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Nos momentos de crise o véu da segurança simplesmente cai. Parece um capricho do vento.

E o que
sólido feito pedra, se dispersa no ar: era uma miragem? Ao colapsarem os muros, minha cidadela é
tomada pela radical insegurança da vida humana. Vejo-me, então, desabrigado, entregue ao relento
da incompreensão, à incerteza do futuro e aos abismos de minha carência afetiva. Um degredado
filho de Eva...

Mas, no fundo, eu já sabia o que este véu cobria: quando é que este mundo foi algo além de
inseguro? Que povo viveu sobre a terra em plena harmonia e paz? Que homens e mulheres
atravessaram a vida sem tribulações, lágrimas e ranger de dentes? Mas era tão bom imaginar férias
de julho na Disney...

Não te lembras de teus antepassados? Eles atravessaram mares, venceram a quarentena de


desertos, abnegados e fiéis à promessa da Terra Santa. No final, que é tudo isto, senão uma grande
Romaria?

“É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira o jiló
Dessa vida cumprida a sol”

A sabedoria humana, frágil como um sonho; e os muros da cidade, rarefeitos como o pó. E no fim,
que sou senão um caipira metafísico? Rude e duro de coração pra tudo que é Espírito? Entretido e
amaciado pelos confortos e as promessas de uma vida tranquila e aprovada pelos bem-
considerados...

“Cresce perante os obstáculos”.

Vá, “cresce perante os obstáculos”. A crise (do grego krinein = decisão) convida-nos a encarar o
drama da vida: que fazes, quando a ordem ao seu redor parece ruir? Perde-se no torvelinho de
dispersão e desespero? Ou mergulha em Si, de modo a ordenar-se de dentro? A crise é um
chamado à evolução.

As restrições me convidam a responder melhor, crescer em paciência, crescer em humildade,


crescer em maturidade. A crise lembra-me do meu dever moral de crescer, ser mais, buscar mais
vida interior. E por vezes, a mensagem essencial ruge com a força dos ventos: “Cresce perante os
obstáculos”!

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