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LAZER E MÍDIA NO COTIDIANO

DAS CULTURAS JUVENIS1

Cássia Hack

INTRODUÇÃO

E studos sobre a juventude são mais ou menos recentes nas ciências


sociais brasileiras, ao menos os que se dedicam a abordar o tema
para além de questões etárias, ou que tratem a juventude de forma não-
homogênea. Grande parte dos estudos realizados até então expressa-
vam interesse em aspectos desenvolvimentista e/ou maturacional, de
corte biologicista ou psicologizante. O reconhecimento de que outras
características devem ser levadas em conta nas pesquisas sobre jovens
implicou que fatores como classe social, gênero e etnia passassem a ser
vistos como integrantes do imenso e complexo cipoal sociocultural que
compõe o significado de “ser jovem” na sociedade contemporânea.
A condição jovem é uma construção recente na história e se faz a
partir do mundo do trabalho, nos idos da revolução industrial, e segue
com a segmentação do mercado. É, portanto, uma categoria moderna
que teve seu reconhecimento principalmente quando a educação for-
mal, projeto da modernidade, passou ao controle do Estado. A escolari-
zação, como conseqüência, estabeleceu um processo de separação entre
seres adultos e seres em formação. Uma espécie de ordem hierárquica

1. Uma versão deste texto foi publicada na revista Licere (CELAR/UFMG), v.10, n.1,
abril/2007.

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fundamentada nas relações entre as fases da vida foi, então, constituí-


da, determinando a primazia daqueles (adultos) em relação aos últimos
(em formação), em que se incluem a infância e a juventude.
As definições de juventude transitam, assim, por dois critérios
principais que parecem não se conciliar – o etário e o sócio-cultural.
Porém, não é definitivo que a fase da vida ou o agrupamento em classe
social determine a juventude, pois não existe homogeneidade por per-
tencer a uma faixa etária ou a uma classe social. Ambas não podem ser
analisadas sem considerar as relações historicamente constituídas e as
trajetórias construídas.
Desta forma, não se concebe um enquadramento normativo. A
juventude é uma concepção, representação ou criação simbólica, fabri-
cada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jo-
vens, para significar uma série de comportamentos e atitudes a ela atri-
buídos. Ao mesmo tempo, é uma situação vivida em comum por certos
indivíduos (GROPPO, 2000). Trata-se não apenas de limites etários
pretensamente naturais e objetivos, mas também, e principalmente, de
representações simbólicas e situações sociais com suas próprias formas
e conteúdos, que tem importante influência nas sociedades modernas.
Pode-se afirmar, então, que as diversas teorias sociológicas a respeito
da juventude agrupam-se em duas correntes principais: i) a corrente
geracional e ii) a corrente classista (PAIS, 1993).
As teorias ditas geracionais concebem a juventude como um ciclo
ou uma etapa cronológica de passagem para a vida adulta e, portan-
to, reforçam a noção de unidade da condição juvenil. Nesta direção, as
análises têm destacado os aspectos simbólicos sobre como a sociedade
constrói os significados a respeito dos jovens, fazendo com que a juven-
tude seja compreendida de forma abstrata e a-histórica, como afirma
Abramo (2005). Por outro lado, Pais (1993) destaca as teorias denomi-
nadas classistas, que reconhecem as diferenças decorrentes dos fatores
sociais, econômicos, étnicos e de gênero, o que resulta na perspectiva
da juventude como um conjunto diversificado e multifacetado. As pes-
quisas que se pautam por tal concepção expressam a situação juvenil,
isto é, as formas como a condição de “ser-jovem” é vivida concretamen-
te (ABRAMO, 2005).

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Por tudo isso, parece que as referências à cultura no âmbito da ju-


ventude precisam ser sempre feitas no plural, porque não há apenas uma
cultura dos jovens, mas sim culturas, destacando que tanto as teorias ge-
racionais quanto as classistas, quando tomadas isoladamente, não conse-
guem explicar plenamente essas culturas juvenis (PAIS, 1993).
Neste sentido, pesquisas têm sido implementadas, visando iden-
tificar aspectos socioculturais que, concretamente, constituem o coti-
diano das culturas juvenis em nosso país. Uma das mais amplas e pro-
fundas, com imenso acervo de dados empíricos, foi promovida pelo
Projeto Juventude, do Instituto de Cidadania, e está ricamente refletida
por um coletivo de estudiosos do tema, no livro Retratos da Juventu-
de Brasileira2. Entre outras questões, a pesquisa destaca a importância
atribuída ao tempo livre e ao lazer pelos jovens, cuja fruição parece estar
intimamente ligada às condições de acesso e consumo de produtos dis-
ponibilizados pela cultura mídiática (cf. BRENNER; DAYREL; CARRA-
NO, 2005).
Relevante se torna, assim, investigar como estes dois temas - lazer e
mídia - são percebidos e representados por um grupo específico de jovens,
isto é, alunos e alunas do ensino médio de escola pública, cujas caracte-
rísticas classistas são bastante definidas. Este propósito está relacionado
a interesses pedagógicos, pois pode representar importante contribuição
para fundamentar estratégias de ação do componente curricular Educação
Física no ensino médio, num momento que este vem refletindo sobre suas
finalidades e responsabilidades na formação dos jovens.

O Percurso e os Procedimentos Metodológicos

Este foi, portanto, o eixo da pesquisa realizada com jovens estu-


dantes de numa escola pública de ensino médio da cidade de Cáceres,
Estado do Mato Grosso, cujo propósito principal foi analisar a presen-
ça, importância e os desdobramentos do discurso midiático em relação
ao lazer em culturas juvenis, conforme a seguinte pergunta de partida:
como é percebida e expressa a recepção midiática relacionada às manifestações

2. Abramo; Branco (orgs.), 2005.

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de lazer, presentes nas culturas juvenis de estudantes do ensino médio na ci-


dade de Cáceres/MT? Questões-auxiliares de investigação foram elabo-
radas no intuito de delimitar o estudo, a saber: i) que importância é
atribuída ao lazer no âmbito das culturas juvenis? ii) que características
culturais são evidenciadas pelos jovens no seu cotidiano em relação à
compreensão e fruição do lazer? iii) como os jovens representam a mí-
dia quanto à conformação de suas práticas culturais de lazer?
Como orientação teórico-metodológica e de abordagem da reali-
dade, adotamos o paradigma dialético da sociologia da vida cotidiana
(HELLER, 1994; LEFEBVRE, 1991; PAIS, 2003), partindo do princípio
que o cotidiano pode ser o fio condutor para conhecer aspectos relevan-
tes da sociedade e da cultura.
A abordagem do campo da pesquisa deu-se, inicialmente, em um
encontro com os sujeitos3 da pesquisa, denominado de evento-campo n. 1.
Nele, após a apresentação da pesquisa, seus objetivos e a explicitação das
formalidades legais do comitê de ética em pesquisa com humanos, os jo-
vens foram convidados a responder questionário com questões fechadas e
abertas - e espaços para livre manifestação - , que tinha o objetivo de reunir
informações para delinear um perfil dessas juventudes, quanto a aspec-
tos de classe, identidade étnico-racial, gênero, religião, período de estudo,
hábitos e preferências relacionados a mídia. No evento-campo n. 2, foram
organizados seis grupos para entrevistas coletivas, desenvolvidas a partir
de um roteiro semi-estruturado, que levava em conta os dados sistemati-
zados a partir das repostas ao questionário. Estes grupos foram organiza-
dos pela disponibilidade temporal dos jovens. A seguir, aconteceram dois
grupos focais para aprofundar informações decorrentes dos procedimen-
tos anteriores, denominados então de evento-campo n. 3 4. Nas entrevistas e
grupos focais, os participantes autorizaram a gravação de áudio em fitas,
que foram transcritas para a análise. Também foram procedidas observa-
ções livres, no período de estágio de campo (junho e julho de 2004), que
resultaram na composição do diário de campo da pesquisa.

3. Descritos no item a seguir.


4. Nem todos os alunos participaram dos demais eventos-campo (2 e 3), por diferentes
motivos, como incompatibilidade ou falta de tempo disponível, desinteresse, etc.

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Para a interpretação do material do campo, adotou-se a metodolo-


gia de análise de conteúdo (BARDIN, s/d), entendendo ser este conjun-
to de procedimentos técnicos um recurso possível para a interpretação
dos dados, mais do que uma simples quantificação lingüística.

Conhecendo o Contexto e os Sujeitos da Pesquisa

Cáceres é carinhosamente chamada a Princesinha do Paraguai,


visto que o rio Paraguai serpenteia por ela, sendo também um portal
do pantanal matogrossense. Tem 2265 anos de fundação e quase 25 mil
km2, contudo apresenta carência de infra-estrutura e políticas públicas.
Habitam-na uma população estimada de pouco mais de 87 mil habitan-
tes (2004). O município tem na pecuária e na agricultura suas principais
fontes geradoras de renda. O ecossistema da região é composto por
Cerrado, Floresta Amazônica de transição e Pantanal, o que confere um
potencial na área turística.
A escola em que estão matriculados os jovens da pesquisa, cha-
mada Escola Estadual Onze de Março (EEOM), foi criada em 1947 e
mantém três turnos de estudo, atendendo exclusivamente o ensino mé-
dio. Em 2004, havia mil quatrocentos e um estudantes, distribuídos em
trinta e seis turmas. É a maior escola pública estadual de Cáceres.
Responderam ao questionário (no evento-campo 1) quarenta e
cinco (45) jovens, sendo vinte e cinco (25) do sexo feminino e vinte (20)
do sexo masculino, alunos dos turnos matutino e vespertino de segun-
do ano do ensino médio na EEOM, com idade entre quinze (15) e vinte
e um (21) anos.
A metade dos sujeitos trabalha no contra turno escolar; a maioria
relata ter responsabilidades na própria casa e outros atuam como babá,
ajudante de pedreiro e doméstica. A renda familiar varia entre um e
três salários mínimos mensais.
Quanto ao acesso aos meios de comunicação, foram relacionados
televisão, rádio, jornal, revistas, internet, cinema e teatro, sendo que TV

5. Fundada em 06 de outubro de 1779.

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tem um público bem maior do que os demais meios: dos quarenta e cin-
co jovens pesquisados, apenas um não assiste televisão, por questões
religiosas. Dedicam à programação televisiva um tempo aproximado
de cinco horas diárias e apenas uma pessoa tem acesso à televisão por
assinatura. Os canais mais assistidos, respectivamente, são: Globo, SBT,
Band, TV Cultura, Record, Rede TV e Futura. Segundo o gênero da pro-
gramação, os mais citados foram as novelas, seguidas pelos programas
de humor, telejornais, filmes, programas de esporte, desenhos, progra-
mas educativos e entrevistas.
Em relação às revistas, a que vinte e um (21) sujeitos referiram ter
acesso, as mais citadas integram o segmento de variedades/entreteni-
mento (Boa Forma, Corpo a Corpo, Capricho, etc.). A internet é acessada
por vinte e três jovens (23), enquanto o rádio é referido por vinte (20) dos
respondentes, mesmo número dos que afirmam freqüentar cinema.

Estudos Sobre Lazer e Mídia: para compreender a sua importância


nas juventudes

A noção de trabalho é fundamental para a compreensão do lazer


enquanto fenômeno social, visto que os fenômenos sociais derivam de
certa forma de como a humanidade se relaciona mediado pelo traba-
lho, criando as condições para a produção e reprodução de sua própria
existência. As conexões existentes entre lazer e trabalho sob a égide do
capitalismo exigem uma atenção especial quanto às implicações do fe-
nômeno da alienação sobre a experiência do lazer, assim como aos des-
dobramentos da separação e definição dos tempos ocupados por cada
uma dessas manifestações sobre a organização da vida cotidiana. A era
industrial, com sua escala de produção, criou uma sociedade de con-
sumo indiscriminado, acrítico, passivo, que eclode com a sociedade do
espetáculo. As tecnologias reforçam e sustentam este consumo/espetá-
culo. O tempo de lazer é hoje cada vez mais orientado pelas práticas e
valores do universo midiático 6.

6. Mídia é um termo utilizado para designar diferentes aspectos, como o conjunto de


meios de comunicação de massa, veículos, recursos ou técnicas ou ainda o “con-
junto de empresas (e cada uma delas) que produz e mercadoriza informação, en-
tretenimento e publicidade” conforme Pires (2002-a).

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Percebe-se um claro processo de danificação da experiência for-


mativa na sociedade contemporânea, em vista da progressiva substi-
tuição do contato e apreensão direta da realidade pela mediação tecno-
lógica exercida pelos meios de comunicação de massa, notadamente a
televisão, pelas facilidades de acesso. A experiência formativa, na visão
de frankfurtianos como Benjamin e Adorno, implica um tipo de apro-
priação ativa e crítica da realidade, um processo dialógico entre o fato
em si e a formulação do seu conceito, que demanda um tempo e condi-
ções necessárias para a sua vivência, reflexão e subjetivação. Neste pro-
cesso, são mobilizados mecanismos de sensibilização e racionalização
que possibilitam a incorporação da experiência como conhecimento
(PIRES, 2002-b).
Quando a realidade é apresentada como mera vivência, isto é,
de forma naturalizada, desencarnada das suas contradições e com-
plexidades, como é típico da mediação tecnológica promovida pelo
discurso midiático, ocorre uma adulteração da vida sensorial. O
imenso fluxo de estímulos audiovisuais que é disponibilizado pelos
meios eletrônicos e a velocidade com que estes vão se sucedendo na
tela provocam uma apreensão fragmentada e superficial da realida-
de, porque sem os elementos nem o tempo necessário para a reflexão
e sua incorporação subjetiva como experiência. Especificamente em
relação aos aspectos formativos que a experiência lúdica pode promo-
ver, a sua substituição por vivências eletronicamente mediadas gera
a banalização do lazer, percebido como mero entretenimento (PIRES;
HACK, 2004).
Neste contexto do capitalismo monopolista, torna-se primordial
compreender as culturas juvenis no interior da sociedade do espetáculo
(DEBORD, 1997), em que existe a figura poderosa da cultura danifica-
da ou semicultura (ADORNO, 1996), produzida pela indústria cultu-
ral (ADORNO; HORKHEIMER, 1985), como sua contraparte subjetiva
e subjetivada. Os meios de comunicação exercem papel fundamental
na permanência, expansão e aprofundamento deste processo, como os
atuais “tutores intelectuais”, denunciados há mais de 200 anos, pelo
conceito kantiano de Esclarecimento (PIRES, 2002-a).

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Lazer e Mídia nas (Vozes das) Culturas Juvenis: uma tessitura forjada
no cotidiano

Aqui são apresentadas e desenvolvidas as categorias e funções7


construídas a partir da observação do universo discursivo dos sujei-
tos da pesquisa nas entrevistas e grupos focais sobre juventude, lazer
e mídia, cuja reflexão se dá no tópico “Entrelaçando os fios”, tecendo
uma trama que permite expressar a relação dialética existente entre o
referencial teórico-metodológico e os cotidianos juvenis.

Manifestações das culturas juvenis no cotidiano

Juventude como fase/etapa ressalta o conceito geracional sobre ju-


ventude, numa perspectiva que denota certa unidade e a representação
social do jovem como sendo uma pessoa de pouca idade e em transição
entre “ser criança e ser adulto”, com mais algumas características recor-
rentes: ser solteiro, estudante, com tempo para divertir-se e “aproveitar
a vida”, num caso típico de “irresponsabilidade provisória” como afir-
ma Bourdieu (1983).
As questões de classe social, também presentes nos cotidianos
juvenis, sinalizam o conceito classista sobre juventude, em que essa
transição encontra-se sempre pautada por desigualdades sociais, numa
perspectiva que denota diversidade. Neste sentido, os jovens destacam
a problemática social em que estão inseridos, seja no tocante ao binô-
mio trabalho/educação, ou em aspectos de classe ou gênero.
As perspectivas para o futuro são formadas por um conjunto de dois
“sonhos”, ordenados segundo a importância dada pelos jovens e iden-
tificada a partir da recorrência e ênfase nas falas: i) um (bom) emprego/
trabalho, como desdobramento e consequência da formação profissio-
nal (estudo) e ii) a constituição da sua família, como marco da chegada
à vida adulta.

7. Como as falas dos jovens trazem elementos que transitam entre as três funções apre-
sentadas, preferimos denominar funções da mídia, visto que não houve possibilidade
de elaborarmos categorias. Assim, é numa perspectiva de funcionalidade que a mídia é
percebida nos cotidianos jovens, e estas funções se dão concomitantemente.

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O lazer no âmbito das culturas juvenis

O lazer é fundamentalmente ambíguo e apresenta aspectos múl-


tiplos e contraditórios que se avolumam no cotidiano. A maioria das
percepções expressas pelos jovens acerca do lazer reflete os valores/
funções de “descanso”, “divertimento” e “desenvolvimento pessoal”8,
além de percepções que remetem ao caráter de cultura lúdica, num
sentido que não privilegia a natureza daquilo que é feito, mas a manei-
ra como é feito. Os entendimentos de lazer apresentados pelos jovens
apontam significativamente para o modelo de sociedade administrada
na qual estamos inseridos.
A partir da interpretação das falas dos jovens, foi possível iden-
tificar três categorias principais a respeito do seu entendimento sobre
um possível conceito de lazer que, de certo modo, estão relacionadas
a teorias do campo dos estudos do lazer e se constituem em elementos
que ancoram diferentes correntes ou tendências teórico-conceituais9:
“espaço”, “tempo” e “atitude”.
Os espaços de lazer são locais identificados como próprios para prá-
ticas culturais de tempo livre, agrupados em quatro diferentes conjun-
tos: i) naturais: rios e praias na época da seca, cachoeiras, cavernas e
outros; ii) comerciais: lanchonetes, bares, sorveterias e outros; e iii) rela-
cionais: a casa, a casa dos parentes e amigos, a igreja, grupos de interes-
se religiosos e folclóricos, e iv) públicos, como a escola, a rua, praças e
estruturas esportivas. O lazer, quando observado na forma de espaços,
expressa um amplo território significativamente demarcado por rela-
ções econômicas e sociais, evidenciando seus componentes classistas.
Lazer e tempo nas culturas juvenis é uma categoria que se consti-
tui a partir da fragmentação do cotidiano em tempos para diferentes
atividades, os chamados “tempos sociais”: tempo de trabalho, tempo
livre, tempo da família, tempo de educação e outros. A organização e
hierarquização do tempo é vetor de uma dada ordem social. O lazer é

8. Trata-se dos chamados Três D´s do Lazer. Ver, por exemplo, MARCELLINO, N.C.:
Estudos do Lazer: uma introdução (1996).
9. Marcellino (1987) aborda estas categorias que, de certo modo, delineiam os princi-
pais conceitos de Lazer.

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visto como parte desta fragmentação do tempo em contraposição ao


trabalho; assim, o lazer é restrito a determinados momentos e de for-
mas diferentes para os jovens que não trabalham, pois, aparentemente,
estes têm uma gerência maior dos seus tempos cotidianos do que os
jovens trabalhadores.
A atitude é considerada uma variável “básica” para a compreensão
do lazer na vida cotidiana. Mais do que as perspectivas conceituais e
operacionais quanto às práticas de lazer, e as atividades desenvolvidas,
a categoria atitude abarca sobretudo a dimensão das sensações, pois
“no lazer, se relaxa, distrai e pensa em nada...” (depoimento). O lazer consi-
derado como atitude “caracteriza uma relação entre o sujeito e a experiência
vivida de forma que ela propicie satisfação; assim, até o trabalho pode ser uma
atividade de lazer” (depoimento).
A atitude de relação com a mídia, com sua extensa gama de pro-
dutos para o entretenimento, se configura como uma possibilidade
presente e preferida para ocupar o tempo disponível ao lazer, sendo
opções significativas referidas pelos jovens da pesquisa, como assistir
TV, ouvir música, ler revistas e acessar a internet. Desta forma, a rela-
ção estabelecida entre o lazer e a mídia assume grande relevância nos
cotidiano juvenis.

Fruição dos meios de comunicação como possibilidade de lazer dos


jovens

Na relação dos jovens com a mídia, ela assume funções de “infor-


mação”, “entretenimento” e “comportamento”, que são aglutinadoras
do entendimento da relação dos pesquisados com os meios de comuni-
cação e acontecem, como já salientamos, integradamente.
Na função informação reunem-se dois aspectos concomitantes e dia-
leticamente complementares sobre a mídia: i) seu entendimento como
produtora/veiculadora da informação necessária para proceder a uma
leitura dos acontecimentos do cotidiano em escalas local e global. Neste
sentido, a mídia, se transforma num espelho que possibilita dimensionar
o mundo, o que faz com que a informação assuma um caráter educativo/
formativo, e ii) a crítica aos valores que alguns meios, cenas e programas
expõem, ainda que esta avaliação não seja consensual.

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Referem-se ao entretenimento as falas que atribuem à mídia o papel


de “ocupar” o (tele)espectador no seu tempo livre. Para os jovens, é a te-
levisão que oferece, em quantidade, variedade e acessibilidade, maiores
oportunidades de entretenimento, visto que, a partir da grade de progra-
mação em canais abertos da televisão brasileira, é identificado o maior
conjunto de possibilidades de entretenimento nos meios de comunicação
de massa, seguido pelas revistas de comportamento e fofoca. O rádio
parece ser percebido como um meio que faz companhia aos jovens em
atividades e tempos que, em princípio, não seriam classificados como de
lazer ou livres, verificando-se sua presença no trabalho (especialmente o
doméstico), nas horas de estudo, nos tempos para deslocamentos, etc.
Na função comportamentos sociais juvenis são apontados hábitos de
utilização/consumo da mídia que demonstram uma mescla de passi-
vidade e crítica nesta relação. Sobre as possíveis influências da mídia
no cotidiano dos jovens, grande parte dos sujeitos admite influências
da mídia, principalmente da TV, em seus modos de ser/fazer no lazer.
Contudo, esta não é uma percepção unânime; alguns acreditam que a
TV “não influencia, cada um escolhe o que fazer” (depoimento). Há ainda
uma terceira percepção que relativiza essa possível influência: “vai de-
pender de cada pessoa. Cada um tem um gosto” (depoimento).
Assim, a mídia parece contribuir, com sua programação, nas ma-
nifestações de lazer dos cotidianos das culturas juvenis, oferecendo
referências de moda, indumentária, expressões lingüísticas, práticas
sociais e esportivas, entre outros.

Entrelaçando os Fios

Não há como refletir acerca da temática do lazer e mídia nas cul-


turas juvenis sem o entendimento de que ela está inserida num todo
complexo, permeado pelas interrelações dos subsistemas que confor-
mam a cotidianidade. Vale lembrar ainda que, acerca das culturas ju-
venis, vigora o entendimento de que essas culturas o são na confluência
dos elementos integradores das correntes geracional e classista sobre as
juventudes, já que, isoladamente, nenhuma delas consegue explicar a
complexidade desta categoria (Pais, 1993).

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As vozes decorrentes do campo da investigação revelam que o


lazer é uma categoria considerada importante pelos e para os jovens,
visto a sua condição privilegiada de poder melhor usufruir o tempo
livre, pois suas responsabilidades são menores do que as dos adultos.
Nota-se ainda que, quanto ao usufruto do lazer, a dimensão temporal
é percebida, com freqüência, de forma linear, medida pelo relógio. Sua
atitude frente ao lazer também difere, pois os jovens consideram que a
juventude está diretamente relacionada com a perspectiva que o lazer
assume nos cotidianos; para além de o perceberem numa perspectiva
funcionalista, entendem o lazer também como cultura lúdica. O lazer
parece estar relacionado com o que consideram uma “qualidade de
vida”, daí que os jovens parecem “curtir” mais a vida!
Nas relações cotidianas do lazer nas culturas juvenis, um aspecto
que se revelou relevante foi a mídia, constituindo-se num elemento pri-
mordial de socialização dos jovens. Com segurança, podemos afirmar
que os desdobramentos do discurso midiático em relação ao lazer se
fizeram perceber acentuadamente nas falas dos jovens-sujeitos, mesmo
entre aqueles que afirmaram manter independência em relação à mí-
dia. A compreensão dessas relações é elaborada a partir dos diferentes
papéis ou funções desempenhadas pela produção, veiculação e consoli-
dação de signos, sentidos e significados acerca do lazer em culturas ju-
venis, juntamente com outras instituições sociais mediadoras (família,
escola, religião, etc.), compondo assim, o complexo cenário cotidiano
dessas culturas.
A relação com a mídia se expressa nos tempos e manifestações
de lazer das culturas juvenis por meio de duas vertentes, basicamente
cíclicas e de certo modo complementares entre si: i) sendo tomada pe-
los jovens como um meio de fruição do lazer, quando eles se referem a
assistir programas de entretenimento na TV, ouvir rádio, ir ao cinema,
navegar na internet, ler revistas, jornais e livros; e ii) na condição, pou-
co percebida pelos jovens, de formadora ou, no mínimo, influenciadora
em suas opções de lazer, na medida em que age no processo de agen-
damento das ofertas de lazer, além da fixação de gêneros dos produtos
midiáticos, conforme se estabelecem as funções midiáticas observadas
neste estudo: informação, entretenimento e comportamento.

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Como já afirmamos, merece ser destacado o processo de espetacu-


larização das manifestações culturais do lazer e a sua transformação em
mercadoria veiculada/vendida pela mídia, como, por exemplo, os shows
musicais e os ídolos pops, os eventos esportivos (também com seus ído-
los), as atividades esportivas na natureza, que exploram (e destróem) ce-
nários naturais, e tantos outros. Essa espetacularização mediatizada faz
com que tais produtos da indústria do entretenimento sejam consumidos
como meras vivências de um pseudo-lazer como semicultura, que limi-
ta as possibilidades da autêntica experiência formativa lúdica. A mídia
explora as contradições possíveis do e no lazer para a manutenção da sua
condição de mercadoria na sociedade do espetáculo, em que “o espetá-
culo é a outra face do dinheiro (...), na qual a mercadoria contempla a si
mesma no mundo que ela criou.” (DEBORD, 1997).

(Algumas) Considerações Finais

Além de sumarizar algumas reflexões provocadas pelos “acha-


dos” da pesquisa a respeito das representações dos jovens sobre cul-
turas juvenis, lazer e mídia, interessa aqui também remeter estas con-
siderações para além dos limites do próprio trabalho, articulando-os a
possíveis campos de intervenção da Educação Física, no que se refere
a políticas públicas de juventude e lazer e aos processos pedagógicos
relacionados ao componente curricular na escola.
No que se refere à pergunta-de-partida e as questões-auxiliares da
investigação, a primeira consideração a ser feita refere-se à onipresença
da televisão como o principal meio de comunicação de massa presente
nos cotidianos juvenis, com um índice que só não atinge os 100% por
questões de ordem religiosa. Além disso, o tempo médio referido de
assistência diária à TV, de cinco horas, mesmo sendo necessário relati-
vizarmos sempre estes inventários de tempo, supera até mesmo índices
referidos em pesquisa nacional com jovens10. A importância e suprema-
cia da mídia televisão na formação das culturas juvenis ficam ainda mais

10. Ver dados da pesquisa Retratos da juventude brasileira: análise de uma pesquisa nacio-
nal (ABRAMO; BRANCO, op.cit.).

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destacadas se considerarmos que as demais mídias – internet, rádio,


revistas e cinema – são referidas por no máximo 50% dos jovens que
responderam ao questionário.
A respeito do que significa “ser-jovem”, parece ser evidente o pre-
domínio da concepção ou tendência geracional entre os jovens, que en-
tendem ser a juventude uma etapa ou fase preparatória para a vida adul-
ta, ainda que reconheçam ser essa fase perpassada por questões sociais
que a fazem diferente de um jovem para outro, como classe e/ou gênero.
Além disso, podemos perceber nas respostas e nos depoimentos dos su-
jeitos um visão bastante conservadora, na medida que concebem a sua
condição juvenil com perspectivas para um futuro em que vislumbram
como “sonhos” uma certa estabilidade, representada pelo emprego/tra-
balho, obtido graças aos estudos, e a constituição de uma família.
O lazer é entendido pelos jovens como uma categoria importante em
suas vidas, prevalecendo aspectos funcionalistas que o relacionam sobre-
tudo ao divertimento/entretenimento11 - apenas secundariamente o lazer
é referido como possibilidade de descanso e/ou desenvolvimento pessoal.
Os jovens demonstram identificar que o lazer encontra-se fortemente per-
meado pelas categorias tempo, espaço e atitude. Neste sentido, expressam
que o lazer dos jovens é fundado no maior tempo livre de que dispõem,
mesmo os que trabalham e estudam, talvez pela ausência de muitas obri-
gações familiares. No que se refere aos espaços, estes são classificados con-
forme critérios de acesso, percebendo-se aí as restrições econômicas a al-
guns espaços privados, cuja fruição demanda investimento (ou consumo).
Todavia, os jovens sobrepõem uma espécie de resistência ao lazer merca-
dorizado, atribuindo especial importância a manter uma atitude lúdica e
caracterizando o lazer como uma experiência vivida, apesar dos limites
temporais e das restrições determinadas por critérios de classe social.
Coerentemente com os dados antes referidos, os meios de comuni-
cação de massa são percebidos pelos jovens como fontes significativas
de fruição do tempo do lazer, exercendo funções de informação e com-
portamento, além do entretenimento. Segundo os sujeitos, a mídia, espe-

11. A respeito da “função” de entrenimento da mídia, a jornalista e professora Raquel


Moysés produz uma brilhante análise da sociedade mediatizada, cuja centralidade
das programações é a diversão a qualquer custo e a banalização das vivências do
tempo livre (ver: MOYSÉS, R. Morrer de Tanto Rir, in Motrivivência, n.17, 2001).

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cialmente a TV, ajuda a “ocupar” o tempo livre, oferecendo alternativas


agradáveis, envolventes, mas sem grandes compromissos. Apesar disso,
percebem igualmente na mídia uma função de informação, na medida
que temas da juventude são abordados e discutidos – ainda que a qua-
lidade destas programações nem sempre sejam os melhores. Os jovens
também reconhecem que a mídia exerce influências nos comportamen-
tos dos jovens sobre diferentes aspectos, nos quais incluem as opções
de lazer. Mas entendem que essas influências não são homogêneas nem
impedem que seus sentidos originais sejam ressignificados pelos jovens.

Então, o quê fazer?

Com os dados do campo sistematizados e refletidos, resta-nos projetar


os resultados deste estudo na direção das posssibilidades de intervenção da
Educação Física em suas relações com os temas aqui investigados, nomea-
damente no que se refere às políticas públicas para a juventude e o lazer, e na
dimensão do componente curricular Educação Física no ensino médio.
Quanto às políticas públicas no âmbito federal, foi criada em 2005
a Secretaria Nacional de Juventude, responsável pela promoção e or-
ganização das iniciativas governamentais voltadas para a população
jovem, levando em conta as características, especificidades e a diversi-
dade da juventude, além da tarefa de integrar programas e ações do go-
verno federal. Dos textos governamentais que justificam sua criação e
delineiam sua atividade, algumas características podem ser claramente
percebidas: i) um entendimento meramente geracional das juventudes;
ii) um visão estereotipada de jovem, majoritariamente identificado com
as empobrecidas periferias urbanas, e, neste sentido, mais propenso a
transgressões, ilegalidades e marginalidades.
Em vista disso, a tônica dos programas e ações propostas são de
natureza funcionalista-utilitarista, baseadas no onipresente argumento
da inclusão (ainda que não se explique muito o que seja isso12) e da

12. No âmbito das políticas públicas, o que significa exatamente incluir? Que tipo de inclu-
são social é desejada? E incluir em que dimensões ou âmbitos da sociedade? Se é neces-
sário “incluir”, quem promoveu/promove a “exclusão”? Esses agentes de exclusão não
devem combatidos? Essas e outras perguntas são solenemente ignoradas, escondidas
sob o argumento da “responsabilidade social”, transformada na panacéia que associa
governo e iniciativa privada para resolver os males que a própria sociedade produz.

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necessidade de geração de renda para os jovens. Isso leva à sugestão


de que manifestações autênticas de lazer das culturas juvenis, como a
música, a dança, as artes populares, possam ser apropriadas e ressigni-
ficadas pelos agentes das políticas públicas, solapando delas elementos
fundantes do lazer, como espontaneidade, gratuidade e desinteresse,
etc. - podemos identificar aqui manifestações da indústria cultural, que
expressa a fusão de interesses e poderes invisíveis, operando em con-
junto, para controlar e conformar a subjetividade humana à raciona-
lidade técnica, para a qual tudo se homogeneiza e a cultura torna-se,
cada vez mais, apenas produto-mercadoria. Ao discurso midiático so-
bre/para as juventudes, cabe dar-lhes visibilidade e prover de senti-
dos/significados os “semilazeres” (DUMAZEDIER, 1980, p. 109) que
passam a povoar os cotidianos juvenis.
Embora de iniciativa do governo federal, como políticas nacionais,
as ações destes programas são operacionalizadas nos estados e municí-
pios e, de forma mais evidente, nas comunidades e grupos sociais. Assim,
deveria ser do escopo da Educação Física, para além de, através das suas
sociedades científicas, garantir espaços de representação nos conselhos e
organismos nacionais de definição das políticas (de Juventude, de Esporte
e Lazer, de Saúde, etc.), também atuar no âmbito das ações propriamente
ditas, integrando-se às equipes operacionais, a fim de promover a discus-
são e implementação de outras formas e manifestações de lazer, não sobre/
para as juventudes, mas a partir das próprias culturas juvenis.
Por fim, entendemos que o estudo deixa evidente motivos que jus-
tificariam a tematização das relações entre juventudes, lazer e mídia no
âmbito da escola, especialmente a pública, que, como instância da prática
social emancipadora, parece ser um dos poucos espaços ainda existen-
tes para a reflexão e ação crítica sobre as diversas formas de opressão e
controle social sobre as juventudes. Desta perspectiva, apontamos duas
possibilidades de intervenção pedagógica interdisciplinar, com a par-
ticipação do componente curricular Educação Física, especialmente no
ensino médio, que entendemos possam ser organizadas e desenvolvidas
imbricadas uma à outra: i) educação para o lazer; ii) educação para a mídia.
Em relação à primeira proposição, resgatamos o duplo caráter educa-
tivo do lazer, como meio e objeto de ensino-aprendizagem, conforme nos
indica Nelson Marcellino (citado por PIRES, MATIELLO Jr; GONÇAL-
VES, 1999). A concepção que enfatiza o lazer como veículo de educação

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deve ser percebida, sobretudo, como uma educação enquanto lazer, isto
é, pela implementação de práticas educativas que resultem em constan-
te “exposição” dos alunos a experiências lúdicas, para que o processo
ensino-aprendizagem se dê através de valores significativos ao lazer,
como espontaneidade, criatividade, descoberta. No que se refere ao
aspecto educativo do lazer como objeto da educação, utilizando-se de
comparação relacionada aos interesses culturais artísticos do lazer (em
que a aprendizagem planejada é condição para apreciação e fruição
estética das diferentes manifestações das artes), as reflexões do autor
apontam que a educação para o lazer, em seus diferentes interesses cultu-
rais, pode e deve constituir eixo interdisciplinar articulador para a sis-
tematização de vivências culturais melhor elaboradas, que possibilitem
o desenvolvimento pessoal e social dos alunos-cidadãos.
A educação para a mídia (ou mídia-educação), uma proposta pedagógica
emergente no campo educacional e ainda incipiente na Educação Física,
parte do reconhecimento da importância e competência da mídia na cons-
tituição das relações socioculturais, especialmente de crianças e jovens, e
na conformação de discursos (midiáticos) sobre diferentes áreas do conhe-
cimento que, através da sua transposição didática, tornam-se presentes
nos conteúdos dos diferentes componentes curriculares. Por isso, torna-se
relevante que a escola, ao tematizar a mídia em ações pedagógicas pre-
ferencialmente interdisciplinares, também perceba-a em um duplo papel
educativo, tomando-a como ferramenta e como objeto de estudo, prefe-
rencialmente num processo que integre essas duas dimensões, através da
produção midiática no âmbito escolar (ver, p. ex., BELLONI, 2001). Na
Educação Física, entre outras iniciativas nesta direção, podemos sugerir
o que vimos tentando produzir no Grupo de Estudos Observatório da Mí-
dia Esportiva/UFSC, em cuja página eletrônica encontra-se disponível a
maior parte dos textos publicados (www.labomidia.ufsc.br).
Como se vê, ambas as propostas aqui expressas apresentam uma
dualidade de intenções pedagógicas (meio e objeto), que são melhor
alcançadas quando desenvolvidas de forma articulada (ação). Da mes-
ma forma, entendemos que, na formação de jovens em âmbito escolar,
é possível integrar educação para o lazer e educação para a mídia pela ação
pedagógica, associando os valores do lazer às experiências lúdicas com a
tecnologia, visando superar concepções funcionalistas e ingênuas, tanto
em relação ao lazer quanto à mídia, e contribuir, assim, para o esclareci-
mento e a autonomia das juventudes na sociedade contemporânea.

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