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Introdução a Chesterton
Isso não quer dizer, porém, que o livro careça de fundamento historiográfico. Significa, pelo
contrário, que a obra é fiel à história sem ser “historicista”, assumindo com simplicidade o que
nos dizem de São Francisco os principais testemunhos da época, sem varrer para baixo do
tapete os aspectos extraordinários, milagrosos, de sua vida.
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Além de suas obras apologéticas e literárias, das quais falaremos mais tarde,
Chesterton escreveu também algumas biografias. Dos cerca de dez livros que
ele escreveu na matéria, apenas dois são propriamente hagiografias, isto é,
vidas de santos. O mais conhecido deles, ao menos em alguns países, está
dedicado a S. Tomás de Aquino. No entanto, quiséramos falar sobretudo
daquele que foi o santo mais importante para o escritor, além de uma presença
contínua em sua vida sob diversos aspectos. Trata-se de S. Francisco de Assis.
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santo na vida do escritor seja a sua própria esposa. Como vimos na primeira
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aula, foi justamente Frances — “Francisca” em inglês — quem o aproximou do
cristianismo e lhe serviu até o fim como ajudante e companheira amorosa,
como signo da presença e do amor divinos.
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É para satisfazer o desejo desta parcela do público que Chesterton opta por
seguir por um terceiro caminho: escrever a biografia de S. Francisco a fim de
torná-lo conhecido, sem deformações tendenciosas nem parcialidades
desconfiadas, a leitores sem preconceitos céticos, isto é, àquela parte do
mundo moderno que, por alguma razão, ainda vê no santo católico um homem
ao mesmo tempo simpático e desafiador, que inspira curiosidade, mas também
põe em xeque os paradigmas do que julgamos ser “racional”. Por isso, o São
Francisco de Chesterton se dirige a homens de boa-vontade, e é com toda a
boa vontade, com a mais estrita fidelidade ao que foram a vida e as motivações
de S. Francisco, que o escritor inglês se centra no essencial — místico, religioso
— de sua biografia.
Para isso, Chesterton faz questão de nos remontar ao mundo em que nasceu
Francisco, isto é, ao contexto que possibilitou o surgimento de um santo tão
marcante na história da Igreja. S. Francisco foi, antes de tudo, o perdão divino a
andar sobre a terra, como alguém em quem Deus finalmente exorcizou tudo o
que havia de desordenado no relacionamento entre homem e natureza. Não
percamos de vista que o mundo anterior à vinda de Cristo, o mundo pagão,
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Foram necessários mais ou menos mil anos para que esse mundo, sob a ação
purificadora da Igreja Católica, se fosse libertando do antigo olhar pagão, até
que o homem estivesse, em Cristo, plenamente reconciliado com a natureza: o
homem, reconhecendo a soberania do Deus uno e trino; a natureza, posta no
seu devido lugar, tratada como aquilo que essencialmente é — um espelho
através do qual o homem vê não só a sua própria superioridade, mas sobretudo
a majestade d’Aquele que tudo criou e a quem todos devem obediência.
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Por outro lado, pode-se dizer que o ideal de vida franciscana se reduz àquelas
três passagens bíblicas: a do jovem rico, a exortação de Cristo a não levarmos
nada no caminho e, sobretudo, o chamado a carregarmos dia após dia a nossa
cruz. É, portanto, um ideal de perfeita imitação de Nosso Senhor, ideal que os
primeiros franciscanos tanto melhor viveram quanto mais se rebaixaram. Eis
por que se identificavam como jograis, ou seja, saltimbancos de Deus:
colocavam-se na posição mais humilde, de quem se sabe secundário e
meramente “acessório”, mas vive a alegria de saber-se o bobo de uma corte
cujo rei é um Deus que nos faz reinar consigo. Daí o caráter infantil, no sentido
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Seja como for, uma ideia em que Chesterton insiste constantemente é o fato de
S. Francisco de Assis não ter sido um “amante da natureza”, caricatura tão
frequente que dele se faz. O santo de Assis esteve muito longe de ser um
admirador ingênuo das águas e das matas, como se visse nessas criaturas um
fim em si mesmo que deveríamos proteger da ação destrutiva do “bicho
homem”. Francisco, pelo contrário, foi uma alma em que o Espírito Santo mais
deixou ver a ação do dom de ciência, que não é outra coisa senão um olhar
sobrenatural para as realidades criadas, contemplando-as com os olhos de
Deus, isto é, como criaturas, como perfeições participadas, finitas, do único que
é Bom e Belo por essência.
Como todo místico, Francisco tinha os pés muito bem postos no chão para ser
cético e materialista. Nele tampouco se vê vestígio de paganismo, de uma
sobrevalorização desmesurada das criaturas. Para ele, a terra é irmã, e não
mãe; o sol é irmão, e não pai. E, embora tenham sido criados antes, são irmãos
menores, porque criados para o homem, a fim de que, servindo a humanidade,
a criação inteira seja um hino de louvor à sabedoria divina.
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referência a Deus. É o saber privar-se das coisas da terra que permite saborear
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as celestes. É só o casto que pode viver a sexualidade em sua verdadeira
dimensão. É só o pobre de espírito, para quem tudo é lixo fora de Cristo, que
possui as verdadeiras riquezas. É só ao paladar que jejua por amor ao Reino
dos céus que Deus torna mais saborosos os mais simples alimentos.
conta CNP
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Christo Nihil Præponere
“A nada dar mais valor do que a Cristo”
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