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Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da
Água e do Saneamento no Brasil
Equipe Técnica
IPEA Autoria e Revisão Técnica ANA
Coordenação Geral Daniela Nogueira Soares Coordenação
Gesmar Rosa dos Santos Júlio Issao Kuwajima Bruno Pagnoccheschi
Marcelo Pires da Costa
Autoria e Revisão Técnica Autoria Marco José Melo Neves
Gesmar Rosa dos Santos Ana Lizete Farias
Daniela Nogueira Soares Autoria e Revisão Técnica
IPC-IG Diego Franca Freitas Marcelo Pires da Costa
Coordenação Eveline Maria Vasquez Arroyo Marco José Melo Neves
Daniela Nogueira Soares Júlio Issao Kuwajima
Luiz Augusto Bronzatto Diagramação e editoração
Maíra Simões Cucio F4 Comunicação Ltda
Valéria Maria Rodrigues Fechine
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo,
necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou do Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão, da Agência Nacional de Águas ou do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo.
É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são proibidas.
Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
Lista de abreviaturas
ABEMA - Associação Brasileira de Entidades Estaduais do Meio Ambiente
ABM – Associação Brasileira de Municípios
ABRINQ - Fundação Abrinq pelos Direitos das Crianças e dos Adolescentes
AESBE – Associação Brasileira das Empresas de Saneamento
ANA – Agência Nacional de Águas
ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior
CASA CIVIL – Casa Civil da Presidência da República
CBH–Doce – Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Doce
CERH – Conselho Estadual de Recursos Hídricos
CGU - Controladoria Geral da União
CNI - Confederação Nacional da Indústria
CNM - Confederação Nacional de Municípios
CNODS – Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CNS - Conselho Nacional das Populações Extrativistas
COMPESA – Companhia Pernambucana de Saneamento
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente
EESC/USP – Escola de Engenharia de São Carlos / Universidade de São Paulo
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ETHOS - Instituto Ethos
FNP – Federação Nacional dos Prefeitos
IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPC-IG – Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo
IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicas
MCid – Ministério das Cidades
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social
MMA - Ministério do Meio Ambiente
MP - Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão
MPF – Ministério Público Federal
MRE - Ministério das Relações Exteriores
ODM – Objetivos do Desenvolvimento do Milênio
ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
OGU – Orçamento Geral da União
ONG – Organizações Não-Governamentais
ONU – Organização das Nações Unidas
OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde
PCJ – Agência de Águas das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari, Jundiaí
PIB – Produto Interno Bruto
PLANSAB – Plano Nacional de Saneamento Básico
PNRH – Plano Nacional de Recursos Hídricos
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SEGOV - Secretaria de Governo da Presidência da República
SINGREH – Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
SINISA – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico
SRHQ – Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental
TCU – Tribunal de Contas da União
UGT - União Geral dos Trabalhadores
UnB – Universidade de Brasília
UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
Visão Mundial – Organização Não Governamental Visão Mundial
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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
Apresentação
A publicação deste documento, durante o 8º do Saneamento no Brasil”1. O evento foi realizado
Fórum Mundial da Água, é mais um importante passo no dia 1º de fevereiro de 2018, na sede do Instituto
de um projeto conjunto da Agência Nacional de Águas de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em Brasília.
(ANA) com o Instituto de Pesquisa Econômica Apli- Estiveram presentes renomados painelistas e repre-
cada (IPEA), o Programa das Nações Unidas para o sentantes governamentais e dos diversos setores da
Desenvolvimento (PNUD) e o Centro Internacional de sociedade envolvidos tanto na gestão de recursos
Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG) para hídricos, quanto da implementação de políticas da
apoiar os trabalhos da Comissão Nacional para os agenda 2030 no País.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS) De forma a permitir ao leitor uma melhor
com relação ao ODS 6 - Água e Saneamento. compreensão do contexto atual da gestão da água
Com o intuito de realizar o diagnóstico de políti- no Brasil e da promoção da agenda 2030, e espe-
cas, experiências de gestão, indicadores e propostas cificamente ao ODS 6, este texto está estruturado
de implantação para as metas do Objetivo de Desen- em quatro partes: a primeira contém uma breve
volvimento Sustentável 6 (ODS 6), o projeto prevê explicação do projeto; a segunda introduz a gestão
a realização de três de seminários, cujos objetivos da água e do saneamento e a agenda 2030 no
são promover diálogos, colher subsídios e difundir Brasil; a terceira parte contém relatos das principais
conhecimentos sobre a gestão da água no Brasil no informações dos quatro painéis temáticos do Semi-
contexto do ODS 6. nário; e na última parte apresenta um fechamento
Desta forma, o presente documento foi ela- e os próximos passos do Projeto.
borado a partir das contribuições do 1º seminário
realizado, intitulado “Objetivos de Desenvolvimento Boa Leitura!
Sustentável e os Desafios para a Gestão da Água e A Equipe Técnica
Foto: Rui Faquini/Banco de Imagens ANA
Regiões Hidrográficas
Amazônia
Tocantins/Araguaia
Atlântico Nordeste Ocidental
Parnaíba
Atlântico Nordeste Oriental
São Francisco
Atlântico Leste
Atlântico Sudeste
Atlântico Sul
Paraguai
Paraná
Uruguai
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Foto: Rui Faquini/Banco de Imagens ANA Foto: Zig Koch / Banco de Imagens ANA
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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
Distrito Federal e municipais cujas competências se comitês de bacia cabem a aprovação do Plano de
relacionem com a gestão de recursos hídricos (Figura Recursos Hídricos da Bacia e deliberações sobre a
2). Os conselhos (CNRH, CERH) têm a função de sub- cobrança e prioridades de uso da água na sua região.
sidiar a formulação da Política de Recursos Hídricos, Atualmente existem cerca de 211 comitês de bacias
dirimir conflitos nos corpos de água das respectivas estaduais instalados. Estes contam com a participação
dominialidades e aprovar o Plano Nacional de Recur- do poder público, do setor privado e da sociedade.
sos Hídricos (CNRH) ou os Planos Estaduais (CERH). Na estrutura de governança do SINGREH cabe
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos foi destaque para os comitês de bacia hidrográfica, que
instalado em 1998 e, atualmente, todas as 27 Uni- podem se constituir em importantes espaços para a
dades da Federação possuem seus Conselhos. Aos internalização e implementação da Agenda 2030.
O Plano Nacional de Recursos Hídricos tem respectivos orçamentos anuais. A primeira revisão
como objetivo principal definir diretrizes e políticas foi concluída em 2011 (Plano Nacional de Recursos
públicas para a melhoria da oferta de água, em Hídricos: Prioridades 2012-2015) e a segunda revisão
quantidade e qualidade, gerenciando as demandas (2016-2020) encontra-se em fase final de elaboração.
e considerando a água um elemento estruturante Com relação ao saneamento, a Lei 11.445/2011
para a implementação de políticas sob a ótica do estabeleceu diretrizes nacionais para a política federal
desenvolvimento sustentável e da inclusão social. O de saneamento básico e estabeleceu o Plano Nacional
PNRH é um dos planos previstos na Lei 9.433 de de Saneamento, regulamentado por meio do Decreto
1997, e sua primeira versão foi aprovada pelo CNRH nº 8.141/2013. Após versões preliminares, entre
em 2006, cumprindo o compromisso estabelecido no 2008 e 2010, o Plano Nacional de Saneamento Bá-
Plano de Implementação da Cúpula Mundial sobre sico (PLANSAB) foi aprovado por meio da Portaria nº
Desenvolvimento Sustentável de Johannesburgo, 171, de 09 de abril de 2014, a qual apresenta metas
sendo o Brasil o primeiro País da América Latina a de acesso à água e saneamento até 2033. Atualmen-
aprovar um plano deste tipo. Como se trata de um te, encontra-se em discussão a alteração no marco
processo de planejamento com edições periódicas, sua regulatório do saneamento no País, inclusive com a
revisão se dá a cada quatro anos, a fim de nortear os possibilidade de permitir uma maior participação do
Planos Plurianuais Federal, Estaduais e Distrital e seus setor privado nos serviços de água e esgoto.
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3 Para mais informações sobre relações sobre água e gênero acesse: https://publications.iadb.org/handle/11319/7700
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e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
protagonismo da Secretaria de Governo, da Casa Civil está prevista no Decreto que criou a CNODS e estão
e do Itamaraty. O assessoramento técnico da CNODS sendo pensadas para serem espaços de discussão
está sob a responsabilidade do IPEA e do IBGE (Ins- sobre os diversos temas ou objetivos. A coordena-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística). ção das câmaras será paritária entre poder público
A primeira versão do plano de ação da Comis- e sociedade civil. A composição das instituições
são foca na governança para implantação dos ODS, participantes de cada câmara ainda está sendo
delineando a arquitetura institucional necessária discutida. Recentemente o governo anunciou que
para sua efetivação. São previstas ações para mobi- criará a primeira câmara, a de Parcerias e Meios
lizar os atores-chave e para realizar os arranjos ins- de Implementação.
titucionais e legais para viabilização das parcerias A Figura 5 ilustra o arranjo institucional da
estratégicas. A constituição de câmaras temáticas CNODS em sua primeira composição.
Figura 5 - Arranjo institucional da CNODS Fonte: Comissão Nacional dos ODS (Brasil, 2017)4
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5 Para mais informações ver iniciativas como o Plano Nacional dos ODS, da CNODS em: http://www4.planalto.gov.br/ods.
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6 As falas foram resumidas pela equipe técnica e as gravações na íntegra estão disponíveis em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?op-
tion=com_content&view=article&id=32345&Itemid=7
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Painel 1
Marcelo de Paula Lellis. Secretaria Nacional de federal não tem perspectivas de conseguir atingir as
Saneamento do Ministério das Cidades (MCid). metas de universalização de saneamento básico para
O Ministério das Cidades trabalha com um es- 2030, como prevê o ODS 6. As metas do PLANSAB
copo abrangente de saneamento, seguindo o Plano continuam como referência.
Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB). O Plano
é dinâmico, estando atualmente em revisão, e trata do Sugestões apontadas:
abastecimento de água, coleta, transporte e tratamento l reduzir discrepâncias regionais no atendimento
de esgotos, manejo de resíduos sólidos e manejo de de água e de esgotos, reduzindo a carência nas áreas
águas pluviais. O PLANSAB apresenta metas de curto rurais e nas regiões Norte e Nordeste;
(2018), médio (2023) e longo prazo (2033)7, apesar l aprimorar a gestão e o planejamento do se-
destas apresentarem convergência com o ODS 6, não tor saneamento, referenciado no PLANSAB e na
são suficientes para o seu cumprimento integral, prin- participação da sociedade nas questões da água
cipalmente em relação às condições de saneamento de e saneamento;
áreas urbanas e rurais. Um dos objetivos deste plano é l dar continuidade ao aperfeiçoamento do Sistema
garantir a sustentabilidade financeira dos prestadores Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS)
de serviço público de saneamento, a fim de garantir a e do Sistema Nacional de Informações Sobre Sanea-
ampliação de investimentos e a qualidade dos serviços, mento Básico (SINISA).
prevendo inclusive revisões tarifárias. l tornar efetivos os planos municipais de sa-
Segundo o palestrante, em razão dos grandes neamento, necessitando para isso a qualificação e
desafios do setor, há o entendimento de que o governo estruturação técnica e institucional dos municípios.
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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
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Édison Carlos - Presidente do Instituto Trata Tal situação se explica por diversos fatores como a
Brasil. ausência de fiscalização federal, a baixa capacidade
Segundo o painelista, as estatísticas oficiais técnica dos municípios ou mesmo por falta de recursos
são imprecisas, pois são obtidas através das in- financeiros. Há necessidade de uma revisão no mar-
formações fornecidas pelas companhias, que não co regulatório para promover condições adequadas
são auditadas e tão pouco avaliam a qualidade para melhorias no setor saneamento. A prestação de
do tratamento de efluentes domésticos. Metade serviço tem que ser eficiente, não importando se é
da população brasileira não tem acesso a esgo- realizada por empresa pública ou privada.
tamento sanitário e o padrão de esgotamento das
residências atendidas por fossas sépticas é muito Sugestões apontadas:
baixo. Há barreiras burocráticas para viabilizar os l aperfeiçoar o SNIS como sistema de dados e
projetos e não existem garantias de investimentos informações de saneamento no País, cobrando infor-
federais ou recursos financeiros no longo prazo ou mações mais precisas e confiáveis – com necessidade
de continuidade de recursos, além de entraves fi- de se chegar a um acordo sobre metodologias;
nanceiros gerados pelo marco regulatório inadequa- l aprimorar a comunicação sobre água e sane-
do. É necessário mudar a abordagem no setor, com amento, pois as pessoas não conhecem o sistema
entendimentos entre municípios e União. Houve água/saneamento;
pouco avanço desde a aprovação da Lei Nacional l cobrar os municípios que não fizeram os Planos
do Saneamento Básico, há 10 anos. Municipais de Saneamento e premiar aqueles que
Os Planos Municipais de Saneamento também os fizeram, incluindo uma força tarefa técnica para
não representaram avanços por haver muitos municí- apoiar os pequenos;
pios que sequer os elaboraram; aqueles que o fazem, l incentivar mais fortemente a adoção de tecno-
dificilmente ou nunca fazem a revisão periódica esta- logias e a gestão eficiente, não importando o debate
belecida, assim sendo o número de municípios com de quem é o titular de concessões (municípios ou
planos efetivamente implementados é muito baixo. estados).
Édison Carlos
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Figura 7 – Índice de atendimento urbano por rede Figura 8 – índice de atendimento urbano por rede coletora de
de água dos municípios participantes do SNIS em 2015, por esgotos dos municípios participantes do SNIS 2015, por faixas
faixas percentuais e segundo município (MCid, 2017). percentuais e segundo município (MCid, 2017).
(Adicionado pela equipe do projeto) (Adicionado pela equipe do projeto)
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poluição por meio de pagamento;4) Nova York - uso lógicas permitem utilizar a rede de drenagem para
da rede de drenagem para coleta de esgoto;5) Santa escoar águas residuárias como alternativa aos sistema
Cruz do Capiberibe, cujas condições hidro-meteoro- separador absoluto.
Teófilo Monteiro - Coordenador da Equipe Téc- gerenciamento in situ e gestão adequada para esta
nica Regional de Água e Saneamento, Organização tecnologia. No contexto da América Latina o sistema
Pan-Americana da Saúde (OPAS)/ Organização Mun- de regulação de qualidade de água no meio urbano e o
dial da Saúde (OMS). sistema de monitoramento brasileiros são considerados
Há um esforço entre os países membros para um modelo para a região. Entretanto, falta adequação
atendimento das metas regionais, incluindo melhoria de parâmetros, a exemplo de indicadores microbioló-
do acesso e da qualidade dos serviços, visto que atu- gicos e químicos da água e as condições em que a
almente existe uma deficiência de acesso aos serviços fossa séptica é considerada tratamento. Isso tem feito
de saneamento na região de atuação da OPAS. São com que o Brasil apareça sem dados em relatórios do
aproximadamente 18 milhões de pessoas sem acesso sistema Organização Mundial da Saúde (OMS).
aos serviços nas Américas, 4 milhões somente no
Brasil. A população rural não só é a mais carente O panelista apontou a necessidade de avanços nos
de serviços como também de dados. Os desafios no seguintes temas:
saneamento rural incluem também a superação da l adequar o monitoramento da qualidade da água
falta de dados de qualidade de água e a gestão do no meio rural;
esgoto e lodo de fossas sépticas. l adequar os parâmetros microbiológicos e quí-
A escala de gestão e regulação (local, regional micos da qualidade da água;
e nacional) também é um desafio ao gerenciamento, l centralizar a disponibilização de dados para
já que no Brasil há falta de centralização, fator apon- facilitar a difusão;
tado como causa da falta de dados. Uma alternativa l aprimorar e padronizar a definição de sistemas
para as regiões atendidas por fossas sépticas seria o de tratamento de esgotos.
Teófilo Monteiro
8 Observação: O artigo 10-A da proposta de Medida Provisória obriga os municípios a abrir chamamento público quando ocorrer a renovação
dos contratos com as empresas estaduais de saneamento. Pelas regras atuais a renovação do contrato do município com a empresa estadual
pode ser automática, sem necessidade de chamamento público .
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Painel 2
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A população não sabe de onde vem a água que consome. O sistema político
não debate temas relacionados à gestão da água e ecossistemas. Como fazer
para que os políticos tenham outra postura?
Bráulio Dias
José Galízia Tundisi – Professor Titular da EESC/ preservados, e entre 50 a 100 reais para se tratar
USP, secretário de sustentabilidade, ciência e tecno- 1000 m³ de água de mananciais poluídos, evidencian-
logia da prefeitura de São Carlos/SP do o custo dos danos aos ecossistemas. A qualidade de
A crescente complexificação das atividades vida deve ser a base das políticas públicas, ancorada
humanas tornou os problemas de qualidade da água no conhecimento e nas gerações futuras.
mais intrincados, saindo de situações “comuns” de
eutrofização para problemas como poluição radioati- Propostas apresentadas:
va, hormônios, químicos, remédios, cosméticos. Tal l Ampliar bancos de dados e promover monito-
condição de degradação de corpos hídricos causa ramento robusto da qualidade da água;
muitos danos à saúde humana e aos ecossistemas. l Criar capacidades de pesquisa em sistemas
Poucos países têm tecnologias capazes de detectar complexos para aprofundar estudos ecossistêmicos
este conjunto de poluentes e de removê-los da água, e desenvolver modelagem envolvendo água, ecossis-
não se conhecendo, de forma definitiva e segura, os temas, economia e outras áreas;
seus impactos. l Criar mosaicos consistentes de vegetação nas
A ausência de sistemas adequados de sanea- bacias hidrográficas para manter a qualidade da água;
mento é o principal componente da deterioração da l Ampliar a integração do monitoramento da qua-
qualidade da água na América do Sul e Central e as lidade da água com o monitoramento da qualidade
mudanças climáticas representam um fator adicional, do ar e o carreamento de poluentes;
afetando o nível de agentes causadores de danos toxi- l Aumentar a medição de fluxos e da qualidade
cológicos. Um elemento central é a preservação dos da água;
mananciais, haja vista que são necessários dois a três l Garantir o acesso à informação, de forma sim-
reais para se tratar 1000 m³ de água de mananciais ples e objetiva para a população e a rede de ensino.
Foto: Arquivo do Projeto
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Luciane Teixeira Martins - Presidente Comitê da alcance local e promovem importante integração
Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce) entre escalas local e regional.
O CBH-Doce atua anteriormente ao período da A tragédia causada pelo rompimento da barra-
tragédia de Mariana. Ele se configura um Comitê gem da empresa SAMARCO no município de Mariana/
de integração que envolve outros 12 comitês de rios MG, acarretou sérios problemas de abastecimento.
afluentes (mineiros e capixabas), que trabalham de O derramamento de rejeitos gerou forte desconfiança
forma integrada na implementação dos instrumentos por parte da população em relação à qualidade da
da PNRH, tais como: o Plano da Bacia (meta de água, agravando os desafios de abastecimento. A po-
alcançar 100% dos municípios) e a Cobrança pelo pulação não aceita a água, reclama da qualidade. Há
Uso da Água. O CBH-Doce elaborou, com recursos da inclusive comprovação de contaminantes por estudos
Cobrança, 156 dos 228 planos de saneamento dos de universidades.
municípios inseridos da bacia, sendo que atualmente A palestrante narrou que se tornou certo hábito
oito se encontram em elaboração. Porém, os municípios os entes que fazem parte do SINGREH, como os
não têm capacidade de implementação devido à falta CBHs, gerarem informações que não atravessam os
de equipe técnica. Faltam recursos e continuidade de limites do próprio Sistema, pouco influenciando nas
ações, inclusive na transição de mandatos, mesmo com ações de setores e de outras políticas. Sem a gestão
os planos prontos e com o apoio da agência de bacia integrada resta a questão de “como levar o tema, os
do comitê. Como tirar os planos da gaveta? dados, até a população?”.
O CBH-Doce implementa diversos projetos,
entre eles o Programa Rio Vivo, com mais de seis Desafios destacados:
mil propriedades rurais em comunidades rurais de l enfrentar a descontinuidade de projetos e obras
54 municípios, com ações de proteção de nascen- em razão da baixa capacidade técnica e econômico-
tes, reserva legal e cuidados com sedimentos, pois -financeira dos municípios;
“não adianta cercar nascentes e ir embora”. No l mobilizar esforços dos comitês de bacia e mu-
CBH-Doce os comitês afluentes conversam direta- nicípios para enfrentar o agravamento dos danos às
mente com as prefeituras e produtores rurais, têm águas e ao meio ambiente.
Foz do Rio Doce (estado do Espírito Santo) - Após derramamento de rejeitos da barragem de Mariana (estado de Minas Gerais)
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e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
Painel 3
Sérgio Brasil Abreu - Analista de infraestrutura áreas. Entretanto, mesmo com grande potencial, há
da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, barreiras que impedem uma maior expansão. Outro
Ministério das Cidades gargalo para o reuso de água no Brasil é a legislação,
O Ministério das Cidades possui diversos proje- que deve ser aprimorada e tornar-se clara. Atualmente
tos, com destaque para “reuso de água” e “controle há como limitar o financiamento para as empresas que
de perdas”, sendo a questão financeira o gargalo para possuem elevados níveis de perdas de água.
a implementação dos projetos. A regulamentação é
ineficiente para o controle de perda de água, e a quan- Existem alguns questionamentos este aspecto:
tidade de água perdida é tarifada e redistribuída na l como deve funcionar a outorga destas águas
tarifa a ser paga pelos consumidores. Para o reuso da de reuso?
água, ainda existe a necessidade de desenvolver mais l os investimentos financeiros serão realizados
ações, sendo o Projeto Aquapolo o principal exemplo pelo governo?
brasileiro e com potencial para ser replicado em outras l o prestador de serviços será o “dono” da água?
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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
Filipi Augusto Barolo Lopes de Araújo - Gerente nos últimos anos; iv) treinamentos, capacitações,
de Sustentabilidade, AmBev uso de equipamentos e métodos para evitar perdas.
O palestrante apresentou projetos ambientais e Projeto SAVEH - Sistema de Auto-avaliação de Efici-
de sustentabilidade de iniciativa da AmBev, destacan- ência Hídrica, plataforma gratuita e disponível online,
do: i) importância do risco hídrico, tratando a água para ajudar empresas a economizarem água, com
não como custo, mas como valor; ii) parcerias na área informações que auxiliam na eficiência hídrica. No
ambiental devem ser procuradas, pois proporcionam projeto "Água AMA" 100% do lucro das garrafas de
eficiência dos projetos e facilitam projetos de reuso; água vendidas serão revertidos a projetos de acesso
iii) redução em 40% da demanda de água da AmBev à água potável no Semiárido brasileiro.
Fernando Gomes da Silva – Diretor do Aquapolo, conhece os riscos, custos e características dos
BRK/SABESP esgotos que recebe, possui consumidores para
O projeto Aquapolo produz água de reuso a água de reuso e está fisicamente próximo ao
do esgoto tratado da Companhia de Saneamento conglomerado de empresas parceira. Embora no
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para ser reuso as empresas não corram o risco de ficarem
utilizada no Polo Petroquímico da Região do Gran- sem água, o que pode até valorizar as empresas no
de ABC, em São Paulo. Trata-se de parceira entre mercado, a exigência de autorizações da prefeitura
a BRK Ambiental, que detêm 51% das ações e a e uma série de procedimentos trazem incertezas
Sabesp, com 49% de participação, sendo o quinto a este mercado.
maior projeto do Planeta em reuso de efluentes.
Trata-se de um ótimo negócio para o Polo Pe- Existem alguns questionamentos neste aspecto:
troquímico do ABC, pois mantém a qualidade e l desenvolver um indicador que demonstre a
a regularidade da água, mesmo em períodos de quantidade de esgoto tratado e reutilizado no Brasil
crise hídrica. Entretanto, por ser a água de reuso como água de reuso;
comprada pelas indústrias, existe um desequilíbrio l desenvolver mecanismos financeiros de merca-
na concorrência com a água tratada e potável, que do que viabilizem mais iniciativas de tratamento de
é mais barata que a água de reuso. Há também esgotos e reuso.
necessidade de regulamentação para a água de l aprimorar a regulação para o reuso, de modo a
reuso após cinco anos do projeto com grande su- reduzir a concorrência de custos com água potável e
cesso, nenhum outro empreendimento nesta área a tornar a legislação mais clara e menos onerosa ao
foi desenvolvido. O Aquapolo possui o domínio, investimento.
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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
Lineu Neiva Rodrigues - Pesquisador da Em- necessária aprimorar a outorga e a gestão compar-
brapa Cerrados tilhada, com políticas de Estado e não de governos.
Destacou a relação entre a água e a agricultura, A legislação é adequada, mas deve-se fortalecer o
uma vez que em 12 dos 17 ODS há relação com a sistema, devendo o comitê de bacias hidrográficas
segurança alimentar e com água, o que demandará ser o ator central na definição das prioridades de uso
aumento da irrigação. O desafio central é aumentar da água na região.
a eficiência, atualmente em torno de 60%, índice
que pode piorar devido à inexistência de regula- Principais proposições:
mentação e de penalidades para desperdícios . Nos l respeitar a Lei 9433/97 que, em sua plenitude,
empreendimentos, as escolhas não recaem apenas é de elevada qualidade, sendo indicado que a ANA
sobre a eficiência, seja ela econômica ou ambiental, atue apenas na gestão da água, não no saneamento.
de forma isolada. Por isso, a outorga na agricultura l fortalecer a oferta hídrica e não pensar só nos
deve considerar um conjunto de variáveis que pode rios, mas nas bacias hidrográficas e nas águas sub-
ser distinto em cada situação, fazendo com que a terrâneas, sendo essencial a conservação do solo na
compreensão sistêmica e a integração intersetorial manutenção da oferta.
sejam essenciais. Existem muitos estudos isolados l aprimorar as tecnologias atuais de uso na irri-
e que contribuem de maneira fragmentada para o gação, levando em conta a diversidade de realidades
desenvolvimento de pesquisas e tecnologias. Na Ba- locais, devendo-se investir na obtenção de dados
cia Hidrográfica do rio São Marcos (que abrange os confiáveis.
Estados de Goiás, Minas Gerais e o Distrito Federal) l integrar as políticas setoriais com as de sanea-
há conflitos entre governos (estados envolvidos, DF, mento e entender as dificuldades de cada setor, não
União) e entre usos distintos (energia x agricultura). apenas definindo regras gerais para as diferentes
A regra deve ser a de analisar a vocação da bacia, formas de uso da água.
que neste caso é agrícola e que, para manter tal l implantar a gestão compartilhada da água nas
vocação, a Usina Hidrelétrica de Batalha deveria bacias mais críticas, sendo que estas devem ser
ser fechada; pois foi um erro a sua construção. É priorizadas.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O desafio central é
aumentar a eficiência,
atualmente em torno de
60%, índice que pode piorar
devido à inexistência de
regulamentação
e de penalidades para
desperdícios
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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
Painel 4
Francisco Nunes Correia – Docente no Instituto social. A participação na gestão de recursos hídricos
Superior Técnico da Universidade de Lisboa e ex-mi- deve prezar a transparência no trato dos diferentes
nistro do Ambiente de Portugal. interesses dos diversos atores que interagem no
A boa governança e as instituições são essen- gerenciamento dos recursos hídricos. As caracterís-
ciais para a promoção da gestão de recursos hídricos. ticas citadas, quando bem aplicadas, podem elevar
Porém, é necessário refletir como tais instituições se a boa gestão dos recursos hídricos e o diálogo franco
articulam com a sociedade, como desenvolvem o bom configura-se imprescindível para o gerenciamento
diálogo para o compartilhamento de saberes para a de conflitos.
tomada de decisões. A água tem por característica No Brasil há muitas pessoas engajadas no
a transversalidade, haja vista que permeia toda uma SINGREH. Porém, infelizmente, ainda há uma
malha social e econômica, perpassando desde um atmosfera de desconfiança das instituições públicas,
simples comércio até uma grande indústria; desde algo que deve ser combatido, pois as ações do
uma residência até enormes bacias transfronteiriças, poder público e os anseios da sociedade devem
algo que leva a gestão de recursos hídricos a ter va- ser trabalhados de forma complementar, refletindo
riadas escalas que envolvem um mesmo problema, positivamente na boa gestão dos recursos hídricos. Nos
à vezes com soluções distintas. variados níveis decisórios que há no SINGREH deve-se
Ao falar de governança deve-se enfatizar a prezar o envolvimento da sociedade civil, dos usuários
necessária participação, que se configura como e das entidades públicas na busca por soluções,
um direito humano e necessita, para sua maior sendo que a democracia representativa deve ser uma
efetividade, a ampliação de processos de escuta extensão da democracia participativa e vice-versa.
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e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
Júlio Thadeu da Silva Kettelhut - Coordenador Bolívia. Reforçou que um dos obstáculos para a reali-
Geral do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos/ zação de ações visando o alcance das metas refere-se
Departamento de Recursos Hídricos/ Secretaria de à falta de recursos financeiros.
Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental do Minis- l definir e limitar o conceito de gestão inte-
tério do Meio Ambiente (SRHQ/MMA). grada de recursos hídricos: integração adminis-
Necessidade de conceituar de forma mais robus- trativa da gestão entre órgãos federais, estaduais
ta o termo integração no âmbito da gestão de recursos e municipais? Integração técnica? Integração de
hídricos, haja vista a abrangência e a diversidade de instrumentos de gestão, como integrar diferentes
olhares e percepções sobre esse tema, envolvendo, planejamentos (planos de bacia, plano estadual e
por exemplo, aspectos administrativos, técnicos, plano federal)?
instrumentais, relacionados ao planejamento, dentre l Considerar que a integração transfronteriça
outros. Definir os limites e o mote dos processos de de recursos hídricos se apresenta um grande desafio
integração no âmbito do SINGREH. Em relação aos principalmente pela dificuldade de obtenção e trans-
ODS, há uma grande diferença a nível mundial, algo ferência de dados;
que eleva a complexidade na busca desses objetivos, Levar em conta que existem dificuldades de aces-
utilizando para exemplificar este olhar, os casos das so aos recursos financeiros aos países da América do
bacias hidrográficas do rio Danúbio e a do Prata que Sul, o que é um grande desafio na gestão de recursos
envolve o Brasil, Uruguai, Paraguai, a Argentina e hídricos transfronteriços;
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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
Rosana Garjulli. Socióloga e consultora inde- que envolve, dentre outros aspectos, a instalação
pendente do SINGREH que, por sua vez, garante diversas
A ampliação da participação social nos pro- institucionalidades (colegiados) com atribuições
cessos de análise e de tomadas de decisão é um definidas e que destacam a importância da parti-
avanço a ser destacado na gestão de recursos hí- cipação nos processos de tomada de decisão. No
dricos. O que facilitou esse resultado foi o fato de decorrer da implantação da PNRH, estabeleceu-se
a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) um instrumental para a gestão das águas, por meio
apresentar uma concepção bem definida e madura do avanço do marco legal.
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e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
A participação é algo que se aprende e se aper- O conflito pelo uso da água ocorrido no municí-
feiçoa praticando. Um exemplo dessa prerrogativa é a pio de Correntina, no Estado da Bahia, em 2017, é
experiência Estado do Ceará, onde ocorre a alocação um exemplo da forte mobilização social em torno da
negociada de água nos diversos açudes existentes, escassez hídrica. Na ocasião, milhares de pessoas
sendo esta experiência incorporada na gestão de águas tomaram as ruas da pequena cidade a fim de apon-
do Estado com a observância do Conselho Estadual tar o paradoxo envolvendo o desabastecimento de
de Recursos Hídricos. Um aspecto de fundamental água na cidade e os vultosos projetos de agricultura
importância nos processos de participação refere-se irrigada ali existentes. É um exemplo de que a gestão
aos pactos e encaminhamentos resultantes desses de recursos hídricos deve chegar até a população,
processos, que devem ser respeitados, cumpridos. tornando-se mais democrática e autêntica no que
Para isso, é necessária uma espécie de abertura não tange à participação.
possessiva, necessitando o protagonismo dos atores
sociais e dos espaços de participação previstos na Recomendações apontadas:
PNRH, especialmente nos comitês de bacia, onde se l Realizar estudos aprofundados sobre a partici-
encontram os atores que convivem com os conflitos pação da sociedade no SINGREH, inclusive sobre
(princípio da subsidiariedade). as características atuais da capacidade técnica dos
Necessidade de qualificar a participação na Comitês de Bacia, e da sua infraestrutura na gestão
gestão de recursos hídricos, algo que leva a melhor dos recursos hídricos.
definição do papel estratégico das instâncias e co- l Buscar um maior conhecimento das especificidades
legiados presentes do SINGREH, especialmente em regionais (região Norte, Centro-Oeste e Nordeste, es-
momentos de crise hídrica, como a vivenciada nos pecialmente) a fim de propor adequações no modelo
últimos anos no Brasil, destacadamente nas regiões de gestão de gerenciamento de recursos hídricos
semiáridas do País. visando qualificar a participação cidadã.
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e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
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Considerações Finais
Este documento evidenciou que o Brasil pos- duais de Recursos Hídricos e dos respectivos órgãos
sui legislação e instrumentos de gestão da água e gestores estaduais.
do saneamento que permitem avanços na Agenda Nos 26 estados, no Distrito Federal e nos
2030, inclusive contando com sistemas colegiados 5.507 municípios brasileiros permanece o desafio
abertos à participação de distintos atores. O Seminá- de fortalecer a capacitação técnico-operacional e a
rio realizado, além de indicar desafios e subsídios ao governança, bem como integrar a Política Nacional
desenvolvimento do projeto, exemplificou que o País de Recursos Hídricos também com as políticas de
possui, também, amplo conhecimento tecnológico saneamento, meio ambiente, energia, uso do solo
nessa área. Neste contexto, os ODS são vistos como e agricultura. Para isto é importante, nos próximos
uma oportunidade para concretizar avanços e para passos do projeto, avaliar se os colegiados do SIN-
reduzir disparidades como, por exemplo, entre a oferta GREH necessitam de avanços em sua organização
de serviços de saneamento no meio urbano e rural. institucional e operacional, de forma a garantir res-
Evidenciou-se também a importância da adoção da postas aos desafios da gestão da água. Além disso,
bacia hidrográfica como unidade de gestão territorial há necessidade de aumento no ritmo de investimen-
no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos tos na ampliação dos sistemas de abastecimento
Hídricos. de água e de coleta e tratamento de esgotos, uma
Cabe ainda destacar que a estrutura da gover- vez que existem claras deficiências na cobertura,
nança da água no Brasil pressupõe a existência de particularmente nas áreas rurais e regiões metro-
articulação institucional entre a União, estados, o Dis- politanas, as quais apresentam os maiores desafios
trito Federal, os municípios. Estas instâncias de poder para a universalização dos serviços.
podem encontrar nos conselhos de recursos hídricos e No decorrer deste projeto, que prosseguirá ao
nos comitês de bacias hidrográficas um lócus relevante longo do ano de 2018, além da interlocução com
de articulação. Para tanto, já se encontram instituídos os atores, eventos e assessoramento ao governo, são
os seus respectivos instrumentos de planejamento, previstos a elaboração de materiais estratégicos para
embora em distintos graus de implantação. a ANA/MMA e a CNODS a fim de dar suporte à suas
No âmbito da gestão governamental, um passo iniciativas de implementação do ODS visando encon-
fundamental ainda a ser dado é o estabelecimento trar caminhos para um futuro sustentável no Brasil.
de um pacto com uma agenda de metas priorizadas
no Plano Nacional de Recursos Hídricos. Para tanto, Para saber mais sobre o projeto,
há necessidade de protagonismo na internalização e contate a equipe técnica:
interiorização da Agenda 2030 por parte do Conselho ods6@ipea.gov.br ou ods6@ipc-undp.org
Nacional de Recursos Hídricos, dos Conselhos Esta-
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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil
Referências
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recursos-hidricos/sistema-nacional-de-gerenciamento-de-recursos-hidricos.
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