Você está na página 1de 16

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS

LIVIA BEATRIZ DAMACENO

PRÁTICAS DISCURSIVAS DE DOIS GRUPOS HACKTIVISTAS NO BRASIL

SÃO CARLOS

2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS

LIVIA BEATRIZ DAMACENO

PRÁTICAS DISCURSIVAS DE DOIS GRUPOS HACKTIVISTAS NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de Letras
da Universidade Federal de São Carlos
para a obtenção do título de Bacharel
em Linguística.

Orientadora: Profa. Dra. Vanice Maria


Oliveira Sargentini

SÃO CARLOS

2017
Dedicatória para o NENO
Agradecimentos

Dani, profa Monica, mamis e papis, juba, Julio,


Índice de figuras
Sumário

Introdução

Capítulo 1: Percurso Teórico-Metodológico

Capítulo 2: Sobre o objeto

2.1. Hacktivismo e hacktivistas

2.2. Quem são os Anonymous?

2.3. Células (anônimas) brasileiras

Capítulo 3: Sobre o corpus

3.1. Construção do corpus

Capítulo 4: Análise do corpus

Capítulo 5: Considerações finais

Referências Bibliográficas
Resumo

O presente trabalho pretende problematizar as práticas discursivas operadas


pelos percursos ideológicos que se manifestam através dos sujeitos: o grupo
AnonymousBr4sil e o grupo Anonymous BR e identificar as regularidades e as
heterogeneidades das diferentes formações discursivas, conforme entendido
pela Análise do Discurso de linha francesa, buscando descrever como se
regulam os enunciados que constituem suas respectivas páginas da web. Para
isso, observaremos, a partir das postagens, editoriais das páginas oficiais, os
encadeamentos sintagmáticos (lexicais) que constituem as regularidades e as
irregularidades dos enunciados, buscando compreender as determinações
impostas por suas respectivas formações discursivas. Nossa hipótese inicial é
a de que os recentes acontecimentos políticos desencadearam em uma cisão
entre os grupos, em que um apresenta um posicionamento ideológico mais
progressista (Anonymous BR) e outro apresenta um posicionamento mais
conservador (AnonymousBr4sil). Os indícios apontam, em um primeiro
momento, que os grupo AnonymousBr4sil e Anonymous BR, extrapolam as
determinações da formação discursiva que se inserem. Ou seja, será que
esses dois grupos ainda podem se colocar como grupos de ativistas políticos
que operam visando romper os paradigmas impostos por uma ordem do
discurso vigente? A nosso ver, o funcionamento do Anonymous, enquanto
grupo hacktivista internacional, apresentava uma proposta inicial pautada em
uma práxis anárquica, independente de posicionamentos que se configuram à
esquerda ou à direita. Pretendemos investigar quais as condições que levaram
a essa divisão.

Palavras-chave: Análise do Discurso francesa; hacktivismo; Anonymous.


Introdução

O presente Trabalho de Conclusão de Curso busca discutir as práticas


discursivas desses novos sujeitos que surgiram no paradigma das redes
sociais: o coletivo hacktivista Anonymous. Ora tido como heróis da nossa era,
ora colocados como vilões apolíticos, esse grupo de hacktivistas despertam
interesse para acadêmicos e não-acadêmicos devido a alta midiatização de
seus feitos.

A escolha dessa temática se deu por leituras sobre vigilância na


internet de pessoas comuns por parte de agências de inteligência norte-
americanas como a NSA (National Security Agency) trazidas à tona por Edward
Snowden1, como por exemplo, o livro 2 do jornalista investigativo Glenn
Greenwald de 2014 que narra a saga de Snowden até o momento de exílio na
Rússia. Nessa minha entrada no mundo da espionagem internacional me levou
até os cantos mais obscuros da rede, cantos que parecem fazer suas próprias
regras, longe de qualquer semelhança com o mundo “real”. É justamente o
lugar onde se encontra o Anonymous, numa ponte entre a “superfície” da web
e o que é chamado de “deep web”, a parte “profunda” da internet. O caminho
forjado pelo Anonymous me levou até a descoberta de como o ativismo político
internacional se organizou a partir dessas revelações, chegando a práticas de
hacktivismo que visam lutar contra essa realidade de constante vigilância de
pessoas comuns.

Nosso objeto, duas das diversas células dos Anonymous no Brasil,


Anonymous BR e Anonymous Br4sil se destacam por justamente pela
diversidade do conteúdo que um grupo apresenta em relação ao outro. Seus
seguidores se identificam e se projetam na imagem dos Anonymous, a
participação deles é fundamental para a manutenção da própria identidade e
produção de conteúdo dos Anonymous brasileiros.

1
Famoso analista de sistema que revelou e denunciou o projeto PRISMA da CIA que visava
espionar a totalidade da população mundial em 2013.
2
GREENWALD, G. Sem lugar para se esconder – Edward Snowden, a NSA e a espionagem
do governo norte-americano. Rio de Janeiro: Sextante, 2014.
. Trabalhos como Barros (2013) focam nas referências ao grupo
hacktivista durante as manifestações de Junho de 2013 nos portais da Folha de
São Paulo e do G1, em Machado (2015) ação política dos Anonymous é
examinada sob o ponto de vista das sociedades do controle (DELEUZE, 1992).
Este trabalho justifica-se pela tentativa de compreender e problematizar as
práticas discursivas operadas por duas células do Anonymous no Brasil

Capítulo 1: Percurso Teórico-Metodológico

Motivados pelas questões “o que o Anonymous enuncia?”, “quais as


formações discursivas em que cada grupo se insere?”, “o que os motiva?”, “o
que garante a circulação dos discursos dos respectivos grupos?”, “o que
garante a singularidade de cada grupo?”

Capítulo 2: Sobre o objeto

Neste capítulo vamos tratar um pouco mais sobre o que é a prática do


hacktivismo, sobre o que é um hacktivista, quem são os Anonymous e
conhecer um pouco mais sobre suas células no Brasil.

2.1. Hacktivismo e hacktivistas

Primeiramente faz-se necessário explicitar o que é um hacker e o que


ele faz. Hacker é aquele que tem a intenção de melhorar uma máquina, um
software, um hardware, etc., longe de serem “terroristas virtuais” que destroem
arquivos, invade contas pessoas e plantam vírus em computadores, o/a hacker
aperfeiçoa aquilo que ele julga que possa vir a ser melhorado de acordo com o
seu ideal subjetivo do que é melhor ou “pior” – Linus Torvalds, o criador do
sistema operacional, o Linux, é um exemplo de hacker (CASTELLS, 2003). Um
hacker possui, a priori, conhecimentos específicos de programação, portanto
essa atividade demanda certo nível de estudos em diversos campos do saber,
o que inviabiliza o acesso democrático a esse tipo de atividade e por isso uma
das preocupações desses grupos pode ser deixar o acesso às máquinas o
mais intuitivo possível, por exemplo. Segundo Thiago Szymanski, jornalista do
portal Tecmundo3, existem os hackers do tipo chapéu branco (White hat), ao se
depararem com uma falha em um programa, comunicam o administrador para
que seja corrigido, podem dar palestra sobre segurança de sistemas
operacionais e dados. Já o hacker chapéu preto (Black hat) usam seus
conhecimentos técnicos para explorar falhas em sistemas e danificar
programas, são comumente conhecidos como crackers. Os hackers de chapéu
cinza (Grey hat) são os hackers que ora operam com as práticas do White hat
para terem acesso a dados sigilosos, mas não se sentem compelidos a
notificar as falhas e ajudar a corrigi-las, similar aos hackers Black hat.

Hacktivismo seria então a junção entre os conhecimentos técnicos de


um hacker com a prática política do ativista fazendo surgir assim a figura do
hacktivista. Podemos adaptar a definição do hacker para a de um hacktivista:
hacktivista então é aquele/a que quer melhorar o sistema da forma que ele
julga ser necessário usando os seus conhecimentos técnicos. Não se trata da
transformação do sistema per se e sim, de reformas para deixá-lo mais
acessível.

2.2. Quem são os Anonymous?

Fruto de teorias libertaristas4 que circulavam em fóruns obscuros no


4chan (COLEMAN, 2011), mais especificamente a aba /b/, o Anonymous é um
conglomerado de hackers e não-hackers que visam a contrapor as instituições
burocráticas que operam a domesticação dos corpos para inseri-los na
produção capitalista, são contra também aos complexos militares que utilizam a
violência para subjugar à força aquele que resiste o sequestro de seu corpo.
Anonymous atua em nome das populações anônimas, não se considerando, no
entanto, parte dessas populações. Exemplos de ações do Anonymous dos
Estados Unidos são: o Projeto Chanology (contra a Igreja da Cientologia), o
Vingar Assange (contra a censura e suspensão das bandeiras Visa, Mastercard

3
Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/ataque-hacker/19600-os-4-ataques-hackers-
mais-comuns-da-web.htm. Acesso em 10/09/2017.
4
Entende-se por Libertarismo a ideologia que tem como princípio a liberdade total dos
indivíduos, do livre-mercado, desprovido de qualquer intervenção estatal. Essa ideologia
política está no espectro do que se conhece por anarcocapitalismo, tendo bastante aderência
em comunidades que participam dos fóruns do 4chan, local de nascimento do Anonymous.
a fim de impedir o financiamento do Wikileaks), o Occupy Wall Street
(movimento de resistência ao colapso financeiro de 2008, durante a crise de
Wall Street, ocorrido em Nova York em 2011).

2.3. Células (anônimas) brasileiras

No caso do Brasil, o Anonymous Brasil, uma das células atuantes se


destacou por ações durante a Revolta dos 20 centavos, a Revolta do Vinagre
em 2013, contra a Copa FIFA em 2014 sediada no Brasil e mais recentemente,
exposição de trechos sigilosos da Operação Lava Jato. Outra célula atuante, o
Anonymous Br4sil possui uma página na rede social Facebook com
1.377.870 de curtidas que atua como um portal de notícias, não se destaca por
ações típicas do Anonymous e sim por produção de conteúdo.

Capítulo 3: Sobre o corpus

Neste capítulo vamos demonstrar as razões porque escolhemos nosso


objeto de análise e como o corpus foi construído. A fim de justificar mais
detalhadamente a constituição do nosso pensamento acerca do problema.

3.1. Construção do corpus

Escolhemos nosso corpus baseados no número de acessos e curtidas


das páginas dos respectivos grupos no Facebook, bem como a relevância e
recepção de suas operações e exposição de dados. Selecionamos três
postagens de cada grupo que se referem ao mesmo acontecimento no intuito
de estabelecer uma comparação entre as diferentes formações discursivas, o
que nos levará a coletar indícios das diferentes temporalidades dos respectivos
grupos, enfim, de como se constroem e emergem os discursos de cada célula
acerca do acontecimento em questão.

As postagens se referem à temática do Marco Civil da Internet, uma


espécie de guia sobre a deep web, sobre os Panamá Papers e uma publicação
fixada no Facebook que funciona como um texto do gênero editorial. Os
critérios que basearam nossa seleção foram:

 O que foi destacado em seu site oficial e na sua página do


Facebook. Ou seja, o que eles entendem seja mais ou menos
relevante em sua militância.
 Se as postagens se alinham com os seus manifestos presentes
nos textos que entendemos como Editorial. Ou seja, as
publicações fixadas nas páginas do Facebook.
 O fato de que, ao nosso ver, as postagens selecionadas
resumem satisfatoriamente o que seria a constituição ontológica
de cada grupo.

Vamos a uma breve descrição dos acontecimentos supracitados.

3.1.1. Marco Civil da Internet

O Marco Civil da Internet é a forma como se chama a lei nº 12.965 de


23 de abril de 2014, assinada pela então presidente Dilma Rousseff, que prevê
o estabelecimento de “princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da
internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria.” (BRASIL,
Lei nº12.965, 2014).

As principais mudanças trazidas por essa lei segundo plataforma


pública Cultura Digital do Ministério da Cultura (MinC) são (2014):

 Proteção e privacidade aos usuários da internet: os dados


coletados em redes sociais para fins de publicidade não podem
ser passados para terceiros sem o consentimento do usuário. A
lei estende também a garantia de proteção à privacidade que já
era dada aos meios de comunicações tradicionais como cartas,
conversas telefônicas, para emails;
 Liberdade de expressão e a retirada de conteúdo do ar: a lei
garante a retirada de conteúdo do ar de forma que passe por
instâncias jurídicas e não somente diretamente com o provedor
da internet, ampliando os direitos de defesa contra injúria,
difamação e atos de vingança como vazamento de fotos e
vídeos íntimos;
 Garantia da neutralidade de rede: com a finalidade de fomentar
a livre concorrência na rede, inovação e liberdade para o usuário
acessar o conteúdo que desejar, a lei determina que os
provedores de acesso tratem os dados com o mesmo estatuto,
garantindo a neutralidade da rede;
 Participação no debate público: o Marco Civil da internet prevê a
participação da população sobre a regulamentação em
ambientes como páginas da web, redes sociais, etc.

Segundo Sérgio Amadeu da Silveira, especialista na área da


Comunicação e Tecnologia, o Marco Civil da Internet representa avanços
como:
Em primeiro lugar, está assegurado o princípio da neutralidade
da rede. As empresas de telecomunicação não poderão filtrar
ou bloquear nossa comunicação só por serem donas dos
cabos por onde trafegam nossos bits. Elas devem ser neutras
em relação ao fluxo de informação. Em segundo lugar, o Marco
Civil garante a privacidade e diz que os provedores de conexão
não podem armazenar os dados da nossa navegação em rede.
Terceiro, a Lei dá estabilidade jurídica àqueles que têm sites,
plataformas ou serviços na Internet. Nenhum provedor de
aplicação é responsável por conteúdos postados por terceiros.
Só serão responsabilizados se descumprirem uma ordem
judicial. (SILVEIRA, 2014)

3.1.2. Deep web

Deep web, ou rede profunda, é toda a parte “submersa” do que


entendemos por internet. É acessível somente por outros tipos de navegadores
como TOR (The Onion Routing), que opera por camadas e criptografia ao invés
de conexões diretas entre os servidores e o computador, com o objetivo de
manter o anonimato dos usuários a todo custo (GONÇALVES, 2014).
Alvo de muita polêmica devido a lendas a respeito de conteúdos como
tráfico de pessoas, tráfico de drogas e contratação de assassinos de aluguel, a
Deep Web não é para aqueles com estômago fraco, no entanto, segundo
Santos e Marchi:

A DW pode ser usada de forma positiva ou negativa, isso


depende do caráter de cada um que a usa, se a busca for
relacionada a conteúdo acadêmico e livros por exemplo será
encontrado, entretanto se a busca for por pedofilia, tráfico de
drogas ou até mesmo assassinato de aluguel também será
encontrado. (2013, p.4)

O que podemos destacar sobre a Deep Web é a vasta quantidade de


conteúdo disponibilizado lá, conteúdos que por motivos legislações de proteção
de copyright ou até mesmo censura por parte dos países dos usuários não
estão acessível na internet, como livros, filmes, jogos, tutoriais de diversos
tipos, etc.

3.1.3. Panamá Papers

Os documentos frutos de uma investigação internacional do Consórcio


Internacional de Jornalistas Investigativos (a sigla em inglês é ICIJ) sobre um
esquema global de empresas off-shore usadas para esconder grandes
quantias de dinheiro foi denominado Panamá Papers (aqui no Brasil também é
conhecido por Documentos de Panamá). Esse esquema inviabiliza o
rastreamento do dinheiro e donos, possibilitando pagamentos de propinas e
sonegamento de impostos.

A investigação aponta que a o escritório de advocacia Mossack


Ferreira foi responsável pela abertura de 214 mil empresas de fachada para
clientes de cerca de 200 países. Segundo a página da web Panamá Papers:

As revelações ainda apontaram o envolvimento de 140


políticos de mais de 50 países, vinculados a empresas offshore
em 21 paraísos fiscais. Chefes de Estado, ministros,
parlamentares, deputados e vários outros políticos tem seus
nomes mencionados no Panama Papers. Documentos como
planilhas, e-mails, faturas, recibos e vários outros documentos
indicam que as atividades ilegais foram cometidas nos últimos
40 anos. (PANAMA PAPERS, 2017)
Os documentos revelam ainda a participação de políticos brasileiros e
empreiteiros envolvidos na investigação conhecida como Lava-Jato, segundo o
site “o escritório brasileiro da Mossack Fonseca é apontado de criar e vender
empresas offshore a políticos e parentes de sete partidos brasileiros.”

3.1.4. Editorial

Neste tópico vamos explicitar o que entendemos por gênero Editorial e


demonstrar características no texto selecionado para o corpus. No Facebook é
possível deixar fixada uma publicação, lugar ocupado normalmente
considerando conteúdos mais atuais organizados de forma temporalmente
linear, ou seja, essa função permite que a publicação desejada se destaque
mesmo não sendo a mais recente, o que nos sugere que o autor da postagem
considera àquela importante a ponto de deixá-la visível.

Capítulo 4: Análise do corpus

Ver anarcocapitalismo, propostas econômicas político sociais,


ciberlibertarianismo, condições de emergência dessa ideologia

4.1. A enunciação

Marco Civil

Há no mínimo três locutores no enunciado: o enunciado em si, a voz


que fala através desse enunciado e, por último, o enunciador Anonymous BR

Capítulo 5: Considerações finais

Referências Bibliográficas

http://culturadigital.br/marcocivil/2014/06/23/opiniao-de-especialista-sergio-
amadeu-e-o-marco-civil-da-internet/

https://cgi.br/lei-do-marco-civil-da-internet-no-brasil/

Gabriella Coleman

Manuel Castells
http://187.7.106.14/wiki2014_1/lib/exe/fetch.php?
media=projeto13:artigo_deep_web_v4.pdf

http://ftp.unipar.br/~seinpar/2013/artigos/Carlos%20Henrique%20Aguiar
%20dos%20Santos.pdf

Você também pode gostar