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TRABALHO DE FÉRIAS – 3° ANO

ANÁLISE DA OBRA AINDA ESTOU AQUI, Marcelo Rubens Paiva

Aluna: Pietra Izaac Silva


Ano: 3°A
Data de Entrega: 13 de Agosto
I. Introdução

Em 1971, a família Paiva é surpreendida em sua própria casa pelos militares, dois anos
depois da cassação do mandato de deputado federal de Rubens Paiva. A morte “por
decreto” como afirma Marcelo em “Ainda Estou Aqui”, de 2015, escrito em homenagem a
sua mãe, só foi reconhecida em 1995, 25 anos depois, após uma luta interminável dos
familiares.
Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice Paiva e Rubens Paiva, conta a história de seus pais
no livro “Ainda Estou Aqui”. Aos onze anos de idade, Marcelo sofreu o primeiro
grande trauma da sua vida: o "desaparecimento político" do pai, que, depois de preso, o ex-
deputado federal cassado no Golpe de 64, Rubens Paiva foi torturado e morto no dia 20 de
janeiro de 1971. Eunice Paiva, mãe de cinco filhos ( Marcelo Rubens Paiva, Vera Sílvia
Facciolla Paiva, Maria Eliana Facciolla Paiva, Ana Lúcia Facciolla Paiva e Maria Beatriz Facciolla
Paiva), foi participante ativa da luta contra os crimes da ditadura. Ambos são o retrato de como a
ditadura afetou a população brasileira.
Após o desaparecimento do marido, Eunice Paiva, se reinventou, voltando a estudar e tornando-
se advogada dos direitos dos indígenas. Neste livro, Marcelo Rubens Paiva fala sobre a
memória, infância e discorre sobre a batalha travada por sua mãe, o Alzheimer.
A trajetória de Eunice Paiva, sempre muito cuidadosa com a silhueta, esposa e mãe
preocupada com os códigos de etiqueta da elite paulistana, ganhou outro rumo com o
desaparecimento de Rubens Paiva. Ela foi empurrada para o combate político sem nenhum
treinamento. Sua busca, que primeiro era pelo marido, aos poucos se tornou a procura pelo
corpo e, no final, era a briga com o Estado brasileiro para ter direito a um atestado de óbito,
só conquistado em 1996.
No ano de 2014 essa história pôde realmente ser contada. Foi quando a Comissão Nacional
da Verdade conseguiu “explicar” o caso. O deputado não resistiu as torturas e morreu no
segundo dia. A versão oficial dos militares é de que ele teria fugido com a ajuda dos
comunistas. Eunice enfrentou militares de quem cobrou dados sobre o que acontecera ao
marido. Denunciou o crime contra seu marido em entrevistas à mídia internacional numa
época em que esse tipo de atitude levava à cadeia – ela já estivera 12 dias presa no DOI-
CODI, levada no mesmo dia em que levaram seu marido de casa. Essa é a história de uma
mulher que lutou pela verdade. Uma mulher em uma época onde o machismo era
gigantescamente maior que é hoje, Eunice lutou pela democracia, pela liberdade e pela
verdade.

Num relato emocionado, Marcelo traça um perfil de Maria Eunice Paiva, “a verdadeira
heroína da família, sobre ela que nós, escritores, deveríamos escrever”. Marcelo fala de
memória, da infância, dos momentos em família e conta como a mãe reagiu diante do
desaparecimento do pai, o ex-deputado Rubens Beyrodt Paiva, preso, torturado e morto nas
dependências dos órgãos repressores da ditadura militar.
II. Desenvolvimento

I. Biografia do autor
Marcelo Rubens Paiva nasce no dia 1 de maio de 1959, na cidade de São Paulo. Aos seis
anos de idade muda-se para o Rio de Janeiro, após seu pai, Rubens Paiva, ter sido
perseguido pelo regime militar e precisar se exilar. Em 1971, o seu pai é capturado,
torturado e morto. Diante do desaparecimento de Rubens Paiva, o corpo nunca foi
encontrado, a família de Marcelo se vê obrigada a mudar de cidade.

Marcelo com o pai e a irmã Ana Lucia, no Leblon (RJ) Marcelo Rubens Paiva

Em 1974, Marcelo Rubens Paiva retorna para São Paulo e nesta época já dava os primeiros
passos da carreira literária. Escrevia para o jornal da escola que estudava, o Colégio Santa
Cruz, e a produção de composições o levou à final do Festival de Música Universitária da TV
Cultura, no ano de 1979.

Aos 20 anos sofreu um acidente após saltar em um lago e bater em uma pedra, fraturando a
quinta cervical e ficando paraplégico. Depois de intensos tratamentos de fisioterapia e
terapia ocupacional recobrou o movimento das mãos e dos braços. Em 1982, publica o seu
primeiro livro Feliz Ano Velho. O livro lhe rendeu notoriedade literária, sendo traduzido para
diversas línguas e alcançando a marca de livro brasileiro mais vendido da década de 80.

Em 1986, lança o segundo romance Blecaute. Inicia a carreira em televisão como produtor,


diretor e apresentador trabalhando, por exemplo, na TV Cultura no programa Leitura Livre.

Marcelo estudou dramaturgia no Centro de Pesquisa Teatral do Serviço Social do Comércio


(SP). Na década de 1990, trabalha como colunista do jornal Folha de S. Paulo, lança
o romance policial Bala na Agulha, apresenta o programa Fanzine (TV Cultura), publica As
Fêmeas, quando morava nos Estados Unidos como bolsista lança o romance Não és Tu
Brasil e escreve a peça E aí, comeu?. A peça muda de nome para Da Boca pra Fora e vira
filme em 2013, com ela Marcelo Rubens Paiva ganha o Prêmio Shell, no ano 2000, de
melhor autor no ano.

Na década de 2000, Marcelo escreve episódios para a TV Globo para os programas: Sexo


Frágil, Zorra Total e Fantástico. Neste mesmo período escreve, junto com Mauro Lima, As
Aventuras de Tiazinha, para a TV Bandeirantes.

Em 2004 passa a escrever para o jornal O Estado de S. Paulo e também para o blog do
jornal. Em 2006, ganha o Prêmio TopBlog de melhor blog de comunicação.

Em 2016, participou da concepção artística da cerimônia oficial de abertura dos jogos


Paralímpicos. No mesmo ano, não aceita receber a Ordem do Mérito Cultural do Ministério
da Cultura, alegando não aceitar homenagens de governo não eleito pelo voto direto.
II.
A iniciativa de Marcelo Rubens Paiva de contar a história da sua família é uma narrativa de
sobrevivência e movimento. Ao ler o livro, somos conduzidos por um labirinto de memórias,
verdades e esquecimentos. O interessante desta obra é que ela não é o que pretende ser. O
trazer a tona a história da morte de seu pai acabou por ser um momento catártico da relação
de Marcelo com sua mãe, Eunice Paiva, personagem de grande importância na luta contra a
ditadura militar brasileira.

De certa maneira temos em mãos não apenas um livro que retrata uma época trágica da
história brasileira, mas uma biografia de Eunice, uma mulher da alta sociedade que resolveu
lutar contra a ditadura e buscar a verdade a respeito do paradeiro de seu marido. O caráter
interminável do desaparecimento do pai e a progressiva perda da memória da mãe, devido
ao mal de Alzheimer, levam o filho autor a nos guiar pelos caminhos da ausência.

É justamente para falar do desconforto que sente com a falta de memória e a desconexão
com o mundo de Eunice, que Marcelo faz um grande retrato da história de sua família. Pela
primeira vez os detalhes do caso Rubens Paiva são revelados: o escritor/filho descreve
desde o dia em que membros da aeronáutica invadiram sua casa (com metralhadoras) e
levaram o pai, os dias de prisão da mãe e da irmã mais velha, a montagem da farsa oficial
que dizia que Rubens havia fugido, até os depoimentos de pessoas que estiveram presas
na mesma época que o ex-deputado e a reconstituição da verdade, por meio da transcrição
do processo do Ministério Público Federal de 2014 em que se tem ciência dos fatos e dos
culpados pelo assassinato tão brutal e desumano.
A história do pai serve como fio condutor para que Marcelo revele a força e o exemplo de
Eunice, que precisou se reinventar várias vezes na vida. Mais do que mostrar a trajetória de
luta da mãe, Marcelo traça um perfil psicológico dela, com o jeito pouco distante de criar os
filhos, mas sempre apontando como se portar diante das dificuldades. Se a mãe se mostra
pragmática e incisiva, o filho também reconhece a sua presença quando mais precisou dela
— logo após o acidente que o deixou “paralisado do pescoço para baixo. Ela ficou do meu
lado”. E é nestes relatos pessoais sobre sua relação com a mãe, que Marcelo emociona,
mas sem qualquer melodrama.

Então no fim é tudo sobre memória, a memória de sua mãe, e a memória que ele tem de
todos os acontecimentos narrados no livro. E Marcelo narra da única maneira que deveria,
ele não mantém uma ordem cronológica dos fatos ao narrar, ele narra como se ele estivesse
contando de memória, e a memória não é tão precisa assim, e ele conta de maneira sucinta,
sem enrolar antes de narrar qualquer episódio. Em partes narradas sobre seu pai preso, por
exemplo, ele é cru e direto, assim como os episódios narrados foram. Ele não esconde nada
do leitor, nem deixa nada mais açucarado para que o impacto seja menor. Ele é sincero.
III. Linha do Tempo

O Golpe de 64 aconteceu no dia 31 de março de 1964, durante o governo de João Goulart, o


Jango. Jango, apesar de não ser um político com ideais esquerdistas, tinha algumas
tendências comunistas, e na época o maior medo dos militares era que o Brasil se tornasse
um país comunista, esse medo era tão grande que se tornou uma paranóia, mentiras foram
contadas e planos arquitetados até que os militares conseguissem deixar Jango com uma
imagem comunista, e então tirá-lo do poder.

A reação conservadora foi imediata e ocorreu nas ruas no dia 19 de março com a Marcha
da Família com Deus pela Liberdade. Essa passeata mobilizou mais de 500 mil pessoas
em São Paulo contra o comunismo e reivindicando a intervenção dos militares na política
brasileira. Essa passeata foi organizada pelo Ipes e deixou bem clara a extensão do poder
dos grupos golpistas e o temor da classe média com as reformas e com os movimentos
sociais que pipocavam pelo país.

Ranieri Mazzilli assumiu a presidência de maneira provisória. Enquanto isso, a Junta Militar


que se formou começou a organizar as bases para o início da ditadura no país. Em 9 de
abril de 1964, foi emitido o Ato Institucional nº 1. Dois dias depois, Humberto Castello
Branco foi eleito indiretamente presidente do país.

Castelo Branco foi o primeiro presidente militar do Brasil, e foi em seu governo que os quatro
primeiros Atos Institucionais foram implantados. Os Atos Institucionais serviram para dar aos
poucos e cada vez mais poderes ao governo militar. Ao fim do AI-4 já não havia mais
eleições diretas para presidentes ou governadores e o governo que diziam ser temporário
parecia que não iria terminar tão cedo.
Porém foi no governo de Costa e Silva que o terror começou a se instaurar, foi feito o AI-5,
onde era declarado que a polícia ou o exército não precisariam de um mandato para prender,
eles poderiam prender quem eles quisessem sem que houvesse provas concretas ou até
prova nenhuma, também negava ao preso o direito de Habeas Corpus. Resumindo, o AI-5
era a garantia de que o governo podia fazer o que quisesse com quem quer que estivesse
em seu caminho.

Conhecida como a Era de Chumbo, foi durante o governo de Costa e Silva que se
intensificaram as prisões de estudantes, jornalistas, professores, políticos, e quaisquer outros
que tivessem qualquer tendência comunista ou apenas fosse contra a ditadura, onde não
eram apenas presos, mas mortos a sangue frio ou torturados. Ao fim de tudo as vítimas eram
dadas como desaparecidas ou mesmo era dito que elas cometeram suicídio, sempre havia
uma história que cobrisse a verdade.
Na Ditadura Militar do Brasil, Emílio Garrastazu Médici assumiu o poder de 1969 a 1967,
após o fim do mandato do presidente Costa e Silva. O seu governo, no entanto, foi marcado
por grandes insatisfações, além de ser considerado um dos piores para população que
nomeou esse período de “Anos de Chumbo”.

Médici deu continuidade às iniciativas do último presidente e criou o “milagre econômico”,


que durou de 1968 a 1973, um plano desenvolvido para melhorar a economia do país.
Apesar de ter gerado grandes resultados principalmente com a exportação do petróleo, a
crise, que aconteceu em todo o mundo, atingiu também o Brasil, o que causou grande
instabilidade no cenário político e econômico da nação. 

Em 1974 assume a presidência o general Ernesto Geisel que começa um lento processo
de transição rumo à democracia. Seu governo coincide com o fim do milagre econômico e
com a insatisfação popular em altas taxas. A crise do petróleo e a recessão mundial
interferem na economia brasileira, no momento em que os créditos e empréstimos
internacionais diminuem.

Geisel anuncia a abertura política lenta, gradual e segura. A


oposição política começa a ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o
MDB conquista 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos
Deputados e ganha a prefeitura da maioria das grandes cidades.
Durante o Governo Geisel, tivemos um movimento conhecido como “sístole e diástole”. Ao
mesmo tempo em que este vai implementar algumas medidas de abertura, como a extinção
do AI-5 e eleições livres para senador, deputado e vereador – representando a diástole –,
também serão implementadas medidas repressivas como torturas, perseguições,
cassações, mortes (como o jornalista Vladmir Herzog e o operário Manuel Fiel Filho) e o
fechamento do congresso, nos momentos de sístole.

A vitória do MDB nas eleições em 1978 começa a acelerar o processo de redemocratização.


O general João Baptista Figueiredo decreta uma das principais medidas lançadas foi a Lei
da Anistia geral e irrestrita em agosto de 1979. Com a lei, os brasileiros que estavam no
exílio puderam voltar. No entanto, muito ainda se discute sobre essa lei, visto que anistiou
torturadores da ditadura, que ficaram impedidos de serem punidos pelos seus crimes.

No dia 30 de Abril de 1981, uma bomba explode durante um show no centro de convenções
do Rio Centro. Esse episódio ficou conhecido como o Atentado do Riocentro e marca a
insatisfação de alguns militares em relação aos opositores do regime que haviam retornado
do exílio. Felizmente, a bomba que tinha sido implantada atrás do palco não explodiu.

Em 1979, o governo aprova lei que restabelece o pluripartidarismo no país. Os partidos


voltam a funcionar dentro da normalidade. A ARENA muda o nome e passa a ser PDS,
enquanto o MDB passa a ser PMDB. Outros partidos são criados, como: Partido dos
Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Nos últimos anos do governo militar, o Brasil apresenta vários problemas. A inflação é alta e
a recessão também. Enquanto isso a oposição ganha terreno com o surgimento de novos
partidos e com o fortalecimento dos sindicatos.
Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e
milhões de brasileiros participam do movimento das Diretas Já. O
movimento era favorável à aprovação da Emenda Dante de Oliveira
que garantiria eleições diretas para presidente naquele ano. Para a
decepção do povo, a emenda não foi aprovada pela Câmara dos
Deputados.

No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheria o deputado Tancredo Neves,


que concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Ele fazia parte da
Aliança Democrática – o grupo de oposição formado pelo PMDB e pela Frente Liberal.

Era o fim do regime militar. Porém Tancredo Neves fica doente antes de assumir e acaba
falecendo. Assume o vice-presidente José Sarney. Em 1988 é aprovada uma nova
constituição para o Brasil. A Constituição de 1988 apagou os rastros da ditadura militar e
estabeleceu princípios democráticos no país, esta promulgou a nova Carta Magna.
No entanto, Sarney conservou o Serviço Nacional de Informações e cumpriu a promessa de
não processar nenhum envolvido em torturas e desvios financeiros.

As primeiras eleições presidenciais livres e diretas no Brasil ocorreram em 1989


quando Fernando Collor de Mello, do PRN (Partido da Reconstrução Nacional), foi eleito.

Abalado por casos de corrupção e financiamento ilegal de sua campanha eleitoral, Collor de
Mello renunciou à presidência, em 1991, para evitar o processo de impeachment.

IV. Comissão da Verdade

"Comissões da Verdade" ou "Comissões da Verdade e Reconciliação" são organismos


oficiais temporários, criados para investigar abusos de direitos humanos cometidos
pelo Estado, ou por grupos envolvidos em conflitos armados, ao longo de um determinado
período de tempo no passado. Depois de reunir provas e depoimentos junto às vítimas,
testemunhas e autores de abusos; dessas comissões em geral é requerido, em virtude de
suas atribuições, que forneçam relatórios de suas conclusões sobre os assuntos e
testemunhos analisados, bem como fazer recomendações para evitar a sua repetição no
futuro.

O modus operandi varia de país para país, mas em geral a expectativa é que o trabalho de
tais comissões possam ajudar as sociedades a entenderem e reconhecer eventos
passados, que sejam ou motivo de controvérsia ou de negação, e ao fazê-lo, trazer ao
conhecimento do público em geral, os testemunhos oculares e relatos das vítimas e
perpetradores.

A lei a respeito da Comissão da Verdade foi publicada no ano de 2011 sob o número 12.528
e entrou em vigor na data de sua publicação, no dia 18 de novembro de 2011. O objetivo da
lei foi o de apurar graves violações de direitos humanos ocorridos entre 18 de setembro de
1946 e 5 de outubro de 1988. Ressalta-se que a comissão concentrou seus esforços no
exame dos esclarecimentos de fatos ocorridos no período da ditadura militar. Somente em
maio de 2012, foi instituída, resultado de uma longa luta e reivindicações de parentes e
vítimas, bem como de grupos de proteção aos direitos humanos. A comissão tinha por
premissa investigar os atos cometidos por agentes do Estado contra cidadãos que lutavam
contra a repressão.

Em seu artigo primeiro, a Lei 12.528 quer efetivar o “direito à memória e a verdade histórica
e promover a reconciliação nacional”.

A Comissão da Verdade são órgãos oficiais ou extra-oficiais, instituídos com a função de


construir uma narrativa de um período de graves violações de direitos humanos, apontando
os crimes que foram cometidos, as circunstâncias dessas violências, pessoas envolvidas
etc. Podem ou não ter a finalidade expressa de julgar os responsáveis pelos crimes a
depender de cada legislação. Algumas delas têm também atribuição de promover a
reconciliação nacional. Mas isso depende da realidade de cada conflito e de cada nação.

As Comissões da Verdade servem para investigar e/ou elucidar as causas de uma morte ou
desaparecimentos, principalmente quando os agentes causadores estavam a serviço do
Estado. Tal função serve para trazer paz às famílias dos envolvidos, e principalmente, deixar
uma lição para o futuro, para que tais atos não voltem a acontecer.

A CNV realizou 80 audiências públicas pelo país, percorrendo o Brasil de Norte e a Sul,
visitando 20 unidades da federação. Calcula-se que mais de 300 comissões foram
formadas. Essas comissões, cada qual no seu âmbito e escopo, investigaram temas e
assuntos específicos e colaboram também no sentido de trazer à tona verdades escondidas.

As audiências, diligências, eventos e tomadas públicas de depoimentos realizados pela CNV


ou em parceria com outras comissões ou com a sociedade civil estão disponíveis no portal
da própria CNV (Memórias Reveladas).

O CNV fez com que o Brasil reconhecesse oficialmente o horror praticado


pelos agentes do Estado no período da Ditadura. O relatório da CNV serve
como alerta para que esse período nunca mais volte. Outrossim, é
fundamental que se reflita a respeito desse período que em momento
algum deve ser motivo de orgulho para o país. Seres humanos foram
perseguidos, violentados, torturados e mortos, e cabe ressaltar que, ainda
hoje, existem muitos desaparecidos, pois, mesmo com a instalação da
CNV, os militares não revelaram o paradeiro de muitos corpos.

No caso de Rubens Paiva, no ano de 2014 essa história pôde realmente ser contada. Foi
quando a Comissão Nacional da Verdade conseguiu “explicar” o caso. O deputado não
resistiu as torturas e morreu no segundo dia. A versão oficial dos militares é de que ele teria
fugido com a ajuda dos comunistas.

É interessante perceber a relação da obra com a criação da Comissão Nacional da Verdade


no Brasil (Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011), que revelou algumas provas importantes
sobre a morte de Rubens Paiva e suscitou constantes reportagens sobre o caso nos
principais meios de comunicação do país.

Pela primeira vez os detalhes do caso Rubens Paiva são revelados: o escritor/filho descreve
desde o dia em que membros da aeronáutica invadiram sua casa (com metralhadoras) e
levaram o pai, os dias de prisão da mãe e da irmã mais velha, a montagem da farsa oficial
que dizia que Rubens havia fugido, até os depoimentos de pessoas que estiveram presas
na mesma época que o ex-deputado e a reconstituição da verdade, por meio da transcrição
do processo do Ministério Público Federal de 2014 em que se tem ciência dos fatos e dos
culpados pelo assassinato tão brutal e desumano.
V.

Marcelo Rubens Paiva teve uma infância conturbada depois do desaparecimento de seu pai
durante a Ditadura Militar, e o livro “Ainda Estou Aqui” nos mostra essas lembranças
dolorosas durante a trajetória em um período onde exílio, rapto, fugas, torturas, desespero,
mortes foram a realidade presente, e por vezes se torna difícil acreditar que isso é real, é
difícil acreditar que essas cenas de filmes fictícios aconteceram bem aqui, em qualquer rua
de São Paulo, Rio de Janeiro, e qualquer lugar do Brasil.

Um exemplo disso é o caso Rubens Paiva, casado com Eunice Paiva, foi levado em
custódia pelos militares e nunca mais foi visto. A família Rubens Paiva era uma boa família,
uma família de sorte pode-se dizer, tinham uma boa condição econômica e social, ambos,
esposa e marido possuíam diplomas da Universidade Mackenzie, ela formada em Letras e
ele possuía doutorado em Engenharia Civil. Tinham cinco filhos, o único menino era Marcelo
Rubens Paiva, que estudaram em boas escolas, sempre moraram em boas casas.

Mas tudo muda após o desaparecimento, pois o que ele conta a não triste, nem trágica, mas
brilhante e destemida caminhada de sua mãe, não como a viúva de Rubens Paiva, o político
cassado, torturado e morto durante a Ditadura Militar, mas a excepcional advogada e
lutadora pelos direitos humanos, e depois o inconveniente convívio com a Doença de
Alzheimer.

Os livros de histórias das escolas já nos contam um pouco do horror que foi a época, nos
falam sobre as injustiças e as coisas ruins que aconteciam, o que já nos dá uma noção de
que a volta de uma política militar não é a melhor das ideias, mas para aqueles que não
estão convencidos disso ainda, a história narrada no livro de Marcelo há de convencê-los.

Na superação da mãe, os filhos foram crescendo sem o pai. Cada um aceitou a morte de
Rubens Paiva em um momento diferente (o que dá a sua morte uma impressão de
continuidade atormentadora). A família precisou ainda lutar contra as mentiras que os
militares contavam.

De certa maneira temos em mãos não apenas um livro que retrata uma época trágica da
história brasileira, mas uma biografia de Eunice, uma mulher da alta sociedade que resolveu
lutar contra a ditadura e buscar a verdade a respeito do paradeiro de seu marido.

As filhas de Rubens e Eunice Paiva participaram dos inúmeros movimentos estudantis contra
os militares, e Eunice, agora viúva, não se fez de coitada, ela levantou a cabeça, voltou para
a faculdade, se formou em direito, foi uma mulher como poucas, lutou pelos direitos
humanos, representou o Brasil na ONU pelos direito humanos. Lutou a guerra nos tribunais
pela justiça por seu marido, e ganhou algumas batalhas, depois de anos conseguiu que
aceitassem dar seu marido como morto, e conseguiu sua certidão de óbito. Uma vitória para
todas as famílias que foram vítimas da ditadura.
Sua mãe, Eunice Paiva, depois de tantos momentos ruins, e lutas ganhas e perdidas, teve
seu encontro com a mais cruel das doenças, o Mal de Alzheimer, uma mulher que já havia
lido mais livros do que alguém poderia, possuía dois diplomas, inúmeros casos vencidos em
tribunais, cinco filhos, vítima da ditadura, que ainda buscava justiça pelo marido, não se
lembrava mais de nada, tudo o que leu, ouviu, viveu e conheceu, seu cérebro roubou dela,
agora tudo não passa de uma completa bagunça em sua mente. Uma doença que muda a
pessoa que você é. Que te torna mal-humorada e te faz um estranho de tudo. Uma doença
feita de você e que te destrói.

Então no fim é tudo sobre memória, a memória de sua mãe, e a memória que ele tem de
todos os acontecimentos narrados no livro. E Marcelo narra da única maneira que deveria,
ele não mantém uma ordem cronológica dos fatos ao narrar, ele narra como se ele estivesse
contando de memória, e a memória não é tão precisa assim, e ele conta de maneira sucinta,
sem enrolar antes de narrar qualquer episódio. Em partes narradas sobre seu pai preso, por
exemplo, ele é cru e direto, assim como os episódios narrados foram. Ele não esconde nada
do leitor, nem deixa nada mais açucarado para que o impacto seja menor. Ele é sincero.

Ainda estou aqui poderia ser só uma denúncia, mas é uma história cheia de humanidade e
carinho sobre Eunice e Rubens Paiva. Eles ainda estão aqui.

VI.

Dizem que a única coisa que não pode ser tirada de você é o que está dentro da sua mente,
esse é o único bem que você possui que é única e exclusivamente seu. 

A literatura não tem o poder de modificar a realidade, mas é capaz de registrá-la e de fazer
com que os leitores reavaliem a própria vida e seus comportamentos. Isso significa que a
literatura, ao mesmo tempo que provoca a reflexão, entramos em contato com nossa história
e, assim, temos a chance de compreender melhor o presente, o passado e o futuro.

Um livro não apresenta somente temas do passado, mas também a realidade sociocultural
do Brasil. Além disso, esta compreensão é adquirida através da leitura, que permite a
autonomia social do indivíduo, estimula seus conhecimentos e ajuda a refletir sobre seu
pensamento a respeito do mundo e de si mesmo. Desta forma, a literatura deve ser
compreendida como uma necessidade no nosso cotidiano, pois sua expressividade artística
é o meio que conseguimos de demonstrar nossos desejos e ideologias, mesmo que seja
recriando nossa realidade e, neste sentido, a literatura torna-se então, a arte da palavra. Por
sua vez, a realidade social, o comportamento e a história de cada época pode servir, muitas
vezes, de inspiração para a expressão artística e contribuir à interpretação da obra literária.

 A literatura, nos mostra como era antes, isto é, os problemas que se passavam na
sociedade na época em que foi escrito, ou seja, os autores escreviam isso para que a
sociedade pudesse refletir e mudar a situação. Por este motivo, a literatura tem sido mais
um componente presente em provas de vestibulares, pois além de trazer conhecimento da
época em que a mesma foi escrita, faz a gente refletir nos dias de hoje também.

Marcelo Paiva escreveu o livro “Ainda Estou Aqui” para tentar pontuar exatamente isso. É
justamente para falar do desconforto que sente com a falta de memória e a desconexão com
o mundo de Eunice, que Marcelo faz um grande retrato da história de sua família. E é nestes
relatos pessoais sobre sua relação com a mãe, que Marcelo emociona.
Mais do que mostrar a trajetória de luta da mãe, Marcelo traça um perfil psicológico dela,
com o jeito pouco distante de criar os filhos, mas sempre apontando como se portar diante
das dificuldades. 

Hoje este livro se mostra extremamente importante. Ele serve para nos mostrar a ditadura e
para nos trazer a história e a memória de uma família: os Paiva. Sob o aspecto histórico, o
livro de Marcelo Rubens Paiva é uma leitura necessária num presente onde observamos a
ignorância erguer cartazes pedindo a volta da intervenção militar.

VII. Três partes do livro

1° parte:

Eunice conta para o filho, que narra em seu livro a história, que em um dos dias em que
estava presa no DOI-CODI um soldado deu para ela uma barra de chocolate, disse então pra
ela que ele não concordava com tudo o que estava acontecendo, que ele só estava
cumprindo ordens, e que quando ela contasse essa história, era pra contar que ele não
concordava. Esse acontecimento deu forças para ela, esperança de que mais pessoas
sabiam que aquilo estava errado. Que as pessoas não estavam tão cegas assim.

2° parte:

Uma das cenas mais emocionantes narradas em Ainda Estou Aqui é quando Marcelo conta
que ele estaciona sua cadeira de rodas ao lado da cadeira de sua mãe, já com a doença, e
apoia seu braço que não consegue movimentar próximo à mãe, que então pega sua mão e
começa a massagear, abrindo dedo por dedo, para não atrofiar, a mesma coisa que ela faz
com ele desde que ele sofreu o acidente que o deixou assim. Apesar dela não se lembrar de
nada, e às vezes não se lembrar do próprio filho, ela ainda possui esse instinto, de pegar a
mão do filho como fez tantas outras vezes. Porque apesar do tudo ela ainda é a mesma
pessoa e ela ainda está aqui.

3° parte:

No momento em que descobriria a verdade, quando Rubens Paiva ressurge a partir das
pesquisas da Comissão Nacional da Verdade (CNV), é Eunice quem submerge, como se
um tivesse que ir para que o outro ficasse. Os dois se encontram na lucidez dela, no
momento em que assiste a uma matéria sobre o caso na TV e o reconhece.
IV. Conclusão – Redação

Hoje em dia, no Brasil as pessoas têm a liberdade de escolher seus representantes através
das eleições, o que na verdade se torna um dos principais exemplos de democracia no país,
porque afinal quem é eleito pela votação da população, é quem se torna responsável pelo
progresso do país, mas durante mais de 20 anos foi instaurado o regime militar no Brasil, o
que muitos chamaram de ditadura militar, período em que o federalismo foi substituído
subitamente por um governo altamente autoritário. Portanto, um governo democrático é
aquele que visa atender, unicamente, aos interesses da população, e por este motivo que a
participação e o interesse do povo são cruciais, de forma a auxiliar e revolucionar a
democracia no país.

Mesmo que a ditadura tenha acabado a mais de 20 anos, em 1985, nota-se que a
sociedade ainda luta por uma democracia melhor. Uma vez que, de acordo com a revista
"The Economist", em notas de 0 a 10, o Brasil tem nota 5 quando se diz respeito a
participação popular na política. É notável a falta de compromisso com a política democrata
no território brasileiro, pois a população não tem mais poder sobre os atos que ocorrem na
sociedade e os que detêm o poder, se exibem por seus altos papeis sociais, não
contribuindo para o bem estar e a produtividade da sociedade.

Entretanto, os movimentos e pressões populares possuem poder desde os primórdios da


sociedade, se sobressaindo até mesmo perante regimes autoritários, como durante a
ditadura militar. No livro “Ainda Estou Aqui” de Marcelo Rubens Paiva, tendo em vista uma
época caracterizada pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura
e influência de mídias de comunicação para manipular, perseguição política e repressão aos
que eram contra o regime militar. Contudo, um modelo político a qual a sociedade brasileira
estava inserida, não supre as necessidades reais da maioria dos cidadãos.

Infere-se, portanto, que medidas que garantam plenamente a democracia para a população
devem ser tomadas. Para tanto, o cidadão deve estar sempre em busca de seus direitos,
cobrando promessas que não foram cumpridas, questionar sobre determinados atos que
venham a excluir parte da sociedade, etc. Conjuntamente, o Estado deve garantir a plena
democracia, como integral participação popular na política, tanto no cumprimento da
legislação eleitoral, quanto na liberdade de expressão e manifestação contra o governo sem
serem agredidos por isso. Assim, o Brasil poderá ser, em tese, um país totalmente
democrático.
V. Referências

Wikipédia

InfoEscola

Tudo Matéria

Brasil Escola

https://descomplica.com.br/blog/historia/lista-governos-geisel-figueiredo-ditadura/

https://www.sohistoria.com.br/ef2/ditadura/p3.php

https://www.historiadaditadura.com.br/destaque/resenha-de-livro-ainda-estou-aqui-marcelo-
rubens-paiva/

Livro “Ainda Estou Aqui” – Marcelo Rubens Paiva

https://pt.wikipedia.org/wiki/Comiss%C3%A3o_Nacional_da_Verdade

https://jus.com.br/artigos/66495/comissao-da-verdade-o-que-e-e-para-que-serve

https://www.todamateria.com.br/redemocratizacao-do-brasil/

https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/golpe-de-64.htm

https://operamundi.uol.com.br/samuel/41603/ainda-estou-aqui-de-marcelo-rubens-paiva-
estamos-condenados-a-esquecer

https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/golpe-militar-de-1964-1-elites-e-
militares-derrubaram-o-governo-de-jango.htm

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