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RAS HISTÓRIAS
2. Estudantes de graduação. Departamento de Economia Doméstica - UFV. Av. Peter Henry Rolfs s/n
- Campus Universitário - CEP: 36570 000 - Viçosa - MG.
aparecida.machado@ufv.br;
3. Estudantes de graduação. Departamento de Economia Doméstica - UFV. Av. Peter Henry Rolfs s/n
- Campus Universitário - CEP: 36570 000 - Viçosa - MG.
eduarda.rodrigues@ufv.br;
4. Estudantes de graduação. Departamento de Economia Doméstica - UFV. Av. Peter Henry Rolfs s/n
- Campus Universitário - CEP: 36570 000 - Viçosa - MG.
paloma.costa@ufv.br.
RESUMO:
Priorizou-se
se neste trabalho a discussão acerca das relações intergeracionais na família. O estudo
qualitativo desenvolveu-se
se na disciplina "Famílias e gerações", oferecida para alunos dos cursos
curso de
Economia Doméstica e Educação Infantil. Na coleta de dados utilizou- utilizou-se o genograma, com
exercícios e atividades para levantar os mitos e crenças que tiveram relevância nas famílias dos
alunos ao longo de três gerações. Na análise observou-se
observou que mitos e crenças aparentemente
insignificantes, são cruciais para definir o posicionamento de uma família no enfrentamento de um
problema ou diante da adaptação às mudanças. A ideia da virgindade antes do casamento, ou o
entendimento de que o casamento permanece mesmo com a morte do cônjuge, são alguns dos
exemplos encontrados. A firmeza do posicionamento de um membro mais velho pode levar as
gerações mais novas a criarem estratégias para driblar regras familiares. Histórias, referências de
filmes ou desenhos, potencializados
tencializados em relatos carregados de afeto, apareceram como recursos
simbólicos acessados pelos membros das famílias para viabilizar a elaboração de conteúdos de
sofrimento e dor. Evidenciou-se
Evidenciou se a importância de abordar estas temáticas no ambiente acadêmico,
acadêmi
como recursos para a elaboração de iniciativas e intervenções a serem desenvolvidas com famílias
assistidas em programas e projetos sociais.
Palavras-chave: Famílias. Relações intergeracionais.
in Mitos. Crenças.
Britto da Motta (2004) chama a atenção para o caráter evasivo da ideia de geração,
inclusive devido à apropriação do conceito de gerações, utilizado no cotidiano sem muita
precisão, e às vezes, de forma ambígua:
Do ponto de vista científico, segundo Britto da Motta (2004), o termo gerações pode ser
aplicado a partir de três perspectivas: considerando-se a questão demográfica que abarca o
grupo de pessoas nascidas na mesma época; priorizando-se os grupos etários, num olhar
antropológico; ou designando geração como coletivo de indivíduos que vivem em uma
mesma época, no sentido sociológico.
Tais questões são relevantes, quando se pensa na situação das famílias, devido à
necessidade de respondermos aos problemas pertinentes ao aumento da expectativa de
vida, que contribui para a coexistência de pessoas de várias gerações numa família,
inclusive pela convivência destas no mesmo espaço físico por um longo período de tempo
(Britto da Motta, 2004).
Como nosso foco é na família, poderíamos pensar então nas expectativas sociais que
existem em relação à posição que os pais devem ocupar em relação aos filhos, ou dos avós
em relação aos netos.
No entanto, ele insiste que estas crises não chegam a destruir a família como relação de
plena reciprocidade entre os sexos e as gerações. O entrelaçamento entre as gerações gera
conflitos, mas também através do enfrentamento dos desafios impostos pela convivência
cotidiana, desenvolve-se a capacidade de superá-los, o que fortalece as redes de
solidariedade traçando novas perspectivas para o futuro das gerações.
Cerveny (2011) aponta que as famílias tendem a repetir padrões de comunicação, afetivos,
mitos, crenças e compromissos de lealdade através de um processo complexo de
transmissão intergeracional. Alguns dos conteúdos transmitidos terão valor para manter a
estabilidade da família. Outros, porém, podem contribuir para perpetuar modelos rígidos de
comportamento ou de crenças, nem sempre saudáveis.
Por este motivo, se a família se conscientiza de que alguns dos padrões repetidos causam
processos de adoecimento psíquico, será importante promover a mudança com o intuito de
lidar com o impacto dessas repetições. Assim, Cerveny (2011) indica o valor do
posicionamento das gerações mais novas:
As gerações subsequentes, pela conquista de maiores informações, por
meio do acesso à comunicação, pelo desenvolvimento sociocultural, com
mudanças significativas na família, podem dispor de outros recursos que
possibilitam lidar com as situações de maneira diferente de como lidaram
seus antepassados. Isso resulta tanto em uma maior percepção das
repetições dos padrões interacionais, como uma melhor maneira de lidar
com as mesmas (Cerveny, 2011, p. 41-42).
Fica evidente, que nas trocas intergeracionais não é apenas a geração mais velha que
transmite valores aos mais novos, mas todos os membros da família tendem a participar
desse processo. Portanto, a promoção da integração entre as gerações é proveitosa, e
propicia ganhos para todos.
MITOS E CRENÇAS
Krom (2000) ressalta que os mitos familiares surgem de construções culturais, que são
espelhados pela família como referência. Segundo ela, a própria noção de família, ou a ideia
de união familiar, são concepções da cultura coletiva apropriados como mitos.
Nesse sentido, a ideia da “sagrada família”, inspirada em uma tradição religiosa, ou o ideal
de amor eterno entre os cônjuges, ou do amor filial, seriam exemplos de mitos que são
adotados por certas famílias como orientação para a vida de seus membros.
Outro aspecto destacado por Krom (2000) é o fato de que numa mesma família podem
aparecer vários mitos orientadores, ou figuras míticas, nas quais as pessoas se inspiram,
utilizadas como exemplos nas histórias transmitidas de uma geração para outra, as quais
representam legados, profecias, promessas e lealdades preservadas e sugeridas aos
herdeiros. Há casos em que um mito se destaca como estruturador da dinâmica de
funcionamento de uma família.
Castilho (2003) ressalta ainda, que a relação entre gerações se dá na estrutura mítica de
cada família. As gerações primam pela diferença, e quanto mais permeáveis e definidas
forem as fronteiras geracionais, mais fácil será o relacionamento. O processo de
crescimento é rico e criativo e a intimidade só é possível quando os conflitos podem ser
enfrentados.
Segundo Donatelli (s/d), somos influenciados de várias maneiras pelas gerações que nos
antecederam. Essas influências atuam em nossas vidas de maneira poderosa, embora
muitas vezes não tenhamos consciência disso. Comumente atribuímos nossas decisões,
modo de agir, jeito de ser, como características próprias. A interação das influências que
todos nós estamos sujeitos, através da nossa família, dos nossos antepassados, o meio
social em que vivemos é o que nos constitui enquanto seres humanos.
Grandesso (2006) descreve também que de uma forma ou de outra as pessoas vivem a vida
a partir das histórias e que estas histórias não só organizam e dão sentindo à experiência
vivida, mas tem efeitos reais sobre a vida, determinando o significado atribuído à
experiência.
Outro aspecto destacado por Grandesso (2006) é que as crenças são ecos das narrativas
sociais, estão vinculadas a um contexto histórico, são produzidas no mundo da vida, e
envolvem sempre uma dimensão social em sua construção.
Percebe-se a força de um mito nas narrativas familiares, ou seu peso enquanto padrão de
repetição, justamente quando este destoa de um processo coletivo de construção social,
pois encontramos mitos que já sofreram modificações em sua conotação na nossa cultura,
mas mesmo assim permanecem fortes e arraigados na tradição popular, como a ideia da
indissolubilidade do casamento.
A seguir apresentaremos a discussão acerca dos mitos e crenças que emergiram no nosso
estudo.
Apresentaremos aqui uma síntese dos aspectos que emergiram nesse estudo. Para isso,
organizamos os dados priorizando o foco nos diferentes grupos intergeracionais presentes
na família, classificando-os em quatro categorias: o casal, pais e filhos, irmãos, avós e
netos. Ao mesmo tempo, identificaremos os mitos e crenças que se destacaram nas
histórias familiares para cada um desses grupos.
1
O genograma é uma representação gráfica multigeracional da família, e tem se difundido como instrumento
utilizado por profissionais de diferentes áreas (Cerveny, 2011).
mais este valor como essencial em suas vidas.
Aliada a esta questão do vínculo duradouro, marcado pela ideia do “felizes para sempre...”,
nos surpreendemos com uma família na qual existe a crença de que o vínculo matrimonial é
indissolúvel, mesmo após a morte do cônjuge.
Por outro lado, descobrimos o peso de alguns mitos, por exemplo, as expectativas quanto
ao amor materno; a visão negativa da figura do padrasto, idealizado como sendo uma
pessoa pior do que o pai; ou a percepção do pai como incompetente para criar os filhos sem
a ajuda de uma mulher. Exemplos de casos nos quais esses mitos ou crenças foram
suplantados evidenciam a emergência de novas formas de ser família nos dias atuais.
Dinâmicas estas bem sucedidas, ainda que discrepantes dos modelos tradicionais.
Em outros casos as trocas entre pais e filhos ficaram marcadas pelas mudanças nas
cobranças relativas à posição dos filhos ou à sua condição de filho único. Nem todo filho
único é dependente; nem sempre o filho mais novo é o irresponsável; filhos mais novos
podem ser escolhidos para ocupar o papel do primogênito.
Relação entre irmãos – no senso comum é tema recorrente a ênfase na discórdia entre
irmãos, inclusive pelo mito de Caim e Abel. Mas, gostaríamos de reforçar o aspecto positivo
dos vínculos fraternos, pois estes demonstram um potencial de riqueza para famílias nas
quais houve rompimento dos pais, ou mesmo, naquelas onde vivências de sofrimento
marcaram as trajetórias de vida das pessoas. A importância do suporte emocional vindo do
apoio fraterno foi um dado unânime no presente estudo, indiferente da faixa etária das
pessoas.
Mesmo em famílias nas quais o rompimento entre irmãos era incisivo, observou-se a
superação dos conflitos nos momentos de dor e sofrimento. Talvez, o resgate das memórias
de partilha infantis tenham se sobreposto aos conflitos vivenciados em outras etapas da
vida.
De qualquer forma, cabe ressaltar como dado negativo nas situações de rompimento dos
irmãos a falta de diálogo. Um comportamento recorrente foi citado nos casos de conflitos
entre irmãos, o “ficar de mal”, ou seja, irmãos que não se falam. Em geral, nesses casos, os
motivos que geraram desentendimentos vieram de pequenas desavenças.
Chama a atenção o fato da utilização desse mecanismo de defesa, o não falar com o outro,
aparentemente uma reação infantil e imatura, marcar exatamente a quebra dos vínculos
entre irmãos.
Houve casos nos quais o conflito entre irmãos se agravou após a morte dos pais, devido a
brigas por disputas financeiras ou pela definição do lugar de autoridade na família. O mito do
progenitor prega que o irmão mais velho é quem tem por direito a preferência pelo lugar de
autoridade na ausência dos pais, no entanto, desde sempre na história da humanidade, nem
sempre há consenso sobre esta questão.
Talvez esse seja o ponto crucial para explicar a relevância da figura das avós na função de
transmissão de saberes cotidianos. No presente estudo, no qual prevaleceram famílias
oriundas de contextos rurais, a avós foram identificadas como responsáveis por ensinar aos
netos (as) os ofícios básicos, dentre eles as artes de cozinhar, tecer, cantar e rezar. Além
destes, coube às avós a função de perpetuarem através da contação de histórias, as
mensagens de valores familiares e religiosos.
De fato, a crença do respeito aos mais velhos, pode ser efetiva para favorecer e preparar os
membros mais novos do grupo familiar ajudando-os em sua adaptação social, pois oferecem
a estes exemplos de vida, orientações sobre valores, suporte emocional e até mesmo o
aprendizado de práticas da tradição familiar e cultural, capacitando-os para o enfrentamento
de obstáculos que possam enfrentar no futuro.
Conflitos na relação entre netos (as) e avós tornaram-se mais gritantes nos casos em que
estes optaram por escolhas para suas vidas que se contrapunham aos imperativos
religiosos de suas famílias.
De qualquer forma, existem crenças que são mantidas como tabus por certas famílias. E, a
força de sua imposição confirma que padrões familiares podem se sustentar mesmo em
contraposição aos ditames sociais e culturais. Na análise observou-se que mitos e crenças
aparentemente insignificantes, são cruciais para definir o posicionamento de uma família no
enfrentamento de um problema ou diante da adaptação às mudanças.
Outro dado significativo, descoberto durante a execução das tarefas sobre mitos e crenças,
foi a identificação de histórias, referências de filmes ou desenhos, potencializados em
relatos carregados de afeto, que apareceram como recursos simbólicos acessados pelos
membros das famílias para viabilizar a elaboração de conteúdos afetivos, ou de sofrimento e
dor.
Nesse caso, ver determinado filme várias vezes ou um desenho animado para estar com o
pai, porque a temática deste retrata o vínculo afetivo entre os dois, assistir aos jogos do
campeonato brasileiro com o avô, sendo fiel ao time dele, seguir todas as novelas do horário
nobre na companhia da avó, são ocasiões propícias nos tempos modernos para a
convivência entre as gerações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na análise desse estudo não esgotamos todas as possibilidades de discussão dos dados
encontrados, porém, consideramos que a diversidade e riqueza das informações coletadas
foram contundentes no sentido de ampliar nossa compreensão acerca das relações
intergeracionais na família.
BOWEN, Murray. Family therapy in clinical practice. Nova York, NY, Jason Aronson, 1978.
BRITTO DA MOTTA, Alda. Gênero, idades e gerações. Cadernos do CRH, 17, pp. 349- 355,
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MANNHEIM, Karl. O problema das gerações. In: ____ Sociologia do conhecimento., 1928.
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