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Desenvolvimento Sustentável de Comunidades:

Uma breve introdução ao Método Sistêmico Multimodal

Sessão Temática: A – Teorias, conceitos e metodologias sistêmicas; Subárea: A1 – Teorias,


Conceitos e Metodologias sistêmicas.

Christian Maciel de Britto (UFPR) chriseana@gmail.com

Resumo:
Ainda não há consenso sobre o conceito de desenvolvimento sustentável. Com o passar do
tempo, o que inicialmente era visto como uma equação entre crescimento econômico e
preservação de recursos ambientais apenas, passa a englobar dimensões diversas, como a
social, cultural, ética, legal, política e outras. Neste sentido, uma abordagem plena do conceito
requer uma perspectiva científica apta a lidar com questões éticas e normativas. O Método
Sistêmico Multimodal (MSM), elaborado pelos pesquisadores Donald e Veronica De Raadt,
inspirando-se na Teoria das Esferas Modais do filósofo holandês Herman Dooyeweerd, se
propõe a contemplar a questão da sustentabilidade de maneira holística, pautando-se pela
abordagem transdisciplinar e por uma proposta que possibilita aplicações práticas em
contextos empíricos. Este artigo apresenta uma introdução ao MSM no contexto da discussão
sobre o desenvolvimento sustentável de comunidades.
Palavras chave: Sustentabilidade, Sistemas, Comunidades, Dooyeweerd, De Raadt.

Abstract:
There’s still no agreement on the concept of sustainable development. As time goes by, what
was initially seen as an equation of economic growth and protection of environment resources
only, begins to include several dimensions, such as social, cultural, ethical, legal, political,
and others. So, a complete approach of the idea requires a scientific perspective capable to
deal with ethical and normative questions. The Multi-Modal Systems Method (MSM),
developed by Donald and Veronica De Raadt, inspired on Dooyeweerd's General Theory of
The Modal Spheres, intends to ponder the sustainable issue in a holistic way, based on a
transdisciplinary approach and on a proposal that makes practical applications in empirical
contexts able. This article presents an introduction to MSM in the discussion of sustainable
development of communities.
Palavras chave: sustainability, systems, communities, Dooyeweerd, De Raadt.

1 Introdução

Com o passar do tempo, o conceito de desenvolvimento sustentável vem adquirindo alta carga
semântica e diversas aplicações, formando um espectro que vai desde a elaboração teórico-
científica, passa pela propaganda política (BIOCIDADE, 2009), até a sua utilização como
estratégia de marketing para obtenção de recursos financeiros. Inicialmente chamado de
ecodesenvolvimento, o conceito ganhou formulação teórica com o economista francês,
radicado no Brasil, Ignacy Sachs (PAULISTA, 2008). De um modo geral, o desenvolvimento
sustentável é compreendido por muitos como um esforço não de transformação dos atuais
meios de produção e seus mecanismos estruturalmente desiguais de distribuição de renda, mas
como possibilidade de crescimento econômico com aumento das condições de bem estar da
espécie humana, garantida a preservação dos recursos naturais às gerações futuras
(PAULISTA, 2008; SACHS, 2004, OLIVEIRA, 2006).

Contudo, ainda não há consenso quanto ao conceito exato e suas implicações, mas, por outro
lado, o fato é que o modelo desenvolvimentista que visa apenas o crescimento econômico é
confrontado com o esgotamento não só de recursos naturais, necessários à produção, mas com
a intensificação das desigualdades sociais (DE SOUSA SANTOS, 2005, p.56). Há quem se
refira à atual situação como uma crise múltipla, cujas dimensões afetam não só o meio
ambiente, mas se traduzem em tensões que geram a diminuição da diversidade biocultural, o
aumento da pobreza e da desigualdade social (COMPAS, 2007, p.5). Uma vez que os reflexos
da crise afetam diversas dimensões da vida humana, a situação requer uma perspectiva para o
desenvolvimento sustentável que contemple tais áreas de maneira harmônica. Neste sentido,
diversas propostas são apresentadas, partindo da ideia de desenvolvimento econômico aliado
à capacidade de renovação de recursos. Sachs sugere a importância da inclusão social
(SACHS, 2004). Segundo parecer do IBGE (2004), é mister a inclusão da dimensão
institucional, em que se dão as articulações políticas necessárias à implantação das soluções
demandadas pela questão. Outros apontam a importância das dimensões legal, cultural,
psicológica (PAULISTA, 2008), ética, espacial e geográfica. Há também quem chame
atenção para a relevância da dimensão espiritual e humana, dimensões estas normativas, longe
de serem neutras e que variam na sua relação direta com distintas visões de mundo e crenças
religiosas.

A religião fornece ao homem um quadro de referências para sua interpretação da realidade


(DOOYEWEERD, 2003). Segundo o antropólogo americano Clifford Geertz, não há como se
compreender diversos fenômenos sociais sem relacioná-los a religião (GEERTZ, 2001). Por
exemplo, um budista certamente se relacionará com a natureza de maneira diferente da de um
cristão, muçulmano ou humanista. Destarte, não faz muito sentido discutir concepções éticas
de preservação dos recursos naturais sem a consideração destas diferentes perspectivas em
conjunto com o que as tornam distintas. Quanto à ciência, um conhecimento fragmentado e
assente em velhas dicotomias como sociedade e natureza, ciência e valores, mostra-se ineficaz
para a elaboração de um conceito de desenvolvimento sustentável pleno, cujas características
o configuram como um objeto complexo. Neste sentido, segundo Edgar Morin (1921-), “o
problema da complexidade tornou-se uma exigência social e política vital no nosso século:
damo-nos conta de que o pensamento mutilante, isto é, o pensamento que se engana, não
porque não tem informação suficiente mas porque não é capaz de ordenar as informações e os
saberes, é um pensamento que conduz a acções mutilantes” (Morin, 1983, p.14). Assim,
torna-se necessário além de novas abordagens epistêmicas, a integração dos diversos saberes,
bem como a necessidade de autoconhecimento do conhecimento científico em que pese a
compreensão da razão que reconheça a existência de fenômenos “que são ao mesmo tempo
irracionais, racionais, a-racionais ou supra-racionais” (FLORIANI, 2006, p.71).

Todo este contexto abre portas para novos diálogos e propostas que busquem repostas para
questões como: qual modelo teórico poderia permitir a contemplação das diversas dimensões
necessárias a uma compreensão plena do desenvolvimento sustentável? Como estas
dimensões se inter-relacionam? Como elas podem ser identificadas na realidade concreta, em
comunidades reais que cotidianamente enfrentam as consequências do atual modelo
economicista de produção? Igualmente, como a sociologia pode contribuir para o tratamento
da questão?

O Método Sistêmico Multimodal (MSM), desenvolvido pelo casal Donald e Veronica De


Raadt, doravante chamados apenas De Raadt, reunindo conhecimentos da filosofia, teologia,
cibernética, administração, sociologia, informática, parece ser um ponto de partida viável para
uma proposta de respostas a esta demanda. O presente artigo propõe-se apresentar uma
introdução geral ao MSM, contemplando os principais pontos abordados pelos autores em
diversas obras e artigos, enfatizando alguns elementos que mostram sua relevância para o
enriquecimento do debate sobre desenvolvimento sustentável de comunidades e o potencial de
aplicação prática do método.
2 Um novo horizonte

Segundo De Raadt, o problema da sustentabilidade precisa ser respondido pela pergunta de


questões normativas, afinal: o que é uma boa comunidade? Que tipo de pessoas devemos ser e
o que deve ser feito, ou não, com nossas vidas? De que maneira uma comunidade sustentável
deve servir a seus moradores de modo que, como retorno, estes possam nela trabalhar e
desenvolvê-la? (DE RAADT, 2002, p.4; DE RAADT, 2000, p.18). Na percepção dos autores,
estas questões se mostram relevantes mesmo na Suécia, país em que vivem e trabalham, que é
considerada como possuidora de excelente infraestrutura social e de um Estado que oferece
diversas políticas públicas que procuram atender às mais diversas demandas socioeconômicas
para o bem estar de sua população. Ainda assim, este welfare state, por meio do controle de
praticamente todas as estruturas sociais, em que os cidadãos são institucionalmente
controlados e intimidados, vem apresentando indícios de enfraquecimento do espírito
empreendedor de sua população, especialmente a mais jovem. Além disso, há um clima de
antiintelectualismo nas universidades e uma estrutura eclesiástica irrelevante. Em pequenas
cidades do interior do país, como no caso de Rosvik na Suécia, onde algumas pesquisas foram
realizadas, um alto índice de evasão populacional vem sendo registrado chegando ao ponto de
levar a administração local a excluir uma série da grade curricular de sua escola. Dentro deste
contexto, ainda podem ser distinguidos dois tipos de pobreza - material e espiritual (DE
RAADT, 2000, p.17). A primeira, mais fácil de ser identificada, apresenta fome, violência,
doenças, altos índices de mortalidade, gera opressão e é marcada pela ausência de riqueza
financeira. A espiritual, difícil de ser admitida, se manifesta na falta de sentido para a vida,
vazio, depressão e pode ocorrer também em meio à abundância de recursos materiais. Este
quadro urge por uma proposta científica que contemple questões normativas no contexto de
uma “nova forma de pensar que possa focalizar uma realidade mais ampla e que possa
perceber a pobreza dos ricos” (DE RAADT, 2000, p.18). Com efeito, há aqui um grande
desafio, a saber, a ciência moderna e, em especial, a econômica e a tecnológica que apresenta
dificuldade para lidar com estas questões. Explicam os autores:

A ciência moderna não detecta, nem sabe como abordar, os problemas normativos
da sustentabilidade que, por sua vez, não estão interligados somente a economia e ao
meio-ambiente. O modernismo ignorou a importância da responsabilidade humana e
abordou os problemas humanos ou naturais armando-se com a racionalidade
instrumental. Seu modus operandi são causas e efeitos, suas soluções mecânicas, ou
ajustes tecnológicos. (DE RAADT, 2002, p.4, tradução nossa).

Desta forma, a perspectiva científica moderna tende a dar maior ênfase a questões materiais
em detrimento das normativas. Segundo o sociólogo brasileiro Dimas Floriani, professor
titular do Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do
Paraná, estes efeitos são fruto da hegemonia da razão instrumental que se diz “destituída de
valores”, mas que, na verdade, é “iludida pela neutralidade como um não valor” (FLORIANI,
2006, p.67). A compreensão da razão, que seja crítica, e autocrítica e que reconheça
fenômenos que estão para além dela faz-se necessária e urgente, afinal, apenas “uma razão
aberta poderá dialogar com todas essas expressões da racionalidade” (FLORIANI, 2006,
p.71). Além disso, esta perspectiva científica moderna tende a corroborar com uma visão de
mundo pautada pela fragmentação; o que acontece em uma área da vida não se conecta com
outra e, neste sentido, por exemplo, torna-se possível crer que questões morais e valores
pessoais não possuam relação com a área profissional - “um presidente que engana sua esposa
e agilmente mente para uma corte ainda é capaz de liderar uma economia sólida e a paz no
mundo” (DE RAADT, 2000, p.18). Em resposta a isso, torna-se indispensável uma nova
proposta científica e um novo método de aplicação (DE RAADT, 2002, p.4) que possa
“apoiar comunidades e outros sistemas sociais a garantir sua viabilidade e administrar as
crises que enfrentam” (DE RAADT, 2000, p.19). Viabilidade é aqui compreendida como o
estado em que a vida é preservada na plenitude de sua expressão, incluindo seus diversos
aspectos – naturais e culturais, que, por sua vez, estão sistematicamente interligados (DE
RAADT, 2001, p.3). Nesta relação está presente a vida artística, intelectual, social, familiar -
incluem-se casamento, trabalho, serviço voluntário, preservação de tradições, aprendizado,
ética religiosa, desenvolvimento social, econômico e cultural. Tal proposta deve se
fundamentar na tese de que “quando alguma destas esferas enfrenta uma crise, a vida como
um todo é afetada” (DE RAADT, 2000, p.19). Assim, “vida é mais que existência, é
viabilidade” (DE RAADT, 2002, p.64). Para os autores, esta perspectiva se torna possível
quando fundamentada na visão judaico-cristã da vida, que parte da compreensão de um Deus
pessoal que dirige todo o universo e está diretamente envolvido com as questões da vida
humana. Esta abordagem é antagônica à perspectiva grega que vê o universo como sendo
impessoal e mecânico apenas (DE RAADT, 2002, p.65).
Para contemplar estas questões, O MSM foi elaborado de maneira que: a) possibilite a
identificação dos fatores normativos mais importantes que representam risco a uma
comunidade, organizando e integrando conhecimento e informação que flui de diversas
disciplinas acadêmicas, baseando-se em uma abordagem transdisciplinar da sustentabilidade,
reunindo conhecimentos práticos, locais ou não, e teóricos; b) permita a construção de um
modelo que mostre como estes fatores interagem entre si, distinguindo pontos fortes e fracos
que em longo prazo possam possibilitar ou comprometer a viabilidade de uma comunidade;
c) viabilize a construção de planejamento como proposta de respostas a tais riscos, permitindo
a definição de quais qualidades uma comunidade deseja possuir, identificando as atividades
que devem ser organizadas, executadas e gerenciadas, assim como as pessoas necessárias a
sua execução, além de, finalmente permitir a avaliação dos objetivos realmente alcançados.
Para tanto, o MSM se fundamenta em dois pilares, a saber, a abordagem normativa da ciência
de sistemas (Systems Science), oferecida por Ludwig von Bertalanffy (1901 -1972) e seus
sucessores, e pela teoria das esferas modais, elaborada pelo filósofo holandês Herman
Dooyeweerd (1894-1977). Ambos buscaram “expandir a ciência ao adicionar normas da vida
humana à nossa compreensão da parte determinativa do mundo” (DE RAADT, 2002, p.5).
Entretanto, não faz parte do escopo deste artigo o tratamento das especificidades destas
teorias. Para um melhor conhecimento da perspectiva sistêmica proposta por Bertalanffy é
importante a leitura de sua obra Teoria Geral dos Sistemas (BERTALANFFY, 1977). Para
uma reflexão crítica sobre este modelo de pensamento na forma como é aplicado a teorias
sociais, vale conferir o artigo Systems Theory do sociólogo americano Kenneth D. Bailey
(BAILEY, 2002), além dos comentários de Pitirim Sorokin sobre a influência do pensamento
sistêmico em diversas teorias sociológicas (SOROKIN,1969, p.125-519). Para uma
introdução sobre o pensamento de Dooyeweerd, elaborada pelo próprio autor, veja
(DOOYEWEERD, 2006) ou os primeiros volumes de sua obra magna A New Critique of
Theorethical Thought (DOOYEWEERD, 1984).
3 A estrutura básica do método sistêmico multimodal (MSM)

Segundo De Raadt, a lei da complexidade desenvolvida por W. Ross Ashby em estudos de


cibernética aponta que problemas complexos requerem soluções complexas (ASHBY, 1970).
Assim, “todo sistema deve, da maneira mais próxima possível, encarar suas incertezas
ambientais com um montante equivalente de informação se quiser permanecer viável” (DE
RAADT, 2000, p.23). Isto configura a sustentabilidade como sendo de natureza
transdisciplinar, ou seja, contempla um “domínio mais complexo de aproximações entre
diversos conhecimentos, não apenas entre os de natureza científica, mas os culturais,
religiosos ou aqueles tradicionalmente arraigados” (FLORIANI, 2006, p.73). Ao definir a
estrutura do MSM, De Raadt enfatiza a importância de se pensar de uma maneira diferente.
Segundo ele, uma forma de se abordar uma questão pode se dar através da identificação e
categorização das coisas que, pautando-se pela lógica, as classifica por semelhança. Então,
busca-se a compreensão do todo através das partes, partindo-se sempre dos elementos mais
simples. Este método de pensamento, também defendido pelo filósofo francês René
Descartes, acabou por exercer grande influência na ciência moderna (DE SOUSA SANTOS,
2005, p.60-68; DESCARTES, 2005).

Contudo, no que diz respeito à sustentabilidade da vida, frente às crises que a desafiam, é
fundamental a compreensão do todo unindo, então, as partes de acordo com suas relações.
Para tanto, neste processo, é necessário que haja previamente uma visão do todo e, deste
modo, tal postura requer uma nova forma de pensar (DE RAADT, 2000, p.26). Esta
necessidade também foi percebida por Dooyeweerd.

Para desenvolver seu sistema filosófico, Dooyeweerd partiu da compreensão de que o papel
da filosofia é o de investigar e abordar a diversidade, as dimensões, e as inter-relações do
cosmo (KOK, 1998, p.1). Segundo ele, a diversidade encontrada na realidade empírica é
possibilitada por diversos aspectos ontológicos - modalidades, ou modos de ser - criados e
sustentados por Deus, através dos quais tudo se manifesta e encontra ordem e coerência. Sua
perspectiva ontológica oferece, inicialmente, 15 aspectos em ordem decrescente, a saber:
credal (relativo à fé, crenças, convicções), ético, jurídico, estético, econômico, social,
linguístico, histórico/formativo, lógico, sensorial, biótico, físico, cinemático, espacial e
quantitativo. Dentro desta matriz aspectual se manifestam empiricamente toda a realidade e a
experiência humana em toda a sua plenitude e, com efeito, também possibilita as diversas
instituições sociais e os vários tipos de relacionamento presentes em uma comunidade
(DOOYEWEERD, 1986, p.61). Portanto, uma perspectiva epistemológica fundamentada
nesta estrutura modal oferece um modelo que permite a contemplação de questões
relacionadas ao desenvolvimento sustentável de comunidades, de maneira transdisciplinar, em
toda sua complexidade e, por isso, foi incorporada ao MSM.

Figura 1 – Estrutura do Sistema Multimodal


Fonte: Adaptado de De Raadt (2000, 2002, 2008)

A identificação destas modalidades também está relacionada com a emergência histórica das
várias disciplinas acadêmicas (Figura 1) tendo sido contempladas, de diversas formas, desde o
começo da filosofia (DE RAADT, 2008, p.301). Contudo, há também disciplinas acadêmicas
que focalizam seus estudos em diversas modalidades e não somente uma. Como a
antropologia, por exemplo, que pode abordar as modalidades pertencentes aos domínios
caráter, comunidade e intelecto, respectivamente. No caso da sociologia o mesmo ocorre uma
vez que as instituições sociais encontram sua vocação em modalidades diversas.
Além de adicionar outras modalidades à matriz inicial proposta por Dooyeweerd
(DOOYEWEERD, 2006), uma nova ordem aspectual é apresentada e foi dividida em grupos:
caráter, comunidade, intelecto, vitalidade, matéria, ordem, que o autor chama de domínios, os
quais são derivados da teologia bíblica e de referências implícitas feitas por profetas e
apóstolos (DE RAADT, 2000, p.29). Cada modalidade, em seus respectivos domínios,
fundamenta a existência de diversos tipos de sistemas, materiais e vivos. Pautando-se pelo
conceito dooyeweerdiano de esferas de soberania das modalidades, cada sistema social -
formado pelas modalidades operacional, econômica e social, agrupados no domínio
comunidade - possui sua vocação e especificidades que lhe são imputadas por uma
modalidade em particular, segundo De Raadt:

Embora todo sistema social esteja sujeito aos mandamentos de todas as


modalidades, há uma modalidade que o dota com sua missão última. A essência
desta modalidade em particular se torna a essência do sistema; ela o provê de caráter
e especificidades que o distingue dos demais sistemas sociais. (DE RAADT, 2002,
p.68, tradução nossa)

Assim, cada sistema social, em interseção com as diversas modalidades, tem fundamentada
sua missão através de uma delas. Destarte, família e associações voluntárias, por exemplo,
encontram sua vocação na modalidade ética. Teatro, cinema, companhia de dança, na estética;
a corte e o Estado na jurídica; escolas e universidades na epistêmica; jornais e rádios na
informativa; museus e centros de tradição na histórica; igreja e sinagoga na credal e assim por
diante (Figura 1). Com efeito, um quadro de crise em uma comunidade pode ser gerado
quando uma instituição social passa a ser guiada por normas que fogem à vocação que deveria
fundamentá-la. Da mesma forma, há risco quando um sistema social domina sobre outros,
suprimindo assim a plenitude vocacional dos sistemas dominados. Para que isso não ocorra,
cada instituição social deve se ater à sua esfera de responsabilidade e autoridade. Os sistemas
sociais cumprem sua vocação através do trabalho que, por sua vez, não se restringe somente
ao cumprimento de tarefas, nem visa apenas recursos financeiros, mas é vocação com senso
de destino, chamado e cumprimento. É o serviço que provê valor, que gera sustentabilidade
para os outros e para a comunidade como um todo. Segundo os autores, este é o verdadeiro
sentido da palavra profissão e sugerem ser necessário um retorno às normas vocacionais
existentes antes da revolução industrial, na qual o trabalho era visto como serviço sacrificial a
serviço da comunidade. Vale a pena lembrar que em seus estudos sobre o capitalismo, por
exemplo, o sociólogo alemão Max Weber identificou, no início do século XX, a ética
protestante de trabalho como importante fator para o desenvolvimento da sociedade europeia
(WEBER, 2004).

Dentro da estrutura modal cada modalidade está atrelada a um domínio específico. No


domínio caráter estão presentes as modalidades ética, estética e jurídica; no domínio
comunidade, as modalidades operacional, econômica e social; no domínio intelecto, a
epistêmica, informativa, histórica, credal; no domínio vitalidade, a psíquica e a biótica; no
domínio matéria, regulatório, físico, cinemático, espacial; o domínio ordem é constituído
pelas modalidades numérica e lógica. Portanto, a natureza é formada pelos domínios da
vitalidade, matéria e ordem, já a cultura é composta pelos domínios intelecto, comunidade e
caráter. Todos com suas respectivas modalidades (De Raadt, 2008, p.301-2). É importante
notar que, como a coerência intermodal é inquebrável, pois forma uma única estrutura,
dissolve-se a clássica dicotomia entre natureza e cultura, permitindo uma perspectiva
científica transdisciplinar e holística da realidade empírica. Uma vez que o sentido de cada
modalidade é irredutível às demais, cada disciplina científica pode desenvolver suas
metodologias de trabalho específicas, sem, no entanto, que a unidade entre estas se perca,
tornando-se mais visível à relação entre os saberes. Pela projeção horizontal dos domínios
material, vitalidade e comunidade, quatro eixos de sistemas vivos podem ser identificados: os
sistemas sociais, animais, botânicos, ambientais (Figura 1). Neste sentido, sistemas materiais,
como montanhas, rios, mares, ainda que não sejam vivos per si, integram o habitat essencial à
vida de seres humanos, animais e plantas; assim como o domínio vital provê um habitat
biológico à cultura humana, “que encontra sua expressão através de uma variedade de grupos
sociais e instituições - como escola, família e clubes” (DE RAADT, 2008, p.302). Os
domínios caráter e intelecto não apresentam projeções horizontais, mas fundamentam a vida
pessoal e cívica, além das instituições sociais.

Como se pode observar na Figura 1, uma modalidade anterior - ligações determinativas - se


torna um alicerce, um fundamento, para posterior, que por sua vez também exerce influência
na anterior - ligações normativas. Assim, uma modalidade pode exercer tanto uma restrição
quanto uma inspiração em outra, mas não ambas (DE RAADT, 2000, p.37). Além disso, as
primeiras modalidades tendem a ser mais normativas que as últimas que, por sua vez, tendem
a ser mais determinativas. Com efeito, a ordem das modalidades deve ser corretamente
pensada, explicam os autores, caso contrário, perspectivas teóricas errôneas podem gerar
ações com impactos nocivos.

4 Mais sobre as modalidades

Como comentado anteriormente, as modalidades são unidas coerentemente formando uma


matriz estrutural que possibilita a manifestação de todas as coisas na realidade empírica.
Devido à sua importância fundamental, algumas de suas características merecem mais
atenção. A modalidade ética pode ser mais bem descrita pela palavra grega ágape, muitas
vezes traduzida pela palavra amor, ou caridade, mas na realidade significa algo mais
profundo. Ágape ama o que não é amável, o que pode ser considerado como repelente e o que
não tem nada a oferecer em troca; é o amor sacrificial, que demanda de seu praticante uma
obrigação moral. É diferente do amor eros, cuja apetência é voltada para a atração do objeto
amado (De Raadt, 2000, p.31). A modalidade estética é a que possibilita toda forma de arte; é
o modo no qual a graça pessoal pode ser manifestada, não como um fim em si mesmo, mas
refletindo qualidades inerentes e únicas de cada ser humano. A jurídica é compreendida pelo
conceito de equidade, que dá a cada um segundo o que lhe é devido; é a esfera do direito. A
operacional possibilita o trabalho humano, aqui compreendido como manifestação vocacional
do amor, ágape. É, portanto, o amor colocado em ação. A modalidade social fundamenta a
estrutura social e designa um papel para cada profissão (entende-se por papel a alocação de
responsabilidade por imputação de autoridade). A dimensão epistêmica é a do conhecimento,
da compreensão; ao passo que a informativa fornece a informação e estabelece o contato
perceptivo entre o conhecimento e seu objeto (DE RAADT, 2000, p.33). A modalidade
histórica fundamenta as informações possíveis na informativa. Assim, informações se
originam dentro de um determinado contexto histórico que fornece ordem a estas, revelando
um padrão previamente concebido. Por outro lado, os modelos informativos inspiram a
maneira com a qual a história é moldada e o futuro, projetado. Da mesma forma, o significado
da história é determinado pelas crenças oriundas da modalidade credal, crenças que não se
reduzem a um sentimento interno e subjetivo no qual as pessoas se apoiam e tomam decisões,
mas, ao contrário, podem ser inspiradas por um evento histórico, concreto, através do qual,
inclusive, são reconhecidos os atos divinos (DE RAADT, 2000, p.55). Com efeito, explicam
os autores, este tipo de fé - no sentido forte - provê uma ligação determinante, ou seja,
fundamenta a modalidade histórica. É por isto que a história ilustra que atos de amor
sacrificial, com base na esperança, podem mudar a história. A modalidade biótica possibilita
os processos necessários à existência e manutenção da vida. Já a regulatória, ou cibernética,
determina um processo de auto regulação que mantém certo estado, ou estados, de equilíbrio
(DE RAADT, 2000, p.34). Neste sentido, no que tange a noção de sustentabilidade, equilíbrio
e estabilidade são essenciais a todo o sistema vivo. Com efeito, o estado de equilíbrio de uma
comunidade é obtido apenas quando todas as partes do sistema, ou seja, todas as modalidades,
também estão em equilíbrio (DE RAADT, 2002, p.303). Destarte, impactos negativos
ocorrem em todo o sistema quando há, por exemplo, falta de sabedoria e desinformação, ou
quando o trabalho é compreendido como um meio de geração de recursos econômicos para
viabilizar condutas hedonistas e individualistas; o que não ocorre quando há ações humanas
motivadas por uma ética que sacrificialmente busca o bem estar comum. Há impactos gerados
por crenças falsas, como há também o comprometimento de todos os sistemas quando todas
as modalidades tentam ser reduzidas, pela ação humana, a uma única esfera. Um exemplo
para este último caso é o reducionismo econômico, que se pauta pela crença de que a
viabilidade de todos os sistemas é adquirida através da regulação do mercado econômico.
Contudo, esta maximização da estrutura econômica, ou seja, a imposição de suas regras a
outras modalidades coloca em risco diversos sistemas sociais (DE RAADT, 2002, p.69).

5 Crise

Os autores tomam por base o conceito de comunidade lato senso, ou seja, o método
desenvolvido visa a sustentabilidade de comunidades como um todo, incluindo suas estruturas
sociais únicas, como famílias, igrejas, partidos políticos e órgãos públicos (DE RAADT,
2002, p.9). Quanto à sustentabilidade, atualmente o termo é extensivamente utilizado com
referência a danos ambientais irreversíveis causados pelo desenvolvimento econômico e
tecnológico, excluindo-se, portanto, danos culturais e sociais. Todavia, dentro do MSM, passa
a englobar, na totalidade, os ambientes naturais, humanos e culturais (DE RAADT, 2002,
p.10). Isto significa que, quando uma comunidade está em crise, diversos fatores que
deveriam promover sua estabilidade são ameaçados tornando-a não viável. Segundo Sachs, “a
transição para o desenvolvimento sustentável começa como gerenciamento de crises”
(SACHS, 2004, p.17). Há crises normativas, como uma depressão econômica; ou
determinativas, como um desastre natural, que podem também resultar de combinações de
ambas as causas. Assim, uma enchente pode prejudicar uma colheita que pode gerar, por
exemplo, uma violenta revolta organizada por agricultores locais. Da mesma forma, um
desmatamento em grande escala, resultante de uma ação humana - normativa - pode gerar
uma enchente - determinativa. Fica clara, portanto, a necessidade de se lidar com questões
normativas ao se avaliar fatores que afetam a viabilidade de uma comunidade (DE RAADT,
2000, p.40). Todavia, a ciência moderna, ao desconsiderar as ligações normativas, tende a
interpretar a origem do mal em fatores determinativos apenas. Mas, “a despeito da nossa
ciência moderna, nosso mundo se mostra cada vez mais não viável em todos os domínios, em
nosso caráter, em nossas comunidades, no declínio nos padrões intelectuais das nossas
universidades e escolas e na destruição no nosso meio-ambiente” (DE RAADT, 2000, p.40).
Precisamos de uma ciência que estude o que são as coisas e como devem ser, enfatiza De
Raadt. A ciência moderna infelizmente se contenta em classificar a realidade de maneira
fragmentada, sem conhecimento do todo, indiferente de como os diversos saberes se
conectam. “A grande ameaça a nossa sociedade não é a falta de trabalho ou o declínio
econômico. É nossa falta de compreensão acerca da nossa responsabilidade neste universo,
nossa situação e nosso destino” (DE RAADT, 2000, p.46).

6 Método

Segundo De Raadt, há uma diferenciação entre metodologia e método. A primeira se ocupa


com o estudo do pensamento científico, enquanto a outra, guiada pela primeira, lida com o
manuseio de informações (DE RAADT, 2001, p.1). Como já discutido, o modelo
proporcionado pela estrutura multimodal auxilia na análise de fatores nocivos à viabilidade de
uma comunidade, ou seja, à sua sustentabilidade. Para os pesquisadores que dele lançam mão,
ele fornece um modelo informativo que reúne informações de diversas modalidades,
tornando-se muito útil ao trabalho de equipes transdisciplinares, fornecendo-lhes uma
aproximação não exaustiva da realidade. Mas, em uma situação real, como montar o modelo?
a) O primeiro passo é a coleta de informação: nesta fase, diversas fontes podem ser
utilizadas: artigos científicos de diversas disciplinas acadêmicas, referências bibliográficas,
jornais, revistas, documentos institucionais, entrevistas, painéis com a comunidade, grupos
focais, percepções.

b) Em seguida, extratos individuais dos documentos fonte, contendo cada um uma única
ideia, são selecionados segundo sua relevância, num processo similar a métodos que
relacionam passagens textuais a categorias (BAUER; GASKELL, 2004, p.397). Este processo
é chamado de itemização. Uma vez que o montante de itens levantados tende a ser alto,
considerando-se o trabalho de diversas equipes e muitas fontes de dados, foi desenvolvido um
software, chamado SmCube (Systemic Multi-Modal Modeller), para armazenamento e
tratamento dos dados. O software foi desenvolvido em conjunto com a Divisão de Sistemas
de Informação das Forças de Defesa da Suécia. O aplicativo deu suporte a pesquisas com o
MSM em diversas comunidades na Suécia e na Austrália (DE RAADT, 2001).

c) A partir da itemização, cada item é relacionado a fatores vitais à sustentabilidade da


comunidade. Assim, é elaborada uma lista preliminar de fatores nocivos à viabilidade local.
Contudo, a lista de fatores não é exaustiva e é flexível para ser alterada várias vezes na
medida em que, pela análise, surgirem outros fatores, ou os anteriores forem justapostos ou
alterados (DE RAADT, 2000, p.71). Numa pesquisa realizada pelos autores na cidade sueca
de Rosvik, sete fatores foram selecionados (Figura 2): ética, focalizando a preocupação moral;
competência, ou a habilidade de envolvimento dos indivíduos em suas comunidades;
estatismo, ou os efeitos do excesso de controle institucional do Estado na população local;
senso comunitário, ou a necessidade de estruturas comunitárias a que as pessoas pertencem;
educação, que aborda crises na educação em geral, uma vez que no caso de Rosvik um alto
índice de evasão populacional levou ao fechamento de algumas séries escolares sendo que
crianças e jovens, então, precisavam ser atendidos em outras cidades próximas (DE RAADT,
2002, p.1-2); patrimônio cultural imaterial, cujo papel visa o fortalecimento da identidade
comunitária; religião, pela necessidade identificada de uma fonte geradora de inspiração e
visão (DE RAADT, 2002, p.90). A escolha correta dos fatores também está relacionada à
experiência dos pesquisadores e às diversas indicações propostas na literatura sobre
sustentabilidade. Portanto, diversos fatores que já vem sendo estudados de maneira isolada
podem apontar sua relevância para inclusão no modelo ou não.

d) Elencados os fatores, estes são aplicados ao modelo gerando uma matriz analítica (Figura
2).

e) Para que os dados sejam analisados corretamente deve-se pensar em termos de


relacionamento (DE RAADT, 2000, p.75). Assim, o que os itens coletados dizem a respeito
de cada fator? O que dizem a respeito da conexão entre os fatores? Ao término desta fase é
obtido um modelo que mostra como os fatores se inter-relacionam (Figura 2). Relacionados
os fatores, cada par é chamado de seta. Desta forma, uma relação entre fatores é assim
anotada: ética  religião, sempre se colocando os fatores mais normativos antes dos mais
determinativos (DE RAADT, 2000, p.77).

f) Em seguida, é identificado se o impacto causado por um fator em uma modalidade é


positivo ou negativo - representado com setas brancas ou pretas, respectivamente - quanto à
sustentabilidade do modelo que, por sua vez, deve representar aproximadamente o estado de
viabilidade da comunidade pesquisada. Um fator pode também exercer uma coação - quando
mais determinativo, ou uma inspiração - quando mais normativo. Lembrando que, uma
coação não é necessariamente algo ruim, já que pode haver coações benéficas, como
inspirações ruins. Por exemplo: na relação entre os fatores cidadania  educação, uma
coação pode ser identificada em uma comunidade através de lacunas éticas e normativas em
seu currículo escolar e universitário. Com efeito, as pessoas podem facilmente desenvolver
atitudes egoístas e de autopromoção em suas futuras vidas profissionais. Por outro lado, uma
inspiração pode ser promovida pela identificação da relação entre cidadania e educação.
Assim, a educação pode ser inspirada por estratégias que gerem amor pelo aprendizado que,
por sua vez, demanda auto sacrifício através de longas horas de estudo que necessariamente
não retornam benefícios em curto prazo (DE RAADT, 2000, p.117). Portanto, é importante
que durante o processo cada item seja cuidadosamente analisado.

Construído o modelo de análise, obtém-se um panorama da situação da comunidade abordada,


revelando assim seus pontos de equilíbrio e desequilíbrio que, por sua vez, afetam ou
contribuem para a sustentabilidade em longo prazo. Com o modelo, também é possível a
identificação dos domínios envolvidos no processo, bem como as instituições sociais que
participam do quadro de viabilidade, ou não viabilidade. Em suma, obtém-se um modelo
unificador de fatores identificados de maneira transdisciplinar cujo impacto se dá nos sistemas
sociais presentes na comunidade analisada.

Figura 2 - Modelo de Análise Multimodal


Fonte: Adaptado de De Raadt (2002)

7 Replanejamento para a sustentabilidade

Com um mapa da situação da comunidade em mãos é possível, e este é o último passo do


MSM, replanejar a comunidade com vistas à sustentabilidade de longo prazo, através de
diversos tipos de intervenção social, como elaboração de políticas públicas, currículos
escolares e universitários adaptados aos problemas locais, lançamento de campanhas públicas
de conscientização, educação para a cidadania sacrificial, fomento de posturas éticas não
nocivas ao bem estar comum, envolvimento intencional e estratégico da estrutura eclesiástica.
Esta etapa do MSM envolve três passos: a) identificação de qualidades em cada fator do
modelo, de acordo com a visão desejada para a comunidade; b) formulação de operações, ou
seja, planejamento de atividades necessárias a obtenção da qualidade desejada; c)
especificação dos sistemas, ou grupos sociais que deverão, necessariamente, estar envolvidos
na execução assistida das operações anteriormente formuladas. Como forma de avaliação do
andamento do processo de replanejamento, novos levantamentos podem ser realizados e
comparados entre si, resultando assim no possível remanejamento de operações e sistemas
envolvidos no processo de desenvolvimento sustentável local (DE RAADT, 2002, p.136-148;
DE RAADT, 2000, p.115-139).

8 Conclusão

O MSM fornece um método prático ao levantamento de dados sobre a sustentabilidade, não se


restringindo apenas ao debate teórico acadêmico, além de viabilizar informações estratégicas
para possíveis intervenções sociais. Igualmente, mostra que o conceito deve abranger não só a
preservação ambiental e o crescimento econômico, afinal, Meio Ambiente é o espaço tanto
físico como normativo onde o ser humano se insere e dentro do qual sobrevive. Este espaço
diz respeito a todas as modalidades da vida humana e do universo, criadas e sustentadas por
Deus (DE RAADT, 2000, p.27-8). Destarte, o desenvolvimento sustentável é a busca pela
harmonização de todas as áreas da vida humana e se fundamenta numa ética cuja base é a
relação do homem com Deus em Cristo Jesus, pelo poder do Espirito Santo. Contudo, no que
tange o estudo e aprimoramento do MSM ainda restam, a meu ver, num primeiro momento,
quatro importantes ações: a) um estudo que possa avaliar sua aplicabilidade ao contexto sócio
estrutural brasileiro; b) um estudo aprofundado sobre as diferenças entre a Teoria das Esferas
Modais como originalmente proposta por Dooyeweerd em contraposição às diferenças
desenvolvidas por De Raadt, permitindo uma revisão crítica tanto de uma quanto de outra; c)
a aplicação da Crítica Transcendental dooyeweerdiana como elemento de apoio à seleção de
documentos fonte e itens que podem ser incluídos na matriz analítica do MSM
(DOOYEWEERD, 1984), e, finalmente; d) articulação e diálogo mais aprofundado com
outras teorias sociológicas, em especial, a esboçada por Dooyeweerd em sua Teoria Cristã
das Instituições Sociais (DOOYEWEERD, 1986).
Soli Deo Gloria
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