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Curso: Mestrado em Pedagogia

Disciplina: Questões e Problemáticas em Educação

Fichamento 1

CHARLOT, Bernand. Da Relação com o saber: Elementos para uma teoria, Artmed Editora,
Porto Alegre, 2000.

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da disciplina Questões e Problemáticas em Educação.


Pretende-se aqui entender as dificuldades verificadas dos alunos que ingressam as universidades
(em Cabo Verde) nas disciplinas de Matemática e Programação. Fundamenta-se da linha do
pensamento de Charlot para tentar entender esse fenómeno.
“Existem, é claro, alunos que não conseguem acompanhar o ensino que
lhes é dispensado, que não adquirem os saberes que supostamente
deveriam adquirir, que não constroem certas competências, que não são
orientados para a habilitação que desejariam[…] É o conjunto desses
fenómenos, observáveis, comprovados, que a opinião, a mídia, os
docentes, agrupam sob o nome de “fracasso escolar”. [..] O “fracasso
escolar” não existe; o que existe são alunos fracassados, situações de
fracasso, histórias escolares que terminam mal.” (p.7)

Aqui o que Charlot justifica que é sim verídico o facto de que nem todos os alunos conseguem
construir certas competências. Entendo e concordo com essa observação. Esse ponto representa
apenas uma pequena amostra na problemática que aqui questiono. Nota-se aqui que os alunos
que não construirem as competências basilares para as áreas científicas, certamente terão
dificuldades em construir essas novas competências.
Charlot desconstrói o termo “fracasso escolar” em termos de origem e deficiência e remete-nos a
fazer uma leitura positiva. Sendo que devemos entender o fracasso escolar aqui como um
conjunto de situações, trajetórias, histórias em que o aluno encontra dificuldades.

“A questão do fracasso escolar remete para muitos debates: sobre o


aprendizado, obviamente, mas também sobre a eficácia dos docentes,
sobre o serviço público, sobre a igualdade das “chances”, sobre os modos
de vida e o trabalho na sociedade de amanhã, sobre as formas de
cidadania etc.” (p.6).
Entendendo a visão de Charlot. Consegue-se aqui identificar que o sistema de
ensino/aprendizagem é um sistema complexo que envolve vários atores (a escola, o aluno, o
professor, a sociedade). Os alunos vêm na escola um possível caminho para o sucesso e
prosperidade, mas descoram o seu papel ativo na construção do seu saber. Ingenuamente
acham que a presença na escola representa automaticamente a aprendizagem e isso dificulta
imenso o trabalho do professor.
Outro aspeto que não se pode ignorar é a o papel do professor. Nessa temática “fracasso escolar”
é importante compreender a sua abordagem, pois corre-se o risco de omitir as implicações que as
práticas pedagógicas e a formação de professores têm na eficácia do processo de
ensino-aprendizagem.
Para Charlot1, o professor é um indivíduo que enfrenta muitas contradições. Vive numa escola
organizada para uma metodologia tradicional, mas ao mesmo tempo é pressionado para adotar
uma metodologia nova. Todavia, o professor deve também melhorar as práticas pedagógicas
para melhorar a formação do aluno. Nos sistemas de formação contínua dos docente, as
propostas partem dos órgãos centrais e são intermediadas por profissionais que, na perspetiva de
KRAMER(1989, p. 194), "não detêm os conhecimentos que levaram à elaboração da proposta
nem a prática pedagógica necessária para contextualizá-la, relativizá-la e criticá-la". Segundo
esta autora, neste sistema é normal haver distorções e simplificações.
Algumas universidades nacionais realizam testes de aferição de competências, embora não com
o objetivo de limitar o acesso à universidade(através da criação de um perfil de entrada baseada
em notas mínimas), mas como indicador do qualitativo do perfil de entrada nas universidades.
Peca-se por não se publicar estudos estatísticos sobre esses dados, mas a média aritmética desses
testes para disciplina de Matemática (como disciplina base para vários cursos da área económica
e tecnológica) é negativa, não obstante ao facto de que a nota média de entrada desses alunos
serem positivas (e muitos boa classificação) e também o facto se realizar teste de aferição com
base no programa do ensino secundário. Nota-se que há uma discrepância no que se espera e no
resultado que se obtém. Pretende-se entender esse fenómeno de “fracasso escolar”. A meu ver
alguns docentes do secundário preocupam-se mais em cumprir o programa, através de uma
metodologia simplista e superficial, e neste sentido não se constrói o processo de
ensino-aprendizagem. Como afirmou Pereira (2001:95) "Tomo em conta, repito, a ideia de que a
possibilidade e a profissionalidade do profissional andam juntas (...). Pensar, portanto, o
processo de formação do profissional passa, a meu ver, pelo pensar o processo de produção de si,
do sujeito”. Essa afirmação leva-nos a refletir a forma como se vê a docência e se pratica a

1
https://programaurbanidades.com.br/episodios/bernard-charlot-episodio-78/
docência. É claro que este é um processo complexo que envolve todos os atores do sistema
educativo e deve ser bem estudado.

“A deficiência é uma falta, pois, dada como constitutiva do indivíduo.


Mas, falta de quê? Mais uma vez, é interessante identificar o modo de
pensar aí implícito. Quando um aluno está em situação de fracasso,
constatam-se efetivamente faltas, isto é, diferenças entre esse aluno e os
outros, ou também entre o que se esperava e o resultado efetivo” (p.14)

Concluo aqui, realçando esta visão do Charlot dando ênfase que fracasso simboliza também a a
diferença entre o que se esperava e o resultado efetivo. E isto é um fenómeno que devemos levar
em consideração e será um ótimo objeto de estudo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHARLOT, Bernand. Da Relação com o saber: Elementos para uma teoria, Artmed Editora,
Porto Alegre, 2000.

KRAMER, S. Melhoria da qualidade do ensino: o desafio da formação de professores em serviço.


Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 70 (165): 189-207,1989.

PEREIRA, Marcos Villela. Subjetividade e Memória: Algumas considerações sobre formação e


autoformação. In: Imagens de Professor: significações do trabalho docente. Ijuí, UNIJUÍ:2000.

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