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Autismo – um breve histórico.

“… Imagine chegar em um país onde você não entende a língua e não conhece os
costumes – e ninguém entende o que você quer ou precisa. Você, na tentativa de se
organizar e entender esse ambiente, provavelmente apresentará comportamentos que
os nativos acharão estranhos…” (citação retirada do Manual de Treinamento ABA –
Help us learn – Ajude-nos a aprender.)

Esta frase pode ser utilizada para compreender a maneira de uma criança portadora do
Transtorno de Espectro Autista pensar, sentir e se comportar. Muitos dizem realmente
que o autista constrói para sí uma realidade paralela, alheia a nossa, e por viver “lá
dentro” não consegue se comunicar com os outros que vivem no mundo “real”. Será
verdade? Vamos resumir aqui um pouco da história do diagnóstico de autismo a partir
do texto Abordagem Comportamental do Autismo, de autoria de Alexandre Costa e
Silva, diretor de relações públicas da Associação Brasileira de Autismo.

Breve Histórico.

A palavra “autismo” deriva do grego “autos”, que significa “voltar-se para sí mesmo”.
A primeira pessoa a utilizá-la foi o psiquiatra austríaco Eugen Bleuler para se referir a
um dos critérios adotados em sua época para a realização de um diagnóstico de
Esquizofrenia. Estes critérios, os quais ficaram conhecidos como “os quatro ‘A’s de
Bleuler, são: alucinações, afeto desorganizado, incongruência e autismo. A palavra
referia-se a tendência do esquizofrênico de “ensimesmar-se”, tornando-se alheio ao
mundo social – fechando-se em seu mundo, como até hoje se acredita sobre o
comportamento autista.
Em 1943 o psicólogo norte americano Leo Kanner estudou com mais atenção 11
pacientes com diagnóstico de esquizofrenia. Observou neles, o autismo como
característica mais marcante; neste momento, teve origem a expressão “Distúrbio
Autístico do Contato Afetivo” para se referir a estas crianças. O psicólogo chegou a
dizer que as crianças autistas já nasciam assim, dado o fato de que o aparecimento da
síndrome era muito precoce. A medida em que foi tendo contato com os pais destas
crianças ele foi mudando de opinião. Começou a observar que os pais destas crianças
estabeleciam um contato afetivo muito frio com elas, desenvolvendo então o termo
“mãe geladeira” para referir-se as mães de autistas, que com seu jeito frio e distante de
se relacionar com os filhos promoveu neles uma hostilidade inconsciente a qual seria
direcionada para situações de demanda social.

As hipóteses de Kanner tiveram forte influência no referencial psicanalítico da síndrome


que pressupunha uma causa emocional ou psicológica para o fenômeno, a qual teve
como seus principais precursores os psicanalistas Bruno Bettelheim e Francis Tustin.

Bettelheim, em sua terapêutica, incitava as crianças a baterem, xingarem e morderem


em uma estátua que, pelo menos para ele, simbolizava a mãe delas. Tustin, por outro
lado, acreditava em uma fase autística do desenvolvimento normal, na qual a criança
ainda não tinha aprendido comportamentos sociais e era chamada por ela de fase do
afeto materno, funcionando como uma ponte entre este estado e a vida social. Se a mãe
fosse fria e suprimisse este afeto, a criança não conseguiria atravessar esta ponte e entrar
na vida social normal, ficando presa na fase autística do desenvolvimento. Em 1960, no
entanto, o psicanalista publica um artigo no qual desfaz a idéia da fase autística do
desenvolvimento.

Naquela época a busca pelo tratamento psicanalítico era muito intensa. Muitas vezes as
crianças passavam por sessões diárias, inclusive no domingo. O preço pago era muito
alto. Muitas famílias vendiam seus bens na esperança de que aquele método as ajudasse
a corrigir o erro que haviam cometido na criação de seus filhos.

Com o advento da década do cérebro, no entanto, estas idéias começaram a ser deixadas
de lado – além de não estarem satisfazendo as expectativas dos pais. A partir de 1980
foram surgindo novas tecnologias de estudo, as quais permitiam investigação mais
minuciosa do funcionamento do cérebro da pessoa com exames como tomografia por
emissão de pósitrons ou ressonância magnética. Doenças que anteriormente eram
estudadas apenas a partir de uma perspectiva psicodinâmica passaram a ser estudadas de
maneiras mais cuidadosas, deixando de lado o cogito cartesiano.

Já na década de 60 o psicólogo Ivar Lovaas e seus métodos analítico comportamentais


começaram a ganhar espaço no tratamento da síndrome. Seus resultados apresentavam-
se de maneira mais efetiva do que as tradicionais terapias psicodinâmicas. E já naquela
época as psicologias comportamentais sofriam forte preconceito por parte dos
psicólogos de outras abordagens. Durante as décadas de 60 e 70 os psicólogos
comportamentais eram consultados quase que apenas depois que todas as outras
possibilidades haviam se esgotado e o comportamento do autista tornava-se
insuportável para os pais e muito danoso para a criança.

E como o autismo é visto hoje?


.

É característico do autista apresentar alguns déficits e excessos comportamentais em


diversas áreas, conforme melhor explicado adiante. O grau de comprometimento destes
déficits podem variar de uma criança para outra e na mesma criança ao longo do tempo.
Por este motivo, a expressão Transtorno do Espectro Autista tem sido mais utilizada em
detrimento da palavra Autista.

Manuais diagnósticos como o DSM – IV TR e o CID – 10 caracterizam o autismo como


um transtorno pervasivo do desenvolvimento no qual existe comprometimento severo
em áreas como: diminuição do contato ocular; dificuldade de mostrar, pegar ou usar
objetos; padrões repetitivos e esteriotipados de comportamento; agitação ou torção das
mãos ou dedos, movimentos corporais complexos; atraso ou ausência total da fala. A
National Society for autistic children o encara como um distúrbio do desenvolvimento
que se manifesta de forma incapacitante por toda a vida, aparecendo tipicamente nos
três primeiros anos de vida. Define como critérios para diagnóstico do autismo o
precoce comprometimento na esfera social e de comunicação.

Este Transtorno Invasivo do Desenvolvimento acomete apenas cinco entre cada dez mil
nascidos, ocorre em famílias de todas as configurações raciais, étnicas ou sociais.
Gauderer (1993) afirma que a maioria das crianças com diagnóstico do Transtorno de
Espectro Autista tem fisionomia normal, e sua expressão séria pode passar a idéia,
geralmente errada, de inteligência extremada. Apesar da estrutura facial normal, no
entanto, estão quase sempre ausentes a expressividade das emoções e receptividade
presentes na criança com desenvolvimento típico.

Nem sempre o autismo está associado a deficiência mental. Às vezes ele ocorre em
crianças com inteligência classificada como normal. O chamado “déficit intelectual” é
mais intenso nas habilidades verbais e menos evidente em habilidades viso-espaciais. É
muito comum, no entanto, crianças com este diagnóstico apresentarem desempenho
além do normal em tarefas que exigem apenas atividades mecânicas ou memorização,
ao contrário das tarefas nas quais é exigido algum tipo de abstração, conceituação,
sequenciação ou sentido.

Incidência

.
Existem várias definições e critérios diagnósticos diferentes do que vem a ser o autismo.
Em decorrência disto, é difícil traçar um nível de incidência confiável, pois conforme
variam as definições e critérios diagnósticos, variam também a quantidade de pessoas
diagnosticadas. Os índices mais aceitos e divulgados, no entanto, trazem uma média de
5 a 15 casos em cada 10 000 pessoas. Pesquisas epidemiológicas utilizando o DSM –
III-R identificam o dobro deste numero. Quando os criterios medicos são deixados de
lado em detrimento dos educacionais, a média aumenta para 21 casos em cada 10 000
pessoas. Quando a síndrome é mais rigorosamente classificada e diagnosticada,
entretanto, encontra-se uma prevalência de 2 casos para cada 10 000 pessoas.

Independentemente de qual critério diagnostico seja adotado, sabe-se que pessoas do


sexo masculino são em geral mais atingidas. De acordo com o DSM – IV, ele ocorre
três ou quatro vezes mais em meninos do que em meninas. Estas, no entanto, tendem a
apresentar limitacões mais severas.

Algumas hipóteses etiológicas

Embora diversos tipos de alterações neurológicas e/ou genéticas tenham sido descritas
como prováveis etiologias do autismo, não há nada comprovado ainda. O transtorno
pode estar diretamente associado a problemas cromossômicos, genéticos, metabólicos, e
até mesmo doenças transmitidas ou adquiridas durante a gestação, durante e após o
parto. A dificuldade em elaborar um diagnóstico de autismo é grande, quando se pensa
que diversas síndromes possuem sintomatologia semelhante.
Uma quantidade de 75 a 80% das crianças com diagnóstico de Transtorno do Espectro
Autista apresenta algum tipo de retardo mental, o qual pode estar associado a inúmeros
fatores biológicos.

Alguns autores, como Gauderer afirmam que algumas alterações encefálicas em fases
críticas do desenvolvimento embrionário podem dar origem a algum tipo de transtorno
que se enquadre no diagnóstico de transtorno do espectro autista, mas os exames
clínicos que vem sendo realizados não demonstram correlação significativo entre estas
alterações e o transtorno.

Este texto trata-se de um resumo discutido do artigo Abordagem Comportamental do


Autismo, de autoria de Alexandre Costa e Silva.

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Introdução Terapia Comportamental – Princípios Fundamentais Terapia Comportamental –
Análise Funcional – avaliação Terapia Comportamental – Análise Funcional – intervenção
Terapia Comportamental – Relação Terapêutica Uma [...]...
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Autismo, desenvolvimento atípico, Problemas de Aprendizagem, Psicopatologia,
transtornos de desenvolvimento.

Psicopatologia
De vez em quando, algum assunto me interessa em particular. A bola da vez é a
psicopatologia. Decidi investigar mais sobre esse conceito.

Para mim, sempre foi claro: Psicopatologia não existe, enquanto doença da mente. Vou
explicar um pouco sobre isso neste texto e em outro que está para ser publicado
(Terapia Comportamental – análise funcional – avaliação).

Psicopatologia

Do modo tradicional, psicopatologia é definida como


uma doença da mente. Ou seja, um indivíduo apresenta psicopatologia se a sua
mente está funcionando de forma anormal. Essa definição pode ser criticada em
muitos sentidos.

Primeiro, será que existe uma mente que fica doente? Skinner, behaviorista radical, diz
que não. Thomas Szasz, psiquiatra e psicanalista, diz que não. Para esses e outros
autores, não se pode medir a mente, nem localizá-la no espaço, nem observá-la à
distância; portanto, não se pode afirmar que ela existe.

Nas palavras do psicanalista Thomas Szasz:

“Uma doença é um algum tipo de funcionamento anormal do corpo humano. A mente é


obviamente algo semântico, linguístico, e não faz parte do corpo humano”.

Szasz diz em poucas palavras: se não existe mente, ela não pode estar doente.
Para Skinner e Szasz, as relações humanas com o mundo são comportamentais: ou seja,
os problemas ditos “mentais” são, na verdade, problemas do comportamento. Essa
afirmação significa que é na relação do indivíduo com seu mundo que estão as
dificuldades. Um indivíduo deprimido exibe poucos comportamentos e relata tristeza
devido à relações prejudiciais que está mantendo com o ambiente e não porque seu
corpo está apresentando um mau funcionamento.

Isso nos leva a uma segunda crítica à noção clássica de psicopatologia. Iniciemos com a
pergunta: ainda que não exista mente, será que existe doença do comportamento?

Parece que não. Se um indivíduo está deprimido porque perdeu alguém querido, é
possível dizer que sua tristeza é anormal? E se teve uma infância na qual não foi
valorizado, sua depressão é anormal? Alguém com transtorno de estresse pós-
traumático por ter batido o carro, está se comportamento de maneira anormal? Se a
maioria das pessoas gosta mais da cor azul do que da verde, gostar da cor verde é
anormal? Ser diferente dos outros é ser anormal?

As perguntas acima parecem querer um não como resposta. A partir do momento em


que se é conhecida a história de vida de uma pessoa queixosa, identificando os
elementos importantes que afetam seu comportamento atual, é muito difícil sustentar
que essa pessoa tem uma doença da mente. O problema dessa pessoa, sua queixa,
passa a ser explicada com relativa facilidade como uma reação normal à sua
história de vida.

Um teste fácil de ser realizado: tente identificar quais elementos do ambiente são
responsáveis por qualquer comportamento que julgue estranho em si mesmo ou em
outra pessoa. Enquanto tais elementos não forem reconhecidos, o comportamento
parecerá estranho. A partir do momento em que forem encontrados os fatos
ambientais responsáveis pelo comportamento, ele deixa de ser considerado anormal; sua
existência torna-se normal, um resultado óbvio dos fatos.

Uma terceira crítica à noção clássica de psicopatologia diz respeito à rotulação


ocasionada por essa noção. Se existe doença mental, ela deve ter um nome. O
problema é que o nome termina por definir a pessoa, e não apenas a doença. Um
indivíduo com o rótulo de depressivo deixa de parecer alguém comum; tratam-no como
alguém com características especiais, que precisa de cuidado constante e em quem não
se pode confiar. Um rótulo não é uma pessoa. A pessoa é ampla, complexa, refinada,
particular. O rótulo termina com a individualidade, com o refinamento, com a
complexidade, pois transforma o indivíduo em um nome.

Os rótulos se tornam especialmente problemáticos quando se descobre que não há,


ainda, testes científicos que comprovem os diagnósticos psiquiátricos (e
psicológicos, já que, muitas vezes estes se baseiam naqueles). Não há como provar
cientificamente que existe a depressão, a esquizofrenia, o transtorno obsessivo-
compulsivo, e assim por diante. Os diagnósticos são feitos com base em um manual
estatístico criado por consenso, e não por observações de mau funcionamento do corpo
ou “da mente”. Os psiquiatras admitem isso, como pode ser visto no vídeo abaixo.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=APBE5NJO12k&feature=related]
Em um outro vídeo, o Dr. Thomas Szasz também comenta sobre o problema do
diagnóstico psiquiátrico. Vejam:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=uE0mysIHvvg]

Os vídeos mostram como ainda há dificuldades para diagnosticar doenças mentais.


Mesmo as inventadas. No entanto, eles somente resvalam em um assunto
particularmente importante: a utilização de remédios para cuidar de transtornos ainda
não efetivamente comprovados. Dizendo de forma bruta: receita-se remédios para
doenças que não existem.

A noção clássica de psicopatologia ou doença mental só deveria poder ser aplicada


em casos nos quais é cientificamente comprovado que os problemas
comportamentais estão relacionados com um mau funcionalmento de alguma parte
do corpo humano. A doença de Alzheimer é um exemplo. O mal de Parkinson é outro.
Comportamentos modificados por abuso de substância constituem um terceiro exemplo.

Infelizmente, a maioria das chamadas doenças mentais ainda não são


cientificamente comprovadas. Nosso sistema de diagnóstico é falho. Os psiquiatras
sabem disso e tentam criar sistemas mais aperfeiçoados de diagnóstico. Um exemplo é a
produção do DSM-V que, se bem realizado, pode mudar os rumos do entendimento das
doenças mentais.

Não é objetivo, aqui, relatar a maneira alternativa de diagnosticar problemas do


comportamento. Essa empreitada será realizada no texto “Terapia Comportamental –
análise funcional – avaliação”, que será publicado em breve. Além disso, já falei sobre
uma forma de diagnóstico alternativo neste texto: “É normal ser anormal:…”. Vale a
pena ler todo o texto e, principalmente, os comentários feitos por um psiquiatra ao final
dele.

———- xx ———- xx ———- xx ———-

Este texto não cobre tudo o que há para ser falado sobre psicopatologia. Seu objetivo
era discutir brevemente a adequação do conceito e algumas implicações dele. Por favor,
deixe perguntas e comentários. Um novo texto pode ser escrito se os leitores indicarem
áreas importantes que não foram comentadas aqui, ou se tiverem perguntas que
necessitam resposta imediata. Novamente recomendo a leitura do texto “É normal ser
anormal:…” e dos vídeos mostrados acima.

Robson Faggiani

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execução e a avaliação dos resultados obtidos. Além disso, o conceito de análise funcional está
ligado à noção de psicopatologia para a [...]...

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Psicopatologia, Psicoterapia.

By Robson Brino Faggiani


23/04/200

Orientação a Pais
É comum que pais e filhos apresentem conflitos: possuem expectativas e desejos
diferentes com relação uns aos outros. Os pais às vezes não sabem como lidar com esses
conflitos de expectativas e, em sua tentativa de executar soluções lógicas, podem
produzir mais problemas do que benefícios. Uma das causas disso é porque
o comportamento não é tão lógico quanto gostaríamos.

O trabalho do psicólogo com pais e filhos em


dificuldades de relacionamentos não é apenas resolução de conflitos. Grande parte do
trabalho é ensinar aos pais sobre análise do comportamento, uma estratégia mais
produtiva do que simplesmente apontar soluções. Em certa medida, as estratégias
adotadas pelos analistas do comportamento podem ser comparadas às vistas no
programa SuperNanny.

No entanto, o trabalho vai mais longe. O treino de pais envolve um ensino detalhado de
como resolver problemas que podem a acontecer e a prevenir seu acontecimento. Para
tanto, é necessária uma observação de como os pais se relacionam com a criança e, a
partir daí, é feito um planejamento de ensino e intervenção. Os resultados podem ser
muito rápidos e duradouros.

Uma boa relação familiar traz benefícios não só para as crianças, mas também para os
pais. Em uma família harmônica, o tempo de convívio traz prazer e alívio da pressão do
trabalho. As crianças, por sua vez, são beneficiadas a curto e a longo prazo. Uma
infância saudável é traduzida em um adulto íntegro e auto-confiante.
Para contratar ou saber mais sobre os serviços, entre em contato com a Equipe
Psicologia e Ciência.

Leia o texto Como Lidar com os Filhos.

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(UNIPAM), orientados pela Profa. Ms. Viviane, uma cartilha que ajuda pais a lidar com [...]...
3. Crianças não fazem os pais felizes Think having children will make you happy? Think
again, suggests Nattavudh Powdthavee – you’re experiencing a focusing illusion Pages: 308-311
SEGUE UMA TRADUÇÃO REALIZADA POR FERRAMENTAS DE IDIOMA. SÃO
TRADUÇÕES INVARIAVELMENTE ERRADAS. Tal como muitos outros jovens casais nossa
idade, a minha namorada de longo prazo e eu estamos pensando em começar uma família de
nossos próprios. Duas coisas [...]...

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By Robson Brino Faggiani


16/07/2008

Autismo
O autismo é considerado uma desordem causada por uma alteração cerebral que produz
dificuldade em três áreas: (1) Comunicação, (2) Relacionamento social e (3)
Comportamentos repetitivos e inadequados. Ainda não se sabe ao certo a origem da
alteração cerebral. No entanto, modernos tratamentos, como o método ABA, permitem
à criança aprender a se comunicar e criar laços sociais.

O autismo é uma desordem espectral,


gradativa. Ou seja, as características observadas nas pessoas autistas também estão
presentes, em menor grau, em pessoas com desenvolvimento típico. De forma
semelhante, algumas desordens, como o transtorno de Rett, reúnem características
exacerbadas do autismo.

Por ser espectral, algumas pessoas acreditam que o autismo não seja realmente uma
doença, mas apenas uma característica humana como qualquer outra. De acordo com
essa perspectiva, pode-se dizer que há pessoas com muita ou pouca altura e que há
pessoas com muito ou pouco “autismo”. Independentemente de ser ou não uma doença,
alguns cuidados e atividades podem tornar a vida de indivíduos diagnosticados com
autismo mais produtiva (veja Autismo -Terapia, neste site).

MAIS SOBRE AS DIFICULDADES

Prejuízos na comunicação: Muitos autistas têm dificuldade em desenvolver um


repertório verbal adequado para as exigências cotidianas. Suas frases podem conter
poucas palavras e pode haver dificuldade em compreender a fala de terceiros.

Prejuízos em relacionamento social: A capacidade de compreender os sentimentos de


outras pessoas é baixa nos autistas. Normalmente, outros elementos do meio, como
objetos que giram ou televisão, são preferidos a contato social.

Prejuízos na relação com o ambiente: É comum que autistas executem comportamentos


repetitivos e, em alguns casos, auto-lesivos. Supõe-se que um dos motivos por que esses
comportamentos ocorrem seja a auto-estimulação que eles produzem.

Sensações: Alguns estudiosos afirmam que os autistas têm dificuldades em organizar os


dados de sua percepção, ou até, percebem o mundo de forma diferente. Se esses
estudiosos estiverem corretos, essa distorção perceptual poderia explicar, em parte, as
dificuldades dos autistas, particularmente aqueles relacionadas à contato social e
comportamentos repetitivos.

Essas dificuldades podem ser bastante amenizadas com terapia. Alguns autistas levam
uma vida normal, em todos os sentidos. A participação dos pais é fundamental para esse
sucesso.

Para mais informação sobre o autismo, visite os seguintes sites:


Wikipedia – Autismo (português)
Artigo sobre o método ABA (português)
Wikipedia – Autismo (inglês)
Site sobre o método ABA (inglês)

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crianças autistas requer atenção constante. Elas tendem a agir de maneiras inadequadas quando
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sintomas do autismo podem ser reversíveis. Leia aqui (em inglês). De acordo com essa teoria, os
sintomas do autismo são causados por um mal funcionamento do locus coeruleus, uma parte do
cérebro responsável pelo processamento sensorial. A teoria surgiu de observações ocasionais,
agora confirmadas, de que autistas, [...]...
5. Notícias do Dia – 25 Duas notícias: Um estudo recente mostrou que crianças autistas
confiam mais em pistas proprioceptivas do que exteroceptivas para aprender comportamentos
motores. Leia aqui (em inglês). Isso pode ajudar a explicar porque autistas têm dificuldade em
relações sociais e aversão a mudanças na rotina. A explicação neurológica para o fenômeno
afirma que o cérebro de autistas têm [...]...

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By Robson Brino Faggiani


16/07/2008

Autismo – Grupo de Pais


A criação de grupos de pais tem por objetivo proporcionar orientação a pais de crianças
autistas, complementando o trabalho do profissional especializado e possibilitando a
troca de experiências entre diferentes pais.

• JUSTIFICATIVA: Lidar com crianças autistas requer atenção constante. Elas


tendem a agir de maneiras inadequadas quando não estão realizanto tarefas.
Quanto mais tempo em companhia da criança, ensinando-a, m

elhores são os resultados em seu


comportamento. Os pais podem ajudar, conhecendo e aplicando princípios
básicos sobre o comportamento e técnicas para lidar com seus filhos. O auxílio
dos pais às crianças em situações cotidianas as ajudam a se tornarem
independentes e a lidarem melhor com situações sociais.
• METODOLOGIA: O trabalho é realizado de acordo com os pressupostos do
método ABA (Applied Behavior Analysis – Análise do Comportamento
Aplicada).
o Orientação em Grupo: os pais se reúnem com o orientador e apresentam
seus filhos e possíveis problemas que estejam ocorrendo. O orientador,
juntamente com os outros pais, procura soluções e propõe mudanças para
solucionar o problema. O espaço permite a troca de experiências
emocionais e cotidianas, que facilitam o convívio com a criança.
o Orientação Individual: Os pais que desejarem podem se encontrar com o
orientador individualmente, para falar sobre problemas específicos e tirar
dúvidas.

• POPULAÇÃO ALVO: Pais e cuidadores de crianças autistas.


• VAGAS: O número de vagas deve ser combinado com o grupo de pais. Se for
necessário, dois ou mais grupos podem ser formados.
• PERÍODO: Início em Março/2008
• DURAÇÃO/FREQUÊNCIA/LOCAL: Cada encontro terá duração de
01h50min (uma hora e cinqüenta minutos) e será realizado uma vez por semana,
em Guarulhos.
• ORIENTAÇÃO: Robson Faggiani

Para contratar ou saber mais sobre os serviços, entre em contato com a Equipe
Psicologia e Ciência.

Saiba mais sobre autismo.

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By Robson Brino Faggiani
13/07/2008

utismo – Terapia
Para lidar com indivíduos autistas, utilizamos o Método ABA (Applied Behavior
Analysis – Análise do Comportamento Aplicada). O método tem alta taxa de sucessos e,
por conta disso, o governo americano escolheu esse método como o tratamento
psicológico por excelência para indivíduos autistas. Um movimento semelhante está
acontecendo em São Paulo, no sentido de pedir que o governo passe a dar auxílio
financeiro a pais que desejem tratar os filhos com o ABA.

O trabalho com crianças autistas tem por


objetivo integrar a criança à comunidade da qual ela faz parte. Para isso, a intervenção é
planejada e executada cuidadosamente, abrangendo as atividades das crianças em todos
os ambientes freqüentados por ela: escola, casa, lazer, etc. Também acompanha-se o
trabalho do psiquiatra (quando existente), pois a comunicação entre diferentes
profissionais permitem um maior conhecimento das habilidades da criança.

Antes da execução da intervenção, realiza-se uma avaliação do repertório da criança,


identificando seus pontos fortes e fracos. Com base na avaliação, planos educacionais
são criados, direcionados a dificuldades de aprendizagem, dificuldades emocionais, e
dificuldades sociais e de comunicação. Os planos educacionais são particulares para
cada criança, garantindo adequação às suas necessidades e às suas preferências. Isso
permite um aprendizado estruturado, rápido e contínuo. São feitos de modo que os
objetivos a serem alcançados sejam claros e observáveis, permitindo que os pais
acompanhem de perto o sucesso da intervenção. A análise do comportamento tem
demonstrado ser possível ensinar qualquer tipo de habilidade para a criança, inclusive o
reconhecimento de emoções e o comportamento emocional propriamente dito.

Dois tipos de comportamento recebem atenção especial: habilidades sociais e de


comunicação e habilidades A interação social é trabalhada por meio de atividades de
brincadeiras e reconhecimento de expressões e sentimentos. Durante toda a terapia, e no
acompanhamento escolar, atenção social intensa é dada à criança, de modo a tornar a
interação com o outro interessante.
As habilidades de comunicação, por sua vez, são ensinadas passo a passo, iniciando
pelo aprendizado de pedidos e repetição de palavras. Depois, avança-se para nomeações
e formação de frases simples. Em seguida, começa-se o treino de conversação.
Finalmente, programa-se o ambiente para a ocorrência de diálogos espontâneos com a
criança. Além da interação social e da comunicação, trabalha-se desenvolvimento
acadêmico e redução de comportamentos disruptivos e estereotipias.

Paralelamente ao trabalho terapêutico, os pais e profissionais que lidam com as crianças


recebem treinamento em análise do comportamento, tornando-se hábeis na produção
e manutenção de comportamentos adequados e nas técnicas para redução de freqüência
dos comportamentos inadequados, além de se tornarem aptos a avaliar o
desenvolvimento da criança passo a passo. Caso a criança freqüente a escola,
acompanha-se seu comportamento no ambiente acadêmico, favorecendo uma mudança
mais rápida.

Trabalhamos em todo o Brasil. Visitamos as famílias em suas cidades e realizamos


treinamento especializado e acompanhamento mensal ou bimestral presencial, além de
acompanhamento online ou por telefone.

Também oferecemos Orientação a Pais de Crianças Autistas.

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Saiba mais sobre autismo.

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proximidade com o cliente. Outras abordagens, como o humanismo (especialmente [...]...
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By Robson Brino Faggiani


13/07/2008

Alguns comentários

5 Responses

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1. cassiane dalla rosa said

on 15/04/2009

oi sou fonoaudiologa e gostaria de saber como posso ter mais informaçoes sobre
o métido ABA,

2. Robson Brino Faggiani said

on 23/04/2009

Oi, Cassiane. Os caminhos que conheço estão linkados na página


http://www.robsonfaggiani.com/autismo/

Espero que ajude.

Bom dia.
3. Vânia Elizabeth Batista Fróes said

on 26/05/2009

Tenho um filho de 04 anos chamado Daniel que foi diagnosticado autista


gostaria muito de conhecer mais sobre o Método ABA para ajudar meu filho

4. Jucélia Catelli Baruci said

on 10/04/2010

olá! meu filho é autista, é o ayslan de 16 anos, gostaria de saber mais sobre o
metodo!

5. Marli Valgas said

on 10/06/2010

Olá!

Sou estudante de psicologia e estou fazendo um trabalho sobre o ABA, tenho


uma apostila que ensina a utilizar o método, cujo o título é AJUDE-NOS A
APRENDER
Manual de Treinamento em ABA, caso queiram posso mandá-la para o e-mail
de vcs, me mandem um e-mail solicitando, meu e-mail é
marlivalgas@yahoo.com.br

trevista: Roosevelt Starling


O Professor Roosevelt Starling concedeu uma entrevista ao blog ["Comporte-se"], na
qual fala sobre sua história, e sobre aspectos históricos e políticos da Análise do
Comportamento. As respostas podem ser conferidas na íntegra, também aqui, no
Psicologia e Ciência.
1 – Olá Dr. Starling. Primeiro gostaria de saber um pouco de sua história. Em breves
linhas, o que te levou à Psicologia e, posteriormente, ao Behaviorismo?

Quando me interessei pela clínica psicológica – o curso de psicologia foi uma


decorrência disso – já havia cursado duas graduações e encaminhava a terceira. As
contingências e suas vicissitudes, parafraseemos, encaminharam meus interesses
primeiro para a Física e, a seguir, para a Economia. Contudo, a densidade de
reforçamento que uma e outra produziram não foi suficiente para manter minhas
respostas cá e, depois, lá. Permanecia incomodado. Em retrospectiva, parece-me que o
catalisador da escolha que me conduziu ao curso de psicologia foi a minha terapia
pessoal, que então se encaminhava para a sua conclusão. Filho, sobrinho e primo de
médicos, havia desde sempre vivido num ambiente de médicos e de hospitais e a minha
história de reforçamento apontava o ofício de “curandeiro”, aqui na melhor acepção da
palavra, como algo desejável. Minha própria terapia psicológica deu-me o modelo do
tipo de “curandeiro” que desejava ser e o caminho mais rápido para ele não era a
medicina, mas sim a psicologia. Na época, tinha ainda menos clareza do que hoje de que
“rápido” e “melhor” podem conduzir a resultados bem diferentes…

Não foi exatamente o behaviorismo que me atraiu, mas sim a Análise do


Comportamento. Tanto quanto posso me dar conta, este interesse se deu principalmente
por dois acontecimentos acidentais superpostos ao pano de fundo de duas histórias
incidentais que, creio, haviam deixado prontos os alicerces históricos para que a
exposição a um projeto naturalístico para a psicologia de pronto ganhasse a minha
atenção. O primeiro deles foi a descoberta e a leitura de um livro encontrado ao
bisbilhotar o acervo da biblioteca da PUC-MG, onde cursava economia. Era o
“Principles of Psychology”, de Fred S. Keller (1899-1996) e William N. Schoenfeld
(1915-1996). O segundo foi ter conhecido e me aproximado do Prof. Oyama A.
Ramalho, dono de extenso conhecimento da obra de B. F. Skinner (1904-1990) e de
uma arguta percepção das implicações dela, sobretudo para a educação, mas que, por
circunstâncias históricas e contingências pessoais, é virtualmente desconhecido em
nossa comunidade.

Incidentalmente, eu havia sido criado sob a influência de duas pessoas com forte
repertório experimentalista e empiricista, meu avô paterno e meu pai, embora pense que
ambos ficariam surpresos se isso lhes fosse dito. Finalmente, a primeira graduação que
eu cursei, ainda muito jovem, foi em Física, bacharelado, um curso que não promoveu
em seus estudantes uma visão naturalística do mundo – exceto no âmbito restrito dos
fenômenos do seu interesse – mas que instalou um repertório rigoroso quanto à natureza
das demonstrações aceitáveis como verdade científica.

Imerso numa dieta de puro mentalismo, que era a dos cursos de psicologia da época,
fiquei interessado na conversa daqueles Keller e Schoenfeld e fiquei interessado na
conversa do Prof. Oyama. Maravilha: pareceu-me que ali estava uma psicologia que eu
podia, literalmente, pegar com as minhas próprias mãos; ali estava uma psicologia que
não me exigia fé, mas sim verificação. E, é claro, ali estava uma psicologia que se
alinhava à minha história de reforçamento. O preço que paguei junto aos professores e
colegas da época por tais interesses heréticos e excêntricos é uma lição da história.

2 – Qual a sua visão sobre a psicologia no Brasil hoje e quais as perspectivas de futuro
dela enquanto ciência e profissão? E a Análise do Comportamento, como se situa neste
contexto?

Esta e as demais perguntas desta entrevista abordam temas polêmicos e complexos e


algumas delas contêm, de fato, duas perguntas em cada formulação. Dessa forma, não
posso esperar senão produzir respostas sinópticas, que por certo falharão em expor e
examinar facetas igualmente relevantes dos temas que comentarei, para não falar de
uma justa apreciação do contraditório que, comumente, está presente em contingências
complexas, nas quais várias respostas, até mesmo respostas contrapositivas umas em
relação às outras, podem produzir reforçamento. Supondo que este texto mereça alguma
atenção caberá ao leitor, como sempre, suprir essas carências com a sua própria
produção verbal.

Como eu vejo, o rótulo “psicologia” é um rótulo basicamente histórico e hoje se


mantém principalmente por interesses de ordem político-institucional. Formalmente,
Wilhelm M. Wundt (1832 – 1920) fundou na Universidade de Leipzig, entre 1875 e
1879, uma linha de investigações à qual denominou “psicologia experimental”, a
primeira do seu tipo. Diferenciava-se, assim, da filosofia, até então o domínio
disciplinar em cujo bojo se desenvolvia as especulações e investigações dos fenômenos
psicológicos. Ao longo dos anos, a psicologia foi se tornando progressivamente mais
“cognitiva” e menos experimental e passou a abrigar sob essa mesma denominação
modelos explicativos diversos quanto ao seu objeto de estudo, quanto ao método de
investigação utilizado e quanto aos critérios de validação do conhecimento que
produziam. Modelos explicativos que têm por objeto de estudo fenômenos diferentes,
que os investigam através de métodos diferentes e que validam o conhecimento que
produzem por critérios diferentes são, parece óbvio, diferentes. Mais do que diferentes,
são por vezes antagônicos no que diz respeito aos supostos pré-analíticos que mantêm e
direcionam a teorização, como é o caso da dicotomia dualismo-monismo. São
concepções e teorizações que dificilmente conversam produtivamente entre si porque,
singelamente, não tem bases comuns sobre as quais possam fazê-lo. Como falar então
numa “ciência psicológica”, como falamos numa ciência química ou numa ciência
biológica? Assim, parece-me que “psicologia”, como uma ciência, não existe. Pelo
menos não existe no mesmo sentido em que existe uma ciência biológica ou uma
ciência física.

Também penso ser difícil conceber a psicologia como uma profissão, pelo menos no
sentido em que se concebe uma profissão médica, uma engenharia ou uma advocacia,
pois são tantas e tão diversas as práticas consideradas psicológicas, por vezes até mesmo
contrapositivas umas em relação às outras, que não se pode por certo saber o que faria
um “psicólogo” numa dada situação ou função. Na área da ação psicológica clínica, seja
suficiente para ilustrar a afirmação acima a legião de terapias minerais, vegetais,
animais, espirituais, luminosas, cromáticas, aquosas, fluídicas, energéticas, dançantes,
oculares, neurológicas, geométricas, culinárias, corporais, filosóficas, pedagógicas,
hipnóticas, sexuais, mórficas, musicais, artísticas e até mesmo perfurantes e ex post-
mortem, cada uma com suas visões-de-mundo, teorizações e práticas particulares (além
das combinações entre elas), todas oferecidas e defendidas como práticas psicológicas
igualmente confiáveis no mercado da saúde. A meu ver, este “estado da arte” não é
indicativo de uma vigorosa e saudável diversidade e pluralidade, mas sim do caos
comum aos momentos iniciais de qualquer empreendimento.

O ilustrado acima é somente parte do problema de se obter uma definição profissional


consistente. Há coisa de dois ou três anos, recordo-me, circulou pela internet um texto
no qual colegas interessados em aplicações psicológicas nas organizações se
manifestavam contra a proposta da definição da psicologia como uma profissão da área
da saúde, que a seu ver os excluiria. Penso que lhes assistia a razão, como igualmente
assistiria aos colegas que se interessam pela psicologia jurídica, a dos esportes e assim
por diante.

Não se sabendo ao certo o que faz um membro de uma dada classe profissional,
existiria, ainda assim, uma profissão da qual ele fizesse parte?

Nessa compreensão, parece que o que os psicólogos têm de fato em comum e o que faz
de todos eles igualmente “psicólogos” é uma regulamentação política comum e uma
representação político-institucional comum, que é a autarquia que os insere no
ordenamento jurídico vigente.

Contudo, este estado das coisas não me incomoda.Pelo contrário, acho-o instigante.
Para melhor compreender essa minha atitude, convido o leitor a um pequeno exercício.
O tempo de existência da nossa espécie, o homo sapiens, é estimado em 200.000 anos.
Como é difícil apreciar tamanho lapso temporal, façamos então uma equivalência entre
200.000 anos e 1 ano, construindo uma escala temporal homóloga. O leitor é convidado,
então, a imaginar que neste um ano, que agora concentra toda a existência da nossa
espécie, estamos nos últimos segundos das últimas horas do último dia do mês de
dezembro. Digamos, às 23h59min59s do dia 31 de dezembro do Ano Zero. Nessa nova
escala:

· A humanidade iniciou suas primeiras tentativas de regular o comportamento


social através de regras reunidas em códigos, o direito, somente há nove dias e três
horas, ou seja, neste primeiro ano, o Ano Zero da humanidade, as bases formais do
direito contemporâneo foram lançadas somente na madrugada do dia 24 de dezembro
[3.000 AC, no Egito].

· Começamos a estudar engenharia há oito dias e oito horas, ou seja, na manhã do


dia 24 de dezembro [2550 AC, Imhotep, também no Egito].

· A filosofia começou a ser estudada sistematicamente somente há quatro dias e 6


horas atrás, ou seja, no amanhecer do dia 27 de dezembro [600 AC - Pré-socráticos].

· Os princípios da medicina contemporânea, há quatro dias e 19 horas, ou seja, na


tarde do dia 27 de dezembro [300 AC - Hipócrates].

· A ciência natural, segundo as regras que hoje utilizamos, somente há 15 horas, ou


seja, na manhã do dia 31 de dezembro [1660 DC - Fundação da Royal Society, na
Inglaterra] e aprendemos a anestesia cirúrgica somente há sete horas, ou seja, na noite
do dia 31 de dezembro [1846 DC, Hospital Geral de Massachusetts, EUA].

· A psicologia começou a ser estudada somente nas últimas seis horas do último dia
do Ano Zero, ou seja, às seis horas da noite do dia 31 de dezembro [1875 DC, Wundt] e
começamos a realizar os primeiros estudos sistemáticos da psicoterapia há três horas, ou
seja, às nove horas da noite do dia 31 de dezembro [Década 1940-1950 DC].

· A primeira apresentação formal da Análise do Comportamento ocorreu alguns


minutos antes das nove da noite do dia 31 de dezembro [1938 DC - Publicação do "The
Behavior of Organisms", por B. F. Skinner] e a apresentação sistemática dos seus
primeiros estudos aplicados somente há duas horas, portanto, aproximadamente às dez
da noite do dia 31 de dezembro do Ano Zero [1968 - 1ª edição do Journal of Applied
Behavior Analysis, JABA].

O tempo decorrido desde o início e constituição formal da nossa profissão, seis horas
somente (ou 135 anos), é muito pequeno, quando comparado ao já decorrido na
constituição de profissões mais antigas, como o direito (nove dias e três horas, ou
aproximadamente 5.000 anos), a engenharia (oito dias e oito horas, ou
aproximadamente 4.500 anos) e a medicina (quatro dias e 19 horas, ou 2.310 anos.). O
leitor por certo concordará que se ele iniciasse agora o estudo de um novo campo
disciplinar qualquer, após oito dias e oito horas de estudo e reflexão ele teria a
obrigação de saber bem mais do que sabia nas primeiras seis horas de estudo.

A história registra para o início dessas profissões, hoje já amadurecidas, problemas


semelhantes aos que enfrentamos hoje na psicologia, quais sejam os de firmar nessas
comunidades um consenso majoritário quanto à definição do seu objeto de estudo ou
campo de ação profissional, os da seleção da sua metodologia investigativa e os dos
critérios para a verdade aceitável. Nessas profissões, hoje já não se discute mais, exceto
perifericamente, estes pontos básicos; o momento histórico delas é mais de refinamento
conceitual e de desenvolvimento de novas ferramentas de análise e/ou de observação
dos seus fenômenos de interesse.
Dessa forma, não me incomoda que, em meros 135 anos, ainda não tenhamos
conseguido para a nossa profissão a consistência e o consenso obtidos em alguns
milênios para aquelas outras.

Tendo descrito como eu vejo o presente, devo confessar que não faço a menor idéia das
perspectivas futuras desse conglomerado como, aliás, é claro, não faço a menor idéia do
futuro de uma maneira geral. Minha linguagem para ver o mundo é a da análise do
comportamento e, assim sendo, concebo as interações humano-mundo e humano-
humano de um ponto de vista probabilístico nas relações imediatas e por demais
complexas nas relações temporalmente dilatadas para que se possa antecipá-las. O
exercício da futurologia é, no melhor, especulativo e, no pior, delirante. Por mais
fascinante intelectualmente que possa ser esse exercício, outros domínios disciplinares
parecem-me mais bem equipados para fazê-lo do que o da ciência natural.

Quando considero a Análise do Comportamento, tenho observações mais pontuais, mas,


para alguns desses pontos, não tão diferentes.

Há dez ou mais anos publiquei no sexto volume da coletânea “Sobre Comportamento e


Cognição” um pequeno artigo no qual dizia que, da maneira como nos apresentávamos
no meio social mais amplo, o que fazia de um profissional um “analista do
comportamento” era, essencialmente, a sua declaração dessa asserção. Noutras palavras,
falava sobre o que me parecia a necessidade – ou a desejabilidade – de se dispor meios
para assegurar um mínimo de coesão e consenso na práxis daqueles que se denominam
analistas do comportamento, para que se pudesse manter a função discriminativa do
construto.

Para aqueles que se submetem ao crivo da comunidade verbal analítico-


comportamental, publicando seus trabalhos ou apresentando-os em congressos, o
controle exercido pela comunidade sobre essa declaração de afiliação é mais forte. Para
aqueles que não o fazem, o controle é de muito pouco a nenhum. Noutras palavras, para
esse grupo, é um “analista de comportamento” quem assim se declarar.

O problema continua me parecendo relevante, pois será através dos analistas do


comportamento com os quais mantiver contato que a comunidade maior avaliará e
formará sua opinião dessa abordagem. Na minha área de atuação mais imediata já tomei
conhecimento, através de clientes, da existência de vários “analistas do comportamento”
ou “terapeutas comportamentais”, que é como o grande público nos conhece, que nunca
vi nos nossos encontros, que não tem trabalho algum publicado e – assuntando daqui e
dali – cujos professores desconheço, o que é quase uma impossibilidade, dado ao nosso
número ainda pequeno. Fiquei sob a impressão de que essas pessoas leram em algum
livro ou artigo algumas “técnicas comportamentais” e passaram a aplicá-las, tirando daí,
presumo, a identidade profissional que declaram. Vi desastres e já precisei investir um
bom tempo para reparar os danos.

Estejamos preparados para mais: dissemina-se no Brasil que o “método” ABA é o


tratamento de eleição para os transtornos invasivos do desenvolvimento e já se vêm
“especialistas” oferecendo tratamento e “cursos”, boa parte somente com o treinamento
da graduação ou declarando especializações estranhas à área e atuando sem supervisão
analítico-comportamental competente e experiente nessa aplicação tão delicada. Parece
que esses, mais agressivos ou menos bem formados, ou as duas coisas, também
aprenderam algumas “técnicas” e entreviram uma “oportunidade de mercado”,
lançando-se prematuramente ao seu encalço. O problema é que esta não é uma
“oportunidade de mercado”, mais sim algo muito mais precioso e conseqüente: uma
oportunidade para ampliar o bem-estar de seres humanos reais ou falhar em fazê-lo,
comprometendo e desgastando, no processo, a mais efetiva das oportunidades de
tratamento que eles têm.

Nos seus aspectos técnicos, a ciência se parece à mágica: depois que o prestidigitador
demonstra como faz para tirar o coelho da cartola, a compreensão da técnica é
praticamente imediata para o iniciante ou para o leigo culto, o que não quer dizer de
maneira alguma que já se possa então executar o número com competência. “Técnicas”
são, numa analogia, procedimentos relativamente grosseiros de como parafusar ou
desparafusar. Desconhecendo quais parafusos se deveria parafusar e quais não, e
quando se deveria desparafusá-los e quando não, e em que ordem se deveria
desparafusá-los e que pressão se deveria exercer na chave de fenda, por quanto tempo e
por que, o palco para o desastre está montado.

O desenvolvimento da Análise do Comportamento no Brasil se deu sob circunstâncias


peculiares. A partir de um núcleo original, que não passava de dezenas, praticamente o
espaço de uma geração foi cumprido sem que houvesse mudanças expressivas no
número de interessados nessa abordagem. Nos últimos 20 anos, em especial nos últimos
10 anos, contingências favoráveis, dentre elas o advento da ABPMC como fator de
disseminação e aglutinação, mudou esse panorama, trazendo à abordagem um número
expressivo de jovens estudantes e estabelecendo assim, pela primeira vez, o problema
da formação. Antes muito poucos, era mais fácil para a comunidade verbal mais
refinada modelar nos poucos interessados, um a um, os desempenhos que
caracterizariam um falante dessa língua. Hoje, com um número de interessados na casa
dos milhares, esta tarefa apresenta desafios bem maiores.

Os colegas americanos tem se preocupado com isso já há alguns anos e a solução que
encontraram foi constituir o BACB (Behavior Analysis Certification Board –
http://www.bacb.com/), como uma organização independente das universidades, que
certifica, mediante provas e um sistema de educação continuada, o analista do
comportamento. Alguns colegas e eu mesmo temos defendido uma solução semelhante,
pensando inclusive que esta seria uma função adequada à nossa associação. Dado ao
estado ainda incipiente da organização social da prática clínica psicológica, não se pode
impedir que alguém autoproclame a afiliação que lhe parecer melhor, como não se pode
impedir que alguém, sem a habilitação formal, dirija um automóvel. Mas podem-se
certificar aqueles que têm sua habilitação reconhecida pela comunidade dos seus pares,
através de uma instituição representativa dela. Isso não protegeria somente os interesses
dos praticantes, mas, sobretudo, protegeria o público usuário, permitindo-lhe uma
escolha informada.

Outra preocupação que já manifestava no artigo acima citado, diz respeito aos nossos
números. Não se sabe por certo quantos somos. A se estimar pelo comparecimento aos
nossos encontros nacionais e pela vendagem dos livros da área, somos em torno de 1,5
% da psicologia brasileira. Somos, portanto, a minoria da minoria (já li a estimativa que
somos 4% da psicologia norte-americana, outra minoria). Sem um censo, continuaremos
sem saber e, não sabendo, fica prejudicado o planejamento para as diversas atividades
da área e não se pode saber a taxa de acréscimo/decréscimo do nosso número. No já
citado artigo, considerava algumas hipóteses para este estado das coisas e chamava a
atenção para a relevância do número de praticantes com relação à produção de
reforçamento para novos interessados.

Poucos dentre nós terão a chance de desenvolver sua carreira na academia.


Simplesmente, o número de vagas oferecidas é e, tudo indica, continuará sendo, inferior
ao número de interessados qualificados. A maioria de nós precisará ganhar o seu pão
oferecendo seus serviços no mercado. Convido o leitor a examinar os editais presentes
e passados dos concursos públicos para o provimento do cargo de psicólogo e ele verá
que a bibliografia desses concursos é majoritariamente, quando não exclusivamente,
mentalista, concentrando-se, ainda, na literatura psicanalítica e, mais recentemente, na
literatura de embasamento político-ideológico, que parece ser a principal vertente na
qual se desenvolve a psicologia social brasileira.

Cada uma das abordagens principais da psicologia é por si mesma um universo e


dominar qualquer uma delas com fluência é tarefa para uma vida. Segue-se que são
mínimas as chances de um analista do comportamento dominar em alguns meses, e sem
convicção, uma linguagem diferente da sua, equiparando-se, em fluência, a um “falante
nativo”, digamos assim, uma pessoa que há anos e anos vem se familiarizando com
aquela literatura. O resultado prático disso é discriminatório e excludente, no sentido de
que as bases teóricas sob as quais se assentam o concurso fazem, na verdade, uma pré-
seleção dos candidatos com chances. Num dos editais de concurso que recentemente li,
conhecia, mas sem familiaridade, somente um, dos 15 ou mais autores cujas obras
compunham o arcabouço teórico das provas que seriam aplicadas. Avalio que as minhas
chances pessoais naquele concurso teriam sido praticamente nulas, caso eu desejasse
mesmo participar; estaria já excluído, antes mesmo de concorrer. Num concurso para
provimento de um cargo público isto é inadmissível, pois se choca com o imperativo
constitucional da igualdade de condições aos candidatos.

Não tenho muito interesse por teorias conspiratórias e, assim, não vejo uma ação
deliberada por detrás desses fatos. Mais simplesmente, penso que como o mentalismo é
a corrente dominante na psicologia brasileira desde sempre (como o é na psicologia
ocidental, de maneira geral), são os seus praticantes que estão em posição de formular
os programas dos concursos e, ao fazê-lo, o fazem com base no que sabem e no que
acreditam. Seja como for, o fato é que isso instala, sim, uma situação de exclusão e,
talvez, pior, um círculo vicioso: selecionados somente os daquela linguagem, eles, por
sua vez, selecionarão mais do mesmo. No mundo corporativo, como agora se diz,
mentalistas selecionarão mentalistas, é claro. Se, por acidente ou boa sorte, um analista
do comportamento se encontrar num destes ambientes, provavelmente estará sozinho e
sitiado e, nessas condições, o aporte inovador e produtivo que a Análise do
Comportamento poderia trazer àquele ambiente estará limitado.

Entristece-me ver pessoas que foram apresentadas à Análise do Comportamento através


do meu trabalho às voltas com discursos estranhos às suas convicções e treinamento
porque precisam assegurar uma boa oportunidade de trabalho. Frustra-me saber que
parte desses, passado algum tempo, estarão falando sobre o comportamento numa
linguagem mentalista, porque estarão naquela comunidade verbal e é nas contingências
que ela dispõe que precisarão produzir os reforços que necessitam.
Renovo aqui, portanto, o convite que já fiz anos atrás: tenhamos como meta para os
próximos dez anos nos tornarmos 10% da psicologia brasileira e nós, os professores da
graduação, tenhamos como meta interessarmos e mantermos interessados no estudo e
prática da Análise do Comportamento pelo menos 10% dos alunos de cada disciplina da
área que ministrarmos. A meta é razoável: numa turma de 20, precisaríamos de somente
dois para atendê-la. Se lograrmos este objetivo e se a Análise do Comportamento tiver
realmente o potencial produtivo e transformador que julgamos que tem, isso será
suficiente para que possamos, enfim, participar com melhores chances do cesto das
práticas psicológicas oferecidas à seleção.

Finalmente, se se deseja manter

o projeto original da Análise do Comportamento, o da construção de uma ciência e de


uma tecnologia de bases naturalísticas, será sempre necessário fundar o discurso
filosófico e teórico-conceitual na produção empírica. Há alguns anos pude acompanhar,
numa das nossas listas virtuais, um vigoroso e criativo debate sobre a punição, no qual
se ajuntavam elaborados argumentos filosóficos, conceituais, históricos e, sobretudo,
ideológicos e nenhum dado empírico, nenhum número. Um bom e culto discurso, bem
ao gosto da nossa cultura discursiva e estranha à experimentação, mas nenhuma ciência.

Em que pese ambas serem partes igualmente importantes para o empreendimento


científico, existe uma grande diferença entre uma “boa fala sobre a ciência” e uma “boa
ciência”. É a minha esperança que nos movamos sempre da primeira para a segunda,
embora, se o propósito for produzir um discurso científico e não um discurso filosófico,
a segunda é que pode dar consistência a primeira e deveria, portanto, precedê-la e
fundamentá-la.

3 – Como o senhor vê a aplicação do que vem sendo produzido na pesquisa básica em


Análise do Comportamento hoje, no Brasil? Existe um diálogo satisfatório entre os
profissionais da pesquisa básica e da pesquisa aplicada?

Ciências naturais básicas tipicamente geram ciências aplicadas. Por exemplo, a


medicina é uma aplicação da biologia e de outras ciências básicas afins, tais como a
química, assim como a engenharia é uma aplicação da física, da química, da geologia e
de outras ciências básicas afins. Estas aplicações constituem conjuntos articulados e
interdependentes de processos tecnológicos desenvolvidos com base nos princípios e
relações estabelecidas e validadas nas ciências básicas. O caráter mais ou menos
científico que possam requerer dependerá, fundamentalmente, da consistência
conceitual e metodológica que esses processos tecnológicos guardarem com a ciência
ou ciências-mãe, se assim se pode chamá-las.

Na pesquisa básica, o cientista dispõe controles artificiais para reduzir o fenômeno de


interesse às suas características essenciais, a fim de estudar, à luz de um ordenamento
teórico, suas particularidades básicas. Assim fez Galileu Galilei (1564-1642) com o
plano inclinado, para estudar o movimento e assim fez B. F. Skinner (1904-1990) com
sua caixa experimental, para estudar o comportamento. Em princípio, suas conclusões
estão circunscritas ao contexto especial na qual as produziu e somente no seu âmbito
têm validade máxima.
Por sua vez, o cientista aplicado não pode dispor os mesmos controles e delimitações no
seu ambiente de investigação e ação profissional que, tipicamente, é o da ocorrência
“natural” do fenômeno, ou seja, o fenômeno em interação plena com todas as variáveis
que podem de alguma forma influenciá-lo. O conhecimento que a sua investigação
eventualmente produzirá precisará ser útil neste ambiente não-controlado ou então não
será de fato útil.

Nem todas as ciências aplicadas beneficiam-se em igual medida da similaridade


estrutural e funcional entre o arranjo que se deu ao fenômeno selecionado para a
investigação no contexto da pesquisa básica e a ocorrência do mesmo fenômeno num
contexto não-controlado. A medicina e a engenharia, por exemplo, beneficiam-se
enormemente da relativa invariância dos seus fenômenos de interesse nos contextos
básico e aplicado e/ou da natureza paramétrica da maior parte deles. A Análise do
Comportamento, por sua vez, precisa operar num universo muito menos consistente do
que o do universo inanimado, de vez que grande parte dos fenômenos do seu interesse
tem componentes sócio-verbais e são, no geral, de natureza não-paramétrica.

Mais criticamente na ciência do comportamento e nas aplicações dela derivadas, a


questão do nível de mensuração atingido num e noutro contexto (o básico e o aplicado)
é de especial importância. O que de fato se pode medir é tempo e espaço, ou seja, os
registros do relógio e do metro e mais nada. Raramente essas dimensões físicas estão
inequivocamente acessíveis à mensuração do investigador aplicado.

Dessa forma, os inúmeros problemas que típica e recorrentemente presidem a


transposição dos achados da pesquisa básica para a aplicação e as dificuldades históricas
e recorrentes de comunicação entre estes dois campos de interesse são ampliados para o
estudioso do comportamento e as ligações entre o quadro conceitual mais preciso,
nascido da interpretação dos dados obtidos no contexto básico, e a sua aplicação, podem
ser bastante tênues. Por vezes, parece que tudo que se pode fazer é sobrepor essa grade
conceitual formal ao fenômeno aplicado, inferindo, por analogia (e não por homologia)
relações que podem ou não estarem presentes. Nessas condições, têm-se explicações
verossímeis, mas não necessariamente verdadeiras.

Reconhecida essa problemática, uma discussão potencialmente mais produtiva a


empreender pode ser a delimitação das reais possibilidades de diálogo que estes dois
campos de interesse podem ter, tendo como ponto de partida o reconhecimento mútuo
dos seus propósitos imediatos diferenciados, dos seus respectivos pontos fortes e
pontos fracos e das limitações inerentes aos seus contextos específicos de ação. O fato é
que, tomados por si mesmos, dificilmente cada um deles poderia atender, com
integridade, à função social e humana mais plena da tarefa científica: o empreendimento
de construir um conhecimento confiável sobre o mundo com a finalidade de agir sobre
ele, transformando-o. O primeiro, o da pesquisa básica, por correr o risco de aprisionar-
se na torre de marfim da contemplação estéril dos seus próprios feitos e o segundo, o
aplicado, pelo risco de produzir folclore no lugar de conhecimento, artesanato no lugar
de tecnologia e verossimilhança no lugar de verdade.

Seja como for, penso que o pior rumo para o qual possa se encaminhar esse problema é
o da cessação do diálogo, por mais difícil e frustrante que ele possa ser. Nesse particular
e como investigador aplicado, expresso sem receio a minha convicção da primazia da
pesquisa básica, pois, se é fato que raramente, se alguma vez, o fenômeno se apresentará
em seu ambiente “natural” com as mesmas características e particularidades com as
quais ocorre no ambiente do laboratório, também é fato que ele não desobedecerá, na
sua apresentação não-controlada, as leis básicas que regem a sua ocorrência e que foram
expostas no laboratório. Assim, entendo que a pesquisa básica, por si mesma, produzirá
conhecimento confiável, venha a ser este conhecimento aplicado ou não. Por outro
lado, sem se apropriar da, e sem incorporar a produção da pesquisa básica, a aplicação
ficará privada daquilo que a fundamenta e lhe dá validade científica; poderá até
produzir, acidentalmente, técnicas úteis, mas não uma tecnologia.

4 – Onde, em sua opinião, a Análise do Comportamento tem mostrado melhores


resultados e produção científica? Ela deixa a desejar em algum campo? Se sim, a que
acha que isto se deve?

A Análise do Comportamento trouxe à humanidade a extraordinária possibilidade de


estudar as ações humanas com os mesmos recursos epistemológicos e metodológicos
que, utilizados na química, na física e na biologia (e nas suas aplicações),
transformaram o mundo em que vivemos e a maneira pela qual vivemos nele.

[E aqui, entre chaves, faço uma digressão. Transformaram o mundo e a nossa maneira
de viver nele, mas não necessariamente - ou não sempre - para melhor, pois "melhor" é
um conceito moral, de aplicação política, e sobre a moral e a política a ciência natural,
qua ciência natural, não tem como se pronunciar. A ciência natural desenvolve-se como
um dos artefatos culturais criados pela humanidade e se mantém, certamente, pelos
reforços que tem produzido. O uso que dela se faz e se fará é um problema para a moral
e para a política. Neste particular, pode-se estudar a moral e a política, como
comportamentos humanos que são, à luz da Análise do Comportamento. No entanto,
assim como o conhecimento das particularidades da gravitação não assegura ao cientista
que os domina a capacidade de levitar, provavelmente um conhecimento científico
naturalístico da moral e da política, ou, mais amplamente, das ações humanas, não
assegurará aos seus detentores qualquer superioridade moral e nem lhes garantirá a
prática de uma política de qualidade ética superior. A vida humana é por demais rica,
plástica e complexa, tudo indica, para ser contida e explicada num subrepertório verbal
único. Ainda assim, a ciência natural e a tecnologia dela derivada pode ajudar, e muito,
na construção de um mundo melhor. É formidável dispor de antibióticos para as
infecções, vacinas para a poliomielite, manejo auto-sustentável das florestas, pontes que
não caem, óculos para os dele necessitados, previsão do tempo para a agricultura e a
navegação, luz elétrica e água quente encanada, telefones, internet e i-pods, anestesia
cirúrgica e chocolate suíço. É igualmente formidável, convenhamos, a possibilidade de
se instalar um repertório socialmente desejável através do reforçamento positivo;
manejar comportamentos socialmente indesejáveis através da extinção e da oferta de
equivalentes funcionais ao invés da punição; aliviar o sofrimento de uma depressão
através da ativação comportamental, sentir-se no comando da própria vida
desenvolvendo um repertório de autocontrole e amar dispondo, deliberadamente,
contingências mútuas positivamente reforçadoras e inclusivas.]

Expondo as reais variáveis das quais a ação humana é função, a Análise do


Comportamento ofereceu à humanidade a primeira possibilidade consistente de sermos,
cada um de nós, sujeitos da nossa própria história, através da disposição judiciosa, por
nós mesmo, das contingências que nos afetam e nos afetarão.
O modelo desenvolvido por nossos pioneiros oferece três sólidas unidades de análise –
o respondente (S-R), o operante (R-Sr) e o operante discriminado (S-R-Sr), que se
definem não em termos lógicos ou estruturais, mas em termos do seu relacionamento
funcional e, mais importante ainda, são cada uma delas uma descrição de relações entre
eventos naturais, entre partes do mundo físico. Abriu-se, assim, a possibilidade de se
atingir um alto nível de mensuração no estudo dos fenômenos psicológicos e, portanto,
uma possibilidade real de uma ciência natural das ações humanas. Segue-se, dessa
perspectiva, que os resultados de maior potencial produtivo são aqueles que melhor se
prestam à verificação empírica e os em que deixam a desejar são aqueles para os quais
ainda é difícil obter fundamentação empírica suficiente.

5 – O que acha da existência de diferentes nomes e modelos de Terapia


Comportamental existentes hoje?

Não se pode, é claro, impedir ou controlar o uso da palavra “comportamental”, que é


uma palavra do léxico português de livre uso por qualquer falante e as práticas verbais
de uma dada comunidade, sujeitas às contingências de reforçamento que ela dispõe, não
influenciam por necessidade práticas verbais de outra comunidade. O que se pode fazer
é, numa comunidade verbal específica, dispor contingências estritamente definidas para
o uso de alguns nomes, isto é, contingências que reduzam o número de respostas
elegíveis para reforçamento. Porém, mesmo dentro de uma comunidade verbal
razoavelmente delimitada, como a analítico-comportamental, por exemplo, variações
nas práticas e nas descrições ocorrerão e, até que as especificidades dessas variações
sejam recusadas ou se diferenciem notavelmente das práticas e declarações originais,
elas provavelmente manterão, com propriedade, o nome comum.

Uma prática comum nas comunidades verbais para aumentar o controle discriminativo
de um nome é adicionar mais e mais adjetivos a um substantivo que se deseja manter e
que, por suas variações, perdeu, por assim dizer, sua substância. Esse recurso pode ser
usado continuadamente, havendo mesmo propostas terapêuticas que adicionam quatro
ou mais adjetivos ao substantivo “terapia”.

Dar nomes às coisas ou processos é um operante verbal e, como todos os operantes


verbais, responde a múltiplas determinações. Por essa plasticidade, um dos mais
poderosos e refinados instrumentos de controle do comportamento humano já
desenvolvido pela humanidade é a manipulação do comportamento verbal, o que se vê
de maneira especial na retórica e na nomeação.

Em parte, o termo “comportamental” tateia, de fato, um espectro amplo de práticas e


declarações que indicam ter mesmo particularidades comuns de concepção ou de
procedimentos e, nesses casos, não se poderia recusar a propriedade do uso do termo.

Em alguns casos, o qualificador “comportamental” parece ficar sob controle da


concepção teórica ou de parte dela, que aceita o comportamento, por si mesmo, como
objeto válido para a intervenção clínica, mas que considera também outras
determinações, muitas vezes determinações conceituais ou ficcionais, operando
concomitantemente. Além de alguns modelos híbridos, esse é também o caso dos
modelos ditos mediacionais.
Noutros casos, fica-se sob a impressão de que o termo “comportamental” estaria sob
controle de parte das práticas ou procedimentos interventivos utilizados, que foram
originalmente desenvolvidos com fundamentação teórica analítico-comportamental,
mas que foram apropriados por sua utilidade imediata, despidos da sua fundamentação
teórica de origem ou submetidos à outra fundamentação.

Noutros ainda, estes já de elaboração mais individual e compondo aquilo que em


filosofia de ciência se chama “ciência pessoal”, o termo comportamental indica ser
utilizado porque, em retrospectiva, alguma teorização ou prática que já era
intuitivamente utilizada naquela aplicação veio a ser, posteriormente, demonstrada ou
teorizada com mais consistência pela Análise do Comportamento.

Existem também casos nos quais se fica sob a impressão de que o qualificador
“comportamental” foi acrescentado a este ou aquele substantivo sob controle de
variáveis bem mais prosaicas, como, por exemplo, um interesse de mercado, para
diferenciar um “produto” que se pretende comercializar em troca de pecúnia ou
prestígio, ou na busca de acrescentar reconhecimento social ao “produto”; uma singela
vaidade pessoal, como para ser o “criador” desta ou daquela nova terapia; um uso
inconseqüente ou ingênuo da palavra ou, ainda, uma definição da palavra
“comportamental” diferente daquela que utilizamos.

Seja como for, há inconvenientes na multiplicação de nomes quando estes ficam sob
controle total ou parcial de variáveis estranhas aos aspectos públicos da condição
estimuladora ou quando a comunidade verbal dispõe contingências vagamente definidas
para o seu uso. Nesse caso, o “nome”, na função de estímulo discriminativo, perde sua
precisão de orientar o responder e o resultado é ambigüidade de controle.
Coloquialmente, o resultado é confusão.

Neste mar de nomes, talvez o que se possa fazer de melhor é especificar qual
“comportamental” é o “comportamental” que se deseja dispor como controle. Eu, por
exemplo, descobri recentemente que ainda permaneço, orgulhosamente, como um
estudioso e praticante da Terapia Analítico-Comportamental de primeira geração –
vejam só que antigüidade! – entendendo como tal aquela que insiste em considerar
como categorias de análise somente as relações expostas no laboratório operante, ou
seja, as da contingência de três termos, e que insiste em examinar somente os processos
básicos (reforçamento, discriminação e generalização) para compreender o fenômeno
clínico. E que, além disso, adere ou se esforça por aderir às dimensões propostas por
Donald Baer, Montrose Wolf e Todd Risley já no primeiro número do JABA.
Aproximei-me das novidades, das assim chamadas “novas gerações” de terapia
consideradas comportamentais (e continuo me aproximando), mas até o ponto em que
me aproximei, ainda não fiquei convencido. Tenho para mim que, até a presente data, o
único modelo explicativo produzido pela psicologia que pode permitir a mensuração
dos fenômenos psicológicos é o oferecido pela Análise do Comportamento e, sem a
possibilidade de mensuração, ainda que potencial, não se pode fazer ciência. Sem se
constituir numa prática científica, a terapia psicológica permanecerá na fase artesanal
em que se encontra: bons artesãos – bons terapeutas – acumularão um portfólio no qual
predominarão sucessos, mas apresentarão também alguns fracassos, e artesões menos
hábeis acumularão fracassos, mas terão tido também alguns sucessos. Ambos não
saberão com precisão o porquê e a comunidade de referência somente com muita
dificuldade poderá ajudá-los.
A palavra “mensuração”, quando aplicada à clínica, costuma provocar arrepios. Há
aqueles que singelamente recusam – por escolha teórica, por ideologia ou por posição
filosófica – a comensurabilidade do fenômeno clínico em quaisquer dos seus aspectos e,
assim, inevitavelmente prendem a atividade clínica psicológica no terreno do artesanato.
Algumas vezes a impressão que se tem é que, para esta visão-de-mundo nas suas formas
mais extremadas, o ato de medir tivesse o poder de alterar a natureza daquilo que é
medido,tornando-o menos do que é ou diferente do que é. Seria como se, por exemplo,
medir a quantidade de açúcar que se põe num alimento pudesse alterar por alguma
forma a natureza da doçura enquanto experiência do mundo ou o tornasse o açúcar
menos doce ou, ainda, tivesse o poder de transformar o açúcar em alguma outra coisa.

Evidentemente, medir um fenômeno não é esgotar as possibilidades de conhecê-lo nos


números que se obtém; medir um fenômeno é uma forma de obter um tipo de
conhecimento sobre ele, que permite alguns tipos de ação que não são possíveis sem
medidas. Este tipo de conhecimento é parte necessária daquilo que se chama ciência e,
ainda que sem números se possa fazer boa filosofia e boa arte, dificilmente se poderia
fazer boa ciência. Defendo que esta condenação da prática clínica psicológica ao limbo
científico das práticas filosóficas ou artesanais, se assim se pode dizer, não é necessária
para que se preservem intactos aspectos mais sutis da rica interação humana cliente-
terapeuta (produções e interações sócio-verbais e seus concomitantes emocionais) e do
patrimônio representado pela experiência clínica do terapeuta, que constituem, sim,
componentes essenciais da tarefa clínica; podem-se mantê-los e até mesmo enriquecê-
los logrando, ao mesmo tempo, avançar na direção da construção de uma prática
cientifica da clínica.

6 – Existe atualmente um movimento dos Analistas do Comportamento no sentido de


separarem a abordagem da Psicologia? Se sim, e isto de fato acontecesse, quais
poderiam ser as conseqüências para a abordagem?

Se a pergunta for reformulada assim: “Existem atualmente contingências em ação que


controlem respostas dos Analistas do Comportamento no sentido de separarem a
abordagem da Psicologia?” minha resposta é um definitivo sim. Há um bom tempo.
Aqui, no Brasil, e no exterior.

Periodicamente, o tema ganha relevância na nossa comunidade, quase sempre na


informalidade das discussões virtuais. A discussão ganha calor e, anticlimaticamente,
desaparece, para logo depois voltar. Essas contingências tem sido o suficientemente
complexas para selecionar respostas antagônicas e o suficientemente poderosas para
eliciar fortes respondentes nas discussões. Como analistas do comportamento, sabemos
que se um tema é discutido recorrentemente, então é porque as contingências que o
governam mantêm-se atuantes. Ignorá-las não as fará desaparecer.

Na prática, essa separação já se dá. Enquanto grupo, nosso contato com o establishment
da psicologia, digamos assim, tem sido tipicamente formal e político-institucional.
Mantemos nossos próprios encontros (Monoglotas, como devem ser, defendo) e
programas de formação pós-graduada, editamos e lemos nossos próprios livros, nossa
participação nos fóruns oficiais da psicologia é reduzida e as nossas pesquisas em pouco
ou em nada afetam a psicologia mentalista e vice-versa.
Por outro lado, os problemas políticos e institucionais de uma separação formal não se
afiguram pequenos. Haveria o problema legal de regulamentar uma nova profissão, o
que precisaria ser conduzido através do Congresso Nacional. Haveria o problema da
montagem e aprovação de cursos superiores específicos, programas de pós-graduação e
linhas de financiamento para nossas pesquisas, para não falar no problema
mercadológico de conseguir um número suficiente de interessados para manter tudo
isso. Haveria também o problema da construção e disseminação da nova imagem
profissional junto à população acadêmica e a população leiga. Em suma, haveria todos
os problemas relacionados à construção de uma nova rede de relações políticas,
institucionais, burocráticas, acadêmicas, científicas e sócio-culturais.

Permanecendo psicólogos, todos esses problemas estão já historicamente equacionados,


ainda que ao preço de nos constituirmos como uma espécie de enclave monista dentro
da psicologia dualista. Algo como falar o basco sem grandes interesses em compreender
o árabe, mas morar e viver num país que fala o árabe e não tem grandes interesses em
compreender o basco. Essa situação, por sua vez, manterá ativas as propriedades da
contingência que controlam o anseio por um caminho próprio para a Análise do
Comportamento.

Assim, penso que, por todas essas diferenças e incompatibilidades, a separação formal
provavelmente ocorrerá, mais cedo ou mais tarde. Em alguns estados norte-americanos,
temos a informação de esta separação já existe como fato legal.

Uma saída potencialmente factível para esse impasse parece-me ser a representada pela
proposta da “behaviologia” ou “behaviorologia” (espero que, um dia, alguém descubra
uma palavra melhor do que essas duas), que circulou e circula em alguns grupos de
analistas do comportamento norte-americanos. Em poucas palavras, a “behaviologia” é
nada mais, nada menos, do que a proposição da constituição de um novo campo
disciplinar, uma nova ciência, que integraria numa só comunidade verbal o estudo do
grupo de fenômenos atualmente estudados separadamente pela Análise do
Comportamento, pelas Neurociências, enquanto investigação do sistema nervoso real e
não do sistema nervoso conceitual, e pelos Etólogos clássicos, campos de investigação
que já compartilham notáveis semelhanças quanto aos supostos pré-analíticos, quanto à
metodologia investigativa e quanto aos critérios de validação do conhecimento. Nessa
hipótese, a separação se daria, mas com muito, muito mais substância do que através de
uma separação meramente política.

A idéia é instigante e, embora se possa antecipar um longo tempo para a consolidação


de uma empreitada como essa, pode valer à pena lançar, desde já, as cabeças de ponte,
que mais não seja do que para não matar no nascedouro uma idéia promissora. Esta é
uma possibilidade e uma tarefa para os jovens. Vi que alguns dos meus alunos do
estágio em Análise do Comportamento que oferecia na graduação, circulavam muito
bem e com conforto entre estágios na Análise do Comportamento, na Neurociência e na
Etologia. Falavam-me, todos eles, entusiasmados, da complementaridade que julgavam
haver nessas diversas experiências. Como professor, observava informalmente o que me
parecia uma evolução favorável no repertório científico desses alunos. Quem sabe
algum dos jovens leitores dessa entrevista se interesse e procure colegas naquelas outras
áreas com a finalidade de desenvolver projetos de pesquisa em comum, idealmente sob
a orientação conjunta e dialogada dos seus professores?
7 – Poderia deixar algumas dicas ou conselhos aos terapeutas Analítico-
Comportamentais iniciantes?

O que se pede aqui é que se ofereçam algumas regras. Este é, seguramente, o pedido
mais difícil e delicado dessa entrevista. Aí vai a primeira: “Sempre me ofereça o
julgamento de mentes equilibradas, de preferência a leis. Códigos e manuais criam
comportamento padronizado. Todo comportamento padronizado tende a prosseguir sem
questionamento, acumulando força inercial destrutiva.” (Frank P. Herbert, 1920-1986).

Para as que se seguem, peço ao leitor que mantenha presente a primeira e que possa
discernir o momento de desconsiderá-las, incluindo, é claro, o momento de
desconsiderar a primeira.

Alexander Pope (1688 – 1744) produziu uma importante regra sobre a aquisição de
conhecimento que, numa tradução livre, pode ser redigida assim: “Um pouco de
conhecimento é uma coisa perigosa; beba profundamente, ou nem mesmo prove (…)”
[A little learning is a dangerous thing; drink deep, or taste not (...)]. A marca distintiva
da ciência natural é que ela produz efeitos reais acentuados no mundo real e é por
demais perigoso “ter uma boa idéia” de como operar uma central nuclear ou saber
pilotar um avião “mais ou menos”. A Análise do Comportamento obedece às regras do
jogo da ciência natural nas suas investigações e conclusões. Assim, dela beba
profundamente ou nem mesmo prove.

David Hume (1711-1776) escreveu:

“Se tomarmos entre as mãos um livro qualquer… perguntemos: contém ele algum
raciocínio abstrato a respeito de quantidade ou número? Não. Contém ele algum
raciocínio experimental a respeito da natureza e existência de fato? Não. Então,
lancemo-lo ao fogo, porque não poderá conter senão sofisma e ilusão!”.

No que diz respeito à ciência, sou uma pessoa de imaginação limitada: se algo me é dito
e se me pedem que acredite naquilo sem a confirmação dos meus sentidos, não consigo
crer.

Finalmente, como um destilado da minha experiência, não se apaixone por uma teoria
(ou uma filosofia, ou uma ideologia). Essas abstrações são péssimas amantes. Guarde
suas paixões para pessoas.

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By Neto
02/08/2010
Desenvolvimento infantil: uma leitura
comportamental
Dentro da Psicologia, diversos autores postularam fases ou estágios (ou estádios, como
alguns autores colocam) do desenvolvimento; nas quais, cada fase destas, engloba um
conjunto de comportamentos, cognições e sentimentos que o indivíduo pode apresentar.
Nestes estádios ou fases, geralmente agrupados por 1) estruturas psíquicas da
personalidade; 2) estruturas cognitivas ou redes de pensamento possíveis; e, por fim, 3)
idade cronológica da pessoa.

A exemplo de autores que teorizam dentro do primeiro tipo de divisão dos estágios do
desenvolvimento, podemos citar Freud e Erickson, com suas teorias do
desenvolvimento psicossexual e psicossocial, respectivamente. No segundo modelo, o
autor mais proeminente talvez seja Piaget, o qual postula sobre os estádios do
desenvolvimento cognitivo. Quanto à divisão por idade cronológica, podem ser citados
Hurlock e Gesell, os quais se referem ao comportamento dos três anos, comportamento
dos quatro anos, e assim por diante.

Bijou e Baer (1980) levantam certas críticas a estes modelos de teoria do


desenvolvimento e apresentam a proposta de Kantor, autor interbehaviorista, que
explica o desenvolvimento não com base em estruturas da personalidade ou cognitivas,
mas no tipo de interação que o indivíduo é capaz de estabelecer com o ambiente. Os
autores explicam que embora estas divisões pela idade cronológica ou teorias da
personalidade sejam bastantes práticas e objetivas, elas são muito arbitrárias para
alguém que deseje realizar um estudo mais detalhado das relações entre períodos
sucessivos. Advertem também que interações significativas não ocorrem de maneira
sincronizada o bastante para que se fale de comportamentos esperados por cada fase da
vida, e que, mais do que esta fase, são as relações que a criança estabelece com seu
meio que favorecem ou não o aparecimento de certos tipos de comportamento.
Conforme explicam os autores, ao eliminarmos as teorias que dividem o
desenvolvimento pela idade cronológica ou teorias da personalidade, nos resta dividir e
delimitar o fim de cada estágio de acordo com dois outros tipos de critérios. O primeiro
baseia-se em fatos observáveis, manifestações comportamentais, eventos sociais e
maturação biológica. O segundo, por sua vez, divide o desenvolvimento de acordo com
o tipo de interação que o indivíduo é capaz de estabelecer com o meio que o cerca. É
esta segunda perspectiva a adotada por Kantor.

Bijou e Baer (p. 30) apresentam os três estágios propostos por Kantor. São eles:

1- Fundamental: “aquele no qual o indivíduo comporta-se como um sistema unificado


– um organismo –, mas é bastante limitado pelas suas características orgânicas”. As
interações que o indivíduo estabelece nesta fase são basicamente reflexas, e são de certo
modo comuns a todos da espécie. Além dos reflexos, são também apresentados
movimentos aleatórios, descoordenados, aparentemente desligados ainda de estimulação
ambiental e, basicamente, sob controle orgânico. Quando confrontados com o meio,
estes movimentos serão modelados de modo a tornarem-se coordenados e adquirirem
funções no ambiente. Deste modo, a criança passa a ser capaz de estabelecer outros
tipos de interações ao longo do tempo, passando ao próximo estágio.

2- Básico: A movimentação aleatória e reflexa inicial vai dando lugar a movimentos


coordenados, sistemáticos, os quais agem sobre o ambiente com certa finalidade. Torna-
se mais independente de seus cuidadores, sendo capaz de executar tarefas cada vez mais
complexas. “É nesse momento em que a criança passa por experiências que não são
comuns a todas as crianças (…), e as habilidades e conhecimentos adquiridos na fase
anterior – e nesta também – tornam-se mais elaboradas”, à medida que a criança vai
experienciando e explorando o mundo.

3- Societário: é neste estágio em que a criança começa a se socializar e explorar as


regras sociais, instrução formal, elementos culturais e simbólicos cada vez mais
complexos. Novamente, esta habilidade vai se desenvolvendo e tornando-se cada vez
mais refinada à medida que a criança vai experienciando o mundo.
Bijou e Baer (p. 31) ainda lembram que, em geral, podemos dizer que o primeiro
estágio tem início no pré-natal e vai até a idade em que comumente se chama de fim da
infância. O segundo estágio, por sua vez, começa neste ponto e vai até a idade escolar
ou pré-escolar. Já o terceiro, no qual a criança torna-se um ser social, começa neste
ponto e vai até a idade adulta.

Como é possível observar, a divisão em estágios do desenvolvimento se dá, em uma


perspectiva comportamental, de acordo com o caráter predominante das interações que
o indivíduo estabelece naquele período. Estes marcos são, nas palavras de Bijou e Baer
(p.31), simples acidentes sociológicos, e não essências do desenvolvimento. É bastante
comum que se observem características de múltiplos estágios em uma criança só, pois
um esvai-se no outro à medida que a criança é estimulada.

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By Neto
27/05/2010

FONTE: http://www.psicologiaeciencia.com.br/textos/

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