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Ansiedade e Medo

Dentários nas Crianças


Índice

1. Introdução .............................................................................................. 3
2. Conceito de Medo e Ansiedade ............................................................ 4
2.1 Ansiedade .......................................................................................... 4
2.2 Medo .................................................................................................. 4
2.3 Ansiedade e Medo no Contexto de Saúde Oral ................................. 4

3. Medo e Ansiedade das Crianças ........................................................... 5

3.1 Causas............................................................................................... 5

3.2 Consequências .................................................................................. 7

4. Conclusão................................................................................................ 8

5. Bibliografia .............................................................................................. 9

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1. Introdução
A ansiedade e o medo não nascem com os indivíduos. São emoções que
resultam do processo de socialização e as quais os pacientes sentem de forma
recorrente aquando das consultas e da realização do tratamento dentário.1 Elas
representam, também, uma preocupação e um dos maiores desafios com que
os profissionais de saúde oral têm de lidar, uma vez que representam uma
barreira à realização dos tratamentos.2,3

O medo e a ansiedade atingem várias faixas etárias, sendo relativamente


comuns tanto em adultos como em crianças, uma vez que ambos apresentam a
mesma suscetibilidade a desenvolver este tipo de reações emocionais. 4 O foco,
neste caso, serão as crianças.

Saber e compreender qual a etiologia e quais os fatores que levaram a


que um determinado jovem desenvolvesse ansiedade e medo associado às
consultas e ao tratamento dentário é algo muito importante que o profissional de
saúde oral deve fazer, juntamente com conhecer o nível de ansiedade e com a
psicologia da própria criança, uma vez que lhe permite analisar e adotar
comportamentos específicos para poder ajudar o jovem a lidar com o seu medo
e/ou ansiedade e, assim, permitir e colaborar com a realização dos
procedimentos dentários e contribuir com a higienização oral diária.5,6

Primeiramente serão abordados os conceitos de medo e de ansiedade


tanto na sua generalidade como aplicados ao contexto de saúde oral, bem como
as suas diferenças e funções ao nível da situação que os despoleta.
Seguidamente, serão abordadas as causas inerentes à ansiedade e ao medo
dentário da criança, bem como as consequências que este tipo de reações pode
ter na criança, tanto a nível da sua saúde oral como a nível das suas interações
sociais. Por fim, será realizada uma síntese das ideias principais referidas e
seguida da conclusão obtida.

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2. Conceito de Ansiedade e Medo

2.1 Ansiedade

A ansiedade caracteriza-se por ser um estado psicológico,


comportamental e fisiológico que é induzido por um estímulo percebido como
sendo ameaçador ao bem-estar do indivíduo ou à sua sobrevivência, podendo
esta ameaça ser real ou não.7

O despoletar de momentos de ansiedade está muitas vezes relacionado


com contextos de stress8 e é influenciado pela memória, história pessoal e
contexto social.9 Em momentos de ansiedade existe uma resposta sistémica do
organismo caracterizada pelo aumento do estado de alerta, por preocupação,
tensão motora, entre muitas outras características. Estas alterações ocorrem
para ajudar o indivíduo a lidar com uma situação inesperada ou adversa.7

2.2 Medo

O medo é uma reação emocional normal a um ou a múltiplos estímulos


específicos considerados ameaçadores e que provoca no indivíduo a adoção de
comportamentos defensivos ou de preparação para a fuga.9

2.3 Ansiedade e Medo no Contexto de Saúde Oral

A ansiedade e medo dentários apresentam, então, as características


acima referidas, mas associadas às consultas de saúde oral e ao tratamento
dentário.

Hoje em dia ainda existe uma divergência de opiniões sobre se o medo e


a ansiedade dentários são o mesmo conceito ou não. Aqueles que defendem
que são a mesma coisa apoiam-se no facto de que ambas as reações
apresentam sinais e sintomas muito semelhantes, se não mesmo idênticos. Os
indivíduos que defendem que a ansiedade e o medo dentários são conceitos
distintos afirmam que a primeira é uma resposta generalizada do organismo a
uma ameaça da qual se desconhece a origem ou a um conflito interno, enquanto
que o medo se foca em perigos externos que foram identificados, ou seja, que
se conhece de onde provêm.10

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3. Medo e Ansiedade Dentários das Crianças

3.1 Causas

Como já referido anteriormente, a ansiedade e o medo não são


congénitos. Eles resultam da interação da pessoa com outros indivíduos e com
o meio. Para o desenvolvimento do medo e da ansiedade, a experiência direta,
isto é, o indivíduo contactar propriamente com um estímulo que despolete este
tipo de reações, é muito importante, uma vez que o comportamento que ele
adota provém da memória de vivências da própria pessoa. No entanto, a
experiência indireta também pode ter impacto para o desenvolvimento da
ansiedade e/ou medo.11 Assim, os fatores que provocam a ansiedade e medo
dentários podem ser muito variados afetando crianças de formas diferentes e
despoletando comportamentos diversos.

Um dos fatores que pode provocar ansiedade é a presença da criança na


clínica. No estudo “Evaluation of children’s dental anxiety levels at a kindergarten
and at a dental clinic” realizado em 2016 foram analisados os níveis de
ansiedade de várias crianças quando confrontadas com a examinação da
cavidade oral no jardim de infância e na clínica e constataram que os níveis de
ansiedade eram superiores na clínica apesar do procedimento ter sido o mesmo.
Isto demonstra que somente a criança estar na clínica já provoca algum nível de
ansiedade, nível esse que também aumenta de acordo com tempo que a criança
tem de aguardar na sala de espera.

Os instrumentos usados também são causadores de ansiedade e medo.


Instrumentos que aparentem ser usados em procedimentos invasivos, tais como
as seringas e os fórcepses, são maiores alvos do medo das crianças e causam
mais ansiedade do que instrumentos associados a procedimentos não-
invasivos.9

Outro fator que tem uma grande importância no desenvolvimento do medo


e de momentos de ansiedade são as más experiências pessoais de tratamento
dentário pelas quais as crianças passaram.12 A falta total de experiências
também pode atuar como um fator desencadeador deste tipo de reações, uma
vez que também suscitar medo e ansiedade, mas neste caso, do
desconhecido.13

Por último, o contacto com os pares pode levar a que a criança comece a
ter medo dos tratamentos dentários e a ter episódios de ansiedade aquando dos
tratamentos. O contacto e influência dos pais também pode levar a este tipo de

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reações, apesar de que até hoje ainda não existe um consenso, pois alguns
estudos apontam para o facto de que as crianças filhas de pais ansiosos têm
maior probabilidade de desenvolverem perturbações de ansiedade14,15 enquanto
que outros estudos feitos os resultados não apontam para a existência de uma
relação entre os dois.

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3.2 Consequências

Como já foi referido anteriormente, o medo e a ansiedade têm


consequências tanto a nível fisiológico como a nível social, surgindo a
necessidade de o profissional de saúde oral lidar com estas emoções e não as
ignorar.

As crianças que apresentam medo do tratamento ou se demonstram


ansiosas durante este tendem a evitar os procedimentos dentários e a
higienização oral diária, sendo que isto acontece porque as crianças não
permitem que o profissional de saúde oral realize tratamento ou então porque o
seu nível de medo e ansiedade é tal que leva aos pais a se sentirem
desconfortáveis ao ponto de serem incapazes de lidar com o que percecionam
como sendo o “sofrimento” da criança. Isto vai resultar na deterioração da
cavidade oral, levando diretamente à necessidade de tratamentos dentários mais
extensos e mais dolorosos. Como a criança já apresentava medo e a ansiedade,
ao se aumentar a complexidade e dor do tratamento vai resultar na manutenção
ou no agravamento do nível de medo e ansiedade da criança. Isto vai sendo um
ciclo vicioso caso se ignore o problema da criança.3,13,14

Também existem estudos que demonstram que os indivíduos que


apresentam ansiedade dentária podem ter problemas familiares e nas atividades
sociais, uma vez que este tipo de emoções afetam a vida diária das pessoas. 16

Devido a este tipo de consequências surge a necessidade do profissional


de saúde oral considerar e avaliar quais as causas da ansiedade e medo
dentários para poder auxiliar a criança com o tratamento dentário e a
higienização oral diária.17

Para tentar evitar o desenvolvimento do medo e da ansiedade dentários


nas crianças também surge a necessidade de criar programas eficazes
destinados à prevenção deste tipo de reações emocionais associadas ao
tratamento dentário.14

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4. Conclusão
A ansiedade e medo dentários são, então, hoje em dia, um problema que
muitos indivíduos sofrem, sejam eles adultos, idosos ou crianças, e com os quais
os profissionais de saúde oral têm de lidar. São condições que não devem ser
ignoradas por nem por quem as sofre nem pelos médicos dentistas e higienistas
orais uma vez que podem ter consequências como a negligência da higienização
da cavidade oral e, consequentemente, a deterioração desta, afetando, também,
a vida diária dos indivíduos.

A ansiedade e o medo dentários das crianças podem ser causados por


múltiplos e variados fatores desde as más experiências pessoais até ao contacto
com experiências alheias dos seus pares e dos seus progenitores.

Tendo tudo isto em conta, é necessário que os profissionais de saúde oral,


sejam eles médicos dentistas ou higienistas orais, passem a conhecer quais os
antecedentes e quais os fatores que podem ter causado a ansiedade ou o medo
das crianças, questionando-as e avaliando o seu comportamento, pois causas
distintas provocam reações e comportamentos diferentes. Possuindo estas
informações, os profissionais de saúde oral poderão, então, auxiliar as crianças
a lidar com a ansiedade e/ou medo que sentem, levando-as a assentir e cooperar
com a realização do tratamento dentário e indicações dos médicos para, assim,
terem uma cavidade oral saudável.

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5. Bibliografia
1Carvalho R, Falcão P, Campos G, Bastos A, Pereira J, Pereira M et al.
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em brasileiros. Ciência & Saúde Coletiva. 2012;17(7):1915-1922.
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15Turner S, Beidel D, Roberson-Nay R. Offspring of anxious parents: Reactivity,
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16Buchanan H, Niven N. Validation of a Facial Image Scale to assess child dental
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17Corkey B, Freeman R. Predictors of dental anxiety in six-year-old: findings from
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