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PRÁTICAS DISCURSIVAS DE DOIS GRUPOS HACKTIVISTAS NO BRASIL

Livia Beatriz Damaceno

Resumo: O presente trabalho pretende problematizar as práticas discursivas


operadas pelos percursos ideológicos que se manifestam através dos sujeitos:
o grupo AnonymousBr4sil e o grupo Anonymous BR e identificar as
regularidades e as heterogeneidades das diferentes formações discursivas,
conforme entendido pela Análise do Discurso de linha francesa, buscando
descrever como se regulam os enunciados que constituem suas respectivas
páginas da web. Para isso, observaremos, a partir das postagens, editoriais
das páginas oficiais, os encadeamentos sintagmáticos (lexicais) que constituem
as regularidades e as irregularidades dos enunciados, buscando compreender
as determinações impostas por suas respectivas formações discursivas. Nossa
hipótese inicial é a de que os recentes acontecimentos políticos
desencadearam em uma cisão entre os grupos, em que um apresenta um
posicionamento ideológico mais progressista (Anonymous BR) e outro
apresenta um posicionamento mais conservador (AnonymousBr4sil). Os
indícios apontam, em um primeiro momento, que os grupo AnonymousBr4sil e
Anonymous BR, extrapolam as determinações da formação discursiva que se
inserem. Ou seja, será que esses dois grupos ainda podem se colocar como
grupos de ativistas políticos que operam visando romper os paradigmas
impostos por uma ordem do discurso vigente? A nosso ver, o funcionamento do
Anonymous, enquanto grupo hacktivista internacional, apresentava uma
proposta inicial pautada em uma práxis anárquica, independente de
posicionamentos que se configuram à esquerda ou à direita. Pretendemos
investigar quais as condições que levaram a essa divisão.

Palavras-chave: Análise do Discurso francesa; hacktivismo; Anonymous.

Introdução

Anonymous Brasil e Anonymous Br4sil

Sabemos que o discurso é um conjunto de enunciados que estão em uma


mesma formação discursiva. Formação discursiva determina aquilo que
pode ou não ser dito no interior de um enunciado, quais as relações de
poder que ali se manifestam.

Considerando os indícios das ideologias que atravessam os diferentes


grupos, nossas análises visam descrever e evidenciar primeiramente a
impressão de que cada um desses dois grupos se inscreve em diferentes
formações discursivas. Ou seja, diferentes ideologias atravessam seus
respectivos discursos.

Na publicação fixa do perfil do Anonymous Brasil da rede social Facebook,


recortamos o seguinte trecho:
Usa a máscara do Guy Fawkes e defende político? Você não entendeu nada.
Já avisamos que o texto é longo, mas essencial para quem se interessa por
Anonymous, e para aqueles que gostam de sair colocando a máscara de Guy
Fawkes em seus perfis de redes sociais por ai.
A ideia, antes de qualquer definição específica, é um conceito livre, abstrata,
não possui um formato preestabelecido a ser seguido. Muito pelo contrário, está
sempre em constante transformação, e é justamente essa qualidade adaptativa
e mutável que faz da Anonymous algo tão único em todo o mundo.
No entanto, há de se estabelecer alguns conceitos fundamentais, que provém o
alicerce base de onde tudo é construído e alterado. Se algo tudo é, então algo
nada é, e para definir esse algo, nada mais sensato que iniciarmos com a
simbologia que nos cerca.
Já vamos avisando logo de cara: se você defende o capitalismo, socialismo,
comunismo, militarismo, algum político ou partido, quem quer que seja, mesmo
que este prometa ser o salvador da pátria e a solução dos seus problemas, saiba
que a máscara de V não lhe cabe.
Mas e o Anarquismo?
Parcialmente, mas vamos por partes.

Esse recorte evidencia a tomada de posição do sujeito como uma espécie


de fonte originária do saber. A relação entre saber e poder se manifesta na
prática discursiva quando, a partir da dispersão dos saberes na ordenação
do discurso o sujeito AnonBr sugere que ao contrário do grupo Anonymous
Br4sil (aparecendo como implícito), ele pode exercer sua opinião porque
sabe. Vemos indícios bem claros da vontade de saber no trecho: “Usa a
máscara do Guy Fawkes e defende político? Você não entendeu nada.”
Quando o locutor diz “você não entende nada” se referindo a usar a
máscara e defender político esse “você” se dirige a um interlocutor se
colocando como sujeito do saber que tem um direito privilegiado de falar
sobre determinado tema ou de se colocar com Anonymous. Interditando, de
certa forma o discurso do interlocutor, por meio de um procedimento interno
de exclusão, procedimento similar ocorre quando o locutor diz que somente
aqueles que não são adeptos do “capitalismo, socialismo, comunismo,
militarismo, algum político ou partido” não trazem em seu discurso o valor
de verdade necessário para “a máscara de V”. No recorte acima ainda
encontramos outras formas de manifestação do mesmo tipo de
procedimento interno de exclusão, quando o locutor enuncia “Já avisamos
que o texto é longo, mas essencial para quem se interessa por Anonymous, e
para aqueles que gostam de sair colocando a máscara de Guy Fawkes em seus
A advertência de que o texto “é longo” pode
perfis de redes sociais por ai.”.
nos indicar algumas coisas:
a) o interlocutor não tem hábito de leitura;
b) o locutor vai quebrar um dos elementos previstos pela ordem do discurso
imposta pela plataforma Facebook, qual seja, o tamanho dos textos
geralmente postados;
c) somente aquele que tem real interesse pela ideologia do grupo em
questão teria a persistência de ler um texto tão longo.
De qualquer forma o sujeito da enunciação se coloca como alguém
privilegiado, que está acima dos padrões de leitura vigentes em nossa
cultura, afirmando valores nada “anarquistas” para legitimar seu discurso,
trata-se de uma visão elitista e eurocêntrica. Ou seja, aquele lê mais ou
escreve mais, é mais qualificado para realizar uma militância em nome do
grupo.
O enunciado que se segue: “e para aqueles que gostam de sair colocando a
máscara de Guy Fawkes em seus perfis de redes sociais por ai”, indica que o
sujeito da enunciação vê na tão mencionada máscara algo de sagrado, um
símbolo religioso, que prevê algo como um rito de iniciação. Transforma-se
assim o virtual (máscara) em real (anonymous). Há uma forte ligação da
máscara com o poder, somente aquele que merece usar a máscara pode
colocá-la em seu perfil. Tal merecimento é conquistado a partir da leitura, seja
desse editorial, seja de revistas em quadrinhos ou das teorias anarquistas
como podemos ver no recorte seguinte:

Anarquismo
Está fora do escopo deste texto a explicação detalhada a respeito do
anarquismo e todas as suas vertentes, porém, convém traçarmos algumas
definições necessárias para o nosso contexto.
Anarquismo pressupõe que a sociedade possui uma capacidade de ser auto
gerida, independente da presença de instituições como Estado, Igreja ou
Capitalismo. O anarquismo defende a liberdade plena do ser, em todos os
âmbitos, e isso exclui a coexistência de qualquer modelo social previamente
determinado que se baseie em imposições, principalmente hierárquicas. A não
presença do Estado não significa a ausência de ordem, assim como a não
presença de Igreja significa ausência de religiosidade, e do Capitalismo, trabalho
e meritocracia.
É de comum acordo dos Anarquistas que o Estado aprisiona o corpo, a Igreja o
espírito, e o Capitalismo o trabalho.
O Anarquismo aparece então como um modelo social e econômico de exercício
livre do trabalho, da espiritualidade e da liberdade.
Essa vertente política influenciou e continua a influenciar centenas de
pensadores, escritores e artistas, e um deles foi Alan Moore, esse cara da foto.

O locutor nos fornece indícios de que o grupo Anonymous se trata de um


suporte institucional, primeiramente por seu poder de coerção que funciona

Alan Mooree
Nascido em Northampton, Inglaterra, é tido como um dos maiores escritores de
quadrinhos de toda história. Autor de clássicos como Watchmen e Do Inferno, e V
de Vingança.
Moore teve uma infância pobre e difícil. Sua mente brilhante se recusava a se
adequar aos ensinamentos conservadores, e foi obrigado e concluir sua
formação de maneira conturbada. Nenhuma escola o queria como aluno. Tudo
isso formou o alicerce do pensamento crítico exposto em seus primeiros
trabalhos como escritor, que culminou em diversas histórias a respeito da luta
pela dignidade e liberdade humana perante o fascismo e o totalitarismo, que
podem coexistir em sociedades tanto capitalistas quanto socialistas. Alan Moore
declara-se como um indivíduo alinhado politicamente ao Anarquismo, e isso é
facilmente percebido em sua obra.
Recluso até hoje, mantém um estilo de vida simples e longe dos holofotes. Com a
massificação de sua obra pelos estúdios hollywoodianos, fez questão que seu
nome não fosse creditados nos filmes. É necessário, portanto, ler os originais
para conhecer a real essência de Alan Moore, e toda a simbologia anárquica anti
totalitarista presente em sua maior obra, V de Vingança.
V de Vingança
A história em V de Vingança se passa em um futuro distópico (utopia “do mal”)
num Reino Unido fascista, totalitarista, onde um misterioso Revolucionário tenta
destruir o Estado através de Ações Diretas, um dos princípios de luta do
Anarquismo utilizado também pelo Black Bloc, por exemplo.
A história foi escrita por Moore no momento em que a Inglaterra, sob liderança
da primeira ministra Margaret Thatcher, estava implementando o modelo
econômico neoliberal, em paralelo ao colapso do socialismo da URSS. Esse
contexto é facilmente percebido no enredo da história.
O plano de V era a total aniquilação do modelo político fascista, e, para isso,
elaborou um plano para destruir o Parlamento inglês.
No dia 5 de novembro, V distribui milhares de máscaras de Guy Fawkes à
população, provocando uma enorme passeata contra o regime, que é culminado
com a explosão total do Parlamento inglês por um trem carregado de explosivos.
5 de novembro? Alguém falando em explodir as coisas? Isso lembra Guy Fawkes.
Guy Fawkes
Ele preferia ser chamado de Guido Fawkes, devido a sua proximidade com os
espanhóis. Foi um soldado inglês católico cujo plano era assassinar o rei
protestante Jaime I e os membros do Parlamento Inglês durante uma sessão em
1605. Seu objetivo era dar início a um levante católico ao Reino Unido.
Especialista em detonações do exército, seu plano consistia basicamente em
explodir todo mundo. Bem prático e direto.
Conhecido como a Conspirador da Pólvora, foi preso antes de concluir seu
objetivo, e condenado à forca por traição e tentativa de assassinato.
Sua captura é celebrada até os dias atuais em 5 de novembro, na chamada
“Noite das Fogueiras”, uma tradição bem viva no Reino Unido.
Apesar de seu objetivo religioso, grande parte da simbologia da Conspiração da
Pólvora foi claramente utilizada na obra de Moore em V, adaptando-a a um
contexto Anarquista e antifascista.
O rosto de Guy Fawkes, eternizado pela máscara de V e distribuída aos milhares
de moradores oprimidos pelo regime distópico criado por Moore, nos permite
traçar uma analogia, demonstrando que o povo, quando unido, pouco importa
suas qualidades e características particulares, sendo este o verdadeiro e único
poder capaz de atingir o progresso social.
Pessoas mascaradas de Guy Fawkes lutando contra um governo injusto de forma
anônima? Peraí… já vi algo parecido com isso antes…
Anonymous
Anonymous
Prazer. Somos o coletivo hacktivista anônimo mais famoso do mundo.
Somos uma comunidade online anônima porém altamente interligada,
funcionando como um cérebro global. Atuamos de forma descentralizada, sem
líderes, sem imposições, porém totalmente coordenada.
Atuamos sempre a favor dos direitos do povo perante seus governantes, isso não
quando lutamos diretamente contra a existência dos governantes em si.
Desde 2006 ficamos cada vez mais famosos devido nossas ações hacktivistas de
grande escala, com grande impacto global, e pelas nossas grandes conquistas e
realizações, como o Projeto Chanology, o Vingar Assange, o Occupy Wall Street,
dentre muitos outros.
No Brasil, tivemos inúmeras operações voltadas aos interesses locais, como o
combate ao sistema bancário em 2012, a Revolta dos 20 Centavos e a Revolta do
Vinagre, em 2013, e pelas ações contra a Copa do Mundo FIFA 2014.
Além disso, temos atuado fortemente na luta contra a corrupção, divulgando
documentos sigilosos da Operação Lava Jato, e atuando contra os interesses
dos políticos e lobistas nas reduções das franquias da internet fixa no Brasil.
Em mais de 10 anos de atividade, nossos alvos não são determinados conforme
suas posições políticas. Não combates Partidos, nem Políticos, combatemos um
sistema que consideramos desleal, ao qual *todos* os Partidos e Políticos
pertencem.
Nosso único e real objetivo é promover a liberdade da informação, a
conscientização do nosso estado servil-moderno, e fomentar a luta do povo
contra as injustiças as quais muitas vezes nem nos damos conta.
Anonymous se apresenta ao povo brasileiro como um novo capítulo da história
política recente. Não estamos aqui para defender posições consideradas de
esquerda, direita, militarista, comunista ou socialista. Nós estamos aqui para
promover a conscientização, e, a partir dela, a criação conjunta de um novo
modelo organizacional mais justo com todos.
Nossa simbologia remete à V, Alan Moore e ao Anarquismo, e isso não é à toa.
No entanto, não significa que somos simplesmente a versão virtual de V, ou um
grupo de hackers anarquistas. Somos isso *também*. Compartilhamos os
desejos e as críticas de V, Alan Moore e o Anarquismo, porém, nos colocamos
além, e tratamos a conscientização como nosso principal objetivo, e não a mera
conversão.
Alguns pontos, porém, são imutáveis: nós não defendemos absolutamente
*nenhum* Partido ou político, não defendemos o modelo capitalista de
organização econômica, e não levantamos bandeiras de organizações sociais já
existentes.
Nós somos o novo.
Anonymous

Anonymous Br4sil
Saudações cidadãos do mundo! Permita-nos apresentarmos como
@AnonymousBr4sil e pedir alguns minutos de sua atenção pra conhecer parte de
nossa história através do fundador da estrutura, da criação da page, ameaças,
pedir e não obter proteção policial, do cyberativismo aos novos desafios do
empreendedorismo, loja virtual, livro, entre outras mudanças: "Em 2012,
eu Fabrício Ferreira, quis lutar para deixar de ser escravo do vício no crack,
aproveitei também pra ajudar o Brasil pra deixar de ser escravo do governo
corrupto. Precisei mudar definitivamente minha vida, Ficar em casa e criar a
AnonymousBr4sil no dia 18 de Julho de 2012 foram parte deste processo.
Quando tudo parecia estar perdido, fechado, desencaminhado, ou sem jeito, na
verdade foram os caminhos que levaram a mudança da minha vida. Depois de
algumas recaídas, eu elaborei uma agenda de mudança pra minha vida, assim
como pra AnonymousBr4sil. Aos olhos de muitas pessoas que me conheceram
meu caso era quase irrecuperável, mas hoje muitas destas mesmas pessoas
dizem 'se ele parou qualquer um para', foi extremo mesmo.
Foram mais de 10 anos, algumas internações em clínicas de recuperação, e não
querendo me submeter mais a isso, resolvi simplismente ficar em casa. Logo
após ter decidido isto, tive um sério problema de saúde no qual fiquei internado
em um hospital público por quase um mês, apenas para poder fazer exames pra
tentarem descobrir o que era. Depender de diagnóstico do SUS, sabem como é...
Não queria e nem podia ir para a rua, então ficar em casa fez parte da minha
agenda de mudança e para ocupar meu tempo, minha mãe comprou um
computador, esses de queimão de R$599, no qual eu escrevia alguns textos...
Pouco tempo depois colocamos internet 3g, a franquia acabava em poucos dias...
E vi a necessidade inexorável de mudar o Brasil... Depois de algumas análises,
encontrei no Facebook (através das ferramentes que oferecia e a quantidade de
pessoas nele) uma excelente, a melhor e talvez a única, oportunidade de
balancear o sistema. Havia e ainda há, para aqueles que souberem se utilizar do
que já está pronto, um espaço disponível que possibilita juntar pessoas em prol
de causas que forem apresentadas. E isto foi literalmente a única coisa que tive,
uma proposta, que fez história. E o que eu escrevia passou a alcançar e
influenciar muitas pessoas... Sim, pode parecer loucura mas este e vários outros
detalhes estão na base da AnonymousBr4sil. Alguns meses depois, quando eu
estava querendo largar tudo da página, sem energia, sem conseguir colocar em
prática todas as ideias que eu havia imaginado, eu reencontrei minha mulher
Christiane Ferreira no Facebook, após eu ter pedido na página se alguém podia
legendar um vídeo. Ela foi uma das primeiras a responder, mesmo sem saber
legendar (aprendeu nesses tutoriais do youtube), respondeu que poderia fazer
que queria ajudar e logo começamos a conversar. Foram 2 meses longos no chat
do Facebook e ligações, entre produções de imagens, vídeos traduções de texto,
legendas, procura de notícias, produção de conteúdo em geral da internet para a
internet, conteúdos de pedidos de divulgação (seja na linha tempo, por
mensagem ou comentários na página)...
Foram meses que pareceram séculos, estar longe um do outro, de sentir saudade
de quem nunca se viu. De outras épocas... Até que em janeiro de 2013 nos
encontramos pessoalmente, em março me mudei para Santos (a cidade dela) e
nos casamos em 2014. E pessoalmente demos um salto na comunicação da
AnonymousBr4sil, não era preciso mais ficar digitando e enviando através da
internet pois tratávamos de tudo pessoalmente. Ela já sabia da minha condição
de 'enclausuramento' conversamos e logicamente ela apoiou a minha situação.
Com 11 meses de criação presenciei como ninguém a AnonymousBr4sil atingir 1
milhão de likes (150 mil likes em um só dia), no auge dos protestos de 2013, se
tornando uma das maiores páginas do Facebook na história, até aquele presente
momento, nos maiores protestos ocorridos no Brasil até então!
Se tornando uma referência, uma marca, uma verdadeira estrutura em prol de um
mundo mais justo e melhor para todos os seres, conforme planejado 1 ano antes
por mim e desacreditado por muitos. Mas não por quem acreditou na proposta
criada e depositou sua confiança através do curtir, comentar, compartilhar,
através do apoio ao que propomos.
Muitos nos perguntam por que em 2013 deixamos de dar apoio aos protestos,
afinal de contas nós estávamos desde 2012 lutando por mudanças mas nós não
queríamos que acontecesse como os países do oriente médio, na primavera
árabe, guerra civil, cancelamento da copa Fifa 2014 ou intervenção militar
externa ou interna...
Foi através das forças de internet, unidas em prol de objetivos semelhantes, que
tudo aconteceu. Eu não teria feito nada se pessoas, que até hoje não sei quem
são e jamais saberei de tantas que foram, não tivessem se unido na proposta de
mudança verdadeira, sem manipulação nem patifarias. Sempre contra a
corrupção, injustiças de um modo geral, contra pedofilia...
Como não podiam me chamar de corrupto ou me ligar a qualquer partido que
seja, me ameaçavam de diversas formas, entre elas expor meus dados pessoais,
este foi um dos motivos porque expus meu perfil. Aliás não recebemos nada, não
temos patrocínio, nem nenhuma propaganda, acumulamos é muitas dívidas...
A AnonymousBr4sil consumiu 24 horas por dia, 7 dias por semana, mas muito
mais poderia ter sido feito se houvesse suporte, sempre houve milhares de ideias
pra compartilhar mais informação. Não há dinheiro no mundo que pague o que
passei aqui...
Nada paga o tempo, energia dedicados a produção de conteúdo pra internet, sem
contar desgastes em decorrência das publicações, mensagens... Em qualquer
local de venda, com dinheiro, podemos comprar produtos, serviços, mas nestes
mesmos lugares, em nenhuma prateleira está disponível o tempo que dedicamos
e o que fizemos desde então em prol da internet... Arroz, feijão, está lá, mas o
tempo não, jamais vai voltar, é a commoditie mais preciosa do universo. E nada
pagaria também as reações causadas em virtude do que ocorreu, pois
diferentemente do que acontece em muitos meios, aqui existe um alto grau de
boicote, retaliação, proibição de mencionar 'AnonymousBr4sil' em específico, é
profundo... Fui perseguido por ser contra o governo que era vigente, assim como
também por minhas crenças religiosas mesmo nunca tendo postado algo relativo
a isso na página.
Em decorrência das atividades desempenhadas na AnonymousBr4sil desde sua
fundação, depois de várias ameaças, tentativas de chantagens, ataques, grupos
destacados pra uma guerra virtual contra mim e logicamente ameaças de morte
contra mim e minha esposa, no final de 2015 resolvemos pedir proteção policial,
apesar de 2 pontos que falaremos logo mais. Pessoalmente fomos em uma CIA
da Polícia Militar de São Paulo, Polícia Civil de São Paulo, Polícia Federal, e PSDB
Santos, da Prefeitura de Santos o recado foi dado na sede do PSDB da mesma
cidade. Mesmo a cidade sendo extremamente monitorada através de câmeras,
enfim, isto não evita de fato algum crime, muito menos traz a vida de volta de
quem é assassinado...
Cada instituição nos negou proteção policial, cada uma de uma forma diferente.
Na PMSP fomos bem atendidos pelo policial militar, mas ele infelizmente não
pode fazer nada devido a PM estar praticamente anulada, coisa quem nem
sabíamos na verdade. Nos foi explicado que fazem apenas os 'crimes/acidentes
de trânsito' e que poderiam agir apenas depois do algum tipo de crime ocorrer.
Poderíamos ligar a qualquer hora que eles viriam, mas que neste caso apenas
isso para nos proteger. E nos recomendou ir também a Polícia Civil e PF pra
contar a história. Sim, nos apresentamos como Fabrício e Christiane 'da
AnonymousBr4sil', coisa que não havíamos feito desde então, na verdade
tentamos ocultar das mais diferentes formas pra preservar nossas vidas, um
meio de nos proteger...
Continuando, na PC nada pode ser feito também pois ainda não havia crime
ocorrido... Na PF, não houve interesse, o agente nos disse que a União não se
interessaria por nosso caso pois não temos 'nada pra eles'... E não temos
mesmo, seja pra união ou qualquer outro meio. Sempre trabalhamos em cima das
informações que são divulgadas ao público, transformando e expondo aquilo que
antes ficava oculto das pessoas, nunca tivemos informações internas ou
privilegiadas, quem nos conhece sabe. Que isto fique claro.
No PSDB Santos, partido do prefeito da cidade, contamos também a mesma
história e tanto o PSDB quanto a Prefeitura de Santos negaram, esta última
recomendou que procurássemos a polícia, mesmo a gente tendo adiantado que
isto já havia sido feito... Fazemos questão de explicar nossa situação por alguns
motivos, entre eles minha própria consciência de dar explicação sobre o que
está acotencendo conosco assim como o que passamos e logicamente tentando
avisar para evitar qualquer atentado.
Sobre os 2 detalhes que citamos antes, vamos explicar... Sabíamos que no fundo
nos seria negado, por diferentes motivos isto já era esperado, fomos mesmo
fazer a nossa parte de cidadãos, avisando as autoridades da cidade
pessoalmente, sobre quem a gente era, o que tínhamos feito nos últimos anos e
que na intenção de diminur as chances de atentados contra nossas vidas
resolvemos pedir proteção policial.
Suportei milhares de situações pra chegar até aquele momento, acredite foram
muitas mesmo, mas em todas elas foram superadas, independente de qualquer
coisa. Mas o que mais pesou mesmo desta atitude... O que mais pesou foi o fato
de que eu, após tudo o que fiz, que na sua base foi cobrar retorno dos impostos
das pessoas pras pessoas, conforme é dito na constituição que deve ser, jamais
pensei que um dia eu fosse atrás de, na minha visão, 'lesar' os cofres públicos
dando depesa pois sei que serviços de proteção policial através do governo são
bancados pelos impostos das pessoas e muito caros de se manter.
Com agravente que no Brasil pessoas morrem por motivos que em outros países
não acontecem, devido a vários fatores, faltam hospitais, estruturas, dinheiro,
remédios, coisas simples pras pesssoas, mas políticos tem plano de saúde
ilimitado... Ainda mais num país que é extremamente burocrático pra não dizer
impossível, por dificultação do governo e altos impostos, ter alguma proteção
pessoal como colete a prova de balas, 
porte de arma, carro blindado... Quem está visado não pode esperar... Mas na
verdade, mesmo não estando visado, a verdade é que em um referendo no Brasil
foi decidido que a população tem sim o direito de se defender com arma de fogo,
mas o governo a força proibiu isso. Hoje estastísticamente vemos crescer o
número de crimes contra as pessoas de um modo geral, muitos acontecem pelo
governo ter retirado o direito de defesa. Enfim, não temos direito de defender a
própria vida, num país onde nem mesmo o próprio dinheiro das pessoas é
respeitado, com os impostos mais altos e com as piores taxas de retorno no
mundo... E eu jamais planejei isto pra mim, mas em nome de diminuir mesmo as
chances de qualquer atentado tentei ter algum tipo de proteção...
Na minha vida em especial vivenciei isso quando meu pai (de criação) Felicio
Morais dos Santos, foi assassinado em 1994... Ele era comerciante e fundador do
Depósito de Ferro Velho Triângulo em Uberlândia, um verdadeiro império que ele
construiu desde 1969, situava-se em frente a Sadia da Av. Professora Minervina
Candida de Oliveira. Mas como se não bastasse a mim e a minha mãe passarmos
por esta experiência que não desejamos a ninguém, minha mãe em específico foi
vítima de uma série de injustiças, manipulações e ameaças devido a herança do
Felício. Minha mãe saiu do Maranhão muito nova, sozinha e de carona na década
de 80, fugindo dos abusos que sofria, acreditou que Uberlândia seria um lugar
para recomeçar a vida, estudar, enfim, um lugar pra mudanças pra ela de um
modo geral. Após alguns dias na cidade ela encontrou o Felício, que lhe ofereceu
um lanche (já fazia algum tempo que ela não se alimentava), ele ofereceu
também um emprego pra ela. Após algum tempo trabalhando pra ele e também
de relacionamento, ela teve um filho com ele em 84, o único filho de sangue
dele... Ele sempre ajudou ela no que ela precisou, inclusive nunca me deixou
faltar nada e sempre me educou... Até que ele foi assassinado e começou uma
verdadeira disputa por tudo que ele teve.
Enquanto minha mãe sofria pela morte dele, ela teve que se manter firme pra
fazer o inventário, partilha, pagar processos trabalhistas de antigos funcionários
dele e lidar com advogados. Parecia que sabiam que havia muito dinheiro e
surgiram pessoas de todos os lugares atrás da minha mãe querendo uma parte,
sim, era ela que decidia tudo. Houve diversas tentativas de exclusão da minha
mãe da herança, a história é muito longa e dolorosa... Em um dia ela era dona de
tudo, e em outro a área do Ferro Velho foi vendida no início de 2005 sem que
minha mãe soubesse... O mesmo aconteceu com a casa da minha mãe
(proveniente da herança do Felício), o local por onde ela morou por mais de 6
anos, onde ela tinha um comércio, também foi vendido em 2004 sem ela saber.
Quando ela chegou de viagem seus móveis haviam sido removidos e a casa
estava com os portões chumbados. Os tempos eram outros, ela temeu pela vida
dela e de seus filhos. Ela é pensionista pelo INSS dele até hoje... E agora anos
depois decidimos tentar solucionar esta situação pois minha mãe perdeu o medo
e precisa de respostas...
Hoje pedimos e espero, que as autoridades, MPMG, OAB, PF, MPF, enfim,
instituições responsáveis deem resposta a minha mãe, porque a justiça deixou
que isto tudo acontecesse com ela e que seja reparada se julgarem que é de
direito dela. Até hoje é doloroso contar, pois é necessário lembrar e vivenciar as
injustiças que ocorreram. Devido ao preconceito, minha luta contra o vício no
crack teve que passar despercebido na internet durante todos esses anos, mas
para as pessoas que me conheceram
minha história sempre foi pública. Pra mim é motivo de muita satisfação,
sabendo que eu poderia ter sido apenas mais uma estatística na rua e hoje poder
influenciar milhares na internet, diversos estudos foram feitos sobre a página e
seu alcance. Na minha infância, na década de 90, lembro que a mando do
governo o "juizado de menores" apreendia quem jogava "Street Fighter" nos
Fliperamas. Em outros países era normal as pessoas terem acesso a
computadores uma década antes... Nos isolaram e nos atrasaram... Hoje as
pessoas tem o mundo na palma da mão. Na minha época de escola pra fazer
trabalhos, pesquisas, era necessário andar longe, tentar muito e quase nada
conseguir de tão difícil que era ter informação.
Vi o governo gastar muito dinheiro pra financiar pessoas com a intenção de
tentar me combater, me derrubar e tentar tomar tudo aquilo que construi. Tudo
em vão. AnonymousBr4sil prevaleceu e não importa o que aconteça de agora em
diante, fato é que desde 18 de Julho de 2012 e até o presente momento 30 de 5
de 2016 nós somos um ponto de referência e credibilidade no que se diz respeito
as informações repassadas e operações planejadas. Resolvi postar este texto
por 4 motivos: questão de conciência para prestar esclarecimentos a todos que
acompanharam e acreditaram na AnonymousBr4sil; tentar ajudar pessoas que
estão na situação semelhante da que eu passei mostrando que mudar é possível,
deixar de ser escravo do vício no crack é uma decisão totalmente pessoal e pode
realmente mudar tanto sua vida quanto o mundo ao seu redor criando sua própria
realidade; expor a causa da minha mãe divulgando as injustiças que ocorreram e
sobre termos pedido proteção devido as ameaças que sofremos. Pra quem tentou
nos comprar ao longo deste tempo, principalmente pra defender os governos
Lula e Dilma, pode ter percebido que dinheiro nenhum do mundo pagaria o que
fizemos, o que passamos, supriria nossas necessidades ou substituiria nossas
causas, que são muito justas por sinal. A AnonymousBr4sil não segue nada nem
ninguém, absolutamente independente de tudos e todos, não queremos nos
encaixar em qualquer pensamento ideológico pré-definido de administração do
gado, pensamos com nossas próprias mentes. Queremos divulgar a verdade pela
verdade, a informação pela informação, pela evolução... E hoje vemos como as
notícias mudaram, o que anos atrás levavamos horas para vasculhar a internet
por informações, agora está estampado em todas as capas de jornais casos de
corrupção e as consequencias que isto ocasiona a população. A forma de se
levar informação na internet foi elevada pra sempre e pra melhor...
Como muitas pessoas devem ter percebido neste texto, sempre tive meus
próprios motivos pra estar aqui, fazendo o que acho certo e melhor pra mudança,
ou seja, não importa quantas ameaças fizessem contra mim, eu já tinha meus
motivos pessoais. E para qualquer pessoa que estiver em situação do vício
semelhante a que eu tive, o que em 2012 era algo que parecia impossível, e
agora em 2016 me sinto totalmente fortalecido pra
dizer que superei o vício no crack, hoje eu nem lembro mais... Na verdade por
pior que pode ter sido, hoje vejo como se fosse um piscar de olhos, de tanto que
minha vida mudou. Você pode criar sua própria realidade. É possível mudar!
Um dia após o outro.
Só por hoje!
Satisfação.
Parte da história e experiência da AnonymousBr4sil, logicamente muitos outros
assuntos faltaram e serão ditos com o passar do tempo como ideias sobre Start-
up, aplicativos, empreendedorismo de um modo geral pois acreditamos que
através destas ferramentas e meios muita coisa pode mudar."

“No single group or individual can claim legal ownership of the name
“Anonymous,” much less its icons and imagery. Naturally, this has helped
Anonymous spread across the globe. It has now become the quintessential
anti-brand brand, assuming various configurations and meanings, even as it
has also become the popular face of unrest around the globe.” (COLEMAN,
2014, p.23)

“I explained to them that Anonymous can be understood as what


anthropologist Chris Kelty has jokingly called, contra the subaltern, the
“superaltern”: those highly educated geeks who not only speak for
themselves but talk back loudly and critically to those who purport to speak
for them.” (COLEMAN, 2014, p.53)

“But the important thing to take away from this talk is that nowhere in the
Anonymous ideal was it ever stipulated that Anonymous must stand together
with or even like other Anonymous. In fact, animosity and downright wars
between Anonymous-claiming entities is right in line with the original
internet-based projects carried out by cultural Anons.” (COLEMAN, 2014,
p.53)

Hacker é aquele que tem a intenção de melhorar uma máquina, um


software, um hardware, etc., longe de serem “terroristas virtuais” que
destroem arquivos, invade contas pessoas e plantam vírus em
computadores, o/a hacker aperfeiçoa aquilo que ele julga que possa vir a
ser melhorado de acordo com a seu ideal subjetivo do que é melhor ou
“pior”, Linus Torvalds, o criador do sistema operacional, o Linux, é um
exemplo de hacker. Um hacker possui, a priori, conhecimentos específicos
de programação, portanto essa atividade demanda certo nível de estudos
em diversos campos do saber, o que inviabiliza o acesso democrático a
esse tipo de atividade e por isso uma das preocupações desses grupos
pode ser deixar o acesso às máquinas o mais intuitivo possível, por
exemplo. Existem os hackers do tipo chapéu branco (White hat) ao se
depararem com uma falha em um programa, comunicam o administrador
para que seja corrigido, podem dar palestra sobre segurança de sistemas
operacionais e dados. Já o hacker chapéu preto usam seus conhecimentos
técnicos para explorar falhas em sistemas e danificar programas, são
comumente conhecidos como crackers. Os hackers de chapéu cinza são os
hackers que ora operam com as práticas do White hat para terem acesso a
dados sigilosos, mas não se sentem compelidos a notificar as falhas e
ajudar a corrigi-las, similar aos hackers Black hat.

Hacktivista então é aquele/a que quer melhorar o sistema da forma que ele
julga ser necessário usando os seus conhecimentos técnicos. Não se trata
da transformação do sistema per se e sim, de reformas para deixá-lo mais
acessível. As várias operações do coletivo Anonymous surgem com esse
objetivo, assumindo o papel de vigilantes da internet. Fruto de teorias
libertárias e anárquicas que circulavam em fóruns obscuros no 4chan, mais
especificamente o /b/, o Anonymous é um conglomerado de hackers e não-
hackers que visam a contrapor as instituições burocráticas que operam a
domesticação dos corpos para inseri-los na produção capitalista, são contra
também aos complexos militares que utilizam a violência para subjugar à
força aquele que resiste o sequestro de seu corpo. Anonymous atua em
nome das populações anônimas, não se considerando, no entanto, parte
dessas populações. Exemplos de ações do Anonymous são Projeto
Chanology (contra a Igreja da Cientologia), o Vingar Assange (contra a
censura e suspensão das bandeiras Visa, Mastercard a fim de impedir o
financiamento do Wikileaks), o Occupy Wall Street (movimento
anticapitalista que ocorreu em Nova York em 2011).

No caso do Brasil, o Anonymous Brasil, uma das células atuantes se


destacou por ações durante a Revolta dos 20 centavos, a Revolta do
Vinagre em 2013, contra a Copa FIFA em 2014 sediada no Brasil e mais
recentemente, exposição de trechos sigilosos da Operação Lava Jato. Outra
célula atuante, o Anonymous Br4sil possui uma página na rede social
Facebook com 1.377.870 de curtidas que atua como um portal de notícias,
não se destaca por ações típicas do Anonymous e sim por produção de
conteúdo.

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