Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
O meio ambiente sustentável é essencial para a vida na Terra. Os seres vivos que
habitam este planeta necessitam dos recursos naturais para sobreviverem, e dentre esses seres
está a humanidade. Contudo, com o passar do tempo e o aumento das necessidades humanas,
o homem passou a utilizar os recursos naturais de forma desordenada e irregular, causando
diversas consequências para o meio ambiente, dentre estas está o aquecimento global.
Desse modo, a sociedade começou a atribuir maior importância ao meio ambiente
considerando que a sua extinção também acarreta a extinção de todos os seres que dele
dependem, utilizando como uma das ferramentas de proteção as normas constitucionais e
infraconstitucionais que busca assegurar o uso sustentável dos recursos que a natureza provê.
Entretanto, apesar da proteção dada a natureza por tais atos normativos, ainda se percebe a
dificuldade de se ter um meio ambiente sustentável. Os desejos do consumo e o predomínio
do fator econômico acabam por se sobrepujar ao fato de que a natureza necessita de uma
proteção mais eficaz e ser utilizada de forma consciente.
1
Discente do 6º Semestre do Curso de Direito do Centro Universitário Católica de Quixadá. E-mail:
anabiaav17@gmail.com
2
Discente do 6º Semestre do Curso de Direito do Centro Universitário Católica de Quixadá. Bolsista de Iniciação
Científica do CNPq – Brasil. Membro do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais, na linha de
pesquisa Direito Internacional dos Direitos Humanos e do Grupo de Pesquisa GCriminis. E-mail:
lucas.mata@outlook.com
P á g i n a | 45
A humanidade faz parte de um planeta vivo que sofre constantes riscos em razão do
descaso dirigido à natureza ao longo dos anos, tendo como consequência o aumento do
aquecimento global que gera diversos impactos negativos na vida presente na Terra 3. Desse
modo, considerando que o homem não vive sem os recursos que a natureza provê, assim
como é integrante do biossistema que forma a Terra, os sistemas jurídicos ao redor do mundo
começaram a se preocupar com a natureza, com maior ou menor grau, à fim de garantir a
subsistência desse meio essencial à vida. No Brasil, o complexo de normas que protegem o
meio ambiente é tanto de ordem infraconstitucional quanto constitucional, buscando assegurar
um meio ambiente equilibrado e sustentável.
3
“As consequências do aumento de temperatura são graves para todos os seres vivos, incluindo o homem. O
aquecimento global tem impactos profundos no planeta: extinção de espécies animais e vegetais, alteração na
frequência e intensidade de chuvas (interferindo, por exemplo, na agricultura), elevação do nível do mar e
intensificação de fenômenos meteorológicos (por exemplo: tempestades severas, inundações, vendavais, ondas
de calor, secas prolongadas), entre outros. Essas conclusões foram obtidas após análise dos diversos cenários de
emissões de gases de efeito estufa para os próximos 100 anos, feitas por cientistas do IPCC” (ONLINE.
Disponível em: <http://www.inpe.br/acessoainformacao/node/483>. Acesso em: 05 de agosto de 2018).
P á g i n a | 46
4
BRASIL. Lei 9.605/1998 (lei de crimes ambientais). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9605.htm>. Acesso em: 05 de agosto de 2018.
5
“qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público
ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência” (BRASIL. Constituição Federal Brasileira, artigo 5º, inciso LXXIII. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 05 de agosto de 2018.
6
“Stateshave, in accordancewiththe Charter ofthe United Nationsandtheprinciplesofinternationallaw,
thesovereignrighttoexploittheirownresourcespursuanttotheirownenvironmental policies,
andtheresponsibilitytoensurethatactivitieswithintheirjurisdictionorcontrol do not cause
damagetotheenvironmentofotherStatesorofareasbeyondthelimitsofnationaljurisdiction.” (Declarationofthe United
P á g i n a | 47
7
A teoria de Gaia ou hipótese de Gaia, foi elaborada na década de 70 pelo inglês James Lovelock, e segundo ela,
o planeta Terra se comporta como um só organismo vivo e possui a capacidade de se auto regular. Segundo
Lovelock“A teoria de Gaia vê a biota e as rochas, o ar e os oceanos como existências de uma entidade
fortemente conjugada. Sua evolução é um processo único, e não vários processos separados estudados em
diferentes prédios de universidades.Ela tem um significado profundo para a biologia. Afeta até a grande visão de
Darwin, pois talvez não seja mais suficiente dizer que os indivíduos que deixarem a maior prole terão êxito. Será
necessário acrescentar a cláusula de que podem conseguir contanto que não afetem adversamente o meio
ambiente.” (LOVELOCK, James E. A Terra como um organismo vivo. WILSON, EO (Org.), 1997. Disponível
em: <http://www.buriti.0catch.com/gaia.doc>. Acesso em: 11 de agosto de 2018.)
P á g i n a | 49
8
“O marco inicial legislativo fica por conta da Lei 6938/81, ao dispor sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, criando o Sistema Nacional do Meio Ambiente.” (MACHADO, Henrique Pandim Barbosa et al. Por
uma Constituição Gaia: a questão ambiental na Constituição Federal de 1988. 2015. Disponível em:
<http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/bitstream/tede/2733/1/HENRIQUE%20PANDIM%20BARBOSA%20MAC
HADO.pdf>. Acesso em: 11 de agosto de 2018.)
9
No original: “Art. 10.-Las personas, comunidades, pueblos, nacionalidades y colectivosson titulares y gozarán
de losderechosgarantizadosenlaConstitución y enlos instrumentos internacionales. La naturaleza será sujeto de
aquellosderechos que lereconozcalaConstitución.” (CONSTITUYENTE, EcuadorAsamblea. Constitución de la
República delEcuador. 2008. Disponível em: <http://repositorio.dpe.gob.ec/bitstream/39000/638/1/NN-001-
Constituci%C3%B3n.pdf>. Acesso em: 11 de agosto de 2018).
P á g i n a | 50
Ao longo dos anos o Brasil passou por um extenso processo de evolução no que
tange a custódia ambiental. O início da atenção e cuidado com a natureza originou-se devido
10
“O novo constitucionalismo parte de postulados clássicos da teoria constitucional, repetindo, por exemplo, o
tradicional catálogo de direitos de proteção individual. Por outro lado, procura superar o constitucionalismo
clássico no que este não teria avançado, sobretudo no que se refere às possibilidades de articulação e releitura da
categoria soberania popular, como condição necessária de legitimação das instituições e de gestão do próprio
Estado” (VIEIRA, J. R.; RODRIGUES, V.A.C. Refundar o Estado: o novo constitucionalismo latino-americano.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.direito.ufg.br/up/12/o/24243799-UFRJ-
Novo-Constitucionalismo-Latino-Americano.pdf?1352146239>. Acesso em: 12 de agosto de 2018)
11
“Art. 71.- La naturaleza o Pacha Mama, donde se reproduce y realiza la vida, tienederecho a que se respete
integralmente suexistencia y elmantenimiento y regeneración de sus ciclos vitales, estructura, funciones y
procesos evolutivos. Toda persona, comunidad, pueblo o nacionalidadpodrá exigir a laautoridad pública
elcumplimiento de losderechos de lanaturaleza. Para aplicar e interpretar estosderechos se
observaranlosprincipiosestablecidosenlaConstitución, enlo que proceda. El Estado incentivará a las personas
naturales y jurídicas, y a loscolectivos, para que protejanlanaturaleza, y promoverá elrespeto a todos los
elementos que formanunecosistema”. (CONSTITUYENTE, EcuadorAsamblea. Constitución de la República
delEcuador. 2008. Disponível em: <http://repositorio.dpe.gob.ec/bitstream/39000/638/1/NN-001-
Constituci%C3%B3n.pdf>. Acesso em: 11 de agosto de 2018).
12
Decisão dos autos número 11121-2011-0010 do JuzgadoTercero de lo Civil de Loja. Disponível em:
<http://www.elcorreo.eu.org/IMG/pdf/Sentencia_ce_referencia.pdf>. Acesso em: 15 de agosto de 2018.
P á g i n a | 51
ao seu caráter econômico, fazendo com que as normas até então criadas regulamentassem
apenas questões de atividade exploratória (MACHADO, 2015).
Somente com o advento da Constituição Federal de 1988, uma grande parcela de
direitos foram reconhecidos e passaram a ser amparados pelo ordenamento jurídico, dentre
eles tem-se a defesa ambiental, representando o abandono da visão fragmentária e cingindo a
visão holística de natureza no direito brasileiro (MACHADO, 2015).
Em seu artigo 225, a Carta Constitucional de 1988 apregoa que “todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”13. O que explicita que a natureza é um
direito fundamental do ser humano e por esta justificativa há que se preservar e efetivar as
prerrogativas estabelecidas no texto constitucional.
O que difere a constituição brasileira, que reconhece e assegura direitos à natureza,
da constituição do Equador, que também ampara sobre o baluarte do direito o meio ambiente
é quem são os titulares dos direitos garantidos. No caso brasílico, os seres humanos são os
sujeitos portadores destas prerrogativas, entretanto, no atinente a lei máxima equatoriana, a
própria natureza detém o status de sujeito (SOUZA, 2014).A exemplo desta disparidade tem-
se o ocorrido em Mariana, em 201514, e Brumadinho, em 201915, no estado de Minas Gerais,
em que mesmo tendo sido o desastre ambiental de grande proporção e causado prejuízos
ambientais e humanos, no polo passivo da ação jurídica contra a empresa responsável pelo
sinistro, encontra-se somente as pessoas que foram prejudicadas.
Percebe-se então, que embora tenha reflexos do novo constitucionalismo latino-
americano, o direito brasileiro ainda favorece os interesses humanos acima de qualquer outro
e restringe seu manto de proteção apenas ao que o fere, fazendo com que a natureza dependa
do conflito entre o direito dos seres humanos para que o seu seja efetivado.
13
BRASIL. Constituição Federal Brasileira, Capítulo VI – Do meio ambiente. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 19 de agosto de 2018.
14
“No dia 5 de novembro de 2015, a barragem de Fundão, da Samarco Mineração, em Mariana, Minas Gerais,
rompeu, resultando no derramamento de mais de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no vale
do Rio Doce. Como resultado, 19 mortos, mais de 600 pessoas desabrigadas e desalojadas, milhares de pessoas
sem água, danos ambientais e socioeconômicos incalculáveis a toda a Bacia do Rio Doce e cerca de 40
municípios afetados em Minas e no Espírito Santo.” (PORTO, Antônio José Maristrello; DOS SANTOS, Laura
Meneghel. Reflexões sobre o caso da Samarco em Mariana. Revista Conjuntura Econômica, v. 70, n. 6, p. 60-
61, 2016. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rce/article/download/65804/63523.>
Acesso em: 19 de agosto de 2018.)
15
ESTADÃO. Vale é condenada a pagar R$ 11,8 mi a familiares de vítimas de Brumadinho. 2019. Disponível
em: <https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2019/09/epoca-negocios-vale-e-condenada-a-pagar-r-118-
mi-a-familiares-de-vitimas-de-brumadinho.html>. Acesso em: 22 de setembro de 2019.
P á g i n a | 52
16
BRASIL. Constituição Federal de 1988, art. 225. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 01 de Julho de 2019.
17
“The general acceptabilityoftheresourceconservation perspective arisesfromthefactthat it proceedsfrom a
human-centered, utilitarian framework thatseeksthe "greatestgood for thegreatestnumber" (including future
generation) byreducingwasteandinefficiency in theexploitationandconsumptionofnonrenewable "natural
resource" andensuring a maximumsustainableyield in respectofrenewableresource”. (ECKERSLEY, Robyn.
Ambientalismo e teoria política: Rumo a uma abordagem ecocêntrica .Suny Press, 1992. P. 35-36.)
P á g i n a | 53
Visto isso, e tendo em vista a mudança de pensamento global acerca do cuidado com
o meio ambiente, se pode atentar para a perspectiva de que conferir personalidade jurídica à
natureza é dotá-la de valor jurídico em si própria, ou seja, é garantir sua proteção
independentemente de sua valia econômica para o homem (BENJAMIN, 2009).
De acordo com a resolução Nº 001, de 23 de janeiro de 1986, do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA) “considera-se impacto ambiental qualquer alteração das
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante das atividades humanas” (CONAMA, 1986).
Logo, ao adotar a perspectiva de personalidade jurídica ao meio ambiente, o
ordenamento jurídico – logo, a sociedade – admitiria que a natureza se “defendesse” dos
constantes abusos e degradações sofridos pela ação do homem, uma vez que ela própria
poderia requerer a concretização dos seus direitos, permitindo por exemplo, sua auto-tutela
em questões de poluição, desmatamento, exploração e uso irresponsável dos recursos naturais.
Assim, ao perceber que a natureza é condição sinequa non para a manutenção da
vida do planeta, colocá-la no rol de entes com personalidade jurídica, pode garantir de modo
mais eficaz que todos os seus direitos sejam ratificados, uma vez que não haverá a
necessidade de manifestação de violação de interesses humanos para se utilizar os elementos
jurídicos na tutela de seus direitos próprios, garantindo assim, sua proteção e preservação,
bem como, garante também os direitos do próprio ser humano, dado que ambos estão
intrinsecamente ligados devido sua interdependência (BENJAMIN, 2009).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A consciência global a cada dia que se passa tem se convergido para um problema
em comum, a realidade da destruição ambiental e os impactos que tem gerado na vida em
sociedade. Apesar de ainda existir uma prevalência dos mercados de capital e do consumo
perante o meio natural, já é perceptível o movimento de diversos atores sociais em defesa da
proteção ambiental à fim de tentar amenizar os impactos da devastação ecológica que tem
ocorrido nos últimos anos.
P á g i n a | 54
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral do direito civil: parte geral. Pg. 6. Atlas, 2012.
CONAMA (Brasil). Resolução nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Diário Oficial [da] União,
1986. Disponível em: <http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html>.
Acesso em: 20 de agosto de 2018.
P á g i n a | 55
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, v. 1 – Parte geral, 15ª edição. Pg.
221. Editora Saraiva, 2017.
LOBO, Paulo. Direito civil - Parte geral, 6ª edição. Pg. 109. Editora Saraiva, 2017.
MACHADO, Henrique Pandim Barbosa et al. Por uma Constituição Gaia: a questão
ambiental na Constituição Federal de 1988. 2015. Disponível em:
<http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/bitstream/tede/2733/1/HENRIQUE%20PANDIM%20BA
RBOSA%20MACHADO.pdf>. Acesso em: 11 de agosto de 2018.
PORTO, Antônio José Maristrello; DOS SANTOS, Laura Meneghel. Reflexões sobre o caso
da Samarco em Mariana. Revista Conjuntura Econômica, v. 70, n. 6, p. 60-61, 2016.
Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rce/article/download/65804/63523.> Acesso em:
19 de agosto de 2018.
SILVA, D. C. Bem jurídico penal: algumas compreensões, breves reflexões. 2010. Revista
dos tribunais online, vol. 10.
SOUZA, Danuta Rafaela Nogueira de. A natureza como titular de direitos segundo a
Constituição do Equador. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n.
4178, 9 dez. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/34752>. Acesso em: 19 ago.
2018.
SUÁREZ, Sofía. Defendiendolanaturaleza. 2013.
VIANA, Mateus Gomes. A terra como sujeito de direitos. Revista da Faculdade de Direito,
v. 34, n. 2, p. 247-276, 2013. Disponível em:
<http://www.revistadireito.ufc.br/index.php/revdir/article/view/106>. Acesso em: 05 de
agosto de 2018.
ABSTRACT: