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O óleo da unção

1. A origem do óleo da unção -

O óleo da unção surgiu quando Deus estava estabelecendo as primeiras diretrizes para o seu
povo que libertara do cativeiro no Egito e que colocara em uma peregrinação em direção à
terra prometida.

Ex 30,22-25 Disse mais o Senhor a Moisés: - Também toma das principais especiarias, da
mais pura mirra quinhentos siclos, de canela aromática a metade, a saber, duzentos e
cinqüenta siclos, de cálamo aromático duzentos e cinqüenta siclos, - de cássia quinhentos
siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him. - Disto farás um óleo
sagrado para as unções, um perfume composto segundo a arte do perfumista; este será o
óleo sagrado para as unções.

Deus estava estabelecendo mandamentos para o culto de um modo geral.


E dentre os mandamentos estava o de que fosse preparado esse óleo que foi chamado de
óleo sagrado da unção.
Era um preparado específico que tinha uma fórmula específica ditada pelo próprio Deus a
Moisés e não era, de maneira alguma, somente o óleo da oliveira ou azeite.
Era, também, uma fórmula que não poderia ser copiada por ninguém sob pena de ser
banido do povo de Deus.
O óleo da unção tinha um objetivo definido e era o de santificar os elementos do culto, de
consagrá-los completamente para Deus, de tal maneira que quem tocasse em algum dos
objetos consagrados se tornaria Santo (Vers 29).
Mas havia uma proibição: o óleo da unção não poderia, de maneira nenhuma, ser aplicado
sobre o corpo de alguém e somente os sacerdotes poderiam ser ungidos com o óleo (Vers
32,33).

2. O óleo para a unção de pessoas –

O óleo da unção deveria ser utilizado somente para 3 tipos de pessoas:

2.1 Unção de Reis – Os reis eram ungidos como libertadores para o povo de Israel e para
governar sobre o povo como seu pastor.
Como exemplo temos a unção do rei Saulo:

1Sm 10,1 - Então Samuel tomou um vaso de azeite, e o derramou sobre a cabeça de Saul, e o
beijou, e disse: Porventura não te ungiu o Senhor para ser príncipe sobre a sua herança?

2.2 Unção de Sacerdotes – Deus instruiu Moisés a ungir sacerdotes, de modo a consagrá-los
e reconhecê-los como pessoas separadas para servir a Deus através do sacerdócio.
Os sacerdotes julgavam sobre as diferenças entre as pessoas do povo, faziam expiação,
santificavam o povo perante Deus, ouviam confissões de pecados, e eram a ligação entre o
povo e DEUS.
Em Levítico temos a unção de Aarão:

Lv 8,12 - Em seguida (Moisés) derramou do óleo da unção sobre a cabeça de Arão, e ungiu-o,
para santificá-lo.
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2.3 Unção de profetas – Isaias após a sua fuga para não ser morto pela rainha Jezabel, se
esconde em uma caverna e diz a Deus que não quer ser mais um dos profetas.
Então Deus ordena a ele que unja dois reis e a Eliseu para ser profeta em seu lugar.
1Rs 19,15-16 Então o Senhor lhe disse: Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de
Damasco; quando lá chegares, ungirás a Hazael para ser rei sobre a Síria. - E a Jeú, filho de
Ninsi, ungirás para ser rei sobre Israel; bem como a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá,
ungirás para ser profeta em teu lugar.

Diante desses textos acima, concluímos que Cristo cumpriu essas 3 unções:

Profeta: ao anunciar as Boas Novas,


Rei: como Libertador do povo e Rei do universo,
Sacerdote: em fazer a ligação, desta vez definitiva, entre o povo perdido e Deus.

3. Na Bíblia se vê diversos tipos de óleo -


Existem alguns tipos de óleo usado na bíblia para diversos fins:

3.1 Unguento – Gordura misturada com perfumes especiais que lhe davam características
muito desejáveis.
Era utilizado para ungir os pés dos hóspedes, simbolizando a alegria pela chegada daquele
hóspede, e desejando-lhe boas vindas:

Jo 12,3 - Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu
os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do
bálsamo.

Também como era utilizado no cuidado pessoal com o corpo, pois, é um excelente
hidratante:
Dn 10,2-3 Naqueles dias eu, Daniel, estava pranteando por três semanas inteiras. - Nenhuma
coisa desejável comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com
ungüento, até que se cumpriram as três semanas completas.

3.2 Óleos curativos – O óleo tinha poderes curativos, permitindo amolecer feridas e purificá-
las.
O óleo quando misturado a certas ervas, pode proporcionar medicamentos poderosos para
vários males. Não é de surpreender que os médicos em Israel tivessem desde tempos
antigos conhecimento destas ervas e da forma de utilizá-las no processo curativo de
doentes.

Is 1,6 - Da sola do pé ao alto da cabeça não há nada são; somente machucados, vergões e
ferimentos abertos, que não foram limpos nem enfaixados nem tratados com azeite.

3.3 Unguento fúnebre – Este unguento era utilizado na preparação do corpo para o
sepultamento, como parte de um processo de embalsamamento:

Mt 26,12 - Quando derramou este perfume sobre o meu corpo, ela o fez a fim de me
preparar para o sepultamento.
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O uso do óleo no Novo Testamento

1) O Novo Testamento não prescreve unção com óleo na consagração de ministros


O Novo Testamento não cita mais a unção com óleo de pessoas que vão exercer alguma
tarefa ou que necessite de autoridade espiritual.
No Novo Testamento o que nós vemos é que a unção com óleo para esta finalidade foi
trocada pela imposição de mãos.

2Tm 1,6 - Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom de Deus
que está em você mediante a imposição das minhas mãos.

O próprio Timóteo foi alertado por Paulo para não impor as mãos sobre um recém
convertido precipitadamente:

Pedro e João quando chegam em Samaria impuseram as mãos sobre alguns que creram no
evangelho, mas nem conheciam o Espirito Santo:
At 8,17 - Então Pedro e João lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo.

Na Nova Alianças as leis sacerdotais já não mais vigoram, pois temos um novo sacerdote,
segundo a ordem de Melquisedeque e não de Arão (Hebreus 7:11).

2) O Novo Testamento não prescreve unção com óleo no Batismo do Espírito Santo
Como vimos anteriormente, a simbologia do óleo e do Espírito do Antigo Testamento foi
cumprida em Cristo e em nós quando recebemos o mesmo.
Não precisamos ser ungidos com óleo, pois o verdadeiro Óleo, o Espírito, foi derramado
sobre nós.
Vemos nos relatos de batismo com o Espírito Santo somente o uso de imposição de mãos:

“Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo.” (Atos 8:17)

“E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e
profetizavam.” (Atos 19:6)

Outro texto que pode nos auxiliar neste quesito é 1 João 2:20,27:

E vós tendes a unção [chrisma] do Santo, e sabeis tudo.[…] E a unção [chrisma] que vós
recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas,
como a sua unção [chrisma] vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira,
como ela vos ensinou, assim nele permanecereis. (1 João 2:20,27)

Este texto mostra que nós, todo e qualquer verdadeiro cristão nascido de novo, tem hoje a
unção do Santo, o Espírito, porque já a receberam.
A consequência desta verdade é que não devemos ungir ninguém para “capacitar para o
ministério”, porque todo cristão já tem a unção, que é o Espírito, que o capacita.
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3) O Novo Testamento não prescreve unção com óleo para curas físicas

Há no Novo Testamento dois episódios que falam da unção com óleo, mas nenhuma delas
diz que a cura ou a autoridade sobre o mal seja dependente do óleo.

Quando Jesus envia os 12 apóstolos, de dois em dois, para pregar o evangelho, eles voltam
contando sobre as maravilhas que fizeram:

Mc 6,12-13 Eles saíram e pregaram ao povo que se arrependesse. - Expulsavam muitos


demônios, ungiam muitos doentes com óleo e os curavam.

Aqui não está dizendo que a cura ou a autoridade eram dependentes da presença da unção
com o óleo.
Diz apenas que eles os curaram.

Outra passagem no Novo Testamento que fala sobre a unção com óleo está em Tiago 5:

Tg 5,14-15 Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros
da igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor. - E a
oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E se houver cometido pecados,
ele será perdoado.

O termo unção com óleo aparece 8 vezes no novo testamento (Mt 6:17; Mc 6:13; 16:1; Lc
7:38,46; Jo 11:2; 12:13; Tg 6:14). Mas, os textos confirmam o uso corriqueiro.
Isso mostra que a intenção de Marcos e Tiago não era uma unção religiosa ou milagrosa.

Contextualizado os versículos para os dias de hoje seria algo como: “eles davam o remédio e
oravam com fé e Deus curava o enfermo”.
Isto significa que Tiago afirma que o presbítero não deveria zelar só pela saúde espiritual ou
pelas questões espirituais, mas também pela saúde física; e que deveria fazer a “oração de
fé”.

4) O Novo Testamento não prescreve a unção para consagrar objetos

A Bíblia deixa claro que somente no Velho Testamento os objetos relacionados ao templo
eram ungidos e consagrados ao Senhor.
Esta unção era tão séria que não poderia ser usada para ungir nenhum objeto caseiro.

Então temos três motivos claros para não ungirmos hoje os objetos em sua casa ou na igreja:

1) Não estamos mais sob a lei cerimonial do Velho Testamento. Ela foi abolida no novo
sacerdócio de Cristo.
Portanto preceitos como ungir o templo não são válidos e praticá-los é negar as realizações
de Cristo.

2) Não temos mais templos no molde do Antigo Testamento. Nossa igreja local não é um
templo.
Nossa igreja local é um edifício onde os templos de Deus se reúnem porque cada um de nós
é o templo de Deus, habitado por Ele, através do Espírito (1 Coríntios 6:19).
Deus não habita em templos feitos por mãos de homens; (Atos 17:24).
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3) Portanto, se há alguma coisa ou alguém a ser ungido ou consagrado são aqueles que
ainda não aceitaram a Jesus;
Porque depois de aceitarem o sacrifício de Jesus como suficiente para a sua salvação, o
espírito Santo trará a unção quando vier habitar em seu coração, como fez com cada um de
nós.

Isso significa que você não precisa mais ungir seu carro, sua casa. Eles já são de Deus, tanto
porque toda terra Lhe pertence, quanto pelo fato de você ser apenas um servo e mordomo
daquilo que Deus colocou em suas mãos.
Não podemos nos iludir achando que podemos consagrar alguns itens para Deus e outros
não.
Nada é nosso e tudo que nós temos, Ele nos deu para o objetivo exclusivo de exaltar Glória
de Deus (e isto inclui a cadeira que você está sentado agora).
Seu comprometimento de usar qualquer objeto para a glória de Deus já foi feito quando
você se converteu. Renove-o e o viva intensamente.

Conclusão
Gostaria de resumir topicamente o que foi falado acima para favorecer a compreensão:
1) Podemos observar nas Escrituras dois usos para o termo ungir: o corriqueiro e o religioso.
a) Sentido religioso:
– No Velho Testamento, temos a simbologia da unção de reis, sacerdotes e profetas e do
templo.
– No Novo Testamento, esta simbologia foi cumprida em Cristo de duas formas:
1) Ele foi ungido nosso Rei-Profeta-Sacerdote com o Espírito e com virtude por Deus Pai.
2) Nós fomos ungidos por Deus com o Espírito como reis e sacerdotes, capacitando-nos para
a vida cristã; e nos tornamos templos de Deus, através de Seu Espírito.

– Portanto, não devemos tomar o lugar de Deus e ungir ou consagrar alguém ao ministério
ou como uma simbologia do batismo do Espírito Santo.
– Nem devemos consagrar aquilo que Deus já separou para si mesmo. Tudo quanto é nosso
já é dele.
– E por fim, não devemos ungir um doente esperando que essa unção o cure, mas devemos
medicá-lo e orar a Deus pela cura com fé, confiando não em óleos e remédios ou em nossa
capacidade,
Temos que crer que a oração de um justo pode muito, mas tudo e todas as coisas vem do
poder de Deus.

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