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EXMO. SR. DR.

JUIZ FEDERAL DA 1ª VARA FEDERAL DE GUARATINGUETÁ

MEDIDA CAUTELAR
Processo de origem n° «PROCESSO»
AUTOR: «parte»
REQUERIDA: : UNIÃO FEDERAL

A UNIÃO FEDERAL, pela Procuradoria da Fazenda Nacional, vem, respeitosamente, à presença


de Vossa Excelência, apresentar sua

CONTESTAÇÃO

na forma a seguir:

DOS FATOS E DO DIREITO

Não tem qualquer razão a parte adversa em tudo que aduz, estando ausentes, também o
fumus boni iuris e o periculum in mora.

Com relação ao fumus boni iuris:

A parte adversa é devedora da União Federal, possuindo, nesta data 4 débitos inscritos em
dívida ativa da União. O montante de débitos inscritos perfaz a nada módica quantia de
R$124.741,89.

Os débitos inscritos em dívida ativa são líquidos, certos e exigíveis, tal qual prevê o Código
Tributário Nacional:

Art. 204. A dívida regularmente inscrita goza da presunção de certeza e liquidez e tem o efeito
de prova pré-constituída.
Parágrafo único. A presunção a que se refere este artigo é relativa e pode ser ilidida por prova
inequívoca, a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveite.
Desnecessário dizer que precede à inscrição em dívida ativa um procedimento administrativo
fiscal minudente, no qual é ofertado ao contribuinte ampla defesa.

O débito, foi, pois, devidamente inscrito em dívida, pois era líquido e exigível. Tal fato tem,
como consequência, por imperativo legal, a inclusão do contribuinte no CADIN, CADASTRO
INFORMATIVO DOS CRÉDITOS NÃO QUITADOS DE ÓRGÃOS E ENTIDADES FEDERAIS posto que
verificada uma das hipóteses previstas na medida provisória nº 1.863-55, de 23 de novembro
de 1999, e suas reedições:

Art. 2o O CADIN conterá relação das pessoas físicas e jurídicas que:


I - sejam responsáveis por obrigações pecuniárias vencidas e não pagas, para com órgãos e
entidades da Administração Pública Federal, direta e indireta;
II - estejam com a inscrição nos cadastros indicados, do Ministério da Fazenda, em uma das
seguintes situações:
a) suspensa ou cancelada no Cadastro de Pessoas Físicas - CPF;
b) declarada inapta perante o Cadastro Geral de Contribuintes - CGC.
§ 1o Os órgãos e as entidades a que se refere o inciso I procederão, segundo normas próprias e
sob sua exclusiva responsabilidade, às inclusões no CADIN, de pessoas físicas ou jurídicas que
se enquadrem nas hipóteses previstas neste artigo.
§ 2o A inclusão no CADIN far-se-á setenta e cinco dias após a comunicação ao devedor da
existência do débito passível de inscrição naquele Cadastro, fornecendo-se todas as
informações pertinentes ao débito.
§ 3o Tratando-se de comunicação expedida por via postal ou telegráfica, para o endereço
indicado no instrumento que deu origem ao débito, considerar-se-á entregue após quinze dias
da respectiva expedição.
§ 4o A notificação expedida pela Secretaria da Receita Federal ou pela Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional, dando conhecimento ao devedor da existência do débito ou da sua inscrição
em Dívida Ativa atenderá ao disposto no § 2o.
§ 5o Comprovado ter sido regularizada a situação que deu causa à inclusão no CADIN, o órgão
ou a entidade responsável pelo registro procederá, no prazo de cinco dias úteis, à respectiva
baixa.
§ 6o Na impossibilidade de a baixa ser efetuada no prazo indicado no parágrafo anterior, o
órgão ou a entidade credora fornecerá a certidão de regularidade do débito, caso não haja
outros pendentes de regularização.
§ 7o A inclusão no CADIN sem a expedição da comunicação ou da notificação de que tratam os
§§ 2o e 4o, ou a não exclusão, nas condições e no prazo previstos no § 5o, sujeitará o
responsável às penalidades cominadas pela Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e pelo
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho).
§ 8o O disposto neste artigo não se aplica aos débitos referentes a preços de serviços públicos
ou a operações financeiras que não envolvam recursos orçamentários.

Sendo o procedimento adotado decorrente da estrita obediência a lei, nada há que ser
modificado. A situação da parte adversa é exatamente aquela prevista no inciso I do artigo
acima transcrito.
Não lhe aproveita o fato de oferecer 125 vacas como caução na medida cautelar. Primeiro,
porque tributos são obrigações pecuniárias que devem ser pagas em dinheiro. Em segundo,
porque os animais ofertados são uma garantia efêmera, que se esvai no curso do processo,
pelo envelhecimento da rês. Com efeito, em um ano ou dois o bovino sofre grande
depreciação e, se muito demorar o processo ? como sói acontecer ? vacas não haverá a
garanti-lo, nem ao débito, pelo inexorabilidade da morte do animal. Na prática, garantia
nenhuma tem a União Federal quanto ao futuro adimplemento de seu débito.

Considere-se, ainda, que somente o depósito integral e em dinheiro suspende a exigibilidade


do crédito tributário. Não o substitui qualquer outra forma ou meio, sequer a fiança bancária,
tanto menos a oferta de vacas:

TRIBUTÁRIO – SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO – DEPÓSITO – FIANÇA – SÚMULA


112/STJ – O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e
em dinheiro. Jurisprudência sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça. Recurso conhecido e
provido. (STJ – REsp 99580 – SP – 2ª T. – Rel. Min. Peçanha Martins – DJU 12.04.1999 – p. 110)

e ainda,

TRIBUTÁRIO – SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO FISCAL – SUBSTITUIÇÃO POR


FIANÇA BANCÁRIA – IMPOSSIBILIDADE – INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 151, II, DO CÓDIGO
TRIBUTÁRIO NACIONAL – 1. A suspensão do crédito tributário só pode ocorrer mediante o
depósito, em dinheiro, do montante integral devido, nos exatos termos do artigo 151, II, do
Código Tributário Nacional, onde não consta a possibilidade de tal ocorrer por via de fiança
bancária. 2. As normas do Código Tributário Nacional, de modo geral, e, especialmente, o
artigo 151, têm natureza de lei complementar, pelo que exercem hierarquia sobre o poder
geral de cautela outorgado ao juiz pelo Código de Processo Civil. 3. Recurso especial a que se
dá provimento. (STJ – REsp 169661 – SP – 1ª T. – Rel. Min. José Delgado – DJU 01.03.1999 – p.
233)

A parte adversa é devedora da União Federal e o crédito não está suspenso, conforme bem
aponta a jurisprudência acima. Sob este enfoque, cabe assinalar que não existe qualquer
ilegalidade no fato da União Federal manter um cadastro de seus devedores, a exemplo do
que, de longa data, fazem os particulares. Não há, na Constituição Federal de 1988 ou em
qualquer norma hierarquicamente inferior, qualquer vedação a que a União Federal tenha um
controle de seus fornecedores, credores e devedores. Neste sentido:

CADIN – INSCRIÇÃO DE EMPRESA DEVEDORA DA FAZENDA PÚBLICA – LEGALIDADE – 1.


Hipótese em que a empresa impetrante-apelada se insurgiu, pela via mandamental, contra a
inscrição de seu nome no CADIN – Cadastro Informativo dos Créditos de Órgãos e Entidades
Federais não Quitados. 2. Se visasse a afastar os danos advindos do não recebimento de
benefícios fiscais por contra de anotação existente no CADIN, mereceria acolhimento o pedido.
Impetração, contudo, expressa em pretender a sua exclusão do referido Cadastro. 3. O CADIN,
em si mesmo, não pode sofrer qualquer restrição. Do mesmo modo que os particulares
cadastram seus fornecedores, devedores e credores, pode a entidade pública organizar listas
com os nomes dos seus devedores. 4. Apelação e remessa providas. Segurança cassada. (TRF
5ª R. – AMS 55.860 – PE – 1ª T. – Rel. Juiz Castro Meira – DJU 22.05.1998)

Razão jurídica não há, pois, para exclusão de seu nome do CADIN. Assim, nota-se que a
pretensão parte autora é completamente despida de fundamentos legais, e deve ser
rechaçada, com a improcedência do feito.

DO PEDIDO DE REVOGAÇÃO DA LIMINAR

O presente caso não comporta, data vênia, a liminar concedida, pelas razões acima expostas,
pelo que se pede a sua revogação.

DO PEDIDO

Ante o exposto, pede-se:


a) revogação da liminar concedida
b) ao final, a improcedência da ação, condenando-se a parte adversa em custas e honorários
advocatícios.

Requer provar o alegado por todos meios em direito admitidos.


Termos em que,
P. Deferimento.
Taubaté, 25 de agosto de 2008

PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL

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