Você está na página 1de 103

DEFESA E DESENVOLVIMENTO PARA O BRASIL

PATROCÍNIO
Defesa e desenvolvimento para o Brasil

Rio de Janeiro, 2014


Copyright © VERSAL EDITORES LTDA. 2014

Patrocínio
Odebrecht

Texto
Luciana Lana

Pesquisa iconográfica
Carmen Azevedo
Edilson Lima

Projeto gráfico e diagramação |||| Introdução 013


Luciana Gobbo
1.0 | Amazônia Azul 025
Fotografia
Almir Bindilatti
2.0 | A Marinha e a Defesa do Brasil 041
Kadu Pinheiro

ARQUIVOS DE IMAGEM 3.0 | A energia nuclear no País e o PNM 069

Submarinos |||||||||| Introdução


Arquivo da DCNS
Arquivo da Organização Odebrecht 4.0 | O PROSUB 093
Arquivo da Petrobras
Arquivo do Comando da Força de Submarinos 5.0 | Estaleiros e base naval 109
Arquivo do CTMSP
Arquivo do PROSUB
Diretoria do Patrimônio Histórico
6.0 | Responsabilidade socioambiental 121
e Documentação da Marinha (DPHDM)
CPDOC/Fundação Getulio Vargas 7.0 | Tecnologia e nacionalização 137
Folhapress
Getty Images 8.0 | Os novos submarinos 151
Iconographia
Pulsar Imagens
9.0 | Aspectos da estratégia naval brasileira 169
SambaPhoto

ILUSTRAÇÃO 10.0 | Desafios para o futuro 183


Oito Coletivo
|||| Agradecimentos 196
Revisão e normatização
Ana Grillo |||| Referências bibliográficas e créditos de imagens 198
Impressão e Acabamento
Stilgraf

Editado e publicado por


Versal Editores Ltda.
Rua Jardim Botânico, 674/315
Centro Empresarial Jardim Botânico
Rio de Janeiro — RJ
22461-000
www.versaleditores.com.br

8 9
A Marinha do Brasil está vivendo um dos períodos mais importantes de sua história recente. Em 23 de dezembro
de 2008, a assinatura do acordo estratégico com a França, viabilizando o início do Programa de Desenvolvimento de
Submarinos (PROSUB), facultou a possibilidade do nosso Poder Naval avançar para um patamar ainda mais elevado.

Com a aprovação da Estratégia Nacional de Defesa naquele mesmo ano, o País passou a dispor de um instrumento legal
que permitiria a formulação de um planejamento de longo prazo, definindo não só a necessidade de transformação das
Forças Armadas, através de articulação e equipamento, como também a reestruturação da Base Industrial de Defesa.

Coerente com esse contexto, a Marinha vislumbrou, em sua nova configuração, possuir uma Força de Submarinos de
envergadura, dotada de unidades com propulsão convencional e nuclear. O PROSUB representou a consolidação dessa
proposta, permitindo transformar em realidade um sonho acalentado por mais de três décadas, pois, desde a sua cria-
ção em 1979, o Programa Nuclear da Marinha (PNM) tinha, como meta, o desenvolvimento de uma planta de propulsão
para submarinos.

Nas páginas deste livro, são relatados os principais marcos que pontuaram esse processo e a conjuntura em que, acer-
tadamente, foi decidida a criação do PROSUB.

Nesse ponto, cabe ressaltar que o País, em virtude de sua crescente presença no cenário internacional, vem desper-
tando a atenção mundial e tem, portanto, a obrigação de garantir os interesses nacionais, protegendo os cerca de
4,5 milhões de quilômetros quadrados de Águas Jurisdicionais, as quais são chamadas de “Amazônia Azul” em virtude
das dimensões, biodiversidade, incalculáveis riquezas nelas contidas e importância estratégica, em tudo comparável à
Floresta Amazônica.

Os submarinos com propulsão nuclear são importantes meios navais, capazes de contribuir, decisivamente, para a
dissuasão e de garantir, com maior eficiência, a negação do uso do mar a um possível inimigo. Apenas cinco países
no mundo possuem a capacidade de projetá-los, construí-los, mantê-los e operá-los: China, Estados Unidos, França,
Reino Unido e Rússia. Com o desenvolvimento do PROSUB, o Brasil pretende alcançar uma similar capacitação, o que
permitirá ser incluído nesse seleto grupo, tecnologicamente muito avançado.

Por meio dos empreendimentos que envolvem o PROSUB, a Marinha vem fomentando o desenvolvimento nas áreas
nuclear e de construção naval e, de forma muito ampla, tem contribuído com o crescimento da nossa indústria e com a
irrigação de recursos na economia. Isso ocorre devido a dois pilares fundamentais que alicerçam o Programa: a transfe-
rência de tecnologia e a nacionalização de sistemas e sobressalentes.

A inauguração da Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (UFEM), em março de 2013, no município de Itaguaí,
Rio de Janeiro, foi a primeira grande mostra do que o PROSUB tinha realizado até então. Por isso, a Marinha avalia como ex-
tremamente oportuno o lançamento deste livro, no momento da inauguração do Prédio Principal do Estaleiro de Construção
de Submarinos, representando o cumprimento de mais um importante marco desse grandioso empreendimento.

JULIO SOARES DE MOURA NETO


Almirante-de-Esquadra
Comandante da Marinha
Introdução
O Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadra- água e a de energia. Torna-se, por consequência,
dos, o que representa 5,7% da superfície mundial um alvo da cobiça internacional.

Soberania e
e 47% da América do Sul. É o quinto maior país
em extensão e em população — os brasileiros Quando foi publicada, em 2008, a Estratégia

Desenvolvimento
somam mais de 200 milhões, o que corresponde Nacional de Defesa (END) ponderou que o Brasil
a metade dos sul-americanos e 3,18% da popu- tem e pretende preservar uma identidade pa-
lação do planeta. Em termos econômicos, o País cífica, mas acrescentou que o País “desfruta, a
ocupa atualmente a sétima posição no ranking partir de sua estabilidade política e econômica,
mundial. Com esses números, junto aos Estados uma posição de destaque no contexto inter-
Unidos, Rússia, Índia e China, o Brasil forma um nacional, o que exige nova postura no campo
conjunto muito particular: o dos países que reú- da defesa”.
nem as maiores áreas, populações e economias
do mundo. Nos debates que precederam a elaboração do
documento, foi apontada a natureza cada vez
É o bastante para justificar que o País busque mais difusa das ameaças com que os países
manter condições de defesa suficientes para pro- lidam contemporaneamente — terrorismo, dis-
teger seu povo, suas fronteiras e todas as rique- puta por recursos naturais, pirataria, narcotrá-
zas encontradas em seu imenso território. Mas, fico, entre outras — e concluiu-se que, diante
não bastassem essas, há ainda outras conside- de tal diversidade, a defesa deve se pautar pelas
rações a serem feitas: privilegiado pela nature- vulnerabilidades, estando o aparato militar apto
za, o Brasil concentra 12% das reservas mundiais a reagir a qualquer ator que se volte contra elas.
de água doce e quase a metade de suas terras
são agricultáveis. É também autossuficiente em A dissuasão foi eleita como princípio norteador
energia, sendo renováveis 46% de sua matriz da atuação das Forças Armadas. Mas dissua-
energética. Assim, o País se revela uma potên- dir é estar devidamente equipado e preparado,
cia capaz de enfrentar três crises que vêm sendo tendo as capacidades operacionais necessárias
vislumbradas para o futuro: a de alimentos, a de para ações ofensivas. Então, determinou-se a

12 13
reestruturação e o reaparelhamento da Marinha, Faz sentido, então, dotar a Marinha do Brasil de especiais a que os engenheiros navais brasileiros
do Exército e da Aeronáutica. “O Sistema de equipamentos modernos. Por sua capacidade necessitavam ter acesso.
O primeiro submarino do PROSUB Defesa Nacional deve dispor de meios que per- de ocultação, os submarinos cumprem exata-
receberá equipamentos e sistemas mitam o aprimoramento da vigilância; o contro- mente a função de dissuadir qualquer iniciativa A Estratégia Nacional de Defesa não deixa de
na Unidade de Fabricação de le do espaço aéreo, das fronteiras terrestres, do ofensiva. Qualquer país se vê desencorajado a destacar a importância do desenvolvimen-
Estruturas Metálicas (UFEM), território e das águas jurisdicionais brasileiras; atuar em águas estrangeiras quando admite a to da tecnologia nuclear. O Brasil é signatário
em Itaguaí (RJ) e da infraestrutura estratégica nacional”, diz o possibilidade de um revide inesperado vindo de do Tratado de Não Proliferação de Armas Nu­
texto da END. A prerrogativa é de que os investi- um submarino não detectado. cle­ares e reafirma essa sua posição no texto
mentos na defesa do País devem ser diretamen- constitucional. Mas nada impede que faça uso
te proporcionais às riquezas a serem protegidas A propulsão nuclear, por sua vez, garante ainda pacífico da energia nuclear. Tanto assim que a
em seu território. uma série de vantagens, entre elas a velocidade. END orientou que o País produzisse combus-
O submarino com propulsão nuclear tem vasto tível nuclear em escala e desenvolvesse uma
De acordo com a END, a Marinha ficou incumbida alcance, sendo ideal para a dissuasão em águas planta de propulsão naval.
de focar na negação do uso do mar a forças inimi- profundas, mais distantes da costa. Sua principal

Submarinos |||||||||| Introdução


gas que se aproximem do Brasil por via marítima característica, no entanto, é a autonomia: en- Para seguir a orientação foi impulsionado o
e, para isso, a Estratégia estabeleceu “uma força quanto o submarino convencional — uma planta Programa Nuclear da Marinha (PNM), que desde
naval submarina de envergadura”, incluindo uni- de propulsão diesel-elétrica — precisa vir próxi- a década de 1970 trabalhava no enriquecimento
dades com propulsão nuclear. Não surpreendeu mo à superfície constantemente, para recarregar do urânio para produção do combustível nucle-
tal arrojo: a importância do mar para o País e a as baterias, o com propulsão nuclear pode ficar ar e já esboçava um reator. Em 2007, então, o
necessidade de defesa através dos meios navais submerso quase que indefinidamente, conforme PNM recebeu recursos e, logo em seguida, ga-
são evidentes. Com quase 8,5 mil quilômetros de as condições da tripulação e o estoque de supri- nhou uma finalidade específica: atender ao novo
extensão, a costa brasileira é uma das maiores mentos. Isso dificulta em muito a sua detecção. Programa de Desenvolvimento de Submarinos
do mundo. Mais de 95% das cargas que entram e — PROSUB, o mais importante empreendimen-
saem do País são transportadas por via marítima. Mais do que contar com uma nova Esquadra, a to da Marinha do Brasil nas últimas décadas.
Para completar, o descobrimento de reservas Estratégia estabeleceu que o Brasil desenvol-
petrolíferas em águas profundas – os campos do vesse a sua capacidade de projetar e construir Atendendo às diretrizes da Estratégia Nacional
Pré-Sal — colocou o Brasil no foco das atenções submarinos — inclusive com propulsão nuclear. de Defesa, o PROSUB foi lançado determi-
internacionais e o País pleiteia o reconhecimento Construir não seria problema — o Brasil teve nando a incorporação à Força Naval de quatro
da extensão de sua Plataforma Continental reple- essa experiência, nas décadas de 1980 e 1990, submarinos convencionais e um com propul-
ta ainda de muitas outras riquezas. Comparada à quando, com base em projeto alemão, foram são nuclear, a serem fabricados no Brasil, com
Floresta Amazônica, a área marítima brasileira se feitos os submarinos convencionais em uso atu- transferência de tecnologia de parceiros exter-
apresenta da mesma forma rica e diversa, o que almente no País. Projetar era uma novidade. nos. O programa incluia ainda a construção de
lhe valeu ser chamada de “Amazônia Azul”. Sob Projetar e construir um submarino com propul- uma base naval e de dois estaleiros para esses
o aspecto geopolítico, todo o Atlântico Sul co- são nuclear, isso sim, soou como grande desafio, novos meios.
meçou a despontar e o governo brasileiro tratou que requereria apoio externo. Para que o sub-
de intensificar a cooperação e a integração com marino seja equipado com um reator nuclear, a Só cinco países no mundo constroem e operam
países africanos e sul-americanos. infraestrutura de operação tem características submarinos com propulsão nuclear — Estados

14 15
16
17

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


Unidos, Reino Unido, Rússia, França e China. para as áreas de projeto e construção de subma-
Destes, o único que concordou em transferir rinos e da infraestrutura industrial, têm cláusulas
tecnologia ao nível requerido e capacitar os bra- de offset no valor de € 400 milhões. Essas são
sileiros a projetar e construir submarinos foi a cláusulas referentes à transferência de tecnologia
França. Os franceses têm importantes indústrias para empresas brasileiras de modo a promover a
espacial, nuclear, aeronáutica, de construção nacionalização de equipamentos. Para a constru-
naval e de defesa. ção dos submarinos convencionais são estima-
das encomendas às indústrias nacionais de € 100
No que se refere especificamente à área nuclear, milhões em máquinas, sistemas, componentes
no entanto, não há troca de conhecimentos. e materiais. E, para o submarino com propulsão
Toda a tecnologia nuclear para o PROSUB foi e nuclear, são estimados, pelo menos, outros € 100
está sendo desenvolvida no Brasil — com o an- milhões em encomendas.
damento do PNM, baseado nas instalações que
o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo Os efeitos dessa transferência tecnológica e na-

Submarinos |||||||||| Introdução


(CTMSP) dispõe no campus da Universidade de cionalização são progressivos. O conhecimen-
São Paulo (USP), na capital paulista, e no interior to absorvido é transformado e se desdobra em
do estado, no município de Iperó, onde funciona aplicações múltiplas e duais. Assim, além da
o Centro Experimental de Aramar. defesa do País, o que o PROSUB está promo-
vendo é um grande avanço na área científica e a
Os estudos da energia nuclear, feitos no CTMSP formação de uma indústria nacional altamente
desde fins da década de 1970, já deram muitas sofisticada, que não só atenderá às demandas
contribuições ao segmento industrial, sobre- de modernos sistemas e equipamentos para as
tudo no desenvolvimento de materiais avan- Forças Armadas, como impulsionará vários seto-
çados, como a fibra de carbono. A condução do res da economia nacional, podendo aumentar as
Programa Nuclear da Marinha representa, por- exportações brasileiras de produtos de alto valor
tanto, um investimento em ciência e tecnologia tecnológico agregado.
que favorece o País de forma bem ampla.
Representando investimentos de cerca de
Do mesmo modo, a construção dos submarinos e R$ 23 bilhões, o PROSUB é o maior programa
das estruturas navais para abrigá-los tem mobili- de capacitação industrial e tecnológica da his-
zado grande número de indústrias e profissionais, tória da indústria da defesa brasileira. Em cada
que recebem da França uma carga preciosa de co- uma das suas etapas, traz benefícios múltiplos,
nhecimentos e os processam e multiplicam com que vêm sendo verificados desde que começa- O prédio principal do

as adaptações requeridas pela Marinha do Brasil. ram as primeiras obras para o programa. estaleiro de construção

dos novos submarinos


Os contratos firmados entre a França e o Brasil, além Com pouco mais de 100 mil habitantes, o muni-
de incluir uma forte transferência de tec­nologia cípio de Itaguaí, na Costa Verde do estado do Rio

18 19
Técnicos e engenheiros de Janeiro, foi escolhido para abrigar a nova base trabalhadores que estarão empregados no pico
brasileiros foram capacitados naval e os estaleiros — o chamado PROSUB-EBN. das obras dos estaleiros e da base naval, calcula-se
para projetar e construir Desde então, a geração de empregos e a arreca- que mais de 70% serão residentes do município.
os submarinos do PROSUB dação municipal foram surpreendentes: mais de Outros 32 mil empregos indiretos serão gera-
R$ 7,3 milhões são lançados mensalmente no co- dos pelo PROSUB-EBN. A construção dos qua-
mércio da cidade e cerca de R$ 150 milhões são tro submarinos convencionais promete gerar
arrecadados em impostos. De um total de 9 mil cerca de 2 mil empregos diretos e 8 mil indiretos.
O submarino com propulsão nuclear — incluindo
a produção do combustível, do reator, a constru-
ção de instalações específicas nos estaleiros e na
base naval e do próprio submarino — representa
2 mil empregos diretos e 6 mil indiretos.

Responsável pelas obras do PROSUB-EBN, a

Submarinos |||||||||| Introdução


Construtora Odebrecht, junto à Marinha do Brasil,
está promovendo a inclusão social e a qualifi-
cação profissional dos moradores da região de
Itaguaí. E tem feito também campanhas e ações
para a preservação ambiental. Antes mesmo de
se instalar no local, a empresa fez a dragagem
de material contaminado do fundo da baía de
Sepetiba, um passivo ambiental que há décadas
comprometia a qualidade da água e prejudicava
os ecossistemas marinhos.

Além de todos esses desdobramentos que tem


na sociedade e na economia, o PROSUB firma
o posicionamento do Brasil no âmbito das rela-
ções internacionais. O País está desenvolvendo
de forma autônoma uma tecnologia que só o
grupo dos membros permanentes do Conselho
de Segurança da ONU detém. Nos cinco conti-
nentes, a notícia desperta atenção — quase todos
os países acompanham a evolução do programa
que poderá tornar o Brasil independente em tec-
nologias sensíveis. Uma conquista que representa
desenvolvimento e soberania. 

20 21
1.0

Amazônia Azul
País de dimensões continentais com 8,5 mil qui- da Marinha do Brasil, batizou como “Amazônia
lômetros de costa, o Brasil tem o mar como uma Azul” a região marítima de aproximadamente

Nossa riqueza
forte referência em todo o seu desenvolvimen- 4,5 milhões de quilômetros quadrados contígua
to. É a fonte de riquezas minerais, de energia, de à costa brasileira. Ele alertava para a necessidade
alimentos. Está presente na cultura de 80% de de defesa desse patrimônio, afirmando que “toda
sua população — que se concentra nas cidades riqueza acaba por se tornar objeto de cobiça, im-
litorâneas, vivendo a menos de 200 quilômetros pondo ao detentor o ônus da proteção”.
da linha costeira. O mar também se apresenta
como a principal interface do País com o exterior: O Brasil pleiteava, na época, a extensão de
95% das operações de comércio internacional sua plataforma continental jurídica junto à
brasileiras se dão por via marítima e são as belas Organização das Nações Unidas. O que se bus-
praias tropicais o grande impulsionador da ativi- cava era a aprovação oficial da ONU para que as
dade turística brasileira. fronteiras marítimas do País fossem expandidas
em cerca de 960 mil quilômetros quadrados.
Fora isso, o ambiente marinho brasileiro é um
patrimônio natural pela sua biodiversidade — A soberania sobre áreas marítimas, bem como o
centenas de milhares de espécies habitam as uso de seus recursos integra um importante ca-
Águas Jurisdicionais Brasileiras. Trata-se de um pítulo do direito internacional. As Nações Unidas
tesouro, de riquezas comparáveis às da maior tentaram a primeira regulamentação sobre o
floresta tropical do mundo, e que é também vul- tema em conferência em 1958. Depois, em Nova
nerável como as matas amazônicas. Assegurar York, em 1973, na Terceira Conferência sobre
sua herança para as futuras gerações é um dos o Direito do Mar, 160 países aprovaram o texto
desafios que o Brasil tem enfrentado. de um tratado multilateral que, nove anos de-
pois, em Montego Bay, na Jamaica, foi celebrado
Não à toa, em 2004, o Almirante de Esquadra como a Convenção das Nações Unidas sobre o
Roberto de Guimarães Carvalho, Comandante Direito do Mar (CNUDM).

26 27
O Brasil tem uma das mais É essa convenção que define os limites para o Exclusiva. O Brasil é o único país com direito de
extensas linhas costeiras do Mar Territorial (até 12 milhas náuticas), a Zona explorar economicamente os recursos existen-
mundo e, a partir dela, por Con­­tígua (até 24 milhas náuticas), a Zona Eco­ tes nessa área, podendo, inclusive, usar cabos e
mais de 200 milhas náuticas, nômica Exclusiva (até 200 milhas náuticas) e o dutos submarinos.
há vastas riquezas para o País limite exterior da plataforma continental além
explorar com exclusividade das 200 milhas, conforme critérios específicos. Tudo isso de acordo com a CNUDM, que o Brasil
A Convenção também estabelece as regras acerca ratificou em dezembro de 1988. O assunto foi
da soberania dos Estados costeiros sobre as águas tratado internamente pela Lei 8.617, promul-
adjacentes, assim como as normas a respeito da gada em 1993. Nela consta que a soma do Mar
gestão dos recursos marinhos e do controle da Territorial com a Zona Econômica Exclusiva do
poluição. Por fim, a partir da Convenção, foi criado Brasil alcança cerca de 3,6 milhões de quilôme-

Submarinos |||||||||| CAP 1.0 |||||||||| Amazônia Azul


um Tribunal Internacional do Direito do Mar, com tros quadrados.
competência para julgar as controvérsias relativas
à interpretação e à aplicação do tratado. Entretanto, como a própria Convenção previa
que os países definissem seus limites exteriores
O território continental brasileiro tem 8.511.965 da Plataforma Continental, já em 1989, o gover-
quilômetros quadrados. A linha costeira está no brasileiro instituiu o Plano de Levantamento
entre as maiores do mundo. A partir dela é que da Plataforma Continental (LEPLAC). O objetivo
se conta a área marítima sob jurisdição brasilei- era determinar a área oceânica, compreendida
ra. A faixa compreendida nas primeiras 12 mi- além da Zona Econômica Exclusiva, na qual o
lhas náuticas — pouco mais de 22 quilômetros Brasil pode exercer os direitos exclusivos de so-
desde a costa — corresponde ao Mar Territorial berania para a exploração e o aproveitamento
e pertence exclusivamente ao Brasil. Nela, o dos recursos naturais do leito e do subsolo de
Estado brasileiro exerce soberania absoluta tal sua Plataforma Continental, conforme estabe-
como em seu território e em suas águas interio- lecido na CNUDM. O LEPLAC teve por base um
res. Embarcações estrangeiras civis e militares estudo iniciado três anos antes e contou com a
podem passar pelo Mar Territorial desde que participação intensa da Marinha do Brasil, da co-
não violem as leis do Estado e nem constituam munidade científica e da Petrobras.
ameaça à segurança. Ainda assim, o governo
brasileiro pode proibir essa passagem. O Brasil Com a assinatura de sessenta países, a CNUDM
também detém a propriedade sobre todos os entrou em vigor em 1994. O documento estipulou
bens e recursos que se encontram no solo e no um prazo de dez anos (portanto até 2004) para
subsolo marinhos, na coluna d’água e no espaço que os países interessados em prolongar suas pla-
aéreo sobrejacente. taformas continentais apresentassem suas pro-
postas. O prazo foi estendido em 2001, durante
A partir do Mar Territorial, outra faixa se estende a 11ª Reunião dos Estados Partes da CNUDM — a
por 180 milhas náuticas como Zona Econômica Comissão de Limites da Plataforma Continental

28 29
das Nações Unidas deu mais cinco anos (até 2009) Na coordenação da CIRM estava a Marinha do extensão de 200 milhas náuticas, contadas a par-
para apresentação dos pedidos de extensão. Brasil, enquanto a Subcomissão para o LEPLAC tir de suas linhas de base e circunscritas em seus
AS RIQUEZAS DA AMAZÔNIA AZUL
ficou com o Ministério das Relações Exteriores. respectivos entornos. No arquipélago de São
O Brasil nem precisou dessa prorrogação: em Para o trabalho de pesquisa, a Marinha mobi- Pedro e São Paulo, localizado a 520 milhas náu-
Arquipélago de
2004, foi entregue ao Secretariado Geral da ONU a lizou quatro grandes navios oceanográficos. À ticas do litoral do Rio Grande do Norte, o Brasil São Pedro e
São Paulo
proposta brasileira de extensão de sua Plataforma Petrobras coube a responsabilidade de coor- mantém uma estação científica de pesquisas,
Continental e, em agosto, uma apresentação da denar e supervisionar as atividades relativas à operada pela Marinha e permanentemente guar- AP
proposta foi feita aos 21 integrantes da Comissão aquisição, ao processamento e à integração dos necida e habitada por pesquisadores brasileiros,
de Limites. O Brasil foi o segundo país a apresen- dados de sísmica multicanal, de gravimetria e de o que é um pré-requisito para que o arquipélago
tar proposta — a Rússia tinha feito o mesmo em magnetometria usados para a determinação da possa fazer parte da “Amazônia Azul”. Areia, cascalho
e calcário
2001, mas teve seu pedido recusado. espessura de sedimentos. O LEPLAC represen-

Submarinos |||||||||| CAP 1.0 |||||||||| Amazônia Azul


tou investimentos da ordem de US$ 40 milhões Apesar da boa apresentação, a proposta de am- PA Diamante
MA
Por três semanas, a Delegação de Peritos Bra­ entre 1987 e 2004 — a metade deles foi feita 4) No mapa dos submarinos
pliação da plataforma continental brasileira não CE RN
Enxofre
sileiros participou de reuniões de trabalho res- pela Petrobras.
pelo mundo, precisamos
foi plenamente aprovada na ONU — ficaram fal-
PI PB Fernando
colocar as legendas em portu- PE
de Noronha Cobalto, níquel,
pondendo aos questionamentos da ONU. Isso, tando cerca de 190 mil quilômetros quadrados. cobre e manganês
guês. TO AL
em função da complexidade do artigo 76 da A qualidade do levantamento brasileiro repercu- O governo federal, no entanto, desde 2010, con- Carvão
Vou te mandar. A cor laranja SE
CNUDM, que trata dos critérios para expansão da
Plataforma Continental. De forma muito superfi-
tiu internacionalmente e o País chegou a trans-
ferir conhecimentos para outros países costeiros.
sidera a Plataforma Continental estendida. Além
está se confundindo com o MT
BRASIL BA Ouro
dos vinte anos de estudos em que se baseia a
vermelho.
cial, o que se pode dizer é que é permitida a exten- Namíbia, Angola e Moçambique foram alguns argumentação brasileira, a decisão do governo é Ilhas Minerais pesados
DF Trindade e
são dos limites externos até 350 milhas náuticas. dos que buscaram orientações dos especialis- amparada pelo direito internacional. Martim Vaz
Fósforo
tas brasileiros para seus projetos de definição de GO
Com base nos critérios da CNUDM, o LEPLAC fronteiras marítimas.
MG
teve que incluir informações geodésicas, hidro-
gráficas, geológicas e geofísicas muito específi- A proposta de extensão da Plataforma Conti­ Um tesouro MS ES
cas, para caracterizar a margem continental, do nental além das 200 milhas prevê a inclusão de
Oiapoque ao Chuí. Foram coletados cerca de 230 cinco áreas: Cone do Amazonas; Cadeia Norte bem cobiçado SP
RJ
mil quilômetros de perfis sísmicos, batimétricos, Brasileira; Cadeia Vitória-Trindade; Platô de São
O ESPAÇO TERRITORIAL
magnetométricos e gravimétricos ao longo de Paulo e Margem Continental Sul. Com essas Em meio aos estudos para o reconhecimento PR
E MARÍTIMO BRASILEIRO
toda a extensão da costa brasileira. Para se ter áreas, a área oceânica brasileira chega a 4,5 mi- da extensão da plataforma continental, o Brasil, (Área em km2)
ideia, isso quer dizer que os navios fizeram o lhões de quilômetros quadrados — equivalente em 2008, anunciou a descoberta dos campos SC
Território emerso 8.500.000
equivalente a cinco voltas e meia na Terra. à metade da área terrestre e quase a área ocu- de petróleo do pré-sal. A defesa do patrimônio
Zona econômica 3.540.000
pada pela Amazônia. marinho, naquele momento, se tornava, então, exclusiva
RS
A estrutura organizacional do LEPLAC incorpora- uma das mais importantes questões estratégi- Estensão da Plataforma
Continental 960.000
va a Comissão Interministerial para os Recursos Os arquipélagos de Fernando de Noronha e de cas para o País. submetida à ONU
do Mar (CIRM), criada em 1974, para assessorar o São Pedro e São Paulo, no Nordeste, e as ilhas de
ÁREA TOTAL 13.000.000
Presidente da República na elaboração da Política Trindade e Martin Vaz, no Sudeste, são referên- A chamada província do pré-sal, segundo a (continental e marinha)
Nacional para os Recursos do Mar (PNRM). cias para a composição da “Amazônia Azul”, com Petrobras, se estende por 800 quilômetros do

30 31
32
33

Submarinos |||||||||| CAP 1.0 |||||||||| Amazônia Azul


litoral do Espírito Santo até Santa Catarina,numa A maior parte dos campos do pré-sal se encon- de potássio — usados na agricultura e, portanto, recursos marinhos, mas que ficavam um pouco Cerca de 95% das

faixa de cerca de 200 quilômetros de largura. tra no limite da Zona Econômica Exclusiva, mas muito demandados no Brasil, onde 90% dos fer- restritos ao meio acadêmico. Agora, esses estu- transações comerciais

São quase 150 mil quilômetros quadrados. Em foram também identificadas formações geoló- tilizantes ainda são importados. As jazidas se dos são incentivados pela indústria. A prospec- do Brasil com outros

toda essa área, a mais de 7 mil metros de pro- gicas semelhantes além da faixa das 200 milhas concentram na região marítima de Cabo Frio e ção biotecnológica para o desenvolvimento de países se dão pelo mar

fundidade, abaixo da camada de sal, podem ser náuticas, na área que o governo estabeleceu vêm sendo pesquisadas ainda no litoral do Ceará fármacos é um exemplo.
encontradas reservas de petróleo e gás natural. como Plataforma Continental brasileira. e no Rio Grande do Sul. Além da agricultura, a
Estima-se que essa formação se deu há mais de fosforita é usada na indústria química. Para uso na construção civil e na contenção da
140 milhões de anos quando, em decorrência O potencial econômico do subsolo marítimo bra- costa e recuperação de praias, são coletados na

O potencial econômico da movimentação das placas tectônicas, foram


separados os continentes americano e africa-
sileiro, no entanto, vai muito além do petróleo e
do gás natural encontrados na região do pré-sal.
A diversidade de organismos presentes na
“Amazônia Azul” traz oportunidades imensu-
“Amazônia Azul” — sobretudo no litoral de Santa
Catarina — bilhões de metros cúbicos de areia

do subsolo marítimo no; o acúmulo de algas e matérias orgânicas no


fundo do oceano deu origem ao petróleo e ao
Há, na “Amazônia Azul”, vastas reservas de ouro,
diamante, ferro, níquel, estanho, cobalto, cobre
ráveis. No litoral sul da Bahia, o arquipélago de
Abrolhos abriga cerca de 1.300 espécies, entre
quartzosa e cascalhos. A região é rica também
em carvão. Estudos da Companhia de Pesquisa

brasileiro vai muito gás natural. e fosfatos entre outros minerais. Pelo menos
17 variedades são estudadas pelo REMPLAC,
elas o famoso coral-cérebro, só encontrado na-
quela região. É a área de maior biodiversidade
de Recursos Minerais (CPRM) indicam que as
jazidas carboniferas de Santa Catarina podem

além do petróleo e do O petróleo do pré-sal tem alto grau de densidade


relativa, baixa acidez e baixo teor de enxofre, o
o Programa de Avaliação da Potencialidade
Mineral da Plataforma Continental Jurídica
marinha no Atlântico Sul. Desde a década de
1970, o Brasil realiza estudos para exploração de
se estender 70 quilômetros mar adentro, a 700
metros de profundidade. No litoral da Amazônia

gás natural: há vastas que representa excelente qualidade e maior valor


de mercado. Apenas oito anos desde a desco-
Brasileira, lançado pelo Governo Federal em 1997
e desenvolvido a partir de 2005.

reservas de ouro, berta da primeira reserva, a produção de petró-


leo na área do pré-sal atingiu, em 2014, mais de A Marinha do Brasil disponibilizou navios para

diamante, ferro, níquel, 400 mil barris/dia, segundo dados da Petrobras.


É o mais rápido desenvolvimento em águas ul-
pesquisa de minerais no solo e subsolo. O pro-
grama constatou, por exemplo, a existência

estanho, cobalto, traprofundas no mundo. Para se ter ideia, o golfo


do México levou 19 anos para atingir esse mesmo
de ouro na região da foz do rio Gurupi, na divi-
sa entre o Maranhão e o Pará; e, ainda, de dia-

cobre e fosfatos, nível de produção; no mar do Norte foram neces-


sários nove anos; e, na bacia de Campos (Brasil),
mantes, no sul da Bahia, próximo à foz do rio
Jequitinhonha.

entre outros minerais esse índice foi alcançado 16 anos após a primei-
ra descoberta. A expectativa da Petrobras é de As crostas cobaltíferas — ricas em minerais me-
que, até 2020, a produção do pré-sal chegue a tálicos, como cobalto, manganês, níquel, cobre e
2 milhões de barris/dia, representando 53% da terras-raras — estão sendo pesquisadas em todo
produção nacional de petróleo. o litoral do Espírito Santo até as ilhas de Trindade
e Martin Vaz (território brasileiro, a 1.200 quilô-
Com base nesses resultados, o Brasil figura entre metros da costa), no entorno do arquipélago de
os maiores exploradores de petróleo do mundo. Fernando de Noronha e no litoral nordestino.
A produção de gás natural também se destaca
— mais de 12 milhões de metros cúbicos são ob- O solo da “Amazônia Azul” é também rico no
tidos diariamente na região do pré-sal. que diz respeito a carbonatos, fosforitas e sais

34 35
e do Rio Grande do Sul, foram detectados hidra- Também a pesca constitui uma atividade eco-
tos de gás — bolsões de gás natural congelados nômica importante na “Amazônia Azul”. Hoje,
sob a pressão do subsolo. o Brasil importa cerca de 60% dos pescados que
consome. É verdade que, em sua maior parte,
O grande desafio para o Brasil é desenvolver tec- o País é banhado por águas quentes e de baixa
nologia para exploração de todos esses minerais produtividade. Mas, no extremo sul, em função
em alto-mar. Um dos trunfos do País nessa dire- da corrente das Malvinas, e no Norte, pela
ção é a técnica de exploração de petróleo e gás deságua do rio Amazonas, há maior presença
desenvolvida pela Petrobras, que pode ser adap- de cardumes. A produção anual de pescados é
tada ao setor de mineração marinha. de 2 milhões de toneladas, mas o Ministério da
Pesca persegue uma meta ambiciosa: chegar a

Submarinos |||||||||| CAP 1.0 |||||||||| Amazônia Azul


20 milhões de toneladas em 2030, cumprindo o
esperado pela Organização das Nações Unidas
Turismo e comércio para Alimentação e Agricultura (FAO). Além de
fonte de alimentos, a atividade pesqueira res-
O comércio internacional é mais um fator que ponde pelo emprego direto de uma população
aumenta a relevância da “Amazônia Azul” para o que soma cerca de 800 mil pescadores.
Brasil — 95% das transações com outros países
ocorre pelo mar. Quase todo o fluxo é realizado Assim, tanto do ponto de vista econômico como
por navios de bandeiras estrangeiras o que quer do social, a “Amazônia Azul” é um patrimônio
dizer que, quanto maiores as exportações, maior valoroso do Brasil que requer ações e políticas
é o deficit brasileiro em fretes marítimos. para a sua ocupação, exploração, conhecimento
e defesa. 
Fora isso, a via marítima contribui para a circu-
lação interna da produção nacional. Incentivos
à navegação de cabotagem e integração da
“Amazônia Azul” nas políticas de transporte A “Amazônia Azul” é
podem ter resultados significativos na redução
do custo Brasil. um patrimônio que
O turismo, por sua vez, tem sido responsável requer ações e
por um movimento cada vez maior de navios na
costa brasileira. A exploração desse segmento políticas para a sua
gera divisas e desenvolvimento socioeconômico,
assim como contribui para aumentar o interesse ocupação, exploração,
da população pelo mar.
conhecimento e defesa

36 37
38
39

Submarinos |||||||||| CAP 1.0 |||||||||| Amazônia Azul


e a defesa no brasil

40
2.0

A marinha
Mais antiga das Forças Armadas brasileiras, a Aliança, o maior conflito armado internacional
Marinha tem papel preponderante na história do ocorrido na América do Sul, teve o seu curso

e a defesa
País. O próprio descobrimento do Brasil se deu influenciado pela Batalha Naval do Riachuelo,
pela mentalidade marítima dos portugueses, travada em 1865, num afluente do rio Paraná.

do brasil
que se aventuraram na cruzada atlântica. Desde Com nove navios de guerra, o Brasil aniquilou a
então, o mar sempre representou oportunida- Esquadra paraguaia, bloqueando o acesso ao rio

Das esquadras
des e ameaças. No período colonial, as principais Paraguai e à capital Assunção.
ameaças foram as invasões estrangeiras, sobre-

portuguesas
tudo dos franceses e holandeses. Por não ter agi- Ao final da Guerra da Tríplice Aliança, o Brasil
lidade para detectar a aproximação dos invasores tinha a maior Esquadra do continente e também,
e detê-los no mar, os portugueses combatiam em número de embarcações, a quinta maior do

à atual em terra. Mais que embarcações, eram construí-


dos fortes — não por acaso, merece destaque na
mundo, perdendo apenas para as marinhas da
Inglaterra, Rússia, Estados Unidos e Itália.
história brasileira a arquitetura militar colonial.
Tanto na América como na Europa, a virada
Durante o Império, no entanto, a Marinha ganhou para o século XX foi marcada pela intensifi-
relevância. A Armada Imperial evitou a fragmen- cação da corrida naval. Alfred Thayer Mahan,
tação do País, garantiu a unidade territorial e a almirante, estrategista naval e historiador nor-
consolidação da Independência. No século XIX, te-americano, notabilizava-se discutindo a re-
importantes intervenções da Marinha ocorreram lação entre o poder naval e o desenvolvimento
durante a Guerra da Cisplatina e na Guerra da dos países. Sua principal obra — A Influência
Tríplice Aliança. Na primeira, a Esquadra brasilei- do Poder Marítimo sobre a História — desper-
ra manteve o bloqueio do estuário do Prata por tou a atenção das grandes lideranças políticas
três anos — de 1825 a 1828 — num desafio sem internacionais, aguçou a visão estratégica das
igual, pois os navios da Armada Imperial eram de marinhas e desencadeou investimentos na área
grande calado, o que dificultava a navegação na naval. Alemanha e Inglaterra começaram a
região litorânea e no delta. Já a Guerra da Tríplice construir encouraçados pesados. Os britânicos

42 43
dreadnoughts, com forte blindagem e canhões de encomendar da Inglaterra três encouraçados
de grosso calibre, logo se tornaram símbolo de do tipo dreadnought. A supremacia naval brasi-
status militar, tendo sido considerados os mais leira, no entanto, durou pouco. Logo, Argentina
poderosos meios navais da época. e Chile também adquiririam dreadnoughts. O
Brasil também sofria a dependência dos estran-
No Brasil — depois de ter atuado como consul- geiros para a manutenção e reparos dos navios.
-geral em Liverpool e superintendente geral do Para completar, com o advento dos submarinos
Serviço de Emigração para o Brasil, na Alemanha e dos porta-aviões, navios como aqueles foram
— José Maria da Silva Paranhos Jr., o Barão do estigmatizados como “elefantes brancos”.

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


Rio Branco, assumiu, em 1902, o Ministério das
Relações Exteriores. Foi o principal articulador da
política armamentista brasileira no início do sécu-
lo e defensor do incremento do poder naval.

Na época, grupos de oficiais e lideranças políti-


cas divergiam quanto aos investimentos a serem
feitos pela Marinha: enquanto uns defendiam a
aquisição de um número maior de embarcações
leves, outros almejavam os dreadnoughts. Líder
do primeiro grupo, o Almirante Julio de Noronha,
ministro da Marinha no governo do presidente
Rodrigues Alves, aprovou em 1904 o Programa
de Construção Naval, que previa a compra de
três encouraçados, três cruzadores-encouraça-
dos, seis caça-torpedeiros, 12 torpedeiras, três
submarinos e um vapor-carvoeiro. O prazo para
receber todas as embarcações era de seis a oito
anos. Dois dos encouraçados — batizados de
“Minas Gerais” e “São Paulo” — aportaram no
Brasil. O terceiro — “Rio de Janeiro” —, que seria
O Arsenal de Marinha do ainda maior, não chegou a ser entregue.
Rio de Janeiro no século XIX,

quando a navegação a Em 2006, já no governo do Presidente Affonso


vela começou a dar lugar Pena, o Programa de Construção Naval foi altera-
à navegação a vapor do. Principal defensor da compra de meios navais
de grande porte, o novo ministro da Marinha,
Almirante Alexandrino Faria de Alencar, tratou

44 45
O advento dos submarinos
Todo corpo mergulhado num fluido em repouso Unidos, contra o navio de guerra britânico “Eagle”.
sofre, por parte do fluido, uma força vertical para Tinha uma bomba fixada ao casco e foi batizado de
cima, cuja intensidade é igual ao peso do fluido “Turtle”, mas não teve êxito no ataque.
deslocado pelo corpo. Na Antiguidade Clássica, o
filósofo, matemático, físico, engenheiro, inven- O primeiro submarino do mundo que conseguiu
tor e astrônomo grego Arquimedes descobriu afundar com sucesso um navio de guerra inimigo
como calcular o empuxo e formulou o princípio foi o “Hunley”, também criado por um americano
Planta baixa do Ictineo, submarino
que mais tarde viria a ser usado na invenção e usado na Guerra Civil dos Estados Unidos, em
movido a vapor, uma criação
dos submarinos. 1864. O diferencial do “Hunley” era seu arma-
do espanhol Narciso Monturiol

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


mento — um explosivo instalado na ponta de um
A história dessas embarcações remonta a outra arpão, ou seja, um torpedo.
Ilustração do submarino
personalidade famosa: o gênio italiano Leonardo
de David Bushnell
da Vinci, também cientista, matemático, enge- Até então, os submarinos tinham que se apro-
nheiro, inventor e ainda pintor, escultor, poeta e ximar sorrateiramente dos navios de superfície
músico. Apaixonado pelo mar, Da Vinci utilizava inimigos, para fixar os explosivos nos seus cas-
um traje de mergulho feito em couro, com um cos e escapar antes da explosão. A invenção dos
esnórquel feito de cana e um cinto que flutua- torpedos aumentou notavelmente o desempe-
va na superfície. Por volta de 1515, ele desenhou nho bélico daquelas embarcações. Outro avanço
uma nave submarina. Poucos anos depois, na significativo foi o desenvolvimento do sistema
Inglaterra, outro matemático, William Bourne, de propulsão a vapor. O primeiro submarino mo-
desenvolveu o conceito do lastro para submer- vido a vapor foi o “Ictineo”, criado pelo espanhol
são e criou o primeiro protótipo de embarcação Narciso Monturiol, em 1859, e lançado em 1867.
Ilustração do submarino
para operar de forma submersa. É de se destacar que os submarinos com propul-
Hunley, que atuou na
são nuclear são também movidos a vapor — só
Guerra Civil americana
Mais de um século depois, em 1620, foi o holan- que em vez da queima de carvão, o aquecimen-
dês Cornelis Drebbel quem criou o primeiro sub- to da água para vaporização é feito pela fissão
marino navegável. Lançado no rio Tâmisa, em seu do átomo.
primeiro teste, o submarino completou uma jor-
nada de três horas. A partir daí, vários engenhei- Na virada para o século XX começaram a surgir
ros aperfeiçoaram a ideia. Pelo menos 14 projetos os submarinos híbridos diesel-elétricos. Para
foram patenteados até meados do século XVI. navegação na superfície, é acionado o motor a
Eram feitos em madeira coberta por couro embe- diesel; quando submersos, é o motor elétrico
bido em óleo impermeável e tinham remos que se que funciona. A combinação permite economia
The Nautilus:
estendiam do casco para propulsão. de oxigênio e ajuda a manter a integridade do ar
o primeiro submarino
no interior do submarino. Essa tecnologia foi a
nuclear do mundo
Em 1775, o americano David Bushnell desenvolveu mais avançada até meados do século, quando,
o primeiro submarino militar, usado, no ano se- então, os americanos lançaram o primeiro sub-
guinte, na Guerra de Independência dos Estados marino nuclear.

46 47
Força de Submarinos — operavam basicamente na baía de Guanabara,
com equipamentos ainda rudimentares. A co-

100 anos contribuindo para municação, por exemplo, era feita através de
rádio com ondas curtas. Eles ficavam submersos

o Poder Naval Brasileiro por poucas horas e tinham banheiro e cozinha


instalados no convés. A viagem mais longa que
fizeram foi, já na década de 1920, até o porto
Até 1914, a Marinha do Brasil não usava submari- de Santos.
nos. Foi para cumprir o Programa de Construção

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


Naval de 1904 que, em 1910, por esforço do Ainda assim, a Marinha do Brasil se equiparava
Capitão de Fragata Felinto Perry, o Brasil enco- à de outras nações europeias. Foram submari-
mendou ao estaleiro italiano San Giorgio de La nos da classe F que a Itália empregou contra a
Spezia três submersíveis costeiros da classe F Áustria na Primeira Guerra Mundial. Portugal
(Foca). Pesavam 370 toneladas, tinham propul- também contava com modelos semelhantes. A
são diesel-elétrica e dois tubos lança-torpedos. Marinha norte-americana, por sua vez, no início
dos conflitos, só dispunha de submarinos mais
Felinto Perry era um estudioso de submarinos atrasados — os “Holland”. Durante a guerra é que
e, desde 1901, defendia a aquisição dessas em- desenvolveu embarcações maiores. Só mesmo a
barcações pela Marinha do Brasil. Tendo sido no- Alemanha contava com submarinos capazes de
meado Chefe da Subcomissão Naval na Europa, ir até mar aberto bloquear navios ingleses.
ficou encarregado de acompanhar e fiscalizar a
construção dos submarinos em La Spezia. Foi na Primeira Guerra Mundial que se deu
a afirmação dos submarinos pois, com eles,
As embarcações chegaram ao Brasil em 1914, a Alemanha dominou as águas do oceano
a reboque, em navios tender, e deram origem Atlântico. A participação do Brasil no conflito foi
à Flotilha de Submersíveis, baseada na ilha de bastante restrita mas, dentre as forças armadas
Mocanguê Grande, na baía da Guanabara. O Rio brasileiras, coube à Marinha uma atuação militar
de Janeiro era a capital federal e a Flotilha tinha destacada, com o envio da Divisão Naval em
por missão a defesa do porto da cidade. Três anos Operações de Guerra (DNOG) para patrulha na
depois, para apoio aos “Foca”, foi incorporado à costa noroeste da África, a partir de Dakar, e no
Flotilha o navio-tender “Ceará”. A Marinha tam- Mediterrâneo, desde o estreito de Gibraltar.
Os submarinos italianos da classe bém fundou a Base de Submersíveis e a Escola
F (Foca), que deram origem à de Submersíveis, que, em 1915, formou a primei- Na Segunda Guerra Mundial, os submarinos se
Flotilha de Submarinos, em 1914; ra turma de Oficiais Submarinistas. consagraram como as grandes estrelas — a he-
e a tripulação do F1 gemonia alemã, no entanto, foi sobrepujada pelo
Os três submarinos da classe F tinham peque- domínio da armada submarina norte-americana
na capacidade de deslocamento e por isso no Pacífico. No Brasil, a Flotilha de Submersíveis

48 49
50
51

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


Na década de 1980, o foi rebatizada, em 1929, como Flotilha de
Submarinos e ganhou mais uma unidade, desta
de construção italiana, da classe “Perla”, chega-
ram à Flotilha — “Tupy” (S-11), “Tymbira” (S-12)
submarinos italianos — chegaram ao País os
fleet-type “Humaitá” (S-14) e “Riachuelo” (S-15).
A maior vantagem dos submarinos “GUPPY” era
um sistema de esnórquel que permitia recarre-

Brasil partiu em busca vez de grande porte — o submarino de esquadra


“Humayta”, da classe “Balila”, também constru-
e “Tamoyo” (S-13). Eles serviram para o treina-
mento das forças navais aliadas baseadas no
Tinham maior raio de ação e contavam com
equipamentos de detecção sonar, de armamen-
gar as baterias e grupos de ar comprimido, bem
como renovar o ar ambiente, com o submarino

da autossuficiência ído na Itália. Foi o primeiro submarino oceânico


do Brasil e cruzou o Atlântico, chegando primeiro
Brasil durante a Segunda Guerra. to e de comunicação mais avançados, mas não
eram equipamentos novos e sim remanescentes
em imersão, na cota periscópica. Já os submari-
nos da classe “Oberon”, ainda mais modernos

e iniciou o programa em Recife, para abastecimento, e, depois, no Rio


de Janeiro. Era equipado para operações de mi-
A principal tarefa da Marinha do Brasil foi garantir
a proteção dos comboios que trafegavam entre
da guerra. que os “GUPPY”, traziam inovações eletrônicas
altamente sofisticadas — tinham, por exemplo,

nacional de construção nagem — também uma novidade na época. Trinidad, no Caribe, e Florianópolis, no litoral sul.
Os alemães registram que os navios brasileiros
Em 1963, a Flotilha passou a se chamar Força
de Submarinos e ganhou outros dois fleet-type:
melhor detecção acústica e eletromagnética; e
um Sistema de Direção de Tiro computadoriza-

de submarinos Durante a Guerra, a Flotilha de Submarinos foi


incorporada à Força Naval do Nordeste, ba-
fizeram 66 ataques contra seus submarinos. A
participação da Marinha do Brasil se estendeu até
o “Rio Grande do Sul” (S-11) e o “Bahia” (S-12).
A década seguinte — de 1970 — foi marcante:
do, que representou o advento da tecnologia di-
gital na Força de Submarinos brasileira. O Brasil
seada em Recife, e participou ativamente do alguns meses após o encerramento da guerra na a Marinha incrementou a Força de Submarinos ganhou também, na época, a oportunidade de
adestramento de escoltas a comboios e do ades- Europa, quando finalmente foi assegurado que o com nada menos que outras oito unidades nor- atualizar a sua doutrina de emprego tático de
tramento de tática antissubmarino para unida- Atlântico Sul estava livre de quaisquer submari- te-americanas e três inglesas. As primeiras sete submarinos — isso porque a tripulação dos novos
des de superfície e aeronaves. A Força Naval do nos desavisados do término do conflito. eram da classe “GUPPY” (Greater Underwater meios da classe “Oberon” recebera extenso
Nordeste atuava junto à esquadra norte-ameri- Propulsion Power). Com esses submarinos adestramento operativo na Marinha inglesa.
cana, contra as forças do Eixo. Com a Segunda Guerra, a indústria militar ita- veio também dos Estados Unidos o navio
liana entrou em colapso. O Brasil passou a com- de salvamento submarino “Gastão Moutinho” O grande marco da história da Força de Sub­ma­
Os três submarinos da classe F foram desativados prar submarinos dos Estados Unidos. Em 1957 (K-10). Depois chegaram os três ingleses da rinos, no entanto, veio na década de 1980, quan-
em 1933, mas, em 1937, três novos submarinos — vinte anos depois da aquisição dos últimos classe “Oberon”. do o Brasil partiu em busca de autossuficiência

1929  O “Humayta”, da classe “Balila” 1937  O “Tamoyo”, da classe “Perla” 1963  O fleet-type “Rio Grande do Sul” 1970  O S12, modelo norte-americano “Guppy” 1977  O inglês “Tonelero”, da classe “Oberon” 1989  O “Tupi” (S30), em atividade até hoje

52 53
e iniciou o programa nacional de construção preocupações da Marinha. Prova disso foi a cons- de Vargas, Osvaldo Aranha definia a estratégia
de submarinos, como parte do Programa de trução do Centro Hiperbárico, que formou muitos de modo simples: o Brasil apoiava os Estados
Reaparelhamento da Marinha (PRM). A ideia era marinheiros em técnicas de mergulho de satura- Unidos como potência mundial enquanto o go-
reduzir a dependência externa, dominar a tecno- ção, além de desenvolver a pesquisa em medicina verno norte-americano defendia a supremacia
logia e nacionalizar ao máximo os componentes, hiperbárica e realizar experimentos e testes hiper- brasileira no Atlântico Sul.
incentivando a indústria. Foi assinado, então, um báricos em materiais submarinos.
contrato entre o governo brasileiro e o consórcio O alinhamento não impediu, no entanto, grandes
alemão Ferrostaal/HDW prevendo a capacitação Mais que reproduzir no Arsenal da Marinha do Rio trocas comerciais com a Europa — acentuadas na
técnica brasileira para a construção do primeiro de Janeiro (AMRJ) o IKL-209-1400, os engenheiros segunda metade dos anos 1930, sobretudo com

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


submarino no Brasil. e técnicos brasileiros também fizeram adaptações Itália e Alemanha. Incluíam a aquisição de navios e
e melhorias no projeto alemão, dando origem ao submarinos, para o reaparelhamento da Marinha,
Assinado em 1982, o contrato passou a vigo- “Tikuna” (S-34), incorporado à Armada em 2006. exaustivamente clamado por seus ministros
rar em 1984. Engenheiros e técnicos brasileiros É o maior submarino construído no Brasil e, por ter na época, os Almirantes Protógenes Pereira
foram à Alemanha e acompanharam a cons- incorporado inovações tecnológicas, produz menos Guimarães e Henrique Aristides Guilhem. Este úl-
trução, no estaleiro HDW, em Kiel, do primeiro ruído, pode ficar mais tempo submerso e apresenta timo, em sintonia com a política de industrializa-
submarino mencionado no contrato — o “Tupi” melhor desempenho. ção de Vargas, deu ênfase à construção no Brasil
(S-30). A embarcação — modelo IKL-209-1400 de boa parte dos equipamentos previstos no pro-
— chegou ao Brasil em 1989. Era um moderno Na década de 1990, os submarinos brasileiros fi- grama naval de1932. Além de navios, o Almirante
submarino diesel-elétrico, com baixo nível de zeram muitas viagens e exercícios navais multi- Guilhem determinou a fabricação de artilharia.
ruído, capaz de atingir alta velocidade em imer- nacionais — a Marinha do Brasil buscava atingir o
são e operar a grande profundidade. estado da arte no emprego tático de submarinos. Com o início da Segunda Guerra, Vargas negociou
com o governo do presidente norte-americano
Com a experiência adquirida, os brasileiros pude- Roosevelt o auxílio técnico e financeiro para a
ram construir outros três submarinos semelhan- construção da Companhia Siderúrgica Nacional,
tes no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, onde Política Externa em Volta Redonda, em troca do apoio no confli-
fora construída uma oficina de montagem exclu- to. Uma aliança militar foi firmada entre Brasil e
siva para submersíveis. O primeiro a ficar pronto e Defesa Estados Unidos em 1942. Durante a guerra, a na-
foi o “Tamoio” (S-31) — em 1995. No ano seguinte, vegação na costa brasileira era controlada pelos
foi lançado o “Timbira” (S-32). E, em 1999, foi in- Legado deixado pelo Barão do Rio Branco, que americanos. A Marinha do Brasil passou a contri-
corporado à Armada o “Tapajó” (S-33). ocupou por dez anos (de 1902 a 1912) o cargo de buir mais intensamente com o esforço de guerra
O “Rio Grande do Sul”, fleet type ministro das Relações Exteriores, a política ex- quando recebeu dos Estados Unidos, através do
norte-americano com maior A Força de Submarinos também ganhou, na terna brasileira manteve o País alinhado com os programa Lend-Lease, os navios com capacidade
raio de ação e equipamentos de época, o navio de socorro “Felinto Perry”, onde os Estados Unidos por décadas seguidas. O Governo antissubmarina — 24 embarcações norte-ameri-
detecção sonar mergulhadores praticavam exercícios altamente Vargas, por exemplo, acreditava que a aliança canas foram cedidas ao Brasil de 1942 a 1945.
desafiadores. A capacitação para o salvamento com os americanos traria contribuições diversas
de submarinos sinistrados e o preparo dos oficiais a seus projetos de modernizar o Estado e indus- Getúlio Vargas, assim como o representan-
para o trabalho em grandes profundidades eram trializar o País. Ministro das Relações Exteriores te da Marinha do Brasil na Comissão Mista

54 55
56
57

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


de Washington, Almirante Álvaro Rodrigues até a notícia de que também o Chile e a Argentina União Soviética, impedindo o desenvolvimento
Vasconcelos, se mostrava animado em reequipar a receberam embarcações semelhantes nas mes- das demais nações. Para o presidente, ao con-
esquadra nacional com a ajuda americana. O pre- mas condições facilitadas. Ao contrário do que dicionarem a paz mundial ao oligopólio nuclear
sidente chegou a declarar que a aliança entre os esperavam os militares e diplomatas brasileiros, que detinham, as superpotências impunham
dois países deveria se prolongar no pós-guerra a “aliança especial” não vingou. Aos Estados aos outros países um estatuto de minoridade
e que os Estados Unidos deveriam preparar mi- Unidos interessava um equilíbrio entre Chile, — científica, econômica e política. Costa e Silva
litarmente o Brasil para que defendesse os inte- Argentina e Brasil. argumentava a necessidade de o Brasil se de-
resses da América do Sul. fender regionalmente, dada a previsão de seu
A Marinha do Brasil, no entanto, manteve seu crescimento. Foi o que deu início à política de

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


Finda a guerra, no entanto, o que se viu foi o ar- alinhamento à estratégia naval norte-americana: nacionalização da segurança, desenvolvida, len-
refecimento das relações. Preocupados com os o orçamento nacional não permitia a compra de tamente, até os anos 1990.
avanços comunistas, os Estados Unidos foca- navios modernos, de modo que o País continuou
ram suas atenções nos países europeus e asiáti- a receber as embarcações americanas a baixo No governo do Presidente Ernesto Geisel, essa
cos próximos à União das Repúblicas Socialistas custo. Como consequência, não foi adiante o pro- política foi incluída no II Plano Nacional de
Soviéticas (URSS). grama de construção naval militar brasileiro. Desenvolvimento, que, entre vários itens, deter-
minava a pesquisa de fontes alternativas de ener-
É verdade que, através do Military Assistance Na época, os Estados Unidos difundiam o con- gia, inclusive nuclear. Naquela segunda metade
Program (MAP), lançado em 1952, os Estados ceito da segurança coletiva, consolidado no da década de 1970, vários eventos marcaram a
Unidos se dispuseram a transferir equipamen- continente pelo Tratado Interamericano de política externa brasileira, entre eles, a assinatura
tos militares para uma série de países, inclusive Assistência Recíproca (TIAR), de 1947, e pela do acordo nuclear com a Alemanha, em 1975.
o Brasil, a fim de que preparassem suas forças criação da Organização dos Estados Americanos
armadas para conter as ameaças comunistas. (OEA) no ano seguinte. A segurança coletiva re- Dois anos depois, em 1977, o presidente ameri-
E, também em 1952, Vargas assinou um acordo presentava a renúncia dos países a estratégias de cano Jimmy Carter suspendeu o MAP (Military
militar com os americanos comprometendo o defesa independentes, em nome do continente, Assistance Program) e Ernesto Geisel, por sua vez,
Brasil a fornecer materiais básicos e estratégi- sob a égide dos Estados Unidos. Em contraparti- denunciou o acordo militar bilateral de 1952 como
cos (urânio e areias monazíticas) em troca dos da ao sacrifício da soberania, o Brasil apostou que um limitador do desenvolvimento tecnológico. O
equipamentos militares. Mas nada foi muito receberia dos americanos o incentivo necessário presidente brasileiro assumia uma política de de-
relevante para a Marinha do Brasil. As transfe- ao seu desenvolvimento: tecnologia, incremen- fesa mais autônoma. Em 1978, visitou a República
rências para a Armada brasileira se restringiram to nas trocas comerciais, afluência de capital, Federal da Alemanha (RFA) e firmou vários acor- Lançamento de navio no Arsenal

a peças de reposição, navios de apoio e equipa- principalmente. Mas, à medida que os anos 1960 dos de transferência de tecnologias. No ano se- de Marinha do Rio de Janeiro,

mentos obsoletos. avançavam, essa expectativa era frustrada. guinte, foi o chanceler alemão Helmut Schmidt nos anos 1940; e os alunos do

que veio ao Brasil para assinar mais compromissos curso de Engenharia Naval

Ainda no início da década de 1950, atenden- Ao assumir a presidência em 1967, o Marechal de cooperação financeira e transporte marítimo. em frente à Escola Politécnica

do aos reclames brasileiros, o governo norte- Artur da Costa e Silva mudou os rumos da políti- Daquela interação entre autoridades políticas, da Universidade de São Paulo

-americano vendeu para a Marinha do Brasil, ca externa brasileira, tendo rechaçado o concei- diplomáticas, científicas e empresariais da RFA e (USP), no final dos anos 1950

a preços módicos, os cruzadores “Barroso” e to de defesa coletiva. Ele apontava que a Guerra do Brasil é que surgiu a ideia da construção de um
“Tamandaré”. A iniciativa foi valorizada somente Fria congelava o poder entre Estados Unidos e submarino brasileiro com propulsão nuclear.

58 59
A engenharia naval
A cerimônia de batismo do

A Segunda Guerra Mundial contribuiu para que S-15, modelo “Guppy”,

países em todo o mundo passassem a dar maior com a madrinha

atenção às questões marítimas e valorizassem Vera Maria G. Wollstein

mais a indústria naval. No Brasil não foi diferen-


te. Interessada em desenvolver equipamentos e
construir navios, a Marinha do Brasil se aproxi-

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


mou da comunidade acadêmica e científica.

O Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira ha-


viam criado os seus próprios órgãos de pesquisas
— a Escola de Engenharia Militar, renomeada, em
1959, como Instituto Militar de Engenharia (IME),
e o Centro Técnico de Aeronáutica, atual Centro
Tecnológico Aeroespacial, do qual o Instituto
Tecnológico da Aeronáutica (ITA) é um dos com-
ponentes. A Marinha do Brasil optou por firmar
convênio com uma universidade. A Universidade
de São Paulo (USP), reconhecida pela excelência
em engenharia, foi a escolhida. A Marinha já tinha
contato com o Instituto de Física da universida-
de, por conta do desenvolvimento de sonares, e
O presidente da Nuclebrás, procurou o Instituto de Pesquisas Tecnológicas
Paulo Nogueira Batista, (IPT) sugerindo a formação de oficiais na Escola
com Helmut Schmidt, na Politécnica. Assim surgiu, em 1956, o primei-
visita do chanceler alemão ro curso de engenharia naval do Brasil. Contava
ao Brasil em 1979 com professores do Massachusetts Institute of
Technology (MIT), especialmente convidados
pelos almirantes brasileiros para ministrar aulas
de propulsão, hidrodinâmica, estrutura e trans-
porte, entre outras disciplinas.

Eram dois os objetivos principais da Marinha: for-


mar engenheiros navais para desenvolver proje-
tos, trabalhar na construção e manutenção de

60 61
navios militares e civis; e consolidar uma cultura escritórios no campus da universidade. O desen-
tecnológica que estimulasse a indústria naval na- volvimento de sistemas de armas e comunicação
cional. Tais intuitos combinavam com a política ficava a cargo do IPqM, enquanto a parte estru-
do Presidente Juscelino Kubitschek, que havia tural e de plataforma estava sob a égide do ETCN.
lançado um ousado plano quinquenal para ace-
lerar o processo de industrialização e percebia no A Marinha, assim, atuou como fomentadora de
mar a grande interface do Brasil com o restante projetos, produção e nacionalização de sistemas
do mundo. e equipamentos da área naval com elevado ín-
dice de complexidade, reduzindo a dependência

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


A cada fim de ano letivo, os alunos do curso de tecnológica externa, baixando os custos de pro-
engenharia naval da USP faziam estágio no dução e manutenção e criando as condições ne-
Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro. A turma cessárias para a formação de uma indústria naval
que se formou em 1959 encarou o desafio, pro- com capital humano altamente qualificado.
posto pelo coordenador do curso, o Comandante
Yapery Brito Guerra, de projetar o primeiro navio A partir da segunda metade da década de 1960,
oceanográfico brasileiro. Como resultado surgiu a construção e os projetos de navios de guerra no
o navio “Professor Besnard”, construído num es- País foram intensificados com a participação de
taleiro norueguês e posto em operação em 1966. engenheiros formados nos cursos da USP e inte-
Foi o primeiro projeto e o primeiro navio resul- grantes dos órgãos de pesquisa da Marinha na
tante do convênio da USP com a Marinha. universidade. No caso dos submarinos, houve,
desde os anos 1970, um empenho especial para
A aproximação com a universidade foi bastante a capacitação técnica em projeção de cascos re-
profícua por despertar o interesse no meio aca- sistentes. A transferência de tecnologia só foi
dêmico pelas questões militares e, por outro possível por haver no Brasil técnicos aptos a ab-
lado, estimular os oficiais ao estudo e à pesquisa. sorver, adaptar e aperfeiçoar os conhecimentos.
Certa de que meios navais requerem estudos tec-
nológicos cada vez mais sofisticados, a Marinha
apostou em novos órgãos de fomento e expansão
de pesquisas. Em 1959, criou no Rio de Janeiro, A pesquisa
o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM) ocu-
pando uma área na Ilha do Governador próxima oceanográfica
ao local onde viria a ser instalada a Universidade O encouraçado inglês “Minas

do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Até 1960, a produção brasileira de petróleo era Gerais”, que chegou ao

Janeiro (UFRJ). E, com a USP, fundou o Escritório prospectada em terra e os estudos oceanográfi- Brasil no início do século XX

Técnico de Construção Naval (ETCN), que, poste- cos atendiam apenas às demandas do setor pes-
riormente, evoluiu para o Centro Tecnológico da queiro. Criado nos anos 1940, o Instituto Paulista
Marinha em São Paulo (CTMSP), ainda hoje com de Oceanografia se reportava à Secretaria da

62 63
Agricultura. Não havia urgência no desenvolvimen- Brasileiras. Mas a Marinha do Brasil não tinha As intensas atividades

to tecnológico para aprimoramento das pesquisas. navios oceanográficos modernos para a missão. do Arsenal de Marinha

No fim da década de 1960, no entanto, o Brasil Apesar das dificuldades econômicas decorren- do Rio de Janeiro no

atentou para as questões de soberania e direito tes da crise energética internacional, o governo governo do Presidente

do uso dos mares, incluindo a exploração de seus brasileiro investiu na modernização dos navios, Vargas; e a plataforma

recursos. Internacionalmente, a indústria offshore destinou à Petrobras grandes quantias para apri- autoelevatória P1,

explorava as águas da Venezuela e do golfo do moramento tecnológico em produção, transporte construída para o poço

México e se expandia para o mar do Norte. A ONU e refino de petróleo e incentivou também o setor de Guaricema (SE)

já tinha realizado suas duas primeiras conferências privado na construção naval.

Submarinos |||||||||| CAP 2.0 |||||||||| A Marinha e a Defesa do Brasil


sobre o Direito do Mar e nenhum consenso havia
sobre os limites marítimos das nações. O País acabou alcançando um patamar inédito
de atividade industrial em seus estaleiros, che-
Em 1968, o Brasil descobriu o seu primeiro poço gando a ser o segundo maior produtor mundial
no campo de Guaricema (SE). As pesquisas se de navios. Dessa forma, a década de 1970 definiu
intensificaram e outras descobertas foram fei- os rumos na história da engenharia naval, civil e
tas. A Marinha do Brasil trabalhava em parceria militar no Brasil. Não por acaso, foi nesse período
com o Conselho Nacional de Pesquisas, com a que o País começou a desenvolver a tecnologia
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, nuclear para propulsão naval. 
com universidades e com a Petrobras, nos pro-
jetos científicos e exploratórios. A partir de 1970,
quando o Brasil determinou a expansão de sua
soberania marítima de 12 para 200 milhas náu-
ticas, a Marinha, da mesma forma, estendeu sua
responsabilidade sobre a nova área marítima a
ser resguardada.

A descoberta das jazidas acelerou o desenvolvi-


mento da ciência oceanográfica visando a criação
de tecnologias para melhor detecção e explora-
ção dos recursos marinhos, especialmente o pe-
tróleo. O mundo já vivia a sua primeira crise por
falta desse recurso energético. Assim, o governo
Geisel estava determinado a encontrar jazidas
petrolíferas a qualquer custo.

A Petrobras recorreu à Marinha para acelerar a


prospecção petrolífera nas Águas Jurisdicionais

64 65
66
67

Submarinos |||||||||| Introdução


no país e o pnm

68
3.0

A energia
Grande parte do desenvolvimento da tecnologia O Brasil não tinha, na época, conhecimento do
nuclear no Brasil, desde seus primórdios, esteve potencial de suas reservas de urânio, mas ven-

Nuclear no
relacionado direta ou indiretamente à Marinha. dia aos Estados Unidos a areia monazítica, rica
Foi o Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva em tório. Cerca de 3 mil toneladas de monazita

país e o pnm
o pioneiro na defesa da pesquisa dos átomos eram exportadas anualmente, através de um
para produção de energia no Brasil. Logo após a acordo válido por três anos e prorrogável por

Primeiros
Segunda Guerra Mundial, o almirante reclamava dez triênios consecutivos, o que representaria
que os países possuidores de matérias-primas a saída de 110 mil toneladas do minério — mais

impulsos
nucleares não deveriam negociá-las apenas em do que o País havia inventariado. O Conselho de
troca de compensações financeiras, devendo Segurança Nacional pediu que o acordo fosse de-
exigir o fornecimento de reatores e outras ins- nunciado e, em 1947, o Presidente Gaspar Dutra

da Marinha talações nucleares, além do acesso à tecnologia


necessária à sua fabricação e manejo. Com essa
criou a Comissão de Fiscalização de Minerais
Estratégicos. Ainda que polêmica, a exportação

à ciência ideia, ele formulou e difundiu a sua tese das com-


pensações específicas.
de monazita continuou até 1951.

Naquele ano, Getúlio Vargas, na presidência do


Álvaro Alberto era o representante brasileiro na País, criou o Conselho Nacional de Pesquisas
Comissão de Energia Atômica da Organização (CNPq), órgão idealizado pelo Almirante Álvaro
das Nações Unidas (ONU) e ocupou a presidên- Alberto, a pedido do General Gaspar Dutra, com
cia dessa comissão nos anos 1946 e 1947. Na a missão de incorporar a produção científica à
ocasião, o Brasil rejeitou as propostas do Plano área de controle do Estado. Convidado a presi-
Baruch, que pretendia assegurar aos norte- dir o CNPq, Álvaro Alberto propôs uma políti-
-americanos o monopóio das matérias primas ca nacional de energia nuclear para o possível
nucleares no Ocidente. Álvaro Alberto classificou enriquecimento de urânio, o desenvolvimento
o plano como tentativa de desapropriação. de reatores e a diversificação de parceiros para

70 71
programas científicos e tecnológicos. Seu objeti-
vo era reduzir a dependência brasileira em relação
conhecido como Acordo do Trigo, porque garan-
tia a troca de 5 mil toneladas de monazita, 5 mil
a 20%, para uso como combustível em reatores de
pesquisa adquiridos dos Estados Unidos. E, ainda,
Defensor da pesquisa
aos Estados Unidos. A tese das “compensações
específicas” passou a orientar toda a política de
toneladas de derivados de terras-raras e ainda
todo o tório resultante do beneficiamento, por
um programa conjunto foi criado para a identifica-
ção e avaliação das reservas de urânio brasileiras.
da energia nuclear
exportações de minérios atômicos do País. Entre
as atribuições do CNPq estava o controle das re-
100 mil toneladas do grão, de forma a ajudar
os norte-americanos a resolver seus problemas Quando Juscelino Kubitschek assumiu a presi-
no Brasil, o Almirante
servas de urânio e tório. com os excedentes agrícolas. dência, novamente se viram confrontadas as po-
sições do Itamaraty — buscando sempre manter
Álvaro Alberto
Em 1953, Vargas aprovou a implantação da in- O descontentamento com os acordos que con- as boas relações com o governo americano — e
conquistou, nos anos

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


dústria nuclear no País e, ainda na presidência do trariavam os interesses nacionais e reforçavam dos setores de pesquisa e desenvolvimento tec-
CNPq, o Almirante Álvaro Alberto partiu em busca
da colaboração de países europeus. Viajou, no ano
a submissão brasileira aos Estados Unidos, as
pressões internacionais e, por fim, o suicídio do
nológico, defensores de uma política nuclear au-
tônoma para o Brasil. Tal como Getúlio Vargas,
1950, importantes
seguinte, para a França, onde conseguiu obter
tecnologia e financiamento para extração de urâ-
Presidente Getúlio Vargas, levaram à destituição
do Almirante Álvaro Alberto da presidência do
Juscelino também tentou a conciliação e, assim,
acabou promovendo iniciativas contraditórias
parcerias com países
nio na região de Poços de Caldas, em Minas Gerais;
e para a Alemanha, onde negociou a compra, por
CNPq, em 1955. — ora com investimento em instituições que
visavam à soberania nacional e à conquista de
europeus
US$ 80 mil de três ultracentrífugas para enrique- No governo Café Filho, as intenções nacionalistas independência no setor nuclear; ora com a pre-
cimento de urânio. Os alemães também concor- com relação à política nuclear foram refutadas. servação de acordos que tolhiam o desenvolvi-
daram em formar uma comissão de cientistas e Já em 1955, ele assinou a integração do Brasil ao mento científico na área — que não efetivavam
industriais que estudariam a hipótese de desen- programa americano Átomos para a Paz, que a transferência tecnológica e aumentavam a de-
volver no Brasil a fabricação desses equipamentos. previa a distribuição de tecnologia e materiais pendência em relação aos Estados Unidos.
nucleares para países com pesquisas menos
O governo brasileiro autorizou a compra das cen- avançadas, visando o uso pacífico e sob super- Num primeiro momento, JK aprofundou as
O Almirante Álvaro Alberto trífugas conforme o CNPq sugeria; e o Itamaraty visão internacional. Assim, além da exportação relações com o capital externo e manteve o
representando o Brasil em foi encarregado de coordenar a operação de de urânio e tório, o Brasil concordou com a ins- alinhamento aos Estados Unidos visando à in-
reunião na Organização transporte. Mas a transação chegou ao conheci- talação de reatores de pesquisa em laboratórios dustrialização — ele acreditava num “desenvol-
das Nações Unidas sobre mento dos norte-americanos que, em menos de inspecionados pela Agência de Energia Atômica vimentismo associado”. O Plano de Metas previa
o uso da energia nuclear 12 horas, impediram o embarque das centrífugas norte-americana de seis em seis meses. Os a ampliação da capacidade de investimento do
para o Brasil. Por ordem do Alto Comissariado Estados Unidos queriam se assegurar de que os Brasil a partir da conjugação do capital privado
dos Estados Unidos, todo o material foi apreen- estudos com os reatores teriam exclusivamente nacional com o estrangeiro e da geração de in-
dido pelo Military Security Board, órgão inglês finalidades pacíficas. centivos pelo setor público. Entre os trinta ob-
de fiscalização. Os aparelhos ficaram retidos na jetivos do plano, um se referia à produção e ao
Alemanha até o fim da ocupação do País pelas Ainda em 1955, Café Filho assinou também o uso da energia nuclear, determinando a fabri-
forças aliadas, em 1956. Acordo de Cooperação para o Desenvolvimento cação de combustíveis nucleares, a capacitação
de Energia Atômica com Fins Pacíficos. Por esse de pessoal para o setor, a construção e a ope-
Antes disso, em 1954, o Brasil assinou com os acordo, o Brasil arrendaria dos norte-americanos, ração de usinas nucleares e o desenvolvimento
Estados Unidos mais um acordo nuclear, que ficou por cinco anos, até 6 quilos de urânio enriquecido de radioisótopos.

72 73
Na assinatura do acordo energético Juscelino queria usinas nucleares de pequeno O documento também sugeria a criação da pesquisadores surgiam no meio acadêmico com
entre Brasil e Estados Unidos, em porte aumentando a geração de energia elétri- Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), o propostas que, mais tarde, seriam descartadas.
1957, o embaixador brasileiro Ernâni ca. Para tanto, nomeou uma comissão especial que ocorreu naquele ano de 1956, quando tam- Havia, por exemplo, a ideia de construção de um
do Amaral Peixoto, ladeado por Roy encarregada de desenvolver propostas de orga- bém foi criado o Instituto de Energia Atômica reator movido a urânio natural, o que reduziria
Rubotton Jr., Secretário Assistente de nização do setor nuclear. No primeiro ano do go- (IEA), ligado à Universidade de São Paulo (USP). a dependência do urânio enriquecido, até então
Estado para Assuntos Interamericanos verno, a comissão apresentou as Novas Diretrizes Presidida pelo Almirante Octacílio Cunha, a CNEN monopolizado pelos Estados Unidos.
dos Estados Unidos, e Lewis Strauss, Governamentais para a Política Nacional de estabeleceu estreita colaboração com os Estados
da AEC - Atomic Energy Comission Energia Nuclear, propondo o apoio à pesquisa e Unidos. Através de acordo de cooperação nucle- Em Belo Horizonte, no Instituto de Pesquisas, co-
beneficiamento de minerais e o controle gover- ar, dentro do programa Átomos para a Paz, o meçava a nascer o chamado Grupo do Tório, de-

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


namental sobre o comércio, a armazenagem e a Brasil comprou pequenos reatores para pesquisa fendendo o uso desse mineral como material fértil.
venda de materiais aplicados no setor nuclear — e treinamento. O IEA recebeu o primeiro deles. Outro grupo, com base no Projeto Mambucaba,
tal como defendia o CNPq à época do Almirante Outro reator foi adquirido dos Estados Unidos e propunha a construção de uma usina nuclear de
Álvaro Alberto. instalado no Instituto de Pesquisas Radiológicas 300 MW com reatores cuja maioria dos compo-
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), nentes seria produzida no Brasil. O projeto foi
fundado em 1953, em Belo Horizonte. O CNPq, apresentado ao Presidente Jânio Quadros com o
assim como com o Departamento Nacional de título Usina Atomoelétrica da Região Centro-Sul,
Produção Mineral, apoiava a comissão na pros- mas ficou engavetado após a renúncia do presi-
pecção de urânio e tório. dente em agosto de 1961.

Vislumbrando a instalação de centrais nucleares, João Goulart tomou várias medidas relativas ao
a CNEN lançou o Projeto Mambucaba, para es- setor nuclear, sempre com orientação nacionalis- Em 1959, o Presidente JK

tudos geográficos, demográficos, econômicos e ta. Em 1962, promulgou a Lei 4.118, assegurando visita o submarino “Humaitá”

energéticos de uma região entre Angra dos Reis o monopólio da União sobre a pesquisa e a lavra
e Paraty, no Rio de Janeiro — à margem do rio das jazidas de minerais nucleares. A lei também reator com componentes nacionais — à exceção
Mambucaba. garantia o comércio desses minérios, a produção do combustível. Foi chamado de Argonauta e en-
e industrialização de materiais nucleares. Ainda trou em operação dois anos depois.
Para diversificar os parceiros na área nuclear e conforme a Lei 4.118, a CNEN passou a ser uma
reduzir a dependência em relação aos Estados autarquia federal e foi reestruturada. A partir de 1964, o governo optou por adotar a
Unidos, Juscelino assinou acordos de coopera- linha norte-americana de reatores movidos a urâ-
ção para o uso pacífico da energia nuclear com a Acreditando no esgotamento do potencial hi- nio enriquecido. Em 1967, o Presidente Castelo
Itália, em 1958, com a Comunidade Europeia da dráulico do País — previsto para o período de Branco transferiu a CNEN para o Minis­tério das
Energia Atômica (Euratom) e com o Paraguai. 1975/80 — Jango recomendou a construção da Minas e Energia e a Comissão firmou um acordo
primeira central nuclear do País, usando o urânio para a construção da primeira central de geração
É fato que a década de 1950 e o início da de natural como combustível. Em 1963, o Instituto de energia nuclear. Nesse mesmo ano, o Brasil as-
1960 foram marcados por controvérsias na de Energia Nuclear, criado através de um con- sinou o Tratado de Tlatelolco, em que alguns pa-
área científica, pressões internacionais e dis- vênio da CNEN com a Universidade Federal do íses da América Latina comprometiam-se a não
putas político-ideológicas. Vários grupos de Rio de Janeiro (UFRJ), começou a construir um fazer uso do poder nuclear como arma militar.

74 75
No âmbito da América Latina, ficou estabeleci-
da, então, uma zona livre de armas nucleares.
Mas o mesmo não aconteceu no plano mundial.
Proposto pelas grandes potências nucleares —
Três propostas para Estados Unidos e União Soviética, o Tratado de
Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) vi-
o combustível nuclear sava conter iniciativas de outras nações na área
nuclear. Praticamente dividiria o mundo entre os
Na década de 1960, três grupos, sob o direcionamento da CNEN, lideravam as ativi- países que poderiam e os que não poderiam pro-

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


dades de pesquisa tecnológica visando à construção de reatores e o desenvolvimento duzir energia nuclear. O documento foi recusado
do ciclo de combustível: o Grupo de Trabalho do Reator de Potência, o Grupo do Tório pelo Brasil em 1968. O Presidente Costa e Silva
e o Grupo Lane. O primeiro (GTRP), instituído pela CNEN em 1962, contava com a reclamava o direito de dirigir com maior autono-
cooperação de técnicos franceses e sugeria a construção de uma central nuclear bra- mia a política nuclear e considerava o TNP uma
sileira, com reator movido a gás grafita e urânio natural. Propunha também que uma restrição à soberania nacional.
subsidiária da Eletrobrás fosse criada para administrar a usina. Nada aconteceu após
a mudança do regime político em 1964. Para o presidente, a energia nuclear seria o
símbolo maior do desenvolvimento científico e
O Grupo de Tório, por sua vez, surgiu no Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR), da tecnológico brasileiro. Em razão disso, ele não
Universidade de Minas Gerais, e tinha também uma proposta nacionalista de desen- aceitaria qualquer limitação aos estudos com
volver no País a tecnologia de reatores a tório. Era formado por cerca de vinte enge- o átomo. Costa e Silva também se preocupa-
nheiros representando várias instituições. Eles idealizaram um reator de 30 MW de va com a hegemonia regional brasileira e a ca-
urânio natural, água pesada e tório. Seus estudos contavam com a colaboração de pacidade de o País estar à altura da Argentina,
franceses, suíços e alemães, e o grupo resistiu até 1973, quando, finalmente, a CNEN que, na época, apresentava vantagem sobre o
optou pela importação de centrais nucleares utilizando água leve e urânio enriquecido. Brasil no campo nuclear. O presidente começa-
va, então, a pensar na diversificação de parceiros
Já o Grupo Lane desenvolveu estudos apenas em meados de 1968, sob a liderança que pudessem contribuir com o projeto brasileiro
do engenheiro americano James Lane, que havia participado do Grupo do Tório. A de autonomia na área.
recomendação era de que o Brasil não deveria desenvolver um novo tipo de reator.
Fora isso, o grupo defendia a participação da indústria nacional no programa nuclear No final de seu governo, Costa e Silva delegou a
e a operação integrada das usinas. Furnas a construção da usina nuclear de Angra I,
para produção de energia elétrica e desenvol-
A pesquisa desses grupos foi encerrada com a opção pela usina nuclear à base de vimento da tecnologia de centrais nucleares
urânio enriquecido. no Brasil. Paralelamente, o Itamaraty entregou
ao governo alemão o projeto de um Acordo de
Utilização Pacífica da Energia Nuclear, em que
foi manifestado o interesse no desenvolvimen- A construção de Angra I, a primeira usina

to de reatores a partir do ciclo do tório e outros nuclear brasileira, na década de 1970

76 77
de sondagens com a França e com a Inglaterra, foi de enriquecimento por jato-centrífugação —
com a República Federal da Alemanha que o presi- ainda não testada em escala industrial.
dente conseguiu o compromisso da transferência
de tecnologia. Assim, em junho de 1975, o presi- Para execução das atividades previstas no
dente surpreendeu a comunidade internacional Acordo, foi criada em 1974, a Nuclebrás — Em­
ao anunciar o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha. pre­sas Nucleares Brasileiras S.A., subordinada
ao Ministério das Minas e Energia. A estatal in-
Pelo acordo, os alemães, liderados pela empresa corporava a Companhia Brasileira de Tecnologia
Kraftwerk Union (KWU) construiriam oito gran- Nuclear (CBTN), que havia sido criada três anos

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


des reatores (de 1.300 MW cada), e instalariam antes, e se associou a empresas alemãs para
no País empresas de engenharia nuclear, fábricas pesquisa de minerais físseis, desenvolvimento
de equipamentos pesados para reatores, usinas do ciclo do combustível, construção de usinas
de enriquecimento de urânio. Tudo no prazo de nucleoelétricas e montagem de um parque in-
15 anos, ao custo de US$ 10 bilhões. Era o início dustrial destinado à fabricação dos equipamen-
do Programa Nuclear Brasileiro, oficialmente tos para tais usinas. O Instituto Nacional de
anunciado em 1977. O Brasil estava optando de- Propriedade Industrial (INPI) ficou responsável
finitivamente pela linha de reatores a urânio en- pelos contratos assinados entre o governo brasi-
riquecido e a Alemanha transferiria a tecnologia leiro e o governo da RFA.

Autoridades brasileiras minerais. Esse projeto daria origem a um primei- Com a crise do petróleo, a partir de 1973, aumen-
e alemãs em reunião, em ro Acordo de Cooperação entre Brasil e Alemanha tou a demanda interna dos norte-americanos pela
1975, para o acordo nuclear assinado em 1969. energia nuclear, o que levou a Comissão de Energia Depois do acordo com a
entre as duas nações; Atômica dos Estados Unidos a suspender novos
e o presidente Geisel, No governo seguinte, do General Gastarrazu contratos de fornecimento de urânio enriquecido. Alemanha, o presidente
na saída da Nuclebrás, Médici, foi feita a concorrência para a compra do Assim, em 1974, o Brasil foi informado de que não
após encontro com reator de Angra I — um PWR (Pressurized Water estava garantido o combustível para os reatores Geisel recorreu à
representantes do setor Reactor). A vencedora foi a norte-americana que a Westinghouse instalava no País. Todo o pro-
Westinghouse, subsidiária da General Electric. jeto de desenvolvimento de reatores a água leve e Marinha para promover,
Médici também assinou, em 1972, um novo urânio enriquecido ficou comprometido.
acordo com os Estados Unidos, para receber o de forma autônoma,
urânio enriquecido em troca de urânio natural. Nesse contexto é que assumiu a presidência da
Em 1971, foi estabelecida uma parceria entre a República o General Ernesto Geisel, bastante de- o desenvolvimento
CNEN e o Centro de Pesquisa Nuclear de Jülich, terminado a buscar parcerias estratégicas para
na Alemanha. capacitar o País com tecnologia nuclear. Depois na área nuclear

78 79
As pressões do governo estadunidense, no en- instalação de um reator nuclear em bases mili- Nuclear Paralelo. O enriquecimento de urânio
tanto, impediram o repasse de tecnologia alemã tares despertaria desconfianças e pressões in- por ultracentrifugação foi o método que se
previsto no Acordo, especialmente para o ciclo ternacionais. Adquirindo um reator nuclear para mostrou mais viável e eficaz para a produção do
do combustível nuclear. Geisel chegou a firmar propulsão marítima por meio do Acordo Nuclear combustível nuclear e o Presidente Geisel optou
salvaguardas com a Agência Internacional de com a Alemanha, o Brasil subordinaria suas pelo projeto da Marinha, de responsabilidade do
Energia Nuclear (AIEA) para garantir aos orga- pesquisas à Agência Internacional de Energia Comandante Othon, para dar prosseguimento à
nismos internacionais que o Brasil não romperia Nuclear. Se, no entanto, declarasse sua opção capacitação do País na área nuclear. Mas os es-
com as finalidades pacíficas no uso da energia por construir um reator com tecnologia própria, tudos continuaram sendo feitos à margem do
atômica. No entanto, percebendo os limites do comprometeria as relações diplomáticas com oficial Programa Nuclear Brasileiro, assim como

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


acordo feito com a Alemanha para o desenvol- Alemanha, Estados Unidos e demais adeptos da do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha.
vimento tecnológico nacional, o presidente re- não-proliferação de armas nucleares.
correu à Marinha e decidiu promover, de forma
autônoma, os esforços necessários para a alme- O Presidente Geisel demorou dois anos para
jada independência na área nuclear. tomar uma decisão sobre o assunto. Foi influen- O Programa Nuclear
ciado pelas considerações do Comandante Othon
Luiz Pinheiro da Silva, que havia sido enviado da Marinha
pela Marinha do Brasil ao Instituto de Tecnologia
O Programa Nuclear de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, Da decisão do Presidente Geisel em transformar
para o curso de doutorado em tecnologia nucle- o projeto de construção do submarino com pro-
Paralelo ar. Quando voltou ao Brasil, em 1978, o oficial pulsão nuclear em uma iniciativa militar autôno-
apresentou um relatório preciso e contunden- ma, surgiu, a partir de 1979, o Programa Nuclear
Em 1976, em meio às negociações de coopera- te: afirmava ser imprescindível a construção dos da Marinha (PNM). As atenções da AIEA, assim
ção nuclear, os alemães propuseram incluir a submarinos com propulsão nuclear no Brasil, mas como das autoridades políticas internacionais,
propulsão naval no acordo e sugeriram a cons- recomendava que, primeiramente, se buscasse o se voltavam apenas para o Programa Nuclear
trução no Brasil de um submarino nuclear. Isso domínio do ciclo do combustível; e, depois, fosse Brasileiro e, mesmo no território nacional, o pro-
ocorreu numa reunião de autoridades políticas desenvolvido um sistema de propulsão nuclear grama da Marinha não repercutia publicamente.
e empresários brasileiros e alemães, a bordo do usando unicamente esforço nacional.
navio mercante “Otto Hahn”, o único navio ale- Nos anos 1980, o Brasil enfrentava uma série
mão com propulsão nuclear. A sugestão foi dada Geisel convocou as três Forças Armadas para crise financeira, que refletiu no corte de recur-
ao presidente da Nuclebrás, Paulo Nogueira que se lançassem na busca do domínio completo sos para a ciência e tecnologia. Ainda assim, os
Batista, que, então, convidou o Ministério da da tecnologia nuclear e construíssem um reator. programas nucleares, que representavam para
Marinha a se pronunciar sobre o assunto. Cada qual pesquisou uma tecnologia: o Exército os militares a soberania, tiveram algum apoio do
O prédio do Instituto de Pesquisas usou reator moderado a grafite; a Força Aérea Presidente João Baptista Figueiredo.
Energéticas e Nucleares (IPEN); A primeira ideia foi a instalação de um reator de pesquisou o enriquecimento a laser; e a Marinha
e, na Nuclebrás Equipamentos propulsão naval em uma base naval para expe- investiu no enriquecimento de urânio via ultra- A Usina Angra I foi finalmente inaugurada — com
Pesados (NUCLEP), a fabricação rimentação, ensino e adestramento de técni- centrifugação. Esses esforços foram empreen- cinco anos de atraso e só podendo operar a 30%
de peças para reatores cos. Mas isso implicava uma questão política: a didos no que ficou conhecido como Programa de sua capacidade. Outras centrais previstas nos

80 81
acordos com a Alemanha foram canceladas por
falta de recursos, mas o presidente manteve os
contratos para Angra II e III.
O início das obras do

Centro Experimental de O Programa Nuclear da Marinha também recebeu


Aramar, em São Paulo; aportes do governo federal, mas o mais impor-
e o submarino nuclear tante foi o apoio dado pelo Instituto de Pesquisas
britânico HMS Conqueror, Energéticas e Nucleares (IPEN), que abrigou o
na Guerra das Malvinas programa em suas instalações no campus da USP.

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


A parceria da Marinha com a USP existia desde
1956, quando foi instituído o primeiro curso de en-
genharia naval do País. O Comandante Othon foi
um dos que se formaram pela Escola Politécnica A Guerra das Malvinas é um dos grandes exemplos da importância do emprego de submarinos convencionais e com

e a conquista do arquipélago
da USP. Fora essas afinidades, o IPEN era o único propulsão nuclear num conflito armado com forte caráter naval. Com a presença de seus submarinos nucleares em
instituto brasileiro da área nuclear não vinculado volta das ilhas, os ingleses estabeleceram uma Zona de Exclusão Total (ZET) de 200 milhas marítimas. Um ataque do
à Nuclebrás; por isso, não estava sujeito às sal- submarino nuclear britânico “HMS Conqueror” — usando dois torpedos — afundou o cruzador “General Belgrano”,
vaguardas internacionais, como todas as demais com mais de 320 tripulantes. Em decorrência, a Armada argentina se recolheu nos portos e só o seu submarino IKL-
atividades contempladas no Acordo de 1975. 209, o “ARA San Luis”, permaneceu em operação.

Um ataque submarino
O programa contou com a participação de en- A projeção de poder do Reino Unido e a dissuasão causada pelos submarinos nucleares britânicos foram observadas
genheiros de diferentes instituições e empresas pelo General Figueiredo, que, então, se convenceu da importância de dotar a força naval brasileira de submarinos
nacionais. Em fevereiro de 1980, foram inicia- com propulsão nuclear.
dos os trabalhos e já em dezembro de 1981 ficou
pronta a primeira ultracentrífuga brasileira. Além O Brasil ainda estava no início de seu processo de enriquecimento de urânio. A Argentina, por sua vez, anunciou o
dos recursos vindos do orçamento da Marinha, o domínio do ciclo do combustível nuclear em 1983, três anos depois da assinatura, pelos dois países, do Acordo de
programa passou a contar também com aportes Cooperação para o Desenvolvimento e Aplicação dos Usos Pacíficos da Energia Nuclear. Em 1985, os presidentes José
da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Sarney e Raúl Alfonsín assinaram um novo acordo de cooperação — a Declaração Conjunta sobre Política Nuclear,
conhecida como Declaração de Iguaçu.
O Presidente João Baptista Figueiredo concebia
os programas nucleares como resposta à cres- O amadurecimento do relacionamento entre Brasil e Argentina na área nuclear, com base na confiança mútua, por
cente demanda energética. Para ele, o desenvol- parte dos governos e da comunidade científica, ao longo das décadas de 1970 e 1980, resultou na criação da Agência
vimento e a construção do reator nuclear tinham Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle (ABACC), em 1991. A partir de então, a CNEN passou a inspecio-
a finalidade de produzir eletricidade. Só após a nar as instalações e tecnologias argentinas e a Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA) da Argentina fazia
Guerra das Malvinas, ele passou a considerar a o mesmo no Brasil. O acordo tripartite permitia ainda as inspeções da AIEA nas duas nações. Frente à comunidade
importância estratégica de um submarino com internacional, a ABACC fortaleceu não só os dois países como toda a região latino-americana.
propulsão nuclear.

82 83
A oficialização do Centro Experimental de Aramar foram consoli-
dadas, em 1986, na Coordenadoria para Projetos
Laboratório de Enriquecimento Isotópico (LEI),
o Centro Experimental de Aramar foi oficial-

Programa Especiais (COPESP). Na USP, as tecnologias


são desenvolvidas em escala laboratorial. Em
mente inaugurado, na presença do presidente
argentino Raúl Alfonsín, entre diversas autori-
Ao longo da década de 1980, o Programa Nuclear Aramar, são feitas as experiências piloto. Isso dades brasileiras.
da Marinha foi sendo desenvolvido nas instala- funciona até os dias atuais, sendo que a COPESP,
ções ao lado do IPEN no campus da USP, com a partir de 1995, passou a se chamar Centro Entre os engenheiros e técnicos da Marinha, o
recursos não muito volumosos, dada a crise Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP). programa de desenvolvimento da tecnologia
econômica do País. Ainda assim, os estudos Base do Programa Nuclear da Marinha, o CTMSP nuclear recebeu o codinome de Chalana e foi

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


evoluíram em ritmo intenso: em 1982, foi feita a é o responsável pelo desenvolvimento das duas dividido em quatro projetos: Zarcão, Ciclone,
primeira operação de enriquecimento isotópico frentes em que está calcado o programa: o ciclo Remo e Costado. O primeiro visava à obtenção
de urânio com a ultracentrífuga concebida, pro- do combustível nuclear e a construção do protó- de zircônio e háfnio puros, ou seja, separados.
jetada e construída no Brasil — uma conquista tipo do reator para uso no futuro submarino nu- O Projeto Ciclone englobava o desenvolvimento
que animou os pesquisadores a lançarem novos clear brasileiro. das ultracentrífugas e o seu emprego conjun-
equipamentos, ainda mais aprimorados. Como to em cascata, numa usina de enriquecimento.
resultado, dois anos depois, chegou-se à primei- O ciclo do combustível nuclear é o conjunto de O projeto Remo dizia respeito à construção da
ra operação de enriquecimento pelo sistema de etapas industriais pelas quais o urânio passa planta de propulsão, do tipo PWR, de pequenas
cascata, no qual o urânio passa por várias centrí- desde a mineração até a entrada numa usina dimensões, para ser instalada em submarino. E
fugas. A partir daí, surgiu a ideia de se construir nuclear ou num reator de submarino. Inclui o o Projeto Costado referia-se à capacitação de
uma usina de enriquecimento — já havia nove beneficiamento, a conversão, o enriquecimen- pessoal para projetar o submarino com propul-
centrifugas trabalhando em cascata. to, a reconversão e a fabricação do elemento são nuclear. Os dois primeiros foram concluídos
combustível. Tudo isso começou a ser feito com com êxito na década de 1980. Os outros foram
Em paralelo ao enriquecimento do urânio para sucesso em Aramar. E, finalmente, o Presidente retardados por falta de investimentos do gover-
produção do combustível nuclear, o Programa José Sarney decidiu tornar pública a grande con- no federal ao longo da década de 1990.
Nuclear da Marinha trabalhava no desenvolvi- quista na área científica e tecnológica: em se-
mento do protótipo de um reator, o que deman- tembro de 1987 anunciou que o Brasil dominava Em 1992, no governo do Presidente Fernando
dava uma base de testes. Para abrigar, então, a a tecnologia de enriquecimento de urânio por Henrique Cardoso, o Brasil assinou o Tratado de
usina de enriquecimento e a planta de propulsão ultracentrifugação. Não-Proliferação de Armas Nucleares. A Nuclebrás
nuclear, é que a Marinha, em 1985, adquiriu um e suas subsidiárias haviam sido desfeitas, restando
terreno, com cerca de 900 hectares, no interior A notícia repercutiu internacionalmente, mas basicamente a Nuclebrás Engenharia (NUCLEN) e
do estado de São Paulo. Fazia parte da Fazenda o presidente reforçou que o uso da tecnologia a Fábrica de Equipamentos Pesados (NUCLEP),
Ipanema, no município de Iperó, a cerca de 120 seria feito exclusivamente com fins pacíficos. em Itaguaí, no Rio de Janeiro. O restante havia
quilômetros da capital paulista. Lá foi instalado o Na Constituição de 1988 ficaria estabelecido sido incorporado às Indústrias Nucleares do Brasil
Centro Experimental de Aramar (CEA). que a atividade nuclear só poderia ser exercida (INB), empresa de economia mista criada em
dentro do País e com propósitos de paz, pre- 1988, vinculada à Comissão Nacional de Energia A Unidade de Enriquecimento

As atividades desenvolvidas pela Marinha em viamente aprovados pelo Congresso Nacional. Nuclear (CNEN) e subordinada ao Ministério da Isotópico Álvaro Alberto, no

parceria com o IPEN, tanto na USP como no Em abril daquele ano, quando ficou pronto o Ciência e Tecnologia. Centro Experimental de Aramar

84 85
As obras de Angra II, quase paralisadas na década amazônica; e o tráfico de drogas na Colômbia
de 1980 por falta de recursos, foram retomadas. O chamava a atenção internacional.
Programa Nuclear da Marinha passou a fornecer
tecnologia para a fábrica de pastilhas de combustí- Fortemente influenciada pelo Itamaraty, a PND
vel nuclear, em Resende, no Rio de Janeiro, e para de 1996 foi também centrada em ativa diploma-
a produção do combustível nuclear de Angra I e de cia voltada para a paz e em uma postura estraté-
O ciclo do combustível nuclear Angra II. O plano de construção do submarino com gica de caráter dissuasório. A Política teve como
propulsão nuclear ficou suspenso. efeito positivo comprovar a necessidade de um
Na natureza, o urânio é encontrado junto a outros elementos químicos, documento formal a respeito do tema, com ob-

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


como silício e alumínio. É preciso separá-lo para uso na fabricação do com- jetivos nacionais.
bustível nuclear. Devidamente extraído numa usina de beneficiamento,
o urânio é purificado e concentrado dando origem a um material de cor A Política de Defesa No seu segundo mandato, Fernando Henrique
amarela, conhecido como yellow cake. A próxima etapa na fabricação do Cardoso também instituiu o Ministério da Defesa,
combustível nuclear é a conversão do concentrado de urânio para o esta- Passados vinte anos de governos militares, a de- seguindo o exemplo de outros países que conta-
do gasoso. O yellow cake é dissolvido em ácido nítrico e processado até mocracia reinstalada no Brasil havia relegado o vam apenas com um representante para as três
a obtenção do hexafluoreto de urânio (UF6). No estado gasoso, é feito o planejamento estratégico de defesa a segundo forças armadas.
enriquecimento isotópico. É quando entram em ação as ultracentrífugas, plano. Em meados da década de 1990, o governo
trabalhando em cascata. Elas separam o isótopo de urânio-238 do isóto- fez um esforço de definição de diretrizes e orien-
po mais facilmente físsil de urânio-235. Esse fica concentrado e vai pas- tações e assim foi publicada, em 1996, a Política
sando por cada uma das centrífugas. No final do processo a concentração Nacional de Defesa (PND), que contribuiu para Do PNM ao PROSUB
do U-235 subiu de 0,7% (como é encontrado na natureza) para cerca de aproximar a sociedade civil das decisões políticas
4%, valor usado em reatores nucleares comerciais para geração de ener- na área da defesa. Era 2003 e a CNEN havia anunciado que o País
gia. Aí, então, ocorre a reconversão do UF6 para UO2. Inicialmente é feito estava produzindo urânio enriquecido em escala
um pó de dióxido de urânio (UO2), que, em seguida, é homogeneizado e O documento evidenciou a preocupação pri- industrial, sendo capaz de suprir 60% das necessi-
prensado formando pastilhas — de material cerâmico ou metálico. Elas mordial do Presidente Fernando Henrique com dades de suas usinas nucleares e podendo expor-
são sinterizadas e inseridas em um tubo metálico que passa a se chamar a inserção regional do País — preconizada em tar em um prazo de dez anos. Além de se tornar
elemento combustível. relação à inserção internacional. Do princípio ao independente do fornecimento do combustí-
fim, as ameaças consideradas foram as externas, vel nuclear, o Brasil poderia concorrer com ou-
provocadas por atores internacionais. tros seis produtores mundiais — apenas Rússia,
China, Japão e um consórcio envolvendo Holanda,
A região do entorno do País foi considerada, de Inglaterra e Alemanha detinham a tecnologia do
modo geral, pacífica, com apenas algumas zonas enriquecimento do urânio por ultracentrifugação.
de instabilidade. A ação de bandos armados nos Estados Unidos e França usavam a difusão gasosa.
limites da Amazônia e o crime organizado foram
destacados como ameaças. É de se recordar O anúncio fez com que o governo estaduniden-
que, na época, ocorreram conflitos entre o Peru se recorresse à AIEA pedindo a assinatura do
e o Equador na cordilheira do Condor, na selva Brasil em um protocolo adicional ao Tratado de

86 87
A ampliação da Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), o
que permitiria aos inspetores da AIEA inspecio-
Diante da natureza difusa das ameaças, a PND
recomendou a cooperação com estados vizinhos,

Plataforma Continental, nar, sem aviso prévio, qualquer instalação in-


dustrial brasileira, instituições de pesquisa civis
o aprimoramento da vigilância e do controle das
fronteiras, o fortalecimento da infraestrutura de

a descoberta de e militares e instalações nucleares (inclusive as


fábricas de ultracentrífugas), tendo acesso a má-
valor estratégico para a defesa nacional, a ma-
nutenção das forças estratégicas em condições

petróleo na camada do quinas e métodos de fabricação. de emprego imediato e, ainda, a criação de uma
mentalidade de defesa na sociedade.

pré-Sal e a atualização O Presidente Lula recusou o protocolo e alegou

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


que o processo de centrifugação de urânio havia Naqueles anos, o governo brasileiro se via envol-

da Política Nacional alcançado conquistas tecnológicas estratégicas


e, portanto, sigilosas. Na ocasião, o presidente já
vido ainda com outra questão bastante relacio-
nada à defesa: a ampliação de sua Plataforma

de Defesa marcaram se mostrava incitado a incrementar a capacidade


do País em termos de defesa.
Continental e os estudos das infindas riquezas das
águas jurisdicionais brasileiras, então intituladas

a segunda metade da Em setembro de 2003, em convênio, os


“Amazônia Azul”. Com as descobertas dos cam-
pos petrolíferos em águas profundas — o Pré-

década de 2000 Ministérios da Defesa e da Ciência e Tecnologia e o


Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
sal — a ampliação da Plataforma Continental e a
proteção da “Amazônia Azul” passaram a motivar,
e Social (BNDES) promoveram o ciclo de pales- ainda mais, a retomada dos investimentos navais.
tras O Pensamento Brasileiro sobre Segurança
e Defesa, com grandes expoentes na área. Os Para defender tal patrimônio, o Brasil precisaria
encontros, realizados na cidade de Itaipava, no incrementar a sua Marinha com equipamentos
Rio de Janeiro, foram a base para a formulação de maior poder dissuasório e se incluir no rol dos
da Política Nacional de Defesa lançada em 2005. países que contam com submarinos com propul-
são nuclear. Estavam criadas as condições para
A PND 2005 definiu objetivamente os conceitos o lançamento do Programa de Desenvolvimento
de segurança e de defesa. Tinha sua abordagem de Submarinos (PROSUB).  
ampliada, tratando de todas as novas questões
mundiais: a globalização, a revolução tecnoló-
gica, a expansão do comércio internacional e as
questões ambientais. Destacava a vulnerabilida-
de dos países detentores de maior biodiversida-
de e apontava a existência de reservas naturais
como alvo de cobiça crescente. A disputa por
áreas marítimas bem como pelo domínio aeroes-
pacial também foi vastamente abordada.

88 89
90
91

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


92
93

Submarinos |||||||||| CAP 3.0 |||||||||| A energia nuclear no País e o PNM


4.0

O Prosub
“Quanto nós vamos gastar por não termos in- Sob o comando do Almirante de Esquadra Júlio
vestido no tempo certo, na hora certa, para ter- Soares de Moura Neto, a Marinha do Brasil

Um investimento
mos as coisas prontas no momento certo?” promovia uma intensa campanha chamando
a atenção da sociedade para a importância da
A indagação é do Presidente Lula, depois de sua “Amazônia Azul”. O Brasil pleiteava o exercício
industrial, naval, visita ao Centro Tecnológico da Marinha em São
Paulo (CTMSP), em julho de 2007. Não demorou
de soberania plena sobre os 960 mil quilômetros
quadrados, além das 200 milhas marítimas no

nuclear e científico para que fosse anunciada a liberação de mais de


R$ 1 bilhão para a Marinha, parcelados em oito
Atlântico Sul. E o descobrimento das jazidas de
petróleo na região do pré-sal era alardeado no
anos. Lula estava convencido da importância do mundo inteiro.
submarino nuclear para o fortalecimento polí-
tico, militar, econômico e científico do Brasil. A Com seus novos ministros da Defesa, Nelson
partir daquele momento, o presidente iria reunir Jobim, e de Assuntos Estratégicos, Mangabeira
esforços para a conclusão do Programa Nuclear Unger, e a participação das Forças Armadas,
da Marinha, iniciado em 1979. o Presidente Lula criou um grupo de estudos
para elaborar a Estratégia Nacional de Defesa.
No CTMSP, Lula comprovou o êxito dos técnicos Apresentada e aprovada, finalmente, em de-
e engenheiros brasileiros no desenvolvimento zembro de 2008, a END enfatiza a importância
das ultracentrífugas e o almejado domínio do estratégica de três setores: o espacial, o ciberné-
ciclo do combustível nuclear. Os novos recursos tico e o nuclear.
ajudariam no processo de criação, com tecnolo-
gia própria, de uma planta nuclear de geração de Em relação à energia nuclear, a Estratégia definia
energia elétrica, incluindo um reator nuclear. A como prioridade a independência nacional pela ca-
partir dela, poderia ser planejada — e iniciada — a pacitação tecnológica autônoma. Especificamente
construção do submarino com propulsão nuclear. sobre a Marinha, o documento destacava que

94 95
deveria buscar a capacidade de projetar e fabricar empresa de capital misto — 75% pertencente ao
submarinos convencionais e com propulsão nucle- Estado francês e 25% ao Grupo Thales, especia-
ar, com investimentos e parcerias. lista em sistemas de informação.

Antecipando-se às determinações que vi- O Ministério de Defesa da França tem uma


riam por conta da Estratégia, a Marinha logo Direção Geral de Armamentos (DGA) encarre-
criou a Coordenadoria-Geral do Programa de gada de prover as três forças armadas de meios,
Desenvolvimento do Submarino com Propulsão sistemas e equipamentos. A DCNS é a fornece-
Nuclear (COGESN), para a qual foi nomeado dora desse órgão na área naval.
o Almirante de Esquadra José Alberto Accioly
Fragelli, ex-Chefe do Estado-Maior da Armada. Em Toulon, Jobim visitou a base do submarino nu-
clear de ataque (SNA) da classe Rubi, um dos mais

Submarinos |||||||||| CAP 4.0 |||||||||| O PROSUB


No começo daquele 2008, o Ministro da Defesa compactos submarinos nucleares do mundo, com
Nelson Jobim deu início a negociações com 73,60 metros e capacidade para setenta homens. Em 2008, os Presidentes da

alguns países, buscando parcerias estratégi- França, Nicolas Sarkozy, e

cas para a construção do submarino nuclear. Naquela viagem à França, foram amarrados do Brasil, Luis Inácio Lula da

As conversações convergiram para França e vários pontos do acordo de cooperação militar Silva, com os ministros da

Rússia. Mas foi somente a França que concor- anunciado semanas depois, no encontro dos Defesa dos dois países, Herve

dou em transferir tecnologia para o Brasil nos presidentes Lula e Sarkozy, na Guiana Francesa. Morin e Nelson Jobim,

níveis requeridos. Os franceses já exportavam Os dois estiveram juntos em três outras ocasiões na assinatura dos acordos

submarinos convencionais para o Chile, Malásia


e Índia; desenvolviam, com tecnologia própria,
o submarino nuclear; e empregavam métodos
e processos de fácil absorção pelos técnicos e
engenheiros brasileiros.

Assim, logo em janeiro, o Ministro Jobim via-


jou a Paris, acompanhado pelo Almirante Júlio
Soares de Moura Neto, Comandante da Marinha
do Brasil, tendo sido recebido pelo presidente
francês Nicolas Sarkozy, no Palácio do Eliseu.
Esteve também com o Almirante Pierre-François
Forissier, Chefe do Estado-Maior da Marinha
O prédio principal do francesa. Depois, visitou as instalações do es-
estaleiro de construção dos taleiro francês Direction des Constructions
submarinos do PROSUB Navales et Services (DCNS), em Toulon, no sul da
França, e em Cherbourg, ao norte. A DCNS é uma

96 97
O acordo determina naquele 2008. Na última, em dezembro, no Rio
de Janeiro, assinaram um protocolo formal para
empresarial brasileiro, explicando como o
PROSUB proporcionaria oportunidades de

que os franceses a Parceria Estratégica entre os dois países e de-


flagraram grupos de trabalho bilaterais para
avanço para os mais diversos setores da econo-
mia nacional.

não só assessorem definirem programas em diferentes áreas de


interesse. O carro-chefe da parceria foram os A DCNS logo buscou parceiros no Brasil

os brasileiros na acordos firmados entre os ministros da Defesa


dos dois países. Ainda, num terceiro nível decisó-
para a execução do Programa e selecionou a
Odebrecht. Inicialmente, a demanda era por

construção dos rio, os representantes das marinhas brasileira e


francesa também formalizaram um documento,
uma renomada empreiteira que pudesse, a par-
tir do projeto francês, construir o estaleiro e a

submarinos, como chamado Arranjo Técnico, para tratar especifica-


mente da aquisição de quatro submarinos com
base naval. Diante da expertise da Odebrecht,
a parceria se intensificou. Juntas, Odebrecht e

Submarinos |||||||||| CAP 4.0 |||||||||| O PROSUB


também ajudem a propulsão convencional diesel-elétrica (S-BR)
e com com propulsão nuclear (SN-BR). Para o
DCNS constituíram uma Sociedade de Propósito
Específiico (SPE), a Itaguaí Construções Navais

projetá-los Brasil, o mais importante, no entanto, foi o com-


promisso de transferência de tecnologia e nacio-
(ICN), em que a Marinha do Brasil tem uma
ação preferencial (golden share), e também
nalização de equipamentos. o Consórcio Baía de Sepetiba, que ficou res-
ponsável pela coordenação das interfaces e da
O acordo determina que os franceses não só as- integração do trabalho feito pelas empresas
sessorem os brasileiros na construção dos sub- envolvidas no programa, como apoio à Gestão
marinos, como também ajudem a projetá-los. realizada pela COGESN.
Além disso, eles também orientam na constru-
ção do estaleiro e da base naval para os novos Ao todo, para atender ao escopo do PROSUB,
submarinos. Tudo isso ficou consolidado no foram firmados pela Marinha, até setembro de
Programa de Desenvolvimento de Submarinos 2009, sete contratos comerciais. O primeiro deles
(PROSUB), gerenciado pela COGESN. foi assinado pela DCNS e pela ICN, versando sobre
a construção dos quatro submarinos conven-
A França oferta toda a tecnologia não nuclear cionais. Foi dividido em dois subcontratos, um
para os projetos e construções, sendo a DCNS a referente ao fornecimento dos materiais e outro
empresa responsável pela transferência do know específico para a costrução dos submarinos. O
how. Já a tecnologia nuclear — referente ao re- segundo contrato é semelhante ao primeiro, só
ator e ao combustível — é nacional e está sendo que diz respeito ao submarino com propulsão nu-
desenvolvida no Centro Tecnológico da Marinha clear. Também foi subdividido em um documento
em São Paulo, como parte do PNM. referente ao fornecimento de materiais e outro à
construção. O terceiro contrato, assinado apenas
Definidas as etapas do programa, o Ministro com a DCNS, trata da aquisição de torpedos F21 e
Nelson Jobim participou sua criação ao setor contramedidas antitorpédicas.

98 99
Prazos rigorosos e
operações coordenadas
simultaneamente
O PROSUB é uma iniciativa de extrema relevân-
cia para o País, envolvendo mais de R$ 23 bi-
lhões. Rígido e muito intenso, seu cronograma
de atividades se estende até 2025, com várias
etapas desenvolvidas simultaneamente. E, de

Submarinos |||||||||| CAP 4.0 |||||||||| O PROSUB


forma a aumentar ainda mais o desafio, o pro-
grama conta com a integração sinérgica de equi-
pes brasileiras e francesas.

Iperó, Cherbourg, Lorient, Rio de Janeiro, São


Paulo e Itaguaí — em cada uma dessas cidades,
no Brasil e na França, pessoas trabalham para o
PROSUB. A entrega dos submarinos no prazo de
144 meses (exatos 12 anos) exige a coordena-
ção e a integração de diferentes cronogramas.
E esse tem sido considerado o maior arrojo da
Marinha do Brasil: desenvolver um projeto de
tão grande dimensão em etapas simultâne-
O contrato de número 4 é o que diz respeito ao referente à tecnologia para a construção dos as — a produção do combustível, a construção
projeto e à construção dos Estaleiros, da Base submarinos convencionais; o segundo para o do reator nuclear, os testes de equipamentos, a
A Unidade de Fabricação de Naval e da Unidade de Fabricação de Estruturas projeto e construção do submarino com propul- produção das seções, a construção dos estalei-
Estruturas Metálicas, primeira Metálicas (UFEM), em Itaguaí. Foi assinado com são nuclear; e um terceiro referente ao projeto e ros, do complexo radiológico e da base naval, a
obra concluída pela Odebrecht a Construtora Norberto Odebrecht. O quinto con- construção dos estaleiros de construção e de ma- capacitação das equipes de engenheiros e técni-
em Itaguaí para o PROSUB; na trato é o que envolve o Consórcio Baía de Sepetiba nutenção, do complexo radiológico, da base naval cos na França, o desenho dos submarinos, o trei-
inauguração da UFEM, a Presidenta (CBS), e trata da administração, do planejamento e da UFEM. namento e a qualificação da tripulação — tudo
Dilma Rousseff cumprimenta o e da coordenação de tudo o que se refere ao de- vem sendo feito praticamente ao mesmo tempo
Comandante da Marinha, Almirante senvolvimento e construção dos submarinos. O Por fim, outro contrato assinado com a DCNS e de modo sincronizado.
Julio Soares de Moura Neto, e posa sexto contrato, por sua vez, foi assinado com a trata do acordo de compensação (offset) incluin-
com funcionários da fábrica DCNS e aborda a transferência de tecnologia e do tecnologia de projeto, nacionalização de com- No Centro Experimental de Aramar (CEA), em
e o Governador Sérgio Cabral assessoria técnica. Foi subdividido em três: um ponentes, equipamentos e sistemas. Iperó, o urânio é enriquecido para produção do

100 101
102
103

Submarinos |||||||||| CAP 4.0 |||||||||| O PROSUB


Uma área de 750 mil combustível nuclear. Com a inauguração da
Unidade Produtora de Hexafluoreto de Urânio
treinamento de recursos humanos para a opera-
ção desses equipamentos.

metros quadrados, (Usexa), a Marinha pode produzir anualmente


40 toneladas de hexafluoreto de urânio (UF6), No Rio de Janeiro e em São Paulo, a COGESN

em Itaguaí, no Rio de o suficiente para a produção de combustível ne-


cessária para abastecer o submarino com pro-
conta com escritórios técnicos onde estão sendo
desenvolvidos os projetos dos submarinos.

Janeiro, vai abrigar, pulsão nuclear.


Do outro lado do Atlântico — nas instalações da

além da UFEM, Também em Aramar está sendo construí-


do o Laboratório de Geração Nucleoelétrica
DCNS em Lorient e em Cherbourg, na França —,
engenheiros e técnicos brasileiros receberam

estaleiros, complexo (LABGENE), uma planta nuclear com um reator


dentro de um casco de submarino com cerca de
treinamento sobre diversas etapas da constru-
ção de submarinos e acompanharam a fabrica-

Submarinos |||||||||| CAP 4.0 |||||||||| O PROSUB


radiológico e base 10 metros de diâmetro — ou seja, um protótipo
em terra do SN-BR.
ção das primeiras seções do casco do S-BR1.

naval para o PROSUB A planta propulsora é constituída por três circui-


Em paralelo, a Odebrecht iniciou, em 2010, as
obras de construção de um complexo de 750 mil
tos: primário, secundário e de refrigeração. No metros quadrados com Unidade de Fabricação
circuito primário, a água é aquecida a 300 graus de Estruturas Metálicas, Estaleiros, Complexo
pelo calor decorrente da fissão do urânio e manti- Radiológico e Base Naval para o PROSUB,
da à alta pressão e em estado líquido. Em seguida, no município de Itaguaí, no Rio de Janeiro. O
essa água passa pelo gerador de vapor, uma tubu- PROSUB-EBN, como foi denominado o complexo,
lação em forma de serpentina. A água do gerador representa a materialização do que foi definido e
de vapor aquecida ao ponto de ebulição evapora e planejado para a defesa do País através de uma
o vapor gerado aciona as turbinas que alimentam nova força submarina. 
os geradores do sistema elétrico de propulsão e
do sistema elétrico de serviço do submarino. O
sistema é capaz de gerar 11 megawatts elétricos
(MWe), potência suficiente para iluminar uma ci-
dade de aproximadamente 20 mil habitantes.

Os principais equipamentos dos circuitos primá-


rio e secundário do reator — entre eles o vaso do
reator, os geradores de vapor, o pressurizador,
as turbinas, o condensador e geradores elétricos
— estão prontos para a montagem eletromecâ-
nica. Além dos testes em conjunto dos equipa-
mentos de propulsão, no LABGENE será feito o

104 105
106
107

Submarinos |||||||||| CAP 4.0 |||||||||| O PROSUB


5.0

Estaleiros
Em 2010, com os contratos assinados e os primei- pressurizador para Angra 3. A empresa também
ros aportes financeiros da Marinha do Brasil, teve fabricou o primeiro reator nuclear naval e partici-

e base naval
início o licenciamento ambiental pelo Instituto pou do desenvolvimento da tecnologia de fabri-
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos cação de cascos resistentes para os submarinos

Sonho em
Naturais Renováveis (IBAMA) para as obras dos das classes Tupi e Tikuna.
Estaleiros de Construção e de Manutenção dos

concreto
Submarinos e da Base Naval (PROSUB-EBN), no Atualmente, a NUCLEP tem 95 mil metros qua-
município de Itaguaí, na chamada Costa Verde. drados de área construída e conta com um ter-
minal portuário privativo roll-on/roll-off para
Uma conjunção de fatores levou à escolha do cargas indivisíveis de até 1 mil toneladas. Bem ao
município — distante apenas 70 quilômetros da lado dessa estrutura — a menos de 2 quilôme-
capital — para abrigar o novo complexo: Itaguaí tros — foram iniciadas, em 2010, já no contexto
está equidistante dos limites norte e sul das do Prosub-EBN, as obras da UFEM (Unidade
bacias petrolíferas descobertas na costa atlân- de Fabricação de Estruturas Metálicas).
tica brasileira; a cidade desfruta da infraestru-
tura industrial do Rio de Janeiro; tem logística A proximidade entre as duas empresas é estra-
favorecida pela presença do Porto de Sepetiba; tégica: a NUCLEP é encarregada da mecânica
está próxima das três usinas nucleares do País pesada; com suas enormes prensas, calandras e
— localizadas em Angra dos Reis — e é onde se máquinas de corte e solda, molda chapas de aço,
encontra instalada a Nuclebrás Equipamentos formando anéis metálicos que são as subseções
Pesados S.A. (NUCLEP), indústria de base, cria- dos cascos dos submarinos. Em seguida, essas
da em 1975, no âmbito do Programa Nuclear subseções cilíndricas são alinhadas e unidas,
Brasileiro. dando origem às quatro seções que compõem o
o casco resistente do submarino. A UFEM é res-
Reconhecida internacionalmente como um cen- ponsável pelo “recheio do casco”, ou seja, pela
tro de excelência, a NUCLEP forneceu acumu- produção, instalação e montagem das estruturas
ladores e condensadores para a usina nuclear internas, tubulações, dutos, suportes, sistemas e
Angra 2, geradores de vapor para Angra 1 e um equipamentos nas seções.

110 111
Da NUCLEP, as seções passaram diretamente
para a UFEM. A fábrica foi inaugurada em 2013,
após dois anos e quatro meses de construção,
conforme estipulava o cronograma. Foi o primeiro
compromisso cumprido com êxito no âmbito do Revolucionando a engenharia
PROSUB-EBN.
Durante toda a obra de construção do PROSUB-EBN, a engenharia, a tecnologia e a
A UFEM é uma indústria de alta tecnologia que criatividade dos profissionais envolvidos são desafiadas. A montagem da maior prensa
reúne 5,5 mil toneladas de aço, 41 quilômetros de hidráulica da América Latina — com peso total superior a 1,2 mil toneladas e capacida-
tubulações, 345 quilômetros de cabos elétricos, de para 8 mil toneladas — foi uma das tarefas desafiadoras. A prensa é o equipamento

Submarinos |||||||||| CAP 5.0 |||||||||| Estaleiros e base naval


cinco subestações elétricas, 16 pontes rolantes e que dobra as chapas de aço feitas para as calotas dos cascos dos submarinos. Para
mais de 4 mil equipamentos. Além do curto prazo abrigá-la foi construído um prédio especial. E a prensa só pôde ser montada depois que
de construção, o índice de nacionalização dos esse prédio foi totalmente concluído, inclusive com a cobertura, pois o equipamento
itens utilizados nas obras e na operação da fábrica não poderia pegar poeira e partículas que prejudicassem seu sistema hidráulico. Como
é surpreendente: 95% foram adquiridos no mer- não foi possível usar guindastes, a montagem se deu por empilhamento. E foi neces-
cado brasileiro. sária uma perfeita sincronia para que os componentes chegassem no momento ade-
quado da montagem. Entre esses componentes esteve uma mesa de 225 toneladas,
O processo começou quando a Marinha do Brasil um martelo de 200 toneladas e o cabeçote com 210 toneladas. As porcas que fixam
repassou para a Odebrecht as especificações do algumas partes do conjunto são peças de 2.500 quilos e há ainda os cilindros hidráuli-
que seria necessário para o funcionamento da cos, com 70 toneladas cada.
Na UFEM, a seção de vante Das quatro seções que compõem o casco resis- fábrica. As áreas de Engenharia e Suprimento,
do primeiro submarino tente do S-BR1, as duas de vante foram fabricadas então, partiram para a escolha de fornecedores Outro momento de tirar o fôlego foi a instalação da câmara hidrostática, equipamento
(S-BR1) recebe os sistemas na França, com participação de técnicos e enge- e análise de propostas técnicas e comerciais para que simula o ambiente de operação de um submarino em grandes profundidades para
e equipamentos internos nheiros brasileiros. Em 27 de maio de 2010, numa aquisição dos itens. realização de testes de vazamento e pressões de redes, conexões e cabos do subma-
cerimônia simbólica no estaleiro da DCNS, foi rino. A câmara veio da França e teve que ser içada para entrar em seu local específico
feito o corte das chapas metálicas dessas seções. Dado o grau de especificidade das peças de- — a Oficina de Trânsito e Tubulação — pela cobertura. Para isso, foi prevista uma seção
Cada uma das duas estruturas — com 25 metros mandadas, não foram poucas as vezes em que removível do telhado do edifício. Não bastasse a complexidade da operação, ainda
de comprimento, 6 metros de largura e 12 metros os fornecedores desenvolveram produtos es- houve a preocupação em fazer a movimentação do equipamento pelo lado externo da
de altura— pesava 220 toneladas. Em junho de pecialmente para atender o PROSUB-EBN. oficina para não prejudicar o ritmo das atividades dentro da UFEM.
2013 elas foram enviadas ao Brasil. Chegaram ao Nesses casos, as equipes de Suprimento e
porto de Sepetiba, em Itaguaí, no Rio de Janeiro, Comissionamento acompanhavam a fabricação
e, por balsa, seguiram para o cais da Nuclebrás do componente, que depois passava por inspe-
Equipamentos Pesados (NUCLEP), onde estavam ções e testes diversos. Assegurar o recebimento
sendo feitas as outras duas seções do S-BR1. A dos equipamentos em conformidade com as es-
NUCLEP tambémjá se preparava para o corte das pecificações e no prazo adequado foi uma mis-
chapas usadas no casco do segundo submarino do são respeitável que demandou esforços mútiplos
programa, o S-BR2. e foi cumprida com extremo êxito.

112 113
Na cerimônia de inauguração da UFEM, a
Presidenta Dilma Rousseff reconheceu os esfor-
de 703 metros de comprimento e 14,5 metros
de largura — o suficiente para o transporte das
“O PROSUB mostra a
ços empreendidos e destacou a importância do
conteúdo local. Para Dilma, o PROSUB mostra a
enormes peças que sairão da UFEM para a mon-
tagem do submarino na área sul. Além de facili-
capacidade da empresa
capacidade da empresa privada brasileira, que
constrói um empreendimento de grande enver-
tar o transporte, o túnel permite melhor controle
de acesso e, consequentemente, maior seguran-
privada brasileira,
gadura; da Marinha, que o concebe; e de milha-
res de indústrias que fornecem equipamentos.
ça ao local em que serão construídos e operados
os submarinos.
que constrói um
A Presidenta também considerou que a UFEM,
que recebeu investimento de R$ 1,5 bilhão, re- A área sul ocupa 487 mil metros quadrados,
empreendimento de

Submarinos |||||||||| CAP 5.0 |||||||||| Estaleiros e base naval


presenta um polo de referência. destinados a montagem, lançamento, opera-
ção e manutenção dos submarinos. São qua-
grande envergadura;
tro grandes áreas: um estaleiro de construção,
um estaleiro de manutenção (dos equipamen-
da Marinha, que o
Áreas sul e norte tos e sistemas), a base naval e o complexo
concebe; e de milhares
radiológico.
Em paralelo à construção da UFEM, a Odebrecht
iniciou as obras dos estaleiros e da base naval para O estaleiro permitirá a construção simultânea de
de indústrias que
o PROSUB, divididas em duas áreas: norte e sul. A
área norte fica a 3,5 quilômetros de distância da
dois submarinos. A base naval terá capacidade
para atracação de navio socorro de submarinos,
fornecem equipamentos”
UFEM. São 103 mil metros quadrados, que abriga- rebocadores portuários, lancha de apoio ao mer-
Dilma Rousseff
rão um centro de descontaminação radioativa, ter- gulho e embarcação de recolhimento de torpe-
minal dos ônibus de circulação interna, instalações dos, além dos submarinos convencionais e com
para hospedagem de visitantes, laboratório de propulsão nuclear.
monitoramento ambiental, escritórios da área ad-
ministrativa do programa e um Batalhão de Defesa O conjunto terá dois píeres de 140 metros de ex-
Nuclear, Bacteriológica, Química e Radiológica. tensão e duas docas com 140 metros, além de
oficinas e áreas administrativas, para abrigar o
Inicialmente, no entanto, a área norte funcio- Comando da Força de Submarinos, o adestra-
nou como canteiro industrial, dando suporte às mento das tripulações e todo o apoio às em-
obras dos estaleiros e da área sul da base naval. barcações. base naval. Um elevador de navios
Projeção da Área Sul, com Foram construídas no local as estacas metálicas — shiplift — com capacidade para suportar 8 mil
o complexo radiológico e as peças de concreto pré-moldado para todo o toneladas, colocará os submarinos no mar.
(ao fundo), os pieres (à empreendimento.
esquerda) e o elevador de O complexo radiológico, onde serão feitas as tro-
submarinos (à frente) Para interligar as áreas sul e norte da base naval, cas do combustível nuclear, equivale a um prédio
a Marinha optou pela construção de um túnel de 16 andares. A construção é interligada a duas

114 115
docas secas, específicas para os submarinos A Base Almirante Castro e Silva, que abriga a
com propulsão nuclear. Há ainda uma unidade Força de Submarinos, desde 1941, na Ilha de
móvel, feita em estrutura metálica, totalmente Mocanguê, em Niterói, será aos poucos trans-
blindada, para acesso ao reator instalado dentro ferida para a nova Base Naval do PROSUB,
do submarino. em Itaguaí. 

Por abrigar essa planta nuclear, a obra aten-


de aos mais rigorosos padrões de segurança. A
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)
acompanha todas as etapas do projeto, proven-

Submarinos |||||||||| CAP 5.0 |||||||||| Estaleiros e base naval


do a classificação das estruturas, para emitir as
respectivas licenças de construção e operação.

O projeto civil das áreas nucleares também é ava-


liado por verificadores independentes, que che-
cam cada cálculo. Também é preciso garantir que
o empreendimento seja resistente a quaisquer
fenômenos naturais e antrópicos, mesmo que de
probabilidades raríssimas, como abalos sísmicos,
tsunamis, tornados e até variações do nível do
mar decorrentes de qualquer degelo da calota
polar. Especialistas em diferentes áreas foram
contratados para apontar os riscos mais imprová-
veis e as medidas preventivas a serem adotadas.

À exceção do complexo radiológico, toda a cons-


trução do estaleiro e da base naval está sendo
feita com a orientação da DCNS. É a primeira
vez, no Brasil, que se constrói uma estrutura
específica para submarinos. A experiência inter-
nacional e na área nuclear da Odebrecht garante
a capacidade de absorção dos conhecimentos
transmitidos pelos franceses e sua adaptação à
realidade brasileira.

116 117
118
119

Submarinos |||||||||| CAP 5.0 |||||||||| Estaleiros e base naval


6.0

Responsabilidade
Em suas múltiplas etapas, o Programa de De­ deles é o Programa Acreditar de Qualificação
volvimento de Submarinos (PROSUB) tem
sen­ Continuada, desenvolvido pela Organização

socioambiental
promovido uma série de benefícios sociais e Odebrecht e implantado em mais de 10 estados
ambientais. A geração de empregos e, principal- brasileiros e 11 países.
mente, a qualificação profissional são relevantes.
Trabalho, renda Grande contingente de profissionais de diversas O Acreditar foi criado em 2008, em Porto Velho,
áreas tem se capacitado para atuar em cada um Rondônia, com o intuito de oferecer qualificação
e preservação dos contratos do programa, inclusive nas indús-
trias fornecedoras de materiais e equipamentos.
de mão de obra para o setor da construção civil
pesada e suprir a necessidade de trabalhadores
para as obras da Usina Hidrelétrica Santo Antonio,
Para se ter ideia, no pico das obras dos estalei- no rio Madeira. Na capital e no entorno não havia
ros e da base naval, serão gerados cerca de 9 mão de obra qualificada para ocupar nem 30%
mil empregos diretos e 32 mil indiretos. Já para das vagas oferecidas pela usina. Com o progra-
construir os submarinos serão necessários apro- ma, foram capacitados 11 mil moradores de Porto
ximadamente 5.600 trabalhadores diretos e ou- Velho de modo a atender 80% da demanda.
tros 14.000 indiretos. Só essa oferta de empregos
vem desencadeando um processo de formação e Replicado em diversas localidades, o Acreditar se
qualificação de mão de obra sem precedentes. consagrou como uma das mais importantes fer-
ramentas da Organização Odebrecht para apoio
Acostumado à presença de indústrias e ao mo- ao desenvolvimento social, tendo recebido vá-
vimento do porto, o município de Itaguaí é palco rios prêmios, inclusive internacionais. O material
dessa transformação social. Isso porque gran- didático é elaborado pela Odebrecht e cerca de
de parte da mão de obra para o PROSUB-EBN R$ 12 milhões são investidos no programa anu-
foi contratada localmente e não são poucos os almente. Desde 2008, mais de 74 mil pessoas
programas de inclusão social e capacitação téc- foram capacitadas e quase 44 mil foram contra-
nica oferecidos aos moradores do município. Um tadas para atuar nos projetos da empresa.

122 123
Em Itaguaí, o Programa Acreditar, em parceria o curso básico e uma centena se certificou no
com a Marinha do Brasil, foi implantado, no início curso de Excel. O Caia na Rede também é um
de 2010, e, em quatro anos, formou cerca de 450 programa da Organização Odebrecht, implan-
pessoas em diversas especialidades: solda, traço tado, com êxito, em vários estados brasileiros e
de corte, interpretação de desenho industrial, ins- no exterior.
trumentação e controle, instalações de sistemas
elétricos industriais, mecânica de manutenção, O Inglês num Click, por sua vez, é um programa
operação mantenedora, entre outras. Os cursos de educação básica no idioma, conduzido em par-
incluem aulas práticas e teóricas e a carga ho- ceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem

Submarinos |||||||||| CAP 6.0 |||||||||| Responsabilidade socioambiental


rária varia conforme a disciplina. O de solda, por Industrial (SENAI). Tal como no Caia na Rede, as
exemplo, dura seis meses, com 692 horas-aula. aulas são ministradas na Ilha da Madeira. Sete
Mais da metade dos formados foi imediatamente turmas reúnem mais de cem moradores. Em sua
contratada para trabalhar nas obras do estaleiro maioria, eles buscam aproveitar oportunidades
e cerca de cem profissionais foram promovidos de trabalho nas grandes indústrias multinacio-
em menos de um ano. Sendo um programa de nais que se instalam em Itaguaí, assim como no
qualificação continuada, o Acreditar tem manti- setor de turismo, bastante incentivado na região.
do cerca de setecentas pessoas em formação no
município de Itaguaí. A Ilha da Madeira é um tradicional reduto de pesca-
dores artesanais. Esses marujos tiveram também
Como o PROSUB também é um programa de oportunidade de ingressar na Marinha Mercante
longo prazo, com volume crescente de ativida- a partir do curso Moço de Convés, promovido
des, exige capacitação de pessoal permanente. pela COGESN, nas instalações da Associação
Mas, além de atender à demanda interna do pro- de Pescadores e Lavradores da Ilha da Madeira
grama, essa capacitação favorece a inclusão de (APLIM). Conduzido pelo Instituto Rumo ao Mar
pessoas no mercado de trabalho como um todo. (RUMAR), com o apoio da Delegacia da Capitania A oferta de trabalho
E, com esse propósito, são realizados outros dois dos Portos em Itacuruçá, o curso formou aquavi-
programas educacionais, também em parce- ários para atividades em rebocadores, dragas de no PROSUB vem
ria com a Marinha do Brasil: o Caia na Rede e o grande porte, embarcações de apoio marítimo,
Inglês num Click. O primeiro é uma iniciativa de embarcações de turismo e outras. desencadeando um
inclusão digital que conquistou grande adesão da
No pico das obras dos população, em especial da Ilha da Madeira, onde Por ocasião da elaboração do Estudo de Impacto processo de formação
estaleiros e da base naval, está sendo construído o Estaleiro e a Base Naval Ambiental do PROSUB-EBN, foram apuradas as
serão gerados cerca de do PROSUB. A comunidade, um pouco isolada demandas dos pescadores da Ilha da Madeira e e qualificação
9 mil postos de trabalho do município, não tinha acesso fácil à Internet, ficou evidente a necessidade de programas em
diretos e 32 mil, indiretos tampouco era familiarizada com informática. benefício da pesca artesanal e da maricultura, profissional sem
Com o programa Caia na Rede, quase trezentos que vêm sendo gradualmente implementados.
moradores — de idades variadas — concluíram Visando legalizar as atividades dos pescadores precedentes

124 125
e de suas embarcações, a COGESN promove Agrário e a Emater (Empresa de Assistência O programa Alimento

reuniões com a participação de representan- Técnica e Extensão Rural do Estado do RJ). Justo oferece assessoria

tes da Superintendência Federal de Pesca do técnica para produtores

Rio de Janeiro e da Delegacia da Capitania dos O objetivo é capacitar o agricultor local para que rurais de Itaguaí e garante o

Portos em Itacuruçá. Estão previstos também, a trabalhe de forma autônoma e sustentável, au- escoamento dos produtos,

serem promovidos pela COGESN, cursos de ma- mentando sua renda familiar e sua qualidade que são adquiridos para o

ricultura para os pescadores artesanais da baía de vida. O programa tem ainda como resultado refeitório do PROSUB

de Sepetiba. A COGESN promoveu, ainda um o resgate da autoestima e o desenvolvimento


workshop sobre gerenciamento costeiro, com a pessoal das famílias. Cada uma delas foi visi-

Submarinos |||||||||| CAP 6.0 |||||||||| Responsabilidade socioambiental


participação da Prefeitura de Itaguaí e represen- tada por um engenheiro agrônomo. Eles aju-
tantes da comunidade. daram os produtores a fazer um planejamento
de produção e prestaram assistência técnica
no plantio.

Agricultura familiar Os produtores também foram orientados


a obter a Declaração de Aptidão (DAP) do
Enquanto na Ilha da Madeira a principal atividade Programa Nacional de Fortalecimento da
de subsistência permanece sendo a pesca, nos Agricultura Familiar (PRONAF). Esse docu-
demais bairros de Itaguaí a agricultura e a pecuá- mento é uma credencial para o acesso às polí-
ria que, em décadas passadas, tiveram destaque ticas públicas do Governo Federal. Permite, por
na economia do município, aos poucos foram exemplo, o fornecimento de produtos agríco-
perdendo espaço para os setores secundário e las a creches, escolas e hospitais públicos; dá
terciário, diante da instalação de grandes em- acesso a linhas de crédito e de financiamentos,
preendimentos industriais na região. Pequenas com juros reduzidos, para melhoria da produ-
propriedades agrícolas restaram como fonte de ção; entre ou­tros benefícios.
renda para algumas famílias, porém com baixa
produtividade. Itaguaí passou a consumir pro- Por fim, o programa Alimento Justo garante
dutos vindos de outros municípios. aos produtores a comercialização direta de seus
produtos para abastecimento dos refeitórios do
Para reestruturar o setor e induzir o desenvolvi- PROSUB-EBN.
mento dos pequenos produtores, a Marinha e a
Odebrecht lançaram o programa de agricultura
familiar Alimento Justo, que conta com a parce-
ria de diversas entidades e órgãos públicos, entre
estes, a Prefeitura Municipal de Itaguaí, o Banco
do Brasil, o Ministério de Desenvolvimento

126 127
128
129

Submarinos |||||||||| CAP 6.0 |||||||||| Responsabilidade socioambiental


Nos estudos ambientais feitos para instalação
do PROSUB-EBN, em Itaguaí, foram identifica-
dos bolsões com a presença de metais pesados
(cádmio, níquel, chumbo e zinco). A Odebrecht,
então, iniciou um trabalho de precisão para retirar
o material do fundo da baía sem que ele se espa-
lhasse e aumentasse a contaminação. Todo o ma-
terial poluído — cerca de 300 mil metros cúbicos
de sedimentos (o equivalente a 20 mil caminhões

Submarinos |||||||||| CAP 6.0 |||||||||| Responsabilidade socioambiental


carregados) — foi devidamente acondicionado
em sacos Geotube (tecido de polipropileno de
alta resistência, que permite a drenagem da água
livre de contaminantes). Esses sacos foram depo-
sitados, em terra, na Unidade de Decantação de
Contaminados Químicos e cobertos por solo, sem
qualquer risco para o meio ambiente.

Com a dragagem, além da descontaminação e


da retirada de sedimentos de lama, o canal em
frente à Ilha da Madeira foi aprofundado, per-
mitindo um fluxo maior de água limpa para a
baía nas marés de enchente, o que favoreceu a
flora e a fauna. Essa foi uma das constatações
dos monitoramentos da biota aquática, promo-
A qualidade da água da Baía vidos como parte do Plano Básico Ambiental
de Sepetiba é monitorada, de do PROSUB-EBN. Por meio desses monitora-
forma a garantir a preservação Por uma baía limpa mentos são avaliadas quaisquer alterações do
da flora e da fauna marinhas; ecossistema marinho. O Plano Básico Ambiental
os golfinhos se mantêm Antes mesmo de serem iniciadas as obras do inclui ainda o monitoramento do ruído antrópico
frequentes na região PROSUB em Itaguaí, a Marinha do Brasil deu subaquático e das correntes marítimas. Uma das
uma bela demonstração de seu compromisso preocupações do PROSUB-EBN é não interferir
com a preservação ambiental ao fazer a dra- na população de golfinhos Sotalia guianensis
gagem de solo contaminado por resíduos in- — os chamados botos-cinza — bastante fre-
dustriais numa área da baía de Sepetiba. Esse quentes na baía de Sepetiba. Esses mamíferos
passivo ambiental havia sido deixado por uma medem cerca de 2 metros de comprimento e
indústria que se instalou na região nos anos pesam em torno de 90 quilos. Vivem em grupos
1950 e foi desativada na década de 1980. e se alimentam de peixes e moluscos. A maior

130 131
concentração de botos-cinza desde o Panamá,
na América Central, até Santa Catarina, no sul
de Energia Nuclear). Para atender às exigên-
cias da Comissão, o projeto da Base Naval e dos
Prevenção e segurança
brasileiro, está na baía de Sepetiba. Para garantir
que eles permaneçam na região, a área de Meio
Estaleiros sofreu mais de vinte alterações de
layout até obter todas as licenças.
no trabalho
Ambiente do Prosub-EBN fez uma parceria
com a organização não governamental Instituto A CNEN também acompanha os trabalhos fei- Cuidar do ambiente significa também cuidar
Boto-Cinza, que, desde 2009, vem pesquisan- tos no Centro Experimental de Aramar (CEA). das pessoas que dele fazem parte. Por isso, o
do a fauna marinha da baía. Durante as obras Lá, o Laboratório Radioecológico (LARE) tem a PROSUB dirige atenção especial às condições de
marítimas de dragagem e de enrocamento do responsabilidade pelo controle de efluentes, se- segurança e uma das mais importantes iniciati-

Submarinos |||||||||| CAP 6.0 |||||||||| Responsabilidade socioambiental


Estaleiro e Base Naval, o Instituto Boto-Cinza fez guindo as mais rigorosas normas internacionais. vas é o Programa PréVer, também desenvolvido
um monitoramento de ruído antrópico e concluiu No Programa de Monitoração Ambiental do CEA, pela Organização Odebrecht e implantado em
que não houve impacto sobre os mamíferos. aprovado pela CNEN, são coletadas amostras — diversas empresas do grupo no mundo.
de água dos rios, da chuva e de poços; do solo; de
O Plano Básico Ambiental do Prosub-EBN se es- filtros de ar; de peixes, ovos, produtos agrícolas, Como o nome indica, a prevenção é o foco do
tende por toda a área do empreendimento, com leite, sedimentos dos rios, entre outras — em 56 programa. A estratégia é identificar as áreas de
controles da qualidade do ar, da vegetação nativa, pontos distribuídos num raio de 10 quilômetros. risco e reduzi-las para, com isso, evitar quaisquer
da poluição sonora, dos efluentes, entre outros. A partir dessas amostras, é feita a monitoração acidentes, perdas e danos. O programa começa
No total, 46 programas ambientais são desenvol- radiológica e também a análise da presença de com a observação das atividades por engenhei-
vidos de forma a mitigar e compensar quaisquer metais pesados e outros poluidores. ros e técnicos de segurança. Eles avaliam as con-
impactos das obras. As atividades e os relató- dições de trabalho não só nas áreas de maior risco
rios são acompanhados pelo Instituto Brasileiro A região em que está instalado o CEA era de flo- — serviços em circuitos elétricos, deslocamento
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais resta e sofreu com a ocupação desordenada do veicular, operação de equipamentos pesados,
Renováveis (IBAMA), órgão ambiental licenciador entorno. Muitas espécies animais foram afasta- atividades em altura —, como também nas mais
do empreendimento na Ilha da Madeira. das. Assim, o Programa Ambiental do CTMSP corriqueiras. Depois das inspeções, sugerem si-
também promove a recuperação florestal. E, nalização, treinamentos, equipamentos de se-
Além dos programas, são feitos treinamentos como resultado, animais selvagens, como as gurança, melhores procedimentos etc. O PréVer
e campanhas educativas junto à comunida- onças, voltam a encontrar seu hábitat nas matas. é complementado com outro programa focado
de visando a preservação do meio ambiente. na avaliação comportamental das equipes. Esse
Os moradores são convidados a opinar, recla- programa identifica o nível de conscientização e
mar e sugerir medidas. Para isso, foi criado um comprometimento dos funcionários com as nor-
Centro de Atendimento ao Público na entrada mas de segurança.  
do empreendimento.

Além do licenciamento do IBAMA, para as ativi-


dades relacionadas à planta nuclear, há um pro-
grama de controle e monitoramento ambiental
acompanhado pela CNEN (Comissão Nacional

132 133
134
135

Submarinos |||||||||| CAP 6.0 |||||||||| Responsabilidade socioambiental


7.0

tecnologia e
Desde 2010, cerca de quatrocentos brasileiros Itaguaí Construções Navais (ICN) e sessenta da
estiveram na França participando dos cursos e NUCLEP. Lá eles puderam se qualificar em diver-

nacionalização
programas de formação referentes ao PROSUB. sos serviços como soldagem, conformação de
São, em geral, oficiais da Marinha e funcionários peças, fabricação de estruturas, entre outros.
das empresas parceiras no programa — a Itaguaí
A transferência Construções Navais, principalmente. Vestindo Depois, como parte do acordo de transferên-
uniforme verde com a bandeira brasileira, eles cia de tecnologia para o Brasil, a DCNS inaugu-
de conhecimentos percorrem praticamente todas as áreas da
DCNS, acompanhando as diversas etapas da
rou uma Escola de Projeto de Submarinos em
Lorient. Foi onde 31 engenheiros militares e ser-
construção de um submarino. Também apren- vidores civis da Marinha do Brasil começaram a
dem como deve ser a estrutura de um estaleiro receber conhecimentos técnicos para projetar
e de uma base naval. Só não têm acesso ao que submarinos. Entre os exercícios, fizeram o pro-
é considerado tecnologia nuclear. O acordo entre jeto reduzido de um submarino convencional e
o Brasil e a França é muito claro nesse aspecto. de um com propulsão nuclear. Por dois anos, eles
Não há qualquer transferência de conhecimentos receberam treinamento teórico e prático. A École
na área. Assim, por exemplo, é vetado aos brasi- de Conception des Sous-marins, em Lorient,
leiros acompanhar nas dependências da DCNS a considera o que é feito na fábrica da DCNS em
evolução do projeto Barracuda, que lança a nova Cherbourg e tudo o que ocorre na base operacio-
classe de submarinos nucleares franceses, sendo nal da empresa em Île Longue, no porto de Brest,
o Suffren o primeiro deles. que fica na região francesa da Bretanha. Ainda
em Lorient, os franceses mostram como é a fa-
A maior parte dos treinamentos foi feita, inicial- bricação de estruturas de fibra de vidro utilizadas
mente, em Cherbourg, onde os brasileiros acom- em algumas partes dos submarinos.
panharam a construção das seções dianteiras
do primeiro submarino do PROSUB, o S-BR1. Os brasileiros também estão presentes nas ins-
O grupo reunia mais de duzentos profissionais talações da DCNS em Toulon, onde absorvem co-
— metade da Marinha do Brasil, quarenta da nhecimentos sobre os sistemas de combate; no

138 139
parque tecnológico de Sophia-Antipolis, onde são surpreende os franceses por contar com capi-
fabricados sonares; em Ruelle, onde está a fábrica tal humano muito bem preparado para absorver
de equipamentos estratégicos; e, em Saint-Tropez, as informações.
onde se concentra a produção de torpedos.
Da primeira turma que foi à França para o trei-
De volta ao Brasil, depois da capacitação na namento na DCNS, a maior parte havia partici-
França, os engenheiros repassaram os conhe- pado da construção no Brasil, nas décadas de
cimentos adquiridos. Além de multiplicadores 1980 e 1990, dos cinco submarinos atuais da
dos conhecimentos, os engenheiros qualificados Marinha — experiência muito diferente e válida
passaram a trabalhar na elaboração do proje- atualmente para facilitar a apreensão dos novos

Submarinos |||||||||| CAP 7.0 |||||||||| Tecnologia e nacionalização


to do submarino com propulsão nuclear brasi- conhecimentos.
leiro, contando com o apoio técnico da DCNS.
Para tanto, foi inaugurado o Escritório Técnico Naquela época, cerca de trinta engenheiros
de Projetos no Centro Tecnológico da Marinha receberam um treinamento inicial, no Rio de
em São Paulo (CTMSP). A equipe dedicada ao Janeiro, sobre hidrodinâmica, resistência de
SN-BR conta com cerca de 150 engenheiros e materiais, termodinâmica, arquitetura naval,
projetistas e tende a crescer, chegando a inte- física e química relacionada a submarino.
grar 450 profissionais. Depois foram a Lübeck, na Alemanha, rece-
ber da Howaldtswerke-Deutsche Werft Gmbh/
A transferência de tecnologia representa tam- Ingenieurkonton Lübeck Gmbh (HDW/IKL) as
bém a presença dos franceses no dia a dia do lições sobre projeto de casco, propulsão, layout
PROSUB no Brasil. Eles vêm acompanhando e sistemas elétricos em submarinos. Por fim, du-
a fabricação do casco resistente na NUCLEP, a rante quatro anos e meio, se deu a concepção de
construção e as atividades da UFEM, assim como um projeto próprio de submarino convencional
as obras da Base Naval e dos Estaleiros. No pro- para a Marinha do Brasil.
jeto do SN-BR, os franceses não participam do
desenvolvimento da planta nuclear, mas contri- O acordo atual de transferência de tecnologia as-
buem na qualificação de engenheiros de diversas sinado com a França é bem mais amplo — inclui
especialidades para a realização do design bási- a assistência técnica e a capacitação brasileira
co; e prestam assistência técnica tanto no Brasil para concepção, projeto, fabricação, operação e
como na França. manutenção de estruturas, equipamentos e dos
próprios submarinos, o que se estenderá por dé-
A ideia é que a França não apenas forneça pro- cadas. O PROSUB pode ser considerado um dos
jetos e dados técnicos. Por isso, a integração das maiores contratos internacionais já feitos pelo Nas páginas anteriores,

equipes, decorrente das visitas às instalações da Brasil e o maior programa de capacitação indus- as equipes brasileiras em

DCNS e do acompanhamento das atividades no trial e tecnológica da história da indústria da de- treinamento na França e o

CTMSP e em Itaguaí, tem sido primordial. O Brasil fesa brasileira. É também o maior contrato militar estaleiro da DCNS em Toulon

140 141
A divisão de riscos já firmado pela França. Nas palavras do ministro
da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, o acordo
— espacial, nuclear, aeronáutica e de constru-
ção naval. Mas precisa de parcerias para garan-

financeiros referentes é exemplo de uma parceria exemplar com trans-


ferência de tecnologia até então nunca atingida.
tir escala e se manter na vanguarda tecnológica
e industrial. Além de um importante cliente de
Em Lorient, a DCNS

criou uma escola

à inovação é uma A França teve de superar pressões de outros par-


material de defesa, o Brasil surge como parceiro
estratégico, dividindo o custo da inovação tec-
onde os brasileiros

aprenderam a

tendência no segmento ceiros para compartilhar tecnologia de alta sen-


sibilidade com o Brasil. Mas soube fazer isso com
nológica. Embaixador do Brasil na França, José
Maurício Bustani, considera que, em cooperação
projetar submarinos

de defesa. A compra muita diplomacia. Quando esteve no Brasil para


as comemorações do Dia da Independência, em
mútua, indústrias estratégicas de defesa france-
sas e brasileiras economizam décadas de traba-

Submarinos |||||||||| CAP 7.0 |||||||||| Tecnologia e nacionalização


de equipamentos setembro de 2009, um ano após a assinatura do
Plano de Ação da Parceria Estratégica Bilateral, o
lho e dezenas de bilhões de reais.

é condicionada à então presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse


estar convencido de que a parceria privilegiada
A divisão de riscos financeiros referentes à ino-
vação é uma tendência no segmento de defesa,

transferência de permitirá às duas nações tornarem-se, mais do


que nunca, atores decisivos de uma nova gover-
em que grandes grupos industriais condicionam
operações de compra de equipamentos à trans-

tecnologia nança mundial. Para Sarkozy, a França transfere


tecnologia militar porque está consciente de que
ferência de tecnologia. No PROSUB, do total de
€ 6,7 bilhões investidos, 4,3 bilhões foram credi-
o Brasil tem um grande potencial para promover tados pelos franceses pelo período de vinte anos,
a paz e a segurança, assim como tem um grande o que ajudou na consolidação do programa. A
potencial econômico e político. cooperação na área de submarinos já estimula a
indústria brasileira de defesa e os investimentos
Os franceses têm de fato bons motivos para iden- de grupos franceses no Brasil.
tificar no Brasil um parceiro econômico relevante:
o comércio entre os dois países é relativamente
equilibrado e a indústria brasileira surpreende;
o mercado interno é composto por mais de 100 Um impulso
milhões de pessoas de bom poder aquisitivo; e,
especificamente na área militar, o Brasil progra- à indústria nacional
ma investimentos significativos para o reapare-
lhamento das Forças Armadas, com a vantagem Tal como a transferência de tecnologia fran-
de não estar alinhado a outras potências na área, cesa para o Brasil, também foi preconizada no
como Estados Unidos, Rússia e China. Programa de Desenvolvimento de Submarinos
a nacionalização dos produtos e sistemas ad-
Atualmente, a França administra um dos maio- quiridos em todas as fases do programa, desde
res orçamentos militares do mundo, com gas- a construção da fábrica de estruturas metálicas
tos relevantes em praticamente todas as áreas até a manutenção do submarino com propulsão

142 143
nuclear. O compromisso ficou estabelecido em desenvolvida pela indústria nacional a partir Produtos e sistemas da

um dos sete contratos assinados entre a Marinha do programa, sob requisitos franceses e com a indústria nacional estão

do Brasil e a DCNS. orientação da DCNS, da Odebrecht e da Marinha. sendo adquiridos em todas

as fases do PROSUB

A nacionalização engloba 94 subprojetos e re- A nacionalização exigiu da COGESN um plano de


presenta nada menos que € 400 milhões em aquisições: trinta meses foi o prazo estipulado
offset (contrapartida referente à transferência para definição dos equipamentos necessários e
de tecnologia e know-how para capacitação de identificação dos fornecedores.
empresas). As encomendas de sistemas, equi-
pamentos e componentes para construção dos

Submarinos |||||||||| CAP 7.0 |||||||||| Tecnologia e nacionalização


submarinos convencionais feitas ao parque na-
cional serão da ordem de € 100 milhões. Esse
mesmo valor é o mínimo previsto para a nacio-
nalização dos equipamentos e componentes
para o SN-BR.

A primeira tarefa da Marinha do Brasil foi sele-


cionar, entre as demandas do programa, o que
interessaria fabricar nacionalmente — produtos
de alto teor tecnológico. Em seguida, o seg-
mento industrial brasileiro foi convocado para
que se avaliasse o que poderia ser produzido
no País, entre motores e sistemas de propul-
são elétrica, compressores e baterias, radares,
periscópios etc.

Em alguns casos, o produto já estava disponível


no mercado nacional; em outros, foram encon-
trados produtos similares e o fornecedor pôde
fazer as adaptações necessárias. Mas houve
também situações em que as empresas brasi-
leiras precisaram de capacitação específica para
atender à demanda do PROSUB.

Como o setor de defesa nacional nunca de-


mandou determinados equipamentos e peças,
uma boa parte da tecnologia começou a ser

144 145
o que atrai o Para a construção da UFEM e do Estaleiro e Base
Naval (EBN), foram envolvidas mais de seiscen-
A lista dos fornecedores interessados em par-
ticipar do PROSUB é extensa. Até na área de
uma de suas várias finalidades a produção de
radioisótopos — base para os radiofármacos

interesse da indústria tas empresas brasileiras, que garantiram a nacio-


nalização de 95% dos componentes e sistemas.
armamentos há intenção de o Brasil se tornar
independente. Torpedos estão sendo adquiridos
utilizados na medicina nuclear e para produção
de fontes radioativas aplicadas na indústria, na

é a dualidade das Na busca por fornecedores para os submarinos


convencionais, foram visitadas quase duzentas
na França, mas empresas e laboratórios nacio-
nais têm absorvido conhecimentos específicos
agricultura e em projetos ambientais. A medici-
na nuclear tem permitido diagnósticos precisos e

tecnologias absorvidas empresas nacionais, das quais a metade foi pré-


-qualificada. O contrato de nacionalização dos
para desenvolvê-los, de forma a atender não só à
demanda da Marinha do Brasil, mas também ao
tratamentos para o câncer, problemas cardíacos
e cerebrais, entre outros males.

e desenvolvidas em SBRs lista mais de noventa itens a serem adqui-


ridos internamente e prevê ainda a integração de
mercado internacional.
Fora essa, várias tecnologias bélicas já foram

Submarinos |||||||||| CAP 7.0 |||||||||| Tecnologia e nacionalização


razão do PROSUB e softwares e o suporte técnico para as empresas
durante a fabricação dos produtos.
Esse é um aspecto que se estende a toda a cadeia
de produção. Uma vez capacitado, o Brasil, além
apropriadas com êxito pelas indústrias para
uso civil, sobretudo nos segmentos químico,

a possibilidade de Um dos primeiros itens a serem nacionalizados


de não depender da contribuição externa para
seus projetos de submarinos, poderá exportar
mecânico e naval. A produção nacional de fibra
de carbono, por exemplo, se deve aos estudos

aplicação em outros foi o IPMS (Integrated Plataform Management


System), sistema de computador responsável
sua nova tecnologia. As indústrias brasileiras
se especializarão na fabricação de peças e
feitos no CTMSP. Da mesma forma, o aço para
toda a cutelaria utilizada nas áreas médica e

setores da economia pelo controle de navegação, profundidade, pro-


pulsão, qualidade de vida e segurança a bordo,
equipamentos para submarinos, ao passo que a
Marinha do Brasil saberá projetá-los e construí-
odontológica, algumas válvulas para a indústria
química, sofisticados aparatos de transmissão de
energia elétrica etc. A Mectron, sediada em São los. O País possivelmente passará a contar com dados, bombas hidráulicas de alta pressão em-
José dos Campos, foi selecionada pela DCNS e uma base industrial eficiente na área da defesa. pregadas nas plataformas petrolíferas e muitas
pela Marinha para desenvolver esse sistema no outras inovações surgiram no âmbito do PNM,
Brasil e participou de treinamentos na França. Fora isso, o que atrai o interesse da indústria é a consolidando um arrasto tecnológico que vai
dualidade das tecnologias absorvidas e desenvol- muito além da área militar. 
Engenheiros da Fundação Ezute (antiga Fundação vidas em razão do PROSUB e a possibilidade de
Atech) também estão na França e serão respon- aplicação em outros setores da economia. Desde
sáveis pela manutenção dos sistemas de combate que foi iniciado o desenvolvimento do protótipo
dos submarinos convencionais. Os motores elé- de um submarino com propulsão nuclear, como
tricos serão fabricados pela WEG Equipamentos, parte do PNM, muitas indústrias têm se valido
empresa de Jaraguá do Sul (SC). A fabricação das das inovações surgidas no Centro Tecnológico da
baterias está a cargo da empresa alemã Hagen, Marinha em São Paulo.
do grupo Exide, que fará a primeira unidade (para
o S-BR1) na Alemanha mas já contratou a empre- A mais recente iniciativa do CTMSP é abrigar o
sa Rondopar, de Londrina (PR), para participar Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), em-
da fabricação das demais unidades. Sediada em preendimento que está a cargo da Comissão
Barueri (SP), a Adelco vai produzir conversores Nacional de Energia Nuclear (CNEN), com apoio
estáticos — de um total de 16, dois serão feitos na da Finep (Agência Brasileira de Inovação). Esse
França e os outros no interior paulista. é um reator nuclear de pesquisa, que tem como

146 147
148
149

Submarinos |||||||||| CAP 7.0 |||||||||| Tecnologia e nacionalização


8.0

Os novos
O sonho de construir um submarino com propul- o desafio de fazer o seu primeiro submarino com
são nuclear é acalentado na Marinha do Brasil há propulsão nuclear. E isso, claro, requereria a ajuda

submarinos
mais de trinta anos. Nesse período, o País do- de parceiros tecnológicos externos. Um submari-
minou o ciclo do combustível e desenvolveu um no com propulsão nuclear é um tanto diferente

Força oculta
sistema de propulsão com tecnologia própria, de um submarino convencional. A começar pelo
adaptável a uma embarcação e capaz de promo- deslocamento, com cerca de 6 mil toneladas, en-
ver o seu deslocamento em velocidade adequada. quanto no diesel-elétrico fica em torno de 2 mil
toneladas. Só isso representa uma engenharia
O processo não foi fácil. Com a redução de recur- muito mais complexa.
sos, houve períodos de baixa produtividade. Mas
a Marinha e os cientistas envolvidos no projeto Do ponto de vista logístico, o submarino com
não desanimaram; ao contrário, as adversidades propulsão nuclear é o mais complexo meio já
foram encaradas como desafios. E o País acabou construído pelo homem. Para se ter ideia, a pro-
desenvolvendo, de forma independente, suas dução de um Boeing 777, pesando 254 tonela-
novas tecnologias. das, envolve cerca de 103 mil componentes e
pode consumir 50 mil horas de trabalho humano.
Com o combustível e o reator praticamente so- Um submarino com propulsão nuclear, com 6 mil
lucionados, faltava à Marinha se dedicar ao sub- toneladas, requer um total de 950 mil partes e 8
marino em si. A Força de Submarinos hoje conta milhões de horas de trabalho. Chega a ser mais
com a classe “Tupi” e o “Tikuna”, construídos no complexo que uma nave aeroespacial.
Brasil nas décadas de 1990 e 2000. Apesar das
modernizações por que passaram, esses sub- Os franceses da DCNS sabem projetar e construir
marinos serão naturalmente substituídos, com os dois tipos de submarinos e concordaram em
o fim de suas respectivas vidas úteis. transmitir conhecimentos aos brasileiros sobre
como construir os S-BR e projetar e construir os
A Marinha do Brasil retomaria, portanto, os tra- SN-BR. Os quatro submarinos convencionais do
balhos de construção, restando apenas encarar PROSUB seguirão o modelo francês Scorpène,

152 153
A propriedade que já foi exportado pela França para as mari-
nhas do Chile, da Índia e da Malásia. O Chile foi
Os submarinos brasileiros S-BR não serão cópias
exatas do Scorpène, que a França exporta para

intelectual do SN-BR o primeiro a encomendar, em 1997, duas unida-


des. Em 2002, a Malásia adquiriu também duas
vários países. Isso porque o modelo francês não
atende plenamente aos requisitos da Marinha do

é brasileira e a unidades. E, em 2005, o governo da Índia enco-


mendou seis submarinos Scorpène, para serem
Brasil. Com 8,5 mil quilômetros de costa, o País
requer um submarino capaz de alcançar os ex-

autoridade do projeto construídos naquele país com assistência técnica


do estaleiro francês.
tremos, fazer patrulhas de norte a sul, e voltar
para a sua base, sem precisar de apoio. Para per-

é a Marinha do Brasil. Um dos motivos da escolha brasileira por esse


correr distâncias maiores, ficando mais tempo
no mar, o submarino precisa ter capacidade de

A DCNS presta uma

Submarinos |||||||||| CAP 8.0 |||||||||| Os novos submarinos


modelo foi não se tratar de uma evolução da carregar combustível e mantimentos em maior
classe convencional anterior e sim derivado de quantidade. E é recomendável que ofereça tam-

consultoria técnica um submarino nuclear. Emprega tecnologias


usadas nos submarinos nucleares franceses.
bém mais conforto à tripulação.

para o desenvolvimento A Marinha francesa foi uma das primeiras a desen-


O modelo francês tem 60 metros de comprimen-
to e 1.700 toneladas. Os brasileiros serão mais

do submarino volver submarinos. Na Segunda Guerra, operava


77 deles, de propulsão diesel-elétrica, e construiu
longos, com 71 metros, e pesarão 1.850 tonela-
das. Eles terão uma seção a mais, desenhada por
outros 24. Em 1967 lançou o seu primeiro nu- técnicos brasileiros para dar maior autonomia e
clear, um lançador de mísseis balísticos (SSBN). ampliar o raio de ação da embarcação.
Depois partiu para um Submarino Nuclear de
Ataque (SNA). Queria uma embarcação compac- Alterar o projeto não foi tão difícil. Os próprios
ta e projetou o SNA da classe Rubi, lançado em franceses oferecem duas versões do Scorpène:
1983. Atualmente é o submarino com propulsão uma com o sistema de propulsão diesel-elétrica
nuclear de menor porte do mundo. Depois vieram convencional CM 2000 e outra com o sistema
outras unidades da classe — Saphir, Casabianca, AIP (Propulsão Independente do Ar) que é bem
Émeraude, Améthyste e Perle. mais volumoso. O desenho do submarino consi-
dera, então, a inclusão de um módulo adicional.
Atualmente, a França tem seis SNA da classe O modelo francês do

Rubi, baseados em Toulon. Eles serão subs- No caso dos submarinos convencionais, a auto- submarino Scorpène, com

tituídos, nos próximos anos, pelos do Projeto ridade do projeto é a DCNS. Assim, a empresa é 60 metros de comprimento e

Barracuda, cujo primeiro será o Suffren, um sub- responsável pelo desempenho dos equipamen- 1.700 toneladas;

marino bem maior que os anteriores. Ele desloca tos, mesmo com as alterações feitas para aten- os brasileiros serão

4.700 toneladas na superfície, contra as cerca de der às exigências brasileiras. Havendo interesse ainda mais extensos

2.400 toneladas da classe Rubi. Com relação aos do Brasil na construção de outras unidades, será
convencionais, os franceses não operam esses necessária a autorização — e o pagamento de
submarinos desde 1998. royalties — aos franceses. Já a propriedade

154 155
156
157

Submarinos |||||||||| CAP 6.0 |||||||||| Responsabilidade socioambiental


intelectual do SN-BR é brasileira e a autoridade resistência física e psicológica das tripulações e
do projeto é a Marinha do Brasil. A DCNS presta estoque de mantimentos.
uma consultoria técnica para o desenvolvimento
do submarino. Mas a maior vantagem da propulsão nuclear fren-
te à convencional é a possibilidade de imersão por
meses a fio. O submarino convencional precisa se
aproximar da superfície, pois, como os motores
Autonomia, discrição, a diesel funcionam por combustão, precisam de
oxigênio e não podem ser ligados embaixo da
velocidade água, onde todo o ar deve ser guardado para a

Submarinos |||||||||| CAP 8.0 |||||||||| Os novos submarinos


tripulação respirar.
Nos submarinos convencionais, o sistema de pro-
pulsão é alimentado por energia elétrica advinda A capacidade de se ocultar e surpreender é jus-
de um banco de baterias. Essas baterias, por sua tamente o que faz do submarino uma grande
vez, são recarregadas por um diesel-gerador. A opção nos conflitos navais. Mas, até a Segunda
autonomia desses submarinos em suas jornadas Guerra Mundial, os submarinos ficavam expostos
é limitada, portanto, ao combustível transporta- aos inimigos quando emergiam para recarregar
do e à carga útil das baterias. E o tempo de uma as baterias. Os alemães resolveram parcialmente
jornada varia conforme a velocidade e as distân- o problema ao desenvolver o sistema de esnór-
cias percorridas. Em geral, é possível um subma- quel — pelo tubo se obtém o ar necessário para o
rino convencional navegar por cinquenta dias. funcionamento dos motores e é liberada a fuma-
ça gerada pelo diesel. Assim, o submarino pode
O submarino nuclear, em contraposição, tem se manter a uma profundidade de até 18 metros,
autonomia ilimitada, do ponto de vista do com- enquanto recarrega as baterias. E isso tem que
bustível, pois o seu sistema de propulsão está ocorrer aproximadamente a cada dois dias.
ligado diretamente aos circuitos de geração
de energia termonuclear. O reator instalado O submarino com propulsão nuclear, no entanto,
no submarino pode receber uma única carga pode navegar o tempo todo em águas profundas
de combustível que pode durar até 25 anos. — mais de 100 metros abaixo da superfície. O oxi-
O calor gerado pela queima desse combustí- gênio necessário para a sobrevivência da tripula-
vel no reator produz um vapor que movimenta ção é obtido por meio da hidrólise da água do mar.
um turbo-gerador produzindo eletricidade. O
combustível nuclear é o ideal para os submari- A superioridade dos submarinos com propulsão
nos por ser altamente compacto: uma pequena nuclear também é comprovada pelas distân- O casco do S-BR1

pastilha fornece muita energia. Com isso, a au- cias e velocidades que alcançam. Enquanto os é finalizado e

tonomia (tempo fora da base) dos submarinos submarinos convencionais se deslocam a uma preenchido na UFEM

com propulsão nuclear é limitada apenas pela velocidade média de 6 nós (aproximadamente

158 159
11 km/hora), os com propulsão nuclear chegam a acompanharam na França a fabricação de duas
35 nós — quase 65 km/hora. O emprego estraté- seções do S-BR1 — a proa e a vela.
gico dos submarinos diesel-elétricos fica limitado,
enquanto o do submarino com propulsão nuclear A construção do submarino é modular e se-
é vasto, pelo seu deslocamento veloz. Esses sub- quencial — outro aprendizado fundamental
marinos assumem posição de ataque, alcançando para os brasileiros. O acabamento interno do
áreas distantes em pouco tempo, e, em caso de casco é finalizado com a instalação de equipa-
reação, conseguem evadir também rapidamente. mentos. Muitos desses equipamentos internos
são montados sobre sustentações elásticas do
tipo shock-resistant moutings — são calços

Submarinos |||||||||| CAP 8.0 |||||||||| Os novos submarinos


amortecedores que servem para reduzir as vi-
Os novos S-BR brações e consequentemente a emissão de ru-
ídos, tornando a navegação mais silenciosa.
Os novos submarinos convencionais brasilei-
ros já começaram a ser construídos e estarão O sistema de combate é o SUBTICS (Submarine
prontos até 2023. Eles também já têm nomes: Tactical Information and Command System),
o primeiro será o “Riachuelo” (S-40); depois composto de seis consoles multifuncionais, cada
virão o “Humaitá” (S-41), o “Tonelero” (S-42) um com duas telas e uma mesa de análise tática,
e o “Angostura” (S-43). A previsão é de que o integrando também os sistemas de navegação,
“Riachuelo” fique pronto em 2016 e seja entregue de controle de armas e os diversos sensores de
em 2017. Depois, cada novo submarino será lan- detecção de superfície e acústicos (sonares).
çado num prazo de 18 meses. Por fim, a Marinha
apresentará o SN-BR10 batizado de “Álvaro Trata-se de uma embarcação com alto índice de
Alberto”, numa homenagem ao Almirante bra- automação, com sistemas monitorando con-
sileiro que mais defendeu o uso da tecnologia tinuamente o leme, a propulsão, os diversos
nuclear no País. compartimentos que possam afetar a segurança
quando submersos, e controlando possíveis ava-
O Scorpène tem um casco hidrodinâmico quase rias ou perigos eminentes, como fogo, presença
equivalente ao que os franceses criaram para de gases e perda de pressão.
a classe Rubi, de submarinos nucleares. A es-
trutura tem poucos apêndices, é um desenho
clean, com notável desempenho hidrodinâmico,
A chegada, em Itaguaí o que favorece a performance em velocidades
(RJ), das seções do altas e em manobras. Feito em aço especial, o
submarino fabricadas casco do Scorpène é resistente, pouco espesso
na França e leve. A soldagem desse material é complica-
da e requer qualificação. Por isso, os brasileiros

160 161
PERISCÓPIO
HÉLICES

SALA DE MAQUINAS
REATOR PARA
PROPULSÃO NUCLEAR

SALA DE CONTROLE

O SN-BR
SN-BR
Segundo a Marinha do Brasil, o primeiro sub-
marino com propulsão nuclear brasileiro terá Deslocamento 6 mil toneladas
cerca de 100 m de comprimento, diâmetro de Comprimento 100 metros
Tripulação 100 militares
9 metros, e uma capacidade de deslocamento de Diâmetro 9,8 metros
6 mil toneladas. Poderá mergulhar a 350 me- Altura Máxima 17 metros
Velocidade 25 nós (45 KM/hora)
tros de profundidade. Desenvolvido no Brasil, o
Profundidade 350 metros
reator PWR, de 48 MW térmicos, é equivalente Autonomia ilimitada

Submarinos |||||||||| CAP 8.0 |||||||||| Os novos submarinos


ao utilizado nos submarinos franceses da clas- Armamento Torpedos
Extra Capacidade para
se Rubi e garantirá sua navegação à velocidade lançar grupos de
Forças Especiais
acima de 20 nós. REATOR

O SN-BR deverá estar pronto até 2025. A planta MOTOR DIESEL


(AUXILIAR)
de propulsão, em desenvolvimento pelo Centro BATERIAS
Tecnológico da Marinha em São Paulo, é simples:
COMPARTILHAMENTO
o vapor gerado pela combustão nuclear move DA TRIPULAÇÃO
TORPEDOS
uma turbina que aciona geradores elétricos para
o sistema de propulsão e para os demais serviços
do submarino. Não há necessidade da engrena-
gem redutora, normalmente usada entre a turbi- PERISCÓPIO
SONAR
na, de alta rotação, e o hélice. Isso faz com que o MOTOR DIESEL
SN-BR seja bem mais silencioso — inclusive em ALOJAMENTOS
ELÉTRICOS PROPULSOR
CENTRO
relação aos submarinos norte-americanos e rus- PONTE DE COMBATE
DE COMANDO
sos — pois essa engrenagem é um tanto ruidosa.

O combustível nuclear no SN-BR terá cerca de


S-BR
cinco anos de vida útil. Depois, será retirado de
SALA DE TORPEDOS
dentro do submarino, por uma escotilha especial
— sem que haja necessidade de corte no casco
— e, por uma ponte rolante, será depositado na
piscina de armazenamento, instalada no com- Deslocamento 2 mil toneladas
plexo radiológico. Comprimento 75 metros
Tripulação 31 militares
Diâmetro 7,5 metros
Alguns componentes do SN-BR — periscópio, Profundidade 300 metros
sonares — serão importados, mas a ideia é que Autonomia 50 dias de mar
Alcance 12 mil km
Armamento Torpedos
Extra Capacidade para
lançar grupos de
Forças Especiais

162 163
a maioria seja de fabricação nacional. Os torpe- Com a evolução tecnológica, também os torpe-
dos e mísseis virão da França. Tanto o submarino dos ganharam maior potência e os sistemas de
com propulsão nuclear como os convencionais combate são mais precisos. Assim, os submari-
serão dotados do mesmo tipo de armamentos. nos não têm que carregar tanto armamento.
Os torpedos F21, adquiridos da DCNS, têm velo-
cidade, alcance e muita eficiência na procura em O reflexo de todas essas mudanças se dá na
águas profundas. formação do submarinista. Ele assume mais e
maiores responsabilidades. Atenta à questão, a
Marinha do Brasil iniciou um extenso programa
de capacitação de pessoal para compor a tripula-
Evolução

Submarinos |||||||||| CAP 8.0 |||||||||| Os novos submarinos


ção do SN-BR. 

Tal como as tecnologias de comunicação, a in-


formática e a eletrônica, também a engenha-
ria de submarinos evoluiu muitíssimo nas duas
últimas décadas. Os submarinos mais antigos
carregavam maior número de tripulantes. Os
de hoje, com operações muito mais diversifica-
das e complexas, devido ao grau de automação,
podem levar apenas trinta tripulantes. Basta um
clique, por exemplo, para que seja dada a parti-
da no motor e o submarino entre em movimen-
to. Cálculos de tiro, que eram feitos à mão, hoje
ficam por conta de softwares sofisticados. A tela
do computador indica perfeitamente o posicio-
namento do submarino — o que é fundamental
se considerado que ele fica mais tempo submer-
so e em maior profundidade.

A automação e a consequente redução da tripu-


O Scórpene em teste: a DCNS lação são tendências perseguidas pela indústria
vende o submarino para o Chile, naval, pois representam economia e autonomia.
a Índia e Malásia Com o advento da propulsão nuclear, as condi-
ções físicas e psicológicas dos tripulantes, os
suprimentos e a renovação do ar a bordo são os
aspectos que restringem as navegações.

164 165
166
167

Submarinos |||||||||| CAP 8.0 |||||||||| Os novos submarinos


9.0

Aspectos da
O Brasil é um país historicamente voltado para a coexistência de potências tradicionais e potên-
a causa da paz. O último conflito armado inter- cias emergentes.

Estratégia
nacional em que esteve envolvido foi a Segunda
Guerra Mundial, há quase setenta anos. Suas Nos anos 2000, já se tinha em conta alguns

Naval
relações externas são regidas pelo princípio da efeitos da globalização e a natureza distinta das
não-intervenção e os brasileiros nunca alme- novas ameaças. Os atentados terroristas de se-

Brasileira
jaram a dominação de outros povos. O caráter tembro de 2001 nos Estados Unidos contribuíram
pacífico está contido na identidade nacional e é para que o mundo percebesse múltiplos focos
um valor a ser conservado. Talvez por isso, o País, de conflito. Tráfico de drogas e armas, pirataria
As Políticas de por muito tempo, não tenha promovido amplo e demanda crescente por recursos energéticos
debate sobre o tema da defesa. E só na década foram alguns tópicos abordados na PDN 2005.
Defesa Nacional de 1990 tenha sido elaborada a primeira políti-
ca nacional a respeito, documento inovador nas
De alguma forma, o documento mostrava uma
nova preocupação das autoridades civis e milita-
relações civis e militares, com diretrizes para a res com a estruturação da defesa do Brasil.
atuação das Forças Armadas em sintonia com a
política externa. No segundo governo do Presidente Lula, o
Ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o Ministro
Elaborada com forte apoio do Itamaraty, a Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Política de Defesa Nacional (PDN) de 1996 re- Presidência da República, Mangabeira Unger, se
forçava a característica pacífica do País e en- debruçaram sobre a questão tendo em vista um
fatizava o uso da diplomacia para a solução de aspecto considerado primordial: o destaque que
divergências e possíveis conflitos regionais. Em o Brasil vinha assumindo no cenário internacio-
2005, a segunda edição da PDN brasileira foi nal, não só pelo crescimento de sua economia,
bem mais contundente. Considerava o novo mas também por suas riquezas naturais e sua
panorama das relações internacionais e a com- posição estratégica. Foi quando, com a partici-
plexidade das ameaças surgidas após a Guerra pação dos três Comandantes das Forças, foi ela-
Fria, com o advento de uma ordem multipolar e borada a Estratégia Nacional de Defesa (END),

170 171
lançada em 2008, com ações estratégicas para argumento, determina uma reorientação das
assegurar que os objetivos da defesa nacional Forças Armadas e a organização da indústria
pudessem ser atingidos. nacional de defesa, visando assegurar a auto-
nomia operacional da Marinha, do Exército e
Assim como as duas Políticas de Defesa da Aeronáutica.
Nacional, também a Estratégia reforça o cará-
ter pacífico do Brasil e de seu entorno, propõe De acordo com a END, as Forças Armadas devem
cooperação regional e descarta a possibilida- estar capacitadas a garantir a segurança do País

Submarinos |||||||||| CAP 9.0 |||||||||| Aspectos da estratégia naval brasileira


de de guerras imediatas com países vizinhos. tanto em tempo de paz, quanto em situações de
Mas aponta o agravamento da crise econô- crise. Se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe
mico-financeira internacional e a possível de- cabe no mundo, precisará estar preparado para
terioração das condições sociais, energéticas defender-se não somente das agressões, mas
e ambientais com reflexos no que tange à paz também das ameaças, diz o documento, que
e à segurança no mundo. E, com base nesse também destaca a importância do domínio na-
cional de tecnologias avançadas e de maior inde-
pendência tecnológica.

A primeira diretriz da END é dissuadir a concen-


tração de forças hostis nas fronteiras terrestres,
nos limites das águas jurisdicionais brasileiras, e
impedir-lhes o uso do espaço aéreo nacional. A
dissuasão é obtida como resultado da capacida-
de operacional aliada a uma estrutura de decisão
para empregá-la. Não se trata, portanto, de equi-
par as Forças Armadas sem que passem por um
processo de transformação que as habilite a de-
fender adequadamente o Brasil. Para dissuadir, é
preciso estar preparado para combater, diz a END.

Especificamente em relação à Marinha do Brasil,


ficou estabelecido que, dentre as Tarefas Básicas A negação do uso do mar por forças

do Poder Naval de controle de áreas marítimas, hostis deve ser o principal foco

projeção de poder e negação do uso do mar, da Marinha do Brasil, segundo a

essa última seria prioritária. Negar o uso do mar Estratégia Nacional de Defesa

significa impedir ou dificultar o estabelecimen-


to do inimigo — ou a exploração por ele — em
alguma área marítima de jurisdição brasileira.

172 173
A prioridade traz implicações para a reconfigura-
ção das forças navais.
O Atlântico Sul
Para assegurar a negação do uso do mar, o Brasil
e a cooperação
contará com força naval submarina de enverga-
dura, composta de submarinos convencionais e Com sua formação histórica, econômica e social
de submarinos com propulsão nuclear. O Brasil construída a partir do oceano, o Brasil tem no âm-
manterá e desenvolverá sua capacidade de pro- bito de sua regionalidade não apenas a América

Submarinos |||||||||| CAP 9.0 |||||||||| Aspectos da estratégia naval brasileira


jetar e de fabricar tanto submarinos com propul- do Sul, mas também toda a costa oeste da África.
são convencional como com propulsão nuclear. O entorno estratégico brasileiro extrapola o sub-
Acelerará os investimentos e as parcerias ne- continente e se projeta pelo Atlântico Sul.
cessários para executar o projeto do submarino
com propulsão nuclear. Armará os submarinos, Na América do Sul, o processo de integração
convencionais e nucleares, com torpedos e mís- contribuiu para a estabilização política e o de-
seis, e desenvolverá capacitações para projetá- senvolvimento econômico, sendo a União das
-los e fabricá-los. Cuidará de ganhar autonomia Nações Sul-Americanas (UNASUL) uma das
nas tecnologias cibernéticas que guiem os sub- principais iniciativas. As questões de segurança
marinos e seus sistemas de armas, e que lhes passaram a ser tratadas pelo Conselho de Defesa
possibilitem atuar em rede com as outras for- Sul-Americano, no âmbito da UNASUL. De forma
ças navais, terrestres e aéreas, garante o texto geral, a região é considerada distante dos princi-
da Estratégia. pais focos de tensão do mundo e livre de armas
nucleares. E há uma tendência de que permane-
Pela sua grande mobilidade e autonomia quase ça unida, já que os países compartilham experi-
inesgotável, o submarino com propulsão nuclear ências históricas, desafios de desenvolvimento
desafia os mais modernos sistemas de detec- econômico e social e transições políticas seme-
ção da atualidade e é, por isso, considerado um lhantes, além de interesses convergentes.
dos meios navais mais eficientes na dissuasão.
Também é o meio capacitado a monitorar áreas Já no Atlântico Sul, as instabilidades políticas e a
marítimas distantes, condição adequada aos in- disputa por riquezas naturais envolvem países de
teresses brasileiros de proteger sua enorme pla- variados continentes.
taforma continental.
O Atlântico Sul é geograficamente estratégico
para o sistema internacional desde que a América
foi descoberta. Durante as Grandes Navegações
— e por todo o período da Pax Britannica, até o
fim do século XIX — era a rota marítima mundial.
Com a abertura dos canais de Suez (1867) e do

174 175
Panamá (1914), o movimento de embarcações
Cooperação O “Pré-sal” da mineração
pelo oceano foi um pouco reduzido e, depois, na
Guerra Fria, o Atlântico funcionou como um divi-
sor entre Ocidente e Oriente.
intercontinental Uma das regiões prioritárias que o Brasil pode pesquisar e explorar é a Elevação do Rio
Grande (ERG), monte submarino situado a cerca de 1,2 mil quilômetros da costa do Rio
O Brasil procurou aproximar-se dos africanos Autoridades brasileiras das áreas de Defesa e Grande do Sul. Trata-se de uma região rica em minerais como cobalto, níquel, platina,
e sul-americanos com a proposta de integra- Relações Exteriores apostam na cooperação manganês e terras raras, com relevante potencial científico e econômico, além de ro-
ção que deu origem à ZOPACAS (Zona de Paz e como a melhor forma de dissuasão. Assim, a chas sedimentares propícias à formação de petróleo. Essa região sempre despertou o

Submarinos |||||||||| CAP 9.0 |||||||||| Aspectos da estratégia naval brasileira


Cooperação do Atlântico Sul). Na época, o Brasil Marinha do Brasil tem intensificado seu relacio- interesse de pesquisadores estrangeiros - russos, franceses, japoneses e chineses, por
também iniciou o Programa de Levantamento da namento com as marinhas das nações africa- exemplo - que realizaram estudos a partir da década de 70. Com a aprovação, em julho
Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC) e, a nas: mantém missões navais permanentes na de 2014, do Plano de Trabalho para exploração de crostas cobaltíferas na Elevação do
partir dele, foram intensificadas as relações da Namíbia e em Cabo Verde; presta assistência Rio Grande pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISBA), o Brasil tem
Marinha do Brasil com as forças navais africanas. à guarda costeira de São Tomé e Príncipe; tem a exclusividade para explorar, pelo período de 15 anos, uma área de 3 mil quilômetros
ajudado no desenvolvimento da força naval de quadrados localizada na ERG. Para a realização das atividades nos primeiros cinco anos,
Contando com a presença de minérios para além Moçambique e colabora com Angola no processo o Brasil se dispôs a investir US$ 11 milhões.
das 350 milhas de sua linha costeira, o Brasil leva de definição dos limites da plataforma continen-
com afinco suas pesquisas. Em 2009, a Comissão tal daquele país. Nos últimos cinco anos, foram realizadas cinco expedições pelo Serviço Geológico do
Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM) Brasil na Elevação do Rio Grande, somando investimentos da ordem de R$ 40 milhões.
criou o PROAREA — Programa de Prospecção Além de garantir a soberania sobre as suas águas Os recursos vêm do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Numa das expe-
e Exploração de Recursos Minerais da Área jurisdicionais — estendidas em alguns pontos até dições na Elevação, geólogos encontraram amostras de granito, o que os levou à hipó-
Internacional do Atlântico Sul e Equatorial, jus- o limite das 350 milhas náuticas —, o Brasil pre- tese de que a ERG possa ser parte do continente que se desprendeu e afundou com o
tamente para identificar e avaliar reservas de tende preservar seus interesses no Atlântico Sul, movimento das placas tectônicas. Menos denso que as rochas comuns no fundo dos
cobalto, diamante, ouro, urânio e outras rique- o que impulsiona os investimentos da Marinha oceano, o granito é comumente associado aos continentes. O morro do Pão de Açúcar,
zas nos solos e subsolos fora da área jurisdicional não só no desenvolvimento de submarinos com por exemplo é composto por essa rocha.
brasileira. Para explorar essas reservas, é neces- propulsão nuclear, como na aquisição de tecno-
sário formalizar um pedido junto à Autoridade logias para monitoramento e controle de áreas A Elevação do Rio Grande está na chamada área internacional de responsabilidade bra-
Internacional dos Fundos Marinhos (ISBA, em marítimas, como o Sistema de Gerenciamento sileira para operações de socorro e salvamento (SAR), que soma cerca de 10 milhões de
inglês), órgão criado pela ONU, em 1982. da “Amazônia Azul” (SisGAAz). Esse é um siste- quilômetros quadrados.
ma integrado, de última geração, que conta com
uma extensa rede de sensores terrestres e marí- O Serviço Geológico do Brasil também está pesquisando uma região ao norte, além do
timos, centros de controle e equipamentos para arquipélago de São Pedro e São Paulo, com vistas a submeter outro pedido de explo-
monitoramento aéreo. ração à ISBA.

176 177
O SisGAAz vai vigiar e proteger quase 14,5 mi-
lhões quilômetros quadrados, que incluem, além
tensões, contribuindo para a maior segurança de
todos. Funciona, portanto, como um instrumen-
dotada de submarinos
da “Amazônia Azul”, a área de responsabilidade
brasileira para operações de socorro e salvamen-
to também da área de relações internacionais.
com propulsão
to (SAR, do inglês Search and Rescue). Todo tipo
de embarcação — inclusive pesqueiros ilegais —,
No Brasil, as políticas externa e de defesa cami-
nham juntas e no próprio Livro Branco da Defesa
nuclear, A Marinha
CANADÁ
NORUEGA
SUÉCIA
RÚSSIA aeronaves, satélites, plataformas petrolíferas
serão identificados pelo sistema.
Nacional são consideradas complementares e
indissociáveis. A convergência das duas políticas
do Brasil poderá
REINO UNIDO POLONIA

Submarinos |||||||||| CAP 9.0 |||||||||| Aspectos da estratégia naval brasileira


FRANÇA
ALEMANHA

Além da área militar, o sistema será emprega-


é o que elege a estratégia de dissuasão como
prioritária, pois dissuadir significa desencorajar
contribuir ainda mais
ITALIA
ESPANHA COREA DO NORTE

com a capacidade
TURQUIA
EUA PORTUGAL
do para controle da poluição ambiental, avalia- o inimigo e evitar o conflito. A dissuasão requer
GRÉCIA JAPÃO
IRÃ CHINA
ISRAEL PAQUISTÃO ção meteorológica, pesquisa científica no mar, que as Forças Armadas estejam adequadamen-

nacional de dissuasão
COREA DO SUL
ARGELIA LIBIA EGITO e controle do patrimônio genético, entre outras te equipadas e adestradas para fazer com que a
INDIA TAIWAN
funções. E as informações serão compartilha- guerra não seja uma opção.
das com diversos órgãos governamentais como
VENEZUELA SINGAPURA MALÁSIA
Ibama, Polícia Federal e Receita Federal. A Marinha do Brasil exerce de forma relevante
COLOMBIA
o papel diplomático desejado pelo Itamaraty,
quando amplia sua presença no cenário inter-
PERU INDONESIA
BRASIL
nacional e participa de missões de paz. Mas
O Livro Branco poderá contribuir ainda mais com a capacidade
CHILE
nacional de dissuasão dispondo de submarinos
AUSTRALIA
Em 2012, ano em que foi lançado o SisGAAz, convencionais e principalmente com o de pro-
AFRICA DO SUL a Política Nacional de Defesa e a Estratégia pulsão nuclear. Essa foi uma das propostas que
ARGENTINA
Nacional de Defesa haviam sido atualizadas, ganhou o apoio da sociedade civil por ocasião do
FONTE: AGENCE IDÉ

com algumas poucas alterações, e foi lançado lançamento do Livro Branco. A publicação deu
Submarino nuclear lançador de mísseis balísticos 39
um novo documento com diretrizes bem explí- visibilidade à área da Defesa e ampliou os de-
Submarino nuclear de ataque 90 citas para as Forças Armadas brasileiras: o Livro bates. O Livro recebeu contribuições de várias
Branco da Defesa Nacional. Nele constam as organizações sociais. Programas que constam
Submarino nuclear lançador de mísseis 13 tarefas e objetivos da Marinha, do Exército e da de suas páginas ganharam o status de políticas
Aeronáutica, bem como os programas prioritá- de Estado e, por isso, o PROSUB se consolida
Submarino convencional 260
rios de cada Força. como uma estratégia prioritária não apenas para
a Marinha do Brasil, como também para todo o
A distribuição dos O lançamento do Livro Branco corresponde a plano de Defesa e de projeção do País no cenário
submarinos no uma tendência internacional, pois vários países internacional. 
mundo: no hemisfério têm publicações semelhantes. É um documento
norte, a concentração que aumenta a transparência sobre as intenções
dos mais potentes dos governos, gera confiança mútua e reduz

178 179
180
181

Submarinos |||||||||| CAP 9.0 |||||||||| Aspectos da estratégia naval brasileira


para o futuro
10.0

Desafios para
Desde a aprovação do Programa de Desen­vol­ como determinante da soberania das nações.
vimento de Submarinos, em 2008, a Marinha do Desde o fim da Guerra Fria e da divisão geopolíti-

o futuro
Brasil vive um dos momentos mais marcantes ca do mundo em dois blocos ideológicos, países
de sua história. Por um lado, o PROSUB reflete o emergentes e periféricos ganham possibilida-

A gestão do
posicionamento assumido pelo País em relação de de construção de seus projetos nacionais de
a quaisquer ameaças externas — e justamente desenvolvimento e defesa. E a base para esses

conhecimento
um posicionamento vigoroso, que não admite a projetos não é outra que não o conhecimento.
possibilidade de arrefecimento. A complexidade
das atividades que vêm sendo desenvolvidas si- O Brasil soube constituir uma base científica

e a autonomia multaneamente, em respeito a um cronograma


rígido e intenso, dá outra mostra do arrojo da
notável, com órgãos de excelência na forma-
ção de pesquisadores, mestres e cientistas,

tecnológica iniciativa. Para completar, o PROSUB é um com-


promisso de longo prazo, o que significa dizer
como o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), os institutos
que adversidades e conquistas do dia a dia se militares (Instituto Tecnológico da Aeronáutica
estenderão por mais de uma década. — ITA, Instituto Militar de Engenharia — IME
e Instituto de Pesquisas da Marinha — IPqM) e
Toda a responsabilidade assumida não preocupa tantos mais da área acadêmica. A cooperação
os atores desse grande empreendimento. Mas científico-tecnológica com outros países é uma
há ainda um aspecto que se apresenta como o forma de antecipar a conquista da autonomia.
grande desafio para o futuro: a continuidade no
desenvolvimento científico e tecnológico desen- No PROSUB, por exemplo, a parceria com a
cadeado a partir do programa. França economizará anos de estudos que o Brasil
demandaria para projetar e construir a base naval,
Pautado pela transferência de tecnologia, nacio- os estaleiros e os submarinos, inclusive o com
nalização e capacitação profissional, o PROSUB propulsão nuclear. O objetivo final da parceria é
promove grandes avanços na área do conheci- o domínio dessas tecnologias e a independência
mento — essa que se consolida a cada dia mais na área.

184 185
O que se verifica, no entanto, é uma avalanche de capital 100% nacional com expertise nas áreas inclusive medicina, psicologia e educação. Para
de conhecimentos que vai muito além do propó- nuclear e naval. se ter ideia, por sugestão da Marinha, está sendo
sito básico do programa. São informações que desenvolvida na Universidade Federal do Rio de
vêm da França, combinam-se às experiências Fora isso, a absorção, o desenvolvimento e pro- Janeiro (UFRJ) uma tese de mestrado sobre aná-
brasileiras e multiplicam-se por inúmeros seto- fusão de tecnologias se dá, de forma muito mais lise de riscos operacionais decorrentes de falha
res industriais. Sem falar, no impulso dado es- ampla, no setor industrial. A Marinha se aproxi- humana. A pesquisa servirá para aprimorar o
pecificamente ao desenvolvimento nacional da mou das federações de indústrias para divulgar treinamento oferecido às tripulações dos sub-
tecnologia nuclear. A gestão desse conteúdo é o PROSUB e seus múltiplos efeitos. Conquistou marinos com propulsão nuclear.
uma tarefa complexa. a adesão e capacitação de inúmeras empresas
para fornecer produtos e serviços em todas as O vértice que precisa ser integrado de forma

Submarinos |||||||||| CAP 10.0 |||||||||| Desafios para o futuro


Inicialmente, a Marinha do Brasil tem concentrado etapas do programa. Mas esse é apenas um pri- mais eficiente é o da indústria. Sem dúvida, o re-
seus esforços para garantir a absorção, a mescla meiro passo no longo caminho que o País tem a aparelhamento das Forças Armadas, determina-
e a aplicação da primeira safra de informações. percorrer para estruturar a sua indústria nacional do pela Estratégia Nacional de Defesa em 2008,
E isso, por ora, ocorre de forma descentralizada. de defesa e garantir o aproveitamento do grande e detalhado no Livro Branco em 2012, representa
As instalações do CTMSP no campus da USP re- salto tecnológico que o PROSUB promove. um impulso significativo à indústria de defesa
únem engenheiros e projetistas que estiveram brasileira. As encomendas das Forças Armadas
na França e agora documentam e replicam o que Além da defesa do País, é a expansão tecnológi- tendem a ser feitas, prioritariamente, ao parque
aprenderam, ao mesmo tempo que atuam no de- ca e industrial que justifica o alto investimento nacional. E há um consenso de que, para garantir
senvolvimento do projeto do SN-BR. Nas instala- feito pelo governo federal no PROSUB. Mas tec- sua segurança, todo Estado deve contar com
ções do CTMSP em Iperó, foi inaugurado o Centro nologia é um bem perecível — se não utilizada uma indústria tecnologicamente atualizada e
de Instrução e Adestramento Nuclear de Aramar e renovada constantemente, torna-se obsoleta. apta a fornecer às Forças Armadas, com razo-
(CIANA), onde estão sendo formados os opera- Daí a preocupação com a evolução constante ável grau de autonomia, os produtos necessá- Na inauguração da UFEM, a Presidenta

dores do Laboratório de Geração Nucleo-elétrica das tecnologias que estão sendo adquiridas e rios às ações de defesa, especialmente aqueles Dilma, o Ministro da Defesa, Celso

(LABGENE) — a planta nuclear de geração de ener- desenvolvidas a partir do programa. Isso reque- utilizados para manter fluxos operacionais, tais Amorim, o Comandante da Marinha,

gia elétrica — e a primeira tripulação do SN-BR. rerá a triangulação entre Marinha, indústria e como peças de reposição e munições. Os países Almirante Julio Soares de Moura Neto,

pesquisa científica. que não possuem uma base industrial de defesa o Comandante do Exército, General

Outra medida fundamental para dar suporte à autônoma estão sujeitos a todo tipo de pressões Enzo Martins Peri, e o Comandante da

gama de atividades, ao grau de especialidade e ao A relação da Marinha com a área de pesquisa, externas e internas. Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar

conteúdo tecnológico desenvolvido no PROSUB como visto, existe há mais de quatro décadas e Juniti Saito atestaram o grande salto

foi a criação da Amazônia Azul Tecnologias de vem sendo intensificada desde a aprovação do No entanto, só as encomendas das Forças tecnológico promovido pelo PROSUB

Defesa S.A. (AMAZUL), empresa pública res- PROSUB e o renascimento do PNM. É comum Armadas nacionais não são suficientes — por
ponsável por agregar os recursos humanos do a Marinha encaminhar suas demandas direta- requerer vultosos investimentos em ciência,
programa — que extrapolam em muito o quadro mente para universidades e demais centros de tecnologia e desenvolvimento de produtos,
funcional e a folha de pagamentos da Marinha. produção de conhecimento científico. E não só a indústria de defesa tende a ser deficitária. O
Através de concursos públicos, a AMAZUL está para os cursos de engenharia naval, elétrica ou primeiro obstáculo a ser vencido para solucio-
recrutando e absorvendo profissionais altamente nuclear — o salto tecnológico que está sendo nar esse déficit é a distância que se verifica no
qualificados. Ela poderá ser a primeira empresa dado requer a pesquisa nas mais variadas áreas, Brasil entre os setores industrial e acadêmico.

186 187
188
189

Submarinos |||||||||| CAP 10.0 |||||||||| Desafios para o futuro


As pesquisas acadêmicas e científicas podem
ser mais comumente testadas e utilizadas na
lei também favorece o uso de cláusulas de off set
nas importações, visando intensificar a transfe-
Desde o lançamento
prática industrial, inclusive atendendo melhor
às necessidades da indústria. Enquanto esta
rência tecnológica. Outra medida importante foi
a criação da Secretaria de Produtos de Defesa,
da Estratégia Nacional
pode reduzir sua importação de tecnologias,
desenvolvendo-as junto à extensa e qualificada
no âmbito do Ministério da Defesa. Uma das
competências da Secretaria é supervisionar as
de Defesa e a decisão
base de cientistas brasileiros. atividades de ciência, tecnologia e inovação, vi-
sando o desenvolvimento e a industrialização de
de reaparelhamento
Além de ajudar no desenvolvimento de produtos
para atender às necessidades das Forças
novos produtos de defesa.
das Forças Armadas,

Submarinos |||||||||| CAP 10.0 |||||||||| Desafios para o futuro


Armadas, a grande contribuição que a pesquisa
científica pode dar ao setor industrial é na geração
À medida que a base industrial de defesa esteja
estruturada, o Estado também poderá promover
a indústria de defesa
de tecnologias de emprego dual, o que minimiza
o problema de escala enfrentado pela indústria de
acordos de cooperação militar com outros paí-
ses, buscando ampliar o mercado de atuação das
no Brasil vem se
defesa. O retorno dos altos investimentos feitos
pelas empresas em P&D (pesquisa e desenvolvi-
empresas nacionais. Para tanto, é necessária a
adoção de padrões internacionais para a produ-
reestruturando
mento) pode vir por meio do chamado spin-off, o ção dos equipamentos e materiais de defesa, o
efeito de desdobramento de uma tecnologia — que requer a organização dessa indústria.
ou de sua utilização — em outras.
Desde o lançamento da Estratégia Nacional
Também cabe ao Estado promover a indústria de de Defesa e a decisão de reaparelhamento
defesa, sobretudo através de incentivos à inova- das Forças Armadas, a indústria de defesa no
ção, bem como à complementaridade entre os Brasil vem se reestruturando. A expectativa da
produtos destinados aos segmentos civil e mi- Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de
litar. Dessa forma, a indústria de defesa poderá Materiais de Defesa e Segurança) é a de que o País
estender seu mercado além dos programas de recupere a posição que tinha na década de 1980,
compras governamentais. quando figurava como o oitavo maior exporta-
dor de material de alta-tecnologia do mundo.
Uma iniciativa relevante do Governo Federal Principal interlocutora do setor, a Abimde conta
foi a aprovação da Lei 12.598, de 2012, que de- com mais de duzentas empresas associadas
fine e tipifica Produto de Defesa (PRODE), — algumas de pequeno porte. Para evitar que
Produto Estratégico de Defesa (PED), Empresa sejam compradas por empresas estrangeiras,
Estratégica de Defesa (EED) e Sistema de o governo convocou os grandes grupos priva-
Defesa (SD), criando, com isso, uma base de dos nacionais a participar do setor de defesa.
dados do segmento. A partir dessa base, são A intenção é fazer com que o setor ganhe fôlego
corrigidas distorções tributárias que prejudicam para suportar as demandas intermitentes das
a fabricação nacional de produtos de defesa. A Forças Armadas nacionais, ao mesmo tempo

190 191
que se capacite para exportação. Segundo a é outro fator importante para potencializar a in-
Abimde, o País tem potencial para, em 2030, dústria nacional no segmento. A considerar o
exportar US$ 7 bilhões e atender o equivalente a exemplo da ODT, a empresa, já com mais de 1.300
US$ 4,4 bilhões no mercado interno. funcionários, se prepara para atender as três for-
ças simultaneamente. Para o PROSUB, desen-
A Odebrecht foi uma das empresas que aten- volve um Sistema Integrado para Gerenciamento
deram ao chamado do governo. Em 2011, foi de Plataformas (IPMS), que responde por diver-
criada a subsidiária ODT — Odebrecht Defesa e sas funções dos submarinos, como controle de
Tecnologia para atuar na produção e desenvol- navegação, profundidade, propulsão, qualidade
vimento de sistemas militares de conhecimen- e segurança a bordo, energia elétrica, entre ou-

Submarinos |||||||||| CAP 10.0 |||||||||| Desafios para o futuro


to avançado, especialmente aviônicos, radares, tros. E tem ainda entre seus principais projetos o
equipamentos embarcados para os segmentos desenvolvimento de mísseis, sistemas espaciais
aeronáutico, espacial e naval, sistemas de co- para satélites e foguetes, o radar do caça AMX, da
municação seguros, entre outros. A ODT as- Embraer, e um sistema para comunicação segura
sumiu a participação da Odebrecht na Itaguaí com criptografia de dados. Batizado de Link BR-2,
Construções Navais (ICN) e no Consórcio Baía de esse sistema atende a um pedido da Força Aérea
Sepetiba — criados para atender ao PROSUB — Brasileira, mas a tecnologia pode ser aplicada na
e adquiriu também a Mectron, que passou a ser área de informações críticas e estratégicas de
o braço tecnológico da empresa. governo, o que se torna crucial quando a espiona-
gem de dados ameaça a soberania do País.
A participação dos grandes conglomerados na-
cionais no setor de defesa ajuda o Estado a se Com suas Forças Armadas devidamente apare-
desonerar nos grandes investimentos para apa- lhadas e atuando em conjunto; a sociedade civil
relhamento das Forças Armadas — as empre- integrada às questões de segurança; as políticas
sas assumem os financiamentos. Mas, acima de de defesa e de relações externas alinhadas; e uma
tudo, o primordial é garantir a soberania tecnoló- indústria de defesa nacional autônoma e deten-
gica ao País. Como os investimentos em defesa tora de tecnologias críticas, o Brasil terá as con-
trazem a oportunidade de aquisição e desenvol- dições necessárias para assegurar sua soberania,
vimento de tecnologias, é preciso que estejam proteger suas riquezas e até pleitear o almejado
sob domínio nacional, com reflexos no cresci- assento permanente no Conselho de Segurança
mento de toda a economia do País. A nova polí- da Organização das Nações Unidas. O ingresso
tica de defesa do Brasil reflete a intenção do País do Brasil no CSNU como membro permanente
em migrar de uma economia industrial para uma reforçaria a capacidade do País de influir em deci-
economia do conhecimento. sões de alcance global representando uma ampla
maioria dos países em desenvolvimento. 
Por fim, a crescente integração das Forças Ar–
madas, desde a criação do Ministério da Defesa,

192 193
194
195

Submarinos |||||||||| CAP 10.0 |||||||||| Desafios para o futuro


agradecimentos
Agradecemos a todos que contribuíram diretamente para a publicação deste livro, em especial a: Vice-Almirante (EN) Othon Luiz Pinheiro da Silva, Presidente da Eletronuclear Esta é a primeira edição de uma série que
contará a evolução do Programa de
Desenvolvimento de Submarinos, previsto
Almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, Comandante da Marinha Fabio Gandolfo, Diretor-Superintendente da Odebrecht Infraestrutura para as áreas de Estaleiros e Nuclear ainda para os próximos anos.
Celso Rodrigues, Diretor de Contrato da Odebrecht Infraestrutura para a área de Infraestrutura do PROSUB-EBN
Almirante de Esquadra Gilberto Max Roffé Hirschfeld, Coordenador Geral do Programa Pablo Martinez, Diretor de Contrato da Odebrecht Infraestrutura para a área de Eletromecânica do PROSUB-EBN Neste livro, contextualizamos a criação do
de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear (COGESN) Sergio Pinheiro, Diretor de Contrato da Odebrecht Infraestrutura para o Complexo Nuclear do PROSUB-EBN Programa e o seu desenvolvimento até uma
Contra Almirante (EN) Sydney dos Santos Neves, Gerente do Empreendimento Modular etapa primordial – a conclusão de uma das
de Obtenção dos Submarinos Convencionais da COGESN André Amaro, Presidente da Odebrecht Defesa e Tecnologia principais obras dos estaleiros e da base naval
Contra Almirante Newton de Almeida Costa Neto, Gerente do Empreendimento Modular em Itaguaí, no Rio de Janeiro.
de Obtenção da UFEM, Base e Estaleiro da COGESN Roberto Simões, Presidente da Odebrecht Óleo e Gás
Contra Almirante (EN) Alan Paes Leme Arthou, Gerente do Empreendimento Modular Em edições futuras, pretendemos abordar a
de Obtenção do Submarino com Propulsão Nuclear da COGESN Alexandre Galante, Editor do site Poder Naval operação dessas novas áreas, a construção e o
Capitão de Mar e Guerra Flávio Luiz Condé Marlière, Chefe de Gabinete da COGESN Felipe Salles, Diretor da Alide – Agência Linha de Defesa lançamento dos submarinos convencionais,e,
Capitão de Mar e Guerra Claudio da Costa Lisboa, Assessor da COGESN Fernanda Correa, Instituto de Estudos Estratégicos da UFF finalmente, todo o processo de criação do primeiro
Capitão de Mar e Guerra Ricardo Lindgren de Carvalho, Assessor de Comunicação Social da COGESN José Augusto Abreu de Moura, Escola de Guerra Naval submarino de propulsão nuclear brasileiro.

Contra Almirante José Roberto Bueno Junior, Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha Será a forma de acompanharmos e registrarmos
Destacamos a importante participação no Programa de Desenvolvimento de Submarinos de: as diversas etapas de um programa de longo
Contra Almirante (EN) André Luis Ferreira Marques – Superintendente do Programa Nuclear do CTMSP prazo, com enorme relevância para o país.
Almirante-de-Esquadra Airton Teixeira Pinho Filho
Capitão de Mar e Guerra Caio Victoriano Renaud Filho, Chefe do Estado-Maior do Comando da Força de Submarinos Almirante-de-Esquadra Luiz Guilherme Sá de Gusmão
Capitão de Fragata Horácio Cartier, Comandante do Submarino Tapajó Almirante-de-Esquadra José Alberto Accioly Fragelli
Capitão de Corveta Maurício Tinoco dos Santos Benvenuto, Centro de Instrução e Adestramento Almirante-de-Esquadra Marcos Martins Torres (in memoriam)
Almirante Áttila Monteiro Aché (CIAMA) Almirante-de-Esquadra Marcus Vinícius Oliveira dos Santos
Almirante-de-Esquadra Luiz Umberto de Mendonça
SC Márcia Prestes Tarft, Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM) Almirante-de-Esquadra Arthur Pires Ramos
Almirante-de-Esquadra Eduardo Monteiro Lopes
Vice-Almirante (IM) Anatalício Risden Junior
Contra-Almirante Eurico Wellington Ramos Liberatti

196 197
REFERÊNCIAS
ALVES, Vágner Camilo. Ilusão desfeita: a de Geisel a Lula (1974-2009).Rio de Janeiro: segurança. Brasília: Ministério da Defesa, O Periscópio, ano XLV, n. 63, 2010. Legendas de imagens
“aliança especial” Brasil-Estados Unidos e Universidade Federal do Rio de Janeiro, Secretaria de Estudos e de Cooperação, O Periscópio, ano XLIV, n. 62, 2009. Págs. 32 e 33: Plataforma de petróleo no Campo

BIBLIOGRÁFICAS
o poder naval brasileiro durante e após a Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, 2009. 2004 (Pensamento brasileiro sobre defesa e de Manati (BA)
Segunda Guerra Mundial.Revista Brasileira de CORRÊA, Fernanda das Graças. O projeto do segurança, v. 2). Págs. 50 e 51: Farol em Itacaré (BA)
Política Internacional, v. 48, n. 1, 2005, p. 171. submarino nuclear brasileiro – Uma história de PINTO, J.R. de Almeida; ROCHA, A.J. Ramalho REFERÊNCIAS NA WEB Págs. 156 e 157: Ilha da Madeira, Itaguaí (RJ)
AMARAL, Misael Henrique Silva do. O ciência, tecnologia e soberania. Rio de Janeiro: da; SILVA, R. Doring Pinho da (orgs.). www.technonews.com.br Págs. 189 e 190: Farol em Morro de São Paulo (BA)
poder pelo mar: a indústria de construção Capax Dei Editora Ltda., 2010. As Forças Armadas e o desenvolvimento www.defesanet.com.br
naval militar no Brasil a partir da política JESUS, Diego Santos Vieira de. Autonomia pela científico e tecnológico do País. Brasília: www.defesaaereanaval.com.br Créditos de imagens
desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek contradição: as políticas externa e nuclear de Ministério da Defesa, Secretaria de Estudos e www.prosubebn.com.br Pág. 21: Silvestre Machado/SambaPhoto
(1956-1961). Rio de Janeiro: FGV/CPDOC Vargas e JK. Revista Política Hoje, v. 20, n. 2, 2011. de Cooperação, 2004 (Pensamento brasileiro www.alide.com.br Pág. 36: Ale Santos/SambaPhoto
(Centro de Pesquisa e Documentação de LUIS, Camila Cristina Ribeiro. A estratégia naval sobre defesa e segurança, v.3). www.basemilitar.com.br Pág. 42: Luiz Padilha
História Contemporânea do Brasil). Programa brasileira no contexto da política exterior do REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. www.defesabr.com Págs. 50 e 51: Levi Mendes Jr/SambaPhoto
de Pós-Graduação em História, Política e Bens Brasil. Revista da Escola de Guerra Naval, v.18, O Programa Nuclear Brasileiro, Brasília, 1977. www.comciencia.br Pág. 59: reprodução do livro Cinquentenário
Culturais, 2013. jan/jun 2012. RIBEIRO, Luciano Roberto Melo. Poder naval www.defesa.gov.br do Convênio entre a Marinha do Brasil e a
ASSANUMA, E. A geopolítica do Atlântico Sul: MARTINS, Carlos Estevam. A evolução da – A Marinha do Brasil. Rio de Janeiro: Action www.redetec.org.br Universidade de São Paulo, Editora Narrativa
razões para o fortalecimento da Marinha política externa brasileira na década 64/74. Editora, 2006. www.geopoliticadopetroleo.wordpress.com Um, 2007.
do Brasil. Revista Marítima Brasileira,v.123, São Paulo: Novos Estudos CEBRAP, 1975, n. 12. SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA. www.mar.mil.br Pág. 70: Danilo Verpa/Folhapress
n.10/12, 2003. MOURA, José Augusto Abreu de. A estratégia A vida nos “FF”: 1914-1934. Rio de Janeiro, 2010. www.revistadehistoria.com.br Pág. 77: Lewy Moraes/Folhapress
BRASIL. Estratégia Nacional de Defesa, 2008. naval brasileira no pós Guerra Fria – Uma SOUZA, Marco Polo A.C. Nossos submarinos: Pág. 81: Monica Vendramini/Folhapress
BRASIL. Livro Branco da Defesa Nacional, 2012. análise comparativa com foco em submarinos. sinopse histórica. Rio de Janeiro: Serviço de SantaCatarinaBR – Palestra “Soberania Nacional Pág. 82: Vidal Cavalcante/Folhapress
BRASIL. Política de Defesa Nacional, 1996. Rio de Janeiro: Universidade Federal Documentação Geral da Marinha, 1986. – A Defesa da Amazônia Azul” na ACSP em Pág. 84: Paulo Cerciari/Folhapress
BRASIL. Política de Defesa Nacional, 2005. Fluminense, 2012. VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. A evolução 07/07/2011 (http://www.youtube.com/
BRASIL. Política de Defesa Nacional, 2012. MOURA, José Augusto Abreu de. Os submarinos do pensamento estratégico naval brasileiro. watch?v=Sb-gsM1Y-iU)
CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. nucleares e o enriquecimento de urânio. Revista Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1985. Entrevista com o Almirante Armando Vidigal
História da política exterior do Brasil. Brasília: da Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, v.18, no Programa Debate Brasil da AEPET, em
Editora Universidade de Brasília, 2002. jan/jun 2012. 10/09/2008 (http://www.youtube.com/
CORRÊA, Fernanda das Graças. O projeto do PINTO, J.R. de Almeida; ROCHA, A.J. Ramalho REVISTAS watch?v=yTUE7s083LE)
submarino de propulsão nuclear na visão de da; SILVA, R. Doring Pinho da (orgs.). O O Periscópio, ano XLVIII, n. 66, 2013.
seus protagonistas: uma análise histórica Brasil no cenário internacional de defesa e O Periscópio, ano XLVII, n. 65, 2012.

198 199
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAçÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
(Maurício Amormino Junior, CRB6/2422)

L243s
Lana, Luciana, 1970-

Submarinos: defesa e deenvolvimento para o Brasil /


Luciana Lana. – Rio e Janeiro: Versal, 2014
200 p. : il. ; 30 x 30 cm

ISBN 978-85-89309-63-9

1. Brasil. Marinha – Defesa. 2. Submarinos. I. Título.



CDD-359.0981

Impresso em São Paulo, em novembro de 2014.

Miolo em papel couché matte 150g/m². Fontes utilizadas: Sero Pro e Kelson Sans.

200
DEFESA E DESENVOLVIMENTO PARA O BRASIL

PATROCÍNIO

Você também pode gostar