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The Atlantic Forest of South America Bio PDF
The Atlantic Forest of South America Bio PDF
Editado por
Carlos Galindo-Leal e
Ibsen de Gusmão Câmara
Belo Horizonte
2005
Título original: The Atlantic Forest of South America: biodiversity status,
threats, and outlook. Washington: Island Press, Center for Applied Biodiversity
Science at Conservation International. 2003.
Copyright © 2003 por Conservation International
I. INTRODUÇÃO
1. Status do hotspot Mata Atlântica: uma síntese .............................. 3
Carlos Galindo-Leal e Ibsen de Gusmão Câmara
2. Estado dos hotspots: a dinâmica da perda de biodiversidade ...... 12
Carlos Galindo-Leal, Thomas R. Jacobsen,
Penny F. Langhammer e Silvio Olivieri
II. BRASIL
3. Dinâmica da perda da biodiversidade na Mata Atlântica
brasileira: uma introdução ...................................................... 27
Luiz Paulo Pinto e Maria Cecília Wey de Brito
4. Breve história da conservação da Mata Atlântica ...................... 31
Ibsen de Gusmão Câmara
5. Estado da biodiversidade da Mata Atlântica brasileira ............... 43
José Maria Cardoso da Silva e Carlos Henrique M. Casteleti
6. Monitoramento da cobertura da Mata Atlântica brasileira
Márcia Makiko Hirota ............................................................... 60
7. Prioridades de conservação e principais causas da perda de
biodiversidade nos ecossistemas marinhos ................................. 66
Silvio Jablonski
8. Espécies ameaçadas e planejamento da conservação ................... 86
Marcelo Tabarelli, Luiz Paulo Pinto, José Maria Cardoso da Silva
e Cláudia Maria Rocha Costa
vi Sumário
III. ARGENTINA
13. Dinâmica da perda da biodiversidade na Mata Atlântica
argentina: uma introdução ...................................................... 139
Alejandro R. Giraudo
14. Breve história da conservação da Floresta do Paraná ............... 141
Juan Carlos Chebez e Norma Hilgert
15. Status da biodiversidade da Mata Atlântica de Interior da
Argentina ................................................................................. 160
Alejandro R. Giraudo, Hernán Povedano, Manuel J. Belgrano,
Ernesto R. Krauczuk, Ulyses Pardiñas, Amalia Miquelarena,
Daniel Ligier, Diego Baldo e Miguel Castelino
16. Ameaças de extinção das espécies-bandeira da
Mata Atlântica de Interior ....................................................... 181
Alejandro R. Giraudo e Hernán Povedano
17. Perspectivas para a conservação de primatas em Misiones ....... 194
Mario S. Di Bitetti
18. A perda da sabedoria Mbyá: desaparecimento de um
legado de manejo sustentável ................................................... 200
Angela Sánchez e Alejandro R. Giraudo
19. Raízes socioeconômicas da perda da biodiversidade em
Misiones .................................................................................. 207
Silvia Holz e Guillermo Placci
Sumário vii
IV. PARAGUAI
23. Dinâmica da perda da biodiversidade na Mata Atlântica
paraguaia: uma introdução ...................................................... 267
José Luis Cartes e Alberto Yanosky
24. Breve história da conservação da Mata Atlântica de Interior ... 269
José Luis Cartes
25. Status da biodiversidade da Mata Atlântica de Interior do
Paraguai ................................................................................... 288
Frank Fragano e Robert Clay
26. Aspectos socioeconômicos da Mata Atlântica de Interior ........ 308
Ana Maria Macedo e José Luis Cartes
27. O aqüífero Guarani: um serviço ambiental regional ............... 323
Juan Francisco Facetti
28. Capacidade de conservação na Mata Atlântica de Interior
do Paraguai .............................................................................. 326
Alberto Yanosky e Elizabeth Cabrera
V. QUESTÕES TRINACIONAIS
29. Dinâmica da perda da biodiversidade: uma introdução
às questões trinacionais ............................................................ 355
Thomas R. Jacobsen
30. Espécies no limiar da extinção: vertebrados terrestres
criticamente em perigo ............................................................ 358
Thomas Brooks e Anthony B. Rylands
31. Reunindo as peças: a fragmentação e a conservação
da paisagem ............................................................................. 370
Carlos Galindo-Leal
viii Sumário
VI. CONCLUSÃO
39. Perspectivas para a Mata Atlântica ........................................... 459
Carlos Galindo-Leal, Ibsen de Gusmão Câmara e
Philippa J. Benson
160
Status da biodiversidade da Mata Atlântica de Interior da Argentina 161
Formações biogeográficas
Muitos pesquisadores reconhecem duas regiões fitogeográficas em Misiones:
o Distrito das Florestas Mistas e o Distrito dos Campos (Cabrera, 1976). O
Distrito das Florestas Mistas apresenta quatro subdivisões, enquanto o Distrito
dos Campos não é subdividido (Tabela 15.1 e Figura 15.1).
O Distrito das Florestas Mistas inclui árvores sempre verdes, que variam em
altura de 20 a 50m, com um estrato de árvores menores e um denso sub-bosque
de bambus ou samambaias arborescentes. Predominam as espécies das famílias
Lauraceae (Ocotea e Nectandra), Fabaceae (Lonchocarpus, Schizolobium e
Parapiptadenia, por exemplo), Myrtaceae e Meliaceae, mas nenhuma espécie é
dominante, porque 50 ou mais espécies arbóreas dividem o espaço em densidades
que variam em razão de pequenas diferenças de solo ou microclima. Outras
espécies comuns incluem o cedro (Cedrella fissilis), o guatambu (Balfourodendron
riedelianum), a canela-preta (Nectandra megapotamica), a canjerana (Cabralea
canjerana), o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida), o pau-d’arco-roxo
(Tabebuia ipe), o ipê-da-praia (Tabebuia pulcherrima), a jerivá (Syagrus
romanzoffiana) e 200 outras, de tamanhos variados, que constituem pelo menos
três estratos diferentes. Um elemento importante nessas florestas são as taquaras,
incluindo Chusquea, Guadua e Merostachys. Nesse quadro geral do Distrito,
quatro formações com características especiais adicionais podem ser distinguidas
(Tabela 15.1).
Os rios de Misiones, com suas águas claras, canais cheios de pedras,
corredeiras e cachoeiras, e o profundo solo aluvial de suas margens também são
determinantes de algumas particularidades da flora e da fauna da região.
Formações
Distribuição Características Espécies Status de conservação
(Extensão)
Floresta de Localizada no extremo norte de Originalmente caracterizada pela Várias espécies de plantas são endêmicas desse tipo Parcialmente protegida
Peroba-rosa Misiones, no pediplano dos rios abundância de peroba-rosa de floresta, incluindo Begonia descoleana, Cyperus pelo Parque Nacional
e Palmito Paraná e Iguaçu (Figura 15.1). (Aspidosperma polyneuron) e andreanus var. yguazuensis, Peperomia misionense e Iguazú, mas altamente
(2.300 Sua divisa sul segue palmito (Euterpe edulis), embora Podostemum comatum. Há também alguns animais impactada na região leste.
km2 ) aproximadamente o rio Urugua-í. atualmente apenas populações encontrados exclusivamente ou mais
residuais dessas espécies sejam freqüentemente nesse tipo de formação, entre eles
encontradas em algumas áreas do várias serpentes, como Chironius exoletus,
Parque Nacional Iguazú, Urugua-í Oxyrhopus petola, Sibynomorphus mikanii e Bothrops
e em áreas vizinhas. moojeni, e algumas aves, como sabiá-cica (Triclaria
malachitacea), catraca (Hemitriccus obsoletus) e
zidedê (Terenura maculata).
Floresta de Localizada no pediplano do rio Embora o guatambu Espécies do Chaco úmido e da região do Pantanal As florestas das planícies
Canelas e Paraná, nas porções central e (Balfourodendrum riedelianum) e as foram registradas, como as serpentes Sybinomorphus são caracterizadas pela
Guatambu norte de Misiones, unindo-se canelas (Nectandra spp.) sejam turgidus e Eunectes notaeus (sucuri-amarela) e as extensa influência do rio
(3.200 com as Florestas de Peroba-rosa e abundantes, eles também são pererecas Hyla raniceps e H. nana (Giraudo, obs. Paraná (vários
km2 ) Palmito em uma complexa comuns em outras formações. pess., 2001). A taquara (Guadua paraguayana) e a quilômetros para o
transição, ao norte (Figura 15.1.) Portanto, a Floresta de Louro e saboneteira (Sapindus saponaria) são tipicamente interior) e pela presença
A oeste, é dividida pelo rio Guatambu poderia, mais encontradas ao longo das margens do rio Paraná e de solos vermelhos
Paraná, pelas montanhas, ao apropriadamente, ser chamada de grandes afluentes (Iguaçu) (J. Herrera, com. pess., profundos. O seu estado
leste, e pelo Distrito dos Floresta Mista (Placci e Giorgi, 2001). Cerca de 30 espécies de aves nativas do rio de conservação é precário,
Campos, ao sul. 1993). Engloba as ravinas e vales Paraná e seus afluentes foram documentadas já que o rio Paraná foi
alagados do rio Paraná e serve (Martínez Crovetto, 1963). Várias espécies, como uma das primeiras rotas
como um corredor para espécies o uirapuru-laranja (Pipra fasciicauda), são de assentamentos em
tropicais e também para espécies de encontradas exclusivamente ou mais Misiones e sofreu
ambientes abertos que habitam os freqüentemente nessa formação. desmatamento
campos inundáveis que se formam significativo. Essa área
no seu vale de inundação. possui os melhores solos
da província para
agricultura e, portanto,
sofreu maior pressão
populacional do que
outras partes de Misiones.
Floresta As porções centro-leste e As formações florestais dessa região Várias espécies parecem ser encontradas As samambaias
Montana nordeste de Misiones são são similares às Florestas de Louro exclusivamente ou mais freqüentemente nessa arborescentes foram
(15.970 caracterizadas por colinas e e Guatambu, com alguns formação, incluindo serpentes (Xenodon neuwiedi e afetadas pela proximidade
km2) montanhas (serras Central ou elementos distintos e uma Oxyrhopus clathratus) (Giraudo 2001), aves (tovaca- de Oberá. Além disso, as
Misiones, Imán e Morena e abundância de samambaias de-rabo-vermelho, Chamaeza ruficauda) (Castelino, samambaias são
Victoria) e vales escarpados com arborescentes conhecidas obs. pess., 2001) e espécies da flora (Nothoscordum exploradas como plantas
encostas íngremes (gradientes localmente como xaxim moconense e Cyperus burkartii, Dyckia spp). ornamentais e são
variando de 10 a mais de 30%). (Trichipteris, Alsophyla e Dicksonia). Algumas espécies de aves também parecem estar afetadas por práticas
Essa subunidade é a maior Por essa razão, a área foi limitadas ou serem mais comuns nas encostas das florestais destrutivas
formação florestal em Misiones e denominada Distrito das montanhas ao longo do rio Uruguai, entre elas o disseminadas. No
também a maior área Samambaias Arborescentes quete (Poospiza lateralis), o bico-grosso (Saltator momento, elas são
remanescente da Mata Atlântica (Martínez Crovetto, 1962). maxillosus) e o sanhaço-frade (Stephanophorus encontradas
(Figura 15.1.). diadematus) (Castelino, Krauczuk e Giraudo, obs. principalmente no leste
pess., 2000). Alguns peixes, como o Astyanax de Misiones, na Reserva
ojiara, também são exclusivos do rio Uruguai da Biosfera Yabotí, em
(Azpelicueta e Garcia, 2000). terras Guarani e nos
parques provinciais
Moconá e Piñalito.
Floresta Ocupa a região nordeste, que é a É caracterizada pela presença da As duas espécies de "pinheiros" mencionadas e As florestas montanas de
Montana de parte mais alta da província araucária (Araucaria angustifolia) e algumas espécies animais são exclusivas dessa araucária foram dizimadas
Araucária (Figura 15.1). Essa formação é do pinheiro-bravo (Podocarpus formação, como o grimpeiro (Leptasthenura setaria) devido ao valor
(2.100km2) parcialmente transicional entre as lambertii). Estes não são pinheiros e a cotiara (Bothrops cotiara). Aves da família econômico da araucária.
Florestas Mistas e as Florestas de verdadeiros (Família Pinaceae), mas Rhinocryptidae que habitam essa formação, como Hoje, restam apenas umas
Araucária do planalto brasileiro são localmente conhecidos por esse o tapaculo-pintado (Psilorhamphus guttatus) e o poucas centenas de
(Martínez Crovetto, 1963; nome. tapaculo-preto (Scytalopus speluncae), estão hectares de florestas
Cabrera, 1976). relacionadas com as linhagens da Patagônia andina altamente fragmentadas e
(Sick, 1984). isoladas.
Continua
Tabela 15.1. Subdivisões biogeográficas da Mata Atlântica de Interior em Misiones, na Argentina.
Formações
Distribuição Características Espécies Status de conservação
(Extensão)
Distrito dos Esse distrito estende-se do sul de A área é caracterizada por savanas, O Distrito dos Campos é altamente diversificado, Algumas espécies de
Campos Misiones até o nordeste da que se alternam com bosques e e inclui bosques, florestas de pau-ferro, diversos plantas exclusivas da
(3.800km2) província vizinha de Corrientes e florestas de pau-ferro (Astronium tipos de campos e cerrado, áreas úmidas, pequenos Argentina que aparecem
forma uma transição gradual balansae), uma espécie característica bosques de butiá-do-campo e buri (Butia yatay nessa formação são o buri
entre as províncias biogeográficas do Chaco úmido. O pau-ferro subsp. paraguayensis e Allagoptera campestris). Cerca (Allagoptera campestris), o
do Chaco e do Paraná (Cabrera, coloniza os campos que são de 1.074 espécies de plantas foram registradas no butiá-do-campo (Butia
1976) queimados esporadicamente. Os distrito, assim como 700 espécies e subespécies de yatay subsp.
limites da distribuição de espécies vertebrados terrestres (anfíbios, répteis, aves e paraguayensis), Qualea
da Mata Atlântica, do Chaco e dos mamíferos), que juntos representam cordata (Vochysiaceae),
Pampas convergem nesse distrito aproximadamente 40% de todas as formas de vida Agarista paraguayensis
(Giraudo, 2001). As formações conhecidas na Argentina, embora a área do (Ericaceae) e Parodia
florestais tomam a forma de Distrito dos Campos corresponda a menos de schumanniana
pequenas ilhas, ou capões, e de 0,7% da área total do país (Krauczuk, 1996; (Cactaceae). No caso da
galerias ao longo das margens dos Fontana, 1998, 2000; Giraudo, 1996, 2001). fauna, as espécies
cursos d'água, em uma vasta matriz Cinqüenta e nove espécies de serpentes vivem no exclusivas incluem as
de pastagens ou savanas, distrito, duas vezes o número encontrado em várias serpentes (Rachidelus
conhecidas localmente como das formações de Florestas Mistas, que varia entre brazili e Clelia quimi), o
campos, dominantes em termos de 25 e 33 espécies (Giraudo, 2001). cágado-cabeçudo
área. (Phrynops vanderhaegei) e
aves como a saíra-amarela
(Tangara cayana) e o
bacurauzinho (Chordeiles
pusillus) (Krauczuk,
2000). Recentemente, três
novas espécies foram
documentadas: a serpente
Apostolepis quirogai
(Giraudo e Scrocchi,
1998) e dois anfíbios, um
sapinho (Melanophryniscus
sp.) (Baldo e Basso, 2000)
e uma perereca (Scinax
sp.) (Faivovich e Baldo,
com. pess., 2001).
Status da biodiversidade da Mata Atlântica de Interior da Argentina 165
20 0 20 40 60 km
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Floresta de Peroba-rosa
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Cobertura florestal
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Plantas vasculares
Dos 3.148 táxons de plantas vasculares encontrados em Misiones
(considerando espécies e táxons infraespecíficos), 792 são encontrados apenas
nessa província (7,33% da flora da Argentina). Misiones partilha com o Paraguai
e o Brasil um grande número de táxons que não são encontrados em nenhum
outro lugar da Argentina (Tabela 15.3).
Tabela 15.3. Famílias e gêneros de plantas exclusivos e quase exclusivos da Mata Atlântica de
Interior de Misiones, na Argentina.
Vertebrados
De todas as espécies e subespécies de vertebrados encontradas na Argentina
(1.124), 50% estão em Misiones: 274 espécies de peixes, 66 de anfíbios, 114 de
répteis, 546 de aves e 124 de mamíferos (Figura 15.3).
Peixes
Misiones tem 274 espécies de peixes – 272 nativas e 2 introduzidas -, o que
constitui cerca de 61% das espécies de peixes de água doce da Argentina.
Enquanto os rios Paraná, Iguaçu e Uruguai têm sido mais amplamente
estudados, a importante rede hidrográfica do interior de Misiones não tem sido
suficientemente examinada, como demonstram as recentes descobertas de novas
espécies de peixes (Tabela 15.4).
Embora os principais rios coletores, como o Paraná, respondam por uma
parte significativa da biodiversidade de Misiones, o setor de maior interesse, no
que diz respeito aos peixes, são as bacias superiores dos rios Iguaçu e Urugua-í
(Gómez e Chebez, 1996). As altas quedas d’água e cachoeiras nas bacias desses
rios criam condições de isolamento que favorecem o endemismo. Por exemplo, as
espécies de grandes predadores, como o dourado (Salminus maxillosus), o
piraputanga (Brycon orbygnianus), o surubim (Pseudoplatystoma coruscans) e
outros, são notavelmente ausentes nas partes altas dos rios. As mais proeminentes
dessas quedas d’água são as Cataratas do Iguaçu.
A construção da represa de Urugua-í, que aconteceu entre 1989 e 1991, fez
do rio Urugua-í um dos cursos d’água do interior mais estudados da história da
Argentina e resultou na descrição de diversas espécies novas (Tabela 15.4).
Infelizmente, o impacto da represa sobre essas espécies não tem sido monitorado
de forma consistente, o que reforça a necessidade de amostragens sistemáticas e
intensas dos cursos d’água importantes de Misiones, como um pré-requisito para
o adequado monitoramento do status da biodiversidade da região.
170 ARGENTINA
Anfíbios
Até hoje, 66 espécies de anfíbios foram reconhecidas em Misiones e no
nordeste de Corrientes: 38% do número total de espécies da Argentina (Tabela
15.2). Dessas, 24 são exclusivas da Mata Atlântica e 30 são encontradas apenas
na ecorregião de Misiones. Os anfíbios anuros são o grupo mais bem
representado, com 60 espécies no total. Na Argentina, os gimnofionos, anfíbios
conhecidos como cobras-cegas, são encontrados somente na Mata Atlântica de
Interior, e três das quatro espécies (Luetkenotyphlus brasiliensis, Siphonops
paulensis e S. annulatus) são encontradas somente na região de Misiones.
A tendência global de declínio das populações de anfíbios ressalta, mais uma
vez, a necessidade de monitoramento da Mata Atlântica argentina. No entanto, até a
taxonomia desse grupo é pouco conhecida na região. Das 66 espécies conhecidas,
5 ainda estão sendo descritas, 3 têm problemas taxonômicos e pelo menos 20
foram descritas ou sofreram mudanças de nomenclatura nos últimos dez anos.
Répteis
A Mata Atlântica de Interior da Argentina abriga 114 espécies e subespécies
de répteis, o que representa 36% dos táxons conhecidos no país (Tabela 15.2). O
Status da biodiversidade da Mata Atlântica de Interior da Argentina 171
maior grupo é o das serpentes, com 83 táxons, que representam 73% dos répteis
e 84% de todas as serpentes conhecidas na Argentina. Das espécies e subespécies
de répteis registradas, 41 (36% do total) são endêmicas da Mata Atlântica de
Interior e 36 táxons (32%) são exclusivos da região de Misiones.
Aves
As aves são o grupo mais diversificado de vertebrados na região: Misiones e
as áreas vizinhas de Corrientes possuem 546 espécies (Tabela 15.2). A província
de Misiones abriga mais da metade dos táxons conhecidos da Argentina, dos
quais 103 espécies ou subespécies (19%) são endêmicas da Mata Atlântica (como
um todo) e das savanas relacionadas. Algumas aves identificadas como nativas da
região Atlântico-Pampas (Stotz et al., 1996), como a saíra-preciosa (Tangara
preciosa), o quete (Poospiza lateralis), o sanhaço-frade (Stephanophorus
diadematus) e o azulinho (Cyanoloxia glaucocaerulea), são, de fato, espécies
endêmicas da Mata Atlântica que migraram para os Pampas seguindo as florestas
de galeria ao longo dos rios ou outras áreas favoravelmente úmidas. Na verdade,
diversas espécies de aves da Mata Atlântica voam quilômetros para dentro do
Cerrado através das florestas de galeria (Silva, 1996).
Mamíferos
Um total de 124 espécies de mamíferos foi registrado na Mata Atlântica de
Interior argentina (Tabela 15.2), respondendo por 43% dos mamíferos da
Argentina continental. Desses, 46 táxons (37%) e 2 famílias (ratos-de-espinho,
Echymidae, e a paca, Agoutidae) são nativos dessa ecorregião. O grupo mais
diversificado é o dos morcegos (38 espécies, 31%) e roedores (34 táxons, 25%).
Outras ordens bem representadas são os carnívoros (18 espécies) e os marsupiais
(15 espécies). No entanto, são necessários mais inventários de pequenos
mamíferos, especialmente em ambientes florestais e em áreas pouco estudadas,
como o sudeste de Misiones.
Número
Ameaçadas e quase Quase Insuficientemente
total de Ameaçadas Extintas
ameaçadas ameaçadas conhecidas
espécies
Critica-
mente em Quase
Total % perigo Ameaçada Vulnerável ameaçada Total % Total %
Anfíbios 66 11 17% 1 10 10 15
Tabela 15.6. Indicadores potenciais para a Mata Atlântica de Interior de Misiones, na Argentina.
Tabela 15.8. Sistema de classificação para análise do valor relativo dos ecossistemas
remanescentes e para o estabelecimento de prioridades. Os valores são subjetivos e indicativos
(adaptado de Laurance et al., 1997).
Valor de conservação
Critérios Alto Médio Baixo
Representatividade da região, da <5% em áreas 5-30% em áreas >30% em áreas
sub-região biogeográfica ou dos protegidas protegidas protegidas
hábitats em áreas protegidas
Espécies endêmicas >1 presente 1 presente Nenhuma
Espécies ameaçadas >1 presente 1 presente Nenhuma
Distúrbios Maioria sem distúrbio Alterado Degradado
Tipo de matriz Hábitats naturais Hábitats naturais e Hábitats
alterados alterados
(agricultura,
urbano)
Isolamento em relação a outros Conectados ou Entre 100m e >1.000m
hábitats ou florestas similares <100m 1.000m
Conectividade Conectado para a Conectado para Não conectado
maioria das espécies algumas espécies para a maioria
das espécies
Tamanho >100km2 Entre 100 e 1km2 <1km2
Forma Circular Intermediária Irregular
Diversidade de hábitat Alta (>3 hábitats) Moderada (entre 3 Baixa (1 hábitat)
e 2 hábitats)
Conclusões e recomendações
Dada a urgência de conservação da biodiversidade na Mata Atlântica da
Argentina, as principais prioridades para um programa de monitoramento na
Mata Atlântica de Interior do país deveriam incluir as seguintes ações:
• mapear e quantificar a área dos remanescentes de Mata Atlântica e de
outros hábitats importantes (por exemplo, campos nativos, palmeirais,
áreas úmidas);
• avaliar a extensão da fragmentação do ecossistema;
• avaliar a qualidade dos remanescentes e dos fragmentos e identificar as
áreas prioritárias para conservação ou manejo sustentável;
• medir a taxa de perda de hábitat e identificar suas principais causas;
• fortalecer as áreas protegidas existentes e criar novas em locais onde a
biodiversidade não esteja sendo adequadamente protegida;
• criar um banco de dados que compile toda a informação existente sobre a
Mata Atlântica, o qual deveria ser acessível a todos;
• financiar e facilitar os estudos sobre a biodiversidade, dando-se prioridade
para inventários e estudos de processos-chave no funcionamento dos
ecossistemas e incluindo-se fatores biológicos, culturais e socioeconômicos,
com vistas a garantir o manejo sustentável dos recursos;
• desenvolver mais programas educacionais com o objetivo de envolver
habitantes nativos e rurais e a sociedade em geral na conservação e no
manejo dos recursos naturais;
• facilitar e promover uma implementação mais efetiva de todos os aspectos
do Corredor Verde (ver Capítulos 20 e 22);
• fomentar a colaboração e as trocas com outros países para ações e
pesquisas conjuntas;
• criar diretrizes claras e processos de auto-avaliação e avaliação externa para
modificar objetivos, ações e planos quando necessário;
• garantir a continuidade do programa de monitoramento ao longo do
tempo, independentemente de fatores ou mudanças políticas ou
socioeconômicas.
178 ARGENTINA
Agradecimentos
Agradecemos a Carlos Galindo-Leal, Igor Berkunsky, Julián Alonso, Vanesa
Arzamendia, Marcelo Almirón, Karina Schiaffino, Justo Herrera, Hugo Chavez,
Fernando Zuloaga, Guillermo Placci, Andrés Bortoluzzi, Marylin Cebolla Badie,
Mario Di Bitteti, Jorge Protomastro, Alejandro Garello, José Benitez, Juan Pablo
Cinto, Paula Bertolini, Hugo López, Norma Hilgert e Juan Carlos Chebez, por
sua contribuição com informações, publicações, correções e sugestões.
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