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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ

COMARCA DE ÁGUA BRANCA


VARA ÚNICA

Processo n.° 0000894-42.2013.8.18.0034


Ação: obrigação de fazer c/c cumprimento de contrato e indenização por danos
morais e materiais
Autor - FRANCISCO PAULINO DA SILVA
Requerido - V. Leite de Oliveira & CiaLtda(ELETROMOTOS LEITE)

SENTENÇA

Vistos.

FRANCISCO PAULINO DA SILVA, por meio de advogado


constituído, ajuizou a presente ação de obrigação e fazer c/c cumprimento de contrato e
indenização por danos materiais e morais em face de V. LEITE DE OLIVEIRA -
ELETROMOTOS LEITE, todos qualificados nos autos, alegando, em síntese: "que
em meados de setembro de 2009 celebrou com a requerida, contrato de consórcio para
aquisição de uma moto HONDA TITAN 150 ES, através da modalidade compra
premiada, a ser pago em 48 parcelas mensais e sucessivas de R$ 193,00, das quais pagou
30 (trinta) parcelas, totalizando o valor de R$ 9.246,00 (nove mil, duzentos e quarenta e
seis reais).
Aduz ainda, que deixou de pagar as parcelas mensais tendo em vista a
noticia de que a empresa demandada encerrou suas atividades nesta região, inclusive
aplicando calote em diversos clientes; Busca a prestação jurisdicional para ver o
cumprimento do contrato e a condenação da demandada a devolver os valores pagos,
acrescidos de indenização por danos materiais e morais".
Juntou os documentos de fls. 18/23, dentre os quais se encontram o
contrato de compra e venda, (fls. 20/21),
Devidamente citada a empresa demandada, por seu representante legal
compareceu à audiência de conciliação, deixou transcorrer in albis o prazo para
contestação.

É o relatório. Fundamento. Decido.


Não havendo questões preliminares nem irregularidades a serem sanadas,
passo ao exame do mérito da causa.
Efetivamente a ré foi regularmente citada para os termos da presente ação
e não apresentou contestação ou impugnação de qualquer espécie no prazo legal. Neste
caso, impõe-se aplicação do art. 319 do Código de Processo Civil.
De acordo com a lição do mestre Humberto Theodoro Júnior, "ocorre a
revelia ou contumácia, quando regularmente citado, o réu deixa de oferecer resposta à
ação, no prazo legal."
Acrescenta, ainda, o eminente jurista que, "diante da revelia, torna-se
desnecessário, portanto, a prova dos fatos em que se baseou o pedido, de modo a
permitir ojulgamento antecipado da lide".
Possível o conhecimento direto do pedido e o conseqüente julgamento
antecipado da lide, ante odisposto no artigo 330, inciso II, do Código de Processo Civil,
já que aquestão de mérito éunicamente de direito eindepende da produção de provas em
audiência. A revelia, em casos como os dos autos, produz efeitos, dentre os quais a
presunção de veracidade dos fatos narrados na petição inicial (art. 319 do CPC). Com isto,
tem-se por certa a inadimplência do devedor, na forma postulada na inicial.
Ora, assim sendo, háque se reconhecer a existência de débito do réu para
com o a parte autora, porquanto os documentos de fls. 20/21, demonstram claramente o
vínculo contratual existente entre ambos.
O artigo 481 do Código Civil prescreve que:
"pelo contrato de compra e venda, um dos contraentes se
obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a
pagar-lhe certo preço em dinheiro"
Assim, tendo o Autor cumprido sua obrigação, qual seja, o pagamento das
parcelas avençadas, incumbe àdemandada ocumprimento contratual, qual seja, aentrega
do bem, objeto do contrato ou a restituição dos valores pagos, no que não cuidou em
demonstrar a requerida, apesar de devidamente citada.
Sobre o tema, cite-se os seguintes arestas, verbis:

CIVIL çqmprâ\ E VENDA DE VEÍCULO. DAÇÃO EM


PAGAA0fTO>^lWPRESA, QUE VENDE VEÍCULO COM
Lisabeteltíqria Maiéhetti 2
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA E MULTAS. DESCONHECIMENTO DO
COMPRADOR. DESCUMPRIMENTO DO DEVER DEFORNECER O
BEM LIVRE E DESEMBARAÇADO. RESCISÃO CONTRATUAL.
RESTITUIÇÃO DAS P ARTES AO STATUS QUO ANTE.
IMPOSSIBILIDADE DEVOLUÇÃO DO , VALOR
CORRESPONDENTE AO PREÇO DO BEM A ÉPOCA DO
AVENÇADO. DANOS MORAIS. CABIMENTO. 1. HAVENDO O
DESFAZIMENTO DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE
VEÍCULO EM QUE O COMPRADOR DEU EM PAGAMENTO UMA
MOTOCICLETA E MAIS UMA QUANTIA EM ESPÉCIE, POR
CULPA DA VENDEDORA, QUE NÃO SE DESINCUMBIU DA
OBRIGAÇÃO DE FORNECER O BEM APTO PARA O USO E
DESEMBARAÇADO DE QUALQUER ÔNUS, NÃO É POSSÍVEL A
RESTITUIÇÃO DAS P ARTES AO STATUS QUO ANTE, VEZ QUE
NÃO HÁ NOTÍCIA NOS AUTOS DE QUE O BEM DADO EM
PAGAMENTO AINDA SE ENCONTRE NA ESFERA DE
DISPONIBILIDADE DA EMPRESA RÉ, SOBRETUDO PORQUE
ESTA NÃO FOI LOCALIZADA PARA O ATO DE CITAÇÃO, E EM
FUNÇÃO DO TRANSCURSO DE MAIS DE TRÊS ANOS DA DATA
DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO.2. TRATANDO-SE DE DAÇAO
EM PAGAMENTO, O VALOR EQUIVALENTE AO BEM
OFERECIDO PASSOU A FAZER P ARTE DO ATIVO DO
VENDEDOR, DE IMEDIATO, NÃO HAVENDO QUE SE FALAR EM
DEVOLUÇÃO DO MESMO, POR OCASIÃO DO DESFAZIMENTO
DO NEGÓCIO, MAS EM RESTITUIÇÃO DO VALOR EQUIVALENTE
AO BEM ADQUIRIDO, À ÉPOCA DO AVENÇAD0.3. A SIMPLES
RESCISÃO CONTRATUAL, POR SI SÓ, NÃO GERA DANO MORAL,
SALVO EM SITUAÇÕES ESPECIAIS, COMO NO CASO, VEZ QUE A
CONDUTA ILÍCITA E CULPOSA DA RÉ, CONSISTENTE NO
DESCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO DE TRANSFERIR O
VEÍCULO PARA O NOME DO COMPRADOR, TENDO EM VISTA
ENCONTRAR-SE COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA A TERCEIRA
PESSOA, ESTRANHA AO NEGÓCIO, ALÉM DA EXISTÊNCIA DE
DÉBITOS RELATIVOS A TRIBUTOS E MULTAS INCIDENTES
SOBRE O BEM, SEM QUE ESTA APRESENTE QUALQUER
JUSTIFICATIVA PLAUSÍVEL PARA TANTO, NÃO SE TRADUZEM
EM MERO ABORRECIMENTO, MAS VIOLAM A DIGNIDADE DO
CONSUMIDOR E, ASSIM, UM DOS ATRIBUTOS DE SUA
PERSONALIDADE, PRESUMINDO-SE A OCORRÊNCIA DE DANOS
M0RAIS.4. RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.
(19058120088070004 DF 0001905-81.2008.807.0004, Relator:
ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS, Data de Julgamento: 04/05/2011,
4a Turma Cível, Data de Publicação: 16/05/2011, DJ-e Pág. 116)

Apelações cíveis. Ação de obrigação de fazer c/c indenizatória.


Compra de motocicleta usada, mediante contrato de alienação
fiduciária. Rejeitada a preliminar de ilegitimidade passiva. Findo o
contrato de compra e venda em razão de vicio oculto, deve ser
rescindido também o respectivo contrato de financiamento, haja vista
que a garantia deixou de existir, retornando as partes ao status quo
ante. Relação consumerista. Vícios comprovados nos documentos
colacionados aosautos. Rés que, apesar de alegarem a inexistência de
vícios, não foram capazes de desconstituir as provas produzidas pelo
autor. Perfeitamente cabíveis os pedidos de rescisão contratual e de
reparação pelos danos morais. Quantia indenizatória arbitrada
adequadamente {R$ 2.000,00). Sentença mantida. NEGADO
SEGU&NnhiAMBOSOS RECURSOS. ART. 557, CPC.557CPC
(130996720078190202 RJ 0013099-67.2007.8.19.0202, Relator: DES.
PEDRO SARAIVA ANDRADE LEMOS, Data de Julgamento:
03/02/2011, DÉCIMA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
14/02/2011)

DIREITO CIVIL COMPRA E VENDA MOTOCICLETA


INADIMPLEMENTO RESCISÃO DANOS MATERIAL E MORAL
Deixando o cessionário de cumprir a suaobrigação contratual não há
como alegar a "exceptio non adimpleti contractus". Recurso
improvido.
(20608320098260210 SP 0002060-83.2009.8.26.0210, Relator: Clóvis
Castelo, Data de Julgamento: 25/06/2012, 35a Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 26/06/2012)

No caso dos autos a relação existente entre as partes é regulada pelo


Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista a qualidade de consumidora da
requerente (CDC, art. 2o) ede fornecedora de produto da requerida (CDC, art. 3o).
Nestes termos, o exame sobre a configuração da responsabilidade civil
não inclui análise subjetiva da conduta praticada pela ré, porquanto trata da
responsabilidade objetiva, na forma do artigo 14, caput, do Código de Defesa do
Consumidor. Além disso, o contrato celebrado entre as partes (fls. 20/21) é de compra e
venda.

A conduta imputada à requerida como indevida é a não entrega de um


bem durável (motocicleta) à parte Autora.

Nos termosdo art. 3o do Código de Defesado Consumidor:


Art. 3o Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os
entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços, (grifei).

Cotejando os documentos carreados com a inicial, mormente os de fls.


20/21, evidencia-se que a parte autora celebrou contrato para aquisição de uma
motocicleta e aduz ter pago 30 parcelas mensais e sucessivas, contra as quais a
demandada não cuidou em desfazer a alegação. Assim a procedência da ação é medida
que se impõe.

No que tange aos danos materiais morais alegados, o autor não logrou
êxito em demonstrar de forma cabal, razão pelaqual não merece acolhimento.
Ante o exposto, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido
formulado por FRANCISCO--ÍAÜLJNO DA SILVA, na presente ação de
•ia Marchetti 4
Hrelto
OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C CUMPRIMENTO DE CONTRATO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS movida em face de V.
LEITE DE OLIVEIRA - ELETROMOTOS LEITE, todos qualificados na inicial e,
por conseguinte, CONDENO A DEMANDADA devolver ao autor os valores das
parcelas pagas, no total de R$ 9.246,00 (nove mil, duzentos e quarenta e seis reais),
valores estes a ser corrigido monetariamente pelo IGPM/FGV, contados a partir de
30/01/2012, data do ultimo pagamento efetivado pelo autor, e juros de mora à taxa de
12% ao ano (art. 406 do Código Civil/2002, c/c artigo 161 CTN), contados da citação
(11/09/2014-fls. 31).

Em conseqüência, decido o feito com resolução de mérito, nos termos do


artigo 269, inciso I, do CPC.
Condeno o réu ao pagamento das custas e despesas processuais, nestas
incluídos os honorários advocatícios que fixo, à luz dos critérios previstos no artigo 20 do
Código de Processo Civil, em 15% do valor da condenação, corrigidos desde o
ajuizamento da ação.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-se, após, arquivem-se os
autos com baixa na distribuição.
Água Branca (PI), 06 deabril de 2015

ia Marchetti
de Direito

Lisabete Maria Marchetti


Juíza de Direito

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