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Manual de Redação para o Enem:


confira as dicas para um texto nota
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Amanda Cieglinski - Portal EBC 16.10.2012 - 14h17 | Atualizado em 31.07.2013 - 16h34

Redação nota 1000: baixe o guia para se dar bem prova discursiva (Alexandre Krecke)

Acesse o banco de questões do Enem e se prepare para o exame

Confira alguns assuntos que podem cair na prova do Enem

Para a maioria dos estudantes, a redação é a parte mais temida do Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem). O candidato tem um espaço de 30 linhas para mostrar ao avaliador
a sua capacidade de escrever um bom texto e acima de tudo de argumentar a favor ou
contra um um ponto de vista. A tarefa não é simples, por isso preparamos um Manual de
Redação para o Enem. Em formato de pergunta a resposta, respondemos às principais
dúvidas dos estudantes. Qual é o tamanho ideal da redação? Como começar o meu texto?
Devo escrever algum título? Desvende os segredos de uma boa redação e boa sorte!

1. Qual é o tipo de texto que eu tenho que escrever no Enem?

2. Qual é o número ideal de linhas para a redação?

3. A redação precisa ter título?

4. Em que casos uma redação pode ser anulada?

5. Para que servem os textos de motivação? Posso utilizá-los na minha redação?

6. Não sei por onde começar o texto. Como organizar as ideias?

7. Quais temas podem cair na redação do Enem?

8. O que o avaliador vai levar em conta na hora de atribuir a nota?

9. O que será avaliado na competência 1?

10. O que será avaliado na competência 2?

11. Quando é considerada fuga ao tema? E tangenciamento ao tema?

12. O que será avaliado na competência 3?

13. O que será avaliado na competência 4?

14. O que será avaliado na competência 5?

1. Qual é o tipo de texto que eu tenho que escrever no Enem?

O estudante terá que escrever um texto em prosa – ou seja, não pode ser uma poesia – do
tipo dissertativo-argumentativo. Nesse tipo textual, você deverá defender uma tese, que
nada mais é do que uma opinião a respeito do tema proposto. No texto você deverá apoiar
a sua tese em argumentos. Eles precisam ser consistentes e estruturados de forma
coerente. No final, é importante que você apresenta uma “proposta de intervenção social”.
Exemplo: O Guia da Redação do Enem 2012, elaborado pelo Inep, traz um exemplo
interessante utilizando o tema da prova do ano passado:  “Viver em rede no século XXI: os
limites entre o público e o privado”.

Tese: o excesso de exposição da vida privada nas redes sociais pode ter consequências
graves, como situações de violência cibernética.

Exemplos de argumentos:  explicação sobre o que é violência cibernética,  dados de


pesquisas que comprovam a tese, exemplos de situações de violência como o cyber
bullying e contra-argumentos, como por exemplo os aspectos positivos das redes sociais.
                                       
Proposta de intervenção: alertar os jovens, por meio de campanhas, tanto na escola como
em casa, sobre os perigos da  superexposição nas redes sociais.

2. Qual é o número ideal de linhas para a redação?

Não existe um tamanho ideal, tudo vai depender dos argumentos que você vai utilizar. O
importante é respeitar o mínimo de 8 e o máximo de 30 linhas.

3. A redação precisa ter título?

Esse é um item opcional. Fica a critério do aluno escrevê-lo ou não.

4. Em que casos uma redação pode ser anulada?

- se o aluno fugir do tema,


- se não usar a estrutura dissertativo-argumentativa. Por exemplo: escrever um texto
narrativo ou uma poesia,
- se o texto tiver menos de oito linhas,
- se houver desrespeito aos direitos humanos,
- se a folha de redação estiver em branco, mesmo que o rascunho esteja preenchido.

5. Para que servem os textos de motivação? Posso utilizá-los na minha redação?


O tema apresentado como proposta de redação vem sempre acompanhado de textos
motivadores. Em geral, são dois textos em linguagem verbal e um em linguagem não
verbal – uma foto, uma charge ou ilustração -  que remetem ao tema proposto. Os textos
motivadores servem para fazer o candidato refletir a respeito do tema sobre o qual ele terá
que escrever. São como um “guia” para indicar o que está sendo solicitado, mas o
estudante não deve se prender às ideias ali apresentadas na hora de escrever a redação.
Você não deve copiar trechos do texto motivadores porque perderá pontos na avaliação de
algumas competências, como por exemplo a que mede a sua capcidade de argumentação.
Se você copiar parte dos textos motivadores, esses trechos serão desconsiderados para
efeito da contagem do mínimo de linhas.

6. Não sei por onde começar o texto. Como organizar as ideias?

A sua redação precisa seguir uma lógica e ser bem encadeada. Por isso, antes de tudo, é
preciso planejá-la. Veja um passo a passo que pode ajudar a organizar as ideias:

1. Leia com atenção as instruções, a proposta da redação e os textos motivadores, para


compreender bem o que está sendo pedido
2. Evite ficar preso às ideias dos textos motivadores. Eles foram apresentados apenas
para despertar uma reflexão, não para limitar sua criatividade
3. Reflita sobre o tema proposto para decidir como abordá-lo, qual será seu ponto de vista
e quais argumentos vai utilizar para defendê-lo
4. Reúna todas as ideias que lhe ocorrerem sobre o tema, procurando organizá-las em
uma ordem coerente para utilizá-las no desenvolvimento do  texto
5. Desenvolva o tema de forma consistente de modo que o leitor possa acompanhar o seu
raciocínio facilmente
6. Lembre-se de que cada parágrafo deve desenvolver um tópico frasal
7. Use informações de várias áreas do conhecimento, demonstrando que você está
atualizado em relação ao que acontece no mundo
8. Evite recorrer a reflexões e argumentos previsíveis ou batidos para que o seu texto não
fique pouco original
9. Um dos principais problemas identificados nas redações é a fuga ao tema. Tome
cuidado para se manter dentro do limite do tema proposto, sem se afastar do foco
10. Por fim, examine com atenção a introdução e a conclusão para ver se há  coerência
entre o início e o fim

 
7. Quais temas podem cair na redação do Enem?

O Enem vai testar o conhecimento do aluno sobre temas atuais que estão em debate no
Brasil e no mundo. É impossível adivinhar quais assuntos vão estar na redação, mas
alguns têm mais chance de aparecer nas provas. Listamos alguns deles para ajudar você
a se atualizar. Confira neste link.

8. O que o avaliador vai levar em conta na hora de atribuir a nota?

O seu texto vai ser corrigido levando em conta cinco competências. Cada um desses
“quesitos”, que você precisa cumprir da melhor maneira possível, vale 200 pontos.
Somados eles totalizam a nota máxima da redação – 1.000 pontos. As cinco dimensões
são:

Competência 1: demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita


Competência 2: demonstrar compreensão da proposta da redação e aplicar conceitos de
diversas áreas do conhecimento para desenvolver o tema
Competência 3: demonstrar capacidade de selecionar, relacionar, organizar e interpretar
informações para defender um ponto de vista
Competência 4: demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para
a construção da argumentação
Competência 5: elaborar uma proposta de intervenção ao problema abordado, respeitando
os direitos humanos

9. O que será avaliado na competência 1?

Nesse quesito, o corretor irá avaliar se você respeitou o padrão formal da língua escrita.
Existem muitas diferenças entre a linguagem oral e a escrita. Expressões usadas
comumente na comunicação oral – “então”, “aí”, “daí” – devem estar fora do seu texto. É
na competência 1 que também serão avaliados o uso correto da pontuação e a obediência
às regras gramaticais (regência nominal e verbal, concordância, grafia e acentuação das
palavras, flexão verbal, colocação de pronomes, etc). A depender do nível de adequação
do seu texto a essas regras, o avaliador irá atribuir uma nota de 0 a 200 pontos. Veja a
escala de pontuação:

200 pontos O participante demonstra excelente domínio da norma padrão, não apresentando ou
apresentando pouquíssimos desvios gramaticais leves e de convenções da escrita.
160 pontos O participante demonstra bom domínio da norma padrão, apresentando poucos desvios
gramaticais leves e de convenções da escrita.
120 pontos O participante demonstra domínio  adequado da norma padrão,  apresentando alguns desvios
gramaticais graves e de convenções da escrita, ou muitos desvios leves.
80 pontos O participante demonstra domínio mediano da norma padrão, apresentando grande quantidade
de desvios gramaticais e de convenções da escrita graves ou gravíssimos, além de presença de
marcas de oralidade.
40 pontos O participante demonstra domínio insuficiente da norma padrão, apresentando graves e
frequentes desvios gramaticais e de convenções da escrita, além de presença de gírias e marcas
de  oralidade.
0 pontos O participante demonstra  desconhecimento total da norma padrão, de escolha de registro e de
convenções da escrita.

.10. O que será avaliado na competência 2?

Nesse quesito, o corretor irá avaliar se você compreendeu a proposta de redação e se


usou o seu conhecimento para desenvolver o tema. O candidato precisa elaborar um texto
que apresente com clareza qual é a tese a ser defendida e os argumentos que justificam
aquela posição que foi assumida em relação à temática proposta pela prova (saiba mais
sobre a estrutura do texto dissertativo-argumentativo). A depender do nível de adequação
do seu texto a essas regras, o avaliador irá atribuir uma nota de 0 a 200 pontos. Veja a
escala de pontuação:

200 pontos O participante desenvolve  muito bem o tema, explorando os seus principais aspectos. A redação
contém uma argumentação consistente, revelando excelente domínio do tipo textual dissertativo-
argumentativo.
160 pontos O participante desenvolve bem o tema, mas não explora os seus aspectos principais. Desenvolve
uma  argumentação consistente e apresenta bom domínio do tipo textual dissertativo-
argumentativo, mas não apresenta argumentos bem desenvolvidos.
120 pontos O participante desenvolve de forma  adequada o tema, mas apresenta uma abordagem
superficial. Desenvolve uma argumentação previsível e apresenta domínio adequado do tipo
textual, mas não apresenta explicitamente uma tese, detendo-se mais no caráter dissertativo do
que no argumentativo. Reproduz ideias do senso comum no desenvolvimento do tema.
80 pontos O participante desenvolve de forma mediana o tema, apresentando tendência ao tangenciamento.
Usa argumentos previsíveis que partem do senso comum, cópias dos textos motivadores, ou
domina de forma precária o texto dissertativo-argumentativo.
40 pontos O participante desenvolve de maneira tangencial o tema, detendo-se em aspectos vinculados ao
mesmo tema, o que revela má interpretação da proposta de redação. Apresenta inadequação ao
tipo dissertativo-argumentativo, com repetição de ideias e ausência de argumentação.
0 pontos O participante desenvolve texto que não contempla a proposta de redação: fugiu do tema ou usou
outro tipo textual que não o dissertativo-argumentativo, como poesias, narrativas ou descrições.

11. Quando é considerada fuga ao tema? E tangenciamento ao tema?

É considerado que o aluno fugiu do tema quando ele escolhe uma abordagem
completamente diferente da que foi proposta. Por exemplo: no tema do ano passado –
“Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado” - o candidato que
escolhesse abordar os avanços da tecnologia, como a popularização de tablets ou
smartphones, estaria fugindo ao tema. Ou ainda se ele decidisse falar de outros assuntos
sem conexão com a proposta, como meio ambiente ou saúde. No caso de fuga ao tema, a
nota do aluno será zero.
Já o tangenciamento é quando o aluno aborda o tema proposto apenas de forma marginal
ou parcial dentro do assunto. No exemplo da redação de 2011, seria considerado
tangenciamento se o candidato abordasse outros aspectos relacionados à inserção da
tecnologia na vida cotidiana como a inclusão digital, ou escrevesse sobre a internet em
geral, sem abordar a questão da privacidade.

12. O que será avaliado na competência 3?

Nesse quesito, o corretor irá avaliar se você selecionou, relacionou, organizou e


interpretou informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa do ponto de vista
defendido como tese. O objetivo final é que o candidato apresente um texto coerente e que
possa ser entendido pelo leitor, fazendo-o refletir a respeito das ideias que foram
apresentadas.  A depender do nível de adequação do seu texto a essas regras, o avaliador
irá atribuir uma nota de 0 a 200 pontos. Veja a escala de pontuação:

200 pontos  O participante seleciona, organiza e relaciona informações, fatos, opiniões e argumentos
pertinentes ao tema proposto de forma consistente, configurando  autoria em defesa de seu ponto
de vista. Explicita a tese, seleciona argumentos que possam comprová-la e elabora conclusão ou
proposta que mantêm coerência com a opinião defendida.
160 pontos  O participante seleciona, organiza e relaciona informações, fatos, opiniões e argumentos
pertinentes ao tema proposto de forma consistente, em defesa de seu ponto de vista. Explicita a 
tese, seleciona argumentos que possam comprová-la e elabora conclusão ou proposta que
mantêm coerência com a opinião defendida. Entretanto, os argumentos utilizados são  previsíveis.
120 pontos O participante apresenta informações, fatos, opiniões e argumentos pertinentes ao tema, mas os
organiza e relaciona de forma pouco consistente. As informações são aleatórias e desconectadas
entre si, embora relacionadas ao tema. O texto revela pouca articulação entre os argumentos, que
não são convincentes para defender a opinião do autor.
80 pontos O participante apresenta informações, fatos e opiniões pouco articulados ou  contraditórios,
embora pertinentes ao tema. O texto que se limitar a reproduzir os argumentos constantes na
proposta de redação também receberá essa pontuação.
40 pontos O participante não defende ponto de vista, ou seja, não apresenta opinião a respeito do tema.
Informações, fatos, opiniões e argumentos são pouco relacionados ao que foi proposto e também
são não se articulam bem entre si de forma coerente.
0 pontos O participante apresenta informações, fatos, opiniões e argumentos incoerentes ou não apresenta
um ponto de vista.

13. O que será avaliado na competência 4?

Nesse quesito, o corretor irá avaliar se você respeitou a estruturação lógica e formal entre
as partes da redação. Todo texto é resultado de um encadeamento de ideias: lembre-se
que a  sua redação terá que combinar de forma harmônica o conjunto de ideias que vão
estar associadas à tese que será defendida. Pense e planeje a elaboração de cada um
dos parágrafos, que serão formados pela combinação de períodos articulados entre si.
Cada ideia nova precisa estabelecer relação com a que foi apresentada anteriormente.
Para cumprir essa competência de forma satisfatória é muito importante saber utilizar os
conectores: preposições, conjunções, advérbios e locuções adverbiais são  responsáveis
pela coesão do texto porque estabelecem uma inter-relação entre orações, frases e
parágrafos. A depender do nível de adequação do seu texto a essas regras, o avaliador irá
atribuir uma nota de 0 a 200 pontos. Veja a escala de pontuação:

200 pontos O participante articula as partes do texto, sem inadequações na utilização dos recursos coesivos.
Poderá conter eventuais desvios de menor gravidade como emprego equivocado do conector, 
repetição ou substituição inadequada de palavras. Entretanto, o mesmo erro não poderá se
repetir, uma vez que essa pontuação deve ser atribuída apenas àqueles que demonstrarem pleno
domínio dos recursos coesivos.
160 pontos O participante articula as partes do texto, com poucas inadequações na utilização de recursos
coesivos. Poderá conter alguns desvios de menor gravidade, entretanto, esta pontuação deve ser
atribuída apenas àqueles que demonstrarem domínio dos recursos coesivos.
120 pontos  - O participante articula as partes do texto, mas com algumas inadequações na utilização dos
recursos coesivos. A redação enquadrada neste nível poderá conter eventuais desvios como
frases fragmentadas, sequência justaposta de ideias sem encaixamentos sintáticos ou  ausência
de paragrafação. Esta pontuação deve ser atribuída ao participante que demonstrar domínio
regular dos recursos coesivos.
80 pontos O participante articula as partes do texto, porém com  muitas inadequações na utilização dos
recursos coesivos. A redação enquadrada neste nível poderá conter desvios de maior ou menor
gravidade. Esta pontuação deve ser atribuída ao participante que demonstrar pouco domínio dos
recursos coesivos.
40 pontos O participante não articula as partes do texto ou as conecta de forma precária e/ou inadequada,
apresentando graves e frequentes desvios de coesão textual. Na redação enquadrada neste nível
há sérios problemas na articulação das ideias e na utilização de recursos coesivos.
0 pontos O participante apresenta informações desconexas, que não se configuram como texto.

14. O que será avaliado na competência 5?

Nesse quesito, o avaliador espera que você apresente uma proposta de intervenção para
o problema abordado. Ou seja:  além de apresentar sua tese sobre o tema e apoiá-la em
bons argumentos, você terá que oferecer uma “proposta de intervenção na vida social” -
ou uma solução para o problema. Essa solução deve manter um vínculo com a tese
desenvolvida no texto e manter coerência com os argumentos apresentados, já que
expressa a sua visão como autor. Essa proposta de intervenção não deve ser muito
genérica – busque propor algo concreto e detalhe os meios para realizá-la. Também é
fundamental que ela respeite os direitos humanos. Isso significa que não pode ir contra
valores como cidadania, liberdade, solidariedade e diversidade cultural. A depender do
nível de adequação do seu texto a essas regras, o avaliador irá atribuir uma nota de 0 a
200 pontos. Veja a escala de pontuação:

200 pontos O participante elabora proposta de intervenção clara e inovadora, relacionada à tese e bem
articulada com a discussão desenvolvida no texto. São explicitados os meios para realizá-la.
160 pontos O participante elabora proposta de intervenção clara, relacionada à tese e bem articulada com a
discussão desenvolvida no texto. São explicitados os meios para realizá-la.
120 pontos O participante elabora proposta de intervenção relacionada ao tema, mas pouco articulada à
discussão desenvolvida no texto.
80 pontos O participante elabora proposta de intervenção relacionada ao tema de forma  precária, não
articulada com a discussão desenvolvida no texto, ou ainda com detalhamento precário dos
meios para realizá-la.
40 pontos O participante elabora proposta de intervenção tangencial ao tema ou subentendida no
desenvolvimento da argumentação.
0 pontos O participante não apresenta proposta de intervenção

Fonte: Guia da Redação - Enem 2012/Inep

VEJA TAMBÉM: Confira bate-papo com dicas sobre a redação do Enem

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ilton Cloudes Rodrigues da Silva - Advogado
cloudes1712@hotmail.com
OAB-MA nº 9.006

As Razões do Direito: Teorias da Argumentação Jurídica

As Razões do Direito: Teorias da Argumentação Jurídica

Milton Cloudes Rodrigues da Silva

Sumário: Introdução; 2 Direito e argumentação; 3 A tópica e o raciocínio lógico; 4 A nova


retórica de Perelman; 5 Teoria da argumentação de Toulmin; 6 Teoria integradora da
argumentação jurídica; 7 Argumentação jurídica como discurso racional; 8 Projeto de uma
teoria da argumentação jurídica; Conclusão; Referências.

ABSTRACT

The gift to paper will make an analysis on the legal argument having had as base the book of
Manuel Atienza, the Reasons of the Right. Theories of the Legal Argument. First, it will be the
Right and the legal argument, where a general notion on the basic concepts of the theory of
the legal argument will be offered. Later, five theories will be boarded on the legal argument
and finally, a project of a theory of the legal argument will be presented proposal for Manuel
Atienza.

Key - Words : Right. Justification. Theories. Argument. Legal.

Introdução
Entende-se que a prática do Direito consiste fundamentalmente em argumentar, isto é, a
essência da prática do Direito é a fundamentação, sendo assim, no decorrer dos tempos
muitas teorias foram sendo desenvolvidas para alcançar tal objetivo, ou seja, a
fundamentação do Direito.

No presente trabalho serão abordadas várias teorias da argumentação jurídica, tendo como
objeto de estudo a obra Teorias da Argumentação jurídica, de Manuel Atienza, que é fruto de
uma série de cursos de Filosofia do Direito, proferidos em diversas Universidades, assim como
diversos seminários desenvolvidos no Centro de estudos Constitucionais de Madri, Instituto
tecnológico do México e na Universidade Pompeu Fabra de Barcelona.

Neste livro, Atienza parte de um princípio de que a prática do Direito consiste de um modo
geral em argumentar, e apresenta a exposição crítica de cinco autores que se dedicaram ao
assunto Teoria da Argumentação. Os teóricos tratados na obra são eles: Theodor Viehweg,
Perelman, Stephen E. Toulmin, Neil MacCormick e Robert Alexy.

Theodor Viehweg, Chaïm Perelman e Toulmin rejeitam a idéia da lógica formal dedutiva como
modelo de base para a teoria da argumentação, tentando mostrar que a concepção lógico-
dedutiva tem seus limites.

Neil Maccormick e Robert Alexy configuram o que se pode chamar de teoria padrão da
argumentação jurídica, que se situa precisamente no contexto de justificação dos
argumentos, que costuma ter em geral, pretensões tanto descritivas como prescritivas. Eles
partem do fato de que as decisões jurídicas devem e podem ser justificadas. Ao final, Atienza
dedica um capítulo específico para apresentar o que na sua visão seria um modelo ideal de
uma teoria da argumentação jurídica.

2 Direito e argumentação

Partindo da idéia de que as teorias da argumentação jurídica possuem como objeto de


reflexão as argumentações produzidas em contextos jurídicos, o primeiro ponto debatido na
obra de Atienza foi definir os campos jurídicos de atuação das teorias da argumentação
jurídica. Foram definidos os seguintes campos: a) a argumentação na produção das normas
jurídicas; b) a argumentação na aplicação das normas jurídicas; c) a argumentação no âmbito
da dogmática jurídica.

Aqui, a idéia foi basicamente delimitar o campo de atuação da argumentação jurídica. A


argumentação no campo de produção de normas jurídicas, que se divide em duas fases, pré-
legislativa e legislativa. A primeira é conseqüência do surgimento de um problema social, em
que acredita-se que a solução possa ser a adoção de medidas legislativas. Considera-se nessa
fase que os argumentos possuem caráter mais político e moral do que jurídico. A segunda
fase, definida como fase legislativa, entende-se que um problema só passa a ser considerado
relevante quando adentra no âmbito do poder legislativo, independente de ter sido discutido
pela opinião pública. Nessa fase as questões possuem um caráter do tipo técnico-jurídico.
Para Manuel Atienza, nenhuma das teorias estudadas por ele se preocupa com as fases acima
apresentadas.

O segundo campo de atuação dos argumentos jurídicos tratado foi o da aplicação de normas
jurídicas. Entende-se que a atividade levada a cabo por juízes, órgãos da administração, e por
particulares, na qual cabe a distinção quanto aos argumentos relacionados aos fatos e os
argumentos relacionados ao direito, sendo que os relacionados ao direito são designados como
problemas de interpretação.

As teorias comuns da argumentação jurídica se concentram nas questões denominadas de


casos difíceis. Somente as questões de direito podem ser objeto de interpretação. As decisões
concernentes aos fatos recaem fora do estudo das teorias da argumentação jurídica. Em
síntese, as teorias da argumentação jurídica só se preocupam com casos difíceis e com
questões de direito, não se preocupando com os chamados casos fáceis e nem com as
questões de fato.

Porém pode-se fazer uma observação quanto a esse entendimento. É notável que o juiz
argumenta sempre, ou pelo menos deva sempre argumentar, pois um dos requisitos essenciais
da sentença é a fundamentação, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito,
sendo assim, a hipótese de que a teoria da argumentação não pode ser tomada com modelo
de justificação para os casos fáceis não é de boa aceitação.

O que acontece é que no caso fácil o argumento de justificação é menor, as soluções são mais
claras, as respostas são mais práticas e de menor repercussão, mas não significa dizer que os
casos fáceis estão fora do campo da fundamentação jurídica. É de pouca sustentação a tese
que defende que as questões de fato não podem ser objeto de argumentação jurídica.

O último campo de atuação dos argumentos jurídicos é o da dogmática jurídica, onde


definindo a dogmática como uma função complexa, Atienza atribui três funções essenciais. a)
fornecer critérios para a produção do direito; b) oferecer critérios para a aplicação do
Direito; e c) ordenar e sistematizar um setor do ordenamento jurídico.

Dentre as funções essenciais, a teoria da argumentação jurídica se preocupa mais com a


produção de razões e argumentos para cumprimento da função de fornecer critérios para a
produção do Direito. Os procedimentos adotados na objetivação dessa função não são
diferentes dos adotados pelos órgãos aplicadores, uma vez que se trata de oferecer a estes
órgãos, critérios e argumentos para facilitar as tomadas de decisões.

Os órgãos aplicadores resolvem os casos concretos, enquanto o dogmático do Direito se ocupa


de casos abstratos. No entanto, essa distinção não pode ser feita de forma muito taxativa,
porque a dogmática além de servir de base para a fundamentação de decisões em casos
difíceis, ela também se apóia em casos concretos.

Aqui os órgãos aplicadores podem resolver casos concretos como também casos abstratos,
assim como acontece com a dogmática do Direito que via de regra se ocupa com os casos
abstratos, mas nada impede que ela sirva de base para a resolução de casos concretos.

Outro assunto discutido no primeiro capítulo do livro de Atienza foi a abordagem sobre dois
contextos das teorias científicas: O contexto da descoberta e o contexto da justificação, ou
seja, explicar e justificar. Atienza explica que atividade de descobrir uma teoria não é
suscetível de uma análise do tipo lógico, no entanto a justificação de uma teoria com o fim
de demonstrar a sua validade, exige uma análise de tipo lógico.

A lógica formal segundo Atienza se preocupa com os argumentos do ponto de vista de sua
correção formal, que é um dos motivos de insatisfação, pois um bom argumento deve sê-lo
tanto do ponto de vista formal quanto material.

Essa insatisfação deriva do fato de que a lógica dedutiva oferece apenas critérios de correção
formal, não se preocupando com os critérios de correção material, que são relevantes quando
se argumenta no contexto que não seja o das ciências formais.

Em alguns casos é possível que a lógica formal não permita nem se quer estabelecer
requisitos necessários com relação ao que deve ser um bom argumento, ou seja, um
argumento não dedutível pode ser um bom argumento, assim como, é possível que um
argumento incorreto do ponto de vista lógico possa possuir premissas verdadeiras e
argumentos verdadeiros possuir premissas falsas.

Na discussão sobre silogismo teórico e silogismo prático, foi posto em dúvida se a lógica se
aplica ou não às normas. Dúvida sustentada por Hans Kelsen que afirma que a dedução
silogística não funciona com relação às normas, concluindo-se que as regras da lógica se
aplicam ao silogismo teórico, mas não se aplicam ao silogismo normativo.
Atienza apontou que um dos possíveis motivos de insatisfação provém do fato de a definição
de argumentos válidos dedutivamente (aqueles encontrados nos livros de lógica) se referir a
proposições verdadeiras ou falsas. Quando no ramo do Direito os argumentos empregam um
enunciado em relação aos quais não parece que tenha sentido falar em verdade ou falsidade,
pois partem às vezes de, e chegam a, norma, mas parece entender que na vida comum,
atribui-se às inferências práticas a mesma validade que as teóricas.

Os argumentos podem ser considerados dedutivos e os não dedutivos. Os argumentos


dedutíveis estão ligados ao caráter de necessidade da passagem das premissas à conclusão.
Toda vez que um argumento em que a passagem das premissas à conclusão não é necessária,
entende-se que se trata de um argumento não dedutível.

Antes de abordar as teorias da argumentação jurídica, Atienza tratou de explicar a relação


existente entre a lógica jurídica e a argumentação jurídica. A argumentação jurídica vai além
da lógica jurídica, pois os argumentos jurídicos podem ser estudados fora do campo da lógica.
No entanto, a lógica jurídica vai além da argumentação jurídica no sentido que tem objeto de
estudo mais amplo, é o que Bobbio entende ao opinar que a lógica jurídica seria constituída
pela lógica do Direito e pela lógica dos juristas. A primeira se concentra na análise da
estrutura das normas e do ordenamento jurídico. A segunda se ocupa com o estudo dos
diversos raciocínios e argumentos feitos pelos juristas teóricos ou práticos.

3 A tópica e o raciocínio lógico

As teorias da argumentação jurídica tiveram suas origens numa série de obras desenvolvidas
nos anos 50, que partiram do ponto comum de rejeição da lógica formal como instrumento
para análise de raciocínios jurídicos. Entre essas teorias encontra-se a tópica de Wiehweg.

A tópica de Wiehweg surgiu num momento em que a metodologia jurídica tradicional


começava a entrar em colapso. O Período pós-guerra foi marcado por diversos sentimentos,
entre ele o de insatisfação com as teses jurídicas que reduziam o importante papel do jurista
prático à aplicação de direito modelado pelo legislador.

A obra de Wiehweg com sua primeira edição em 1953, constituiu-se como um divisor de águas
no que diz respeito ao pensamento jurídico contemporâneo, rompendo com o pensamento
positivista e obteve um grande destaque por se distanciar da disputa entre o positivismo e o
jusnaturalismo, apesar de não ter apresentado um resultado satisfatório para o jurista
prático, redirecionando o seu debate para a retórica antiga.

A idéia principal consistia em reivindicar o interesse que, para a teoria e a prática jurídicas,
tinha a ressurreição do modo de pensar tópico ou teórico. O livro de Wiehweg se converteu,
desde então, num dos centros de atenção da polêmica em torno do chamado “método
jurídico”.

Wiehweg começa a desconfiar da afirmação de que as normais gerais elaboradas pelo


legislador são sempre racionais e podem oferecer respostas a qualquer problema no campo
jurídico. Houve uma falta de prestígio da lógica formal no pensamento jurídico, onde houve a
rejeição de um sistema axiomático-dedutivo.

Viehweg aponta a necessidade de se buscar um novo campo de raciocínio jurídico, que


substitua o silogismo puramente lógico-hipotético, isto é, o sistema dedutivo. Ele rejeita a
lógica formal dedutiva como modelo que sirva de base para as argumentações jurídicas.
Afirma ainda, que o papel central da tópica é encontrar as premissas que serão utilizadas no
raciocínio jurídico.

O componente crítico da tópica de Wiehweg de ser matizado e reorientado, pois sua ruptura
não é com um método jurídico propriamente lógico-dedutivo, mas com o “ontologismo
subjacente ao método do século XIX”. A grande guinada da tópica foi romper com a crença de
uma total separação sujeito/objeto e com a idéia de que para todos os problemas jurídicos há
uma solução predeterminada pelo direito positivo, cabendo ao intérprete tão-somente a sua
aplicação mecânica.

Para os adeptos da tópica existe uma prioridade da tópica sobre a mera dedução de conceitos
a partir de um sistema fechado. Para Theodor Viehweg, a essência do Direito é a tópica.

O pensamento jurídico possui uma estrutura tópica em pelo menos três razões: a) A estrutura
total da jurisprudência somente pode ser determinada a partir de um problema; b) As partes
integrantes da jurisprudência, seus conceitos e proposições têm de ficar ligados de um modo
específico ao problema e só pode ser compreendidos a partir dele; e c) Os conceitos e as
proposições da jurisprudência só podem ser utilizados em uma implicação que conserve sua
vinculação com o problema.

A tópica como instrumento de argumentação “serve ao jurista prático, em especial, para


encontrar os argumentos utilizáveis na justificação concreta de uma decisão”.

Diante de algumas imprecisões, a partir da época moderna a cultura ocidental optou em


abandonar a tópica e substituí-la pelo método axiomático dedutivo, que consiste em partir de
uma série de princípios e axiomas.

Atienza proferiu inúmeras críticas à obra de Theodor Viehweg. Ele argumenta que todas as
noções básicas da tópica são extremamente imprecisas e equivocadas. A noção de problema é
na melhor das hipóteses, excessivamente vaga. O conceito de topos foi historicamente
equívoco e é usado em vários sentidos. Atienza afirma que Theodor Viehweg exagera na
contraposição entre pensamento tópico e pensamento sistemático (lógico-dedutivo)

Outra questão atacada por Atienza é que o modelo de funcionamento da jurisprudência é


indubitavelmente ingênuo e ao final, sustenta que a tópica por si só não é capaz de dar uma
explicação satisfatória sobre a argumentação jurídica. E mais, a tópica não permite ver o
papel importante que a lei, a dogmática e o precedente desempenham no papel do raciocínio
jurídico.

Percebe-se que a tópica sem dúvida é capaz de colher argumentos, mas falha ao não
estabelecer critérios de pesagem e descoberta de regras de preferência entre os ponto de
vista argumentativos. Outro ponto fraco da tópica é a sua insuficiência para avaliar e
controlar as decisões obtidas pelo procedimento discurso.

4 A nova retórica de Perelman

Perelman foi o autor que provavelmente mais contribuiu para a recuperação da tradição
tópica e da retórica antiga. Fábio Ulhoa observa que:

Vinte e três séculos se passavam enquanto a filosofia prestigia, do legado aristotélico, apenas
o modo analítico de raciocinar. Ninguém manifesta preocupação em resgatar a idéia de
dialética como saber necessário, sério, pertinente, sujeito a regras próprias e, portanto,
controlável. Somente a partir de 1947, na Bélgica, Chaim Perelman irá alterar esse quadro,
dando início, juntamente com sua colaboradora Lücie Olbrechts-Tyteca, as pesquisas que
resultarão, em 1958, na publicação do Tratado da argumentação.

Perelman foi pioneiro na habilitação da retórica, pois antes dele, a noção aristotélica não
despertava interesse nos filósofos da época. A retórica de Perelman se apóia principalmente
em Aristóteles, Cícero e Quintiliano.

O seu objetivo fundamental é ampliar o campo da razão para além dos confins das ciências
dedutivas e das ciências indutivas ou empíricas. O que mais interessa a Perelman é a
estrutura da argumentação, a sua lógica, e não, por exemplo, os seus aspectos psicológicos.
Ele defende a idéia de que a análise dos raciocínios utilizados pelos políticos, juízes ou
advogados deve ser o ponto de partida para a construção de uma teoria da argumentação
jurídica.

Perelman considera a argumentação como um processo em que todos os seus elementos


interagem constantemente, e nisso ela se distingue também a concepção dedutiva e unitária
do raciocínio de Descartes e da tradição racionalista.

Perelman escolhe para designar a sua teoria, o nome de retórica e não de dialética, isso se
deve precisamente a importância que se dá a noção de auditório ( que significa o conjunto de
todos aqueles em que o orador quer influir com a sua argumentação ), o que Alexy chama de
audiência , que certamente é a noção central da teoria de Perelman.

Para Alexy “o conceito básico da teoria de Perelman é o conceito de audiência (auditoire). A


audiência é um agrupamento daqueles a quem o orador deseja influenciar com sua
argumentação”

Perelman faz uma distinção entre retórica formal e retórica aplicada a campos específicos,
como é o caso do Direito. Ele chama de lógica jurídica o campo de estudo das técnicas e
raciocínios próprios dos juristas. Mas entende que a lógica jurídica não é um ramo da lógica
formal aplicada ao Direito, isto porque os raciocínios jurídicos não podem ser reduzidos de
forma absoluta a raciocínio lógico-formais, sendo na verdade um ramo da retórica.

Atienza faz várias críticas sobre a teoria de Perelman, direcionando-as para a parte
conceitual, ideológica e direcionada a concepção do Direito e do raciocínio jurídico. Atienza
afirmou que do ponto de vista teórico, o pecado capital de Perelman foi a falta de clareza de
praticamente todos os conceitos principais de sua criação teórica. Afirma ainda, que
Perelman não oferece nenhum esquema que permita uma análise adequada dos argumentos
jurídicos – dos diversos tipos de argumentos jurídicos – nem do processo da argumentação.

5 Teoria da argumentação de Toulmin

Stephen E. Toulmin foi um filósofo inglês que possuía as mesmas idéias de que a
argumentação jurídica parti de um modelo que não seja o da lógica dedutiva. Mas diferente
dos demais teóricos, ele não buscou a sua inspiração na recuperação da tradição tópica ou
retórica, e sim partindo de uma idéia de que a lógica é algo que tem relação com a maneira
como os homens pensam, argumentam e efetivamente inferem, e constata, ao mesmo tempo,
que a ciência da lógica se apresenta e se apresentou historicamente, desde Aristóteles, como
uma disciplina autônoma.

Com base na postura crítica à abordagem lógica da argumentação, e focando inicialmente os


procedimentos retóricos do discurso jurídico, Toulmin propõe uma análise da argumentação
diferente da proposta pela teoria aristotélica, negando a noção convencional de racionalidade
como categoria analítica abstrata, aplicável a qualquer audiência e disciplina. O filósofo
defende, pois, que, numa análise da argumentação, o que se conta como argumento
apropriado e convincente varia de acordo com o contexto histórico, disciplinar, e/ou social.

Para tanto, Toulmin desenvolve um modelo descritivo de análise que especifica os elementos
potenciais constitutivos de qualquer argumentação, de modo que se possibilite uma estrutura
menos ambígua, uma vez que a estrutura lógica – premissa maior, premissa menor e
conclusão - não capta as diferenças entre os elementos que dão força ao argumento, nem
tampouco possibilita a flexibilidade de adequação desses elementos ao contexto.

Toulmin constata que um dos nossos modos de comportamento é constituído pela prática de
raciocinar, de dar aos outros razões a favor do que fazermos, pensamos ou dizemos. Afirma
que embora exista uma variedade de usos da linguagem, é possível se distinguir entre o uso
instrumental e o uso argumentativo. A intenção de Toulmin é criticar o formalismo e primazia
da linguagem natural, onde sua crítica consiste em se opor a uma tradição que parte de
Aristóteles e pretende fazer da lógica uma ciência formal, comparável à geometria. Ele
propõe-se deslocar o centro de atenção da teoria lógica para a prática lógica. Para ele não
interessa uma lógica idealizada, e sim uma lógica eficaz ou aplicada.

O modelo apresentado por Toulmin não pretende servir apenas para o campo do direito e nem
mesmo para aquele do que se costuma chamar de razão prática, mas também para o da
argumentação em geral. Aqui já estamos diante de uma verdadeira teoria da argumentação,
dotada de notável aparato analítico e que oferece pelo menos um guia para o exercício
prático da argumentação.

6 Teoria integradora da argumentação jurídica

Neil Maccormick autor de uma teoria integradora da argumentação jurídica, assim como
Robert Alexy, faz parte dos teóricos representantes da teoria padrão da argumentação
jurídica. Para Atienza, “entre as diversas teorias que surgiram nestes últimos anos, duas –
elaboradas por Niel Maccormick e por Robert Alexy – são, na minha opinião, as que têm maior
interesse e talvez as que foram mais discutidas e alcançaram maior difusão”

Maccormick trata de certo modo, de harmonizar a razão prática kantiana com o ceticismo
humeano; de mostrar uma teoria da razão prática deve ser completa como uma teoria das
paixões; de construir uma teoria que seja tanto descritiva quanto normativa.

[...]

Para Maccormick a argumentação prática, em geral, e a argumentação jurídica, em


particular, cumprem essencialmente, uma função de justificação que está presente inclusive
quando a argumentação persegue uma finalidade de persuasão, pois só se pode persuadir se
os argumentos estão justificados.

Significa dizer que os argumentos devem estar de acordo com as normas vigentes e os fatos
estabelecidos.

Justificar uma decisão jurídica significa apontar as razões que mostrem que a decisão em
questão garante ou pelo menos deve garantir a justiça de acordo com o Direito. Ele situa sua
teoria da dentro do contexto da justificação.

Maccormick defende que em alguns casos as decisões são juridicamente justificáveis através
de silogismos, ele propõe como exemplo a análise de um caso concreto, onde houve uma
exposição silogística, através de cálculos proposicionais, isto é, os argumentos utilizados na
decisão judicial, baseam-se em textos normativos.

As teorias silogísticas no direito parecem produzir um modelo de decisão mais racional.


Decidir contra uma conclusão lógica formal, seria uma atitude no mínimo casuística ou até
mesmo irracional.

As teorias ditas casuísticas duvidam da possibilidade de se encontrar uma conclusão no


sentido lógico, adotando a norma legal como premissa maior e o fato como premissa menor.

No entanto, Maccormick observa que para se fundamentar a importância do uso do silogismo,


coloca como pressuposto a necessidade do magistrado declarar e mostrar publicamente as
razões justificadoras de sua decisão, ou seja, não é suficiente apenas deduzir logicamente
uma conclusão, é preciso explicar os caminhos como se chegou a tal decisão. Maccormick
parte da consideração de que, as decisões dos juízes são fundamentadas pelo menos em
alguns casos, são de caráter estritamente dedutivo.

Entende-se que o raciocínio lógico é um raciocínio racional:


O discurso lógico é tido como racional e, portanto, satisfatório no que tange a sua carga de
veracidade e aceitação. Por outro lado o convencimento do auditório é de fundamental
importância para a legitimação da decisão judicial, pois que, a partir do convencimento
fundado em uma cadeia argumentativa coerente, a aceitação das premissas leva à aceitação
imediata da conclusão.

Atienza afirma que a justificação dedutiva possui pressupostos e limites, entre os


pressupostos pode-se afirmar que o Juiz deve aplicar as regras de Direito válida, sem entrar
no mérito de qualquer natureza desse dever. Ele considera como pressupostos também, a
possibilidade de o juiz identificar quais são as regras válidas, o que implicaria também, em
aceitar a existência de critérios de reconhecimento. Os limites é que além dos casos fáceis ou
juízes podem encontrar casos difíceis. Maccormick faz uma divisão dos casos difíceis, quatro
problemas: interpretação (premissa normativa); pertinência (premissa normativa); prova
(premissa fática) e qualificação (premissa fática).

Decidir um caso difícil significa cumprir em primeiro lugar o requisito da universalidade, que
também está implícito no argumento dedutivo, e em segundo lugar, significa que a decisão
tenha sentido em relação ao sistema e em relação ao mundo.

Manuel Atienza fez várias críticas a teoria apresentadas por MacCormick, de todas as teorias
apresentadas em seu livro, a de MacCormick foi a que mais recebeu críticas.

Uma das críticas gerais apresentada por Atienza refere-se ao caráter ideologicamente
conservadora apresentado pela teoria de MacCormick. Ela possui um sentido fortemente
justificar com relação ao que se pode chamar de prática da aplicação do Direito. É o fato de a
teoria de MacCormick pretender ser, ao mesmo tempo, descritiva e prescritiva parece
apresentar alguns problemas.

7 Argumentação jurídica como discurso racional

A argumentação jurídica como discurso racional de Alexy sofreu as influências de Kant, Hare e
principalmente na ética do discurso desenvolvido por Habermas. A sua teoria significa, por um
lado, uma sistematização e reinterpretação da teoria do discurso prático habermasiana e por
outro lado, uma extensão dessa tese para o campo do direito.

Alexy recolheu influências de diversas origens a fim de sustentar seu projeto discursivo do
Direito. No entanto, embora Hare, Baier, a Escola de Erlangen, Perelman, entre outros,
tenham importância nesse projeto, é inegável que a maior contribuição surgiu da teoria do
discurso.

A teoria do discurso é uma teoria kantiana da racionalidade prática. A ética kantiana possui
um caráter deontológico, cognitivista, formalista e universalista.

Diferentemente de MacCormick que parte de uma teoria geral da argumentação prática,


Alexy parte de uma teoria da argumentação prática geral que se projeta, depois, para o
campo do direito, tendo como resultado, a tese central que consiste em considerar o discurso
jurídico, a argumentação jurídica, como um caso especial.

Ele tem como tese central da sua concepção considerar o discurso jurídico, a argumentação
jurídica, como um caso especial do discurso prático geral, isto é, do discurso moral. Ele não
pretende apenas criar uma teoria normativa da argumentação jurídica que permita
diferenciar bons argumentos de maus argumentos, e sim uma teoria que seja também
analítica que entre na estrutura dos argumentos e descritiva que incorpore elementos de tipo
empírico.

A teoria apresentada por Alexy, na visão de Atienza possui várias falhas, que originaram
várias críticas.
Atienza afirma que:

As regras do discurso não garantem que se possa alcançar um acordo para cada questão
prática (quer dizer, que se possam resolver todos os problemas de conhecimento), nem
tampouco que, caso se alcançasse esse acordo, todo o mundo estaria disposto a segui-lo
(problema)

Outra crítica feita à teoria do discurso em geral é sobre a aplicabilidade ou utilidade de sua
teoria. O procedimento discursivo de Habermas e Alexy não pode construir o critério da
verdade ou correção dos enunciados.

A fundamentação dos discursos práticos não implica, de maneira essencial, um processo


comunicativo ou dialógico, está ligada também a uma objeção anterior de não levar em
consideração o aspecto não-racional e volitivo do discurso real exigido pela moral.

8 Projeto de uma teoria da argumentação jurídica

Depois de fazer uma exposição, ou seja, um resumo mais claro e menos simplificador e
críticas das cinco teorias da argumentação jurídica, Manuel Atienza apresenta um projeto que
na sua visão seria o que se pode chamar de uma verdadeira teoria, plenamente desenvolvida
da argumentação jurídica.

De início, ele afirma que uma teoria da argumentação jurídica deve ser avaliada a partir de
três panoramas diferentes: 1) seu objeto; 2) seu método; e 3) sua função. Ou seja, ver o que
se explica a teoria em questão, como se explica e para quê, qual a finalidade instrumental.
Ele afirma que as teorias apresentadas em seu livro são deficientes nessas três dimensões.

A argumentação proferida na via judiciária é, em suma, grande parte realizada sobre fatos,
ao passo que a teoria padrão ocupa-se de forma quase exclusiva, com as questões normativas,
isso leva a dizer que a maior parte das argumentações produzidas fora dos tribunais não são
incluídas no âmbito de estudo das teorias, além da insuficiência presente na resolução das
próprias questões normativas.

Atienza observa que a construção de uma teoria da argumentação jurídica que dê conta
também das questões de fato, deveria levar por um lado, a uma aproximação maior com as
teorias da argumentação que se desenvolvem em outros âmbitos, como por exemplo, a
argumentação científica e a argumentação da vida ordinária.

Outra afirmação é que “a teoria da argumentação jurídica teria de dar conta não só dos
raciocínios produzidos na elaboração da dogmática jurídica e na interpretação e aplicação do
Direito, como também da argumentação que ocorre no âmbito da produção do Direito”.

Quantos aos problemas metodológicos Atienza considera uma teoria plenamente desenvolvida
aquela que dispõe de um método que permita apresentar adequadamente um processo real
da argumentação, isto é, pelo menos a fundamentação de uma decisão apresente critérios
tão precisos, quanto possíveis, para julgar a correção dessas argumentações e de seus
resultados.

Ele aponta como um dos maiores defeitos de uma teoria padrão da argumentação judicial é o
fato de ela não dispor de um procedimento capaz de representar com precisão como é que os
juristas fundamentam, de fato, as suas decisões.

E por fim, ele afirma que a teoria da argumentação jurídica deveria cumprir basicamente em
três funções: 1) A primeira de caráter teórico ou cognoscitivo; 2) A segunda tem uma
natureza prática ou técnica; e 3) poderia ser qualificada de política e moral, sendo essas as
funções de uma verdadeira teoria da argumentação jurídica.
Conclusão

Cada uma das teorias da argumentação jurídica apresentada na obra de Manuel Atienza,
possui pontos positivos, assim como pontos negativos.

Três defendem a idéia de que a lógica forma dedutiva é insuficiente como modelo que sirva
de base para uma teoria da argumentação jurídica. Duas defendem a idéia de que os
argumentos lógicos dedutivos são suficientes para a construção de uma teoria da
argumentação, é o que se pode chamar de teoria padrão da argumentação jurídica.

Porém, podem ser consideradas insuficientes, uma vez que a teoria padrão da argumentação
jurídica, não discute em absoluto os aspectos muito importantes do raciocínio jurídico, sendo
assim, não oferecem um método que permita, por um lado, analisar de forma adequada, os
processos de argumentação jurídica e, por outro lado, avaliar os resultados dos processos.
Elas são insuficientemente fracas quanto às críticas ao positivismo jurídico, não sendo uma
teoria atrativa para o teórico e o prático do Direito.

De todas as teorias apresentadas a que parece realmente se enquadrar em um conceito de


teoria da argumentação seria a apresentada por Stephen E. Toulmin.

A teoria de Toulmin sobre a argumentação jurídica toma destaque em dois aspectos que
acabam por causar impacto sobre o que se entende atualmente, por argumentação. O mais
interessante deles é o modelo por ele proposto para descrição e análise das funções dos
vários elementos (ou “passos”) que constituem a argumentação.

O modelo criado por Toulmin é composto por cinco passos que são: 1) o primeiro passo é a
formulação de um ponto de vista; 2) segundo passo é apontar os dados de que dispõe; 3)
terceiro passo a produção de uma justificativa; 4) quarto passo prover novas informações que
sirvam de apoio para a mesma; 5) quinto passo crítico para a construção de um argumento é a
consideração de exceções.

O modelo apresentado por Toulmin não pretende servir apenas para o campo do direito e nem
mesmo para aquele do que se costuma chamar de razão prática, mas também para o da
argumentação em geral. Para Toulmin a correção de um argumento não é uma questão
formal, mas sim uma questão de procedimento, algo que precisa ser avaliado segundo
critérios apropriados para cada campo.

Aqui já estamos diante de uma verdadeira teoria da argumentação, dotada de notável


aparato analítico e que oferece pelo menos um guia para o exercício prático da
argumentação.

Referências

ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica. A teoria do discurso racional como teoria da
justificação jurídica. São Paulo: Editora Landy, 2001

ATIENZA, Manuel. As Razões do Direito: teorias da argumentação jurídica. Trad. de Maria


Cristina Guimarães Cupertino. 3ª ed. São Paulo: Landy, 2006

BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Tópica e argumentação jurídica. Revista de Informação


legislativa. Brasília. Ano. 41. n. 163. jul/set. 2004

COELHO, Fábio Ulhoa. Prefácio à edição brasileira do Tratado da argumentação Jurídica. A


nova retórica. São Paulo: Martins Fontes: 2002

GARCIA AMADO, Juan Antonio. Tópica , derecho y método jurídico. In: Doxa: cuadernos de
filosofia del derecho, Alicante, n. 4, 1987.
PARINI, Pedro. O raciocínio dedutivo como possível estrutura lógica da argumentação judicial:
silogismo versus entimema a partir da contraposição entre as teorias de Niel MacCormick e
Katharina Sobota. Disponível em:< http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Pedro
%20Parini.pdf>. Acesso em: 20.jun.2008

Currículo do articulista:

Advogado atuante nas áreas Trabalhista, Previdênciária, Cível e Criminal.

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