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Demografia e Consumo

Luiz Goes (lgoes@gsmd.com.br), sócio-sênior e diretor da GS&MD – Gouvêa de Souza

Os dados vão aparecendo aos poucos, mas o Censo 2010 realizado pelo IBGE já começa a
mostrar as grandes transformações pelas quais passou o país desde a edição anterior,
realizada no ano 2000.

Muitos números ainda vão ser mostrados, mas alguns deles já permitem antever mudanças
demográficas que impactarão fortemente o mapa de consumo no país. As grandes cidades
apresentam taxas de crescimento bem inferiores àquelas que experimentaram em décadas
passadas. Por outro lado, as cidades médias tomam impulso de crescimento forte. Esse fato
impacta, por exemplo, o formato de lojas e de ambientes de venda de serviços, já que as
cidades médias demandarão superfícies menores, aliando-se ainda ao fato de que o
consumidor, esteja na metrópole, esteja na cidade média, busca mais conveniência e facilidade
no contato com a loja.

Regionalmente o mapa também começa a ser alterado. Em número de habitantes, a região


Sudeste cresceu 10,97% nos últimos dez anos, enquanto a região Nordeste cresceu 11,18%; e
a Norte, 22,98%.

Outro número bastante significativo diz respeito ao já preconizado envelhecimento da


população brasileira de uma forma geral. Talvez os espaços antes destinados a abrigar
crianças com atividades dentro de hipermercados, lojas de departamentos e shopping centers
tenham que dar lugar a outros dedicados a pessoas mais velhas e que demandarão produtos e
serviços voltados ao bem-estar. Esse é um processo que a Europa já vem experimentando há
alguns anos, por exemplo. Onde antes existiam escolas, existem hoje centros para a melhor
idade.

Além disso, as pessoas frequentarão locais de compra por muito mais tempo ao longo de suas
vidas, o que exigirá maior dedicação das marcas de varejo para a fidelização de clientes. Para
que se tenha ideia dessa velocidade, em 2008 a expectativa de vida ao nascer do brasileiro era
de 72,86 anos. Em 2009 subiu para 73,17. No ano 2000, era de apenas 70,46 anos. Ainda
temos que galgar alguns degraus até atingir a taxa do Japão, que é de 82,7 anos, ou então da
França, de 81,2, mas muito rapidamente estaremos perto desses patamares.

Por outro lado, as mudanças demográficas ocorrem em uma velocidade incompatível com as
modificações que ainda temos que fazer em termos culturais e de infraestrutura. No que tange
à qualidade da educação, recente pesquisa divulgada pela Unesco indica que o Brasil ocupa o
53º lugar dentre 65 países avaliados. Isso mostra a dificuldade que teremos para equacionar
crescimento econômico, mudanças populacionais e ocupação de vagas de trabalho. No quesito
infraestrutura, todos sabemos da grave situação da circulação em nossas cidades e estradas,
impactando a distribuição de produtos; ou então os gargalos envolvendo portos e aeroportos;
ou ainda pontos ligados à baixa conexão à Internet por banda larga; e assim por diante.

Todos esses fatores em princípio interessam mais aos demógrafos e aos planejadores públicos
que deverão desenhar as necessidades das cidades e dos deslocamentos de bens e pessoas
entre elas, mas não podem ser deixadas de lado por aqueles que se preocupam com a forma
como o consumo acontece, principalmente no meio urbano.
Precisamos estar atentos a essas mudanças. Hoje é quase um chavão falar que o mundo
muda com rapidez impressionante. Sim, é lógico que é verdade, mas o que não nos damos
conta é que muitas dessas mudanças podem ser antevistas com alguma antecedência se
buscarmos as referências corretas. Dados não faltam. O que carecemos é de informações
qualificadas que nos permitam otimizar os recursos disponíveis e evitar desperdícios. Daqui em
diante teremos cada vez menos espaço e tempo para arriscar. As decisões precisam
ultrapassar a leitura esquálida de números e partir para a robustez de informações
consistentes.

Cada número, seja qual for, aponta uma verdade. Algumas delas significam muito, outras
quase nada para os nossos negócios. Temos é que aprimorar nossa capacidade de perceber a
relevância e saber tirar o melhor proveito disso.

Por diversas vezes insistimos neste espaço que o brasileiro de forma geral, mas principalmente
as empresas, não raciocinam com informações, mas sim com sentimentos ou percepções
pouco abrangentes. É preciso mudar a maneira como pensamos e profissionalizar a forma de
organizar e analisar dados, com o intuito de gerar ações mais eficientes. Saber buscar os
elementos essenciais não é uma arte e não requer conhecimentos específicos, mas tão
somente sensibilidade e determinação.

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