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ÓRGÃO OFICIAL DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nº 91 | JUL—AGO 2010

Audiência pública no
Rio coloca em debate o
papel do farmacêutico
na sociedade e pergunta
que modelo de farmácia
o país quer e precisa

FARMACÊUTICO EM FOCO SAÚDE PÚBLICA CRF EM AÇÃO


Profissionais dizem o que pensam sobre a Crescimento da tuberculose preocupa. Saiba Câmaras Técnicas compartilham
proposta de “prescrição farmacêutica” como o farmacêutico pode contribuir conhecimento com farmacêuticos e
acadêmicos
NESTA EDIÇÃO

SUMÁRIO

5 CRF EM AÇÃO | Campanha contra o tabaco

10 FARMACÊUTICO EM FOCO | Saiba que


qualificações o mercado está exigindo do profissional

12 ENTREVISTA | Romilson Fonseca da Cunha conta


suas experiências na realização do trabalho vencedor
do Prêmio Jaldo de Souza Santos 2009

14 CONTROLE | Anvisa prepara regras mais rígidas para


venda de antibióticos

20 SAÚDE PÚBLICA | Conheça o papel do farmacêutico


no tratamento da hanseníase

28 OPINIÃO DA DIRETORIA | Prescrição farmacêutica,


tributação no setor magistral, segurança no ambiente
hospitalar e assistência farmacêutica a renais crônicos

32 ARTIGO | Câmaras Técnicas abordam temas diversos


Acompanhe o que
acontece no setor também
pelo site do CRF. Confira

Diretoria
Presidente: Dr. Paulo Oracy da Rocha Azeredo
Vice-presidente:Dr. Marcus Vinicius Romano Athila
Secretário Geral: Dr. Francisco Claudio de Souza Melo
Tesoureira: Dra. Ana Paula de Almeida Queiroz
Conselheiros Efetivos
Dra. Aline Coppola Napp - Dra. Celma Thomaz de Azeredo Silva - Dra. Denise Costa Ribeiro
Dr. Jorge Fernando Teixeira Soares - Dr. Júlio Cesar Carneiro - Dra. Márcia de Souza Antunes
Dra. Selma Rodrigues de Castilho - Dra. Tania Maria Lemos Mouço
Conselheiros Suplentes
Dra. Elaine Lazzaroni Moraes - Dra. Lia Maria Loiola Galuzzio - Dra. Raquel Costa Dutra Nascimento
Conselheiro Federal
Dra. Maria Cristina Ferreira Rodrigues
Conselheiro Federal Suplente
Dr. Alex Sandro Rodrigues Baiense
Comissão Editorial
Diretoria CRF-RJ - Dra. Aline Napp - Dr. Marcos Alves - Dr. Rogério Dias - Dra. Tania Mouço

Editora e Jornalista Responsável | Viviane Massi - MTB 7149/MG


Estagiário de Jornalismo | Pedro Henrique Woyames Medeiros de Lima
Projeto Gráfico e Diagramação | Quadratta Comunicação & Design
Colaboração | Fernanda Paes

CRF-RJ RIOPHARMA É UMA PUBLICAÇÃO DO CON-


SELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO
Conselho Regional de Farmácia do Estado do Rio de Janeiro DO RIO DE JANEIRO, COM PERIODICIDADE BI-
MESTRAL E TIRAGEM DE 14.500 EXEMPLARES.
Rua Afonso Pena, 115 - Tijuca - Rio de Janeiro - CEP 20270-244 OS TEXTOS ASSINADOS NÃO APRESENTAM,
Telefone: (21) 3509-1872 - Fax: (21) 2254-0351. NECESSARIAMENTE, A POSIÇÃO OFICIAL DO
CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ES-
email:diretoria@crf-rj.org.br / fiscalizacao@crf-rj.org.br TADO DO RIO DE JANEIRO(CRF-RJ).

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EDITORIAL

Salários justos e boas condições de trabalho


DIVULGAÇÃO
O Conselho tem a atri- sula da independência técni- nico terá acesso a um com-
buição de fiscalizar o exer- ca: “Na relação de trabalho e putador com Internet, para
cício profissional e de zelar emprego, empresário-farma- consulta a sites pertinentes
pela saúde pública, promo- cêutico, o elemento subordi- à prestação do atendimento
vendo a assistência farma- nação não poderá compro- aos clientes/pacientes (Ex.:
cêutica. Não é instituição de meter, em hipótese alguma, dirimir dúvidas quanto a in-
luta classista, mas tem o de- a independência técnica terações medicamentosas e
ver de contribuir com o de- do profissional, a quem ca- uso correto de medicamen-
senvolvimento da profissão. be com toda a liberdade a tos).”
Finalmente, foi celebrada orientação técnica a ser da- Além de receber o salário
a Convenção Coletiva de Tra- da, devendo ser observadas, mínimo profissional, as con-
balho (CCT) entre Sinfaerj, pelos farmacêuticos e pelos dições de trabalho do farma-
Sincofarma Rio e Fecomér- empregadores, além da le- cêutico exigem mudanças.
cio/RJ, registrada no Minis- gislação comum, as resolu- Sem mesa, cadeira, espaço
tério do Trabalho e Emprego ções sobre Boas Práticas de para livros, computador, on-
Paulo Oracy Azeredo (MTE) no dia 1º de junho de Dispensação exaradas pela de fica o farmacêutico na far-
Presidente CRF-RJ
Mandato 2010/2011 2010, com vigência de 1º de Anvisa”. mácia? Como atender os pa-
outubro de 2009 a 30 de se- O farmacêutico é profis- cientes e desempenhar sua
tembro de 2010. O acordo é sional liberal caracterizado função?
válido para todos os municí- por ausência de subordina- Condições adequadas de
pios do estado do Rio de Ja- ção técnica e científica. Prati- trabalho requerem a existên-
neiro, com exceção de Nite- ca atos profissionais de acor- cia de um software para o
rói e São Gonçalo, que tem do com suas convicções. Isso farmacêutico cadastrar, por
CCT própria e semelhante. é um bônus. O ônus é que exemplo, dados dos pacien-
Agora os farmacêuticos do responde ética, civil e crimi- tes, medicamentos em uso
interior têm definido o seu nalmente pelos seus atos. e resultados de exames clí-
salário mínimo. Toda farmácia deve ter o nicos, e para imprimir tam-
Tenho visto farmacêuti- Manual de Boas Práticas Far- bém a declaração de aten-
co reclamar, mas raramente macêuticas, pois é a garan- dimento. Um programa de
lutar ao lado de colegas. A tia contra o “erro farmacêu- informática que apresente
união faz a força. O sindicato tico”. instantaneamente no moni-
está fortalecido financeira- Estudemos também a tor a farmacologia do fárma-
mente, porém fraco em nú- cláusula das condições de co, cinética e dinâmica, inte-
mero de representados. Não trabalho: “Será fornecido rações, posologia, etc.
é preciso ser associado para ao profissional farmacêutico Se o empregador não
cobrar desempenho do sindi- todo o material necessário, fornecer condições adequa-
cato e resultados para a ca- como local, mesa, cadeira, das de trabalho, ficará su-
tegoria, mas é preciso parti- além de espaço para conter jeito à multa a favor do far-
cipar das lutas e comparecer livros de consultas, a fim de macêutico. Solicite ao seu
às assembléias que tratam atender aos pacientes/clien- contratante o cumprimento
do reajuste dos salários. tes da farmácia/drogaria, pa- da cláusula das condições de
Outra maneira de con- ra o real desempenho de sua trabalho. Denuncie.
tribuir é cobrar dos empre- função, em consonância com
gadores os direitos previstos a atividade exercida”. “O far- Paulo Oracy Azeredo
na CCT. Estudemos a cláu- macêutico responsável téc- Presidente CRF-RJ

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AGENDA TÉCNICO-CIENTÍFICA

SXC

INOVA 2010
Data: 9 a 11 de agosto | Local: Ceará
Informações: www.seminarioinova.com.br

EXPO PHARMA 2010


Data: 18, 19 e 20 de agosto | Local: Rio de Janeiro
Informações: www.cete.com.br/expopharma.asp ou (21) 2298-2008

XIII CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MANIPULAÇÃO FARMACÊUTICA


Data: 28 de agosto | Local: Rio de Janeiro
Informações: 2260-7381 e www.farmaciauniversitaria.ufrj.br

CONGRESSO HEMORIO 2010


Data: 1º a 3 de setembro | Local: Rio de Janeiro
Informações: www.hemorio.rj.gov.br ou (21) 2332-8611

XVI CONGRESSO PAULISTA DE FARMACÊUTICOS


Data: 18 a 21 de setembro | Local: São Paulo
Informações: www.congressocrf.org.br ou (11) 3676-0688

44º CONGRESSO BRASILEIRO DE PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORATORIAL


Data: 14 a 17 de setembro | Local: Rio de Janeiro
Informações: www.cbpcml.org.br

III FÓRUM INTERNACIONAL SOBRE SEGURANÇA DO PACIENTE:


ERROS DE MEDICAÇÃO
Data: 24 e 25 de setembro | Local: Ouro Preto
Informações: www.ismp-brasil.org

2° SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA


Data: 29 de setembro a 2 de outubro | Local: Florianópolis
Informações: www.sbmicrobiologia.org.br

II CONGRESSO EM FARMÁCIA HOSPITALAR EM ONCOLOGIA DO INCA


Data: 6 a 8 de outubro | Local: Rio de Janeiro
Informações: www.inca.gov.br ou (21) 3970-7846

16ª EDIÇÃO DO HOSPITAL BUSINESS


Data: 19 a 21 de outubro | Local: Rio de janeiro
Informações: www.hospitalbusiness.com.br

2º CONGRESSO SUL BRASILEIRO DE ANÁLISES CLÍNICAS


Data: 3 a 6 de novembro | Local: Paraná
Informações: (62) 3214-1005 e www.qeeventos.com.br ERRATA
Na edição 90, erramos
HEMO 2010 na entrevista do vice-
Data: 5 a 8 de novembro | Local: Brasília presidente do CRF-RJ,
Informações: www.hemo2010.org.br Marcus Athila. O nome
correto da sigla SNGPC
FARMAPOLIS é Sistema Nacional
Data: 12 a 14 de novembro | Local: Florianópolis de Gerenciamento de
Informações: www.farmapolis.org.br Produtos Controlados
e não Sistema Nacional
de Vigilância Sanitária,
conforme consta em parte
do texto.

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CRF EM AÇÃO

Conselho se mobiliza contra o tabaco


Campanhas acontecem simultaneamente no Rio e em Barra Mansa
DIVULGAÇÃO

Dia 31 de maio é Dia tadas. Apenas 5% relataram


Mundial sem Tabaco. O não conhecer os riscos do
CRF-RJ foi novamente às fumo para a saúde. Dos en-
ruas para informar a popu- trevistados que utilizam me-
lação sobre os riscos do ci- dicamentos, 42,72% fumam
garro. No Rio de Janeiro, ou já fumaram.
farmacêuticos e acadêmicos
passaram a manhã na Pra- MOBILIZAÇÃO TAMBÉM
ça Afonso Pena orientando, EM BARRA MANSA
aferindo a pressão arterial e Em Barra Mansa, a cam-
medindo glicose. Além dis- panha foi possível devido a
so, as pessoas foram aler- uma parceria entre CRF-RJ,
tadas sobre os riscos de Sinfaerj, Centro Universitá-
Aferição de pressão arterial: um dos serviços oferecidos na ação social
pacientes hipertensos e dia- rio de Barra Mansa (UBM) e
HUMBERTO TESKI
béticos fumarem. Secretaria de Saúde da Pre-
O médico e vereador do feitura da cidade. A ação so-
Rio Carlos Eduardo de Mat- cial contou com a presen-
tos (PSB/RJ) foi conferir a re- ça de alunos de Farmácia da
percussão da campanha. Ele UBM.
elogiou a iniciativa do Con- Não só a população saiu
selho e ressaltou que a en- ganhando, mas também far-
tidade está cumprindo um macêuticos e estudantes
papel que deveria obrigato- que participaram. “A ação,
riamente ser cumprido pelo além de uma oportunida-
poder público. Segundo o de para apresentar à popu-
vereador, os governos gas- lação a importância do far-
tam milhões tratando as se- macêutico para a sociedade,
Equipe responsável pela ação social na Praça Afonso Pena quelas do fumo. “O comba- também foi uma excelente
te deveria começar com leis experiência para os alunos,
DIVULGAÇÃO mais severas para os fabri- que vivenciaram uma ação
cantes de cigarro”, disse. pública em saúde preven-
Durante a campanha, tiva e de assistência farma-
201 pessoas foram entrevis- cêutica”, declarou Sebastião
HUMBERTO TESKI de Lima Coelho, profes-
sor da UBM, que participou
da ação acompanhando os
alunos.
O CRF-RJ também fez
campanha contra o tabaco
no jornal O Globo, nas rádios
Globo e Bandnews, nas Bar-
cas S.A. e no Metrô Rio.
Secretário-geral do CRF-RJ, Francisco Claudio de Souza Melo, com os alunos participantes Pessoas fazem fila para serem atendi-
da ação social em Barra Mansa das na Tijuca

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CRF EM AÇÃO

Itinerante em Niterói
Relação humanista com o paciente é destacada por palestrante
HUMBERTO TESKI
No dia 19 de junho, o CRF para começar o trabalho são
Itinerante esteve em Niterói. também decisivas. “Dificulta
Foram ministradas as pales- ainda a falta de aprendizado
tras “Atenção Farmacêutica universitário sobre como lidar
em Pacientes Hipertensos” e com pessoas. Aprendemos
“Atenção Farmacêutica em aspectos técnicos do medica-
Pacientes Diabéticos”. A pri- mento, mas não a cuidar do
meira foi apresentada pela paciente”, explica.
farmacêutica e membro do A farmacêutica Maiara
Grupo de Estudos sobre Ser- Alexandre Cardoso pretende
viços Farmacêuticos do Es- abrir sua própria farmácia e
tado do Rio de Janeiro (Ge- disse que vai aplicar a aten-
seferj), Elisângela de Assis ção farmacêutica para se di-
Ferreira. Tania Mouço Lemos, ferenciar de outros estabele-
professora universitária e con- cimentos.
Elisângela ministra palestra sobre atenção farmacêutica em pacientes hipertensos
selheira do CRF-RJ, ficou res- Aloísio Carvalho, tam-
ponsável pela segunda. bém farmacêutico, afirmou gas. “Estar em contato com
Na opinião de Elisângela, que o evento foi proveitoso grupos que têm o mesmo
conhecimentos teóricos são por duas razões: pelas infor- objetivo sempre soma em
importantes, mas iniciativa mações recebidas e pela tro- nossa vida profissional”, co-
do farmacêutico e coragem ca de experiências com cole- mentou.

DIVULGAÇÃO
CRF ITINERANTE EM CAXIAS
O CRF Itinerante também esteve em Duque
de Caxias, onde o evento contou com a co-
ordenação do vice-presidente Marcus Athila
e da diretora-tesoureira Ana Paula Queiroz.
Participaram o secretário-geral do CRF-RJ,
Francisco Claudio de Souza Melo, o coorde-
nador da Vigilância Sanitária de Duque de
Caxias, Roberto Dias, e o coordenador do
CRF-RJ na cidade, Rogério Dias. Foram mais
de 100 pessoas, o que, segundo o secretá-
rio-geral, realça a grande adesão dos profis-
sionais em reconhecimento à importância da
capacitação para a valorização das ativida-
des em que o farmacêutico pode atuar. Athi-
la também se mostrou muito satisfeito com
o evento, destacando a alegria que sentiu
ao testemunhar o empenho da categoria em
busca da capacitação para melhor atender à
população. Número de participantes surpreende organização do evento

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CRF EM AÇÃO

Disseminando conhecimento
Encontro das Câmaras Técnicas recebeu palestrantes de diversas áreas de atuação
HUMBERTO TESKI
de Medicamentos na Saúde
Pública”, ministrada pelo chefe
do Departamento de Assistên-
cia Farmacêutica da prefeitu-
ra do Rio de Janeiro, Rondineli
Mendes da Silva; “O Papel do
Farmacêutico na Pesquisa Clí-
nica”, por Marcelo Marques
Nazar, do INCA; “Administra-
ção Farmacêutica Hospitalar”,
por Renata da Silva Antunes,
da Câmara Técnica de Farmá-
cia Hospitalar; e por fim “A Ra-
diofarmácia em Medicina Nu-
clear”, ministrada por Rodrigo
Público constituído de farmacêuticos e acadêmicos
dos Santos Almeida, da Câma-
O Centro de Estudos do a oportunidade para manifes- ra Técnica de Radiofarmácia.
Hospital Hemorio sediou o 2º tar seu apoio ao encontro e à À tarde, os participan-
Encontro das Câmaras Técni- disseminação de informações tes assistiram às apresenta-
cas do CRF-RJ, que aconteceu que as Câmaras Técnicas es- ções “Novo Protocolo da An-
em 23 de junho. O principal tão promovendo. “O evento é visa RDC 151 sobre HIV”, de
objetivo do evento foi disse- uma grande oportunidade pa- Lucia Maria de Sena Souza, do
minar conhecimentos sobre os ra atualização sobre o que há Programa de DST/AIDS da pre-
mais diversos assuntos domi- de mais moderno na profis- feitura de Duque de Caxias;
nados pelos palestrantes e im- são, sob a ótica de profissio- “Acupuntura Aplicada à Prá-
pulsionar o debate sobre di- nais de destaque em suas áre- tica Farmacêutica”, de Cláu-
ferentes temas da atualidade, as de atuação”, disse. dio Barreiro Pignone, da Câ-
em relação às inúmeras áre- De acordo com a diretora mara Técnica de Acupuntura;
as em que o farmacêutico es- do CRF-RJ e responsável pela “Boas Práticas de Fabricação -
tá apto a atuar. coordenação do evento, Ana RDC 17 x RDC 210, o que mu-
O vice-presidente do CRF- Paula Queiroz, a ideia é reali- dou?”, de Simone Grings Her-
RJ, Marcus Athila, aproveitou zá-lo duas vezes ao ano, a fim bert, da Câmara Técnica de
de que os farmacêuticos pos- Indústria Farmacêutica; “De-
sam constantemente agregar safios para Garantir a Qualida-
conhecimentos para aplicá-los de de Medicamentos no Ciclo
no dia a dia. A previsão é que o de Distribuição”, de Ana Ma-
próximo encontro aconteça no ria Targa, da Câmara Técnica
segundo semestre de 2010. de Distribuição e Transporte;
Na parte da manhã, foram e, para fechar o dia, “Seguran-
apresentadas as palestras “O ça Alimentar”, de Renato Lima
Impacto do Complexo Médi- Duarte, da Câmara Técnica de
co-Industrial na Incorporação Vigilância Sanitária.
Ana Paula Queiroz, diretora do CRF-RJ, e Marcus Athila, vice-presidente do CRF-
RJ: objetivo é compartilhar conhecimento gerado pelas Câmaras Técnicas

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FARMACÊUTICO EM FOCO

Prescrição farmacêutica: é bom para quem?


Consulta pública do CFF suscita o debate entre profissionais do setor

O Conselho Federal de ma segura. Se a indicação


Farmácia (CFF) abriu, em 7 for feita pelo farmacêuti- “O objetivo é proteger a sociedade
de abril, a Consulta Públi- co, haverá o uso seguro e
ca nº 01/10, para receber racional do produto, com e fazer com que o farmacêutico
sugestões sobre a propos- probabilidades maiores de
ta de resolução que auto- o tratamento dar certo.
seja, além do profissional do
riza farmacêuticos a pres- O assunto é discutido medicamento, o profissional do
creverem medicamentos pela farmacêutica Luciene
para transtornos menores Alves Moreira Marques no usuário do medicamento”
ou nos limites da atenção livro Atenção Farmacêutica
básica à saúde. A Consul- em Distúrbios Menores. De Jaldo de Souza Santos
ta Pública já foi encerrada, acordo com ela, as pessoas
mas continua suscitando o estão sujeitas à influência
Presidente do CFF
debate sobre a quem inte- da mídia, e muitas vezes
ressa que o farmacêutico compram medicamentos
prescreva. que podem mascarar um
Transtornos menores problema grave de saúde,
são problemas de saúde trazendo prejuízos em vez
considerados não graves, de benefícios.
que não necessitam de Esse cenário, na opi-
diagnóstico médico e que nião do farmacêutico e
começam e terminam com empresário Ricardo Valde-
o tratamento dos sintomas taro, é propício à prescri-
descritos pelos pacientes, ção farmacêutica. “Devi-
como tosse, diarréia, cons- do à automedicação, nada
tipação intestinal, entre seria mais apropriado do
outros. Geralmente, são que utilizar o farmacêuti-
tratados com medicamen- co para prescrever medi-
tos isentos de prescrição, camentos para transtor-
que são adquiridos livre- nos menores, pois ele é
mente pelo consumidor. um profissional com estu-
Segundo o presiden- dos farmacológicos e de
te do CFF, Jaldo de Sou- fácil acesso à população”,
za Santos, o medicamento avalia Valdetaro.
isento de prescrição (MIP) O farmacêutico e se-
já é usualmente indicado cretário de Saúde de Paraí-
por amigos e familiares ou ba do Sul, Emilson Oliveira,
até mesmo pelo balconista concorda com Valdetaro.
da farmácia, que, na maio- “Como farmacêutico, sinto
ria das vezes, não possui que é mais uma responsa-
estudo apropriado para fa- bilidade para a classe, que
zer tais orientações de for- julgo capaz de desempe- Capa do livro Atenção Farmacêutica em Distúrbios Menores: autora defende
prescrição farmacêutica

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FARMACÊUTICO EM FOCO

nhar o papel de prescritor seja, além do profissional dentro da farmácia duran-


com conhecimento e sabe- do medicamento, o profis- te todo o horário de fun-
doria”, diz Oliveira. sional do usuário do me- cionamento, conforme de-
A Associação Brasileira dicamento, estabelecendo termina a legislação.
de Defesa do Consumidor mais contato com o pa- O secretário de Saúde
(Pro Teste) preferiu não se ciente”, diz. de Paraíba do Sul acrescen-
posicionar sobre o assun- Outro ponto positi- ta, ainda, que se a medida
to, mas disse não ter certe- vo da proposta de resolu- for aprovada, além de de-
za sobre os benefícios que ção é a intenção de facili- sobstruir os postos de saú-
a prescrição farmacêutica tar o acesso do paciente à de e hospitais públicos,
pode trazer ao consumi- orientação medicamento- consequentemente irá ge-
dor. A entidade tem medo sa. Grande parte dos pro- rar uma melhora no aten-
de que o uso dos medica- fissionais de saúde atribui dimento, pois os médicos
mentos isentos de prescri- o elevado índice de auto- poderão dar maior atenção
ção para males menores medicação à dificuldade aos pacientes que apresen-
possa mascarar doenças dos pacientes de ter acesso tam patologias mais gra-
mais graves e complexas. ao Sistema Único de Saúde ves.
Souza Santos faz ques- (SUS). “Acho a medida po- Mas os farmacêuti-
tão de frisar o objetivo da sitiva, principalmente para cos estão preparados para
a população que depende prescrever? Souza Santos
de hospitais públicos, cada diz que é preciso ter co-
“Acho a medida positiva, vez mais sobrecarregados nhecimentos de fisiologia,
e sem dar conta de aten- fisiopatologia e farmacolo-
principalmente para a população que der ao grande volume de gia. Esses conhecimentos
pessoas. A prescrição far- são adquiridos em cursos
depende de hospitais públicos, cada macêutica possibilitaria à de farmácia clínica.
vez mais sobrecarregados e sem dar população melhor acesso Na visão de Valdeta-
aos profissionais de saúde ro, essa mudança valoriza a
conta de atender ao grande volume sem ter de enfrentar filas classe, mas é preciso checar
para receber orientação e se os farmacêuticos estão
de pessoas” acompanhamento do uso devidamente capacitados
Ricardo Valdetaro dos medicamentos”, acres- para prescrever. “Hou-
centa Valdetaro. ve uma proliferação de fa-
Farmacêutico O presidente do CFF culdades. Acho aconselhá-
defende que a prescrição vel que os profissionais se
de medicamentos realiza- especializem para execu-
proposta de resolução: da por farmacêuticos inte- tar mais esta função: a de
tornar o acesso ao medi- ressa a toda a sociedade, prescritores para transtor-
camento mais fácil e se- visto que o médico nem nos menores”, ressalta.
guro, sem intenção de se sempre está à disposição A Consulta Pública do
obter mais lucro com isso. do paciente, ao contrário CFF será encaminhada pa-
“É preciso ter cuidado pa- de farmácias e drogarias, ra discussão em plenário
ra o foco comercial não fi- que estão em todos os lu- na cidade de Porto Alegre.
car acima do foco de saú- gares. Além disso, também A intenção é que após esta
de. A ideia não é autorizar incentivará os proprietá- etapa seja publicada a re-
a prescrição para se ven- rios de estabelecimentos solução que irá autorizar a
der mais. O objetivo é pro- farmacêuticos a cumpri- prescrição de medicamen-
teger a sociedade e fazer rem a exigência de manter tos de venda livre pelos
com que o farmacêutico ao menos um farmacêutico farmacêuticos.

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FARMACÊUTICO EM FOCO

Você está preparado para a escolha?


Conheça as principais exigências dos diferentes segmentos onde o farmacêutico pode atuar
ISTOCK
Os profissionais do setor
convivem com uma extensa
gama de campos de trabalho
em que podem atuar, como
indústrias, farmácias hospita-
lares da rede pública ou pri-
vada, laboratórios de análises
clínicas, farmácias comunitá-
rias, entre outros. Em cada
um deles, o mercado procu-
ra um farmacêutico com per-
fil diferenciado e habilidades
específicas para exercer as
diversas funções. Pensando
nisso, a Riopharma conver-
sou com o setor de Recursos
Humanos de algumas empre-
sas e mostra, a seguir, o per-
fil profissional idealizado por
cada uma delas.
Assim como nas farmá- a instituição exige três anos pecialização em análises
cias comerciais, as farmácias de experiência em farmácia clínicas. Também é desejável
hospitalares são obrigadas a hospitalar, mas as chances que o profissional tenha do-
manter um farmacêutico por são maiores para quem tem mínio da língua inglesa, pois
todo o horário de funciona- especialização em farmácia existem publicações disponí-
mento. Segundo a gerente clínica. Também são dese- veis apenas nesse idioma. De
de Recursos Humanos da Ca- jáveis cursos de boas práti- acordo com ela, os laborató-
sa de Saúde São José, Viviane cas de fabricação de medica- rios buscam profissionais que
Maffia, é necessário ter resi- mentos e de biossegurança, possuam poder de concen-
dência ou pós-graduação em além de noções de inglês, In- tração, organização e agili-
farmácia hospitalar e experi- ternet e outros programas de dade. Chega na frente quem
ência na área de gestão. En- informática. Em relação às apresenta iniciativa e capaci-
tre as competências desejá- características psicológicas, é dade de gerenciamento.
veis, destaque para visão do imprescindível ter facilidade Responsável por empre-
negócio como um todo, lide- de relacionamento interpes- gar grande parte dos profis-
rança, iniciativa, organização, soal e de trabalho em equipe. sionais, o varejo farmacêu-
foco no resultado e boa co- Na área de análises clí- tico exige atualização em
municação com a equipe. nicas, a diretora de Recur- relação às leis do setor, di-
De acordo com o chefe sos Humanos e Atendimento namismo, conhecimentos
do setor de Recursos Huma- do Laboratório Sérgio Fran- sobre o mercado, aptidão
nos do Instituto Nacional do co, Christiane Carvalho, afir- para lidar com o público e
Câncer (INCA), Ivan Perrone, ma ser imprescindível ter es- habilidade para conduzir a

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FARMACÊUTICO EM FOCO

equipe da farmácia. da rede Pague Menos, Mag- Leme, Ricardo Valdetaro: “in-
Segundo a gerente de na de Castro Alves. tegridade, educação, respon-
marketing da rede de dro- Geralmente, a Pague Me- sabilidade, atenção ao clien-
garias Drogal, Jane Miranda, nos exige experiência de, no te, solidariedade e empatia”,
o farmacêutico precisa fa- mínimo, seis meses na área. destacou. Também é desejá-
zer cursos de legislação far- “Mantemos um programa vel que o farmacêutico tenha
macêutica, produtos e aten- de estágio que nos possibi- curso de aplicação de injetá-
dimento. “A Rede Drogal se lita ajudar na formação prá- veis e aferição de pressão ar-
pauta pela valorização dos tica dos profissionais. Para terial, além de saber operar
colaboradores. Em caso da nós, é importante que os far- glicosímetros.
falta de experiência, inves- macêuticos tenham conheci- Para Valdetaro, também
timos no farmacêutico por mentos, principalmente, de é necessário conhecer a fun-
meio de cursos e outras fer- farmacologia e de assistência do a Portaria 344, visitar re-
ramentas para sua atualiza- farmacêutica”, explicou. “É gularmente o site da Anvisa
ção”, conta Jane. importante o comportamen- e se especializar em atenção
“O varejo farmacêutico é to ético, afinal o farmacêuti- farmacêutica. É interessante
dinâmico e tem consumido- co será uma liderança den- que se tenha nível intermedi-
res cada vez mais exigentes. tro da farmácia e precisa ser ário em língua inglesa, prin-
No nosso ramo, buscamos um exemplo para demais co- cipalmente se a farmácia em
profissionais com aptidões laboradores e clientes”, finali- que pretende trabalhar esti-
para atendimento ao público, za Magna. ver localizada em uma área
que se identifique com a di- Esse é o perfil de quem frequentada por turistas, co-
nâmica das vendas e com ha- deseja atuar em uma grande mo acontece com a Farmácia
bilidade e conhecimento para rede. E quanto às médias e do Leme, que fica em Copa-
orientar os auxiliares da far- pequenas farmácias? Quem cabana.
mácia”, ressalta a gerente de responde é o farmacêutico e A indústria é a “menina
Desenvolvimento Humano proprietário da Farmácia do dos olhos” da maioria dos
profissionais, mas é onde se
encontra uma pequena par-
CONHEÇA O NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS DE
cela deles. Os farmacêuticos
CADA ÁREA, SEGUNDO ESTATÍSTICAS DO
podem atuar em inúmeras
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA
funções, inclusive no marke-
Farmácias e drogarias 79.010
ting. Segundo a diretora de
Farmácias e drogarias em capitais 18.425
Gestão de Capital Humano
Farmácias e drogarias em cidades do interior 60.585
da EMS, Marta Nisina, exis-
Farmácias com manipulação 7.164
tem cursos específicos volta-
Farmácias homeopáticas 1.082
dos para quem deseja traba-
Farmácias e drogarias de propriedade de
lhar na função.
farmacêuticos 19.755
Os cargos das áreas re-
Farmácias e drogarias de propriedade de não
gulatória e controle de qua-
farmacêuticos 45.481
lidade requerem profissionais
Farmácias públicas registradas nos Conselhos
com perfil analítico e organi-
Regionais 8.284
zado, que saibam se comu-
Farmácias hospitalares 5.490
nicar, administrar o tempo e
Laboratórios de análises clínicas de propriedade
possuir facilidade de relacio-
de farmacêuticos 5.497
namento. Em algumas ou-
Indústrias farmacêuticas 550
tras áreas também é requisito
Distribuidoras de medicamentos 3.844
fundamental a flexibilidade e
Relatório da Comissão de Fiscalização emitido em dezembro de 2009, com base
nos Relatórios de Atividades Fiscais dos Conselhos Regionais de Farmácia. a boa comunicação.

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11
ENTREVISTA

Ferramentas de gestão em
serviços de saúde
Utilização pode ser o diferencial para sucesso em organizações de saúde

Romilson Fonseca da gestão do Laboratório de


Cunha, autor do trabalho Análises Clínicas do Hos- R : Como é a difusão da
O uso de ferramentas de pital de Aeronáutica dos utilização das ferramen-
gestão na busca de qua- Afonsos. tas de gestão atualmente
lidade, segurança e hu- nos estabelecimentos de
manização em serviços de R : Qual foi a maior dificul- saúde?
saúde, vencedor da cate- dade encontrada durante RFC : No meio privado,
goria “Farmacêuticos /Aná- o trabalho? existe uma grande deman-
lises Clínicas”, da I Edição RFC : Toda mudança ge- da por pessoal qualifica-
do Prêmio Jaldo de Sou- ra algum tipo de resistên- do. No setor público, em-
za Santos, é o entrevista- cia e também possibilida- bora menor, não é muito
do desta edição. Ele fala des de melhorias. Talvez o diferente. Existem muitos
sobre a pesquisa, a ade- maior desafio tenha sido cursos na área de gestão
quação às ferramentas de realizar todos os trâmites em saúde que difundem a
gestão e os resultados al- administrativos e funcio- utilização das ferramentas
cançados. Leia a seguir. nais a tempo de possibi- gerenciais em diferentes
litar a disponibilização de níveis. Na Aeronáutica,
Riopharma : Foi difícil alocação de recursos pa-
encontrar um estabele- ra as reformas estruturais,
cimento de saúde que se obedecendo todos os re- “A busca por eficiência, efetividade
adequasse às necessida- quisitos da administração
des para execução da pes- pública. Porém, o plane-
e diminuição dos desperdícios
quisa? jamento se mostrou ade- e custos tem se mostrado uma
Romilson Fonseca da quado e houve entendi-
Cunha : O cotidiano da mento da administração excelente alternativa para melhorar
grande maioria das organi- sobre a necessidade das
zações de saúde é cercado mudanças propostas. o desempenho das instituições de
por inúmeros desafios. A
busca por eficiência, efe- R : Qual a mudança mais
saúde”
tividade e diminuição dos significativa ocorrida após
desperdícios e custos tem a utilização das ferramen-
se mostrado uma excelen- tas de gestão? por exemplo, são exigidos
te alternativa para melho- RFC : Houve um grande in- treinamentos para ascen-
rar o desempenho dessas cremento positivo nas re- der aos postos mais eleva-
instituições. O trabalho se lações com os clientes in- dos da carreira. Universi-
dedicou a registrar e des- ternos e externos devido à dades renomadas já estão
crever algumas atividades sensação de melhoria nas se adaptando a essa nova
executadas e os principais condições de segurança, realidade do mercado.
resultados obtidos no de- humanização e qualidade
correr do primeiro ano de dos serviços prestados. R : O que é preciso para

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12
ENTREVISTA

utilizar de forma eficaz as outros que podem ser sig- mentos funcionais. Sen-
ferramentas de gestão? nificativos para que a uti- do assim, as melhorias
RFC : Essa pergunta é mui- lização das ferramentas puderam ser sentidas pe -
to oportuna, pois acredito de gestão produza resul- los profissionais desde
que o conhecimento das tados diferentes dos pla- o começo das atividades
técnicas e de suas condi- nejados. e repercutiram positiva-
mente para que houves-
HUMBERTO TESKI
R : O senhor acha que os se bons níveis de com-
estabelecimentos de saú- prometimento, aceitação
de estão em condições de e adaptação sem maiores
utilizar as ferramentas de dificuldades.
gestão?
RFC : Tenho certeza que R : As ferramentas de ges-
sim. E sei, por experiência tão podem ser uma res-
própria, que um bom pla- posta para a melhoria da
nejamento e a utilização qualidade do sistema de
adequada de ferramentas saúde atual?
de gestão podem ser de- RFC : A melhoria passa
terminantes para o suces- por muitos desafios, co-
so de muitas organizações mo democratização do
de saúde, servindo como acesso aos serviços em to-
diferencial para uma ad- dos os níveis, mais profis-
ministração de sucesso. sionais qualificados e bem
remunerados, investimen-
R : Como foi a adaptação to em ações preventivas,
dos profissionais que tra- sustentabilidade e enten-
balham na instituição pes- dimento dos muitos fato-
quisada? res condicionantes, den-
RFC : O estudo foi inse - tre outros, para que haja
rido em um contex to de uma verdadeira revolução
uma organização de saú- no sistema de saúde atu-
de militar, que, embora al. Acredito que muitas
diferenciado do meio ci- das respostas e ações po-
vil em muitos aspectos, dem ser buscadas e imple-
também divide caracte - mentadas com o uso cor-
rísticas parecidas e pecu- reto de ferramentas de
liares a outros setores de gestão conhecidas e de
trabalho. No nosso ca- domínio público, sem que
Romilson Fonseca da Cunha so, houve par ticipação sejam inventadas fórmulas
da equipe na identifica- mirabolantes e complica-
cionantes seja muito im- ção dos principais óbices das de ação. Dessa forma,
portante, mas não basta e no planejamento de al- os gestores podem lançar
para alcançar sucesso na gumas das atividades mão de técnicas específi-
utilização das ferramentas que seriam desempenha- cas para enfrentar os de-
sem que haja o compro- das. Existem também en- safios de uma gestão que
metimento de toda a equi- volvimento na definição busque, dentre outros ob-
pe nos diferentes níveis da dos objetivos comuns, na jetivos, melhores níveis de
administração. Existem fa- melhor organização das segurança, humanização
tores que podem ajudar e tarefas e nos procedi- e qualidade.

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13
CONTROLE

Inimigo oculto
Saiba o que profissionais de saúde pensam sobre as propostas da Anvisa
para evitar a resistência microbacteriana
SXC
A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvi-
sa) realizou, em março, uma
audiência pública, em Bra-
sília (DF), a fim de discutir
medidas mais restritivas pa-
ra ampliar o controle sobre a
prescrição e venda dos anti-
bióticos orais e injetáveis. A
proposta exige a retenção
da receita médica na hora da
dispensação e altera os dize-
res de rotulagem e bula des-
ses medicamentos.
As novas regras incluem
ainda, inicialmente, os antibi-
óticos amoxilina, cefalexina,
azitromicina e sulfametoxazol do tratamento, dificultando- não respeitam essa regra, di-
no grupo que deve ter a ven- o e encarecendo-o. Além dis- ficultando o controle. “A fi-
da registrada no Sistema Na- so, de acordo com o pedia- nalidade de restringir a venda
cional de Gerenciamento de tra e membro da Sociedade é justamente para podermos
Produtos Controlados (SN- Brasileira de Pediatria (SBP), controlá-la melhor e evitar
GPC). Futuramente, a inten- Marco Aurélio Palazzi Safadi, que a resistência microbacte-
ção é ampliar essa listagem. em 50% das vezes, as pes- riana aumente”, diz Alaver.
A proposta foi colocada soas ingerem antibióticos de
em consulta pública no dia 18 maneira incorreta, pois o re- PONTOS POSITIVOS E
de junho, e a previsão é que, médio não é apropriado ou a NEGATIVOS DA MUDANÇA
antes do final do ano, a nova doença é viral, como ocorre Se por um lado a preocu-
resolução entre em vigor. frequentemente com os pro- pação da Anvisa é bastante
A Anvisa vem deixan- blemas de garganta.
do claro que a finalidade das O especialista em regula- CONHEÇA AS PROPOSTAS DA ANVISA PARA
medidas mais rigorosas é re- ção de vigilância sanitária da DISPENSAÇÃO DE ANTIBIÓTICOS
duzir o consumo indiscrimi- Anvisa, Rodrigo Thomaz Ala- Exigência de Receita de Controle Especial em duas vias.
nado de antibióticos e a au- ver, lembra que a Lei Federal Apresentação e retenção de uma via da receita no ato
tomedicação, que acabam 5.991 já determina que me- da dispensação.
gerando um problema mui- dicamentos de tarja verme- Dizeres de rotulagem e bula com a frase: “VENDA SOB
to maior, a resistência micro- lha, como é o caso dos an- PRESCRIÇÃO MÉDICA - SÓ PODE SER VENDIDO COM
bacteriana. O uso irracional tibióticos, somente sejam RETENÇÃO DA RECEITA”.
desses medicamentos poten- dispensados sob prescrição Controle eletrônico da movimentação (entradas e saídas)
cializa o fortalecimento das médica. Porém, muitos esta- de antibióticos nas farmácias e drogarias do setor privado
bactérias e reduz a eficácia belecimentos farmacêuticos pelo SNGPC.

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14
CONTROLE

viço de saúde. Porém, não pois a prática de restrição da


NÚMEROS ALARMANTES
acredita que isso cause pro- venda de antibióticos é anti-
O comércio de antibióticos movimentou, no Brasil, cerca
blemas no primeiro momen- ga e não alterará a rotina de
de R$ 1,6 bilhão, em 2009*.
to. “Certamente os benefícios atendimento dos médicos”,
As infecções causam 25% de mortes no mundo e 45%
serão maiores que o descon- declara Marília.
nos países menos desenvolvidos **.
forto”, declara o médico. O gerente de assistên-
Mais de 50% das prescrições de antibióticos são
A opinião do presidente cia farmacêutica da Secretaria
inadequadas**.
do CRF-RJ, Paulo Oracy Aze- Municipal de Saúde e Defe-
50% dos pacientes compram antibióticos para um dia e
redo, vai ao encontro do que sa Civil do Rio de Janeiro (Ses-
90%, para um período igual ou inferior a três dias**.
diz Safadi. Paulo Oracy con- dec), Rondinelli Mendes da
Mais de 50% do orçamento com medicamentos são
corda que a automedicação, Silva, ressalta que na rede pú-
destinados aos antimicrobianos**.
infelizmente, é muito pratica- blica municipal a dispensação
Fontes: *IMS Health; **Organização Mundial da Saúde (OMS)
da no Brasil. Ele acredita que a de antibióticos ocorre somen-
compreensível, de outro ge- partir dessas medidas de res- te sob prescrição médica. Silva
ra preocupações. Em um pa- trição até mesmo os médicos concorda com a importância
ís como o Brasil, onde a po- serão mais criteriosos na hora de se criar regras para que o
pulação encontra inúmeras de prescrever antibióticos. consumo ocorra somente com
dificuldades para ter acesso No dia a dia, Paulo Oracy receita, porém acredita que
ao Sistema Público de Saúde vislumbra que tais medi- essas novas medidas não se-
(SUS), depender de prescri- das tragam resultados posi- riam necessárias se as pessoas
ção médica em todas as ve- tivos, pois possibilitarão ao fossem mais éticas e houves-
zes que se necessitar de um farmacêutico orientar o usu- se o cumprimento adequado
antibiótico pode trazer pro- ário sobre a importância do da Lei 5991, em vigor há mais
blemas. Porém, é unânime a cumprimento da posologia e de 30 anos. Além disso, acres-
certeza de que as mudanças continuidade do tratamento. centa que a confecção de no-
são positivas e necessárias. A coordenadora da Câ- vos receituários irá onerar a
“A questão da dificuldade de mara Técnica de Infectolo- administração pública.
acesso ao médico nos preo- gia do Conselho Regional de Assim como Safadi, Sil-
cupa, mas também não é cor- Medicina do Estado do Rio va diz que ainda não há co-
reto e seguro se automedicar. de Janeiro (Cremerj), Marilia mo avaliar de que maneira
Queremos justamente acabar de Abreu Silva, também con- esta medida poderá impac-
com isso”, declara Alaver. corda que as mudanças serão tar os atendimentos dos pos-
O pediatra Safadi acredita inteiramente positivas e vai tos de saúde e hospitais da re-
que ainda não se tenha uma além: “Acredito que as novas de pública do Rio de Janeiro,
ideia exata de como essas no- regras não impactarão dire- mas acredita que a situação
vas regras irão impactar o ser- tamente o serviço de saúde, se manterá sob controle.

OS PERIGOS DA RESISTÊNCIA BACTERIANA


O maior risco do uso indiscriminado de antibióticos é a resistência bacteriana. O medicamento consumido inadequadamen-
te, tanto pela automedicação como pela utilização incorreta, faz com que bactérias fiquem mais resistentes e não sejam
destruídas. O fato de as bactérias, principalmente as do gênero Staphylococcus, estarem se apresentando mais resisten-
tes preocupa todas as classes da área de saúde. Uma forma de controle é o mapeamento do perfil de sensibilidade dos or-
ganismos que atingem hospitais e população, ou seja, a análise do efeito dos medicamentos sobre esses microrganismos.
Quem faz isso no país é a Rede Nacional de Monitoramento da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde (Rede RM),
que constrói indicadores sobre o problema com o objetivo de direcionar ações futuras. Antes da Rede RM, não havia a pre-
ocupação em se produzir dados sobre o assunto, com exceção de algumas iniciativas isoladas. A Rede RM é resultado de
uma parceria da Anvisa com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a Coordenação Geral de Laboratórios em
Saúde Pública (CGLAB), do Ministério da Saúde.

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SAÚDE PÚBLICA

Alerta contra a tuberculose


Resistência bacteriana provocada pelo abandono do tratamento causa preocupação.
Veja como o farmacêutico pode ajudar
HUMBERTO TESKI
A Organização Mundial a eliminação da tuberculo-
de Saúde (OMS) emitiu um se como problema de saúde
alerta contra o avanço da tu- publica, a não ser que novas
berculose no Brasil e no mun- vacinas ou medicamentos se-
do. Os altos índices de aban- jam desenvolvidos”, confirma
dono do tratamento geram o MS.
maior resistência da bacté- Dentro de um quadro
ria causadora da doença, o em que o principal respon-
Mycobacterium tuberculo- sável pelo insucesso do tra-
sis, popularmente conhecido tamento acaba sendo o pa-
como Bacilo de Koch. Espe- ciente, porque abandona o
cialistas alertam que essa re- medicamento antes de elimi-
sistência pode transformar a nar por completo o Bacilo de
tuberculose em uma doença Koch, provocando com isso
incurável em todo o mundo. a resistência bacteriana, des-
A preocupação é tan- taca-se o importante papel
ta que em 24 de março, Dia do farmacêutico na luta con-
Mundial de Luta contra a Tu- tra a doença. Além de poder
berculose, o Ministério da ajudar os infectados por in-
Saúde (MS) lançou uma cam- termédio de pesquisas e de-
panha com o tema “Saúde, senvolvimento de novos fár-
é Bom Saber”. O foco é a macos, são os profissionais
identificação dos sintomas e que atuam nas farmácias, em
cura da tuberculose. Além da contato direto com o público,
campanha, no final de maio, que mais podem auxiliar.
no Rio de Janeiro, o MS reali- Os farmacêuticos que
zou um curso sobre a doença trabalham nas unidades pú-
para profissionais de saúde blicas de saúde, além de con- Marcos Lima de Oliveira: “Nossa função é evitar o abandono do tratamento”
e apresentou o novo Manu- trolar estoques e dispen-
al de Recomendações para o sar medicamentos, também
Controle da Tuberculose no possuem o dever de prestar ASPECTOS DA DOENÇA
Brasil, preparado pela Secre- a atenção farmacêutica aos A tuberculose é uma doença transmitida pelo ar. Seu
taria de Vigilância em Saúde pacientes tuberculosos. Eles agente transmissor é o Bacilo de Koch, conhecido cienti-
para integrar o Programa Na- são figuras imprescindíveis ficamente como Mycobacterium tuberculosis. O principal
cional de Controle da Tuber- ao tratamento, pois orientam ponto de alojamento e proliferação nos seres humanos é
culose 2010. os pacientes a tomar o me- o pulmão, por ser o órgão onde mais se concentra oxigê-
“Apesar de já existirem dicamento de maneira corre- nio. O tratamento dura em torno de seis meses, em mé-
recursos tecnológicos capa- ta e a não abandonar a tera- dia. Se o tuberculoso tomar as medicações corretamen-
zes de promover o controle, pia medicamentosa antes do te, as chances de cura chegam a 95%. Porém, o principal
ainda não há perspectiva de tempo. Pode-se contar ain- problema da doença é a resistência bacteriana, provenien-
se obter, em futuro próximo, da com a participação deste te dos altos índices de abandono do tratamento.

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SAÚDE PÚBLICA

outro lado, segundo Olivei- tação para uso racional dos


ALGUNS SINTOMAS DA TUBERCULOSE
ra, é um dos que mais tratam medicamentos e dispensa-
Tosse crônica, durante mais de 21 dias
o problema com programas ção.
Febre
específicos. “De 2009 para O projeto pode ser im-
Suor noturno, que chega a molhar o lençol
cá, houve redução de 30% a plantado por qualquer far-
Dor no tórax
40% na reincidência da do- macêutico que atue em PSF,
Perda lenta e progressiva de peso
ença”, informa. Atualmente, desde que tenha perfil pa-
Perda do apetite
são utilizados de três a qua- ra trabalhar com atenção far-
Falta de disposição física
tro medicamentos para tratar macêutica. As farmácias das
a tuberculose. unidades de saúde já são
profissional na implementa- De acordo com o farma- equipadas com a maior par-
ção da estratégia do Trata- cêutico e membro do Con- te dos recursos necessários,
mento Diretamente Observa- selho Federal de Farmácia falta apenas quem coloque a
do (TDO), recomendado pela (CFF), Arnaldo Zubiolli, há proposta em prática. Infeliz-
OMS como forma de aumen- ainda outra maneira de con- mente, Aline ainda não con-
tar a adesão ao método tera- tribuir com pacientes tuber- seguiu, mas o importante é
pêutico e evitar a resistência culosos: a prevenção. “Co- que outros tomem conhe-
bacteriana. mo a tuberculose afeta mais cimento para que uma boa
O farmacêutico e coorde- facilmente os organismos de- ideia como esta não caia no
nador de farmácia do muni- bilitados, os farmacêuticos esquecimento.
cípio de São João de Meriti, podem auxiliá-los na reedu-
Marcos Lima de Oliveira, in- cação alimentar e nos hábi- INFECÇÃO GRAVE,
tegra a equipe de um pro- tos de vida”, sugere Zubiolli. TRANSMITIDA PELO AR
grama contra tuberculose. Foi exatamente pensan- A tuberculose é uma in-
Oliveira conta que há uma do nessas possibilidades que fecção grave, transmitida pe-
grande preocupação com a a farmacêutica Aline dos San- lo ar, que geralmente afeta os
continuidade do tratamento. tos Gago elaborou, ao final pulmões do hospedeiro, mas
Houve época em que a pre- do curso de pós-graduação, também pode atingir outros
feitura chegou a distribuir o projeto de implantação de órgãos do corpo. O contágio
cestas básicas para fazer os seguimento farmacoterapêu- ocorre da seguinte forma: a
pacientes voltarem ao pos- tico junto a pacientes porta- pessoa contaminada, ao tos-
to e pegarem novos medica- dores de tuberculose. A ideia sir, espirrar ou falar, espalha
mentos. Foi a maneira encon- era justamente utilizar o far- no ambiente gotículas que
trada de evitar a interrupção macêutico que atua no Pro- podem sobreviver dispersas
da farmacoterapia. grama de Saúde da Famí- no ambiente por horas, des-
“O farmacêutico é im- lia (PSF) para acompanhar de que não tenham conta-
prescindível. Muitos pacien- os novos casos da doença, to com a luz solar. Assim, ao
tes acham que a ausência com o objetivo de aumen- frequentar o mesmo local do
de sintomas representa a tar a adesão ao tratamento e doente, a pessoa sadia inala
cura. Nossa função é evitar o contribuir para o controle do as gotículas de secreção res-
abandono, explicando ao do- problema. piratória infectadas, contrain-
ente que o tratamento preci- De acordo com Aline, o do a bactéria.
sa ser levado até o fim, para seguimento farmacoterapêu- O Bacilo de Koch, ao ocu-
que não haja reincidências”, tico baseia-se na metodolo- par o novo organismo, aloja-
explica Oliveira. gia Dáder, e as principais ati- se no pulmão, por ser o lu-
São João de Meriti é um vidades propostas são visitas gar onde se encontra a maior
dos municípios do estado do mensais, anamnese farmaco- quantidade de oxigênio no
Rio com maior índice de in- terapêutica, registro dos da- corpo humano, tornando-se
cidência de tuberculose. Por dos obtidos em fichas, orien- o local ideal para desenvolvi-

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SAÚDE PÚBLICA

mento e reprodução das bac- nos duas amostras de catarro Fixa Combinada (DFC), cons-
térias. colhidas em dias consecuti- tituída pelas quatro drogas
O indivíduo que en- vos. Se for detectada a exis- mais utilizadas no combate
tra em contato pela primei- tência do Mycobacterium tu- à doença, que são rifampici-
ra vez com o Bacilo de Koch berculosis, está confirmada a na, isoniazida, pirazinamida e
não tem ainda resistência na- doença. etambutol, concentradas em
tural, mas pode adquirir. Se Existem ainda outros re- um único comprimido.
o organismo não estiver de- cursos para a confirmação da Entretanto, em meados
bilitado, consegue matar a tuberculose. Dentre eles es- de julho, o Ministério da Saú-
bactéria antes que ela se ins- tá o aspirador gástrico, mais de suspendeu o medicamen-
tale como doença. Neste mo- utilizado em crianças. Já a fi- to por desvio de qualidade.
mento, é também estabeleci- brobroncoscopia é comum Alguns comprimidos apre-
da a proteção contra futuras nos casos em que não há ex- sentaram alteração na cor.
infecções pelo bacilo. pectoração. Nesse exame, Até o fechamento dessa edi-
Se o organismo não de- um aparelho flexível entra no ção, o problema ainda estava
senvolver esta proteção, após pulmão e coleta material que sendo investigado.
um período de quinze dias, deve ser encaminhado para a A grande vantagem da
em média, os bacilos come- pesquisa do bacilo da tuber- DFC é a redução da quanti-
çam a se multiplicar, gerando culose. dade de comprimidos ingeri-
uma pequena inflamação na Após confirmação da dos diariamente, facilitando a
zona de implantação. A bac- existência da doença, é pre- adesão dos pacientes ao tra-
téria pode se espalhar e pro- ciso direcionar o foco para o tamento, reduzindo o aban-
vocar a tuberculose primária, tratamento. As medicações dono, aumentando os índi-
caracterizada por pequenos são distribuídas pelo Sistema ces de cura e diminuindo as
nódulos nos pulmões. Único de Saúde (SUS), nos chances do aparecimento de
Sem tratamento adequa- postos municipais de atendi- cepas do bacilo resistentes às
do, a doença evolui, gerando mento. De acordo com Fábio drogas. Com o esquema an-
sintomas mais graves. De pe- Moherdaui, coordenador-ad- teriormente utilizado, 8%
quenas lesões, os bacilos ca- junto do Programa Nacional dos pacientes abandonavam
vam as chamadas cavernas de Controle da Tuberculose o tratamento. Com a nova
tuberculosas, que costumam do Ministério da Saúde, atu- proposta de um único com-
inflamar com frequência e almente o melhor tratamento primido, espera-se reduzir es-
sangrar. A tosse, nesse caso, oferecido no Brasil é a Dose sa taxa para menos de 5%.
não é seca, mas com pus e
sangue. É a chamada hemop-
NOVO MANUAL PARA CONTROLE DA TUBERCULOSE
tise.
O Ministério da Saúde acaba de lançar o Manual de Recomendações para o Controle da
Tuberculose no Brasil. O objetivo do material é melhorar as atividades de prevenção, vigi-
DIAGNÓSTICO E
lância, diagnóstico e tratamento dos casos de tuberculose. Também vai contribuir para or-
TRATAMENTO
ganizar os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente aqueles da
O diagnóstico da doença
atenção básica. Poderá ser útil ainda para os movimentos sociais, organizações de base co-
é feito com base no relato do
munitária, instituições de pesquisas, universidades e outras organizações governamentais
paciente, associado a uma ra-
e não governamentais. O Manual está organizado em 19 capítulos, que tratam de detec-
diografia do tórax que mos-
ção de casos, estatísticas, diagnóstico, tratamentos, medicamentos, associação do taba-
tre alterações compatíveis
gismo à doença, prevenção, vacinação, resistência aos fármacos, ações de vigilância epi-
com a tuberculose pulmo-
demiológica, entre outros assuntos. Uma fonte completa para profissionais que atuam no
nar. Para se certificar, é pre-
combate à doença. O Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Bra-
ciso fazer uma coleta da se-
sil está disponível no site do CRF-RJ, no link “Informativo” e, em seguida, no link “Artigos
creção do pulmão do doente.
e Entrevistas”.
Devem ser avaliadas ao me-

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SAÚDE PÚBLICA

UM PERIGO EM dades, igrejas e empresas pú- a proliferação da infecção, já


EMINÊNCIA blicas e privadas que, aliados que sua cadeia de transmis-
Atualmente, em pleno às três esferas de governo, já são é interrompida com du-
século XXI, o problema da obtiveram resultados signifi- as semanas de tratamento.
tuberculose ainda persiste. cativos. É importante o farmacêuti-
São oito milhões de doen- Não se pode negar que co dizer ao paciente que so-
tes e três milhões de mortes a tuberculose é mais comum mente dessa forma ele po-
anuais. No mundo, pessoas em áreas do mundo onde derá alcançar a cura.
morrem mais por esta doen- há muita pobreza, desnutri- Além disso, ainda exis-
ça do que por qualquer ou- ção, más condições de higie- tem os casos de coinfecção
tra infecção curável. Segun- ne e uma saúde pública de- com o vírus da Síndrome da
do o MS, a cada dia, mais de ficitária. A melhor forma de Imunodeficiência Humana
20 mil pessoas adoecem e 5 prevenção é a vacina BCG, (HIV), que aumenta o risco
mil morrem por causa da tu- que deve ser administrada de morte e gera problemas
berculose. Vinte e dois paí- no primeiro mês de vida dos da resistência medicamento-
ses representam 80% dos bebês. A imunização evi- sa (TB-MR), muito mais ca-
casos. ta que formas graves da do- ra e difícil de tratar. Para se
O Brasil concentra cerca ença apareçam em crianças, ter uma ideia, de acordo com
de 40% dos casos diagnos- principalmente a meningite dados da Casa de Saúde San-
ticados nas Américas, o que tuberculosa e a tuberculose ta Lúcia, de Brasília, as chan-
aumenta a responsabilidade miliar. ces do indivíduo infectado
do país na busca de soluções Se a pessoa já estiver pelo HIV adoecer de tubercu-
efetivas. As respostas nacio- contaminada, uma atitude lose é de, aproximadamente,
nais são fruto da mobilização importante é seguir à ris- 10% ao ano, enquanto que
dos diversos segmentos en- ca o tratamento, que dura no indivíduo imunocompe-
volvidos nessa luta, como os em torno de seis meses. Is- tente é de 10% ao longo de
movimentos sociais, universi- to será essencial para evitar toda a sua vida.

Publicação bimestral do CRF-RJ, que atualiza e apresenta


!"#$%##&'#(#)*+'(,'-.#(!'("/,'+'##'(!)(0+)1##")/.2(3.+-.$4%,"$)5

( ( ( (675899(':'-02.+'#(!'(,"+.;'-
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( ( ( (!"#,+"*%>!.('-(,)!)('#,.!)(!)(?")

PARA ANUNCIAR
sct@crf-rj.org.br | 21 3872-9215

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19
SAÚDE PÚBLICA

Hanseníase: antiga, mas persistente


Acompanhamento farmacêutico pode garantir eficácia do tratamento

A hanseníase é uma das tente ao bacilo e não desen- a biópsia, também podem
doenças mais antigas da his- volve a doença. ser necessários.
tória da humanidade. A enfer- O diagnóstico consiste, A hanseníase é uma do-
midade é causada pelo Bacilo principalmente, na avaliação ença curável. O tratamento
de Hansen, o Mycobacteruim clínica: aplicação de testes recomendado é a Poliquimio-
leprae, parasita que ataca a de sensibilidade, força mo- terapia (PQT), uma combina-
pele e os nervos periféricos, tora e palpação dos nervos ção de medicamentos (rifam-
mas que também pode afe- dos braços, pernas e olhos. picina, dapsona, clofazimina),
tar órgãos como fígado, tes- Exames laboratoriais, como que se usados de forma cor-
tículos e olhos. Em 2009, se-
gundo o Ministério da Saúde, CONHEÇA AS ETAPAS DO PROTOCOLO CRIADO
foram contabilizados 36.718 POR DOIS ACADÊMICOS DE FARMÁCIA
casos de hanseníase no Brasil, Identificação do paciente
sendo 1.784 no Rio de Janei- Nome, número do prontuário, endereço da residência, dados da unidade de atendimento
ro. ฀Informações demográficas: idade, peso, altura, IMC, ocupação, grau de escolaridade, si-
Com período de encu- tuação familiar/social
bação variando de três a cin- ฀Nome e CRF do farmacêutico
co anos, a primeira manifes- Anamnese farmacêutica
tação da enfermidade se dá ฀Histórico médico anterior: lesões, cirurgias, hospitalizações
por meio do aparecimento ฀Histórico familiar: doenças familiares
de manchas dormentes, aver- ฀Histórico de alergias
melhadas ou esbranquiçadas, ฀Imunizações
em qualquer região do corpo. ฀Hábitos sociais e de vida: tabagismo, cafeína, etilismo, atividade física, tipo de
Outros sintomas podem ser alimentação
placas, caroços, inchaço, fra- ฀Tipo de entrada
queza muscular e dor nas arti- ฀Classificação operacional e clínica
culações. Conforme a doença ฀Data inicial do tratamento e esquema utilizado
avança, o número e tamanho Dados da farmacoterapia
das manchas aumentam, e os ฀Medicamentos em uso, tempo de utilização, posologia e avaliação da necessidade, efeti-
nervos ficam comprometidos, vidade e segurança do medicamento (PRM e RNM)
podendo ocasionar deforma- ฀Outras informações relevantes
ções em regiões como nariz e Plano de cuidados
dedos, além de impedir certos ฀Avaliação das queixas
movimentos, como abrir e fe- ฀Planejamento da intervenção farmacêutica, de forma escrita, incluindo a colaboração
char as mãos. com os outros profissionais de saúde
Caso não seja tratada, a ฀Detalhamento da intervenção, data, objetivo a ser alcançado e observações pertinentes
hanseníase é capaz de con- ฀Avaliação dos exames laboratoriais
taminar outras pessoas pelas ฀Agendamento de retorno quando necessário
vias respiratórias. Entretan- Acompanhamento do uso dos medicamentos PQT
to, segundo a Organização ฀Administração das doses supervisionadas
Mundial da Saúde (OMS), a ฀Avaliação do blister autoadministrado
maioria das pessoas é resis- ฀Data da dispensação, medicamento, quantidade

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20
SAÚDE PÚBLICA

FONTE: GUIA PARA O CONTROLE DE HANSENÍASE, DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

reta atuam sobre os bacilos sários. “A interrupção pode o acompanhamento do trata-


causadores da hanseníase, in- provocar uma recaída e levar mento e controle da dissemi-
terrompendo sua transmissão ao reaparecimento dos baci- nação da doença.
em até 72 horas após o início los, tornando-os resistentes Apesar de o farmacêutico
da terapia, o que torna o por- aos antibióticos e dificultan- ser o profissional com melhor
tador incapaz de transmiti-los do a cura. Por isso, a impor- perfil para conduzir as ações
a outras pessoas. tância de se conscientizar os destinadas à melhoria do
No total, o tratamento le- pacientes quanto à adesão ao acesso e promoção do uso ra-
va, aproximadamente, 12 me- tratamento”, explica a farma- cional de medicamentos pela
ses. Ao final, o paciente pode cêutica do Centro de Saúde população, a participação da
estar completamente cura- Annibal Viriato Azevedo, uni- classe em programas especí-
do, desde que siga correta- dade de referência em aten- ficos, como o da hanseníase,
mente os cuidados neces- dimento e dispensação de ainda é pouco efetiva. O pri-
HUMBERTO TESKI
medicamentos para o trata- meiro passo para mudar essa
mento da hanseníase, Niana situação, de acordo com Nia-
Dias Meirelles Gaspar. na, é o profissional estar pre-
Segundo Niana, o farma- sente nos estabelecimentos
cêutico tem papel fundamen- de saúde para prestar a assis-
tal na adesão dos pacientes tência farmacêutica necessá-
ao tratamento. A assistência ria e adequada.
prestada pelo profissional for- Outra proposta que já es-
nece informações importan- tá em andamento é a defini-
tes, como a necessidade de ção de um protocolo para o
se obedecer a posologia cor- tratamento de portadores de
reta dos medicamentos e o hanseníase, iniciativa dos aca-
que fazer mediante o apareci- dêmicos de Farmácia Camila
mento de reações adversas ao Passos da Silva e Jean Felipe
longo da terapêutica. Junto a Faria Cardoso. Vale ressaltar
isso, o retorno mensal do pa- que o protocolo ainda precisa
ciente ao posto de saúde per- ser validado pelos órgãos de
mite ao farmacêutico e a toda saúde.
equipe multidisciplinar envol- O projeto visa à inclusão
vida terem condições de fazer do farmacêutico no tratamen-
Niana Dias Meirelles Gaspar: “O farmacêutico tem papel fundamental na adesão ao
tratamento”

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21
SAÚDE PÚBLICA

to da doença de forma mais


CASOS NOVOS DE HANSENÍASE NO BRASIL
ativa. De acordo com o pro-
NOS DOIS ÚLTIMOS ANOS
tocolo, o profissional desem-
2008 2009*
penharia a função de acom-
Região Norte 8.281 7.553
panhar o paciente ao longo
Rondônia 1.052 1.007
da terapêutica para garantir
Acre 267 257
a não interrupção do uso dos
Amazonas 702 716
medicamentos, assim como
Roraima 189 160
auxiliar o médico a identificar
Pará 4.552 4.087
avanços e recaídas no decor-
Amapá 191 187
rer da terapêutica, o que ga-
Tocantins 1.328 1.139
rantiria o uso do medicamen-
Região Nordeste 15.946 15.074
to de forma correta durante
Maranhão 4.246 3.871
o período determinado pelo
Piauí 1.800 1.207
prescritor.
Ceará 2.503 2.228
“Atualmente, o acom-
Rio Grande do Norte 258 296
panhamento farmacêutico é
Paraíba 736 721
muito escasso. A maior parti-
Pernambuco 2.791 3.077
cipação do profissional no tra-
Alagoas 393 399
tamento tornaria este muito
Sergipe 446 484
mais eficaz. O protocolo po-
Bahia 2.773 2.791
de contribuir nesse sentido.
Região Sudeste 7.041 6.492
E, talvez, finalmente eliminar
Minas Gerais 1.924 1.862
a enfermidade no Brasil”, de-
Espírito Santo 1.076 1.007
fende Camila.
Rio de Janeiro 1.893 1.784
O protocolo determina
São Paulo 2.148 1.839
que o paciente visite mensal-
Região Sul 1.665 1.507
mente não apenas o médico,
Paraná 1.280 1.165
mas também o farmacêutico,
Santa Catarina 205 185
para que este reúna o máxi-
Rio Grande do Sul 180 157
mo de informações. Os aca-
Região Centro-Oeste 6.114 6.092
dêmicos elaboraram um rotei-
Mato Grosso do Sul 629 647
ro de entrevista para facilitar
Mato Grosso 2.602 2.651
o trabalho e suprimir a defici-
Goiás 2.626 2.552
ência de um atendimento di-
Distrito Federal 257 242
recionado ao tratamento far-
BRASIL 39.047 36.718
macológico. Fontes: Sinan/SVS -MS *2009 dados preliminares
No protocolo, existe um
guia com as principais reações avaliação terapêutica. citado para realizar o acom-
adversas e como o paciente “Nada novo foi lançado panhamento farmacotera-
deve proceder diante de cada a respeito do tratamento da pêutico dos pacientes com
uma delas. Além disso, traz hanseníase desde 2002. Além hanseníase, a ideia da forma-
ainda modelo de carta para disso, nos materiais publica- ção de uma equipe multidis-
comunicação com o médico, dos, o farmacêutico não está ciplinar visa a ajudar no con-
guia de orientação ao pacien- incluído. Ao fazer o protoco- trole da endemia para atingir
te e de administração de do- lo, procuramos rever isso”, ex- a meta de eliminação da do-
ses, protocolo farmacotera- plica Camila. ença e a obter resultados que
pêutico baseado no Método Levando em conta que o melhorem a qualidade de vida
Dáder e plano de cuidados e farmacêutico é o mais capa- dos pacientes.

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22
Publicação bimestral do CRF-RJ, que atualiza
e apresenta discussões sobre temas de
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(675899(':'-02.+'#(!'(,"+.;'-
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PARA ANUNCIAR
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21 3872-9215

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23
CAPA

Audiência pública discute papel


do farmacêutico na sociedade
Autoridades políticas e convidados colocam em pauta temas como assistência farmacêutica,
salários, impostos e modelo de farmácia ideal para o Brasil
HUMBERTO TESKI

Presidente do CRF-RJ, Paulo Oracy Azeredo, compõe a mesa ao lado de outras entidades e autoridades políticas

O leitor tem alguma tico na sociedade, realizada solidado a influência dos


ideia de quantos farmacêu- no dia 10 de junho, na Ple- farmacêuticos na política do
ticos ocupam hoje cargos nária da Câmara dos Verea- país, também comprovou a
políticos? Sabe quantos re- dores do Rio de Janeiro. No união da classe. “A partici-
almente lutam por benefí- encontro, estiveram presen- pação de vereadores e de-
cios para a classe? Infeliz- tes farmacêuticos, autorida- putados federais mostrou
mente, esse número ainda é des políticas que apoiam a que o Poder Legislativo es-
muito pequeno. Porém, pa- categoria e acadêmicos in- tá ao nosso lado, assim co-
rece que essa realidade es- teressados no futuro da pro- mo o judiciário, com a pre-
tá se modificando, e o seg- fissão. sença da juíza de direito
mento vem pouco a pouco A audiência pública es- Margareth dos Santos. Far-
ganhando força e visibilida- tá sendo considerada por macêuticos lotaram a plená-
de. Tal cenário tem como representantes do segmen- ria, reforçando publicamen-
exemplo a audiência pública to como um encontro histó- te nossa união”, declarou o
sobre o papel do farmacêu- rico, pois, além de ter con- presidente do Conselho Re-

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24
CAPA

Santos falou, em seguida,


entre outros assuntos, sobre
a responsabilidade subjeti-
va do farmacêutico e a res-
ponsabilidade objetiva do
fabricante do medicamen-
to quanto a danos causados
aos pacientes. “Na respon-
sabilidade objetiva, não se
questiona a culpa do fabri-
cante. No que diz respeito
ao farmacêutico, é necessá-
rio provar que o profissional
teve a intenção de prejudi-
car a pessoa”, explicou.
O presidente do CRF-
RJ aproveitou a oportunida-
de para se manifestar contra
os elevados preços dos me-
Farmacêuticos participam de audiência pública na Câmara dos Vereadores dicamentos e a má distribui-
ção de renda. “Entendemos
gional de Farmácia do Rio co Cláudio de Souza Melo, que, no Brasil, eles têm um
de Janeiro (CRF-RJ), Paulo o presidente da Associação preço exorbitante. Apenas
Oracy Azeredo. Brasileira de Farmacêuticos 10% da população conso-
A audiência foi presidida (ABF), José Liporage Teixei- me 60% dos medicamentos
pelo vereador Carlos Eduar- ra, e o chefe da Vigilância do país. A maioria, em ge-
do (PSB/RJ). O vereador Iva- Sanitária do Município do ral, não tem acesso a eles”,
nir de Mello (PP/RJ), a juí- Rio de Janeiro, Paulo Mau- declarou Paulo Oracy.
za Margareth dos Santos, o rício Ballado, compuseram a O presidente do Sinfa-
presidente do CRF-RJ, Paulo mesa ao lado de Carlos Edu- erj, Francisco Cláudio de
Oracy Azeredo, o presidente ardo. Souza Melo, falou sobre as
dificuldades da categoria e
PROFISSÃO PASSA POR a necessidade de união para
“O momento agora é de propor o UM NOVO MOMENTO superá-las. “Essa audiência
O vereador Ivanir de pública se deu em decorrên-
modelo de farmácia que desejamos Mello defendeu a importân- cia da profissão farmacêuti-
cia da figura do farmacêuti- ca estar passando por sérios
para o Brasil. Queremos que ela seja co na área da saúde, decla- problemas. Nossa classe vi-
vista como estabelecimento de saúde rando que este profissional ve o alvorecer de um novo
conhece mais sobre medi- dia, e a prova disso é esse
ou meramente comercial?” camentos do que o próprio encontro, que ocorreu pela
médico. “Quem entende do primeira vez no estado do
Paulo Maurício Ballado remédio é o farmacêutico”, Rio de Janeiro”. Francisco
e complementa: “Cabe a Cláudio complementou com
Visa RJ
ele muito mais do que dis- uma crítica aos baixos salá-
pensar o medicamento. Sua rios: “Devemos viver com
do Sindicato dos Farmacêu- função é orientar o pacien- dignidade, o que não é pos-
ticos do Estado do Rio de te”. sível com esses salários avil-
Janeiro (Sinfaerj), Francis- A juíza Margareth dos tantes”.

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25
CAPA

Em seguida, o presiden-
te da ABF, José Liporage Tei-
xeira, aproveitou o momen-
to para uma reflexão sobre
o que é ser farmacêutico e
o verdadeiro papel da assis-
tência farmacêutica. “Assis-
tência farmacêutica é muito
mais que dispensar um me-
dicamento. É fornecer infor-
mação de qualidade à po-
pulação que não tem acesso
a ela”, disse.
Para finalizar, Paulo
Maurício Ballado, da Visa
Municipal, discursou sobre
a importância de não se es-
quecer da parte humanitária
da profissão. “Os farmacêu-
ticos, a partir das décadas Deputado federal Mauro Nazif, autor do projeto que cria um piso nacional para o farmacêutico
de 50 e 60, passaram a ser
extremamente técnicos, es- com a Comissão de Saúde meses, municípios do Rio
quecendo o lado humanis- e autoridades farmacêuticas de Janeiro anunciaram que,
ta do atendimento. Agora, do Rio de Janeiro. “Vamos conforme posicionamento
estamos em uma retomada, reunir a sociedade civil or- favorável do Superior Tribu-
pois descobrimos o quan- ganizada, os conselhos, os nal de Justiça (STJ), passa-
to fazemos falta na presta- sindicatos, e levá-los para as riam a cobrar o ISS sobre a
ção de informações à po- ruas da cidade. Temos que manipulação de medicamen-
pulação”, declarou Ballado, divulgar para a população tos. Empresários do segmen-
que encerrou sua fala com os riscos da automedicação to temem a bitributação,
a seguinte pergunta: “O e de não se ter farmacêu- apesar de, teoricamente, ser
momento agora é de pro- ticos nas unidades públicas ilegal. A questão agora será
por o modelo de farmácia de saúde”, declarou o vere- julgada pelo Supremo Tribu-
que desejamos para o Bra- ador. nal Federal (STF).
sil. Queremos que ela seja O vice-presidente do
vista como estabelecimento CRF-RJ, Marcus Athila, fez
de saúde ou meramente co- um apelo aos governos es-
mercial?”. tadual e municipal sobre a
questão do impasse em re-
VICE-PRESIDENTE DO lação aos tributos ICMS (Im-
CRF-RJ ALERTA CONTRA posto sobre Circulação de
BITRIBUTAÇÃO NO SE- Mercadorias e Serviços) e
TOR ISS (Imposto sobre Serviços),
MAGISTRAL que se não for soluciona-
Na audiência, o verea- do com urgência poderá le-
dor Carlos Eduardo anun- var muitas farmácias de ma-
ciou que pretende lançar nipulação à falência. O setor
uma campanha contra a au- magistral sempre contribuiu
Aline Napp, vice-presidente da Anfarmag Rio e conselheira do CRF-RJ, defende o
tomedicação em parceria com o ICMS, mas, há alguns segmento magistral

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26
CAPA

ra R$ 4.650, também esteve


presente na audiência públi-
ca. Nazif discursou sobre a
importância do PL, que se
encontra parado no Sena-
do. O político afirmou ain-
da que se deve cuidar de to-
das as 14 profissões da área
da saúde sem distinções.
“Se queremos lutar por uma
saúde digna, o primeiro pas-
so é exigir dignidade para o
profissional farmacêutico”,
afirmou.
Também estiveram pre-
sentes a vereadora de Lajes
do Muriaé, Edilene Goulart
de Araújo, que saiu da audi-
ência bastante confiante, e
Vereadora Edilene Goulart; deputado federal Mauro Nazif; presidente do Sindicato dos Fonoaudiólogos, Sheila Cruz; pre- a farmacêutica e diretora do
sidente do Sinfaerj, Francisco Cláudio de Souza Melo; deputado federal Paulo Cesar; vereador Carlos Eduardo de Mattos;
vice-presidente do Sinfaerj, Robson Leão; presidente do CRF-RJ, Paulo Oracy Azeredo; representante do CRF-RJ em Angra Núcleo Ascoferj Região No-
dos Reis, Fabio Arcenio
roeste, Bettssabá Gonçal-
A vice-presidente da As- mo para atender a mais de ves, que avaliou a audiência
sociação Nacional de Farma- 100 mil prescritores e 60 mi- como de extrema importân-
cêuticos Magistrais do Rio lhões de pessoas, números cia para farmacêuticos e far-
de Janeiro (Anfarmag/RJ), que traduzem a importância mácias. “A audiência vem
Aline Napp, participou da do setor magistral para a so- ao encontro dos anseios
audiência pública. Ela infor- ciedade brasileira. da sociedade, mostrando
mou que, atualmente, exis- O vereador Manoel Pa- o quanto é imprescindível
tem mais de sete mil far- rente (PHS/RJ), de Angra a presença do farmacêuti-
mácias de manipulação no dos Reis, aproveitou o mo- co no estabelecimento para
Brasil e quinze mil profis- mento para discursar sobre melhorar a saúde da popu-
sionais trabalhando no ra- a necessidade de se ter sem- lação”, disse Bettssabá.
pre presente nas farmácias e A farmacêutica Nathália
drogarias comunitárias e nas da Silva elogiou a qualidade
farmácias hospitalares um do encontro. “Hoje, recebi
farmacêutico de plantão, a informações que não pos-
fim de assegurar a dispensa- suía, porque elas não estão
ção correta dos medicamen- disponíveis em qualquer lu-
tos. Além disso, também sa- gar. Não temos fácil acesso
lientou que o farmacêutico ao que foi dito aqui”.
representa o elo seguro en- O farmacêutico da pre-
tre médico e paciente. feitura de Angra dos Reis,
O deputado federal Tarciso José Torres, comple-
Mauro Nazif (PSB/RO), autor mentou: “Apoio encontros
do Projeto de Lei 5.359/09, como esse porque eles valo-
que pretende ampliar o piso rizam o profissional de far-
salarial do farmacêutico pa- mácia”.
Marcus Athila, vice-presidente do CRF-RJ, alerta para o problema da cobrança de
ICMS e ISS, caracterizando bitributação

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27
OPINIÃO DA DIRETORIA

Avanço na profissão
Prescrição farmacêutica pode favorecer o uso racional do medicamento
DIVULGAÇÃO
Sem a previsão de quando melhoria da qualidade de vida nal de Medicamentos. Agora
será aprovada por causa dos das pessoas. o alerta nas propagandas pe-
pontos polêmicos, a proposta de para a população procurar
da prescrição farmacêutica do R: Que benefícios esta mu- o farmacêutico. A atenção e a
Conselho Federal de Farmácia dança traria para o tratamen- prescrição farmacêutica inte-
(CFF) vem suscitando opiniões to? ressam aos pacientes, ao MS,
divergentes no setor. Leia, nes- POA: Pacientes e sistemas pú- ao SUS e aos farmacêuticos.
ta entrevista, o posicionamen- blicos e privados de saúde têm
to do presidente do CRF-RJ, muito a ganhar, pois haverá R: Essa medida deve estimular
Paulo Oracy Azeredo. redução nos custos com medi- os donos de farmácia a obe-
camentos, consultas e interna- decer a legislação e manter
Riopharma: O que o senhor ções hospitalares. um farmacêutico durante to-
pensa sobre a proposta do CFF do o funcionamento da far-
de o farmacêutico prescrever R: Que benefícios traria para a mácia? Paulo Oracy Azeredo, Presidente do
CRF-RJ
medicamentos para transtor- classe farmacêutica? POA: A medida favorece, mas
nos menores? POA: Quando colamos grau, é o farmacêutico quem tem
Paulo Oracy Azeredo: Nos fazemos o juramento de cui- que estimular os empresários
transtornos menores, como dar da saúde das pessoas. A a transformar o estabeleci-
cefaléia, síndrome gripal, vô- prescrição inserida na atenção mento em um local de promo-
mitos, podem ser usados me- farmacêutica contribui para ção, proteção e recuperação
dicamentos isentos de prescri- que o farmacêutico seja con- da saúde.
ção. A prescrição farmacêutica, siderado um profissional de
nesses casos, aumenta a segu- saúde, reconhecido como tal R: Se esses medicamentos são
rança no uso dos medicamen- pela sociedade. isentos de prescrição e qual-
tos contra possíveis riscos de quer um pode comprar, por
interação medicamentosa, re- R: A quem interessa que o far- que tantas discussões para
ações indesejáveis e uso irra- macêutico prescreva? permitir que o farmacêutico,
cional. A indicação de medi- POA: A população ainda não que entende da composição
camento pelo profissional sem sabe da importância da orien- de cada um deles, os prescre-
autorização legal poderia ser tação farmacêutica. O Minis- va?
interpretada como exercício ile- tério da Saúde (MS) tem a in- POA: Toda novidade causa
gal da medicina. formação de que 60% dos reação contrária. Os médicos
doentes crônicos, diabéticos e provavelmente serão contra o
R: Seria positivo para o pacien- hipertensos não usam corre- ato da prescrição farmacêu-
te? tamente o medicamento que tica. A maioria dos donos de
POA: Quando o farmacêutico adquirem, seja comprando na farmácia deseja que o esta-
prescreve medicamento por farmácia ou recebendo de gra- belecimento continue sendo
escrito, ele promove o uso ra- ça do SUS. O MS e a Organiza- apenas comercial. A discussão
cional dos medicamentos, na ção Pan-Americana da Saúde é benéfica porque traz à luz
medida em que informa sobre (OPAS) realizaram, em outu- um novo procedimento que
dosagem e posologia, favore- bro de 2009, o 3º Congresso vai ajudar em muito a saúde
ce a adesão ao tratamento e a Brasileiro sobre o Uso Racio- do povo brasileiro.

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28
OPINIÃO DA DIRETORIA
EMPREENDEDORISMO

Manipulação é comércio ou serviço?


Bitributação pode levar farmácias à falência
HUMBERTO TESKI
Ainda não se chegou a prefeitura quisesse cobrar ISS R: Qual será o impacto dessa
um consenso sobre que im- sobre aferimento de pressão mudança tributária?
posto é devido pelo setor ma- arterial ou medição dos níveis MA: Se forem executadas as
gistral: ICMS (Imposto sobre de glicose, que são serviços. cobranças retroativas de ISS,
Circulação de Mercadorias e Vale ressaltar que, em 1968, o estimo que, pelo menos, 70%
Serviços) ou ISS (Imposto so- Decreto Federal 406 determi- das farmácias de manipula-
bre Serviço). Devido a uma de- nou que o imposto a ser reco- ção fechem as portas, pois a
cisão da justiça, as prefeituras lhido pelo setor de manipula- maioria é microempresa. O
do Rio de Janeiro comunica- ção deveria ser o ICMS. que nós queremos é bom sen-
ram que vão cobrar ISS, mas o so dos governantes. Se for de-
estado não quer abrir mão do R: Então está havendo bitribu- cidido que o imposto devido
ICMS. Leia a entrevista do vi- tação? pelas farmácias magistrais é
ce-presidente do CRF-RJ, Mar- MA: Sim. Desde 2008, a pre- o ISS, nós pagaremos. O que
Marcus Athila, vice-presidente do cus Athila, sobre o assunto. feitura de Nova Iguaçu come- não pode haver é bitributação.
CRF-RJ
çou a cobrar o ISS paralela- Além disso, o recolhimento do
Riopharma: Manipulação de mente ao ICMS. E o pior é que, ISS fará com que percamos o
medicamentos é serviço ou co- além da cobrança dos dois im- direito de enquadramento no
mércio? postos, a prefeitura também Super Simples.
Marcus Athila: A dispen- quer recolher o ISS retroativo
sação do medicamento ma- aos últimos cinco anos, com R: Que consequências essa cri-
nipulado é um comércio. A multa de 100% sobre esse va- se no setor magistral pode tra-
manipulação é a produção ar- lor. O município de São Gon- zer para a sociedade?
tesanal de um produto para çalo já está cobrando os atra- MA: A farmácia magistral
fins de comercialização, jus- sados, e as multas chegam a tem um papel fundamen-
tificando, portanto, o paga- até 250% do imposto devido tal no acesso da população
mento do ICMS. O enqua- nesses últimos cinco anos. Se aos medicamentos, que são
dramento sindical a que está isso continuar, vai quebrar o muito mais baratos quan-
subordinado o segmento tam- setor. No município do Rio, as do manipulados. A crise no
bém propicia essa visão con- empresas receberam um co- segmento poderia gerar a in-
ceitual. O medicamento ma- municado da prefeitura infor- terrupção do tratamento de
nipulado, sob o ponto de vista mando sobre o débito do ISS diversas patologias, pois os
comercial, tem característi- e solicitando que procurem a pacientes não teriam condi-
cas similares ao industrializa- Secretaria Municipal de Fazen- ções de continuar com a te-
do, por isso as farmácias sem- da para regularizar a situação. rapia medicamentosa.
pre pagaram ICMS. Houve um Para tentar resolver o proble-
período em que o setor che- ma, entidades como Anfar- R: E que orientação o CRF-RJ
gou a pagar IPI (Imposto so- mag, Ascoferj, Instituto Hah- dá aos empresários do setor?
bre Produtos Industrializados), nemanniano do Brasil (IHB), MA: A única orientação é
embora a lei do tributo citado Sincofarma-Rio e o deputa- pedir às empresas que procu-
exclua textualmente as farmá- do estadual João Pedro Figuei- rem suporte jurídico, recor-
cias de manipulação da sua in- ra estão se mobilizando nessa rendo à justiça caso sejam bi-
cidência. Concordaríamos se a guerra conosco. tributadas.

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29
OPINIÃO DA DIRETORIA

Farmacêutico pode ajudar renais crônicos


Principal desafio é evitar o abandono do tratamento
HUMBERTO TESKI
O combate e o tratamento R: Os pacientes renais crôni- sional nesta área é de extre-
da doença renal crônica estão cos fazem uso contínuo de ma importância para atua-
se abrindo como uma nova medicamentos, mas é co- ção do farmacêutico, pois é
oportunidade de atuação do mum que muitos deles aban- necessário um grande enten-
farmacêutico. Este profissional donem o tratamento devido dimento de interações me-
é imprescindível para garantir às reações adversas. De que dicamentosas e de farmacoci-
a eficácia do tratamento. Leia maneira o farmacêutico pode nética em relação ao paciente
a entrevista do secretário-ge- contribuir para evitar que isso transplantado. É um novo
ral do CRF-RJ, Francisco Cláu- aconteça? mercado de trabalho que se
dio de Souza Melo. FCSM: Através do monitora- abre ao profissional farma-
mento contínuo, o farmacêu- cêutico, para o qual devemos
Riopharma: Fazer o pacien- tico pode ajudar o paciente nos qualificar da melhor ma-
Francisco Claudio de Souza Melo,
te renal crônico aderir ao tra- na detecção das reações ad- neira possível para contribuir- secretário-geral do CRF-RJ
tamento ainda é um desafio versas e informar ao médico mos com a população.
para os órgãos de saúde. Co- que o medicamento prescri-
mo vencê-lo? to não está surtindo o efeito R: O farmacêutico precisa de
Francisco Cláudio de Sou- desejado, sendo recomendá- algum preparo específico pa-
za Melo: Para vencermos vel a substituição por outro. ra trabalhar com renais crôni-
esse desafio é preciso que as cos? Onde buscar esses co-
autoridades intensifiquem a R: O senhor saberia dizer que nhecimentos?
divulgação das informações outros fatores, além das re- FCSM: Participando de cur-
sobre a doença renal, reali- ações adversas, provocam o sos, palestras, eventos, se-
zando campanhas em televi- abandono do tratamento? minários sobre a doença re-
são, rádio e outros meios de FCSM: Motivos familiares, nal. Em breve, cursos estarão
comunicação, além de pa- depressão, rebeldia, pouca sendo disponibilizados para o
lestras, tudo como forma de maturidade para entender aperfeiçoamento dos nossos
prevenção. a importância de adesão ao profissionais, a fim de ade-
tratamento, fatores sociais, quá-los à nova realidade do
R: Como você avalia a parti- discriminação, fatores econô- mercado de trabalho
cipação do farmacêutico no micos, falta de conhecimen-
tratamento dos pacientes re- to pessoal e de esclarecimen- R: Que orientações o senhor
nais crônicos? to por parte das autoridades, dá ao farmacêutico que quer
FCSM: É fundamental que entre outros. trabalhar na área? Quem ele
todas as unidades de saúde deve procurar? Para onde de-
pagas pelo SUS, nas esferas R: Que tipo de orientações ve mandar currículo?
federal, estadual e munici- o farmacêutico pode dar ao FCSM:Que busque cursos de
pal, regularizem a questão da paciente para ajudá-lo a li- qualificação e procure cole-
presença integral de um far- dar melhor com a quantida- gas que já trabalham na área,
macêutico, garantindo, des- de de fármacos ingeridos, para que possam orientá-lo.
ta forma, um atendimento geralmente de 7 a 11 medi- Quanto aos locais onde dei-
qualificado e seguro à popu- camentos? xar currículos, sugiro as clíni-
lação. FCSM: A capacitação profis- cas de diálise.

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30
OPINIÃO DA DIRETORIA
EMPREENDEDORISMO

Segurança hospitalar
Identificar riscos e preveni-los são tarefas do farmacêutico
HUMBERTO TESKI
No ambiente hospitalar, o cionais de Segurança do Pa- ça, promovendo a notificação
farmacêutico tem papel fun- ciente, o que pode ser feito pa- de erros em um ambiente não
damental na prevenção de ris- ra evitar uma possível infecção punitivo.
cos e na segurança do pacien- hospitalar?
te. Leia a entrevista da chefe de APQ: A ênfase das iniciativas R: Qual é a contribuição dos
Farmácia do Hemorio e diretora internacionais é a higienização programas de acreditação em
do CRF-RJ, Ana Paula Queiroz, das mãos. É preciso haver edu- relação à redução dos eventos
e saiba como ele pode atuar. cação, campanhas e sensibili- adversos?
zação para aumentar a adesão APQ: A acreditação é uma ava-
Riopharma: Em que consis- dos profissionais. liação externa baseada em pa-
tem as atividades do farmacêu- drões previamente estabeleci-
tico na segurança hospitalar do R: Quais os fatores que mais dos. As organizações de saúde
Ana Paula Queiroz, diretora-tesoureira
do CRF-RJ paciente? provocam os erros dos profis- com certificado de acreditação
Ana Paula Queiroz: Os sis- sionais de saúde? costumam ser mais seguras, pre-
temas de saúde são ambien- APQ: Escassez de recursos ma- paradas para identificar falhas e
tes altamente complexos, que teriais adequados, sobrecarga incidentes. Entre os benefícios
abrigam atividades de alto ris- de trabalho, ausência de pro- da acreditação, destacam-se a
co e processos cuja complexi- tocolos e rotinas operacionais, sistematização das atividades da
dade favorece a ocorrência de falha de comunicação, falta de assistência e o uso de ferramen-
eventos adversos (EA). Nes- conhecimento, entre outros. tas de qualidade universalmente
te cenário, o farmacêutico po- aceitas e recomendadas.
de identificar os riscos poten- R: Quais os principais eventos
ciais e preveni-los por meio de adversos relacionados à assis- R: Qual é a funcionalidade do
ações e protocolos específicos, tência farmacêutica? projeto Hospitais Sentinela,
além de monitorar a ocorrência APQ: Podem ser relacionados criado pela Anvisa em 2000?
dos EA´s. à atitude do profissional, aos APQ: O objetivo principal é
procedimentos executados e garantir a segurança na utiliza-
R: Como o farmacêutico pode aos fatores ambientais. Pode- ção dos produtos de saúde por
aumentar a segurança do pa- mos apontar como principais meio da formação de uma re-
ciente tendo como foco a co- o uso irracional de antibióticos, de de informações que se cru-
municação? erros de medicação, ambientes zam e se autoalimentam, de
APQ: Cabe a ele orientar e físicos inadequados, poucos forma padronizada e sistema-
educar o paciente e a família profissionais frente ao grande tizada. Basicamente, são in-
sobre a importância da adesão número de pacientes. formações sobre os seguin-
ao tratamento, informar sobre tes grupos: medicamentos,
o uso correto dos medicamen- R: Quais são os principais fato- equipamentos médicos, arti-
tos e elaborar protocolos clíni- res que proporcionam o suces- gos descartáveis, materiais im-
cos de farmácia, como a pro- so da atenção à saúde? plantáveis e de apoio médico-
dução e divulgação de um guia APQ: São vários, mas cito a hospitalar, kits e reagentes de
farmacoterapêutico. utilização de protocolos pa- laboratórios, produtos sanean-
dronizados e o desenvolvimen- tes de uso hospitalar, sangue e
R: A partir das Metas Interna- to de uma cultura de seguran- seus componentes.

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31
ARTIGO

O farmacêutico no ambiente hospitalar


Ele é responsável por atividades como seleção de medicamentos, farmacovigilância e farmacoeconomia

O farmacêutico é um pro- todas as atividades, no âmbi- impostas pelas organizações.


fissional de saúde de tradição to nacional, era 114.370. No O farmacêutico é um pro-
milenar, com conhecimen- estado do Rio, 472 profissio- fissional que desempenha
tos sobre o uso de medica- nais trabalham em farmácias papel muito importante na
mentos, indicações e efeitos hospitalares, segundo dados promoção da saúde e na pre-
no organismo humano. De de 2010 do CRF-RJ. venção das enfermidades. Em
maneira geral, encontra-se Na gestão 2010/2011, a sua interação direta com o
em diversas áreas de atua- Câmara Técnica de Farmá- paciente, visa à farmacotera-
ção, com destaque para in- cia Hospitalar tem como fi- pia racional e à obtenção de
dústria, laboratórios de aná- nalidade principal destacar resultados definidos e men-
lises clínicas, manipulação a importância do profissio- suráveis voltados para a me-
de cosméticos, distribuição nal farmacêutico no ambien- lhoria da qualidade de vida.
e transportes, pesquisa clíni- te hospitalar, promovendo in- O escritor Monteiro Loba-
ca, radiofarmácia, drogarias e tegração entre os membros to definiu muito bem o papel
farmácia hospitalar. participantes, troca de co- desse profissional: “O papel
O farmacêutico hospita- nhecimentos e experiências, do farmacêutico no mundo
lar é responsável por todas as além de servir como um fó- é tão nobre quão vital. O far-
atividades da farmácia de um rum para discussões e opi- macêutico representa o elo
hospital, coordenando todo niões. Pretende desenvolver entre a medicina e a huma-
o ciclo de assistência farma- nos integrantes do grupo as nidade sofredora. É o aten-
cêutica, a saber: seleção de competências de gestão e to guardião do arsenal de ar-
medicamentos, aquisição, ar- sua aplicabilidade na respon- mas com que o médico dá
mazenamento, dispensação, sabilidade social. E, ao fim combate às doenças. É quem
além dos serviços de farma- de cada ano de gestão, pu- atende às requisições a qual-
covigilância, farmacoecono- blicar um guia de orientação quer hora do dia ou da noi-
mia e farmácia clínica. para o profissional, com to- te. O lema do farmacêutico
Deve ser um profissio- dos os assuntos discutidos é o mesmo do soldado: ser-
nal integrante de uma equipe mensalmente. vir. Um serve à pátria; o ou-
multidisciplinar, com partici- Além da troca de expe- tro, à humanidade, sem ne-
pação ativa nas Comissões de riências e ações, a Câmara nhuma discriminação de cor
Farmácia e Terapêutica, Resí- Técnica de Farmácia Hospita- ou raça”.
duos, Curativos, Infecção Hos- lar, em parceria com a Câma- Estão convidados a parti-
pitalar, Revisão de Prontuá- ra Técnica de Oncologia, em cipar das reuniões da Câmara
rios, entre outras. As funções 2010, pretende realizar um Técnica de Farmácia Hospita-
do farmacêutico hospitalar es- diagnóstico situacional dos lar farmacêuticos e estudan-
tão definidas pela Resolução hospitais do Rio de Janeiro. tes de Farmácia, sempre na
nº 492, de 26 de novembro Trata-se de uma avaliação em quarta terça-feira do mês.
de 2008, do Conselho Fede- relação ao cumprimento das Consulte a agenda no site do
ral de Farmácia (CFF). exigências legais, aos padrões CRF-RJ.
Segundo o CFF, em mínimos exigidos, às Deli-
Câmara Técnica de Farmácia
2008, o número de farma- berações nº 575/2009 e nº Hospitalar
cêuticos inscritos no total de 603/2009 e às dificuldades Renata da Silva Antunes
Maria Madalena do Prado

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32
ARTIGO

Análise do prisma atual do


farmacêutico oncológico
Ao longo da trajetória percorrida, qual o real cenário vivido atualmente pelo farmacêutico oncológico no
estado do Rio de Janeiro e o que podemos fazer para melhorar esse segmento?

A farmácia oncológi- elaborador do medica- A prática da atenção far-


ca é um segmento recen- mento, devido a seus co- macêutica é uma realida-
te da área farmacêutica nhecimentos farmaco- de organizada nos servi-
hospitalar, embora este- técnicos. Nessa época, a ços ou há dificuldades de
ja em prática desde 1996 opção era descaracterizar implantação?
com a Resolução nº 288 esse rótulo e seguir em A Câmara Técnica de
de 21/ 03/1996, que con- frente, pois por mais que Oncologia gostaria de co-
sidera o farmacêutico um sejamos o profissional do nhecer o dinamismo da
profissional com compe- medicamento, sempre se- atuação desse profissional
tência legal para o exercí- remos um profissional da nos dias atuais e ao longo
saúde! desta gestão responder
Em função da nossa essas perguntas. Necessi-
Podemos afirmar que o trajeto valorização, deixamos de tamos de novas aborda-
atuar somente na pro- gens para oferecer mais
percorrido pelo farmacêutico dução (manipulação de qualidade de atenção à
oncológico, visando à valorização medicamentos) e fomos saúde, e a ferramenta mais
buscar melhorias e reco- importante para desenhar
profissional e melhores salários, nhecimento profissional, um modelo de melhoria é
participando ativamente a experiência participativa
promoveu uma aproximação direta com de todos os processos de dos farmacêuticos atuan-
implementação direciona- tes no mercado.
o paciente e os outros profissionais?
dos ao medicamento on- Nossa missão em 2010
O que o farmacêutico tem feito para cológico. Desde então, é disseminar diretrizes bá-
por meio da capacitação sicas para aplicabilidades
melhorar suas práticas e medidas na técnica, nos estabelece- de atividades do segmen-
mos e nos consolidamos to da farmácia em oncolo-
assistência? no mercado. gia, orientados pelo com-
Podemos afirmar que promisso de reforçar a
o trajeto percorrido pelo assistência uniforme.
cio da manipulação de fár- farmacêutico oncológi- As reuniões continuam
macos antineoplásicos. Ao co, visando à valorização a ser mensais, toda pri-
longo de sua trajetória, profissional e melhores meira quarta-feira do mês,
passou por crises, mudan- salários, promoveu uma e os assuntos para discus-
ças e evolução, transpon- aproximação direta com são serão planejados com
do períodos marcantes. o paciente e outros pro- antecedência.
Em um primeiro mo- fissionais? O que o far-
mento, a imagem do far- macêutico tem feito para Câmara Técnica de Oncologia
macêutico estava as- melhorar suas práticas e Viviane Penha da Silva Lima
Coordenadora
sociada ao profissional medidas na assistência?

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ARTIGO

Nova regulamentação em Boas Práticas


de Fabricação de Medicamentos
Principais alterações inseridas na RDC 17/10
SXC
Em 19 de abril de 2010, em breve, o que é uma van-
a Agência Nacional de Vigi- tagem, pois qualquer item
lância Sanitária (Anvisa) pu- que não tenha sido contem-
blicou a RDC 17, que trata plado ou que esteja inserido
das Boas Práticas de Fabrica- de forma que provoque dúvi-
ção de Medicamentos. Com das ao setor regulado poderá
o advento dessa norma, a ser alterado sem muitas for-
RDC 210/03 perde a eficácia, malidades, o que de fato não
assim como o roteiro de ins- ocorreria se o mesmo estives-
peção nela contido. De for- se inserido como um anexo
ma geral, a RDC 17/10 foi da RDC.
publicada com uma estrutu- Diante das mudanças in-
ra mais organizada quando seridas pela RDC 17/10, to-
comparada à RDC 210/03 e das elas respaldadas em
à Consulta Pública 03/09. normas internacionais da Or-
Os assuntos abordados ganização Mundial de Saúde
estão segregados sob a for- (OMS) e da European Medi-
ma de capítulos, seções, ar- cines Agency (EMEA), o prin-
tigos, parágrafos e incisos, cipal objetivo é o reconheci- to técnico quanto no finan-
proporcionando uma consul- mento mútuo dos relatórios ceiro, foram a validação de
ta mais ágil e eficiente, prin- de inspeção pelas autorida- sistemas computadorizados
cipalmente quando se quer des regulatórias internacio- e a revisão periódica do pro-
fazer referência a um deter- nais. Dessa forma, as altera- duto. Outras mudanças tam-
minado assunto especifica- ções contempladas na nova bém foram introduzidas, mas
do pela norma. Conforme já norma, visam, principalmen- serão abordadas mais adian-
mencionado, o roteiro de ins- te, à harmonização dos crité- te neste artigo.
peção não foi contemplado rios e requisitos com normas No que tange à valida-
na RDC 17. Isso se deve ao internacionais. Cabe ressaltar ção de sistemas computa-
fato de a Anvisa ter acordado que a norma expressamen- dorizados, além dos requisi-
com entidades do Mercosul a te internalizou a Resolução tos gerais contidos na RDC
retirada do anexo de classifi- GMC nº 15/09, que estabe- 17/10, foi disponibilizado no
cação e critérios de avaliação leceu a adoção do 37º rela- site da Anvisa um guia inti-
dos itens constantes do ro- tório “WHO Technical Report tulado “Guia de Validação
teiro de inspeção, publicado Series 908”, da OMS, publi- de Sistemas Computadoriza-
na ata nº 01/05 do Mercosul/ cado em 2003. dos”, que define as diretrizes
SGT nº 11/XXIV. As principais alterações e regras a serem seguidas pe-
Entretanto, de acordo propostas pela RDC 17/10, las indústrias com objetivo de
com a própria Agência, o ro- que impactam diretamente atender aos requisitos esta-
teiro de inspeção será publi- a rotina das indústrias farma- belecidos pela RDC 17/10.
cado na forma de um guia, cêuticas, tanto no seu aspec- Apesar de não ser um

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34
ARTIGO

tema novo, pois o mesmo ca de produto, por sua vez, to sujo poderá ficar nas ins-
já era mencionado na RDC tem como principal objeti- talações de fabricação até ser
210/03, as empresas farma- vo a substituição de requa- efetivamente limpo; nos tes-
cêuticas possuem o prazo de lificações e revalidações pe- tes de identificação de ma-
um ano a partir da publica- riódicas. A revisão periódica térias-primas, de forma que
ção da norma para a apre- consiste na verificação da todos os volumes recebi-
sentação dos protocolos de conformidade dos processos dos deverão ser amostrados.
validação, e três anos para existentes e na adequação Apesar de essa regra já ser
completar a validação de to- das especificações de maté- utilizada pelas empresas para
dos os sitemas computadori- rias-primas e produtos aca- os IFAs (ingredientes farma-
zados que já estão instalados bados, de forma que todo cêuticos ativos), agora deve-
na empresa. Deverão ser vali- o desempenho do proces- rá ser aplicada a todos os ex-
dados todos os sistemas que so seja avaliado quanto a fa- cipientes; e na água para uso
estejam envolvidos na fabri- lhas ou resultados tendencio- farmacêutico, apresentada
cação de medicamentos, tais sos, e concomitantemente em diferentes tipos e critérios
como sistemas de negócios e sejam traçados os planos de de qualidade para fabricação
logística [ERP (Enterprise Re- ação. A Anvisa disponibili- de medicamentos.
souce Planning), SCM (Su- za um guia intitulado Guias No que tange aos produ-
pply Chain Management), da Qualidade, disponível no tos estéreis, foram inseridos
CRM (Customer Relationship site, porém o mesmo sofre- na nova norma os limites de
Management), etc]; desen- rá alteração para adequação monitoramento microbioló-
volvimento de medicamentos aos novos requisitos da RDC gico das áreas limpas, assim
e pesquisa clínica [PLM (Pro- 17/10. como o sistema de classifica-
duct Lifecycle Management)]; Com intuito de orientar ção de ar utilizado em outros
sistemas de qualidade [GED o setor regulado, houve tam- países para a produção de
(Gerenciamento Eletrônico bém inserções no glossário produtos estéreis. Em com-
de Documentos)]; operações de definições, uma delas a de plementação à fabricação
de fabricação [MES (Manu- “data de reteste” para maté- dessa categoria de produtos,
facturing Execution System)], rias-primas. A data de reteste regras e requisitos técnicos
LIMS (Laboratory Information diferencia-se de prazo de va- para o manuseio de isolado-
Management System), WMS lidade. Ao receber um certifi- res e equipamentos de sopro/
(Warehouse Management cado de análise de uma ma- envase e selagem foram tam-
System)]; sistemas de auto- téria-prima que traga uma bém contemplados pela nor-
mação [SCADA (Supervisory data de reteste, o fabricante ma, com principal objetivo de
Control And Data Acquisi- do material deverá fazer o re- traçar as diretrizes básicas de
tion), DCS (Distributed Con- teste e emitir novo certifica- forma a evitar a contamina-
trol System), PLC (Program- do de análise antes do ven- ção dos produtos que são fa-
mable Logic Controller), etc]; cimento. Diferentemente, bricados com essas tecnolo-
assim como outros sistemas portanto, do prazo de vali- gias.
globais que possam impac- dade, que, uma vez atingido, Por sua vez, os produtos
tar diretamente a qualida- obriga o descarte da matéria- biológicos, que possuem par-
de do medicamento fabrica- prima, que não poderá mais ticularidades intrínsecas e es-
do. Importante ressaltar que ser utilizada ou passar por re- pecíficas para a fabricação,
qualquer sistema adquirido testes. também mereceram desta-
após a publicação desta nor- Outras inovações da RDC que na norma. Como a RDC
ma deverá ser primeiramente 17/10 estão na validação de 17/10 não revogou a RDC
validado antes de ser coloca- limpeza, por meio da qual 249/05, que trata das Boas
do em operação. deverá ser estimado o prazo Práticas de Fabricação de IFAs
Já a revisão periódi- máximo que o equipamen- e seus intermediários, suben-

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35
ARTIGO

tende-se que as regras conti- que a regulamentação que impactos, mesmo que o ane-
das na RDC 17/10 se aplicam regia essa categoria, a Por- xo esteja revogado.
somente à fabricação do pro- taria 500/97, foi revogada e Portanto, as alterações
duto acabado. Com as novas englobada pela RDC 17/10. inseridas na nova regula-
diretrizes, não é necessário Dessa forma, as empresas mentação visam à moderni-
ter área dedicada e específica deverão se adequar às no- zação do sistema de vigilân-
para o envase, uma vez que vas regras a partir da data da cia sanitária do Brasil e o seu
é permitida sua realização sua publicação, pois nenhum reconhecimento no âmbito
nas mesmas instalações uti- prazo específico para essa ca- internacional. Um passo im-
lizadas para outros produtos tegoria de produtos foi con- portante para esse reconhe-
estéreis, desde que estejam templado na RDC 17/10. cimento já foi dado pela An-
previamente inativados. En- Com a revogação da Portaria visa. Recentemente ela foi
tretanto, essa regra não vale 500/97, todos os seus anexos avaliada pela Organização
quando se tratar de microor- também foram revogados, Pan-Americana para a Saúde
ganismos esporulados. inclusive o roteiro de inspe- (Opas/OMS), por uma equipe
Os medicamentos fito- ção. formada por profissionais de
terápicos vêm apresentando Entretanto, alguns itens diversos países (México, Co-
um expressivo crescimento constantes da Portaria 500/97 lômbia, Chile, Venezuela e
no mercado brasileiro, e, em foram claramente absorvidos Portugal) e recebeu pontua-
virtude disso, as regras tan- pela RDC 17/10, tais como ção máxima em sua atuação
to para a fabricação quan- as especificações de controle na regulação sanitária brasi-
to para o registro dessa ca- de matérias-primas e produto leira, reconhecendo a quali-
tegoria de produtos vêm acabado, a validação do pro- dade do trabalho desenvol-
sendo aprimoradas, seguin- cesso de esterilização pelo va- vido nos seguintes quesitos:
do os padrões internacio- lor, os ensaios biológicos e de sistema regulador, autorida-
nais, de forma a promover estabilidade, principalmen- de reguladora nacional, re-
uma melhor qualidade, segu- te porque muitos dos testes gistro sanitário, licenciamen-
rança e eficácia desses medi- descritos na revogada Porta- to de produtos, vigilância de
camentos no mercado. Por ria 500/97 mencionavam a mercado, farmacovigilância,
essa razão, foram introduzi- USP XXIII, que nos dias atuais estudos clínicos, inspeção e
dos critérios mais específicos já possui inovações e melho- fiscalização e laboratório na-
quanto ao controle de quali- res métodos para análise tan- cional. Realmente, com as
dade da droga vegetal e do to da matéria-prima quanto ações previstas pela agenda
produto acabado, incluindo do produto acabado. regulatória da Anvisa, muitas
o rol de ensaios obrigatórios, Outros anexos, tais como mudanças estão por vir ainda
assim como a definição dos os que contemplavam os cri- em 2010.
padrões de referência a se- térios para avaliação de re- Diante das principais mo-
rem utilizados. Os reflexos já cipientes de vidro, plásti- dificações instituídas pela
podem ser vistos por meio da cos, transporte e tampas de RDC 17/10, é certo que as
publicação da consolidação elastômero, foram revoga- empresas terão que validar
das normas de medicamen- dos sem qualquer menção os seus sistemas computado-
tos fitoterápicos, cujo compi- na nova norma. Entrentato, rizados no prazo máximo de
lado encontram-se na tercei- se as empresas possuem mé- três anos, sob pena de não
ra edição e disponível no site todos validados e adequados serem concedidos os Certifi-
da Anvisa. para a garantia da qualidade cados de Boas Práticas de Fa-
Por fim, grande alteração desses materiais ou se se ba- bricação.
se deu também nas chama- seiam em métodos descritos Câmara Técnica da Indústria
das “Soluções Parenterais de nas farmacopéias reconheci- Farmacêutica
Simone Grings Herbert
Grande Volume”, uma vez das pela Anvisa, não haverá

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36
ARTIGO

A importância da participação dos


farmacêuticos nas câmaras técnicas
A troca de conhecimento é fundamental para o desenvolvimento da profissão

As Câmaras Técnicas são cada Câmara, sendo elas: farmacêutica na Universida-


órgãos consultivos do CRF- acupuntura, análises clíni- de Estácio de Sá e na Asso-
RJ, formados por profissio- cas, distribuição e transpor- ciação Fluminense de Psica-
nais habilitados, experien- te, farmácia com manipula- nálise e fiz parte do corpo
tes e capacitados para emitir ção, farmácia comunitária, docente dos cursos de mani-
pareceres sobre assuntos re- farmácia em oncologia, far- pulação magistral e de téc-
ferentes às diversas áreas de mácia homeopática, farmá- nico em farmácia do SENAC
atuação do farmacêutico. cia hospitalar, indústria far- RIO. Atualmente sou sócia-
A finalidade princi- macêutica, pesquisa clínica, farmacêutica da Singulares
pal das Câmaras Técnicas radiofarmácia, saúde pública Farmácia de Manipulação.
é assessorar a diretoria do e vigilância sanitária. A secretária-executiva é
CRF-RJ, através de opini- Podem participar das a farmacêutica Denise de
ões expressas, tecnicamente reuniões farmacêuticos em Abreu Garófalo. Formada
fundamentadas, a respeito dia com as obrigações pe- em Farmácia pela Universi-
de dúvidas sobre diferentes rante o CRF-RJ e estudantes dade Federal do Rio de Ja-
aspectos do segmento far- de Farmácia. A periodicidade neiro (UFRJ), em 1989, é es-
macêutico, visando ao apri- dos encontros depende da pecialista em manipulação
moramento de nosso exercí- coordenação de cada Câma- magistral alopática pela As-
cio profissional. ra sendo, no mínimo, quatro sociação Nacional de Far-
Também são atribuições encontros por ano. Os far- macêuticos Magistrais (An-
das Câmaras Técnicas repre- macêuticos que comparece- farmag), tem especialização
sentar a diretoria do CRF- rem a mais de 60% dos en- em farmácia magistral pe-
RJ em eventos e entrevistas, contros no período de 12 la Racine, atua na área de
quando designados por ela; meses receberão a qualida- manipulação desde 1991
identificar, discutir, analisar de de membros da Câmara. e atualmente é responsá-
e emitir pareceres sobre te- A Câmara Técnica de Far- vel técnica de uma das fi-
mas relevantes em relação à mácia de Manipulação é co- liais da Analítica Farmácia de
profissão; propor temas pa- ordenada por mim, Adriana Manipulação.
ra eventos e cursos; sugerir e Martins Lopes. Formada em A necessidade de divul-
elaborar trabalhos científicos Farmácia Industrial pela Uni- gar as Câmaras Técnicas sur-
para publicação e/ou apre- versidade Federal Fluminen- giu quando percebemos que
sentação nos meios científi- se (UFF), também sou ha- o pequeno número de parti-
cos; entre outras funções. bilitada e especializada em cipantes nas reuniões acon-
A deliberação que apro- Homeopatia. Trabalho nes- tecia porque vários profissio-
va o regulamento das Câma- sa área desde 2001, quan- nais sabem da sua existência,
ras Técnicas se encontra, na do dei início ao primeiro mas não têm noção para
íntegra, no site do Conse- estágio em farmácia de ma- que servem exatamente.
lho, assim como as atas de nipulação. Também já traba-
Câmara Técnica de Farmácia de
reunião, a agenda e a rela- lhei em farmácias comunitá- Manipulação
ção de coordenadores de rias, ministrei cursos na área Adriana Martins Lopes

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37
ARTIGO

Acupuntura associada à atenção farmacêutica


no transtorno da ansiedade generalizada
Dos entrevistados, 93,3% informaram que a conjunção das duas técnicas
contribui com o sucesso terapêutico
ISTOCK
A ansiedade é um fenô-
meno conhecido pelo ho-
mem há milhares de anos.
Não seria exagero dizer que
esse sentimento foi um dos
responsáveis pela sobrevi-
vência da espécie humana
na Terra. O medo do ataque
de predadores e a constan-
te expectativa dessa possi-
bilidade levaram o homem
a adotar estratégias eficazes
de fuga ou enfrentamento,
resultando na manutenção
da espécie (HETEM & GRA-
EFF, 2004). Durante toda a
história da evolução das ci-
vilizações, a ansiedade este- de atenção e déficit de me- no de 17,5%, dos quais cer-
ve presente, principalmente mória; tensões motoras, ca de 12% referem-se aos
nos momentos de conflitos, como inquietação, cefaléia indivíduos potencialmente
conquistas e desenvolvimen- tensional, tremores e inca- necessitados de terapêutica
to tecnológico (FENSTERSEI- pacidade de relaxar; e hipe- farmacológica (ANDREATI-
FER & SCHMITT, 2001). ratividades autonômicas, NI, et al, 2001).
Atualmente, em algu- como sensação de cabeça O padrão de início do
mas circunstâncias, é consi- leve, sudorese, taquicardia, TAG é diferente dos demais
derada doença, e vem sen- taquipnéia, opressão toráci- transtornos da ansiedade.
do categorizada, conforme ca, desconforto epigástrico, Enquanto a maioria se apre-
o Código Internacional de tonturas e boca seca. senta no início da idade adul-
Doenças (CID), como an- A prevalência do Trans- ta, as prevalências de TAG
siedade generalizada (CID- torno de Ansiedade Genera- são baixas em adolescentes
F41.1), caracterizada por lizada (TAG) aumenta com a e adultos jovens, aumentan-
sintomas essenciais de an- idade e é maior no sexo fe- do significativamente com a
siedade presentes na maio- minino. Estima-se que as idade. Em mulheres, os ca-
ria dos dias, por pelo me- mulheres sejam duas vezes sos aumentam a partir dos
nos seis meses. Os sintomas mais acometidas do que os 35 anos e em homens após
mais comuns são transtorno homens (HETEM & GRAE- os 45 anos (FANTERSEIFER &
de apreensão, como pensa- FF, 2004). A ocorrência do SCHMITT, 2001).
mentos mórbidos, dificulda- TAG na população brasileira Segundo Bisson (2007),
des de compreensão, falta é relativamente alta, em tor- os pacientes com TAG são

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usuários crônicos de serviços Além disso, segundo Bis- sujeitos estudados.


de atenção primária à saú- son (2007), a atenção far- Os locais de realização
de, tanto em número de visi- macêutica pode se utilizar desta pesquisa foram os am-
tas aos profissionais quanto da prática de outras condu- bulatórios de uma escola de
à busca de medicamentos, tas terapêuticas capazes de ciências orientais, denomi-
exames e outras medidas substituir, em casos menos nada Academia Brasileira de
de alívio dos sintomas físi- severos, o tratamento far- Artes e Ciências Orientais
cos e psíquicos. É importan- macoterápico, e, em casos (ABACO), localizada no mu-
te salientar que muitos mé- mais severos, coexistir com o nicípio do Rio de Janeiro.
tratamento medicamentoso, Além da análise dos
a fim de evitar suas reações prontuários selecionados e
O tratamento com acupuntura adversas e efeitos colaterais, dos pacientes em tratamen-
além de diminuir o tempo de to, utilizou-se um questio-
juntamente à atenção farmacêutica, tratamento. nário composto por 21 per-
Neste cenário, a acupun- guntas abertas e fechadas,
em pacientes portadores de TAG, foi tura se destaca como um validado pela Comissão de
dos melhores recursos te- Validação de Instrumentos
eficaz em atenuar as comorbidades rapêuticos, coadjuvante da Científicos do Centro Univer-
causadas pela intensa ansiedade atenção farmacêutica e que sitário Celso Lisboa (UCL).
geralmente se mostra eficaz Este instrumento teve por
à problemática causada por objetivo questionar os pa-
dicos, principalmente os que prescrições medicamento- cientes portadores de TAG
não têm formação em psi- sas exageradas ou desneces- quanto aos benefícios obti-
quiatria, apresentam dificul- sárias, objetivando, assim, a dos com a prática da aten-
dades para procederem com recuperação e promoção da ção farmacêutica e da acu-
exatos diagnósticos diferen- saúde física e mental dos pa- puntura no tratamento dos
ciais, fato que acaba resul- cientes portadores de TAG. transtornos de ansiedade
tando em inúmeras condu- Os métodos quantitati- generalizada. Ao final, fo-
tas farmacoterápicas. Neste vos permitem avaliar a im- ram analisados 30 prontuá-
momento, a atenção farma- portância, gravidade, aco- rios, totalizando 30 entrevis-
cêutica é indispensável, sem- metimentos e ameaças de tas, entre os meses de abril e
pre com objetivo de eliminar um determinado problema maio de 2009.
ou reduzir a sintomatolo- sobre os sujeitos pesquisa- Todos os entrevistados
gia do paciente e controlar dos (BAUER, 2003). Sabe- aceitaram participar da pes-
a progressão da síndrome, se que quando se trata de quisa, de forma voluntá-
bem como evitar o surgi- áreas da saúde, a realida- ria e anônima, após conhe-
mento de novos padrões de é muito complexa, en- cer seus objetivos e fins, por
sintomatológicos. volvendo diversos aspectos meio da assinatura do Ter-
O êxito da atenção far- fisiopatológicos, etiológi- mo de Consentimento Livre
macêutica se sustenta na ca- cos, psicossociais e até mes- e Esclarecido, em obediên-
pacidade de o farmacêutico mo ambientais, que tornam cia à Resolução 196/96 do
identificar os eventuais pro- a metodologia quantitativa Conselho Nacional de Saú-
blemas relacionados aos me- mais adequada para enten- de (CNS): “O respeito de-
dicamentos prescritos, inter- der uma realidade (BAUER, vido à dignidade humana
vindo preventivamente nas 2003). Isso porque se leva exige que toda pesquisa se
possíveis reações adversas, em consideração a inexis- processe após consentimen-
que muitas vezes são cau- tência da visão pessoal do to livre e esclarecido dos su-
sadas por interações medi- pesquisador frente aos pro- jeitos, indivíduos ou grupos
camentosas ou alimentares. blemas enfrentados pelos que por si e/ou por seus re-

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presentantes legais manifes- culoesquelética; o mesmo


tem a sua anuência à partici- percentual, de dificuldades Dos pacientes entrevistados,
pação na pesquisa”. para respirar; 7,1%, de náu-
Os pacientes foram sub- sea; 5,8%, de extremidades 93,3% informaram que a atenção
metidos à acupuntura e frias; 4,6%, de palpitações;
orientação farmacêutica 3,2%, de cefaléias, tontura,
farmacêutica estava efetivamente
uma vez por semana, e os parestesias e agitação, cada; contribuindo com o sucesso
questionários foram aplica- 2,6%, de hipertensão arte-
dos após a quinta semana de rial; 1,9%, de medo, pleni- terapêutico. Dentre as maneiras de
tratamento. As respostas fo- tude pósprandial, opressão
ram dadas oralmente e pron- torácica, tremores, choro fá- auxílio da atenção farmacêutica,
tamente registradas pelos cil e sudorese, cada; 1,3%,
pesquisadores responsáveis. de sensação de desmaio, vô-
63,3% dos pacientes disseram que
Dentre os entrevistados, mitos e boca seca, cada; e obtiveram esclarecimentos sobre os
constatou-se que a maio- 0,6%, de precordialgia e de-
ria, ou seja, 73,3% são do sânimo, cada, confirmando medicamentos que estavam usando,
sexo feminino, confirmando que esses são realmente os
a prevalência do TAG nes- vários sintomas de TAG.
incluindo as orientações quanto às
se sexo (HETEM & GRAEFF, Devido à complexidade interações e reações adversas ou
2004). A média de idade do sintomatológica do TAG, os
grupo foi de 43 anos, com- pacientes acabam procuran- efeitos colaterais
provando que os pacien- do diversas especialidades
tes são adultos, já em uma médicas antes de receberem
fase de maturidade da vida. o diagnóstico definitivo. Den- de benzodiazepínico; outros
Quanto ao grau de instru- tre as mais diversas especia- 10% utilizando antidepres-
ção, 56,7% possuem cur- lidades médicas conhecidas sivo tricíclico com benzodia-
so superior completo; 20%, atualmente, as que mais defi- zepínico; 3,3% usando inibi-
superior incompleto; 13,3% niram o diagnóstico exato de dor relativamente seletivo da
possuem ensino médio com- TAG no grupo entrevistado recaptação de catecolaminas
pleto; e o restante (10%) foram psiquiatria (63,3%), com benzodiazepínico; e ou-
possui o ensino fundamen- neurologia (23,3%) e cardio- tros 3,3% ingerindo inibidor
tal. A alta taxa de pacien- logia (13,3%). seletivo da recaptação de se-
tes com nível superior com- Dentre os pacientes en- rotonina com benzodiazepí-
pleto se justifica pelo fato de trevistados, 76,7% apresen- nico e com beta-bloqueador.
a pesquisa ter sido feita em tavam comorbidades psi- A média de tempo em
diversos horários dos ambu- quiátricas, e, dentre elas, as uso dos medicamentos para
latórios da ABACO, localiza- que obtiveram maiores in- o TAG, até que surgissem
dos em Copacabana, uma cidências foram depressão e se estabelecessem as pri-
das regiões do município do (43,1%), déficit de aten- meiras respostas farmacoló-
Rio de Janeiro que detêm ín- ção (36,6%), transtornos do gicas, foi de quatro meses.
dices socioeconômicos e cul- pânico (15,8%) e transtor- Dos entrevistados, 93,3%
turais elevados. nos obsessivos compulsivos relataram melhora dos sin-
Quando perguntados (4,54%). tomas com o tratamento
sobre os primeiros sintomas Constatou-se que medicamentoso.
do TAG, 12,2% dos pacien- 73,3% dos pacientes esta- Dentre os sintomas ate-
tes se queixaram de taqui- vam usando inibidor seleti- nuados ou que desaparece-
cardia; 11,5%, de angústia; vo da recaptação de seroto- ram com o tratamento me-
o mesmo percentual, de in- nina com benzodiazepínico; dicamentoso, destacam-se
sônia; 7,7%, de dor mus- 10% fazendo uso somente taquicardia (21,7% dos re-

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latos), insônia (13,3%), an- tes disseram que obtiveram (2,6%); sudorese fria, ple-
gústia (11,6%), palpitação esclarecimentos sobre os nitude pós-prandial, opres-
(10%), agitação (8,3%), di- medicamentos que estavam são torácica, vômito, tremo-
ficuldades para respirar usando, incluindo as orienta- res, choro fácil e desânimo
(6,7%), extremidades frias ções quanto às interações e (1,3% cada).
(5%), medo, opressão to- reações adversas ou efeitos Quando questionados se
rácica, tremores e náuseas colaterais; 30% dos pacien- indicariam atenção farma-
(3,3% cada) e arritmias, sen- tes informaram estar sentin- cêutica e acupuntura para
sação de desmaio, dor mus- do mais segurança em rela- amigos e familiares, 93,3%
culoesquelética, pareste- ção ao tratamento e que os informaram que indicariam
sias, sudorese fria e cefaléia receios de tomarem medi- ambas e 96,7%, a acupun-
(1,7% cada). camentos controlados prati- tura. Tal fato confirma os
Constatou-se também camente não existiam mais; bons resultados terapêuticos
que 43,3% dos pacientes es- 6,7% dos pacientes não rela- obtidos pela ação concomi-
tavam usando outros fárma- taram nenhuma contribuição tante da acupuntura e aten-
cos em concomitância com da atenção farmacêutica. ção farmacêutica.
os medicamentos prescritos Os pacientes entrevista- O tratamento com acu-
para o TAG. Dentre esses dos também estavam sen- puntura juntamente à aten-
medicamentos, 33,3% eram do submetidos a tratamento ção farmacêutica, em pacien-
anti-hipertensivos; 10%, com acupuntura. Dentre es- tes portadores de TAG, foi
agentes reguladores de li- ses pacientes, 53,3% foram eficaz em atenuar as comor-
pídeos; 6,6%, antiarrítmi- incentivados por familiares bidades causadas pela in-
cos; 3,3%, hipoglicemiantes a buscarem tratamento na tensa ansiedade, bem como
orais; 3,3%, repositores hor- técnica oriental; 16,7% dos em evitar as reações adver-
monais; e outros 3,3%, con- pacientes receberam incenti- sas ou efeitos colaterais cau-
traceptivos orais. vo de amigos; e 30% foram sados pelas diversas prescri-
Sabe-se que é muito co- motivados pelo médico que ções medicamentosas.
mum surgirem novos sinto- diagnosticou o TAG. Não há consenso sobre
mas em decorrência das in- A média de sessões de o tempo total que deve du-
terações medicamentosas ou acupuntura até o surgimen- rar o tratamento com acu-
até mesmo interações medi- to dos efeitos desejados foi puntura e, por isso, é pos-
camento-alimento. Mesmo de dois atendimentos, com sível que os pacientes que
diante desse cenário, 76,7% frequência de uma vez por apresentem persistência de
dos pacientes entrevista- semana. Constatou-se que algum sintoma relacionado
dos não receberam nenhu- 96,7% dos pacientes sub- à ansiedade possam se be-
ma orientação por parte dos metidos à acupuntura relata- neficiar com a continuidade
prescritores quanto às pos- ram melhoras consideráveis. da acupuntura por tempo
síveis interações. Esse fato Os sintomas que melhor indeterminado, com frequ-
confirma a importância in- responderam à acupuntu- ência semanal ou quinze-
dispensável da orientação e ra, conforme relato dos en- nal, em concomitância com
atenção farmacêuticas. trevistados, foram angústia, a atenção farmacêutica,
Dos pacientes entrevis- dor musculoesquelética e in- que se faz necessária en-
tados, 93,3% informaram sônia (13,2% cada); náusea quanto durar o tratamento
que a atenção farmacêutica (9,2%); taquicardia (7,9%); medicamentoso.
estava efetivamente contri- tontura (6,6%); dificulda-
buindo com o sucesso tera- des para respirar (5,3%); ex- Câmara Técnica de Acupuntura
Cláudio Barreiro Pignone
pêutico. Dentre as maneiras tremidades frias, palpitação, Marcos Alexandre Martini
de auxílio da atenção farma- parestesias, agitação e cefa- Luiz Henrique Marcondes de
Souza
cêutica, 63,3% dos pacien- léia (3,9% cada); boca seca

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O papel do farmacêutico na pesquisa clínica


A inserção do profissional no cenário das investigações envolvendo seres humanos

O desenvolvimento de desses profissionais na indús- tos brasileiros em vigor atri-


um novo medicamento, a tria internacional. buíam a responsabilidade
partir de sua síntese inicial Mundialmente falando, pelo medicamento do estu-
até a sua aprovação e regis- embora farmacêuticos que do ao investigador principal
tro pelo órgão regulador, sigam a carreira de pesquisa e não ao serviço de farmá-
passa por diferentes fases, clínica ainda sejam minoria, o cia. Por outro lado, em julho
de modo que ensaios clíni- seu número vem aumentando de 2009, com a publicação
cos garantam sua segurança rapidamente dentro da indús- da Resolução 509/2009, do
e eficácia. Entende-se por en- tria e em uma grande quan- Conselho Federal de Farmá-
saio clínico, pesquisa clínica tidade de organizações que cia (CFF), ficou de uma vez
ou estudo clínico as investi- desenvolvem e testam pro- por todas estabelecido que
gações científicas envolvendo dutos farmacêuticos. De fato, é privativa do farmacêutico
seres humanos. Atualmen- existe um crescente número a responsabilidade técnica
te, as indústrias farmacêuti- de contratação dessa classe, pelo local de armazenamen-
cas investem até 20% de seu que em países como Estados to e dispensação de medi-
faturamento nessa área, um Unidos ocupam uma varieda- camentos e produtos para
montante que chega a 20 bi- de de papéis, indo desde o saúde utilizados em estudos
lhões de dólares por ano. desenho de estudos fase I até clínicos. Nesse sentido, o far-
Tendo a área de pesqui- a ocupação de cargos execu- macêutico de pesquisa clínica
sa clínica uma relação direta tivos. Além disso, outros tra- é o responsável por estabele-
com o uso de medicamentos, balham como monitores de cer políticas internas e proce-
a atuação do farmacêutico é estudos clínicos, verificando a dimentos para o uso seguro e
imprescindível. Os farmacêu- adesão ao protocolo e inves- apropriado dos medicamen-
ticos são profissionais da saú- tigando eventos adversos e a tos em estudo, além de au-
de experts no uso de medi- segurança dos medicamentos xiliar o paciente no processo
camentos e suas ações no investigacionais. de adesão à terapia.
organismo, sendo educados Nos últimos anos, a par- Sob esse ponto de vista,
para desenvolver habilidades ticipação do Brasil na condu- o desenvolvimento de servi-
na resolução de problemas ção de ensaios clínicos vem ços de farmácia de pesqui-
relacionados a medicamen- crescendo consideravelmen- sa clínica tem sido intenso, e
tos de forma a melhorar as te, e a demanda por farma- mais interessante: os ensaios
respostas dos pacientes com cêuticos acompanha esse clínicos representam uma
as suas intervenções. crescimento. Nacionalmen- oportunidade clara de am-
Essa concepção de far- te, essa categoria profissional pliar o papel do farmacêuti-
macêutico como perito dos costuma ocupar cargos de co. Dentro desse contexto, se
medicamentos, que possui monitores e coordenadores faz cada vez mais necessária
conhecimento a respeito dos de estudo, além de trabalhar a formação de profissionais
fármacos, dos processos de na condução dos ensaios clí- capacitados na condução de
desenvolvimento de medica- nicos como farmacêutico de ensaios clínicos no Brasil.
mentos e de como esses pro- pesquisa clínica.
dutos interagem com o pa- Em âmbito hospitalar, até Câmara Técnica de Pesquisa
ciente, gerou uma demanda ano passado, os regulamen- Clínica
Luana Monteiro S. Marins

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Organização: Realização: Patrocínio: Apoio:

Federação Brasileira das Redes Associativistas de Farmácias

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