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CONCRETO ARMADO I - CAPÍTULO 2

Departamento de Engenharia de Estruturas – EE-UFMG

Fevereiro 2015

FLEXÃO NORMAL SIMPLES


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2.1 - Introdução

Dentre os esforços solicitantes (entes mecânicos aferidos ao centro geométri-


co da seção transversal, obtidos pela integração conveniente das tensões nesta se-
ção) o momento fletor M, é em condições normais, o esforço preponderante no di-
mensionamento de peças estruturais como lajes e vigas.

Quando o momento fletor atua segundo um plano que contenha um dos ei-
xos principais da seção transversal, a flexão é dita normal. Se este momento atua
isoladamente tem-se a flexão normal simples. Se simultaneamente atua uma força
normal N a flexão é dita normal composta. Quando o momento atuante têm com-
ponentes nos dois eixos principais da seção transversal a flexão é dita oblíqua e se
acompanhada de força normal é dita oblíqua composta.

Normalmente o momento fletor atua em conjunto com a força cortante V, po-


dendo, no entanto em situações especiais, ser o único esforço solicitante. Nesse
caso tem-se a flexão pura, situação ilustrada na figura 2.2, no trecho entre as car-
gas simétricas P, quando se despreza o peso próprio da viga.

Segundo o item 16.1 da NBR 6118:2014, o objetivo do dimensionamento, da


verificação e do detalhamento é garantir segurança em relação aos estados limites
último (ELU) e de serviço (ELS) da estrutura como um todo ou de cada uma de suas
partes. Essa segurança exige que sejam respeitadas condições analíticas do tipo:
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Sd  Rd (MSd  MRd) (2.1)

Onde Sd é a solicitação externa de cálculo e Rd é a resistência interna de cálculo.

Como a solicitação estudada é o momento fletor a equação 2.1 no seu se-


gundo termo (entre parênteses) foi adaptada para o momento externo solicitante de
cálculo (MSd) ser menor ou igual ao momento interno resistente de cálculo (MRd),
mostrados na figura 2.1 .

Figura 2.1 – Esforços solicitantes externos e internos na seção transversal

Na figura 2.1, a seção transversal retangular de uma viga é mostrada a es-


querda e parte da vista lateral é mostrada a direita onde estão concentrados em seu
centro geométrico (CG) os esforços externos solicitantes NSd e MSd. Como é flexão
simples a força normal solicitante é igual à zero. Por equilíbrio as resultantes inter-
nas de compressão no concreto Rcc e de tração no aço Rst são iguais. A resultante
no concreto é obtida pela integração das tensões normais de compressão do con-
creto (σc) na área com hachuras da seção transversal, definida pela profundidade x
da linha neutra (LN). A resultante no aço é obtida pelo produto da área de aço As
(steel) pela tensão de tração no aço σs.

Para garantir a segurança o momento externo solicitante de cálculo MSd tem


de ser menor ou igual ao momento interno resistente de cálculo MRd, que conforme

2.2
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a figura 2.1 é dado pelo binário (duas forças iguais, paralelas e de sentidos opostos
separadas por uma distância, o braço de alavanca z) interno resistente MRd:

MSd ≤ MRd = Rcc . z = Rst . z (2.2)

Quanto ao comportamento resistente à flexão pura, sabe-se que sendo o


concreto um material bem menos resistente à tração do que à compressão, tão logo
a barra seja submetida a um momento fletor capaz de produzir tensões de tração
superiores àquelas que o concreto pode suportar, surgem fissuras de flexão, trans-
versais ao eixo da barra, próximas ao centro da viga e fissuras inclinadas próximas
aos apoios, conforme mostrado na figura 2.2. As primeiras são devidas ao momento
fletor, maior no centro, e as últimas devido ao cisalhamento, maior nos apoios.

Figura 2.2 – Fissuras de flexão

Caso não existisse as armaduras de flexão e de cisalhamento estas fissuras


provocariam a ruptura total da viga. Os esforços internos de tração são transmitidos
às armaduras por meio da aderência aço-concreto. É como se as armaduras “cos-

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turassem” as fissuras, conforme esquematicamente mostrado na figura 2.2, o que


impede que as mesmas cresçam indefinidamente. Conforme será visto adiante no
capítulo referente à fissuração, a abertura e o controle dessas fissuras dependerão
substancialmente das características e do detalhamento final da armadura de flexão.

A ruína de uma peça à flexão é um fenômeno de difícil caracterização, devido


basicamente à complexidade envolvida no funcionamento conjunto aço-concreto.
Portanto para que esta tarefa seja possível convenciona-se que a ruína de uma
seção à flexão é alcançada quando, pelo aumento da solicitação, é atingida a ruptu-
ra do concreto à compressão ou da armadura à tração.

2.2 – Solicitações normais

Por solicitação normal entende-se toda solicitação que produza na seção


transversal tensões normais. Neste grupo estão naturalmente a força normal, o mo-
mento fletor ou ambos atuando simultaneamente.

A ruptura do concreto à compressão é considerada atribuindo-se de forma


convencional encurtamentos últimos para o concreto. Para seções parcialmente
comprimidas, admite-se que a mesma ocorra quando o concreto atinge na sua fibra
mais comprimida o encurtamento limite último cu, ver equações (1.9b) e (1.9c). Para
seções totalmente comprimidas o encurtamento máximo da fibra mais comprimida
varia de c2 a cu (ver hipóteses básicas adiante).

Para o aço admite-se que a ruptura à tração ocorra quando se atinge um a-


longamento limite último su = 10 ‰. O alongamento máximo de 10 ‰ deve-se a
uma limitação da fissuração no concreto que envolve a armadura e não ao alonga-
mento real de ruptura do aço, que é bem superior a este valor.

Atinge-se, então, o estado limite último - ELU, correspondente a ruptura do


concreto comprimido ou a deformação plástica excessiva da armadura. O momento

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fletor solicitante de cálculo MSd é o momento de ruptura, enquanto o momento de


serviço será o de ruptura dividido pelo coeficiente de ponderação das ações f, ou
seja:

M Sd
M serv  (2.3)
γf

2.2.1 – Hipóteses básicas e domínios de deformação

Conforme o item 17.2 da NBR 6118:2014, na análise dos esforços resistentes


de uma seção de viga ou pilar, devem ser consideradas as seguintes hipóteses bá-
sicas:

1 As seções transversais se mantêm planas após a deformação, os vários casos


possíveis são ilustrados na figura 2.3 (como consequência a deformação em um
ponto é proporcional a sua distância a linha neutra);
2 a deformação das barras passivas aderentes em tração ou compressão deve ser
a mesma do concreto em seu entorno (perfeita aderência aço-concreto);
3 as tensões de tração no concreto, normais à seção transversal, devem ser des-
prezadas no ELU (resistência nula do concreto à tração);
4 Para o encurtamento de ruptura do concreto nas seções parcialmente compri-
midas considera-se o valor convencional de εcu (domínios 3, 4 e 4a da figura
2.3). Nas seções inteiramente comprimidas (domínio 5) admite-se que o encur-
tamento da borda mais comprimida, na ocasião da ruptura, varie de εcu a εc2,
mantendo-se inalterado e igual a εc2 a deformação a uma distância, a partir da
borda mais comprimida, a ser discutida adiante (ver figura 2.3);
5 Para o alongamento máximo de ruptura do aço considera-se o valor convencio-
nal de 10 ‰ (domínios 1 e 2 da figura 2.3) a fim de prevenir deformação plástica
excessiva;
6 A distribuição das tensões do concreto na seção se faz de acordo com o diagra-
ma parábola-retângulo da figura 2.4c, já definido na figura 1.2, com a tensão de
pico igual a fc=0,85fcd (ver tabela 1.11). Permite-se a substituição deste por um

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diagrama retangular simplificado de altura y = λx (figura 2.4d), onde o parâmetro


λ pode ser tomado igual a:

λ = 0,8 para fck ≤ 50 MPa


(2.4)
λ = 0,8 - ( fck – 50 ) / 400 para fck > 50 MPa

Onde a tensão constante atuante até a profundidade y pode ser tomada igual a:

αcfcd quando a largura da seção, medida paralelamente à LN,


não diminuir a partir desta para a borda mais comprimida;
(2.5a)
0,9 αcfcd no caso contrário.

Sendo αc definido como:

αc = 0,85 para fck ≤ 50 MPa


(2.5b)
αc = 0,85 [1,0 – (fck – 50) / 200] para fck > 50 MPa

As diferenças de resultados obtidos com estes dois diagramas são pequenas e


aceitáveis, sem necessidade de coeficiente de correção adicional.

7 A tensão nas armaduras deve ser obtida a partir das suas deformações usando
os diagramas tensão-deformação, com seus valores de cálculo.

Na figura 2.4b mostra-se o diagrama de deformações para o ELU do concreto


com seção parcialmente comprimida. Se a deformação de ruptura do concreto εcu
corresponde à profundidade X, para uma deformação igual a εc2, por regra de três
simples, determina-se a distância ac2 = [(εcu - εc2) / εcu] X (ver figura 2.4d). O diagra-
ma de tensões parábola-retângulo fica dividido em dois trechos com alturas ac2 no
trecho parabólico e (X - ac2) no trecho com tensões constantes. A resultante total de

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compressão no concreto Rcc é a soma das resultantes Rcc1 e Rcc2, dos trechos com
tensões constante e parabólico respectivamente.

Conforme a hipótese básica 6, para o diagrama parábola-retângulo, a tensão


constante é sempre igual a fc=0,85fcd. Considerando-se concretos do grupo I (até
classe C50) em que εcu = 3,5‰ e εc2 = 2‰ a distância ac2 = (4 / 7) X e a do trecho
constante (X – ac2) = (3 / 7) X. Para esta situação as resultantes Rcc1 e Rcc2 ficam:

3 9
R cc1  f c b X  f c bX
7 21
17
R cc  f c bX  0,809fc bX
21
2 4 8
R cc2  fcb X  f c bX
3 7 21

Na resultante Rcc2 o valor (2/3) resulta da integração da parábola do segundo


grau (fck ≤ 50 MPa) σc no retângulo de largura b e altura ac2 = (4 / 7) X.

As resultantes totais Rcc das figuras 2.4c e 2.4d serão equivalentes se adicional-
mente, as distâncias Z até a LN nos dois casos forem as mesmas. Na figura 2.4c, o
equilíbrio exige que:

Rcc1 Z1 + Rcc2 Z2 = Rcc Z

1 4  11 R cc1 Z 1  R cc2 Z 2 139


Z1   X  X  X Z  X  0,584X
2 7  14 R cc 238

5 54 5
Z2  a c2  X X
8 87 14

2.7
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O valor (5/8) em Z2 resulta do ponto de aplicação da resultante do diagrama


parabólico (segundo grau para fck ≤ 50 MPa) para as tensões no concreto.

Os valores 0,809 e 0,584 são aproximadamente iguais aos valores 0,8 e 0,6, que
representam respectivamente a altura do diagrama retangular e do ponto de aplica-
ção da resultante da figura 2.4d, diagrama retangular simplificado, quando fck ≤ 50
MPa.

Na figura 2.3 a armadura tracionada ou menos comprimida é As e a mais


comprimida ou menos tracionada é A’s. A profundidade da linha neutra x é conside-
rada positiva da borda mais comprimida para baixo. A seção transversal mostrada a
esquerda é a representada na vista lateral a direita, onde os alongamentos são mar-
cados do seu lado esquerdo e os encurtamentos do lado direito.

Figura 2.3 – Domínios de deformação da NBR 6118:2014

2.8
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Figura 2.4 – Diagramas tensão-deformação para o concreto

Figura 2.5 – Valores de fc para o diagrama σxε retangular simplificado

Para a construção da figura 2.3 a seção transversal sem deformações, por-


tanto sem solicitação é inicialmente tracionada pelo seu centro geométrico produzin-
do tração uniforme. Nesta situação a seção solicitada desloca-se verticalmente para
a esquerda (alongamento) e como o concreto não resiste à tração (hipótese básica

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3) a única possibilidade de se ter um estado limite último é tracionar igualmente as


duas armaduras com a deformação última do aço εsu=10‰ (hipótese básica 5). Com
isto a seção transversal é deslocada para a reta “a”, ou reta da tração centrada,
onde devem ser dimensionados os tirantes (peças preponderantemente solicitadas à
tração) sem momentos. Caso as armaduras não sejam simétricas haverá momento
fletor.

O domínio 1 de deformações começa na reta “a” quando a seção solicitada


é paralela à seção sem solicitação com ambas cruzando-se no infinito, onde a pro-
fundidade da linha neutra é x = - ∞(para cima). Continuando a solicitação da seção a
partir da reta “a”, pode-se dar uma pequena excentricidade da força normal de tra-
ção produzindo uma flexo-tração com alongamento maior na armadura As (mais tra-
cionada). Para que se tenha um estado limite último o alongamento nesta armadura
é εsu=10‰ representado pelo ponto A.

Girando-se em torno deste ponto, o domínio 1 abrange todas as solicitações


desde esta reta, onde x = - ∞ , até quando a linha neutra atingir a profundidade nula,
x=0. Neste domínio a seção está inteiramente tracionada com solicitações variando
desde a tração centrada até flexo-tração (tração não uniforme) sem compressão.

O domínio 2 é caracterizado também pelo ELU correspondente à deforma-


ção plástica excessiva do aço (ponto A), agora com a seção transversal parcialmen-
te comprimida até que simultaneamente seja atendido o ELU para a ruptura do con-
creto à compressão, neste caso, com εc = εcu. As solicitações possíveis neste domí-
nio são de flexo-tração com excentricidades maiores que as do domínio 2, flexão
simples pois tem-se simultaneamente resultantes de compressão (concreto) e de
tração (aço), e flexo-compressão com excentricidades pequenas, sem ruptura à
compressão do concreto, ou seja, εc ≤ εcu.

A profundidade da LN varia desde X=0 até a profundidade limite X=X2L que


por semelhança de triângulos na figura 2.6 resulta:

2.10
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εcu εcu  10


 (2.6)
X2L d

3,5
X2L  d  0,259d para concretos de classes até C50 (2.6a)
3,5  10

εcu
X2L  d para concretos de classes C55 até C90 (2.6b)
εcu  10

Onde d é altura útil da seção, distância da borda mais comprimida da seção


até o centro da armadura mais tracionada As e εcu é o encurtamento de ruptura do
concreto, dado nas equações (1.9a) e (1.9b).

Por simplicidade os valores ‰ foram suprimidos da equação (2.6a). Nesta


equação tem-se o valor absoluto da profundidade X2L, que não depende do tipo de
aço usado, mas do grupo do concreto. Em muitos casos é conveniente usar o valor
relativo da profundidade limite do domínio 2, um valor adimensional dado por:

Figura 2.6 – Profundidade limite do domínio 2 (X2L)

X 2L
ξ 2L   0,259 p/ concretos de classes até C50 (2.7a)
d
2.11
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εcu
ξ 2L  p/ concretos de classes C55 até C90 (2.7b)
εcu  10

A partir do X2L não se pode mais girar a seção pelo ponto A, o que produziria
deformações superiores à εcu no concreto. Portanto a parir deste ponto a seção deve
girar pelo ponto B, desde a deformação εsu até a deformação εyd, correspondente a
tensão de escoamento de cálculo do aço. Este domínio particular de deformação é o
domínio 3 da figura 2.3, caracterizado basicamente pela flexão simples (seções
subarmadas) e flexo-compressão com ruptura à compressão do concreto e com o
escoamento da armadura As. A linha neutra varia desde a profundidade limite do
domínio 2 até ao valor limite do domínio 3, X3L (figura 2.7).

Como as deformações do aço neste domínio estão no intervalo εyd ≤ εs ≤10‰,


a tensão na armadura As é constante e igual a fyd (figura 1.4). Na figura 2.7 o valor
X3L também é obtido por semelhança de triângulos resultando:

ε cu ε  ε yd 
 cu (2.8)
X 3L d

X 3L 3,5
ξ 3L   p/ concretos de classes até C50 (2.9a)
d 3,5  ε yd

ε cu
ξ 3L  p/ concretos de classes C55 até C90 (2.9b)
ε cu  ε yd

Nota-se nas equações 2.8 e 2.9 que as profundidades absoluta e relativa limi-
tes do domínio 3 dependem do tipo de aço usado e do grupo do concreto. Esses
valores estão apresentados na tabela 2.1.

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Figura 2.7 – Profundidade limite do domínio 3 (X3L)

Tabela 2.1 – Valores limites de ε para o concreto e ξL para os domínios

Deformações limites do concreto e profundidades relativas dos domínios 2 e 3


ξ3L
εc2 εcu
CLASSE ξ2L CA 25 CA 50 CA 60
‰ ‰
εyd=1,035‰ εyd=2,070‰ εyd=2,484‰
Até C50 2,000 3,500 0,259 0,772 0,628 0,585
C55 2,199 3,125 0,238 0,752 0,602 0,557
C60 2,288 2,884 0,224 0,736 0,582 0,537
C65 2,357 2,737 0,215 0,726 0,569 0,524
C70 2,416 2,656 0,210 0,720 0,562 0,517
C75 2,468 2,618 0,207 0,717 0,558 0,513
C80 2,516 2,604 0,207 0,716 0,557 0,512
C85 2,559 2,600 0,206 0,715 0,557 0,511
C90 2,600 2,600 0,206 0,715 0,557 0,511

2.13
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No domínio 4 a seção continua girando em torno do ponto B desde a posição


final do domínio 3 até que a deformação na armadura As seja nula. Embora possível,
neste domínio o dimensionamento à flexão simples (seções superarmadas) deve ser
evitado por questões econômicas, como será visto mais adiante. A armadura As tra-
balha com uma tensão de tração menor ou igual a fyd, não aproveitando de forma
racional o material constituinte mais caro do concreto armado. Portanto a solicitação
preponderante deste domínio é a flexo-compressão.

A profundidade limite deste domínio é X4L=d, ficando a profundidade relativa


ξ 4L = 1.

Ainda pode-se girar em torno do ponto B até que seção tenha deformação
nula na fibra inferior mais tracionada. Isto caracteriza um domínio de deformação
muito pequeno que recebe um nome secundário de domínio 4a, caracterizado pela
flexo-compressão com armaduras comprimidas. A linha neutra varia de d até a altura
total da peça h.

Se continuasse a girar em torno do ponto B a seção transversal estaria intei-


ramente comprimida e nesta situação o encurtamento na fibra a [(εcu – εc2) / εcu] h
da borda mais comprimida seria maior que εc2, o que contraria a hipótese básica 4,
ou seja em peças inteiramente comprimidas o encurtamento da fibra mais comprimi-
da varia de εcu a εc2, desde que a [(εcu – εc2) / εcu] h desta borda o encurtamento seja
constante e igual a εc2 (figura 2.8). Isto significa que no domínio 5 a seção gira em
torno do ponto C. Este domínio caracteriza-se por peças submetidas à flexo-
compressão com as armaduras comprimidas, até a compressão centrada (reta b).

A figura 2.8 representa a situação de deformação correspondente aos limites


entre o final do domínio 4a e o início do domínio 5. Nesta situação onde X = h, a dis-
tância a0-2 é obtida por regra de três simples resultando:

ε cu ε
 c2 (2.10a)
h a 02

2.14
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4 3
a 0 2  h  a 2 u  h p/ concretos de classe até C50 (2.10b)
7 7
εc2
a0  2  h  a 2  u  h  a0  2 p/ concretos de classe C55 até C90 (2.10c)
εcu

Figura 2.8 – Início do domínio 5 - Localização do ponto C

Naturamente neste domínio a flexão simples não é possível, sendo o mesmo


caracterizado pela flexo-compressão com excentricidades maiores e capazes de
comprimir inteiramente a seção transversal. Este domínio vai desde a situação mos-
trada na figura 2.8 até a reta “b”, da compressão centrada, onde a profundidade
limite da LN é X5L = + ∞.

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2.3 - Seções subarmada, normalmente armada e superarmada

No caso particular da flexão simples, dos cinco domínios existentes ficam eli-
minados os de número 1 (seção totalmente tracionada), 4a e 5 (seção totalmente
comprimida), restando pois os domínios possíveis 2,3 e 4.

Os domínios 2 e 3 correspondem ao que se denomina seção subarmada on-


de a armadura escoa antes da ruptura do concreto à compressão, sd  yd, com a
armadura tracionada trabalhando com a máxima tensão de cálculo, fyd. O domínio 4
corresponde ao que se denomina seção superarmada, onde o concreto atinge o
encurtamento convencional de ruptura εcu antes da armadura escoar, sd < yd, com
a armadura tracionada trabalhando com tensões inferiores a fyd.

Costuma-se chamar normalmente armada uma seção que funciona no limite


entre as duas situações acima, isto é, na qual, teoricamente, o encurtamento último
convencional do concreto comprimido e a deformação de escoamento do aço ocor-
ram simultaneamente. Na figura 2.3 a situação de peças normalmente armadas o-
corre no limite entre os domínios 3 e 4.

Segundo o professor Tepedino, J. M. (1980) em suas apostilas de notas de


aula, “em princípio, não há inconveniente técnico na superarmação, a não ser, tal-
vez, alguma deformação excessiva por flexão, fato que pode ser prevenido. No en-
tanto, a superarmação é antieconômica, pelo mau aproveitamento da resistência do
aço. Por isto mesmo, sempre que possível, devem-se projetar seções subarmadas
ou normalmente armadas, sendo a mesma desaconselhável pela NBR 6118”.

A NBR 6118:2014 prescreve no item 14.6.4.3 limites para redistribuição de


momentos e condições de dutilidade:

“A capacidade de rotação dos elementos estruturais é função da posição da linha


neutra no ELU. Quanto menor é x/d, tanto maior será essa capacidade.

2.16
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Para proporcionar o adequado comportamento dútil em vigas e lajes, a posição da


linha neutra no ELU deve obedecer aos seguintes limites:

a) x/d  0,45 para concretos com fck  50 MPa; ou (2.11a)

b) x/d  0,35 para concretos com 50 MPa < fck ≤ 90 MPa; (2.11b)

Esses limites podem ser alterados se forem utilizados detalhes especiais de armadu-
ras, como, por exemplo, os que produzem confinamento nessas regiões.”

E no item 17.2.3, dutilidade de vigas:

“Nas vigas é necessário garantir boas condições de dutilidade respeitando os limites


de posição da linha neutra (x/d) dados em 14.6.4.3, sendo adotada, se necessário,
armadura de compressão.

A introdução da armadura de compressão para garantir o atendimento de valores


menores da posição da linha neutra x, que estejam nos domínios 2 ou 3, não conduz
a elementos estruturais com ruptura frágil. A ruptura frágil está associada a posições
da linha neutra no domínio 4, com ou sem armadura de compressão.”

Analisando-se a tabela 2.1 construída para concretos de classes C20 até C90
e os valores limites de (x/d) dados acima, para garantir o adequado comportamento
dútil, nota-se que para os três tipos de aços usados estas profundidades relativas
limites são maiores que os valores ξ2L e menores que os valores ξ3L da tabela. De
agora em diante os valores relativos limites serão ξL = (x/d)L = 0,45 para concretos
com fck ≤ 50 MPa e ξL = (x/d)L = 0,35 para concretos com 50 MPa < fck ≤ 90 MPa e
tanto um quanto outro estão localizados no domínio 3.

2.17
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2.4 - Seção retangular submetida à flexão simples

Segundo Tepedino (1980) “no caso da seção retangular, pode-se, sem erro
considerável e obtendo-se grande simplificação, adotar, para os domínios 2 e 3 (se-
ção subarmada ou normalmente armada), o diagrama retangular para as tensões no
concreto, permitido pela NBR 6118”, representado na figura 2.4d.

Figura 2.9 – Seção retangular submetida à flexão simples

Na figura 2.9 tem-se:


 b – largura da seção retangular (na NBR 6118:2014 é dado por bw)
 h – altura total da seção retangular
 d – altura útil da seçã transversal (profundidade da armadura As)
 d’ – profundidade da armadura A’s (borda mais comprimida até o CG de A’s)
 x – profundidade da linha neutra para o diagrama σxε parábola-retângulo
 y – profundidade da linha neutra para o diagrama σxε retangular
 z – braço de alavanca do binário interno resistido pelo concreto (distância en-
tre Rcc e Rst)
 λ – parâmetro de redução da altura do diagrama retangular simplificado, dado
nas equações (2.4)
 αc – parâmetro de redução da resistência do concreto na compressão, dado
nas equações (2.5)
2.18
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 Rcc – resultante interna de compressão no concreto


 Rst – resultante interna de tração na armadura As
 R’sd – resultante interna de compressão na armadura A’s
 Md - momento externo solicitante de cálculo (até agora dado por MSd)

A armadura tracionada As é racionalmente dimensionada na flexão simples


quando trabalha com a máxima tensão possível sd = fyd, ou seja, apenas nos domí-
nios 2 e 3, onde a profundidade relativa da linha neutra ( ξ =x/d) é menor ou igual à
profundidade relativa limite do domínio 3 ( ξ 3L). Atendendo esta premissa básica do
dimensionamento à flexão, a resultante de tração Rst deve ser obtida pelo produto
da área As (incógnita) pela tensão σs = fyd, conforme mostrado na figura 2.9.

Conforme a figura 2.9 a tensão do concreto no diagrama retangular deve ser


fc = αc fcd = 0,85 fcd (para concretos de classe até C50), pois a seção dimensionada
é retangular, equações (2.5a) e (2.5b). Ainda de acordo com esta figura pode-se es-
crever duas equações de equilíbrio: o somatório de momentos é nulo em relação ao
ponto de aplicação de As (equação 2.12) e o somatório de forças horizontais é nulo
(equação 2.13).

 y

M d  f c by  d    A 's σ 'sd d  d '  (2.12)
 2

N d  0  f c by  A 's σ 'sd - A s f yd (2.13)

Onde: fcby = Rcc; A’sσ’sd = R’sd; Asfyd = Rst; (d-y/2) = z.

Na equação (2.12) os três termos representam momentos, o primeiro o mo-


mento fletor externo solicitante de cálculo e os dois da direita, momentos fletores
internos resistentes de cálculo devidos à resultante de compressão do concreto e à
resultante de compressão na armadura A’s, respectivamente. Ao dividir os termos
desta equação de equilíbrio por outro que tem a mesma dimensão de um momento,

2.19
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___________________________________________________________________________

por exemplo, (fc b d2), obtém-se uma nova equação de equilíbrio em termos adimen-
sionais, que depois das simplificações é dada por:

A' s σ' sd  d' 


K  K'  1   (2.14)
f c bd  d
Onde:
Md
K (2.15)
f c bd 2
é o parâmetro adimensional que mede a intensidade do momento fletor externo soli-
citante de cálculo;

 y
fcby  d  
 2 y  y   α
K'   1    α 1   (2.16)
fcbd 2
d 2d   2

é o parâmetro adimensional que mede a intensidade do momento fletor interno resis-


tente de cálculo, devido ao concreto comprimido.

O terceiro termo de (2.14) é também adimensional e mede a intensidade do


momento fletor interno resistente de cálculo, devido à armadura A’s comprimida.

Na equação (2.16),  é o valor da profundidade relativa da linha neutra refe-


rente ao diagrama retangular simplificado de tensões no concreto, dada por:

y λX
α   λξ (2.17)
d d

A equação (2.16) representa uma equação do segundo grau em  e, portanto


conforme (2.17) em função da incógnita x (profundidade da linha neutra), que depois
de resolvida fornece entre as duas raízes do problema, o seguinte valor possível:

α  1  1  2K' (2.18)

2.20
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___________________________________________________________________________

A raiz com o sinal positivo foi descartada uma vez que o seu valor máximo ou
limite, para qualquer classe de concreto, é igual a αmax = λmax (x/d)L,max = λmax ξ L,max
= 0,8 x 0,45 = 0,36 < 1.

Da equação (2.14), multiplicando-se e dividindo-se o último termo simultane-


amente por fyd, obtém-se a expressão para o cálculo da armadura comprimida A’s:

f c bd K  K'
A' s  φ (2.19)
f yd d'
1
d

Onde φ representa o nível de tensão na armadura comprimida, que é sempre


menor ou igual a 1, dada por:

σ 'sd
φ 1 (2.20)
f yd

A partir da equação de equilíbrio (2.13) determina-se a armadura de tração As


dada por:

f c by A' s σ' sd
As   (2.21)
f yd f yd

Multiplicando-se e dividindo-se simultaneamente o segundo termo de (2.21)


por d e substituindo a relação (’sd / fyd) do terceiro termo pela equação (2.20), ob-
tém-se:

f c bd y
As   A' s φ (2.22)
f yd d

2.21
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___________________________________________________________________________

Substituindo-se as equações (2.17), (2.18) e (2.19) na equação (2.22) obtém-


se:

As = As1 + As2 (2.23)

com

A s1 
f c bd
f yd
f bd
α c
f yd

1  1  2K'  (2.24)

fcbd K  K'
A s2  A' s φ  (2.25)
f yd 1  d'
d

Normalmente calcula-se primeiramente a armadura As. Caso a parcela As2


seja diferente de zero, calcula-se a armadura comprimida A’s, segundo (2.25), dada
por:

A s2
A' s  (2.26)
φ

2.4.1 – Seções com armaduras simples e dupla

A armadura de compressão A’s nem sempre é necessária para equilibrar o


momento externo solicitante Md (representado adimensionalmente por K), que nesse
caso será equilibrado internamente apenas pelo momento devido ao concreto com-
primido (representado adimensionalmente por K’). A única possibilidade matemática
de se ter armadura A’s nula e conseqüentemente também As2, é fazer em (2.19) ou
em (2.25), K’ = K. Essa igualdade tem uma explicação física coerente com a situa-
ção de armadura simples (sem armadura de compressão). Quando o momento ex-
terno Md (K), for equilibrado apenas pelo momento interno devido ao concreto com-

2.22
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___________________________________________________________________________

primido (K’), tem-se fisicamente K = K’, não sendo necessária portanto, armadura
de compressão A’s.

Conforme visto anteriormente na equação (2.9), a máxima profundidade rela-


tiva da linha neutra para se ter seção subarmada ou normalmente armada é a cor-
respondente ao limite do domínio 3. Com esta profundidade limite obtém-se o máxi-
mo momento interno resistente devido ao concreto K’L (sem necessidade de A’s),
que deve ser equilibrado pelo momento externo limite KL. Para essa situação limite,
a partir da equação (2.16), obtém-se:

 α 
K L  K 'L  α L  1 - L  (2.27)
 2 
Com
y x
α L     λ    λξ 3L (2.28)
 d L  d L

O valor de αL em (2.28) é função de 3L que depende do tipo de aço empre-


gado. Segundo a NBR 6118:2014, item 14.6.4.3, os valores limites L=0,45 ou
L=0,35 para proporcionar o adequado comportamento dútil, “podem ser alterados
se forem utilizados detalhes especiais de armaduras, como por exemplo, os que
produzem confinamento nessas regiões”. Este confinamento da região comprimida
da seção transversal pode ser obtido com os próprios estribos (armadura transversal
de combate ao cisalhamento) ou adicionalmente com estribos menores e menos es-
paçados cofinando apenas a área comprimida da seção transversal, Delalibera
(2002). Os valores alterados de αL e KL, sem o adequado comportamento dútil, para
os três tipos de aços usados estão listados na tabela 2.2.

2.23
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___________________________________________________________________________

Tabela 2.2 – Valores de KL SEM o adequado comportamento dútil


(x/d)L = (x/d)3L
KL
CLASSE λ
CA 25 CA 50 CA 60
Até C50 0,8000 0,427 0,376 0,358
C55 0,7875 0,417 0,362 0,342
C60 0,7750 0,408 0,349 0,330
C65 0,7625 0,400 0,340 0,320
C70 0,7500 0,394 0,333 0,313
C75 0,7375 0,389 0,327 0,307
C80 0,7250 0,384 0,322 0,302
C85 0,7125 0,380 0,318 0,298
C90 0,7000 0,375 0,314 0,294

Tabela 2.3 – Valores de KL COM o adequado comportamento dútil

CLASSE λ ξL= (x/d)L αL= λ(x/d)L KL= αL(1- αL/2)

Até C50 0,8000 0,45 0,360 0,295


C55 0,7875 0,35 0,276 0,238
C60 0,7750 0,35 0,271 0,234
C65 0,7625 0,35 0,267 0,231
C70 0,7500 0,35 0,263 0,228
C75 0,7375 0,35 0,258 0,225
C80 0,7250 0,35 0,254 0,222
C85 0,7125 0,35 0,249 0,218
C90 0,7000 0,35 0,245 0,215

2.24
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___________________________________________________________________________

Na tabela 2.3 estão listados os valores de αL e KL, com o adequado compor-


tamento dútil, que dependem apenas do valor da resistência fck do concreto. Estes
serão os valores considerados nesta apostila.

A seção normalmente armada (x=x3L) descrita no item 2.3, resiste ao máximo


momento aplicado sem a necessidade de armadura de compressão (armadura sim-
ples), quando não se preocupa com o adequado comportamento dútil da viga. Esta
situação correspondente aos valores da tabela 2.2, não é mais possível quando se
deseja este comportamento, onde a necessidade de armadura de compressão acon-
tece para momentos aplicados menores, conforme os valores menores de KL apre-
sentados na tabela 2.3.

A partir da equação (2.15) e considerando-se os valores limites da tabela 2.3,


obtém-se:

M dL  K L f c bd 2  (2.29)

ou
Md
dL  (2.30)
K Lfcb

onde:
 MdL é o máximo momento fletor de cálculo resistido com armadura sim-
ples
 dL é a altura útil mínima necessária para resistir ao Md com armadura
simples

Caso o momento de cálculo solicitante seja maior que MdL ou ainda que a al-
tura útil seja menor que dL, o que significa em ambos os casos K > KL, torna-se ne-
cessário adicionalmente para o equilíbrio, a armadura de compressão A’s. Essa situ-
ação, com a utilização simultânea de armaduras As e A’s, caracteriza seções dimen-
sionadas à flexão simples com armadura dupla.

2.25
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___________________________________________________________________________

Conforme já citado a superarmação deve sempre ser evitada, principalmente


por ser antieconômica. Na situação de armadura dupla para os valores da tabela
2.3, caso se pretenda absorver um momento solicitante superior ao MdL apenas com
armadura de tração, isto não significa necessariamente peças superarmadas (domí-
nio 4). Já com os valores da tabela 2.2, caso a mesma situação ocorra e seja possí-
vel o equilíbrio apenas com armadura simples (só As), esta seção será obrigatoria-
mente superarmada, uma vez que os limites da tabela 2.2 referem-se ao final do
domínio 3.

Na situação de armadura dupla K > KL (Md > MdL), basta fazer nas equações
de dimensionamento à flexão em seções retangulares (2.19), (2.24) e (2.25), K’ =
KL. Esta igualdade significa fisicamente que o momento interno resistente referente
ao concreto comprimido K’ é igual ao máximo momento fletor externo de cálculo
sem necessidade de armadura de compressão, KL.

Esta parcela (Md1=MdL=KL < Md=K) do momento total será resistida pelo bi-
nário interno formado pelas resultantes do concreto (Rcc,max=fcbyL) (máxima área
comprimida do concreto) e do aço (Rst1=As1fyd). Na expressão de Rcc,max acima
yL=λXL, com λ e XL (0,45d ou 0,35d) dependendo do valor de fck. Com Md1 esgota-se
a capacidade resistente do concreto, a diferença ∆Md = Md–MdL = Md2 = K-KL, será
absorvida pelo binário interno formado pelas resultantes da segunda parcela da ar-
madura tracionada Rst2=As2fyd e da armadura comprimida R’sd = A’sσ’sd (ver figura
2.10).

Figura 2.10 – Seção retangular com armadura dupla

2.26
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___________________________________________________________________________

2.4.2 – Nível de tensão φ na armadura comprimida A’s

No cálculo da armadura comprimida A’s aparece o nível de tensão φ, equa-


ção (2.20), que normalmente vale 1, ou seja ’sd = fyd. A tensão na armadura com-
primida ’sd é função da deformação ’sd, que por sua vez depende da profundidade
relativa da linha neutra  = (x/d). Na situação de armadura dupla (onde A’s  0) esta
profundidade relativa é constante e igual ao valor L = 0,45 ou L = 0,35 dado na ta-
bela 2.3, que conforme já visto situa-se no domínio 3, onde εc,max = εcu (figura 2.10).

A deformação ’s pode ser calculada a partir da equação (2.32), retirada por
semelhança de triângulos na figura 2.10:

ε's ε
 cu (2.31)
x L  d' x L

x d'
  
x L  d'  d L d
ε's  ε cu  ε cu (2.32)
xL x
 
 d L

Caso ’s seja menor que o valor da deformação de cálculo correspondente ao


escoamento yd, a tensão ’sd é obtida pela aplicação da Lei de Hooke, ’sd = Es.’s,
o que implica em valor de φ menor que 1. Caso contrário ’sd = fyd, o que implica em
φ = 1. Fazendo-se na equação (2.32) ’s  yd obtém-se a equação (2.33) que ex-
pressa a relação (d’/d) abaixo da qual se tem φ = 1:

 d'   x   ε yd 

     1  (2.33)
 d   d  lim  ε cu 

O aço CA-25 é pouco usado no Brasil, o CA-60 é normalmente usado para


flexão em lajes, onde não se usa armadura dupla, restando, pois o aço CA-50, que é

2.27
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

o mais utilizado para flexão em vigas. Os valores das relações (d’/d) e (d/d’) que
atendem à condição φ=1 estão indicados na tabela 2.4, para os três tipos de aço.

Tabela 2.4 – Valores das relações (d’/d) e (d/d’) para se ter φ = 1

CA 25 CA 50 CA 60
εcu
CLASSE εyd = 1,035 ‰ εyd = 2,070 ‰ εyd = 2,484 ‰

(d’/d)≤ (d/d’)≥ (d’/d)≤ (d/d’)≥ (d’/d)≤ (d/d’)≥
Até C50 3,500 0,317 3,155 0,184 5,439 0,131 7,655
C55 3,125 0,234 4,272 0,118 8,460 0,072 13,929
C60 2,884 0,224 4,456 0,099 10,123 0,049 20,600
C65 2,737 0,218 4,595 0,085 11,724 0,032 30,909
C70 2,656 0,214 4,681 0,077 12,950 0,023 44,120
C75 2,618 0,212 4,725 0,073 13,650 0,018 55,820
C80 2,604 0,211 4,742 0,072 13,933 0,016 62,000
C85 2,600 0,211 4,747 0,071 14,016 0,016 64,039
C90 2,600 0,211 4,747 0,071 14,016 0,016 64,039

Os valores da tabela 2.4 para concretos com fck < 50 MPa são atendidos para
as vigas usuais de concreto armado, ou seja, geralmente o nível de tensão na arma-
dura comprimida é igual a 1. No entanto, a medida que a resistência do concreto
aumenta estes valores diminuem (d’/d) ou aumentam (d/d’) para valores não pratica-
dos usualmente nas vigas de concreto, o que significa valores de φ = ’sd / fyd < 1.
Nestes casos o valor de φ é dado por:

x d'
  
 d  L d ε cu E s
φ 1 (2.34a)
x f yd
 
 d L

2.28
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___________________________________________________________________________

Particularizando os valores da tabela 2.4 e a equação (2.34a) para concretos


com fck ≤ 50 MPa e aço CA 50, obtém-se:

φ 1 para (d’/d) ≤ 0,184 ou (d/d’) ≥ 5,439 (2.34b)

x d'
  
 d L d
φ  1,6905 1 caso contrário (2.34c)
x
 
 d L
A tabela 2.5 foi construída agrupando-se os parâmetros usuais do concreto
para o cálculo à flexão.

Tabela 2.5 – Parâmetros do concreto para cálculo à flexão

Parâmetros usuais do concreto


fck (MPa) (X/d)L εc2 (‰) εcu (‰) λ αc
≤ 50 0,45 2,000 3,500 0,8000 0,85000
55 0,35 2,199 3,125 0,7875 0,82875
60 0,35 2,288 2,884 0,7750 0,80750
65 0,35 2,357 2,737 0,7625 0,78625
70 0,35 2,416 2,656 0,7500 0,76500
75 0,35 2,468 2,618 0,7375 0,74375
80 0,35 2,516 2,604 0,7250 0,72250
85 0,35 2,529 2,600 0,7125 0,70125
90 0,35 2,600 2,600 0,7000 0,68000

Todo o dimensionamento de seções retangulares submetidas à flexão simples


encontra-se de forma resumida na próxima página.

2.29
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___________________________________________________________________________

2.30
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___________________________________________________________________________

2.5 – Seção T ou L submetidas à flexão simples

As vigas de concreto armado são normalmente construídas solidárias (monoli-


ticidade do CA) com as lajes que nelas apoiam. Ao trabalharem juntas as deforma-
ções e consequentemente as tensões nos pontos em comum das vigas e lajes são
as mesmas. Se estas tensões são de compressão as lajes colaboram na resistência
interna à compressão aumentando o desempenho final da viga. Se a contribuição
das lajes ocorre nas duas laterais da seção transversal tem-se uma viga de seção T
e quando ela é só de um lado, tem-se uma viga de seção L, situações ilustradas na
figura 2.11.

As vigas de concreto armado com seção geométrica em T ou L são compos-


tas de uma nervura ou alma (de largura bw) e uma mesa (de largura bf), conforme
ilustrado nas figuras 2.11 e 2.12. As mesmas só podem ser consideradas como tal
se a mesa estiver comprimida, caso contrário se comportarão como seção retangu-
lar de largura b=bw.

Por outro lado, caso a profundidade da linha neutra, considerando-se o dia-


grama retangular simplificado, seja menor ou igual à altura da mesa (y  hf), a seção
será tratada como retangular, de largura b=bw=bf.

Também no caso da seção em T ou L é válida e vantajosa a substituição do


diagrama parábola-retângulo pelo retangular simplificado. Para seções subarmadas
atendendo aos limites da NBR 6118:2014, (x/d)L=0,45 ou (x/d)L=0,35, tem-se (yd ≤
s ≤ 10‰) o que implica em (s = fyd).

Conforme figura 2.12 podem ser montadas as equações de equilíbrio (2.35) e


(2.36) referentes, respectivamente, ao somatório de momentos em relação ao ponto
de aplicação da armadura As e ao somatório de forças horizontais. Nesta figura
fcbwy = Rcc1 e fc(bf-bw)hf = Rcc2 representam respectivamente as resultantes de
compressão do concreto na região da nervura (hachura mais intensa) e nas abas da

2.31
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

mesa (hachura menos intensa). Os braços de alavanca destas resultantes são res-
pectivamente Z1 = d - (y/2) e Z2 = d - (hf/2).

Figura 2.11 – Aspectos geométricos das vigas de seção T ou L

Figura 2.12 – Seção T submetida à flexão simples

2.32
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

 y  h 
M d  f c b w y d    f c b f  b w h f  d  f   A' s σ' sd d  d' (2.35)
 2  2 

N d  f c b w y  f c b f  b w h f  A' s σ' sd  A s f yd  0 (2.36)

Dividindo-se todos os termos da equação (2.35), conforme procedimento aná-


logo ao da seção retangular, por um termo com a dimensão de momento (fc bw d2) e
lembrando-se que  = y/d e φ = (’sd/fyd), obtém-se:

Md  α   bf  hf 

hf  A' s φfyd  d' 
 α  1     1  1   1   (2.37)
f cb w d 2  2   b w d
 2d  fcb w d  d

Passando-se o terceiro termo da equação (2.37) para o lado esquerdo ao da


igualdade e fazendo-se

Md b h  h 
K   f  1  f 1  f  (2.38)
 2d 
2
fcb w d  b w d

 α
K'  α 1   (2.39)
 2

obtém-se a mesma equação (2.14) deduzida para seção retangular.

O valor de K em (2.38) foi obtido diminuindo-se do momento total solicitante


de cálculo Md o momento interno resistido apenas pelas laterais (abas) da mesa
comprimida, terceira parcela de (2.38), o que transforma o problema da viga T em
uma flexão de seção retangular de largura bw.

Levando-se (2.38) e (2.39) em (2.37) obtém-se:

2.33
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___________________________________________________________________________

fcb wd K  K'
A' s  φ (2.40)
f yd 1  d'
d

Os critérios para limitação do valor de K são os mesmos da seção retangular,


portanto:

K  KL  K’ = K

K > KL  K’ = KL

Da equação (2.36) obtém-se As, que multiplicada e dividida por d resulta:

fcb w d   bf h 
As  α    1  f   φA' s (2.41)
f yd   bw  d

O valor de  pode ser obtido de (2.39) resultando como na seção retangular a


equação (2.18), que levada em (2.41) fica:

A s  A s1  A 2

(2.42)

fcb w d   bf h 
A s1  1  1  2K'    1  f  (2.43)
f yd   bw  d

f c b w d K  K'
A s2  (2.44)
f yd d'
1
d

Da mesma forma que na seção retangular

A' s  A s2  φ (2.45)

2.34
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Fazendo-se bf = bw = b nas equações (2.42) a (2.45) elas se transformam nas


equações (2.23) a (2.26) para a seção retangular, como era de se esperar.

Analisando-se a equação (2.38) nota-se que quando K = 0, o momento exter-


no de cálculo Md é igual ao momento interno resistido apenas pelas abas comprimi-
das da mesa. Como nesse caso o trecho da mesa de largura bw ainda está compri-
mido, a profundidade da linha neutra, para se ter o equilíbrio, será menor que hf. Is-
so significa que mesmo para pequenos valores de K positivos, a linha neutra cortará
a mesa e o dimensionamento se fará como seção retangular de largura bf.

O valor positivo de K abaixo do qual a mesa estará parcialmente comprimida


é encontrado fazendo-se em (2.39) K = K’, uma vez que para pequenos valores de
K a armadura comprimida é igual a zero. Como K’ = (1-/2) e nesse caso y0 = hf,
tem-se:

 α  h  hf 
K 0  K'  α 0  1  0   f 1   (2.46)
 2 d  2d 

Para valores de K  K0 o dimensionamento deve ser feito como seção retan-


gular bfh. Embora este seja o procedimento correto, sabe-se que usando o limite K 
0 do Prof. Tepedino (1980), a armadura calculada como seção T com 0  K  K0, dá
praticamente a mesma que como seção retangular bfh, neste mesmo intervalo. A
diferença entre estas duas armaduras é normalmente menor que a verificada quan-
do se escolhe o número de bitolas comerciais para atender à armadura efetivamente
calculada. Portanto, por simplicidade, para efeito desta apostila o limite K  0 será o
utilizado para se ter a mesa parcialmente comprimida, ou seja, dimensionamento
como se fosse uma seção retangular bfh.

Normalmente a largura colaborante da mesa bf (determinada no item seguin-


te) conduz a valores de momentos internos resistentes, que dificilmente precisam de
uma profundidade da linha neutra superior à hf. Nessa situação o melhor seria, de-

2.35
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___________________________________________________________________________

terminar o máximo momento interno de cálculo resistido pela mesa inteiramente


comprimida, denominado momento de referência MdRef, dado por:

 h 
M dRef  f c b f h f  d  f  (2.47)
 2

Conforme

Md  MdRef  y  hf  seção retangular bfh

Md > MdRef  y > hf  seção T ou L

Na maioria das vezes Md ≤ MdRef o que transforma o dimensionamento da viga


T ou L como se fosse uma viga de seção retangular bfh. A comparação entre os dois
momentos é o procedimento mais praticado no dimensionamento.

2.5.1 – Determinação da largura colaborante da mesa ( bf )

Quando uma viga submetida à flexão deforma, ela traz consigo a laje que lhe
é solidária, que se estiver comprimida auxiliará na absorção do momento fletor atu-
ante. Adotando-se o diagrama retangular simplificado da NBR-6118:2014, a tensão
na mesa comprimida correspondente ao trecho comum com a nervura (bw), deve ser
igual a fc = αc fcd.

Afastando-se desse trecho nos dois sentidos laterais da mesa, conforme mos-
trado na figura 2.13, a tensão de compressão deve diminuir até zero, para pontos na
laje bem distantes da nervura. Essa distribuição de tensões na mesa pode ser obtida
pela teoria da elasticidade, mas pela NBR-6118:2014 ela é substituída por uma dis-
tribuição uniforme simplificada, com tensão igual a fc, e com uma largura total cola-
borante igual a bf, de tal forma que as resultantes de compressão em ambas as dis-
tribuições sejam estaticamente equivalentes.

2.36
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Figura 2.13 – Distribuição de tensões na mesa da seção T

Segundo a NBR-6118:2014, no item 14.6.2.2, “a largura colaborante bf deve


ser dada pela largura bw acrescida de no máximo 10% da distância (a) entre pontos
de momento fletor nulo, para cada lado da viga em que houver laje colaborante.

A distância a pode ser estimada, em função do comprimento do tramo con-


siderado, como se apresenta a seguir:

 viga simplesmente apoiada a = 1,00 ,


 tramo com momento em uma só extremidade a = 0,75 ;
 tramo com momentos nas duas extremidades a = 0,60 ;
 tramo em balanço a = 2,00 .

Alternativamente, o cômputo da distância a pode ser feito ou verificado mediante


exame dos diagramas de momentos fletores na estrutura”.

2.37
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___________________________________________________________________________

Na figura 2.14 apresenta-se um corte genérico de uma fôrma mostrando as


seções transversais de duas vigas T, a viga 1 com mísulas e a segunda normal. A
largura efetiva da nervura da viga com mísulas, ba, é a soma da largura bw com os
menores catetos dos triângulos formados pelas mesmas (ba = bw + a + c).

Figura 2.14 – Determinação da largura bf em vigas de seção T

Nesta figura b1 é a largura colaborante a ser considerada na lateral da viga T


do lado em que a laje tem continuidade e b3 é a usada do lado sem continuidade, ou
seja, laje em balanço. O limite do valor b1 é a metade da largura livre entre as faces
das duas vigas, dado por b2, e para b3 este limite é o valor disponível b4 da laje em
balanço. Naturalmente na viga com seção L os valores b3 = b4 = 0.

b1  0,5 b2 b1  0,1 a
(2.48)
b3  b4 b3  0,1 a

Todo o dimensionamento de vigas com seções T ou L submetidas à flexão


simples encontra-se de forma resumida na próxima página.

2.38
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2.39
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2.6 – Prescrições da NBR 6118:2014 referente às vigas

2.6.1 – Armadura longitudinal mínima de tração

De acordo o item 17.3.5.2 da NBR-6118:2014, a armadura mínima de tração,


em elementos estruturais armados ou protendidos deve ser determinada pelo di-
mensionamento da seção a um momento fletor mínimo dado pela expressão a se-
guir, respeitada a taxa mínima absoluta de 0,15 %.

Md,min = 0,8 W0 fctk,sup (2.49)

Onde:
 W0 é o módulo de resistência da seção transversal bruta de concreto,
relativo à fibra mais tracionada;
 fctk,sup é a resistência característica superior do concreto à tração, e-
quação (1.13b), item 8.2.5 da NBR-6118:2014.

De acordo equações (1.13b) obtém-se:

fctk,sup = 1,3 fct,m = 0,39 (fck)2/3 (MPa) fck ≤ 50 MPa


(2.50)
fctk,sup = 1,3 fct,m = 2,756 ln(1 + 0,11fck) (MPa) fck > 50 MPa

Alternativamente segundo a NBR 6118:2014 a armadura mínima pode ser


considerada atendida se forem respeitadas as taxas mínimas de armadura da tabela
2.6 abaixo.

2.40
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___________________________________________________________________________

Tabela 2.6 – Taxas mínimas de armadura de flexão para vigas


(Tab. 17.3 NBR 6118:2014)

Valores de ρmin a = (As,min/Ac) %


fck
20 25 30 35 40 45 50
seção
Retangular 0,150 0,150 0,150 0,164 0,179 0,194 0,208
fck
55 60 65 70 75 80 85 90
seção
Retangular 0,211 0,219 0,226 0,233 0,239 0,245 0,251 0,256
a
Os valores de ρmin estabelecidos nesta tabela pressupõem o uso de
aço CA 50, (d/h) = 0,8, γc = 1,4 e γs = 1,15, seção retangular. Caso es-
ses fatores sejam diferentes, ρmin deve ser recalculado.

O dimensionamento para o momento Md,min dado em (2.49) deve conduzir a


um valor Kmin = (Md,min / fcbd2) < KL, portanto seção com armadura simples que nes-
te caso será: As = As,min. O valor de Kmin para seção retangular conforme tabela 2.6
é dado por:

 bh 2 
0,8fctk, sup  
M d,min  6  0,8γ c f ctk, sup
K min    (2.51)
f cbd 2 α c f cd bd/h 2 h 2 6α c d/h 2 f ck

Com os valores de fctk,sup das equações (2.50), γc = 1,4, αc = 0,85 para fck ≤
50 MPa e αc = 0,85[1 – (fck – 50) / 200] para fck > 50 MPa, obtém-se os seguintes
valores de Kmin:
γc
K min  0,052 f ck( 1/3) (MPa) fck ≤ 50 MPa
α c d/h 
2

(2.52)
γc ln1  0,11fck 
K min  0,367 (MPa) fck > 50 MPa
α c d/h 
2
f ck

2.41
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Conforme equação (2.24) a armadura mínima pode ser dada por:

α c f cd bd/h h
A s,min 
f yd
   Af
1  1  2K min  α c d/h  1  1  2K min c cd
f yd
 (2.53a)

ω min 
A s,min f yd
A c f cd
 ρ min
f yd
f cd

 α c d/h  1  1  2K min  (2.53b)

ρ min 
A s,min
Ac

 α c d/h  1  1  2K min ff cd
(2.53c)
yd

Onde ωmin e ρmin são respectivamente as taxas mecânica e geométrica de armadura


mínima.

Assim, exemplificando para um concreto fck = 35 MPa, do primeiro grupo da


tabela 2.6, αc = 0,85, γc = 1,4, (d/h) = 0,8, tem-se:

1,4
K min  0,052 35 1/3   0,0409
0,850,8
2


ρ min  0,85x0,8x 1  1  2x0,0409
35/1,4  0,001634
500/1,15 ≈ 0,164%, conforme tabela

2.6.

Para um concreto do segundo grupo da tabela 2.6, por exemplo fck = 90 MPa,
tem-se:
 90  50 
α c  0,85 1    0,68
 200 

1,4 ln1  0,11x90


K min  0,367  0,0314
0,680,8
2
90

2.42
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ρ min  0,680,8 1  1  2x0,0314  500/1,15
90/1,4
 0,002564 ≈ 0,256%, conforme tabela 2.6.

Caso os parâmetros sejam diferentes dos que originaram a tabela 2.6 (aço
CA 50, d=0,8h, γc=1,4 e γs=1,15) as novas taxas de ρmin deverão ser recalculadas
conforme as equações e os dois exemplos acima, obedecido o limite mínimo de
0,15%. A tabela 2.7 relaciona as taxas de armaduras mínimas para seção retangular
com várias relações (d/h), aço CA 50 e CA 60.

Tabela 2.7 – Taxas de armaduras mínimas para vigas com seção retangular

Valores de ρmin = (As,min/Ac)


Seções retangulares, γc=1,4, γs=1,15
(d/h)=0,70 (d/h)=0,75 (d/h)=0,80 (d/h)=0,85 (d/h)=0,90 (d/h)=0,95
fck
CA 50 CA 60 CA 50 CA 60 CA 50 CA 60 CA 50 CA 60 CA 50 CA 60 CA 50 CA 60

20 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150

25 0,151 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150

30 0,170 0,150 0,158 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150

35 0,188 0,157 0,175 0,150 0,164 0,150 0,153 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150

40 0,205 0,171 0,191 0,159 0,179 0,150 0,168 0,150 0,158 0,150 0,150 0,150

45 0,222 0,185 0,206 0,172 0,194 0,161 0,181 0,151 0,171 0,150 0,161 0,150

50 0,238 0,198 0,221 0,184 0,208 0,172 0,194 0,162 0,183 0,153 0,173 0,150

55 0,241 0,201 0,225 0,187 0,211 0,175 0,197 0,164 0,186 0,155 0,176 0,150

60 0,251 0,209 0,233 0,194 0,219 0,182 0,205 0,171 0,193 0,161 0,183 0,152

65 0,259 0,216 0,241 0,201 0,226 0,188 0,212 0,176 0,200 0,166 0,189 0,157

70 0,267 0,222 0,248 0,207 0,233 0,194 0,218 0,182 0,206 0,172 0,195 0,162

75 0,274 0,229 0,255 0,213 0,239 0,199 0,224 0,187 0,212 0,176 0,199 0,166

80 0,282 0,235 0,262 0,218 0,245 0,204 0,230 0,192 0,217 0,181 0,203 0,169

85 0,288 0,240 0,268 0,224 0,251 0,209 0,236 0,196 0,222 0,185 0,210 0,175

90 0,295 0,245 0,274 0,228 0,256 0,214 0,241 0,201 0,227 0,189 0,215 0,179

2.43
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2.6.2 – Armadura de pele

Segundo o item 17.3.5.2.3 da NBR-6118:2014, a armadura mínima lateral, ou


de pele, ou armadura de costela, deve ser 0,10 % Ac,alma em cada face da alma da
viga e composta por barras de aço CA 50 ou CA 60, dispostas longitudinalmente,
com espaçamento não maior que 20 cm ou d/3 (18.3.5), respeitado o disposto em
17.3.3.2 (toda armadura de pele tracionada deve manter um espaçamento menor ou
igual a 15L, da bitola longitudinal).

“Em vigas com altura menor ou igual a 60 cm, pode ser dispensada a utilização de
armadura de pele.
As armaduras principais de tração e de compressão não podem ser computadas no
cálculo da armadura de pele”.

2.6.3 – Armadura total na seção transversal (tração e compressão)

De acordo o item 17.3.5.2.4 da NBR 6118:2014, “A soma das armaduras de


tração e de compressão (As + A’s) deve ser menor que 4%Ac, calculada na região
fora da zona de emendas, devendo ser garantidas as condições de dutilidade reque-
ridas em 14.6.4.3”.

2.6.4 – Distribuição transversal das armaduras longitudinais em vigas

De acordo o item 18.3.2.2 da NBR 6118:2014 “O espaçamento mínimo livre


entre as faces das barras longitudinais, medido no plano da seção transversal, deve
ser igual ou superior ao maior dos seguintes valores:

 na direção horizontal (ah)


- 20 mm;
- diâmetro da barra, do feixe ou da luva;
- 1,2 vez a dimensão máxima característica do agregado graúdo;

2.44
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___________________________________________________________________________

 na direção vertical (av)


- 20 mm
- diâmetro da barra, do feixe ou da luva;
- 0,5 vez a dimensão máxima característica do agregado graúdo”.

Estes valores se aplicam também as regiões de emenda por traspasse das


barras.

Na figura 2.15 estão indicados os espaçamentos mínimos na direção horizon-


tal (ah) e vertical (av). Com base nessa figura obtém-se a largura útil (bútil) da viga
dada por:

bútil = bw – 2(c + t) (2.54)


Onde:
 c é o cobrimento nominal da armadura (cobrimento mínimo acrescido da
tolerância de execução)
 t é o diâmetro da armadura transversal (estribo)

O número máximo de barras longitudinais com diâmetro L que cabem em


uma mesma camada, atendendo ao espaçamento horizontal ah especificado acima,
fica:

b útil  a h
n Φ/cam  (2.55)
ah  ΦL

Adota-se como valor final do número de barras por camada, o calculado em


(2.55), arredondado para o número inteiro imediatamente inferior.

2.45
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Figura 2.15 – Distribuição transversal das armaduras longitudinais

2.6.5 – Armaduras de ligação mesa-nervura ou talão-alma

Segundo o item 18.3.7 da NBR-6118:2014, “os planos de ligação entre mesas


e almas ou talões e almas devem ser verificados com relação aos efeitos tangenci-
ais decorrentes das variações de tensões normais ao longo do comprimento da viga,
tanto sob o aspecto de resistência do concreto, quanto das armaduras necessária
para resistir às trações decorrentes desses efeitos.
As armaduras de flexão da laje, existentes no plano de ligação, podem ser conside-
radas como parte da armadura de ligação, complementando-se a diferença entre
ambas, se necessário. A seção transversal mínima dessa armadura, estendendo-se
por toda a largura útil e ancorada na alma, deve ser de 1,5 cm2 por metro”.

2.46
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2.6.6 – Cobrimento mínimo das armaduras

O cobrimento mínimo das armaduras deve ser observado conforme o prescri-


to na NBR 6118:2014, no item 7.4.7.

“7.4.7.1 Para atender aos requisitos estabelecidos nesta Norma, o cobrimento mí-
nimo da armadura é o menor valor que deve ser respeitado ao longo de todo o ele-
mento considerado. Isto constitui um critério de aceitação.
7.4.7.2 Para garantir o cobrimento mínimo (cmin) o projeto e a execução devem con-
siderar o cobrimento nominal (cnom), que é o cobrimento mínimo acrescido da tole-
rância de execução (Δc). Assim, as dimensões das armaduras e os espaçadores
devem respeitar os cobrimentos nominais, estabelecidos na tabela 7.2, para Δc = 10
mm.
7.4.7.3 Nas obras correntes o valor de Δc deve ser maior ou igual a 10 mm.
7.4.7.4 Quando houver um adequado controle de qualidade e rígidos limites de tole-
rância da variabilidade das medidas durante a execução pode ser adotado o valor
Δc = 5 mm, mas a exigência de controle rigoroso deve ser explicitada nos desenhos
de projeto. Permite-se, então, a redução dos cobrimentos nominais prescritos na
tabela 7.2 em 5 mm.
7.4.7.5 Os cobrimentos nominais e mínimos estão sempre referidos à superfície da
armadura externa, em geral à face externa do estribo. O cobrimento nominal de uma
determinada barra deve sempre ser:
a) cnom ≥ Φ barra;
b) cnom ≥ Φ feixe = Φ n = Φ (n)1/2;
c) cnom ≥ 0,5 Φ bainha.

7.4.7.6 A dimensão máxima característica do agregado graúdo utilizado no concreto


não pode superar em 20% a espessura nominal do cobrimento, ou seja:

dmáx ≤ 1,2 cnom

2.47
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Tabela 2.8 - Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobri-


mento nominal para Δc = 10mm (Tabela 7.2 NBR 6118:2014)

Classe de Agressividade Ambiental


Tabela 6.1 NBR 6118:2014
Componente
Tipo de Estrutura ou I II III IVc
Elemento
Cobrimento Nominal - mm

Lajeb 20 25 35 45

Viga/Pilar 25 30 40 50
Concreto Armado
Elementos
estruturais em
30 40 50
contato com o
d
solo

Laje 25 30 40 50
a
Concreto Protendido
Viga/pilar 30 35 45 55

a - Cobrimento nominal da bainha ou dos fios, cabos e cordoalhas. O cobrimento da armadura passiva
deve respeitar os cobrimentos para o concreto armado.
b - Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com re-
vestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento tais
como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos e outros tantos, as exigências
desta tabela podem ser substituídas por 7.4.7.5, respeitado um cobrimento nominal ≥ 15 mm.
c –Nas superfícies expostas a ambientes agressivos, como reservatórios, estações de tratamento de
água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e
intensamente agressivos, devem ser atendidos os cobrimentos da classe de agressividade IV.
d – No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a armadura deve ter
cobrimento nominal ≥ 45 mm.

Para concretos de classe de resistência superior ao mínimo exigido, os cobrimentos


definidos na tabela 7.2 podem ser reduzidos em até 5 mm.”

2.48
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2.7 – Exemplos de aplicação

Os exemplos de aplicação adiante apresentados servem para fixar os concei-


tos de solicitações normais e flexão simples em seções retangular e T ou L.

2.7.1 – Exemplos de solicitações normais

Traçar o diagrama de interação NxM que solicita a seção retangular 20x40


cm2 abaixo, com fck=25 MPa, aço CA 50, 6 bitolas longitudinais L =12,5 mm, con-
forme figura figura 2.16. Como a resistência do concreto deste exemplo é menor que
50 MPa (grupo I) εc2 = 2‰, εcu = 3,5‰, λ = 0,8 e αc = 0,85. Como é aço CA 50 εyd =
(50/1,15) / 21 = 2,07‰.

fc = 0,85x2,5 / 1,4 = 1,518 kN/cm2 (tabela 1.11)


fyd = 50 / 1,15 = 43,48 kN/cm2 (tabela 1.11)
2 2
AsΦ=12,5 = π Φ / 4 = 1,227 cm (tabela 1.4)

Para traçar o diagrama de forma mais simplificada determinam-se os pontos


correspondentes aos pares (N,M) para algumas posições da LN no estado limite úl-
timo ligando-os posteriormente. Os pontos escolhidos são aqueles correspondentes
às posições limites da LN que definem os domínios de deformação.

1) Profundidade x = - ∞ (início do domínio 1)

Para x = - ∞ a seção deformada no estado limite último (ELU) é a apresenta-


da na figura 2.16. Esta posição é correspondente à reta “a” dos domínios de defor-
mação, figura 2.3, onde todos os pontos da seção transversal têm a mesma defor-
mação εc=εs=10‰. Portanto:

εs1=εs2=εs3 = 10‰,  σs1=σs2=σs3 = fyd=43,48 kN/cm2


As1=As2=As3=2x1,227 = 2,454 cm2  Rs1=Rs2=Rs3=2,454x43,48=106,70 kN

2.49
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Figura 2.16 – Seção com ELU correspondente a x = - ∞

Os sentidos positivos dos esforços solicitantes Nd e Md são os indicados na fi-


gura 2.16, normal de compressão e momento fletor tracionando os pontos da parte
inferior da seção. Os esforços internos, resultantes Rs1, Rs2, Rs3, conforme indicados
são todos de tração. As equações de equilíbrio ficam:

∑Fh=0  Nd + Rs1 + Rs2 + Rs3 = 0  Nd = - 3x106,70 = - 320,10 kN

∑MCG=0  Md + Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) - Rs3(h/2 – d’’) = 0  Md = 0

Na segunda equação de equilíbrio d’’=h-d, que neste caso do exemplo é o


mesmo valor de d’, representa a distância entre a face inferior da seção de concreto
e o centro da armadura As. Os valores das solicitações de serviço N e M para x = - ∞
são obtidos dividindo-se os valores de cálculo Nd e Md pelo coeficiente de majoração
das ações f. Assim:

N = Nd / 1,4 = -320,10 / 1,4 ≈ - 229 kN (tração)


M = Md / 1,4 = 0

2.50
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Os valores de N e M acima são os mesmos desde a posição da LN variando


de x = - ∞ até x = x1 (ver deformações na fig. 2.16), onde a deformação da armadu-
ra As1 chega ao valor εs1 = εyd = 2,07‰ (aço CA 50). Embora com a LN inclinada,
quando x = x1 tem-se as mesmas resultantes da figura 2.16 e, portanto o mesmo par
de esforços solicitantes. Nesta figura o valor de x1 é obtido fazendo-se semelhança
de triângulos obtidos com a linha tracejada que passa pelos pontos A e onde εs1=εyd.

ε s3  0,010 ε s1  ε yd dε s1 0,010d'
  x1   4,35 cm
x1  d x1  d' 0,010  ε s1

Para um valor no intervalo (–x1 < x < 0), por exemplo x = - 2 cm, os valores
calculados são:

εs1=1,58‰<εyd εs2 = 5,79‰> εyd Rs1 = 81,42 kN Rs2= Rs3 = 106,7 kN


Nd= - 294,82 kN, N = - 211 kN (tração) Md=404,48 kNcm, M = 289 kNcm

2) Profundidade x = 0 (final domínio 1, início do domínio 2)

Para x = 0 a seção deformada no estado limite último (ELU) é a apresentada


na figura 2.17. Esta posição é correspondente aos limites entre os domínios 1 e 2,
figura 2.3, onde todos os pontos da seção transversal ainda estão tracionados. Nes-
te caso o ELU é definido pelo ponto A, deformação plástica excessiva do aço, fican-
do a armadura As3 com a deformação εs3 = εsu = 10‰. As deformações εs1 e εs2 são
obtidas por semelhança de triângulos.

ε s3  0,010 ε ε s2
 s1   εs1=0,00111=1,11‰<εyd=2,07‰
d  36 d'  4 h / 2  40 / 2  20
 εs2=0,00556=5,56‰>εyd=2,07‰
σs1=Esεs1=21000x1,11‰=21x1,11 = 23,33 kN/cm2  Rs1=2,454x23,33 = 57,26 kN
σs2=σs3 = fyd=43,48 kN/cm2  Rs2= Rs3=106,70 kN

Escrevendo-se as equações de equilíbrio:

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∑Fh=0  Nd + Rs1 + Rs2 + Rs3 = 0


Nd = - 57,26 – 2 x 106,70 = - 270,66 kN

∑MCG=0  Md + Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) - Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = - 57,26x(20-4) + 106,70x(20-4) = 791,04 kNcm

Figura 2.17 – Seção com ELU correspondente a x = 0

Dividindo-se os valores de cálculo por f = 1,4 obtém-se os valores das solici-


tações de serviço N e M para x = 0.

N = Nd / 1,4 = -270,66 / 1,4 ≈ - 193 kN (tração)


M = Md / 1,4 = 791,04 / 1,4 ≈ 565 kNcm

3) Profundidade x = x2L = 0,259 d = 0,259 x 36 = 9,33 cm (final domínio 2)

A figura 2.18 ilustra esta situação em que se tem comprimidas a região do


concreto com hachuras da seção transversal e a armadura As1. A seção deformada
passa por dois dos pontos (A e B), que caracterizam o dimensionamento no ELU.
Embora existam na mesma seção transversal alongamentos (região tracionada) e
encurtamentos (região comprimida), os valores das deformações calculadas a se-
guir, estão desacompanhados de sinais, portanto em valores absolutos. Qualquer

2.52
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dúvida sobre a natureza das deformações, tensões ou resultantes pode ser tirada na
figura 2.18.

Figura 2.18 – Seção com ELU correspondente a x2L = 9,33 cm

y=0,8 X =0,8 x 9,33 = 7,46 cm  Rcc = fcby = 1,518 x 20 x 7,46 = 226,49 kN

ε s3  0,010 ε s1 ε s2
 
d  x  36  9,33 x  d'  9,33  4 (h/2)  x  20  9,33

Alternativamente neste caso as deformações podem ser calculadas a partir de


outra deformação prescrita εc,max=εcu=3,5‰.

ε cu  0,0035 ε s1 ε s2
 
x  9,33 x  d'  9,33  4 (h/2)  x  20  9,33

εs1=0,002=2‰<εyd=2,07‰ σs1=Esεs1=21000x2‰=21x2 = 42 kN/cm2 (compressão)


εs2=0,004=4‰>εyd=2,07‰ σs2= σs3 = fyd = 43,48 kN/cm2 (tração)
Rs1=2,454x42 = 103,07 kN (C) Rs2= Rs3=106,70 kN (T)

∑Fh=0  Nd - Rcc - Rs1 + Rs2 + Rs3 = 0

2.53
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Nd = 226,49 + 103,07 – 2 x 106,70 = 116,16 kN N ≈ 83 kN (Compressão)

∑MCG=0  Md – Rcc(h/2-y/2) - Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) - Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = 226,49(20-7,46/2)+103,07(20-4)+106,70(20-4) = 7041,31 kNcm
M ≈ 5030 kNcm

4) Profundidade x = x3L = 0,628 d = 0,628 x 36 = 22,62 cm (final domínio 3)

Figura 2.19 – Seção com ELU correspondente a x3L = 22,62 cm

A figura 2.19 ilustra esta situação em que se tem além da região comprimida
do concreto (parte com hachuras da seção transversal) as armaduras As1 e As2.

y=0,8 X =0,8x22,62 = 18,10 cm  Rcc=fcby=1,518x20x18,10 = 549,52 kN

ε cu  0,0035 ε s1 ε s2
 
x  22,62 x  d'  22,62  4 x  (h/2)  22,62  20

Alternativamente nesta situação as deformações poderiam ser calculadas a


partir de outra deformação prescrita, εs3 = εyd = 2,07‰.

εs1=0,00288=2,88‰>εyd=2,07‰  σs1= fyd = 43,48 kN/cm2 (Compressão)

2.54
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εs2=0,00041=0,41‰<εyd=2,07‰  σs2=21x0,41 = 8,61 kN/cm2 (Compressão)


Rs1 = 106,70 kN (C) Rs2=2x1,227x8,61 = 21,12 kN (C) Rs3 = 106,70 kN (T)

∑Fh=0  Nd - Rcc - Rs1 - Rs2 + Rs3 = 0


Nd = 549,52 + 106,70 + 21,12 - 106,70 = 570,64 kN N ≈ 408 kN (C)

∑MCG=0  Md - Rcc(h/2-y/2) - Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) - Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = 549,52(20-18,10/2)+106,70(20-4)+106,70(20-4) = 9431,64 kNcm
M ≈ 6736 kNcm

5) Profundidade x = x4L = d = 36 cm (final domínio 4)

Figura 2.20 – Seção com ELU correspondente a x4L = 36 cm

A região comprimida (figura 2.20) abrange quase toda a seção transversal, as


armaduras (As1) e (As2) trabalham comprimidas e (As3) não sofre deformação, isto é
σs3=0.

y=0,8 X =0,8x36 = 28,8 cm  Rcc=fcby=1,518x20x28,8 = 874,29 kN

ε cu  0,0035 ε s1 ε s2
 
x  36 x  d'  36  4 x  (h/2)  36  20

2.55
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εs1=0,00311=3,11‰>εyd=2,07‰  σs1= fyd = 43,48 kN/cm2 (compressão)


εs2=0,00156=1,56‰<εyd=2,07‰  σs2=21x1,56 = 32,76 kN/cm2 (compressão)
Rs1 = 106,70 kN (C) Rs2=2x1,227x32,76 = 80,39 kN (C) Rs3 = 0

∑Fh=0  Nd - Rcc - Rs1 - Rs2 + Rs3 = 0


Nd = 874,29 + 106,70 + 80,39 + 0 = 1061,38 kN N ≈ 758 kN (C)

∑MCG=0  Md – Rcc(h/2-y/2) - Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) - Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = 874,29(20-28,8/2)+106,70(20-4) = 6601,60 kNcm
M ≈ 4715 kNcm

6) Profundidade x = x4aL = h = 40 cm (final domínio 4a)

Figura 2.21 – Seção com ELU correspondente a x4aL = 40 cm

A seção está inteiramente comprimida, a deformação na fibra inferior é nula e


em um ponto a [(εcu- εc2) / εcu] h = [(3,5-2) / 3,5] h = (3/7) h da borda mais comprimi-
da é igual a εc2 = 2‰, ponto C dos domínios de deformações (figura 2.3). Esta situa-
ção está ilustrada na figura 2.21.

2.56
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y=0,8 X =0,8x40 = 32 cm  Rcc=fcby=1,518x20x32 = 971,43 kN

ε cu  0,0035 ε s1 ε s2 ε s3
  
x  40 x  d'  40  4 x  (h/2)  40  20 x  d  40  36

εs1=0,00315=3,15‰>εyd=2,07‰  σs1= fyd = 43,48 kN/cm2 (compressão)


εs2=0,00175=1,75‰<εyd=2,07‰  σs2=21x1,75 = 36,75 kN/cm2 (compressão)
εs3=0,00035=0,35‰<εyd=2,07‰  σs3=21x0,35 = 7,35 kN/cm2 (compressão)

Rs1=106,70 kN (C) Rs2=2x1,227x36,75=90,18 kN (C) Rs3=2x1,227x7,35=18,04 kN

∑Fh=0  Nd - Rcc - Rs1 - Rs2 - Rs3 = 0


Nd = 971,43 + 106,70 + 90,18 + 18,04 = 1186,35 kN N ≈ 847 kN (C)

∑MCG=0  Md – Rcc(h/2-y/2) - Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) + Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = 971,43(20-32/2)+106,70(20-4)–18,04(20-4) = 5304,28 kNcm
M ≈ 3789 kNcm

7) Profundidade x = x5L = ∞ (final domínio 5)

A seção está inteiramente comprimida com a mesma deformação tanto para o


concreto quanto para o aço εs = εc = 2 ‰, correspondendo a reta “b” dos domínios
de deformações (figura 2.3).

y>h  Rcc=fcby=1,518x20x40 = 1214,29 kN

εs1=εs2=εs3 = 2‰ < εyd,  σs1=σs2=σs3 = 21x2 = 42,00 kN/cm2

Rs1 = Rs2 = Rs3 = 2x1,227x42 = 103,07 kN (C)

∑Fh=0  Nd - Rcc - Rs1 - Rs2 - Rs3 = 0

2.57
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Nd = 1214,29 + 3x103,07 = 1523,49 kN N ≈ 1088 kN (C)

∑MCG=0  Md – Rcc(0) - Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) + Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = 103,07(20-4) – 103,07(20-4) = 0
M=0

Com os pares (N,M) calculados nos itens 1 a 7 traça-se o diagrama de


interação mostrado na figura 2.22 em linha mais grossa. Foram traçados de forma
análoga, com linha fina, os outros diagramas para a mesma seção transversal de
concreto com 6Φ16, 6Φ10 e sem armação (As = 0). Nota-se que os quatros diagra-
mas de interação são semelhantes, sendo que a seção sem armadura não apresen-
ta força normal de tração. Para a seção com 6Φ12.5 os domínios de 1 a 5 foram
marcados nesta figura.

Figura 2.22 – Diagramas de interação

2.58
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Para um valor de força normal N só existe um único valor correspondente de


momento M que a seção, com geometria específica, suporta no estado limite último.
Já para um mesmo valor de M existem dois valores de N que podem solicitar a se-
ção no ELU. Assim fixando-se N=750 kN (compressão) existe apenas o valor
M≈4760 kNcm, obtido na escala, para a seção com 6Φ12.5 mm. Fixando-se para a
mesma seção M=4000 kNcm existem dois valores possíveis N≈19 kN e N≈859 kN,
ambos de compressão e obtidos na escala.

Ainda para uma força normal N=750 kN (C) os valores de momentos no ELU
para seções sem armadura, com 6Φ10 e com 6Φ16 são respectivamente M≈1885
kNcm, M≈4000 kNcm e M≈5675 kNcm.

Na figura 2.22 estão traçados quatro diagramas de interação de forma simpli-


ficada para a mesma seção transversal, um sem armadura e três com seis barras de
bitolas variadas localizadas nas mesmas posições, formando um ábaco. O comum é
que estes ábacos sejam construídos para uma seção retangular (bxh) genérica com
relação (d’/h) prefixada, para um determinado tipo de aço e para uma quantidade e
distribuição das barras preestabelecidas.

No caso deste exemplo esta relação é igual a (d’/h)=(4/40)=0,10, o aço é CA


50, e as seis barras dão taxas mecânicas de armação, ω = (As fyd / Ac fcd), com ω=0
para a seção sem armadura, ω = [4,71x43,5 / 800x(2,5/1,4)] = 0,143 para 6Φ10mm,
ω = [7,362x43,5 / 800x(2,5/1,4)] = 0,224 para 6Φ12,5mm, ω = [12,066x43,5 /
800x(2,5/1,4)] = 0,367 para 6Φ16mm. Nos ábacos usualmente publicados a taxa ω
varia de zero, com intervalos ∆ω = 0,10, até a taxa máxima, (As/Ac)max = 4%, permi-
tida pela NBR 6118:2014 (item 17.3.5.2.4).

2.7.2 – Exemplo de flexão normal simples com seção retangular

Calcular as armaduras de flexão para a viga da figura 2.23 abaixo para alguns
valores de momento fletor M.

2.59
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Figura 2.23 – Seção retangular do exemplo 2.7.2

1) M=2000 kNcm

Md 2000x1,4
K 2
  0,0368  K L  0,295  K’ = K = 0,0368
f c bd 1,214x20x56 2

A s  A s1  
f cbd
f yd

1  1  2K' 
1,214x20x56
43,5
 
1  1  2x0,0368  1,17cm2

As2=A’s= 0

A armadura de tração calculada (As,cal) tem de ser maior ou igual a armadura


mínima (As,min) dada na tabela 2.7, para (d/h) = (56/60) = 0,93 ≈ 0,95 e aço CA 50,
ρmin = 0,15%:

2.60
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As,min= ρmin Ac = 0,15% (20x60) = 1,8 cm2 > As,cal=1,17 cm2  As = As,min = 1,80 cm2

Para atender a armadura final pode-se usar uma das duas hipóteses de bito-
las abaixo:
4Φ8 mm  As,e=4x0,503 = 2,01 cm2 > As = 1,80 cm2
3Φ10 mm  As,e=3x0,785 = 2,36 cm2 > As = 1,80 cm2

Onde As,e é a armadura efetivamente colocada ou existente.

Com o valor de K=0,0368 calcula-se o valor de  = (y/d) pela equação (2.17)

   
α  1  1  2K'  1  1  2x0,0368  0,0375  y=λx=d=0,0375x56 = 2,10 cm

x=(y/λ)=(y/0,8)=(2,10/0,8) = 2,62 cm (para fck ≤ 50 MPa  λ = 0,8)

ξ = (x/d)=(/0,8)=(2,62/56)=0,0468 < ξ = 0,259


2L

Como x = 2,62 cm < x2L = 0,259x56 = 14,52 cm a seção trabalha no domínio 2


para o dimensionamento com M = 2000 kNcm.

Apenas para efeito de verificação das fórmulas de dimensionamento para


uma profundidade x = 2,62 cm no ELU, a seção resiste a um momento:

 y  0,8x2,62 
f c by  d   1,214x20x0,8x2,62 56  
M Res 
M Res,d
  2
  2   2797  2000kNcm
γ f  1,4 1,4 1,4 1,4

2) M=7288 kNcm

K=0,134 < KL = 0,295  K’ = K = 0,134

2.61
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As=As1 = 4,51 cm2 > As,min = 1,8 cm2

Para atender a armadura final pode-se usar uma das hipóteses de bitolas a-
baixo:

6Φ10 mm  As,e=6x0,785 = 4,71 cm2 > As = 4,51 cm2


4Φ12,5 mm  As,e=4x1,227 = 4,98 cm2 > As= 4,51 cm2
3Φ16 mm  As,e=3x2,011 = 6,03 cm2 > As = 4,51 cm2

Considerando-se um cobrimento c = 2,5 cm (tabela 2.8) e estribo com Φt = 5


mm, o número máximo de barras longitudinais de flexão com ΦL = 12,5 mm que a
seção pode ter em uma única camada é dada pela equação (2.55), com bútil dada
por (2.54) e ah = 2 cm:

bútil = bw – 2(c + t) = 20 – 2 (2,5 + 0,5) = 14 cm

b útil  a h 14  2
n Φ/cam    4,9  4 barras ΦL = 12,5 mm / camada (OK)
a h  Φ L 2  1,25

 = 0,144  x = (0,144x56)/0,8 = 10,10 cm < x2L = 14,52 cm  domínio 2

3) M=15000 kNcm

K=0,276 < KL = 0,295  K’ = K = 0,276

As=As1 = 10,33 cm2 > As,min = 1,8 cm2

Para atender a armadura final pode-se usar uma das hipóteses de bitolas a-
baixo:

9Φ12,5 mm  As,e=9x1,227 = 11,04 cm2 > As = 10,33 cm2

2.62
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6Φ16 mm  As,e=6x2,011 = 12,07 cm2 > As = 10,33 cm2


4Φ20 mm  As,e=4x3,142 = 12,57 cm2 > As = 10,33 cm2
Considerando-se os mesmos valores calculados no item anterior tem-se (ver
figura 2.24):

nΦ=12,5/cam = 4,9  4Φ12,5 mm (1a e 2a camadas), 1Φ12,5 mm (3a camada)


nΦ=16/cam = 4,4  4Φ16 mm (1a camada), 2Φ16 mm (2a camada)
nΦ=20/cam = 4  4Φ20 mm (só uma camada) (OK)

Nota-se pela figura 2.24 que a distância da borda mais tracionada até o centro
da primeira camada para o detalhamento com 9Φ12,5 mm é dado por [(2,5 + 0,5 +
(1,25/2)] = 3,625 cm. Para as outras duas camadas, considerando o espaçamento
vertical (ah = 2,0 cm), determinam-se os valores 6,875 cm para a segunda camada e
10,125 para a terceira. O centro geométrico das nove barras distribuídas em três
camadas é dado por {[(4 x 3,625) + (4x6,875) + 1 x 10,125] / 9} ≈ 5,8 cm. Desta for-
ma a altura útil fica d = (60 – 5,8) = 54,2 cm, menor que o valor adotado.

Figura 2.24 – Detalhamento da Seção transversal para M = 15000 kNcm

2.63
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Para os outros detalhamentos, de forma análoga, determinam-se os valores


de d = 55 cm e d = 56 cm, para 6Φ16 mm e 4Φ20 mm, respectivamente. Redimen-
sionado apenas para os dois valores diferentes da altura útil adotada, encontra-se:

Φ12,5 mm
dreal = 54,2 cm Kreal = 0,294<KL = 0,295 As,real = 10,86 cm2 < As,e = 11,04 cm2 (OK)
Φ16 mm
dreal = 55 cm Kreal = 0,286<KL = 0,295 As,real = 10,62 cm2 < As,e = 12,07 cm2 (OK)

Embora diferentes, os novos valores das armaduras calculadas para os valo-


res corrigidos de d atendem aos detalhamentos para a altura útil adotada de 56 cm.

Φ12,5 mm K = 0,294 α = 0,358 X = (0,358 x 54,2) / 0,8 = 24,3 cm2 < X3L =
0,628 x 54,2 = 34,0 cm ξ = (24,3 / 54,2) = 0,448.

Φ16 mm K = 0,286 α = 0,346 X = (0,346 x 55,0) / 0,8 = 23,8 cm2 < X3L =
0,628 x 55,0 = 34,5 cm ξ = (23,8 / 55,0) = 0,433.

Φ20 mm K = 0,276 α = 0,331 X = (0,331 x 56,0) / 0,8 = 23,1 cm2 < X3L =
0,628 x 56,0 = 35,2 cm ξ = (23,1 / 56,0) = 0,413

Como todos os valores calculados de ξ estão no intervalo, ξ =0,259 ≤ ξ ≤ ξ =


2L 3L

0,628, a seção dimensionada para este momento, para os detalhamentos da figura


2.24), encontra-se no domínio 3.

4) M=20000 kNcm

K=0,381 > KL = 0,295 dadot = 55 cm  K’ = KL = 0,295

A s1  
f c bd
f yd
 f bd
1  1  2K'  c α L 
f yd
1,214x20x55
43,5
0,8x0,45  0,36  11,05cm2

2.64
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___________________________________________________________________________

f c bd K  K' 1,214x20x55 0,381  0,295


A s2    2,85cm2
f yd d' 43,5 4
1 1
d 55

As = As1 + As2 = 11,05 + 2,85 = 13,90 cm2 > As,min

(d/d’) = (55/4) = 13,75 > 5,439  φ=1 (tabela 2.4)

A s2
A' s   2,85cm2

Para atender a armadura final de tração As pode-se usar uma das hipóteses
de bitolas abaixo:

7Φ16 mm  As,e=7x2,011 = 14,08 cm2 > As = 13,90 cm2 (3Φ na 2a camada)


5Φ20 mm  As,e=5x3,142 = 15,71 cm2 > As = 13,90 cm2 (2Φ na 2a camada)
3Φ25 mm  As,e=3x4,909 = 14,71 cm2 > As = 13,90 cm2 (só uma camada)

Para atender a armadura de compressão A’s pode-se usar uma das hipóteses
de bitolas abaixo:

4Φ10 mm  A’s,e=4x0,785 = 3,14 cm2 > A’s = 2,85 cm2


3Φ12,5 mm  A’s,e=3x1,227 = 3,68 cm2 > A’s = 2,85 cm2

b útil  a h 14  2
n Φ/cam   4  4 barras ΦL = 20 mm / camada
ah  ΦL 22

b útil  a h 14  2,5
n Φ/cam    3,3  3 barras ΦL = 25 mm / camada (OK)
a h  Φ L 2,5  2,5

O detalhamento com 5Φ20 mm poderia ter apenas 1Φ20 mm na segunda


camada, mas da forma como foi detalhado na figura 2.25 é mais comum.

2.65
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Figura 2.25 – Detalhamento da Seção transversal para M = 20000 kNcm

Os valores de d, d’ e d” para os três detalhamentos estão mostrados na figu-


ra 2.25. Como todos os valores de d são maiores e os de d’ menores aos valores
adotados (d=55 cm e d’ = 4 cm), o cálculo efetuado das armaduras com estes últi-
mos estão a favor da segurança.

Fazendo-se o dimensionamento considerando-se KL = 0,376, como já discuti-


do anteriormente, obtém-se As = 15,41 cm2 e A’s = 0,17 cm2 dando As,total = 15,41 +
0,17 = 15,58 cm2 < 4% Ac = 48 cm2. Comparando-a com a soma das armaduras ob-
tidas para KL = 0,295, As,total = 13,90 + 2,85 = 16,75 cm2 < 4% Ac = 48 cm2, observa-
se que a diferença entre ambas é menor que 7% e que ambas são menores que a
armadura total existente em qualquer um dos detalhamentos da figura 2.25. Portanto
do ponto de vista do consumo de aço os dois dimensionamentos são equivalentes
sendo que no dimensionamento com KL = 0,295 chega-se à armadura dupla para
momentos menores, melhorando assim a dutilidade da seção.

KL = 0,295  L = 0,8x(x/d)L= 0,8x0,45 = 0,36  xL = 0,45x55 = 24,75 cm

2.66
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___________________________________________________________________________

O valor da profundidade relativa da LN ξ = ξ = 0,45 está no intervalo ξ =


L 2L

0,259 ≤ ξ ≤ ξ = 0,628, portanto no domínio 3.


3L

5) Determinar o valor do momento interno resistente para a seção detalha-


da do exemplo anterior com 3Φ25 mm (As) e 3Φ12,5 mm (A’s).

Dados: As = 14,71 cm2, A’s = 3,68 cm2, d = 55,75 cm, d’ = 3,625 cm.

Como as armaduras existentes, ou efetivamente colocadas, são maiores ou i-


guais às armaduras calculadas, o momento interno resistente será sempre maior ou
igual ao momento externo solicitante. Supondo que as armaduras As e A’s trabalhem
com tensões σs = σ’s = fyd = 43,5 kN/cm2, a equação de equilíbrio de forças horizon-
tais fornece, para Nd = 0:

Rcc + A’s σ’s = As σs, fc b y = (As - A’s) fyd

y = [(14,71-3,68) x 43,5] / (1,214 x 20) = 19,8 cm x = y / 0,8 = 24,7 cm

ξ2L = 0,259 < ξ = x / d = 24,7 / 55,75 = 0,443 < ξ3L = 0,628 domínio 3

Neste domínio a tensão na armadura As é igual a fyd e a deformação máxima


do concreto é igual a εcu = 3,5 ‰ (ponto B do dos domínios de deformação, figura
2.3). A deformação ε’s é obtida por semelhança de triângulos no diagrama de defor-
mações da seção no ELU:

(ε cu  3,5) ε's
  ε's  2,99‰  ε yd  2,07‰ , portanto σ’s=fyd
(x  24,7) (x  d'  24,7  3,625)

Como os valores previamente supostos das tensões nas armaduras se con-


firmaram, o valor de x é o correto para o equilíbrio. O valor do momento interno re-
sistente será dado por:

2.67
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___________________________________________________________________________

Md,Resist=Rcc(d–y/2)+A’sfyd(d-d’)=1,214x20x19,8(55,75–19,8/2)+3,68x43,5(55,75-3,625)

Md,Resist = 30386 kNcm MResist =(Md,Resist /1,4)=21704 kNcm > Msolic = 20000 kNcm

2.7.3 – Exemplos de flexão normal simples com seção T ou L

EXEMPLO 1
Calcular os valores da mesa colaborante bf para as vigas da forma apresen-
tada na figura 2.26.

Nesta forma as vigas V1, V2 e V3 têm dois tramos ou vãos, o primeiro com
comprimento (295+20/2+20/2) = 315 cm e o segundo com (365+20/2+20/2) = 385
cm. As vigas V3, V4 e V5 têm também dois vãos com comprimentos 315 cm e 400
cm. O diagrama genérico de momentos fletores para todas as vigas está apresenta-
do na figura 2.27.

Nesta figura M1 e M2 são os momentos positivos (tracionam a parte inferior


da viga) e X é o momento negativo (traciona a parte superior da viga). Os pontos de
momentos nulos do diagrama estão indicados na figura com as distâncias x1 e x2
referenciadas ao apoio central.

Viga V1 – A mesa está comprimida para os momentos M1 e M2 e tracionada para o


momento negativo X. Esta viga só pode funcionar como T, ou no caso L, apenas nos
trechos positivos do diagrama de momentos. Os valores de a1 e a2 não estão dis-
poníveis no diagrama de momentos, portanto serão obtidos pela recomendação da
NBR 6118:2014.

Para M1 a largura colaborante do lado da nervura em que a laje tem continui-


dade (b1) é dada por:

2.68
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Figura 2.26 – Forma para o exemplo 2.4.7.3

1 = 315 cm 2 = 385 cm
a1 = 0,75 1 = 0,75x315 = 236,25 cm a2 = 0,75 2= 0,75x385 = 288,75 cm

b1 ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm
b1 = 24 cm
b1 ≤ (b2/2) = (380/2) = 190 cm

2.69
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Figura 2.27 – Diagrama genérico de momentos fletores

O lado oposto a b1 não tem laje, portanto:

b3 = b 4 = 0  b3 = 0

bf = bw + b1 + b3 = 20 + 24 + 0 = 44 cm (neste caso a viga tem seção L)

Para M2 a largura colaborante do lado da nervura em que a laje tem continui-


dade (b1) é dada por:

b1 ≤ 0,10 a2 = 0,10x289 ≈ 29 cm
b1 = 29 cm
b1 ≤ (b2/2) = (380/2) = 190 cm

b3 = b 4 = 0  (não tem laje do lado oposto à b1)  b3 = 0

bf = bw + b1 + b3 = 20 + 29 + 0 = 49 cm (neste caso a viga tem seção L)

2.70
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Para o momento negativo X a seção só pode funcionar como seção retangu-


lar 20/40.

Viga V2 – De forma análoga ao calculado para V1, obtém-se:

1 = 315 cm 2 = 385 cm
a1 = 0,75 1= 0,75x315 = 236,25 cm a2 = 0,75 2 = 0,75x385 = 288,75 cm

Para M1 as larguras colaborante dos lados Esquerdo e Direito da nervura são


dadas por:

b1,E ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm


b1,E = 24 cm
b1,E ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

b1,D ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm


b1,D = 24 cm
b1,D ≤ (b2/2) = (380/2) = 190 cm

bf = bw + b1,E + b1,D = 20 + 24 + 24 = 68 cm

Para M2 tem-se:

b1,E ≤ 0,10 a2 = 0,10x289 ≈ 29 cm


b1,E = 29 cm
b1,E ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

b1,D ≤ 0,10 a2 = 0,10x289 ≈ 29 cm


b1,D = 29 cm
b1,D ≤ (b2/2) = (380/2) = 190 cm

bf = bw + b1,E + b1,D = 20 + 29 + 29 = 78 cm

2.71
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Para o momento negativo X a seção só pode funcionar como seção retangu-


lar 20/40.

Viga V3 – Os valores de b1 e b3 são os mesmos que os calculados para a viga V1. A


diferença deve-se ao novo valor de b2 = 295 cm, que não interfere nos resultados
finais de b1.

Para M1 tem-se:

bf = bw + b1 + b3 = 15 + 24 + 0 = 39 cm

Para M2 tem-se:

bf = bw + b1 + b3 = 15 + 29 + 0 = 44 cm

Para o momento negativo X a seção só pode funcionar como seção retangu-


lar 15/40.

Viga V4 – Esta viga tem um balanço do lado esquerdo da nervura que está 30 cm
abaixo do nível das demais lajes. Assim têm-se mesas tanto do lado superior direito
quanto do inferior esquerdo da nervura, fazendo a viga funcionar como seção L para
momentos positivos e negativos.

1 = 315 cm 2 = 400 cm
a1 = 0,75 1 = 0,75x315 = 236,25 cm a2 = 0,75 2 = 0,75x400 = 300 cm
x1 = 0,25 1= 0,25x315 = 78,75 cm x2 = 0,25 2 = 0,25x400 = 100 cm

Para M1 tem-se:

b1 ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm
b1 = 24 cm
b1 ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

2.72
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

b3 = b 4 = 0 (a laje L1 está invertida, portanto tracionada)  b3 = 0

bf = bw + b1 + b3 = 15 + 24 + 0 = 39 cm

Para M2 tem-se:

b1 ≤ 0,10 a2 = 0,10x300 ≈ 30 cm
b1 = 30 cm
b1 ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

b3 = b 4 = 0 (a laje L1 está invertida, portanto tracionada)  b3 = 0

bf = bw + b1 + b3 = 15 + 30 + 0 = 45 cm

Para o momento negativo X, como a única laje comprimida (L1) está do lado
do balanço, sem continuidade, tem-se:

b3 ≤ 0,10 (x1 + x2) = 0,10x(78,75 + 100) ≈ 18 cm


b3 = 18 cm
b3 ≤ b4 = 30 cm

b1 = 0 (a laje L2 está tracionada)

bf = bw + b1 + b3 = 15 + 0 + 18 = 33 cm

Viga V5 – De forma análoga ao calculado para V2, obtém-se:

1 = 315 cm 2 = 400 cm
a1 = 0,75 1 = 0,75x315 = 236,25 cm a2 = 0,75 2 = 0,75x400 = 300 cm

Para M1 as larguras colaborante dos lados Esquerdo e Direito da nervura são


dadas por:

2.73
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

b1,E ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm


b1,E = 24 cm
b1,E ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

b1,D ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm


b1,D = 24 cm
b1,D ≤ (b2/2) = (365/2) = 182,5 cm

bf = bw + b1,E + b1,D = 20 + 24 + 24 = 68 cm

Para M2 tem-se:

b1,E ≤ 0,10 a2 = 0,10x300 = 30 cm


b1,E = 30 cm
b1,E ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

b1,D ≤ 0,10 a2 = 0,10x300 = 30 cm


b1,D = 30 cm
b1,D ≤ (b2/2) = (365/2) = 182,5 cm

bf = bw + b1,E + b1,D = 20 + 30 + 30 = 80 cm

Para o momento negativo X a seção só pode funcionar como seção retangu-


lar 20/40.

Viga V6

1 = 315 cm 2 = 400 cm
a1 = 0,75 1 = 0,75x315 = 236,25 cm a2 = 0,75 2 = 0,75x400 = 300 cm

Para M1

2.74
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

b1 ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm
b1 = 24 cm
b1 ≤ (b2/2) = (365/2) = 182,5 cm

b3 ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm
b3 = 24 cm
b3 ≤ b4 = 50 cm

bf = bw + b1 + b3 = 20 + 24 + 24 = 68 cm

Para M2

b1 ≤ 0,10 a2 = 0,10x300 = 30 cm
b1 = 30 cm
b1 ≤ (b2/2) = (365/2) = 182,5 cm

b3 ≤ 0,10 a2 = 0,10x300 = 30 cm
b3 = 30 cm
b3 ≤ b4 = 50 cm
bf = bw + b1 + b3 = 15 + 30 + 30 = 75 cm

Para o momento negativo X a seção só pode funcionar como seção retangu-


lar 20/40.

EXEMPLO 2
Calcular as armaduras para uma viga T, com bf = 90 cm, bw = 20 cm, h = 50 cm,
d = 45 cm, hf = 10 cm. Concreto fck = 30 MPa, aço CA 50.

fc=0,85x3/1,4 = 1,821 kN/cm2 (tabela 1.11)


fyd=50/1,15 = 43,48 kN/cm2 (tabela 1.11)

 M = 15000 kNcm

2.75
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Md  bf  hf  h  15000x1,4  90  10  10 
K    1  1  f      1  1    0,285  0,691
f c b w d 2  b w  d  2d  1,821x20x45  20  45 
2
2x45 

K<0  seção retangular bfh = 90/50

Md 15000x1,4
K 90x 50  2
  0,0632  K < KL = 0,295  K’ = K = 0,0632
fcbf d 1,821x90x45 2

A s  A s1 
fcbf d
f yd

1  1  2K'  
1,821x90x45
43,5

1  1  2x0,0632  11,09cm2 

A armadura As tem que ser maior ou igual a armadura mínima As,min. Como os
valores das tabelas 2.6 e 2.7 só valem para seções retangulares, o valor mínimo da
armação em viga de seção T deve ser calculado como aquela necessária para com-
bater o momento mínimo dado na equação (2.49). O valor de fctk,sup é dado na e-
quação (2.50).

Md,min = 0,8 W0 fctk,sup, W0 = (Ix,cg / ymax,trac), fctk,sup = 0,39 (fck)2/3 (fck < 50 MPa)

O centro geométrico para a seção T de concreto em relação ao limite inferior


da nervura bw (largura paralela ao eixo x da seção transversal) vale:

ycg = (90 x 10 x 45 + 20 x 40 x 20) / (90 x 10 + 20 x 40) = 33,24 cm

Ix,cg = [(90x503)/12+90x50x(33,24-25)2]–[(70x403)/12+70x40x(33,24-20)2]=378873 cm4

fctk,sup = 0,39 x 302/3 = 3,77 MPa ≈ 0,38 kN/cm2

Md,min = 0,8 x [(378873) / 33,24] x 0,38 = 3465 kNcm Mmin = 2475 kNcm

KT < 0, K90/50 = 0,0104 < KL = 0,295, As,min = 1,77 cm2 < As,cal = 11,09 cm2
Com K = 0,0632  α = 0,0654  x = 0,0654x45 / 0,8 = 3,68 cm < hf = 10 cm.

2.76
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Outra forma seria determinar o momento de referência, equação 2.47, e com-


pará-lo com o valor de Md.

 h   10 
M dRef  f c b f h f  d  f   1,821x90x10x 45    65556kNcm
 2   2

MdRef > Md = 15000x1,4 = 21000 kNcm  seção retangular bfh = 90/50

Se optasse por calcular a viga com seção retangular 20/50, desprezando-se a


contribuição da mesa, a armadura seria As,Ret = 12,96 cm2 > As,T = 11,09 cm2 mos-
trando que quando possível, o cálculo como seção T é sempre mais econômico.

 M = 40000 kNcm

Md = 56000 kNcm < Md,Ref = 65556 kNcm  seção retangular bfh = 90/50

K90/50 = 0,169 < KL = 0,295  K’ = K = 0,169  As,90/50 = As1 = 31,54 cm2

Calculando-se com as fórmulas da seção T obtém-se:

K0 = (hf/d) (1-hf/2d) = (10/45) [1-(10/2x45)] = 0,198


K = 0,759 – 0,691 = 0,068 <
KL = 0,295  K’ = K = 0,068

Como K < K0 a seção deve ser calculada como seção retangular 90/50, já cal-
culada acima, com As,90/50 = 31,54 cm2. Com o valor de K > 0, a armadura calculada
como seção T fica:

1,821x20x45   90  10 
A s,T  A s1  1  1  2x0,0683    1    31,97cm2
43,5   20  45 

2.77
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

A armadura calculada com as fórmulas da seção T (As,T = 31,97), embora er-


rada neste caso, dá praticamente o mesmo valor que a calculada como seção retan-
gular 90/50 (As,90/50 = 31,54), daí a generalização usada por Tepedino (1980) de se
usar a seção retangular (bf h) só quando K < 0.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE

O cálculo como seção T consegue combater grandes momentos fletores ape-


nas com armadura simples (sem armadura de compressão). Isto pode levar a falsa
ideia que o simples atendimento ao ELU (dimensionamento) garanta também o es-
tado limite de deformação excessiva (ELS-DEF) do elemento estrutural em análise.
Neste exemplo usando-se a equação (2.38) para K=KL = 0,295 (valor de K a partir do
qual se tem armadura dupla) obtém-se o momento limite para seção T:

 b h  h 
M dL  f cb w d 2 K L   f  1  f  1  f   73751x0,295  0,691  727444kNcm
  bw  d  2d 

ML = 51960 kNcm

Supondo uma viga biapoiada com carga uniformemente distribuída de vão =
5m (h/= 10%) submetida ao momento acima, a carga seria p = 8 x 519,60 / 52 =
166,3 kN/m. Considerando a rigidez à flexão da seção retangular geométrica (bruta)
de concreto EI, com I = (bh3/12) = (20x503/12) = 208333 cm4 e E = Ecs dado pela
equação (1.6a), onde Eci é obtido pela equação (1.5a) para αe = 1,0 (brita de granito
ou gnaisse).

Eci  α E 5600 f ck  1,0x5600 30  30672MPa  3067kN/cm2

f ck 30
α i  0,8  0,2  0,8  0,2  0,875  1,0 equação (1.6b)
80 80

2.78
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Ecs  α i Eci  0,875x3067 2684kN/cm2

EI = 2684 x 208333 = 5,59 x 108 kNcm2

O cálculo da flecha deve ser feito com a rigidez da seção fissurada (estádio
II), que no caso é uma seção T, levando-se em conta a flecha diferida no tempo (flu-
ência). Neste exemplo apenas para se ter uma noção da flecha máxima, será calcu-
lado como seção retangular 20x50 (inércia menor que a da seção T) com a seção
bruta (geométrica) de concreto (inércia maior que a da seção retangular fissurada).
A flecha máxima em uma viga biapoiada com carga uniformemente distribuída p =
166,3 kN/m = 1,66 kN/cm é dada por:

fmax = 5pl4 / 384EI = 5 x 1,66 x 5004 / 384 x 5,59 x 108 = 2,42 cm > 500 / 250 = 2 cm

Como a flecha máxima superou a flecha admissível fadm= (l/250) = 2 cm a vi-


ga não atenderia ao estado limite de serviço devido à deformação excessiva ELS-
DEF.

Considerando o cálculo da flecha como seção T (bf = 90 cm, bw = 20 cm, hf =


10 cm, As,cal = 31,97 cm2, n = Es / Ecs = 7,82) , no estádio II (xII = 13,58 cm, III =
321001 cm4), levando-se em conta a deformação lenta para carga permanente g =
0,7p = 0,7 x 1,66 = 1,16 kN/cm e carga acidental q = 0,3p = 0,50 kN/cm, com p∞ =
2,46g + 0,738q = 3,22 kN/cm (edifício residencial), obtém-se a flecha máxima:

f∞ = 5 x 3,22 x 5004 / 384 x 2684 x 321001 = 3,04 cm > fadm = 2 cm

confirmando, como esperado, o resultado anterior calculado com a seção retangular


geométrica.

Do exposto, justifica-se a preocupação que se deve ter no cálculo de seção T


com a verificação do ELS-DEF, preocupação redobrada no caso de se ter seção T
com armadura dupla, ou seja, K>KL = 0,295.

2.79

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