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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE – ESTADO DE.

Fulano de Tal, brasileiro, gerente operacional, inscrito no RG n.


XXXXXX e inscrito no CPF n. xxx.xxx.xxx.-xx, residente domiciliado na Avenida
XXX, vem, por meio de seu advogado, com escritório profissional impresso no
rodapé desta e endereço eletrônico, onde recebe as intimações e notificações de
estilo,, respeitosamente perante Vossa Excelência, propor AÇÃO
DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS E
RESCISÃO CONTRATUAL CUMULADA COM DEVOLUÇÃO DE
QUANTIAS PAGAS, em face da empresa Siclano de tal, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ, sediada na, , e Beltrano de Tal, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ/MF sob o n°, estabelecida na 0, pelos fatos e fundamentos
que passa a expor:

DO RELATO SUMULAR DOS FATOS

Na data de xx/xx/xxxxx, o requerente firmou contrato particular de


cessão de direitos de imóvel, adquirido a prestações, com a anuência da 1ª requerida,
tendo por objeto a aquisição do lote urbano nº xx da quadra xx do loteamento
denominado Vaz Tal.

Do contrato, foram pagas 81 (oitenta e uma) parcelas no valor total de


R$ 24.540,36 (vinte quatro mil, quinhentos e quarenta reais e trinta e seis centavos) -
o que indica a quitação de quase 59% (cinquenta e nove porcento) do contrato -,
conforme extrato de pagamento em anexo, fornecido pela 2ª requerida.

Ocorre que o requerente, por motivos pessoais, não mais tem interesse
em manter o compromisso avençado, razão pela qual entrou em contato com a 2ª
requerida, a fim de rescindir contrato em questão, bem como solicitar a devolução das
quantias já pagas. Em decorrência, foi-lhe informado que encaminhasse a solicitação
ao e-mail <>. Assim, foram iniciadas as tratativas para formalizarem a rescisão.

No entanto, no dia xx/xx/xxxx, em resposta a notificação enviada, foi-


lhe encaminhado parecer (em anexo) que conclui não haver restituição a ser realizada
ao requerente, sugerindo a formalização do distrato com a reintegração na pose pela
vendedora. Veja-se:

Diante de todo o exposto, conclui-se que em caso de desfazimento


contratual motivado pelo comprador, a vendedora poderá exigir a
retenção de multa penal compensatório e taxa de fruição desde a data
de assinatura do Contrato de Compromisso de Compra e Venda, até a
efetiva reintegração na posse.
Isto posto, baseando-se no contrato vigente e entendimentos
jurisprudenciais, conclui-se que:
a) Rescindido o contrato pelo comprador, faz-se possível a cobrança
de taxa de fruição no importe de até 1% (um por cento) do valor do
imóvel atualizado pelo índice IGPM/FGV, perfazendo a monta de R$
42.882,36 (quarenta e dois mil, oitocentos e oitenta e dois reais e
trinta e seis centavos).
b) Bem como, a retenção de multa equivalente à 10% (dez por cento)
sobre o valor total do contrato atualizado, totalizando o valor de R$
5.104,04 (cinco mil cinquenta reais e quatro centavos).
Em que pese o comprador ter realizado o pagamento de 81 (oitenta e
uma) parcelas, com o valor atualizado de R$ 29.247,16 (vinte e nove
mil, duzentos e quarenta e sete reais e dezesseis centavos), não há
nenhuma restituição a ser realizada ao adquirente, podendo ser
realizado o instrumento de DISTRATO com a reintegração na posse
pela vendedora (Grifos nosso).

Destarte, considerando a ilegalidade e abusividade das aludidas


cláusulas contratuais, não restou alternativa ao requerente senão a de promover esta
demanda.

DO DIREITO

DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


A respeito da incidência da legislação consumerista à avença em tela,
convém consignar, tão logo, que o contrato de compromisso de compra e venda de
unidade imobiliária caracteriza induvidosa relação de consumo, sujeitando-se, pois,
às regras do Código de Defesa do Consumidor, plenamente aplicável ao caso dos
autos.

Impõe-se atestar, nesta esteira, que o conceito básico de consumidor,


previsto no artigo 2º da Lei nº 8.078/90, traz como nota característica o
enquadramento fático do hipossuficiente ou vulnerável da relação como destinatário
final de um produto ou serviço, in litteris:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Por sua vez, o artigo 3º da mencionada lei estabelece a definição legal


de fornecedor, bem como de produtos e serviços:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.

Verifica-se, pois, que o pacto celebrado, cujo objeto é a aquisição de


imóvel, tem presentes as figuras do consumidor (destinatário final do imóvel -
requerente), do fornecedor (pessoa jurídica que comercializa o imóvel - requerida) e
do produto transacionado (lote nº xx da quadra xx do loteamento Vaz Tal).

A propósito, a caracterização da promessa de compra e venda de


unidade imobiliária, é expressamente reconhecida como relação de consumo pelo
CDC em seu artigo 53:
Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis
mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações
fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as
cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em
benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a
resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Sobre o tema, as lições de Bruno Miragem explicam:

(...) A relevância dos contratos imobiliários é evidente. O direito à


moradia e sua presença no imaginário das pessoas, muitas vezes como
projeto de vida, objetivo para o qual se dirigem grandes esforços
financeiros comuns da família, indicam um traço social inafastável de
muitos destes contratos.
É certo que nem todos os contratos imobiliários caracterizam-se como
contratos de consumo. A rigor, serão contratos de consumo os que
tiverem de um lado o incorporador imobiliário ou profissional cuja
atividade específica seja a construção de imóveis para a venda no
mercado, e de outro lado o adquirente não profissional que adquire o
bem imóvel como destinatário final.
(...) Tornam-se contratos de consumo justamente quando envolvam a
atividade profissional de um fornecedor (incorporadora ou construtora
de imóveis) cuja finalidade e expertise destinam-se à atuação no
mercado imobiliário, na construção e/ou comercialização de imóveis.”
(in Curso de Direito do Consumidor. 4ª ed., Revista dos Tribunais:
São Paulo, 2013, p.372-373).

Também nesse sentido, a jurisprudência do E. TJ / GO:

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C


RESTITUIÇÃO DE IMPORTÂNCIAS PAGAS. COMPROMISSO
DE COMPRA E VENDA. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. INCIDÊNCIA. ATRASO NA ENTREGA DO
IMÓVEL. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. NÃO
CARACTERIZAÇÃO. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO DEVIDA.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. IMPROCEDÊNCIA. MINORAÇÃO
DO QUANTUM INDENIZATÓRIO E HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. VALORES RAZOÁVEIS E PROPORCIONAIS.
MANUTENÇÃO. I- O Código de Defesa do Consumidor incide nos
contratos de compra e venda de imóveis firmados entre construtora,
que é fornecedora de produto e adquirente desse produto, conforme
entendimento do Superior Tribunal de Justiça. (...) (TJGO,
APELACAO CIVEL nº 206994-90.2014.8.09.0051, REL. DR. JOSÉ
CARLOS DE OLIVEIRA, 2A CAMARA CIVEL, DJ 2053 de
23/06/2016);

Apelação Cível. Ação de Rescisão Contratual c/c Restituição de


Valores Pagos e Indenização por Danos Materiais e Morais. I -
Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor. É aplicável a Lei
n. 8.078/90, frente à relação consumerista estabelecida entre
incorporador e adquirente da unidade imobiliária, nos termos de seu
art. 3º, § 1º. Nesse contexto, necessária a aferição no que concerne à
prova da existência do ato ilícito, bem como da responsabilidade da
apelante (construtora). (...) (TJGO, 2ª Câm. Cív., AC nº 465582-
30.2011.8.09.0175, Rel. Des. Carlos Alberto França, DJ 1812 de
25/06/2015).

Restando assim demonstrado a aplicabilidade do Código de Defesa do


Consumidor, no presente caso. Isso porque é notório que as Requerida atuam no
mercado imobiliário de modo a se enquadrarem no conceito de “fornecedoras”, no
CDC; e, também que o Requerente seria o destinatário final do objeto avençado.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Demonstrada a relação de consumo, desde já, o requerente pede a


inversão do ônus da prova, previsto no artigo 6º, VIII, do CDC:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


(...)
VIII – a facilitação da defesa de seus interesses, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundos as regras ordinárias da experiência.

Como se sabe, a Lei 8.078/1990 faculta ao juiz inverter o ônus da


prova, quando houver (I) verossimilhança das alegações ou (II) hipossuficiência do
consumidor.

É evidente verossimilhança das alegações; pois há flagrante


desiquilíbrio contratual, que oneram demasiadamente o requerente ante as cláusulas
abusivas inserida no contrato, de modo a reterem indevidamente toda a quantia até
então paga.
Assim, não sobrevive dúvida de que o requerente foi vítima de abuso
pela requerida.

Quanto à hipossuficiência, esta também é evidente, uma vez que o


requerente não tem recursos econômico-financeiros e nem técnicos para produzir
provas em paridade com a requerida.

Portanto, demonstrada a verossimilhança das alegações e a


hipossuficiência do requerente, forçosa a inversão do ônus da prova.

DO CONTRATO DE ADESÃO

Cabe destacar que o contrato celebrado se caracteriza claro contrato de


adesão, cuja definição se encontra no art. 54 do CDC:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido


aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o
consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo.

Ao se repousar os olhos sobre o contrato, vê-se que ele foi pré-


elaborado de modo unilateral pela requerida, sem oportunidade de o requerente
discutir, sugerir ou alterar alguma cláusula.

Logo, só se facultou ao requerente aceitar o modelo de contrato


imposto ou desistir da aquisição.

Frise-se que no ato de assinatura do contrato, não se esclareceu ao


requerente nenhuma cláusula, senão a forma de pagamento. Observe-se também que
no instrumento contratual não estão claras as consequências no caso de desistência do
promitente comprador. Tampouco observa-se normativas sancionatórias para
situações nas quais a promitente vendedora quedasse inadimplente, o que também
demonstra a abusividade do contrato.
Assim, a partir da redação do art. 46 do CDC, nenhuma cláusula
prevista no Compromisso de Compra e Venda celebrado é apta a criar obrigações ao
requerente ou provocar prejuízo ao exercício de seus direitos assegurados em lei,
senão vejamos:

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não


obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de
tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos
instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de
seu sentido ou alcance.

Portanto, em atenção à natureza de contrato de adesão do


compromisso de compra e venda celebrado, eventual cláusula que estabeleça
obrigação ou negue direito é suscetível de anulação, principalmente se demonstrada
abusividade pela requerida.

DA RESCISÃO CONTRATUAL E DA NULIDADE DAS CLÁUSULAS


CONTRATUAIS ABUSIVAS

Pois bem, muito embora a rescisão contratual tenha sido solicitada


pelo requerente, há que se respeitar algumas questões, especialmente, relacionadas à
restituição das importâncias pagas pelo promitente comprador em casos dessa
natureza.

Nesse sentido, vale asseverar que as normas do Código de Proteção e


Defesa do Consumidor visam evitar abusos praticados contra os hipossuficientes que,
quando da celebração de uma avença não possuem condições de argumentar e
modificar cláusulas contratuais, ainda mais quando o contrato é de adesão, como no
caso em tela.

Conforme visto alhures, o art. 53, caput, do diploma consumerista,


legislação aplicável à espécie, é nula de pleno direito a cláusula contratual com
previsão abusiva e leonina, fixada exclusivamente em benefício de uma das partes,
sendo este, aliás, o entendimento jurisprudencial do Colendo Superior Tribunal de
Justiça:

CIVIL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL


CONSTRUÍDO. INADIMPLEMENTO. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. RESCISÃO DO CONTRATO. RESTITUIÇÃO
DAS QUANTIAS PAGAS. O DEVEDOR, INADIMPLENTE EM
VIRTUDE DE ONEROSIDADE EXCESSIVA, SEJA POR
DESEQUILÍBRIO RESULTANTE DA DESVALORIZAÇÃO DA
MOEDA OU DE CRITÉRIOS PARA ATUALIZAÇÃO DAS
PRESTAÇÕES, PODE PLEITEAR A RESCISÃO DO CONTRATO.
A CLÁUSULA, CONTIDA EM CONTRATO DE PROMESSA DE
COMPRA E VENDA DE IMÓVEL, PREVENDO A PERDA
TOTAL DAS PRESTAÇÕES PAGAS É NULA NOS TERMOS DO
ARTIGO 53 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
(OMISSIS). RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO.
(RESP. 302520 / MG; AC127411 10 DJ 30.06.2003. REL. MIN.
CÉSAR ASFOR ROCHA. 4ª TURMA).

Anote-se, por oportuno, que o Colendo Superior Tribunal de Justiça


editou súmula que enfrenta diametralmente a questão e, assim preceitua:

Súmula 543 - Na hipótese de resolução de contrato de promessa de


compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do
Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas
pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa
exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso
tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento.
(SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/08/2015, DJe 31/08/2015)

Conforme se observa, se há resolução do contrato for por culpa do


comprador, o valor a ser restituído será parcial, não ocorrendo o perdimento total em
favor da requerida, nos termos proposto pelo parecer apresentado.

In casu, a cláusula décima primeira, parágrafos primeiro e terceiro, do


instrumento de promessa de compra e venda aqui discutido, devem ser declaradas
nulas, ante a inaplicabilidade no presente caso, senão vejamos:

(...)
CLÁUSULA 11ª: (...)
§ 1° Desde já as partes convencionam que, em ocorrendo transgressão às
cláusulas pactuadas fica facultado à PROMITENTE VENDEDORA,
rescindir de pleno direito o presente contrato por via judicial, ficando
pactuado que será descontado da sua restituição, se houver, o valor, a título
de fruição, correspondente a 1% (um por cento) por mês sobre o valor
integral do negócio, a partir da assinatura do presente até a devolução do
imóvel, seja 1udicialmente ou extrajudicialmente. (grifamos)
(...)
§ 3° O PROMISSÁRIO COMPRADOR incorrerá em Multa Penal
correspondente a 10% (dez por cento), sobre o valor do contrato, nos
termos do art. 408 e seguintes do Código Civil, caso venha a dar motivo à
rescisão deste instrumento, não se isentando das responsabilidades contidas
neste contrato. (grifamos)
(...)

Portanto, uma vez firmada a culpa pela rescisão do instrumento deve


ser imputada ao requerente, é devida a retenção de valores, no entanto Exa., nos
termos pactuados acima há flagrante desiquilíbrio contratual, senão vejamos.

A imposição do parágrafo primeiro, onera demasiadamente o


requerente, tendo em vista que este deverá pagar a requerida, a título de taxa de
fruição, o valor correspondente a 1% (um por cento) sobre o valor atualizado do
contrato, o que corresponde ao valor de R$ 42.882,36 (quarenta e dois mil, oitocentos
e oitenta e dois reais e trinta e seis centavos), conforme parecer apresentado pela
própria requerida.

Ora Exa., nota-se a total abusividade na aplicação de tal penalidade,


haja vista que sua aplicabilidade somente, poderia ser imposta, caso houvesse alguma
transgressão contratual por parte do requerente, o que permitiria a requerida rescindir
o contrato, por via judicial, agora impor o pagamento de uma penalidade,
considerando a rescisão imotivada pelo requerente como uma transgressão contratual,
se mostra totalmente desvirtuado o equilíbrio contratual.

A despeito do parágrafo terceiro, o montante previsto no contrato é


excessivo e causa sério desequilíbrio contratual em prejuízo do requerente, motivo
pelo qual deve ser alterado para o montante de 10% sobre os valores pagos.
Tal ilação encontra justificativa também no princípio da isonomia,
considerando-se este um patamar compatível com a lei consumerista ou com as
práticas pretorianas.

Portanto, em respeito às premissas da função social do contrato, do


equilíbrio do sinalagma e da vedação do enriquecimento indevido, e, também, à regra
do artigo 413 do Código Civil, que permite ao juiz a redução equitativa de penalidade
quando o seu montante for manifestamente excessivo, haverá por bem fixa-la em
10% (dez por cento) do valor efetivamente pago pelos requerentes.

Sobre a possibilidade de redução do percentual da multa prevista a


título de cláusula penal, veja precedente do Superior Tribunal de Justiça:

RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO CIVIL E FALIMENTAR.


COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. ARRAS E CLÁUSULA
PENAL. INADIMPLEMENTO. FALÊNCIA DO PROMITENTE
COMPRADOR. 1. RECURSO ESPECIAL DE PORTUS
INSTITUTO DE SEGURIDADE SOCIAL (PROMITENTE
VENDEDOR). 1.1. Controvérsia em torno da resolução de uma
promessa de compra e venda de imóvel, contendo arras confirmatórias
e cláusula penal compensatória. 1.2. omissis. 1.3. Ausência de
interesse recursal no que tange à pretensão de retenção das arras,
devido à compensação destas com a cláusula penal. 1.4. 'A
penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a
obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o
montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se
em vista a natureza e a finalidade do negócio' (art. 413 do Código
Civil). 1.5. Descabimento da redução da penalidade com base no
cumprimento parcial da obrigação na hipótese em que a prestação é
incindível ou, sendo cindível, não tenha o credor concordado, expressa
ou tacitamente, com a cisão do negócio jurídico. Doutrina sobre o
tema. 1.6. Inviabilidade de se revisar, no âmbito desta Corte Superior,
em razão do óbice da Súmula 7/STJ, o juízo de razoabilidade das
instâncias ordinárias que justificou a redução da multa contratual para
valor não exorbitante tampouco irrisório. 1.7. Eficácia restitutória
como consequência da resolução do contrato por inadimplemento,
sem prejuízo da compensação. Doutrina sobre o tema. (...) 3.
RECURSOS ESPECIAIS DESPROVIDOS” (STJ, Terceira Turma,
REsp 1381652/SP, Rel. Min. PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
DJe 05/09/2014). (Destaque nosso).
Destarte, para o caso de inadimplemento do promitente comprador,
tem-se entendido pela devolução das parcelas já pagas, descontada a multa contratual
no percentual de 10% (dez por cento) sobre os valores já adimplidos, em atenção ao
princípio da proporcionalidade, sobretudo a boa-fé e a função social do contrato.

Tem sido essa a orientação dos nossos tribunais em casos


semelhantes, onde se tem arbitrado, com fundamento no princípio da boa-fé e na
reafirmação do princípio da vedação ao enriquecimento ilícito, o abatimento do
percentual de 10% (dez por cento) sobre o montante efetivamente pago, in verbis:

(...) Nos termos do artigo 413 do Código Civil deve o Juiz reduzir
equitativamente a cláusula penal se a obrigação principal tiver sido
cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade
do negócio. Nos contratos de compra e venda de imóvel, têm-se
arbitrado a cláusula penal em 10% (dez) por cento do valor pago pelo
consumidor. Precedentes no STJ: REsp 118.865/DF, DJU 10.11/1997
e REsp 134.629/RJ, DJU 16/3/1998 (...). (STJ, Decisão Monocrática
no REsp 957.304, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ
22/6/2007.

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. RESCISÃO DE


CONTRATO COMPRA E VENDA IMÓVEL. (…). ROMPIMENTO
DO PACTO PELO COMPRADOR. DEVOLUÇÃO DAS
PARCELAS PAGAS. RETENÇÃO DE 10% (DEZ POR CENTO). 1
- (...) 4 – Na hipótese de rescisão contratual por culpa do comprador é
razoável a retenção de 10% (dez por cento) das prestações pagas a
título de multa compensatória pelas despesas inerentes à negociação
realizada. Apelações conhecidas. Provimento negado. ” (TJGO, 5ª
CC, AC nº 37717-76, Rel. Des. Alan S. de Sena Conceição, DJe nº
1987 de 11/03/2016).

“AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE


RESCISÃO DE CONTRATO (COMPRA E VENDA DE IMÓVEL).
REDUÇÃO PELO JUÍZO SINGULAR DA CLÁUSULA PENAL
COMPENSATÓRIA DE TRINTA (30) PARA DEZ POR CENTO
(10%) DO VALOR DO CONTRATO. DESPROVIMENTO DO
REGIMENTAL. 1 - É de rigor a redução equitativa da multa penal
compensatória, pelo Judiciário, quando ocorrer de a obrigação
principal tiver de ser cumprida em parte por um dos contratantes ou
quando o montante for manifestamente excessivo, tendo em vista a
natureza e a finalidade do negócio, como prescreve o art. 413 do
Código Civil. 2 – No caso, verificando que a cláusula penal
compensatória pactuada no contrato (30%) mostra-se excessiva,
ultrapassando sua finalidade reparadora, é de se confirmar a redução
dada pelo magistrado para 10%, em atenção ao equilíbrio da relação
contratual. 3 - (…).” (TJGO, 2ª CC, AC nº 384528-55, Rel. Dr.
Maurício Porfírio Rosa, DJe nº 1788 de 20/05/2015).

Imperioso ressaltar que a restituição das importâncias pagas deverá ser


feita em parcela única, constituindo cláusula abusiva a que prevê a devolução
parcelada, consoante entendimento já consolidado na jurisprudência.

Neste sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE


IMPORTÂNCIAS PAGAS. RESCISÃO CONTRATUAL.
COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.
DEMORA NA ENTREGA. CULPA DA CONSTRUTORA.
ESTORNO DAS PARCELAS PAGAS. DEDUÇÃO INDEVIDA
DAS DESPESAS OPERACIONAIS E ADMINISTRATIVAS.
JUROS, A PARTIR DA CITAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE
PARCELAMENTO. DANO MATERIAL. ÔNUS DA PROVA.
DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO
MANTIDO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NÃO
ALTERADOS. I - Restando patente que a rescisão do contrato de
compra e venda decorreu do inadimplemento quanto a entrega do
imóvel, descabe retenção do percentual pago pelo comprador,
devendo a restituição das parcelas ser integral. II - Segundo
entendimento amplamente majoritário na jurisprudência deste
Sodalício, bem como do Superior Tribunal de Justiça (verbete sumular
nº 543), para os casos de rescisão contratual em compromisso de
compra e venda de imóvel urbano, a restituição deverá ocorrer em
prestação única e imediatamente após o desfazimento da avença. III –
omissis... IV - O dano acarretado ultrapassa o mero aborrecimento ou
dissabor gerando, assim, o dever de indenizar. VI - Devem ser
mantidos os honorários advocatícios arbitrados, se o magistrado, ao
fixá-los, levou em consideração os critérios encartados no § 3º do
artigo 20 do Código de Processo Civil de 1973. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJGO,
APELACAO CIVEL 83653-27.2014.8.09.0051, Rel. DES. FAUSTO
MOREIRA DINIZ, 6A CAMARA CIVEL, julgado em 09/08/2016,
DJe 2094 de 22/08/2016).
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE
IMPORTÂNCIAS PAGAS. RESCISÃO CONTRATUAL.
RETENÇÃO DE VALOR PAGO. POSSIBILIDADE. VALOR
RAZOÁVEL. PARCELA ÚNICA. No caso de rescisão contratual por
iniciativa do promitente comprador é razoável a retenção de 10% (dez
por cento) das prestações pagas a título de multa compensatória pelas
despesas inerentes à negociação realizada, em parcela única, por se
adequar aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, bem
como por coadunar com os valores fixados por esta Egrégia Corte de
Justiça. APELO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO,
APELACAO CIVEL 420570-69.2014.8.09.0051, Rel. DES. NEY
TELES DE PAULA, 2A CAMARA CIVEL, julgado em 12/07/2016,
DJe 2073 de 21/07/2016).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESSARCIMENTO DE


QUANTIAS PAGAS. PRESCRIÇÃO AFASTADA. TEORIA DA
ACTIO NATA. INTERRUPÇÃO DO PRAZO. APLICAÇÃO DO
ART. 515, §3º DO CPC/73. RESTITUIÇÃO. PARCELA ÚNICA.
MULTA COMPENSATÓRIA. DEDUÇÃO. DANOS MATERIAIS.
CABIMENTO. APURAÇÃO DO QUANTUM. FASE DE
LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. PEDIDO INICIAL JULGADO
PROCEDENTE. INVERSÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS.
SENTENÇA REFORMADA. 1. Nas pretensões de ressarcimento de
quantias pagas, corolário da rescisão contratual, o prazo prescricional
é de 10 anos, conforme dispõe o artigo 205 do Código Civil, pois
fundada em direito pessoal. Precedentes do STJ e deste eg. TJGO. 2.
O termo a quo da prescrição deve corresponder ao momento em que
nasce a pretensão, ou seja, ao instante em que é violado o direito,
segundo a Teoria da actio nata e o disposto no art. 189 do Código
Civil; na espécie, do trânsito em julgado da ação declaratória de
quitação, que interrompeu a contagem do prazo, não estando a
demanda alcançada pela prescrição. 3. Quanto à restituição das
importâncias pagas, esta deverá ocorrer em prestação única e,
imediatamente, após a resilição do contrato, com a retenção de 10%
(dez por cento) sobre o valor do débito, valor suficiente para cobrir
todas as despesas administrativas. 4. Com o retorno das partes ao
status quo ante, devido o reembolso dos valores gastos a título de
material de acabamento, com apuração do valor em fase liquidatória.,
conf. art. 475-C do CPC. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E
PROVIDA. (TJGO, APELACAO CIVEL 145005-59.2009.8.09.0051,
Rel. DES. OLAVO JUNQUEIRA DE ANDRADE, 5A CAMARA
CIVEL, julgado em 14/04/2016, DJe 2014 de 26/04/2016).
Assim, segundo entendimento amplamente majoritário na
jurisprudência, bem como do Superior Tribunal de Justiça (já mencionado verbete
sumular nº. 543), para os casos de rescisão contratual em compromisso de compra e
venda de imóvel urbano, a restituição deverá ocorrer em prestação única e
imediatamente após o desfazimento do contrato.

E, em casos onde a culpa pelo inadimplemento contratual é atribuída


ao promitente comprador, com amparo nos entendimentos jurisprudenciais retro
delineados, tem-se por razoável a limitação da retenção de 10% (dez por cento) do
valor efetivamente pago pelo promitente comprador a título de multa penal
compensatória.

Portanto, tendo em vista as explanações delineadas, é forçoso concluir


pela procedência dos pedidos autorais relacionados à rescisão contratual e ao
consequente reconhecimento da nulidade das cláusulas retro transcritas

DOS PEDIDOS

Ante o exposto e por tudo o que restou demonstrado, requer:

a) a aplicação do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90);

b) a inversão do ônus da prova, uma vez que presente a


verossimilhança das alegações e a hipossuficiência do autor;

c) que seja determinada a citação das requeridas, no endereço


constante do preâmbulo desta, via carta registrada com A.R., para que apresentem
contestação, no prazo de lei, sob pena de revelia.

d) seja declarada a nulidade dos parágrafos 1º e 3º da cláusula 11ª,


bem como seja declarada a rescisão do Instrumento Particular de Compromisso de
Compra e Venda formalizado entre as partes.
e) a condenação das requeridas no imediato ressarcimento das
parcelas pagas pelo requerente, acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento) ao
mês e correção monetária pelo IGP-M, desde o desembolso até a data da efetivação
do pagamento; sendo-lhes garantida a retenção do percentual de 10% (dez por cento)
sobre o montante efetivamente pago.

f) sejam as requeridas condenada ao ônus da sucumbência, custas e


honorários advocatícios em 20% sobre o valor da causa;

g) ao final, pugna pela PROCEDÊNCIA dos pedidos iniciais e, em


consequência.

Protesta por todas as formas de provas em direito admitidas, inclusive


oitiva de testemunhas e juntada de novos documentos, etc.

Atribui-se à presente causa o valor de R$ 36.815,21 (trinta e seis mil,


oitocentos e quinze reais e vinte e um centavos).

Termos em que,
Pede e espera deferimento.

Local, data.

Advogado OAB/GO

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