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EXMO. SR. DR.

JUIZ FEDERAL DA ___ VARA DO JUIZADO ESPECIAL


PREVIDENCIÁRIO DA COMARCA DE PORTO ALEGRE - RS

XXXXXXXXX, brasileira, casada, portadora do RG XXXXX, inscrita


no CPF XXXXX, residente e domiciliada na Rua XXXXXXXXXX,
Porto Alegre – RS. Vem por seu procurador signatário propor:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE DESPOSENTAÇÃO

CONTRA:

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS,


Autarquia Federal com representação no Estado do Rio Grande do Sul,
agência localizada na Avenida Bento Gonçalves, nº 867, Partenon, na
cidade de Porto Alegre – RS, pelos fatos que passa a expor:

DOS FATOS:

A autora requereu a sua aposentadoria em 9/9/1998 quando completou 25


anos, 2 meses e 10 dias de contribuição para o sistema previdenciário, porém, voltou a exercer
o seu labor em 1998, passando a contribuir perante o IPE (Instituto de Previdência do estado
do Rio Grande do Sul). Assim, se passaram 10 anos em que a autora exerceu suas atividades
recolhendo para o IPE.

Diante disso, visando buscar o aproveitamento destas contribuições para


melhorar o rendimento do seu benefício, a autora em 10/11/2008 requereu junto à autarquia-
ré a sua desaposentação a qual foi indeferida sob o fundamento de não haver previsão legal
para tanto.
DO DIREITO:

Primeiramente é necessário se fazer uma distinção entre o significado de


desaposentação e aposentadoria, pois por muitas vezes tais expressões acabam por ser
interpretadas da mesma forma, mas possuem significados diferentes. Assim, Fábio Zambitte
Ibrahim, citando Wladimir Novaes Martinez nos ensina que:

“(...) aposentação e aposentadoria apresentam significados


distintos, sendo aquela o ato capaz de produzir a mudança do
status previdenciário do segurado, de ativo para inativo,
enquanto esta é a nova condição jurídica assumida pela pessoa.
A aposentadoria surge com a aposentação, prosseguindo seu
curso até a sua extinção”.

A desaposentação então, como conhecida no meio


previdenciário, traduz-se na possibilidade do segurado renunciar
à aposentadoria com o propósito de obter benefício mais
vantajoso, no regime geral de previdência social ou em regime
próprio de previdência, mediante a utilização do seu tempo de
contribuição.”1

Esclarecidas as diferenças entre um e outro instituto, passamos à expor as


razões as quais a autora visa no pedido em tela.

O direito a desaposentação certamente entra na classe dos direitos


patrimoniais disponíveis, caracterizado pela autonomia da vontade de seu titular.

O titular do direito a aposentadoria, mesmo que contribua com a previdência


o suficiente para que tenha garantia sua aposentação, não será obrigado a exercê-la, nem por
isso, deixará de ter seu direito adquirido. Podendo fazê-lo quando lhe convir.

Neste sentido, o art. 5º, II da Constituição Federal garante que: “ninguém


será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Assim, fica
caracterizada a autonomia da vontade, podendo o titular renunciar o seu benefício, sem que
este perca o direito antes adquirido, no caso, à aposentação, podendo utilizar o tempo de
serviço anteriormente averbado juntamente com o novo período trabalhado, a fim de que este
aufira benefício mais vantajoso.

É evidente que o disposto no art. 5º, XXXVI da Constituição Federal, visa


proteger os interesses dos particulares contra o Poder estatal, proporcionando a dita segurança
jurídica aos mesmos em virtude da constante atualização legal, caso contrário não se aplica.

Assim, destaca-se os ensinamentos colhidos por Fábio Zambitte Ibrahim do


Parecer PN TC 03/002, de autoria da Dra. Elvira Sâmara Pereira de Oliveira, Procuradora do
Tribunal de Contas do Estado da Paraíba:

1
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Desaposentação. Niterói, RJ:Impetus, 2005. p. 35-36.
2
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Desaposentação. Niterói, RJ: Impetus, 2005. p. 45. Íntegra do Parecer PN TC
03/00. Disponível em: http://www.tce.gov.br/consultas/cons03-00.htm. Acessso em 21/11/2006.
“Destarte resulta cristalino que os defensores da
irrenunciabilidade vêm dando exegese distorcida e equivocada
ao tema, posto que estão a interpretar às avessas a norma
constitucional, transformando garantia individual em óbice
legal”.

“Vê-se, assim que a possibilidade de renúncia, em casos como


este (renúncia exclusivamente para averbar tempo de serviço
anterior, para obtenção de novo benefício mais vantajoso) em
hipótese alguma fere os princípios regentes do sistema
previdenciário pátrio, mas, ao contrário, com eles perfeitamente
se entrosa”.

Neste sentido já decidiu o STJ:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. APOSENTADORIA. RENÚNCIA.
POSSIBILIDADE. CONTAGEM DO TEMPO DE SERVIÇO.
RECURSI PROVIDO. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça tem reiteradamente se firmado no sentido de que é
plenamente possível a renúncia de benefício previdenciário, no
caso, a aposentadoria, por ser este um direito patrimonial
disponível. 2. O tempo de serviço que foi utilizado para a
concessão da aposentadoria pode ser novamente contado e
aproveitado para fins de concessão de uma posterior
aposentadoria, num outro cargo ou regime previdenciário. 3.
Recurso provido.

Decidiu também o Egrégio tribunal de justiça de minas gerais3:

MANDADO DE SEGURANÇA – RENÚNCIA À


APOSENTADORIA – CERTIFICAÇÃO DO TEMPO DE
SERVIÇP – POSSIBILIDADE – A aposentadoria é um direito
pessoal de natureza patrimonial, portanto, sua renúncia tem
caráter unilateral, inexistindo determinação em lei que impeça o
cidadão de abdicar tal direito. – A renúncia da aposentadoria e a
certificação de tempo do serviço não ofende os princípios da
administração pública, pelo contrário, sua negativa é um abuso
de poder, uma vez que nega à impetrante a prática de um ato
pessoal e unilateral que independe da vontade do Estado.

Do corpo deste acórdão extrai-se exímio entendimento do Sr. Relator:

“A aposentadoria é um direito pessoal de natureza patrimonial,


portanto, sua renúncia tem caráter unilateral, inexistindo
determinação em lei que impeça o cidadão de abdicar tal
direito”.

3
TJMG – Mandado de Segurança nº 1.0000.317559/000(1), relator Sérgio Braga, Publicado em 10/10/2003.
“A renúncia da aposentadoria e a certificação de tempo do
serviço não ofende os princípios da administração pública, pelo
contrário, sua negativa é um abuso de poder, uma vez que nega
à impetrante a prática de um ato pessoal e unilateral que
independe da vontade do Estado”.

Neste contexto, inquestionável é a assertativa de que, a aposentadoria é


direito pessoal disponível do segurado, podendo a qualquer momento renunciá-lo, o que vem
requerer o autor, visto que existe a possibilidade de um benefício mais favorável.

Nos preceitos da administração pública, pode-se apenas ser praticados atos


advindos da vontade legal. Todos os atos da administração pública, devem obrigatoriamente
ser derivados de lei.

Erroneamente, entende habitualmente a administração pública ser


impossível de ser deferida a desaposentação, em virtude de não estar esta, autorizada por lei
para decidir neste sentido.

Ocorre que aos particulares tal princípio atinge conotação diversa, ou seja,
lhe é permitido realizar todos os atos que a lei não vede expressamente.

Embora a aposentadoria seja um patrimônio de garantia pessoal do


segurado, a idéia da perenidade do benefício, visa somente proteger o segurado contra
eventuais exclusões, já a desaposentação não lhe trará prejuízo algum, sendo inteiramente
cabível, uma vez que este instituto permite que o autor aufira vantagem maior do que a atual.

Tais garantias constitucionais devem ser interpretadas de forma a proteger o


segurado de que seu benefício não cessará, obedecendo a lógica protetiva do sistema
previdenciário, porém, não pode limitar que este exerça direito que lhe couber.

Como ensina Fábio Zambitte Ibrahin4:

“Sem embargo da necessária garantia ao ato jurídico perfeito e


ao ato adquirido, não podem tais prerrogativas constitucionais
compor impedimentos ao livre exercício do direito. A
normatização constitucional visa, com tais preceitos, assegurar
que direitos não sejam violados, e não limitar a fruição dos
mesmos. O entendimento em contrário viola frontalmente o que
se busca na Lei Maior”.

“Segurança jurídica, de modo algum, significa a imutabilidade


das relações sobre as quais há a incidência da norma jurídica,
mas, muito pelo contrário, a garantia da preservação do direito,
o qual pode ser objeto de renúncia por parte de seu titular em
prol de situação mais benéfica”.

Portanto não seria lógico que, em busca da proteção ao segurado, e diante


do princípio da segurança jurídica, o legislador impedisse o segurado de buscar benefício
mais vantajoso, ao qual este deu causa, através de inúmeras contribuições após sua
4
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Desaposentação. Niterói, RJ: Impetus, 2005. p. 44.
aposentação, o que de fato, ampliaria a salvaguarda constitucional do segurado, permitindo
que os direitos e garantias fundamentais o alcancem de forma mais coesa, em especial á sua
dignidade, estes, incontestavelmente, tutelados pelo contribuinte.

A Constituição Federal de 1988 tutelou em seu art. 5º, XXXVI, in verbis –


“a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

No presente caso, é perfeitamente aplicável o instituto do direito adquirido


ao período em que o segurado contribui para a Previdência Social.

O ato de renúncia do benefício, não prejudica o direto adquirido ao tempo


de contribuição, devendo este, ser averbado em conjunto com o novo período, para a
concessão de novo benefício mias vantajoso ao autor.

Conseqüentemente, por lógica jurídica, se chega à conclusão de que ser o


direito adquirido uma prerrogativa do contribuinte, assim como lhe é facultativa a renúncia de
seu benefício previdenciário, também lhe é a renúncia do tempo de contribuição, o que no
presente caso não busca o autor, estando presente o direito de utiliza-lo para o requerimento
de benefício mais proveitoso, assim pretende exercê-lo.

A desaposentação, visando novo benefício, mais vantajoso ao segurado, em


momento algum causa qualquer lesão à Previdência, visto que a vantagem maior alcançada na
nova aposentadoria é fruto das contribuições que o contribuinte, já beneficiário, destinou a
previdência.

Sabe-se que a Seguridade Social, a quem se destina os recursos provenientes


das contribuições dos segurados, abrange, nos termos da nossa Constituição, a Previdência
Social, as ações destinadas a Assistência Social e à Saúde.

É inafastável que diante das finalidades da Seguridade Social, e por mais


solidário que seja o nosso sistema previdenciário, as alíquotas de contribuições são calculadas
de forma que mantenha seu equilíbrio financeiro, prevendo os gastos com a saúde, assistência
social, benefícios decorrentes dos riscos do labor, bem como os de aposentadoria.

Sendo assim, resta comprovado que o instituto da desaposentação não traz


lesão alguma à relação entre o custeio e pagamento dos benefícios, sendo o benefício buscado
custeado anteriormente pelo próprio beneficiário, respeitando plenamente o princípio do
equilíbrio financeiro atuarial.

Conseqüentemente, diante da demonstração de viabilidade e respeito aos


princípios da previdência social, aplicáveis ao caso, é prudente que se reconheça o instituto da
desaposentação, estendendo o direito social ao autor, a fim de que este alcance benefício mais
vantajoso, o qual lhe pertence em decorrência das contribuições ao sistema após sua
aposentadoria, das quais, atualmente nenhum benefício lhe é assegurado em contra-partida.
DO PEDIDO:

Ante o exposto requer:

1) A concessão do benefício da JUSTIÇA GRATUITA, nos termos do


inciso LXXIV, do art. 5º, da CF/88, parágrafo único do art. 2º e art. 4º da Lei 1060/50 por
tratar-se de pessoa pobre, na acepção jurídica da palavra, sem condições de arcar com as
despesas do processo e honorários advocatícios, sem que isto lhe venha a causar sérios
prejuízos ao sustento de sua família;

2) A citação do INSS – Instituto Nacional de Seguro Social – Agência da


Previdência Social em Porto Alegre, no endereço apontado no preâmbulo, na pessoa de seu
Procurador Regional, para comparecer à audiência de conciliação, instrução e julgamento em
data a ser designada, e, querendo, apresentar sua defesa sob pena de revelia e presunção de
verdade quando os fatos articulados apresentar contestação, atentando ao disposto no art. 11
da Lei nº 10.259/01;

3) O julgamento e a procedência do pedido desta ação, pra que declare:

3.1) A desconstituição do atual benefício do autor, através da


desaposentação,

3.2) Ser absolutamente desnecessária a devolução de qualquer quantia por


parte do autor á autarquia ré, uma vez que o benefício atualmente recebido se trata de verba
alimentícia.

4) Seja o INSS condenado a emitir a devida Certidão de Tempo de


Contribuição – CTC para averbação do tempo de serviço no Regime Próprio de Previdência
Social.

A produção de todos os meios de prova em direito admitidos, especialmente


a documental ora acostada e demais que se fizerem necessárias ao deslinde do feito.

Valor da Causa: R$ 1.000,00.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Porto Alegre, 15 de dezembro de 2008.

Dr, XXXXX XXXXX


OAB/RS XX.XXX

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