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PARECER TÉCNICO ESTRUTURAL DE UM IMÓVEL COMERCIAL

SITUADO NA CIDADE DO RECIFE - PE

IMÓVEL COMERCIAL SITUADO NA RUA DO RANGEL, Nº 69, BAIRRO DE SÃO JOSÉ, RECIFE - PE

CONTRATANTE: Lócio Engenharia


CONTRATADA: LG Engenharia Estrutural
AUTORIA: Engª Civil Luciana Gomes da Silva – CREA 32644 D/PE

Recife, outubro/ 2022

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PARECER TÉCNICO ESTRUTURAL DE UM IMÓVEL COMERCIAL SITUADO NA CIDADE DO RECIFE

FOLHA RESUMO DO PARECER TÉCNICO

Dados cadastrais
Contratante: Lócio Engenharia
Local: Rua do Rangel, Nº 69, Bairro de São José, Cidade do Recife – PE.

Descrição da estrutura
A estrutura em questão é a de um imóvel comercial de apenas pavimento térreo com
dimensões internas aproximadas de 4,20 m x 16,00 m.
A estrutura da coberta é uma laje unidirecional pré-moldada com as vigotas e bloco de
cimento com altura total de 10 cm, sendo 7 cm do bloco de concreto celular e 3 cm de
capa de concreto. As vigotas pré-moldadas vencem o vão de 4,20 m.
A laje unidirecional pré-moldada está apoiada nas alvenarias laterais da edificação.
Sobre a laje de coberta existe telhado com telhas de fibrocimento apoiadas em linhas de
madeira que se apoiam nas paredes laterais da edificação, desta forma a estrutura do
telhado não dá cargas na laje pré-moldada.
Sobre a laje pré-moldada existe revestimento de argamassa de espessura 1,5 cm e está
fixado à laje forro de gesso.

Classe de Agressividade Ambiental conforme NBR 6118 – Projetos de estruturas de


concreto – Procedimentos
Classe de agressividade ambiental II

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I. OBJETIVO DO PARECER TÉCNICO


O objetivo deste Parecer Técnico é apresentar o resultado da inspeção visual realizada
em 01/10/2022 ao imóvel em questão, com a participação da Engª Civil Luciana Gomes,
representante da empresa contratada e do encarregado da obra de reforma na
edificação, o Sr. Marcelo Oliveira, representando a empresa contratante, assim como
apresentar memória de cálculo da verificação de estabilidade da laje pré-moldada e, por
fim, apresentar soluções de reforço estrutural se houver necessidade.

II. DADOS DA LAJE PRÉ-MOLDADA OBTIDOS NA VISTORIA TÉCNICA


Dimensões: 4,20 m x 16,00 m
Altura total da laje: 10 cm
Altura do bloco de concreto celular: 7 cm
Altura da capa: 3 cm
Largura da vigota pré-moldada: 10 cm
Inter-eixo das vigotas: 50 cm
Armação positiva das vigotas: 2 barras de 4.2 cm
Armação do capeamento (combate a fissuração): inexistente
Revestimento sobre a capa: revestimento de argamassa de espessura de 1,5 cm

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III. RESULTADOS DA INSPEÇÃO

Foto 01: Laje pré-moldada de 10 cm de altura com bloco de concreto celular vencendo
vão de 4,20 m. As vigotas estão espaçadas a cada 50 cm e apoiadas nas alvenarias
laterais da edificação.

Foto 02: Apoios das vigotas em alvenaria sem cinta de amarração em concreto armado.
As vigotas estão apoiadas na alvenaria que apresenta furos onde se apoiavam o
vigamento de madeira de forro de madeira original da edificação.

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Foto 03: Aproximação para visualizar os furos na alvenaria para apoio de vigas de
madeira do forro original da edificação. O forro de madeira foi retirado na reforma devido
à deterioração da madeira. Nas edificações antigas da cidade do Recife é comum os
forros de madeira apoiados nas alvenarias, no entanto, esses forros ao longo dos anos
foram substituídos por elementos mais resistentes à degradação, como pisos metálicos
e lajes de concreto armado.

Foto 04: Mesmas condições de apoio das vigotas na outra alvenaria lateral da edificação.

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Foto 05: Aproximação da foto anterior. Mesmas condições de apoio das vigotas na outra
alvenaria lateral da edificação.

IV. VERIFICAÇÃO DA ESTABILIDADE DA LAJE PRÉ-MOLDADA


O cálculo de uma laje pré-moldada consiste no cálculo de uma viga T composta pela
vigota e pelo capeamento da laje. A largura da mesa (bf) é a distância entre eixos de
vigotas que é de 50 cm.

Laje pré-moldada com vigotas e bloco de concreto celular

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Seção transversal da viga T para cálculo da laje pré-moldada

1) Cargas atuantes nas vigotas da laje pré-moldada

1.1) Cargas permanentes (g):


Peso próprio (g1): 180 Kgf/ m2
Argamassa de regularização (g2) = 2.100,00 Kgf/ m3 x 0,015 m = 31,50 Kgf/ m2
Forro de gesso (g3) = 25 Kgf/ m2
g = g1 + g2 + g3 = 236,50 Kgf/ m2

1.2) Sobrecarga (q):


Será considerado para sobrecarga de utilização o valor de 50 Kgf/ m2 para lajes de forro
com acesso de pessoas apenas para manutenção conforme NBR 6120: 1978 – Cargas
para o cálculo de estruturas de edificações, Tabela 2, por se tratar da verificação de
estabilidade de uma laje construída antes de 2019, ano em que esta Norma foi revisada
e esta carga de utilização passa a ser de 100 Kgf/ m2.

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1.3) Carregamento na viga T com a combinação de cargas para verificação no estado


limite último (combinação última - ELU)

q_vigota_ELU = 1,4 (g + q) . bf = 1,4 (236,50 + 50) . 0,50 = 200,55 Kgf/ m

1.4) Carregamento na viga T com combinação de cargas para verificação no estado


limite de serviço – deformações (combinação quase permanente - ELS)

q_vigota_ELS = (g + 0,3 q) . bf = (236,50 + 0,3 . 50) . 0,50 = 125,75 Kgf/ m

2) Esforços solicitantes nas vigotas da laje pré-moldada

2.1) Momento fletor (Md)


Md = q_vigota_ELU . L2 / 8 = 200,55 . 4,202 / 8 = 442,21 Kgf . m

2.2) Esforço cortante (Vd)


Vd = q_vigota_ELU . L / 2 = 200,55 . 4,20 / 2 = 421,16 Kgf

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3) Verificação à flexão das vigotas da laje pré-moldada (ELU)

Conforme apresentado, a armação necessária (As, necessário) para equilibrar o


momento fletor atuante de cálculo de 442,21 Kgf . m é de 1,19 cm2, podendo ser, 1 barra
de 10 mm + 1 barra de 8 mm, no entanto a armação existente nas vigotas é de, apenas,
2 barras de 5 mm (As, existente de 0,40 cm2).
CONCLUSÃO: As, necessário > As, existente, desta forma as vigotas não atendem
ao Estado Limite Último (ELU) e, portanto, não tem estabilidade para resistir aos
esforços atuantes na mesma.

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OBSERVAÇÕES:
a) Na verificação da estabilidade da laje foi utilizado um concreto de resistência de 20
MPa (200 Kgf/ cm2), no entanto, foi observado por encarregado da obra que houve mais
dificuldade em perfurar os blocos de concreto celular da laje do que a própria capa de
da laje com 3,0 cm de espessura. Este fato se deve a não utilização de agregado graúdo
na confecção da capa, visto que o agregado graúdo é o componente do concreto que
mais tem influência no valor do módulo de elasticidade do concreto e consequentemente
na resistência dele.
Desta forma, além da seção de aço das vigotas ser insuficiente para os esforços
atuantes, o material da capa da laje não tem resistência à esforços de compressão na
flexão atuantes na laje, por se tratar de uma argamassa (cimento + água + agregado
miúdo).

Foto 06: Material da capa da laje.com espessura de 3,0 cm apenas com agregados
miúdos. Observa-se a existência de pedra britada, mas com granulometria pequena não
podendo ser considerada como agregado graúdo, logo, não tem capacidade de
aumentar o módulo de elasticidade e consequentemente a resistência do material.
Observa-se também o material de regularização da capa com espessura de 1,5 cm.

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b) Na verificação da estabilidade da laje foi considerado que as vigotas da laje estão


apoiadas em cinta de concreto, o que não ocorre, as vigotas estão simplesmente
apoiadas nas alvenarias, sem travamentos laterais, tendo liberdade de pequenos
movimentos no sentido longitudinal da edificação. A figura abaixo mostra como deveria
ser os apoios das vigotas. A cinta de concreto tem a função de amarrar, interligar as
armações das vigotas.

Figura 01: Amarração das vigotas de laje pré-moldada com cinta de concreto.

4) Verificação de deformações das vigotas da laje pré-moldada (ELS-D)


A verificação da deformação da laje foi realizada através de análise de grelha não linear
do programa de cálculo estrutural TQS, que considera a inércia fissurada da seção
transversal das vigotas pré-moldadas.
A deformação de 7,48 cm apresentada, na figura abaixo, trata-se da soma da
deformação imediata e o efeito da fluência do concreto ao longo do tempo.

Deformação imediata = 3,00 cm


Deformação ao longo do tempo (efeito da fluência) = 4,48 cm
Deformação total = 7,48 cm
Deformação limite = L / 250 = 418 / 250 = 1,67 cm

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Figura 02: Resultado da análise de grelha não-linear para verificação do estado limite de
serviço quanto a deformações (ELS-D).

CONCLUSÃO: Deformação total atuante > Deformação limite, desta forma as


vigotas não atendem ao Estado Limite de Serviço (ELS-D) para as cargas atuantes
na laje.

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V. SOLUÇÃO TÉCNICA DE REFORÇO ESTRUTURAL


Para reforço de lajes pré-moldadas com vigotas é comum a utilização de perfis metálicos
(funcionando como apoios) para diminuir o vão que a vigota deverá “vencer”, conforme
ilustrado na foto abaixo:

Foto meramente ilustrativa de reforço estrutural de laje pré-moldada com perfis


metálicos. As dimensões dos perfis devem vir especificadas em Projeto de Reforço
Estrutural.

Durante a execução do reforço, a laje deve ser aliviada de todas as cargas possíveis,
ser retirada de serviço com uso de escoramento.

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VI. CONCLUSÃO
Do exposto neste parecer técnico, a laje pré-moldada em questão não atende ao
Estado Limite Último (ELU) da NBR 6118 – Projetos de Estruturas de Concreto -
Procedimentos. Este estado limite corresponde a segurança estrutural da
edificação. Desta forma, para garantir a segurança do usuário e a funcionalidade
da edificação, DEVE-SE executar reforço estrutural da laje pré-moldada
adicionando mais apoios para ela como descrito no Item V deste parecer técnico.
Até que tal reforço estrutural seja executado, a edificação DEVE ficar interditada
para qualquer uso.
Por último, tal reforço estrutural DEVE ser executado conforme Projeto de Reforço
Estrutural, que irá apresentar as dimensões dos perfis metálicos e detalhes de
execução, devendo ainda acompanhar ART (Anotação de Responsabilidade
Técnica) registrada no CREA.

Sem mais para o momento,


Atenciosamente,

Luciana Gomes da Silva


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Resp. Técnico – CREA: 32644 D/PE

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