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Diálogos sobre os Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da
Água e do Saneamento no Brasil

Documento apresentado no 8º Fórum Mundial da Água


Brasília, 18 a 23 de março de 2018

Foto: Arquivo Projeto

Fotos: Eraldo Peres/Arquivo ANA


Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Ministério do Planejamento, Diretor de Estudos e Políticas Área de Planejamento


Desenvolvimento e Gestão Setoriais de Inovação e Infraestrutura Marcelo Cruz
Ministro Dyogo Henrique de Oliveira Fabiano Mezadre Pompermayer
Área de Regulação
Ministério do Meio Ambiente Diretora de Estudos e Políticas Sociais Oscar Cordeiro Netto
Ministro José Sarney Filho Lenita Maria Turchi
URL: http://www.ana.gov.br/
Diretor de Estudos e Relações
Econômicas e Políticas Internacionais
Ivan Tiago Machado Oliveira
Fundação pública vinculada ao Ministério
do Planejamento, Desenvolvimento e Assessora-chefe de Imprensa e
Gestão, o Ipea fornece suporte técnico Comunicação
e institucional às ações governamentais Regina Alvarez
– possibilitando a formulação de
inúmeras políticas públicas e programas Ouvidoria:
de desenvolvimento brasileiros – e http://www.ipea.gov.br/ouvidoria O Centro Internacional de Políticas para o
disponibiliza, para a sociedade, pesquisas URL: http://www.ipea.gov.br Crescimento Inclusivo é um fórum global
e estudos realizados por seus técnicos. para o diálogo Sul-Sul sobre políticas de
desenvolvimento inovadoras, fruto de
Presidente um acordo de parceria entre o Governo
Ernesto Lozardo do Brasil, representado pelo Ministério
do Planejamento, Desenvolvimento
Diretor de Desenvolvimento e Gestão (MP) e pelo Instituto de
Institucional A Agência Nacional de Águas (ANA) é a Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e
Rogério Boueri Miranda agência reguladora vinculada ao Ministério o Programa das Nações Unidas para o
do Meio Ambiente (MMA) dedicada a fazer Desenvolvimento (PNUD)
Diretor de Estudos e Políticas cumprir os objetivos e diretrizes da Lei das
do Estado, das Instituições e da Águas do Brasil, a lei nº 9.433 de 1997. Diretor interino
Democracia Niky Fabiancic
Alexandre de Ávila Gomide Diretora-presidente
Christianne Dias Ferreira Coordenadora Sênior de Pesquisa
Diretor de Estudos e Políticas Diana Sawyer
Macroeconômicas Diretores
José Ronaldo de Castro Souza Júnior Área de Hidrologia URL: http://www.ipc-undp.org/pt-br/
Ney Maranhão
Diretor de Estudos e Políticas
Regionais, Urbanas e Ambientais Área de Gestão
Alexandre Xavier Ywata de Carvalho Ricardo Andrade

Equipe Técnica
IPEA Autoria e Revisão Técnica ANA
Coordenação Geral Daniela Nogueira Soares Coordenação
Gesmar Rosa dos Santos Júlio Issao Kuwajima Bruno Pagnoccheschi
Marcelo Pires da Costa
Autoria e Revisão Técnica Autoria Marco José Melo Neves
Gesmar Rosa dos Santos Ana Lizete Farias
Daniela Nogueira Soares Autoria e Revisão Técnica
IPC-IG Diego Franca Freitas Marcelo Pires da Costa
Coordenação Eveline Maria Vasquez Arroyo Marco José Melo Neves
Daniela Nogueira Soares Júlio Issao Kuwajima
Luiz Augusto Bronzatto Diagramação e editoração
Maíra Simões Cucio F4 Comunicação Ltda
Valéria Maria Rodrigues Fechine

As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo,
necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou do Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão, da Agência Nacional de Águas ou do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo.

É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são proibidas.
Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Lista de abreviaturas
ABEMA - Associação Brasileira de Entidades Estaduais do Meio Ambiente
ABM – Associação Brasileira de Municípios
ABRINQ - Fundação Abrinq pelos Direitos das Crianças e dos Adolescentes
AESBE – Associação Brasileira das Empresas de Saneamento
ANA – Agência Nacional de Águas
ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior
CASA CIVIL – Casa Civil da Presidência da República
CBH–Doce – Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Doce
CERH – Conselho Estadual de Recursos Hídricos
CGU - Controladoria Geral da União
CNI - Confederação Nacional da Indústria
CNM - Confederação Nacional de Municípios
CNODS – Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CNS - Conselho Nacional das Populações Extrativistas
COMPESA – Companhia Pernambucana de Saneamento
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente
EESC/USP – Escola de Engenharia de São Carlos / Universidade de São Paulo
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ETHOS - Instituto Ethos
FNP – Federação Nacional dos Prefeitos
IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPC-IG – Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo
IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicas
MCid – Ministério das Cidades
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social
MMA - Ministério do Meio Ambiente
MP - Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão
MPF – Ministério Público Federal
MRE - Ministério das Relações Exteriores
ODM – Objetivos do Desenvolvimento do Milênio
ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
OGU – Orçamento Geral da União
ONG – Organizações Não-Governamentais
ONU – Organização das Nações Unidas
OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde
PCJ – Agência de Águas das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari, Jundiaí
PIB – Produto Interno Bruto
PLANSAB – Plano Nacional de Saneamento Básico
PNRH – Plano Nacional de Recursos Hídricos
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SEGOV - Secretaria de Governo da Presidência da República
SINGREH – Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
SINISA – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico
SRHQ – Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental
TCU – Tribunal de Contas da União
UGT - União Geral dos Trabalhadores
UnB – Universidade de Brasília
UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
Visão Mundial – Organização Não Governamental Visão Mundial

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Apresentação
A publicação deste documento, durante o 8º do Saneamento no Brasil”1. O evento foi realizado
Fórum Mundial da Água, é mais um importante passo no dia 1º de fevereiro de 2018, na sede do Instituto
de um projeto conjunto da Agência Nacional de Águas de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em Brasília.
(ANA) com o Instituto de Pesquisa Econômica Apli- Estiveram presentes renomados painelistas e repre-
cada (IPEA), o Programa das Nações Unidas para o sentantes governamentais e dos diversos setores da
Desenvolvimento (PNUD) e o Centro Internacional de sociedade envolvidos tanto na gestão de recursos
Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG) para hídricos, quanto da implementação de políticas da
apoiar os trabalhos da Comissão Nacional para os agenda 2030 no País.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS) De forma a permitir ao leitor uma melhor
com relação ao ODS 6 - Água e Saneamento. compreensão do contexto atual da gestão da água
Com o intuito de realizar o diagnóstico de políti- no Brasil e da promoção da agenda 2030, e espe-
cas, experiências de gestão, indicadores e propostas cificamente ao ODS 6, este texto está estruturado
de implantação para as metas do Objetivo de Desen- em quatro partes: a primeira contém uma breve
volvimento Sustentável 6 (ODS 6), o projeto prevê explicação do projeto; a segunda introduz a gestão
a realização de três de seminários, cujos objetivos da água e do saneamento e a agenda 2030 no
são promover diálogos, colher subsídios e difundir Brasil; a terceira parte contém relatos das principais
conhecimentos sobre a gestão da água no Brasil no informações dos quatro painéis temáticos do Semi-
contexto do ODS 6. nário; e na última parte apresenta um fechamento
Desta forma, o presente documento foi ela- e os próximos passos do Projeto.
borado a partir das contribuições do 1º seminário
realizado, intitulado “Objetivos de Desenvolvimento Boa Leitura!
Sustentável e os Desafios para a Gestão da Água e A Equipe Técnica
Foto: Rui Faquini/Banco de Imagens ANA

Mapa: Arquivo IBGE

Regiões Hidrográficas
Amazônia
Tocantins/Araguaia
Atlântico Nordeste Ocidental
Parnaíba
Atlântico Nordeste Oriental
São Francisco
Atlântico Leste
Atlântico Sudeste
Atlântico Sul
Paraguai
Paraná
Uruguai

Figura 1. Regiões Hidrográficas do Brasil


1 Os vídeos na íntegra deste seminário estão disponíveis no site do IPEA link: < http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_conten-
t&view=article&id=32345&Itemid=7>

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

O Projeto da Parceria ANA/IPEA/PNUD/IPC-IG


Visando apoiar os trabalhos da Comissão de uma rede de pesquisa sobre o tema, envolvendo
Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento consultores, acadêmicos, gestores e outros profissio-
Sustentável com relação ao ODS 6 (água e sane- nais na área.
amento), as quatro instituições partícipes deste Os estudos fundamentam-se em três pilares que
projeto firmaram parceria para promover estudos agrupam conteúdos e delineiam as metodologias de
sobre os desafios na gestão da água no Brasil e cada etapa dos estudos. O ponto de partida é um am-
para fazer proposta de estratégia de arranjo insti- plo conjunto de contribuições de pesquisas e debates
tucional que aponte diretrizes para a implantação e recentes em torno da gestão da água e do saneamento
o monitoramento deste ODS, relativamente à água no Brasil, tanto no setor público quanto na academia
e ao saneamento no País. e no setor privado. É também de grande interesse do
O Projeto conta com uma dezena de pesquisa- projeto o estudo de experiências de gestão da água no
dores sêniores do Ipea e do IPC-IG, além de coorde- Brasil, tanto em projetos piloto quanto em iniciativas
nadores pela ANA, sendo esperada a consolidação mais estruturadas.

Foto: Rui Faquini/Banco de Imagens ANA Foto: Zig Koch / Banco de Imagens ANA

Descrição e análise dos elementos essenciais de sucesso e de entraves em


PILAR 1

experiências de gestão da água no Brasil e em outros países. Este pilar


abordará os usos setoriais da água por setor produtivo (saneamento,
agricultura, indústria, energia) tendo em vista os desafios, lacunas e
entraves técnico-operacionais e institucionais.

Formulação de proposições para o aprimoramento da ação


PILAR 2

estatal (iniciativas e políticas) a partir dos instrumentos de


gestão da água e do saneamento. O pilar contemplará medidas
estratégicas para ações de implementação do ODS 6 e para a
disseminação das boas práticas.

Elaboração de proposta de estrutura de implementação e


monitoramento do ODS 6, destacando os componentes político-
PILAR 3

institucional, financeiro e técnico-operacional. Este pilar deverá


tratar da adequação de normas, políticas e instrumentos com
vistas à gestão intersetorial, no contexto de gestão integrada
da água, do saneamento e do meio ambiente.

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Construindo uma Estratégia para a Implementação


dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 6
(Água e Saneamento) no Brasil
A escassez de água já se materializa como um 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
dos principais desafios da humanidade no Século 21. Durante a implementação dos ODM o Brasil
As maiores metrópoles encontram-se na iminência de avançou no acesso à agua potável. Porém, permane-
enfrentar uma crise de água sem precedentes, mais ceu um déficit, principalmente, na coleta e tratamento
graves do que a ocorrida em 2014 e 2015. Tal cenário dos esgotos domésticos. Dificuldades de financia-
tem levado os organismos e instâncias deliberativas mento em resposta ao crescimento populacional e ao
das Nações Unidas a se posicionarem mais intensa- processo de urbanização nos últimos 50 anos estão
mente sobre o tema. entre as principais causas do déficit. Cerca de 90% da
O Brasil é um país privilegiado no que se refere população urbana tem acesso à água potável e 50%
ao volume de recursos hídricos, aparecendo nas esta- tem coleta de esgoto, considerando todas as moda-
tísticas como detentor de cerca de 12% da água doce lidades deste serviço. Destacam-se desafios como o
superficial do Planeta. Todavia, a disponibilidade de elevado percentual de perdas (cerca de 40%) nos
água no território nacional não é uniforme, cerca de sistemas de distribuição de água e a baixa integração
68% desta água concentra-se na Região Norte onde intersetorial na gestão da água e do saneamento.
vive 7% da população e apenas 13% encontra-se na No tocante à gestão da água e sua relação com
Região Sudeste onde reside 58% dos brasileiros. A as metas do ODS 6, cabe registrar que, além dos
oferta de água reflete esses contrastes e assimetrias conflitos entre os múltiplos usos e das dificuldades
também associados ao processo de desenvolvimento técnico-operacionais e institucionais, somam-se as
nacional bem como às desigualdades sociais e regio- variações e mudanças do clima, as quais vêm agra-
nais dele resultantes. vando a situação e aumentando os desafios da gestão.
O País tem se apresentado de forma ativa e Persistem desafios tanto relacionados à atuação do
influente em tratados internacionais sobre meio am- Estado (na regulação, financiamento, planejamento e
biente e sustentabilidade. São exemplos os acordos execução de políticas e programas de maneira mais
sobre o clima e a pactuação dos Objetivos do Desen- integrada) quanto na mediação de conflitos entre
volvimento do Milênio (ODM). Tal posicionamento os usos na agricultura, indústria, turismo, energia,
tem se firmado na adesão à Agenda 2030 e aos seus transporte e saneamento/saúde, entre outros.
Foto: Paulo Rovena Rosa/Agência Brasil

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Reflexos da fragilidade de integração entre políti- (SISNAMA) e do Sistema Nacional de Gerenciamento


cas públicas ocorrem de diversas maneiras, resultando de Recursos Hídricos (SINGREH), assim como dos
em dificuldades de conter a degradação de ecossiste- comitês de bacias hidrográficas (CBH).
mas, áreas de proteção, encostas e nascentes, com Dessa forma, a adesão à Agenda 2030, a partir
consequentes impactos negativos sobre a quantidade de um da perspectiva do envolvimento dos colegiados
e qualidade dos recursos hídricos. Importantes ele- ambientais e de recursos hídricos, o compartilhamento
mentos estruturantes e instrumentos que possibilitam de informações, saberes e tecnologias, no horizonte de
o diálogo entre gestão ambiental integrada com a da longo prazo, é fundamental para gerar externalidades
gestão da água estão presentes na legislação brasilei- positivas sobre os ativos ambientais e é a base moti-
ra. No entanto, uma das questões sobre as quais este vacional da parceria entre a ANA, o IPEA, o PNUD e
projeto pretende se debruçar é sobre a necessidade de o IPC-IG. O principal resultado esperado é a propo-
avanços na implementação coordenada das políticas sição de diretrizes sobre possíveis formas, processos
ambiental e de recursos hídricos. No Brasil, atribui- e atribuição de responsabilidades na implementação
ções nesse sentido são de responsabilidade tanto de e monitoramento de ações que contribuam para o
órgãos executores das políticas quanto de instâncias atingimento do ODS 6 e suas metas, relacionados à
colegiadas do Sistema Nacional de Meio Ambiente gestão da água e do saneamento no Brasil.

Gestão da Água e do Saneamento no Brasil


Foto: Eraldo Peres/Arquivo ANA
A implementação de mo- dade Ambiental do Ministério
delos de gestão de recursos do Meio Ambiente (SRHQ/
hídricos no Brasil não é re- MMA) formular e subsidiar a
cente, remontando à década Política Nacional de Recursos
de 1930 dispositivos sobre a Hídricos e subsidiar a formu-
matéria. Mais recentemente, lação do Orçamento Geral da
especialmente após a Cons- União (OGU). A ANA, criada
tituição Federal de 1988 e a pela Lei 9.984 de 17 de ju-
Conferência das Nações Uni- lho de 2000, que passou a
das sobre o Meio Ambiente e integrar o Sistema Nacional
o Desenvolvimento (Rio 92), de Gerenciamento de Recur-
a ambiência político-social sos Hídricos (SINGREH), tem
favoreceu a instituição da entre suas atribuições imple-
Política Nacional de Recursos mentar a Política Nacional
Hídricos, em 1997, com uma de Recursos Hídricos, super-
abordagem de governança visionar a implementação do
mais adequada ao trato com Plano Nacional de Recursos
os recursos ambientais e re- Hídricos (PNRH), outorgar e
conhecidos avanços alcança- fiscalizar o uso de recursos
dos na gestão dos recursos hídricos de domínio da União.
hídricos. A Lei 9.433, de 8 Já os órgãos gestores de recur-
de janeiro de 1997, também sos hídricos estaduais devem
chamada de Lei das Águas, outorgar e fiscalizar o uso de
reconhece que os recursos recursos hídricos de domínio
hídricos são limitados e se dos estados.
constituem em um bem de domínio público, devendo O SINGREH2 é composto por conselhos, comi-
ser descentralizada e participativa a sua gestão. tês, Agência Nacional de Águas, agências de bacia e
Cabe à Secretaria de Recursos Hídricos e Quali- por órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do

2 Mais detalhes sobre o SINGREH acesse o site do MMA: http://www.mma.gov.br/agua/recursos-hidricos/sistema-nacional-de-gerenciamento-


-de-recursos-hidricos

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Distrito Federal e municipais cujas competências se comitês de bacia cabem a aprovação do Plano de
relacionem com a gestão de recursos hídricos (Figura Recursos Hídricos da Bacia e deliberações sobre a
2). Os conselhos (CNRH, CERH) têm a função de sub- cobrança e prioridades de uso da água na sua região.
sidiar a formulação da Política de Recursos Hídricos, Atualmente existem cerca de 211 comitês de bacias
dirimir conflitos nos corpos de água das respectivas estaduais instalados. Estes contam com a participação
dominialidades e aprovar o Plano Nacional de Recur- do poder público, do setor privado e da sociedade.
sos Hídricos (CNRH) ou os Planos Estaduais (CERH). Na estrutura de governança do SINGREH cabe
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos foi destaque para os comitês de bacia hidrográfica, que
instalado em 1998 e, atualmente, todas as 27 Uni- podem se constituir em importantes espaços para a
dades da Federação possuem seus Conselhos. Aos internalização e implementação da Agenda 2030.

Matriz e funcionamento do SINGREH


Núcleo de Núcleo de Implementação
Formulação da Política dos Instrumentos de Política

Organismos Colegiados Poder Outorgante


l CNRH l ANA
l COMITÊ DE BACIA
Âmbito
Nacional Administração Direta Entidade da Bacia
l MMA/SRHQ l AGÊNCIA DE BACIA

Organismos Colegiados Poder Outorgante


l CERH l ENTIDADES ESTADUAIS
l COMITÊ DE BACIA
Âmbito
Estadual Administração Direta Entidade da Bacia
l SECRETARIA DE ESTADO l AGÊNCIA DE BACIA

Figura 2 - Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos - SINGREH.


Adaptado de Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Agência Nacional de Águas (ANA)

O Plano Nacional de Recursos Hídricos tem respectivos orçamentos anuais. A primeira revisão
como objetivo principal definir diretrizes e políticas foi concluída em 2011 (Plano Nacional de Recursos
públicas para a melhoria da oferta de água, em Hídricos: Prioridades 2012-2015) e a segunda revisão
quantidade e qualidade, gerenciando as demandas (2016-2020) encontra-se em fase final de elaboração.
e considerando a água um elemento estruturante Com relação ao saneamento, a Lei 11.445/2011
para a implementação de políticas sob a ótica do estabeleceu diretrizes nacionais para a política federal
desenvolvimento sustentável e da inclusão social. O de saneamento básico e estabeleceu o Plano Nacional
PNRH é um dos planos previstos na Lei 9.433 de de Saneamento, regulamentado por meio do Decreto
1997, e sua primeira versão foi aprovada pelo CNRH nº 8.141/2013. Após versões preliminares, entre
em 2006, cumprindo o compromisso estabelecido no 2008 e 2010, o Plano Nacional de Saneamento Bá-
Plano de Implementação da Cúpula Mundial sobre sico (PLANSAB) foi aprovado por meio da Portaria nº
Desenvolvimento Sustentável de Johannesburgo, 171, de 09 de abril de 2014, a qual apresenta metas
sendo o Brasil o primeiro País da América Latina a de acesso à água e saneamento até 2033. Atualmen-
aprovar um plano deste tipo. Como se trata de um te, encontra-se em discussão a alteração no marco
processo de planejamento com edições periódicas, sua regulatório do saneamento no País, inclusive com a
revisão se dá a cada quatro anos, a fim de nortear os possibilidade de permitir uma maior participação do
Planos Plurianuais Federal, Estaduais e Distrital e seus setor privado nos serviços de água e esgoto.

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

A Agenda 2030 e os Desafios


para a Governança da Água no Brasil
A Agenda 2030 representa uma oportunidade
de alinhamento dos programas federais, estaduais
e municipais e das ações das entidades de fomento
e financiamento às metas dos ODS, de acordo com
a CNODS. No caso do ODS 6, diversos desafios se
apresentam como, por exemplo, a necessidade de se
colocar a água em uma agenda política estratégica
do Brasil. Tendo em conta as dimensões do País,
sua efetiva implementação no território pressupõe o A criação de uma cultura de respeito e valoriza-
estabelecimento de redes de cooperação, articulação e ção da água envolve ações de educação que permita
mobilização de atores, nas diversas esferas de governo estimular a cidadania e o uso responsável. Pressupõe
e na sociedade civil. respeitar diferenças culturais e questões transversais.
Nesse sentido, a Agenda 2030 é mais uma Nessa linha há casos exitosos de recuperação de
oportunidade de fortalecer a implementação de ações mananciais utilizando o princípio do pagamento por
sustentáveis e integradas no território, inclusive a con- serviços ambientais, como o Programa Produtor de
servação dos recursos hídricos. Iniciativas em prol da Água, da ANA (Figura 3).
implementação dos ODS, com sua lógica integradora,
começam a surgir. Figura 3 - Programa Produtor de Água – Gestão da Água e
Outra oportunidade para a Agenda 2030 é Pagamento por Serviço Ambiental (PSA).
ampliar a implementação de ações integradas para
a gestão da água e do saneamento. Nesse sentido, a
articulação do Plano Nacional de Recursos Hídricos
com o Plano Nacional de Saneamento Básico, o Plano
Nacional de Resíduos Sólidos, o Plano Nacional de
Irrigação e o Plano Nacional de Mudanças Climáti-
cas é uma condição essencial. Tal articulação pode
impulsionar o monitoramento da quantidade e da
qualidade da água, do consumo setorial, facilitando
o planejamento e a fiscalização.
Para tanto, o fortalecimento técnico e operacional
dos estados e municípios é essencial, particularmente
no que diz respeito à governança da água e do sanea-
mento. Por isso é importante estudar a contribuição
de experiências como a do Programa Progestão, da Foto: Eraldo Peres/Arquivo ANA

ANA, que apoia a estruturação dos órgãos gestores


estaduais. No mesmo sentido, há outras importantes
iniciativas da ANA, dos ministérios como o do Meio
Ambiente, da Saúde e das Cidades, que apoiam mu-
nicípios e empresas de saneamento na melhoria de
ações de gestão, planejamento e captação de recur-
sos. O desafio, neste conjunto de casos, passa a ser o
de ampliar as formas de financiamento para replicar
e dar escala a essas e a outras iniciativas. Um dos
instrumentos para tanto, que aguarda consenso para
ser ampliado, já previsto na legislação, é a aplicação
do princípio poluidor-pagador e o pagamento por
serviços ambientais.

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

A Agenda ODS como Oportunidade


de Não Deixar Ninguém para Trás
A gestão integrada de recursos hídricos tem como das mulheres e de outros grupos vulneráveis como
um de seus pilares o princípio da equidade social. No crianças, indígenas, idosos, entre outros, uma vez que
bojo dos esforços para a construção de uma gestão o acesso aos serviços de água e saneamento aumen-
mais inclusiva e que, de fato, não deixe ninguém tam a capacidade adaptativa desses grupos sociais.
para trás, como estabelece a Agenda 2030, diversos Iniciativas nesse sentido alcançam famílias e comu-
temas transversais têm emergido como condição ne- nidades, constituindo-se em vetores estratégicos do
cessária para se alcançar uma gestão mais efetiva e desenvolvimento, ao enfrentar determinantes materiais
democrática. Entre estes temas destacam-se as ques- e estruturais que reproduzem as desigualdades sociais.
tões de gênero, juventude, populações tradicionais, A interface entre o ODS 5 - Igualdade de Gênero3
integridade na gestão da água, mudanças climáticas e o 6 - Água e Saneamento (Figura 4) está explici-
e questões regionais. tada na Meta 6.2 - “Até 2030, alcançar o acesso a
No caso específico de questões relacionadas à saneamento e higiene adequados e equitativos para
gênero, o Relator Especial das Nações Unidas sobre todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com
o Direito Humano à Água Potável e ao Esgotamento especial atenção para as necessidades das mulheres
Sanitário, Léo Heller, ressalta a necessidade de uma e meninas e daqueles em situação de vulnerabilida-
“abordagem transformadora como pré-requisito para de” -, ratificando evidências de que os problemas de
atingir enfim a igualdade de gênero na fruição dos acesso, qualidade e quantidade da água afetam mais
direitos humanos à água e ao esgotamento sanitário”. fortemente as parcelas da sociedade em situação de
São destacadas, também, as necessidades específicas vulnerabilidade.

15%

Figura 4 – Interface entre Água e Gênero Fonte: (BID, 2016).

Instituindo Caminhos: Avanços


e Desafios para os ODS no Brasil
A edição do Decreto 8.892/2016, que institui da Secretaria de Governo da Presidência da República,
a Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvol- para a articulação, a mobilização e o diálogo com os
vimento Sustentável (CNODS) foi um passo impor- entes federativos e a sociedade civil.
tante para a estruturação da agenda 2030 no País. O Brasil foi o primeiro país da América Latina a
A CNODS tem a finalidade de internalizar, difundir e constituir um arranjo institucional com representação
dar transparência ao processo de implementação da paritária entre governo e sociedade civil dedicado ao
Agenda 2030. Trata-se de uma instância colegiada pa- processo de coordenação de políticas para implemen-
ritária, de natureza consultiva, integrante da estrutura tação da Agenda 2030. Por parte do governo, há o

3 Para mais informações sobre relações sobre água e gênero acesse: https://publications.iadb.org/handle/11319/7700

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

protagonismo da Secretaria de Governo, da Casa Civil está prevista no Decreto que criou a CNODS e estão
e do Itamaraty. O assessoramento técnico da CNODS sendo pensadas para serem espaços de discussão
está sob a responsabilidade do IPEA e do IBGE (Ins- sobre os diversos temas ou objetivos. A coordena-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística). ção das câmaras será paritária entre poder público
A primeira versão do plano de ação da Comis- e sociedade civil. A composição das instituições
são foca na governança para implantação dos ODS, participantes de cada câmara ainda está sendo
delineando a arquitetura institucional necessária discutida. Recentemente o governo anunciou que
para sua efetivação. São previstas ações para mobi- criará a primeira câmara, a de Parcerias e Meios
lizar os atores-chave e para realizar os arranjos ins- de Implementação.
titucionais e legais para viabilização das parcerias A Figura 5 ilustra o arranjo institucional da
estratégicas. A constituição de câmaras temáticas CNODS em sua primeira composição.

Figura 5 - Arranjo institucional da CNODS Fonte: Comissão Nacional dos ODS (Brasil, 2017)4

Dentre as competências da CNODS, desta- da articulação com órgãos e entidades públicas


cam-se: I – elaboração do plano de ação para das unidades federativas para a disseminação e
implementação da Agenda 2030; II – proposição a implementação dos ODS nos níveis estadual,
de estratégias, instrumentos, ações e programas distrital e municipal.
para a implementação dos ODS; III – acompanha- O fato de o Brasil ter criado um arranjo institu-
mento e monitoramento do desenvolvimento dos cional para consecução dos ODS por meio de instru-
ODS e elaboração de relatórios periódicos; IV – mento específico de coordenação de políticas ligado
elaboração de subsídios para discussões sobre o diretamente à Presidência da República pode oferecer
desenvolvimento sustentável em fóruns nacionais condições favoráveis para a implementação dos ODS.
e internacionais; V - identificação, sistematização Todavia, os desafios de uma ação governamental des-
e divulgação de boas práticas e iniciativas que co- sa envergadura são muitos e diversos ajustes serão
laborem para o alcance dos ODS; e VI - promoção necessários ao longo do caminho.

4 Ver detalhes em: http://www4.planalto.gov.br/ods

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Sinais da Adesão Institucional


A adesão institucional à plataforma dos ODS No âmbito do Poder Executivo, nas entidades da
tem obtido relevante ascendência no País. A Agenda área de água e saneamento, o movimento em torno
2030 tem sido recebida como fonte de esperança e do ODS 6 encontra-se em estágio inicial. Merecem
possíveis compromissos, desde os núcleos da aca- destaque iniciativas da CNODS, do Ministério do Meio
demia aos distintos níveis de governo e de organi- Ambiente (MMA), do Ministério da Saúde (MS), do
zações da sociedade. Os ODS trazem a ideia-guia Ministério de Relações Exteriores (MRE), bem como
de oportunidade para ações planejadas, impulso à de suas autarquias e agências vinculadas5. Entre os
sustentabilidade, incentivo à participação social e órgãos de controle, o Tribunal de Contas da União
instrumento de cobrança aos atores políticos (Figura (TCU), a Controladoria Geral da União (CGU) e o
6). Nesse sentido, cabe mencionar iniciativas por Ministério Público Federal (MPF) contam com inicia-
parte de entidades ligadas, principalmente, às pre- tivas referentes aos ODS. Entre as agências da área
feituras, tais como a Federação Nacional de Prefeitos ambiental, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
(FNP), a Associação Brasileira de Municípios (ABM), Recursos Renováveis (IBAMA) e a ANA iniciaram a
a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e o Movimento agenda com eventos e ações de divulgação e interna-
Nacional ODS - Nós Podemos (MNODS). lização do tema, também em estágio inicial.

Figura 6 - Plano de Ação 2017-2019 - CNODS

5 Para mais informações ver iniciativas como o Plano Nacional dos ODS, da CNODS em: http://www4.planalto.gov.br/ods.

12
Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Primeiros Passos do Projeto:


Subsídios do Seminário ODS 6
Fotos: Arquivo IPEA
O seminário “Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável e os Desafios para a Gestão de Águas
e do Saneamento no Brasil” reuniu em Brasília, em
01/02/2018, renomados especialistas e represen-
tantes da academia, representantes ativos do setor
produtivo (agricultura, indústria e saneamento), de
órgãos governamentais e de entidades da sociedade
civil, como comitês de bacia e organizações não
governamentais (ONG) que atuam fortemente no
setor. O Seminário contou com a presença de em
torno de 160 participantes e teve como objetivo
reunir contribuições dos atores-chave envolvidos
com os temas água e saneamento relacionados à
implementação do ODS 6.
Com painéis organizados de forma a con-
templar as oito metas do ODS 6, agrupando-os os desafios apontados, as experiências importantes
conforme a proximidade temática, o Seminário tendo em vista o ODS 6, as lacunas existentes nas
trouxe importantes subsídios para a continuidade políticas públicas, as sugestões de medidas segundo
dos trabalhos. No relato a seguir procurou-se reunir as visões dos palestrantes e perguntas e sugestões
tais contribuições, painel a painel, destacando-se para a continuidade dos estudos6.

6 As falas foram resumidas pela equipe técnica e as gravações na íntegra estão disponíveis em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?op-
tion=com_content&view=article&id=32345&Itemid=7

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Painel 1

Acesso à Água Potável e ao Esgotamento Sanitário


(Metas 6.1 e 6.2)
Foto: Arquivo IPEA

Marcelo de Paula Lellis. Secretaria Nacional de federal não tem perspectivas de conseguir atingir as
Saneamento do Ministério das Cidades (MCid). metas de universalização de saneamento básico para
O Ministério das Cidades trabalha com um es- 2030, como prevê o ODS 6. As metas do PLANSAB
copo abrangente de saneamento, seguindo o Plano continuam como referência.
Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB). O Plano
é dinâmico, estando atualmente em revisão, e trata do Sugestões apontadas:
abastecimento de água, coleta, transporte e tratamento l reduzir discrepâncias regionais no atendimento
de esgotos, manejo de resíduos sólidos e manejo de de água e de esgotos, reduzindo a carência nas áreas
águas pluviais. O PLANSAB apresenta metas de curto rurais e nas regiões Norte e Nordeste;
(2018), médio (2023) e longo prazo (2033)7, apesar l aprimorar a gestão e o planejamento do se-
destas apresentarem convergência com o ODS 6, não tor saneamento, referenciado no PLANSAB e na
são suficientes para o seu cumprimento integral, prin- participação da sociedade nas questões da água
cipalmente em relação às condições de saneamento de e saneamento;
áreas urbanas e rurais. Um dos objetivos deste plano é l dar continuidade ao aperfeiçoamento do Sistema
garantir a sustentabilidade financeira dos prestadores Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS)
de serviço público de saneamento, a fim de garantir a e do Sistema Nacional de Informações Sobre Sanea-
ampliação de investimentos e a qualidade dos serviços, mento Básico (SINISA).
prevendo inclusive revisões tarifárias. l tornar efetivos os planos municipais de sa-
Segundo o palestrante, em razão dos grandes neamento, necessitando para isso a qualificação e
desafios do setor, há o entendimento de que o governo estruturação técnica e institucional dos municípios.

7 Para conhecer todas as metas do PLANSAB acesse: http://www.cidades.gov.br/saneamento-cidades/plansab/89-secretaria-nacional-de-sane-


amento/3297-6-metas-de-curto-medio-e-longo-prazos

14
Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Tabela 1 – Metas do PLANSAB para abastecimento de água e esgoto.


Meta de Médio Prazo Meta de Longo
Indicadores (PLANSAB) Âmbito Situação em (2010) (2023) Prazo (2033)
Urbanos e
Domicílios por rede de 90% 95% 99%
Rurais
distribuição ou por poço ou Urbanos 95% 100% 100%
nascente com canalização interna
Rurais 61% 71% 80%
Índice de Perdas Brasil 39% 34% 31%
na distribuição de águas
Urbanos e 67% 81% 92%
Domicílios servidos por rede Rurais
coletora ou fossa séptica para os Urbanos 75% 85% 93%
excretas ou esgotos sanitários
Rurais 17% 46% 69%
Tratamento de Esgoto Brasil 53% 77% 93%
Sanitário Coletado
Fonte: Adaptado de Brasil (2015). Elaborada pela equipe do projeto

Édison Carlos - Presidente do Instituto Trata Tal situação se explica por diversos fatores como a
Brasil. ausência de fiscalização federal, a baixa capacidade
Segundo o painelista, as estatísticas oficiais técnica dos municípios ou mesmo por falta de recursos
são imprecisas, pois são obtidas através das in- financeiros. Há necessidade de uma revisão no mar-
formações fornecidas pelas companhias, que não co regulatório para promover condições adequadas
são auditadas e tão pouco avaliam a qualidade para melhorias no setor saneamento. A prestação de
do tratamento de efluentes domésticos. Metade serviço tem que ser eficiente, não importando se é
da população brasileira não tem acesso a esgo- realizada por empresa pública ou privada.
tamento sanitário e o padrão de esgotamento das
residências atendidas por fossas sépticas é muito Sugestões apontadas:
baixo. Há barreiras burocráticas para viabilizar os l aperfeiçoar o SNIS como sistema de dados e
projetos e não existem garantias de investimentos informações de saneamento no País, cobrando infor-
federais ou recursos financeiros no longo prazo ou mações mais precisas e confiáveis – com necessidade
de continuidade de recursos, além de entraves fi- de se chegar a um acordo sobre metodologias;
nanceiros gerados pelo marco regulatório inadequa- l aprimorar a comunicação sobre água e sane-
do. É necessário mudar a abordagem no setor, com amento, pois as pessoas não conhecem o sistema
entendimentos entre municípios e União. Houve água/saneamento;
pouco avanço desde a aprovação da Lei Nacional l cobrar os municípios que não fizeram os Planos
do Saneamento Básico, há 10 anos. Municipais de Saneamento e premiar aqueles que
Os Planos Municipais de Saneamento também os fizeram, incluindo uma força tarefa técnica para
não representaram avanços por haver muitos municí- apoiar os pequenos;
pios que sequer os elaboraram; aqueles que o fazem, l incentivar mais fortemente a adoção de tecno-
dificilmente ou nunca fazem a revisão periódica esta- logias e a gestão eficiente, não importando o debate
belecida, assim sendo o número de municípios com de quem é o titular de concessões (municípios ou
planos efetivamente implementados é muito baixo. estados).

O Governo Federal precisa encontrar uma saída técnica para


apoiar os municípios. Se a gente olhar para o interior do Brasil, os prefeitos
não têm a menor ideia de como sair da situação em que eles estão. As empresas
estaduais não têm condições de tratar 1200 cidades pequenininhas com o
recurso que eles recebem das capitais

Édison Carlos

15
Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Figura 7 – Índice de atendimento urbano por rede Figura 8 – índice de atendimento urbano por rede coletora de
de água dos municípios participantes do SNIS em 2015, por esgotos dos municípios participantes do SNIS 2015, por faixas
faixas percentuais e segundo município (MCid, 2017). percentuais e segundo município (MCid, 2017).
(Adicionado pela equipe do projeto) (Adicionado pela equipe do projeto)

Roberto Cavalcanti Tavares. Presidente da As- centralizar ações de planejamento e regulação em


sociação Brasileira das Empresas de Saneamento unidades de administrativas maiores (bacia ou regio-
(AESBE) e Presidente da Companhia Pernambucana nais). A falta de estruturação deste setor resulta em
de Saneamento (Compesa). grande discrepância de capacitação técnica entre os
O setor de saneamento é o segundo mais municípios, resultando em baixa qualidade dos pla-
desorganizado do Brasil, segundo estudo da Con- nos de saneamento municipais, especialmente nos
federação Nacional da Indústria (CNI), em parte municípios mais carentes e que mais necessitam de
devido ao marco regulatório. Urge uma melhora melhorias.
institucional para abordar os problemas setoriais,
que são caracterizados, principalmente, pela falta Outras recomendações:
de conhecimento da dinâmica e da real situação l rediscutir e reorganizar o setor desde o marco
do setor, que levam a entraves intrarregionais e regulatório até as unidades de organização adminis-
em regiões metropolitanas. A participação do setor trativa;
privado deve ser discutida, mas sem prejudicar as l discutir a legislação ambiental e a necessidade
companhias estaduais. de licenciamento para o saneamento;
A revisão do marco regulatório proposta pelo l estudar o saneamento e seus desafios necessa-
governo retira o subsídio cruzado e permite que em- riamente em toda a cadeia produtiva;
presas privadas escolham qual a parte do mercado l gerenciar e coordenar mais sistematicamente os
quer atender. Tal fato representa uma ameaça aos sistemas de monitoramento de dados de qualidade
municípios pouco atrativos podendo resultar em uma de água;
escalada nas tarifas destes serviços. Há excesso de l estudar/replicar na pesquisa os seguintes
agências reguladoras no setor, criando insegurança exemplos: em Pernambuco, Compesa, utilização do
jurídica e falta de clareza nas regras do saneamen- sistema de drenagem como reder coletora de esgoto.
to. Esta situação resulta em excesso de burocracia, Internacionais: Cidade do Porto – canalização apro-
que, por sua vez, inibe a inovação, sendo importante veitando redes de drenagem;3) Bogotá – controle da

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

poluição por meio de pagamento;4) Nova York - uso lógicas permitem utilizar a rede de drenagem para
da rede de drenagem para coleta de esgoto;5) Santa escoar águas residuárias como alternativa aos sistema
Cruz do Capiberibe, cujas condições hidro-meteoro- separador absoluto.

A AESBE defende a proposta de Medida Provisória (MP)8 que revisa o Marco


Regulatório do Saneamento, mas é contrária a medidas, como o artigo 10-A da minuta de MP,
que induzem a concorrência na prestação de serviços apenas em municípios superavitários.
Os deficitários ficariam a cargo dos municípios e estados, desestruturando setor. O setor
privado é bem-vindo, mas não pulverizado; sua participação deve ser discutida, a fim
de evitar que os municípios pouco atrativos fiquem sem atendimento. Sem os devidos cuidados
pode haver uma escalada nas tarifas

Roberto Cavalcanti Tavares

Teófilo Monteiro - Coordenador da Equipe Téc- gerenciamento in situ e gestão adequada para esta
nica Regional de Água e Saneamento, Organização tecnologia. No contexto da América Latina o sistema
Pan-Americana da Saúde (OPAS)/ Organização Mun- de regulação de qualidade de água no meio urbano e o
dial da Saúde (OMS). sistema de monitoramento brasileiros são considerados
Há um esforço entre os países membros para um modelo para a região. Entretanto, falta adequação
atendimento das metas regionais, incluindo melhoria de parâmetros, a exemplo de indicadores microbioló-
do acesso e da qualidade dos serviços, visto que atu- gicos e químicos da água e as condições em que a
almente existe uma deficiência de acesso aos serviços fossa séptica é considerada tratamento. Isso tem feito
de saneamento na região de atuação da OPAS. São com que o Brasil apareça sem dados em relatórios do
aproximadamente 18 milhões de pessoas sem acesso sistema Organização Mundial da Saúde (OMS).
aos serviços nas Américas, 4 milhões somente no
Brasil. A população rural não só é a mais carente O panelista apontou a necessidade de avanços nos
de serviços como também de dados. Os desafios no seguintes temas:
saneamento rural incluem também a superação da l adequar o monitoramento da qualidade da água
falta de dados de qualidade de água e a gestão do no meio rural;
esgoto e lodo de fossas sépticas. l adequar os parâmetros microbiológicos e quí-
A escala de gestão e regulação (local, regional micos da qualidade da água;
e nacional) também é um desafio ao gerenciamento, l centralizar a disponibilização de dados para
já que no Brasil há falta de centralização, fator apon- facilitar a difusão;
tado como causa da falta de dados. Uma alternativa l aprimorar e padronizar a definição de sistemas
para as regiões atendidas por fossas sépticas seria o de tratamento de esgotos.

São aproximadamente 18 milhões de pessoas sem acesso aos serviços


nas Américas, 4 milhões somente no Brasil. A população rural não só é a mais
carente de serviços como também de dados. Os desafios no saneamento rural
incluem também a superação da falta de dados

Teófilo Monteiro

8 Observação: O artigo 10-A da proposta de Medida Provisória obriga os municípios a abrir chamamento público quando ocorrer a renovação
dos contratos com as empresas estaduais de saneamento. Pelas regras atuais a renovação do contrato do município com a empresa estadual
pode ser automática, sem necessidade de chamamento público .

17
Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Painel 2

Qualidade da Água, Proteção e


Restauração de Ecossistemas (Metas 6.3 e 6.6)
Foto: Arquivo IPEA

Bráulio Ferreira de Souza Dias - Professor do Propostas apontadas:


Departamento de Ecologia UnB l Efetivar uma articulação intersetorial para im-
Os distintos biomas, sem exceção, apresentam de- plementação dos ODS;
ficiências de proteção e de medidas efetivas capazes de l Criar um programa nacional de proteção e recu-
conciliar a produção econômica com a dinâmica própria
peração de recursos hídricos (semelhante ao Programa
dos ecossistemas, que sofrem com a continuidade do
desmatamento. Os serviços ecossistêmicos em torno do de Pagamento por Serviços Ambientais, mas em maior
ciclo hidrológico devem ser reconhecidos nos processos escala), com metas decenais;
de interceptação da chuva, na recarga de lençol freático l Aprimorar os instrumentos econômicos de in-
e aquíferos, na manutenção da perenidade dos rios, no centivo, com mecanismos para manter as florestas em
tamponamento de eventos extremos, na redução da taxa pé de forma economicamente vantajosa;
de erosão do solo, na evapotranspiração e na redução de l Apoiar centros de excelência acadêmica em
riscos de desastres ambientais. Áreas florestais plantadas modelagem de ecossistemas e recursos hídricos,
com manejo adequado podem também fornecer serviços
integrando formas de monitoramento existentes e
ecossistêmicos.
adotando a bacia hidrográfica como referência;
A falta de articulação intersetorial e a au-
sência da gestão integrada água-meio ambiente l Aproveitar a experiência internacional de ela-
são fatores críticos, diante da nulidade na co- boração e monitoramento por indicadores e melhorar
ordenação de políticas intersetorialmente. Nes- as metodologias e os indicadores de avaliação de
te cenário a Agenda 2030 é uma esperança. políticas públicas.

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

A população não sabe de onde vem a água que consome. O sistema político
não debate temas relacionados à gestão da água e ecossistemas. Como fazer
para que os políticos tenham outra postura?
Bráulio Dias

José Galízia Tundisi – Professor Titular da EESC/ preservados, e entre 50 a 100 reais para se tratar
USP, secretário de sustentabilidade, ciência e tecno- 1000 m³ de água de mananciais poluídos, evidencian-
logia da prefeitura de São Carlos/SP do o custo dos danos aos ecossistemas. A qualidade de
A crescente complexificação das atividades vida deve ser a base das políticas públicas, ancorada
humanas tornou os problemas de qualidade da água no conhecimento e nas gerações futuras.
mais intrincados, saindo de situações “comuns” de
eutrofização para problemas como poluição radioati- Propostas apresentadas:
va, hormônios, químicos, remédios, cosméticos. Tal l Ampliar bancos de dados e promover monito-
condição de degradação de corpos hídricos causa ramento robusto da qualidade da água;
muitos danos à saúde humana e aos ecossistemas. l Criar capacidades de pesquisa em sistemas
Poucos países têm tecnologias capazes de detectar complexos para aprofundar estudos ecossistêmicos
este conjunto de poluentes e de removê-los da água, e desenvolver modelagem envolvendo água, ecossis-
não se conhecendo, de forma definitiva e segura, os temas, economia e outras áreas;
seus impactos. l Criar mosaicos consistentes de vegetação nas
A ausência de sistemas adequados de sanea- bacias hidrográficas para manter a qualidade da água;
mento é o principal componente da deterioração da l Ampliar a integração do monitoramento da qua-
qualidade da água na América do Sul e Central e as lidade da água com o monitoramento da qualidade
mudanças climáticas representam um fator adicional, do ar e o carreamento de poluentes;
afetando o nível de agentes causadores de danos toxi- l Aumentar a medição de fluxos e da qualidade
cológicos. Um elemento central é a preservação dos da água;
mananciais, haja vista que são necessários dois a três l Garantir o acesso à informação, de forma sim-
reais para se tratar 1000 m³ de água de mananciais ples e objetiva para a população e a rede de ensino.
Foto: Arquivo do Projeto

Área de proteção ambiental - Chapada dos Veadeiros (estado de Goiás)

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Foto: Arquivo do Projeto

Área de proteção ambiental e convivência com o turismo

Malu Ribeiro - Coordenadora do projeto Rede Licenciamento Ambiental, prevê a flexibilização do


das Águas - ONG SOS Mata Atlântica licenciamento ambiental e se configura uma ameaça
A mudança do Código Florestal Brasileiro, em ao licenciamento e representa um desserviço ao País,
2012, apesar de toda a mobilização e dos avanços com ameaça de reduzir a exigência de outorga. Além
da Política Nacional de Recursos Hídricos, evidenciou disso, ele desfigura diretrizes para o enquadramento
retrocessos, como o não reconhecimento do papel de corpos hídricos. O lobby do sistema de sanea-
da água e das florestas para os ecossistemas, para mento está prevalecendo ao se definirem as classes
a proteção de mananciais e a redução de riscos am- de enquadramento 2 a 4 - “estão rasgando a Consti-
bientais. “A ciência não foi de fato ouvida”; no País tuição” e a legislação sobre a água e meio ambiente
há experiências “negativas e mais negativas” que se caminha em “marcha a ré”. Os ODS pressupõem
acumulam. transparência, mais ciência e compartilhamento, e
A ideia de tornar a ANA uma agência reguladora mais compromisso.
de saneamento é um erro, pois é contraditória a pos-
sibilidade de um agente de gestão da água ter que re- Propostas apresentadas:
gular um serviço cuja fonte ele monitora e desenvolve l aplicar os princípios do poluidor-pagador, usuá-
ações de gestão e de regulação . O saneamento é uma rio-pagador e logística reversa no setor de saneamento
componente ambiental e não apenas uma atividade l reduzir investimentos na produção que utiliza
econômica geradora de divisas. É importante ter uma agrotóxicos
gestão integrada de resíduos, água e floresta, porém, l concentrar esforços científicos na pesquisa da
há grande resistência do setor de saneamento, assim relação entre florestas e produção de água, para apre-
como o setor do agronegócio. sentar evidências científicas e subsídios às políticas
Falta regulação de mecanismos de valoração da de preservação.
biodiversidade no Brasil. O Projeto de Lei 3.729/2004 l garantir a manutenção dos serviços ecossistê-
(e seus vários apensos), que criaria a Lei Geral do micos associados à produção de água.

É preciso concentrar esforços científicos na pesquisa da relação


entre florestas e produção de água, para apresentar evidências
científicas e subsídios às políticas de preservação.
Malu Ribeiro

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Luciane Teixeira Martins - Presidente Comitê da alcance local e promovem importante integração
Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce) entre escalas local e regional.
O CBH-Doce atua anteriormente ao período da A tragédia causada pelo rompimento da barra-
tragédia de Mariana. Ele se configura um Comitê gem da empresa SAMARCO no município de Mariana/
de integração que envolve outros 12 comitês de rios MG, acarretou sérios problemas de abastecimento.
afluentes (mineiros e capixabas), que trabalham de O derramamento de rejeitos gerou forte desconfiança
forma integrada na implementação dos instrumentos por parte da população em relação à qualidade da
da PNRH, tais como: o Plano da Bacia (meta de água, agravando os desafios de abastecimento. A po-
alcançar 100% dos municípios) e a Cobrança pelo pulação não aceita a água, reclama da qualidade. Há
Uso da Água. O CBH-Doce elaborou, com recursos da inclusive comprovação de contaminantes por estudos
Cobrança, 156 dos 228 planos de saneamento dos de universidades.
municípios inseridos da bacia, sendo que atualmente A palestrante narrou que se tornou certo hábito
oito se encontram em elaboração. Porém, os municípios os entes que fazem parte do SINGREH, como os
não têm capacidade de implementação devido à falta CBHs, gerarem informações que não atravessam os
de equipe técnica. Faltam recursos e continuidade de limites do próprio Sistema, pouco influenciando nas
ações, inclusive na transição de mandatos, mesmo com ações de setores e de outras políticas. Sem a gestão
os planos prontos e com o apoio da agência de bacia integrada resta a questão de “como levar o tema, os
do comitê. Como tirar os planos da gaveta? dados, até a população?”.
O CBH-Doce implementa diversos projetos,
entre eles o Programa Rio Vivo, com mais de seis Desafios destacados:
mil propriedades rurais em comunidades rurais de l enfrentar a descontinuidade de projetos e obras
54 municípios, com ações de proteção de nascen- em razão da baixa capacidade técnica e econômico-
tes, reserva legal e cuidados com sedimentos, pois -financeira dos municípios;
“não adianta cercar nascentes e ir embora”. No l mobilizar esforços dos comitês de bacia e mu-
CBH-Doce os comitês afluentes conversam direta- nicípios para enfrentar o agravamento dos danos às
mente com as prefeituras e produtores rurais, têm águas e ao meio ambiente.

Foto: Zig Koch/Banco de imagens ANA

Foz do Rio Doce (estado do Espírito Santo) - Após derramamento de rejeitos da barragem de Mariana (estado de Minas Gerais)

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Painel 3

Eficiência do Uso da Água (Meta 6.4)


Foto: Arquivo IPEA

Sérgio Brasil Abreu - Analista de infraestrutura áreas. Entretanto, mesmo com grande potencial, há
da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, barreiras que impedem uma maior expansão. Outro
Ministério das Cidades gargalo para o reuso de água no Brasil é a legislação,
O Ministério das Cidades possui diversos proje- que deve ser aprimorada e tornar-se clara. Atualmente
tos, com destaque para “reuso de água” e “controle há como limitar o financiamento para as empresas que
de perdas”, sendo a questão financeira o gargalo para possuem elevados níveis de perdas de água.
a implementação dos projetos. A regulamentação é
ineficiente para o controle de perda de água, e a quan- Existem alguns questionamentos este aspecto:
tidade de água perdida é tarifada e redistribuída na l como deve funcionar a outorga destas águas
tarifa a ser paga pelos consumidores. Para o reuso da de reuso?
água, ainda existe a necessidade de desenvolver mais l os investimentos financeiros serão realizados
ações, sendo o Projeto Aquapolo o principal exemplo pelo governo?
brasileiro e com potencial para ser replicado em outras l o prestador de serviços será o “dono” da água?

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Filipi Augusto Barolo Lopes de Araújo - Gerente nos últimos anos; iv) treinamentos, capacitações,
de Sustentabilidade, AmBev uso de equipamentos e métodos para evitar perdas.
O palestrante apresentou projetos ambientais e Projeto SAVEH - Sistema de Auto-avaliação de Efici-
de sustentabilidade de iniciativa da AmBev, destacan- ência Hídrica, plataforma gratuita e disponível online,
do: i) importância do risco hídrico, tratando a água para ajudar empresas a economizarem água, com
não como custo, mas como valor; ii) parcerias na área informações que auxiliam na eficiência hídrica. No
ambiental devem ser procuradas, pois proporcionam projeto "Água AMA" 100% do lucro das garrafas de
eficiência dos projetos e facilitam projetos de reuso; água vendidas serão revertidos a projetos de acesso
iii) redução em 40% da demanda de água da AmBev à água potável no Semiárido brasileiro.

Fotos: Divulgação Internet

Fernando Gomes da Silva – Diretor do Aquapolo, conhece os riscos, custos e características dos
BRK/SABESP esgotos que recebe, possui consumidores para
O projeto Aquapolo produz água de reuso a água de reuso e está fisicamente próximo ao
do esgoto tratado da Companhia de Saneamento conglomerado de empresas parceira. Embora no
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para ser reuso as empresas não corram o risco de ficarem
utilizada no Polo Petroquímico da Região do Gran- sem água, o que pode até valorizar as empresas no
de ABC, em São Paulo. Trata-se de parceira entre mercado, a exigência de autorizações da prefeitura
a BRK Ambiental, que detêm 51% das ações e a e uma série de procedimentos trazem incertezas
Sabesp, com 49% de participação, sendo o quinto a este mercado.
maior projeto do Planeta em reuso de efluentes.
Trata-se de um ótimo negócio para o Polo Pe- Existem alguns questionamentos neste aspecto:
troquímico do ABC, pois mantém a qualidade e l desenvolver um indicador que demonstre a
a regularidade da água, mesmo em períodos de quantidade de esgoto tratado e reutilizado no Brasil
crise hídrica. Entretanto, por ser a água de reuso como água de reuso;
comprada pelas indústrias, existe um desequilíbrio l desenvolver mecanismos financeiros de merca-
na concorrência com a água tratada e potável, que do que viabilizem mais iniciativas de tratamento de
é mais barata que a água de reuso. Há também esgotos e reuso.
necessidade de regulamentação para a água de l aprimorar a regulação para o reuso, de modo a
reuso após cinco anos do projeto com grande su- reduzir a concorrência de custos com água potável e
cesso, nenhum outro empreendimento nesta área a tornar a legislação mais clara e menos onerosa ao
foi desenvolvido. O Aquapolo possui o domínio, investimento.

23
Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Lineu Neiva Rodrigues - Pesquisador da Em- necessária aprimorar a outorga e a gestão compar-
brapa Cerrados tilhada, com políticas de Estado e não de governos.
Destacou a relação entre a água e a agricultura, A legislação é adequada, mas deve-se fortalecer o
uma vez que em 12 dos 17 ODS há relação com a sistema, devendo o comitê de bacias hidrográficas
segurança alimentar e com água, o que demandará ser o ator central na definição das prioridades de uso
aumento da irrigação. O desafio central é aumentar da água na região.
a eficiência, atualmente em torno de 60%, índice
que pode piorar devido à inexistência de regula- Principais proposições:
mentação e de penalidades para desperdícios . Nos l respeitar a Lei 9433/97 que, em sua plenitude,
empreendimentos, as escolhas não recaem apenas é de elevada qualidade, sendo indicado que a ANA
sobre a eficiência, seja ela econômica ou ambiental, atue apenas na gestão da água, não no saneamento.
de forma isolada. Por isso, a outorga na agricultura l fortalecer a oferta hídrica e não pensar só nos
deve considerar um conjunto de variáveis que pode rios, mas nas bacias hidrográficas e nas águas sub-
ser distinto em cada situação, fazendo com que a terrâneas, sendo essencial a conservação do solo na
compreensão sistêmica e a integração intersetorial manutenção da oferta.
sejam essenciais. Existem muitos estudos isolados l aprimorar as tecnologias atuais de uso na irri-
e que contribuem de maneira fragmentada para o gação, levando em conta a diversidade de realidades
desenvolvimento de pesquisas e tecnologias. Na Ba- locais, devendo-se investir na obtenção de dados
cia Hidrográfica do rio São Marcos (que abrange os confiáveis.
Estados de Goiás, Minas Gerais e o Distrito Federal) l integrar as políticas setoriais com as de sanea-
há conflitos entre governos (estados envolvidos, DF, mento e entender as dificuldades de cada setor, não
União) e entre usos distintos (energia x agricultura). apenas definindo regras gerais para as diferentes
A regra deve ser a de analisar a vocação da bacia, formas de uso da água.
que neste caso é agrícola e que, para manter tal l implantar a gestão compartilhada da água nas
vocação, a Usina Hidrelétrica de Batalha deveria bacias mais críticas, sendo que estas devem ser
ser fechada; pois foi um erro a sua construção. É priorizadas.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O desafio central é
aumentar a eficiência,
atualmente em torno de
60%, índice que pode piorar
devido à inexistência de
regulamentação
e de penalidades para
desperdícios

Lineu Neiva Rodrigues

A palavra é integração, mas o problema é a predição. Existe um pequeno banco de dados,


pouca modelagem e baixa predição. Por exemplo, o sistema financeiro deseja uma predição
maior e melhor para aprovarem financiamentos direcionados para áreas
em função da restrição hídrica

Comentário do professor J. Galízia Tundisi neste painel

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Painel 4

Gestão Integrada de Recursos Hídricos


e Participação da Sociedade (Metas 6.5 e 6.b)
Foto: Arquivo IPEA

Francisco Nunes Correia – Docente no Instituto social. A participação na gestão de recursos hídricos
Superior Técnico da Universidade de Lisboa e ex-mi- deve prezar a transparência no trato dos diferentes
nistro do Ambiente de Portugal. interesses dos diversos atores que interagem no
A boa governança e as instituições são essen- gerenciamento dos recursos hídricos. As caracterís-
ciais para a promoção da gestão de recursos hídricos. ticas citadas, quando bem aplicadas, podem elevar
Porém, é necessário refletir como tais instituições se a boa gestão dos recursos hídricos e o diálogo franco
articulam com a sociedade, como desenvolvem o bom configura-se imprescindível para o gerenciamento
diálogo para o compartilhamento de saberes para a de conflitos.
tomada de decisões. A água tem por característica No Brasil há muitas pessoas engajadas no
a transversalidade, haja vista que permeia toda uma SINGREH. Porém, infelizmente, ainda há uma
malha social e econômica, perpassando desde um atmosfera de desconfiança das instituições públicas,
simples comércio até uma grande indústria; desde algo que deve ser combatido, pois as ações do
uma residência até enormes bacias transfronteiriças, poder público e os anseios da sociedade devem
algo que leva a gestão de recursos hídricos a ter va- ser trabalhados de forma complementar, refletindo
riadas escalas que envolvem um mesmo problema, positivamente na boa gestão dos recursos hídricos. Nos
à vezes com soluções distintas. variados níveis decisórios que há no SINGREH deve-se
Ao falar de governança deve-se enfatizar a prezar o envolvimento da sociedade civil, dos usuários
necessária participação, que se configura como e das entidades públicas na busca por soluções,
um direito humano e necessita, para sua maior sendo que a democracia representativa deve ser uma
efetividade, a ampliação de processos de escuta extensão da democracia participativa e vice-versa.

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

A experiência europeia fundamenta-se na água l a promoção de ações contínuas visando o avanço


como um bem público e no conceito de subsidiarie- e o aperfeiçoamento da política de recursos hídricos
dade e em um forte processo de diálogo na gestão. deve ser perseguida.
Destacou a importância da chamada Diretiva Quadro l A Agência Nacional de Águas deve buscar a
da Água aprovada pela Comunidade Europeia no ano descentralização na gestão de recursos hídricos a fim
2.000 que deu norte para a gestão dos recursos hí- de superar os desafios da dupla dominialidade dos
dricos, estabelecendo variadas metas que os países corpos d´água, algo singular do Brasil num contexto
do bloco deveriam alcançar prezando o “saber fazer” de país federativo.
de cada país e os seus marcos legais e conceituais Foto: Marcelo Camargo/EBC
de gestão e governança. Nesta busca, tem-se como
aspecto central garantir às gerações futuras o acesso
à água em padrões de qualidade e quantidade satisfa-
tórios, algo que deve ser garantido por meio do prezar
da qualidade ecológica, por exemplo.

Recomendações para a boa gestão: a água deve


ser uma prioridade estratégica na agenda política
nacional.
l a integração intersetorial deve ser perseguida a
fim de fortalecer a política de recursos hídricos.
l o fortalecimento da capacidade financeira das
instituições estaduais responsáveis pela gestão de
recursos hídricos deve ser priorizado.
l o fomento à troca de experiência em todos os níveis
deve ser implantado, considerando casos de sucesso e
aqueles nos quais depararam-se com dificuldades.

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) tende a se


aperfeiçoar ao se colocar em prática os pressupostos da participação, algo que leva,
ainda, ao fortalecimento do aspecto democrático da boa gestão

Francisco Nunes Correia

Júlio Thadeu da Silva Kettelhut - Coordenador Bolívia. Reforçou que um dos obstáculos para a reali-
Geral do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos/ zação de ações visando o alcance das metas refere-se
Departamento de Recursos Hídricos/ Secretaria de à falta de recursos financeiros.
Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental do Minis- l definir e limitar o conceito de gestão inte-
tério do Meio Ambiente (SRHQ/MMA). grada de recursos hídricos: integração adminis-
Necessidade de conceituar de forma mais robus- trativa da gestão entre órgãos federais, estaduais
ta o termo integração no âmbito da gestão de recursos e municipais? Integração técnica? Integração de
hídricos, haja vista a abrangência e a diversidade de instrumentos de gestão, como integrar diferentes
olhares e percepções sobre esse tema, envolvendo, planejamentos (planos de bacia, plano estadual e
por exemplo, aspectos administrativos, técnicos, plano federal)?
instrumentais, relacionados ao planejamento, dentre l Considerar que a integração transfronteriça
outros. Definir os limites e o mote dos processos de de recursos hídricos se apresenta um grande desafio
integração no âmbito do SINGREH. Em relação aos principalmente pela dificuldade de obtenção e trans-
ODS, há uma grande diferença a nível mundial, algo ferência de dados;
que eleva a complexidade na busca desses objetivos, Levar em conta que existem dificuldades de aces-
utilizando para exemplificar este olhar, os casos das so aos recursos financeiros aos países da América do
bacias hidrográficas do rio Danúbio e a do Prata que Sul, o que é um grande desafio na gestão de recursos
envolve o Brasil, Uruguai, Paraguai, a Argentina e hídricos transfronteriços;

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Ivens de Oliveira. Diretor administrativo e fi- de monitoramento quali-quantitativa de água e uma


nanceiro da Agência de Águas das bacias dos rios sala de situação.
Piracicaba, Capivari, Jundiaí – PCJ. O fomento a projetos de tratamento de esgoto do-
A bacia hidrográfica dos rios Piracicaba, Capivari méstico realizado no PCJ resultou na melhora significativa
e Jundiaí (PCJ) possui cerca de 15.000 km2, onde dos índices, haja vista que, em 1989, eram tratados cerca
residem aproximadamente 6 milhões de pessoas. Nela de 4% de todo esgoto doméstico produzido na bacia e,
é gerado 5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. atualmente, essa porcentagem chega a 74%. O atendi-
O uso preponderante de água é o abastecimento pú- mento urbano de água tratada no PCJ é de 90% e de
blico (cerca de 50%), seguido pela indústria (30%) e coleta de esgoto também equivale a 90%. Outro exemplo
a agricultura irrigada (18%). Parte das águas da bacia de boa gestão com reflexos para a sociedade refere-se
é destinada, por meio de transposição, ao chamado ao reenquadramento do rio Jundiaí de acordo com a sua
sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento classe de qualidade, que passou de classe 4 para 3.
de grande parte da população da região metropolitana
da de São Paulo. Desafios para a gestão de recursos hídricos:
Há três comitês de bacia atuando no território de l mensurar os resultados da gestão integrada dos
forma integrada, realizando reuniões e deliberações recursos hídricos e repassar esses avanços para o
conjuntas, sendo que para isso utiliza-se das 12 cidadão comum.
câmaras técnicas existentes. Participam da gestão l incentivar a participação da sociedade civil na
dos recursos hídricos no PCJ cerca de 700 pessoas gestão de recursos hídricos.
representando 160 instituições. Na bacia está im- l avançar no marco jurídico/legal no que tange à
plantada a cobrança pelo uso da água e há uma rede dupla dominialidade das águas.

Zig Koch / Banco de Imagens ANA

Delta do Parnaíba (estado do Piauí)

Rosana Garjulli. Socióloga e consultora inde- que envolve, dentre outros aspectos, a instalação
pendente do SINGREH que, por sua vez, garante diversas
A ampliação da participação social nos pro- institucionalidades (colegiados) com atribuições
cessos de análise e de tomadas de decisão é um definidas e que destacam a importância da parti-
avanço a ser destacado na gestão de recursos hí- cipação nos processos de tomada de decisão. No
dricos. O que facilitou esse resultado foi o fato de decorrer da implantação da PNRH, estabeleceu-se
a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) um instrumental para a gestão das águas, por meio
apresentar uma concepção bem definida e madura do avanço do marco legal.

27
Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

A participação é algo que se aprende e se aper- O conflito pelo uso da água ocorrido no municí-
feiçoa praticando. Um exemplo dessa prerrogativa é a pio de Correntina, no Estado da Bahia, em 2017, é
experiência Estado do Ceará, onde ocorre a alocação um exemplo da forte mobilização social em torno da
negociada de água nos diversos açudes existentes, escassez hídrica. Na ocasião, milhares de pessoas
sendo esta experiência incorporada na gestão de águas tomaram as ruas da pequena cidade a fim de apon-
do Estado com a observância do Conselho Estadual tar o paradoxo envolvendo o desabastecimento de
de Recursos Hídricos. Um aspecto de fundamental água na cidade e os vultosos projetos de agricultura
importância nos processos de participação refere-se irrigada ali existentes. É um exemplo de que a gestão
aos pactos e encaminhamentos resultantes desses de recursos hídricos deve chegar até a população,
processos, que devem ser respeitados, cumpridos. tornando-se mais democrática e autêntica no que
Para isso, é necessária uma espécie de abertura não tange à participação.
possessiva, necessitando o protagonismo dos atores
sociais e dos espaços de participação previstos na Recomendações apontadas:
PNRH, especialmente nos comitês de bacia, onde se l Realizar estudos aprofundados sobre a partici-
encontram os atores que convivem com os conflitos pação da sociedade no SINGREH, inclusive sobre
(princípio da subsidiariedade). as características atuais da capacidade técnica dos
Necessidade de qualificar a participação na Comitês de Bacia, e da sua infraestrutura na gestão
gestão de recursos hídricos, algo que leva a melhor dos recursos hídricos.
definição do papel estratégico das instâncias e co- l Buscar um maior conhecimento das especificidades
legiados presentes do SINGREH, especialmente em regionais (região Norte, Centro-Oeste e Nordeste, es-
momentos de crise hídrica, como a vivenciada nos pecialmente) a fim de propor adequações no modelo
últimos anos no Brasil, destacadamente nas regiões de gestão de gerenciamento de recursos hídricos
semiáridas do País. visando qualificar a participação cidadã.

Esta imagem diz mais que mil palavras


Rosana Garjulli

“Se o Governo se Omite, o Povo Age”

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Principais Desafios Evidenciados nos Painéis


i) implantar a gestão integrada da água e do meio ambiente, com atenção aos ecossistemas;
ii) aprimorar as bases de dados do saneamento e de recursos hídricos;
iii) ampliar a coordenação e a integração intersetorial, interinstitucional e intergovernamental;
iv) difundir formas de gestão compartilhada da água e do saneamento;
v) aumentar o investimento em tecnologias e na regulação voltadas para a gestão eficiente, o reuso e o
combate a perdas nos sistemas de abastecimento de água, na indústria e agricultura;
vi) promover maior envolvimento dos municípios, incluindo capacitação e suporte técnico e financeiro para
a gestão da água e do saneamento, para os municípios mais carentes;
vii) promover ações educacionais e de comunicação para os usuários da água e saneamento.

Fotos: Arquivo Projeto

Foto: Eraldo Peres/Arquivo ANA

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Considerações Finais
Este documento evidenciou que o Brasil pos- duais de Recursos Hídricos e dos respectivos órgãos
sui legislação e instrumentos de gestão da água e gestores estaduais.
do saneamento que permitem avanços na Agenda Nos 26 estados, no Distrito Federal e nos
2030, inclusive contando com sistemas colegiados 5.507 municípios brasileiros permanece o desafio
abertos à participação de distintos atores. O Seminá- de fortalecer a capacitação técnico-operacional e a
rio realizado, além de indicar desafios e subsídios ao governança, bem como integrar a Política Nacional
desenvolvimento do projeto, exemplificou que o País de Recursos Hídricos também com as políticas de
possui, também, amplo conhecimento tecnológico saneamento, meio ambiente, energia, uso do solo
nessa área. Neste contexto, os ODS são vistos como e agricultura. Para isto é importante, nos próximos
uma oportunidade para concretizar avanços e para passos do projeto, avaliar se os colegiados do SIN-
reduzir disparidades como, por exemplo, entre a oferta GREH necessitam de avanços em sua organização
de serviços de saneamento no meio urbano e rural. institucional e operacional, de forma a garantir res-
Evidenciou-se também a importância da adoção da postas aos desafios da gestão da água. Além disso,
bacia hidrográfica como unidade de gestão territorial há necessidade de aumento no ritmo de investimen-
no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos tos na ampliação dos sistemas de abastecimento
Hídricos. de água e de coleta e tratamento de esgotos, uma
Cabe ainda destacar que a estrutura da gover- vez que existem claras deficiências na cobertura,
nança da água no Brasil pressupõe a existência de particularmente nas áreas rurais e regiões metro-
articulação institucional entre a União, estados, o Dis- politanas, as quais apresentam os maiores desafios
trito Federal, os municípios. Estas instâncias de poder para a universalização dos serviços.
podem encontrar nos conselhos de recursos hídricos e No decorrer deste projeto, que prosseguirá ao
nos comitês de bacias hidrográficas um lócus relevante longo do ano de 2018, além da interlocução com
de articulação. Para tanto, já se encontram instituídos os atores, eventos e assessoramento ao governo, são
os seus respectivos instrumentos de planejamento, previstos a elaboração de materiais estratégicos para
embora em distintos graus de implantação. a ANA/MMA e a CNODS a fim de dar suporte à suas
No âmbito da gestão governamental, um passo iniciativas de implementação do ODS visando encon-
fundamental ainda a ser dado é o estabelecimento trar caminhos para um futuro sustentável no Brasil.
de um pacto com uma agenda de metas priorizadas
no Plano Nacional de Recursos Hídricos. Para tanto, Para saber mais sobre o projeto,
há necessidade de protagonismo na internalização e contate a equipe técnica:
interiorização da Agenda 2030 por parte do Conselho ods6@ipea.gov.br ou ods6@ipc-undp.org
Nacional de Recursos Hídricos, dos Conselhos Esta-

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Diálogos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e os Desafios para a Gestão da Água e do Saneamento no Brasil

Referências

ANA. O que é o SINGREH? Site da ANA. [Online] Agência Nacional de Águas. [Citado em: 22 de Fevereiro
de 2018.] http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/gestao-da-agua/sistema-de-gerenciamento-de-recursos-hi-
dricos/o-que-e-o-singreh.

BID. 2016. América Latina e Caribe: Água e saneamento 2016. [ed.] Andrea Monje Silva e Dolores Subiza.
Folheto. s.l. : Banco Interamericano de Desenvolvimento, Março de 2016.

Brasil. 2015. 6. Metas de curto, médio e longo prazos. Site do Ministério das Cidades. [Online] Ministério
das Cidades, 14 de Janeiro de 2015. [Citado em: 2018 de Fevereiro de 22.] http://www.cidades.gov.br/
saneamento-cidades/plansab/89-secretaria-nacional-de-saneamento/3297-6-metas-de-curto-medio-e-lon-
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—. 2017. Comissão Nacional ODS. [Online] Secretaria de Governo da Presidência, 29 de Junho de 2017.
[Citado em: 2018 de Fevereiro de 26.] http://www4.planalto.gov.br/ods/menu-de-relevancia/comissao-ods.

MCid. 2017. Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento - SNIS: Diagnóstico dos Serviços de
Água e Esgotos - 2015. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental - SNSA, Ministério das Cidades.
Brasília - Distrito Federal : SNSA/Mcidades, 2017. p. 212.

MMA. Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Site do Ministério do Meio Ambiente. [On-
line] Ministério do Meio Ambiente. [Citado em: 2018 de Fevereiro de 26.] http://www.mma.gov.br/agua/
recursos-hidricos/sistema-nacional-de-gerenciamento-de-recursos-hidricos.

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