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PERDAS DE SOLO E ÁGUA POR EROSÃO HÍDRICA COM

DIFERENTES USOS DO SOLO NA PROVÍNCIA PETROLÍFERA DE


URUCU, COARI – AM.

Omar Cubas Encinas(1);Wenceslau Geraldes Teixeira(2);Rodrigo Santana Macedo(3);Adriana


Costa Gil de Souza(4)

1. Mestrando em Agricultura do Tropico Úmido – INPA; 2. Dr. Pesquisador da Embrapa;


Amazônia Ocidental – orientador; 3. Mestre em Agronomia Tropical – UFAM; 4. Bolsista de
Iniciação Científica da Embrapa Amazônia Ocidental/FAPEAM

1. Introdução

O processo de erosão hídrica do solo pela água da chuva é condicionado pelos fatores
chuva, solo, topografia, cobertura, manejo e práticas conservacionistas (Hudson, 1977),
manifestando-se com intensidade variável, dependendo da importância relativa desses
fatores (Wichmeier e Smith, 1978), a qual ainda é alterada pela atividade humana.

A cobertura do solo proporcionada pelos resíduos culturais deixados na superfície


tem ação direta e efetiva na redução da erosão hídrica, em virtude da dissipação de energia
cinética das gotas da chuva, a qual diminui a desagregação das partículas de solo e o
selamento superficial e aumenta a infiltração de água. Ela atua ainda na redução da
velocidade do escoamento superficial e da velocidade do escoamento e aumenta a
profundidade da lâmina de água na superfície do solo (Cogo, 1981).

A inclinação do declive do terreno é outro fator que influencia fortemente as perdas


de solo e água por erosão hídrica, pois, à medida que ela aumenta, aumenta o volume e a
velocidade da enxurrada e diminui a infiltração de água no solo. Com isso, aumenta a
capacidade de transporte das partículas de solo pela enxurrada, assim como a própria
capacidade desta de desagregar solo, por ação de cisalhamento, principalmente quando
concentrada nos sulcos direcionados no sentido da pendente do terreno (Cogo et al., 2003).

O objetivo do presente estudo foi avaliar as perdas de solo e água causadas por
erosão hídrica, sob chuva natural, em parcelas coletoras padrão instalado em solo sob
floresta primária, com cobertura de liteira e sem cobertura na Província Petrolífera de Urucu,
município de Coari – AM.

2. Material e Métodos

O estudo foi realizado na Província Petrolífera de Urucu, situada nas coordenadas


geográficas 4º53’S e 65º11’W, município de Coari – AM (Figura 1). O clima é tropical úmido,
tipo Af pela classificação de Köppen, apresentando chuvas relativamente abundantes durante
todo o ano (média de 2.250 mm), sendo que a precipitação no mês em que menos chove é
sempre superior a 60 mm. A temperatura média anual da região é de aproximadamente
26ºC (Vieira e Santos, 1987). A vegetação e caracterizada por floresta alta e densa de terra
firme denominada Floresta Ombrófila de Terra Firme, conforme a classificação proposta por
Prance (1987).
Figura 1. Localização da área de estudo na Província Petrolífera de Urucu – AM.

As avaliações de perda de solo e água foram realizadas em três parcelas coletoras,


instaladas na Jazida 21 (Figura 1), em solo sob floresta primária (Figura 2), em solo
descoberto e em solo coberto por 5 cm de liteira da floresta primária (Figura 3).

Figura2. Parcela coletora de erosão em Figura 3. Parcela coletora de erosão em solo


Floresta primária coberto com liteira (esquerda) e sem
cobertura (direita)

A parcela da floresta tem três metros de largura e onze metros de comprimento,


enquanto as demais têm quatro metros de largura e vinte dois metros de comprimento.
Todas as parcelas são cercadas por chapas galvanizadas de 30 cm de altura, com 15 cm
enterrados no solo e outros 15 cm acima desse, a fim de se evitar a entrada de água e
sedimento de áreas vizinhas.

Cada parcela contém uma calha coletora, que conduz a água e sedimentos de cada
evento de chuva por meio de um cano plástico de 100 mm, o qual está conectado a uma
primeira caixa d’água de 500 L. Esta por sua vez, é composta por um divisor tipo geib que
conduz 1/15 do volume da primeira caixa, para uma segunda caixa d´água de 500 L (Figura
4).
Figura 4. Calhas coletoras e caixas com divisor do tipo geib
Para estudos de erosão do solo

Os dados de precipitação foram coletados por meio de pluviômetro automático


conectados em um datalogger (Campbell CR23X), alimentado por um painel solar, o qual
registrou os dados em intervalos de cinco minutos.

A água da chuva que não infiltrou, e consequentemente, escorreu superficialmente,


foi conduzida pela calha coletora até a primeira caixa, onde foi realizada a leitura do volume
d’água utilizando uma régua calibrada com o volume da caixa. Em seguida, foi realizada a
homogenização do material e coletada a alíquota de 1 L d’água e sedimentos, procedimento
similar foi adotado para a coleta de material que ficou armazenado na segunda caixa. Após
as medições e coletas das amostras, as caixas foram esvaziadas, limpas e instaladas
novamente para a coleta de material no próximo evento de chuva.

Os dados foram calculados em função da quantidade de água e sedimentos perdidos,


em dois eventos de chuva de trinta minutos cada, a saber: 24,2 mm (chuva I) e 3,6 mm
(chuva II). Vale ressaltar, que os dados aqui apresentados são preliminares, e compõem
uma série de estudos para estimar a perda de solo na área estudada por meio da Equação
Universal de Perdas de Solo (EUPS).

3. Resultados e Discussões

Na tabela 1 são apresentados os dados de perda de água e solo da Jaz 21 para dois
eventos de chuva de trinta minutos cada. A parcela sem cobertura apresentou os maiores
valores de perdas tanto de água como de solo, com valores de 179545 e 3673 kg ha-1 nos
eventos de chuva I e II, respectivamente. A parcela com cobertura de liteira apresentou
valores de perdas de água semelhantes à parcela sem cobertura, mas em relação às perdas
de solo mostrou-se intermediária para as demais parcelas, com valores de 242 e 7 kg ha-1
nos evento de chuva I e II, respectivamente, enquanto a floresta apresentou menor perda
de solo e de água em ambos os eventos.

Vale ressaltar que, no evento de maior pluviosidade (24,2 mm), apesar das perdas
de água ser semelhantes nas parcelas sem cobertura e com cobertura de liteira, as perdas
de solo no primeiro tratamento foi acentuadamente maior (3673 kg ha-1). Esse fato aponta
para a necessidade de manutenção da cobertura do solo, principalmente em locais de alta
pluviosidade e com chuvas com elevado poder erosivo (Macedo et al., 2005), como é o caso
da área em estudo.
Além disso, a cobertura do solo pelos resíduos é apontada como mais eficaz no
controle da erosão do que a cobertura do solo pela copa das plantas, pois estas, mesmo
interceptando as gotas de chuva, permitem que elas, ao precipitarem da copa, adquiram
energia cinética suficiente para provocar erosão se o solo estiver descoberto (Wischmeier e
Smith, 1978).

Tabela 1. Perda de água e sedimentos na Jaz 21 para dois eventos de chuva de trinta
minutos. Província Petrolífera de Urucu, município de Coari – AM.
Chuva I Chuva II
Tratamento Perda de Solo Perda de Água Perda de Solo Perda de Água
--------------------------------- kg ha-1 -----------------------------------
Sem cobertura 3673 179545 1307 73863
Cobertura com liteira 242 179545 7 8409
Floresta 34 19393 2 1818

4. Conclusão

As perdas de água e solo apontam para uma relação direta com a pluviosidade,
conforme comparação realizada entre os eventos com diferentes quantidades de chuva.
Todavia, em etapas posteriores essas informações serão avaliadas por meio da quantificação
do parâmetro erosividade da chuva, contido na equação de perdas de solo (EUPS), conforme
apontam outros estudos realizados na área (Arruda, 2005; Macedo et al., 2006).

5. Referências

Arruda, W.C. 2005. Estimativa dos processos erosivos na Base de Operações Geólogo Pedro
de Moura Urucu – Coari – AM. Tese de mestrado, Universidade Federal do Amazonas,
Manaus, AM. 80pp.

Cogo, N.P. 1981. Effect of residue cover, tillage induced-roughness, and slope lenght on
erosion and related parameters. Tese de Doutorado, West Lafayette, Purdue University,
346pp.

Cogo, N.P.; Levien, R.; Schwarz, R.A. 2003. Perdas de solo e água por erosão hídrica
influenciadas por métodos de preparo, classes de declive e níveis de fertilidade do solo.
Revista Brasileira de Ciência do Solo, 27: 743-753.

Hudson, N.W. 1977. Soil conservation. Ithaca, Cornell University Press. 320pp.

Macedo, R.S.; Teixeira, W.G. 2006 b. Erosividade das chuvas em eventos de alta intensidade
na bacia do rio URUCU – Município de Coari – AM. I Simpósio da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência – SBPC. Tema: “Desafios e Perspectivas da realidade amazônica:
Pesquisa e sustentabilidade”. Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM. CD ROM.

Prance, G.H.T. 1987. Vegetation. In: Whitmore, T.C. & Prance, G.H.T. Biogeography and
Quartenary History in Tropical America. Oxford: Clarendon Press, p.19-31

Viera, L.S.; Santos, P.C.T.C. 1987. Amazônia: seus solos e outros recursos naturais. São
Paulo, Ceres. 416pp.

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