eclesiástica
se entrelaçavam por meio desse conceito e a compreensão dessas relações
nos permite apreender a multinormatividade medieval.
Todos esses pressupostos – a complexidade e importância do direito
na Cristandade, o contexto de multinormatividade e a centralidade das no-
ções de jurisdição – estão presentes nos capítulos que compõem esse volu-
me. O livro abre com uma reflexão teórica. O primeiro capítulo, escrito por
Leandro Duarte Rust, professor da Universidade Federal do Mato Grosso,
procura repensar o modelo explicativo do direito, e como este modelo pode
ser analisado para estudo e interpretação da história, sem, contudo, torná-lo
um paradigma, mas sim uma possibilidade para interpretação.
5 DUVE, T. Global Legal History—A Methodological Approach. In: DUBBER, M.
(Ed.). Oxford Handbook of European Legal History. Oxford University Press, 2018.
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Na continuidade, o livro encontra-se dividido em duas partes. A pri-
meira, intitulada “Ordens Mendicantes e Direito Canônico” é composta
por cinco capítulos que exploram, cada uma a sua maneira, as relações
específicas que as ordens mendicantes – particularmente os dominica-
nos – desenvolveram com formas normativas. A segunda parte, “Espaços
de autoridade e jurisdições eclesiásticas: estudos de caso”, apresenta seis
casos específicos que ajudam a pensar sobre a constituição de poderes e
autoridades através do direito canônico, dos direitos régios e de outras
formas jurídicas seculares e locais.
O capítulo de Carolina Coelho Fortes, professora da Universidade
Federal Fluminense, busca demonstrar o processo por ela realizado de
tradução e análise das Atas dos Capítulos Gerais da Ordem dos Pre-
gadores. Dentre os 18 capítulos analisados desse conjunto legislativo,
Fortes demonstra a ocorrência das leis e sua porcentagem em relação
aos assuntos que figuram na obra. Por sua vez, Carolina Gual da Silva,
da Universidade Estadual de Campinas, aborda a Summa de Paenitentia
do canonista Raymundo de Peñafort, debatendo, no âmbito do direito
canônico, as participações e limitações dos laicos na cobrança e uso do
dízimo. Na sequência, Luiz Otávio Carneiro Fleck, doutorando da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul, aborda a Ordem dos Pregado-
res e o processo de divisão das províncias. Os documentos utilizados por
Fleck são as Atas dos Capítulos Gerais. No quinto capítulo, Igor Teixeira,
professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, analisa duas
questões da Suma Teológica de Tomás de Aquino, selecionando o dízimo e
a esmola como temas de estudo para esse capítulo. Ambas as questões se
aproximam na obra do Aquinate pelo tema da prostituição. Na sequên-
cia, Eliane Veríssimo de Santana, da Universidade Federal do Rio Gran-
de do Sul, analisa a forma como o dízimo foi utilizado como elemento
para afirmação da autoridade papal na obra De ecclesiastica potestate do
agostiniano Egídio Romano.
No sétimo capítulo, que abre a segunda parte do livro, Maria Filo-
mena Coelho, professora da Universidade de Brasília, contribui com no-
vas perspectivas para o estudo dos reinos, dando ênfase ao português,
utilizando os Forais como prisma diferenciado para análise historiográfica
do poder no medievo. Na sequência, Paola Miceli, da Universidad Nacio-
nal de General Sarmiento, Argentina, dedica-se ao estudo do monastério
de Sahagún. A autora utiliza pleitos contidos na documentação Diplomá-
tica del Monasterio de Sahagún para analisar a apropriação e o exercício
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de direitos como elemento central desses litígios. No capítulo seguinte,
Kellen Jacobsen Follador, pós-doutoranda da Universidade Estadual de
Campinas, estuda as mudanças legislativas ocorridas em relação aos ju-
deus em Castela no século XI-XIII, destacando Afonso X, nos Fuero Real
e nas Siete Partidas.
No décimo capítulo desta obra, Armando Torres Fauaz, professor
da Universidad Nacional de Costa Rica, dedica-se a Dijon nos anos de
1298 a 1302, e o conflito que se estabeleceu entre a comuna e a coope-
ração de poderes entre rei e duque. A pesquisa é realizada com base no
documento contido na Collection Bourgonge presente na Biblioteca Nacio-
nal da França. No penúltimo capítulo, Alejandro Morin, da Universidad
Nacional de Córdoba, estuda a construção jurídica da moeda em escritos
do jurista Alberico de Rosate. O livro se concluí com o texto de Mari-
na Benedetti, professora da Università degli Studi di Milano, que busca
aproximar os termos santidade e heresia como aspectos complementares
do governo exercido pela Igreja, analisando casos específicos de contra
Armando Pungilupo de Ferrara e Guglielma de Milão.
Essa obra não se constitui como uma síntese. As questões levanta-
das nos levam a novas pesquisas e a novas indagações, mas colocam em
evidência a importância do tema, a diversidade de abordagens possíveis
e a riqueza das análises efetuadas a partir da visão de uma Idade Média
multinormativa. São contribuições importantes, baseadas em fontes do-
cumentais diversas, demonstrando o quanto a compreensão da constru-
ção de jurisdições e os diálogos entre as diferentes formas de direito são
peças importantes no nosso entendimento sobre poderes e autoridades
na Idade Média.
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